"De tudo quanto vejo me acrescento", Fernando de Sousa Ribeiro dixit,
citando a grande poetisa do Porto (e de Portugal) Sophia de Mello Breyner Andresen,
cujo centenário se celebra este ano.
Foto (e legenda) : © Fernando de Sousa Ribeiro (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Fernando de Sousa Ribeiro:
(i) ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880 ( Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74);
(ii) é membro da Tabanca Grande desde 11 de novembro de 2018, com o nº 780;
(iii) licenciado em Engenharia Electrotécnica pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto;
(iv) está reformado;
(v) vive no Porto, mas também tem boas recordações de Lisboa onde viveu e trabalhou;
(vi) tem página no Facebook;
(vii) a CCAÇ 3535 foi mobilizada pelo RI 16, partiu para Angola em 13/6/1972 e regressou em 28/8/1974; esteve em Zemba, P. R. Zádi. Comandantes: cap mil inf José Manuel de Morais Lamas Mendonça e Silva, e cap mil inf José António Pouille Nobre Antunes.
(viii) pertencia ao BCAÇ 3880, sediado em Zemba e Maquela e comandado pelo ten cor inf Armando Duarte de Azevedo; as outras duas subunidades eram a CCAÇ 3536 (Cambamba, Fazenda Costa) e a CCAÇ 3537 (Mucondo, Béu);
(ix) o ficheiro, em formato pdf, que estamos a publicar, tem 165 pp, imagens incluídas.
Dignidade e Ignomínia
(Episódios do Meu Serviço Militar)
por Fernando de Sousa Ribeiro
O QUE NOS FIZERAM FOI CRIMINOSO (pp. 43-48)(*)
Que finalmente seja reconhecido o extraordinário valor dos operacionais do nosso batalhão, cujas vidas estiveram nas mãos de gente, no mínimo, sem escrúpulos... Depois de tudo o que suportou, o Batalhão de Caçadores 3880 mostrou ser o melhor do mundo. Mostrou mesmo.
Em Santa Margarida, onde estivemos durante cerca de dois meses antes de partirmos para Angola, não tivemos Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO). Diziam-nos os nossos superiores hierárquicos que só iríamos ter IAO em Angola, quando o batalhão ficasse completo com a integração dos angolanos que iriam constituir o chamado Grupo de Mesclagem.
Por isso, o que o nosso pessoal teve em Santa Margarida foi uma instrução meio a sério e meio a brincar, apenas para ir mantendo a malta ocupada e minimamente ativa até ao dia da partida para Angola. Enquanto isso, o Batalhão de Caçadores 3885, que também se encontrava em Santa Margarida e estava mobilizado para Moçambique, passou o tempo todo em IAO, numa atividade frenética que contrastava de forma chocante com a semi-indolência do nosso.
Se eu próprio não tivesse tomado a iniciativa, que foi exclusivamente minha e de mais ninguém, de dar uma instrução intensiva aos meus próprios subordinados em Santa Margarida, ter-me-ia visto em situações muito complicadas em Angola. Ninguém, em todo o comando do nosso batalhão, parecia estar minimamente preocupado com a nossa preparação para a guerra.
Em Angola também acabamos por não ter IAO nenhuma. À nossa chegada disseram-nos que ela iria acontecer no Úcua, que era onde os cursos de Comandos costumavam fazer as semanas de campo, mas isso não aconteceu. Não houve IAO no Úcua, nem houve em lado nenhum. Partimos do Grafanil diretamente para a guerra, sem qualquer IAO que se visse.
Aos nossos magníficos companheiros angolanos ainda fizeram pior do que a nós. Mal aqueles nossos camaradas acabaram a especialidade, em Sá da Bandeira, foram levados diretamente para o Grafanil, para se nos juntarem e irem para a guerra connosco. Em janeiro de 1972, eles tinham começado a recruta; cinco meses depois já estavam na guerra! Tal como aconteceu connosco, também eles não receberam nenhuma instrução que se parecesse com uma IAO. Fomos todos para a guerra com uma preparação de merda, brancos, negros e mestiços. Poucas unidades terão partido para a guerra tão mal preparadas como o nosso batalhão.
Em Angola também acabamos por não ter IAO nenhuma. À nossa chegada disseram-nos que ela iria acontecer no Úcua, que era onde os cursos de Comandos costumavam fazer as semanas de campo, mas isso não aconteceu. Não houve IAO no Úcua, nem houve em lado nenhum. Partimos do Grafanil diretamente para a guerra, sem qualquer IAO que se visse.
Aos nossos magníficos companheiros angolanos ainda fizeram pior do que a nós. Mal aqueles nossos camaradas acabaram a especialidade, em Sá da Bandeira, foram levados diretamente para o Grafanil, para se nos juntarem e irem para a guerra connosco. Em janeiro de 1972, eles tinham começado a recruta; cinco meses depois já estavam na guerra! Tal como aconteceu connosco, também eles não receberam nenhuma instrução que se parecesse com uma IAO. Fomos todos para a guerra com uma preparação de merda, brancos, negros e mestiços. Poucas unidades terão partido para a guerra tão mal preparadas como o nosso batalhão.
Se o que se passou até então foi de uma imperdoável gravidade (e foi), o que dizer do que nos fizeram a seguir?
O que nos fizeram a seguir foi simplesmente isto: durante os primeiros seis meses de comissão, obrigaram-nos a fazer a guerra completamente sozinhos. Exatamente, sozinhos, como se não houvesse mais tropas ou apoios em todo o território de Angola! Não, não estou a exagerar nem um bocadinho. Desde junho de 1972 até janeiro de 1973, as companhias operacionais do nosso batalhão foram as únicas (!) forças militares que combateram nas zonas de Zemba, Cambamba e Mucondo.
Repito, para que não restem dúvidas. Ao longo dos nossos primeiros seis meses de comissão, nenhuma outra força atuou na área do nosso batalhão, além das companhias operacionais do próprio batalhão. Não houve qualquer intervenção de Comandos, nem de Paraquedistas, nem de companhias de intervenção, nem de TE, nem de GE, nem de "Flechas", nem de Artilharia, nem de Aviação, nem de nada! Nada de nada!
Estivemos completamente sozinhos (!) frente aos guerrilheiros da FNLA e do MPLA, que eram mais numerosos do que nós e atuavam num terreno que nós não conhecíamos e que era de uma extrema dificuldade. Durante esses primeiros seis meses, só a Força Aérea é que deu sinais de vida, e foi só para evacuar os nossos infelizes companheiros feridos!
Estivemos completamente sozinhos (!) frente aos guerrilheiros da FNLA e do MPLA, que eram mais numerosos do que nós e atuavam num terreno que nós não conhecíamos e que era de uma extrema dificuldade. Durante esses primeiros seis meses, só a Força Aérea é que deu sinais de vida, e foi só para evacuar os nossos infelizes companheiros feridos!
Acho que até hoje ainda ninguém chamou a atenção devida para a gravíssima situação em que nós nos encontramos durante esse tempo e nesse lugar, situação ocorrida precisamente numa ocasião em qua ainda éramos inexperientes e, ainda por cima, estávamos mal e porcamente preparados. Numa altura em que, mais do que nunca, deveríamos ter recebido apoio, não tivemos apoio absolutamente nenhum, fosse de quem fosse, fosse de que forma fosse. O que nos fizeram foi criminoso.
Foi ainda mais criminoso porque foi deliberado. Sim, esta solidão forçada a que estivemos sujeitos durante os primeiros seis meses de comissão foi propositada, por vontade do próprio comandante do nosso batalhão, o então tenente-coronel Azevedo.
Foi lá mesmo, em Zemba, que eu tive conhecimento desta vontade do comandante. Ouvi-a revelada por um alferes da CCS, já não me lembro de qual. Talvez tenha sido o Sousa. Ou então foi o Rico. Enfim, não importa saber qual foi. O que importa é que o comandante conseguiu convencer o brigadeiro de Santa Eulália a não enviar tropas de intervenção ou quaisquer outras forças para o subsetor de Zemba. E, pelos vistos, o brigadeiro era um banana e satisfez a vontade ao ten cor Azevedo.
Inacreditável! E porque é que o Azevedo não queria que forças estranhas ao batalhão atuassem no subsetor? Porque queria ser ele a ficar com os louros e mais ninguém. Todos os êxitos militares que acontecessem no subsetor seriam da exclusiva responsabilidade do batalhão; logo, dele mesmo, como comandante do batalhão que era. [ O comandante do Batalhão de Caçadores 3880 foi promovido a coronel quando ainda só tinha passado um ano de comissão, mas manteve-se no comando do batalhão até ao fim.]
Se o comandante e o segundo comandante do batalhão, tenente-coronel Azevedo e major Lacerda, fossem bons comandantes, teriam pelo menos tentado apoiar-nos e animar-nos. Mas não só não fizeram nada disso, como fizeram precisamente o contrário. O comandante, sobretudo, não fazia outra coisa que não fosse ofender-nos e insultar-nos, chamando-nos coirões, sacanas e, nas nossas costas, outros nomes menos reproduzíveis, aqui, em público. Salvo uma única e solitária vez, nunca ele reconheceu o nosso esforço e o nosso sacrifício. Para ele, fizéssemos o que fizéssemos ou deixássemos de fazer, éramos sempre uns sacanas de uns coirões!
O major não nos insultava, é verdade que não, mas não só nunca manifestou o mais pequeno reconhecimento pelo esforço sobre-humano que estávamos a empreender, como fez ainda pior: não contente com os feridos que a minha companhia tinha sofrido, exigiu que sofresse ainda mais baixas!!! Ainda mais!
Foi ainda mais criminoso porque foi deliberado. Sim, esta solidão forçada a que estivemos sujeitos durante os primeiros seis meses de comissão foi propositada, por vontade do próprio comandante do nosso batalhão, o então tenente-coronel Azevedo.
Foi lá mesmo, em Zemba, que eu tive conhecimento desta vontade do comandante. Ouvi-a revelada por um alferes da CCS, já não me lembro de qual. Talvez tenha sido o Sousa. Ou então foi o Rico. Enfim, não importa saber qual foi. O que importa é que o comandante conseguiu convencer o brigadeiro de Santa Eulália a não enviar tropas de intervenção ou quaisquer outras forças para o subsetor de Zemba. E, pelos vistos, o brigadeiro era um banana e satisfez a vontade ao ten cor Azevedo.
Inacreditável! E porque é que o Azevedo não queria que forças estranhas ao batalhão atuassem no subsetor? Porque queria ser ele a ficar com os louros e mais ninguém. Todos os êxitos militares que acontecessem no subsetor seriam da exclusiva responsabilidade do batalhão; logo, dele mesmo, como comandante do batalhão que era. [ O comandante do Batalhão de Caçadores 3880 foi promovido a coronel quando ainda só tinha passado um ano de comissão, mas manteve-se no comando do batalhão até ao fim.]
Se o comandante e o segundo comandante do batalhão, tenente-coronel Azevedo e major Lacerda, fossem bons comandantes, teriam pelo menos tentado apoiar-nos e animar-nos. Mas não só não fizeram nada disso, como fizeram precisamente o contrário. O comandante, sobretudo, não fazia outra coisa que não fosse ofender-nos e insultar-nos, chamando-nos coirões, sacanas e, nas nossas costas, outros nomes menos reproduzíveis, aqui, em público. Salvo uma única e solitária vez, nunca ele reconheceu o nosso esforço e o nosso sacrifício. Para ele, fizéssemos o que fizéssemos ou deixássemos de fazer, éramos sempre uns sacanas de uns coirões!
O major não nos insultava, é verdade que não, mas não só nunca manifestou o mais pequeno reconhecimento pelo esforço sobre-humano que estávamos a empreender, como fez ainda pior: não contente com os feridos que a minha companhia tinha sofrido, exigiu que sofresse ainda mais baixas!!! Ainda mais!
Por mais inacreditável que isto possa parecer, aconteceu mesmo! Juro! Ele não exigiu que causássemos mais baixas ao inimigo, como seria de esperar que um militar fizesse. O homem exigiu que fôssemos nós a sofrê-las!!! Juro que ele o fez! Juro mesmo!
Custa a acreditar? Eu sei que custa, mas é absolutamente verdadeiro! Ele disse-me pessoalmente, em duas ocasiões distintas, no meio da parada de Zemba, o seguinte, textualmente, tal e qual: «Exijo que vocês sofram mais baixas. Não se ganham guerras sem sofrer mortos e feridos. Por isso exijo que vocês sofram mais baixas». E repetiu, martelando as sílabas: « E... XI... J O !». Tais palavras ficaram gravadas a ferro em brasa na minha memória.Os guerrilheiros que nos combatiam eram chamados terroristas. Com razão ou sem ela, a verdade é que os guerrilheiros lutavam por uma causa e estavam dispostos a matar-nos por ela. O comandante e o major, por outro lado, não lutavam nem defendiam causa nenhuma, mas estavam dispostos a matar-nos para receber louvores, medalhas e promoções. Queriam mostrar ao mundo uma elevada estatística de mortos e de feridos sofridos pelo batalhão, à semelhança de um velho leão que exibe as suas cicatrizes como testemunho de lutas e de vitórias passadas. A diferença em relação ao leão é que, enquanto os leões lutam, o comandante e o major não queriam lutar e não lutaram, nem quando tiveram a obrigação de o fazer.
Queriam que fôssemos NÓS a lutar e a morrer, para que eles pudessem exibir as "cicatrizes" e receber os louros por elas. Os verdadeiros terroristas não estavam na mata; estavam dentro do quartel de Zemba.
Em janeiro de 1973, deu-se uma reviravolta na guerra do nosso batalhão. O brigadeiro de Santa Eulália (um tal Rebelo de Andrade, que veio transferido do setor do Cuanza Norte) resolveu criar um comando operacional só para combater o MPLA.
Foi chamado COP1 (Comando Operacional nº 1) e nele foram integrados o batalhão de Quicabo e as companhias de Santa Eulália e do Mucondo. Ficando com a companhia 3537, do Mucondo, fora da sua alçada operacional, o nosso batalhão passou apenas a poder contar com a 3535 e a 3536.
Queriam que fôssemos NÓS a lutar e a morrer, para que eles pudessem exibir as "cicatrizes" e receber os louros por elas. Os verdadeiros terroristas não estavam na mata; estavam dentro do quartel de Zemba.
Em janeiro de 1973, deu-se uma reviravolta na guerra do nosso batalhão. O brigadeiro de Santa Eulália (um tal Rebelo de Andrade, que veio transferido do setor do Cuanza Norte) resolveu criar um comando operacional só para combater o MPLA.
Foi chamado COP1 (Comando Operacional nº 1) e nele foram integrados o batalhão de Quicabo e as companhias de Santa Eulália e do Mucondo. Ficando com a companhia 3537, do Mucondo, fora da sua alçada operacional, o nosso batalhão passou apenas a poder contar com a 3535 e a 3536.
Além disso, as regiões da FNLA que tinham sido da responsabilidade da companhia do Mucondo (concretamente as regiões do Catoca e do Mufuque) passaram também para a 3535 e a 3536. Como a partir de então só podia contar com duas companhias, o tenente-coronel não teve outro remédio senão aceitar a intervenção de forças estranhas ao batalhão no subsetor.
Foi então que vieram os Paraquedistas, vieram os "Flechas", veio a Artilharia, vieram os aviões e vieram os helicópteros. Finalmente! Foi o fim do nosso isolamento operacional. Deixamos de estar sozinhos e submetidos apenas ao terrorismo psicológico do Azevedo e do Lacerda.
As operações a nível de batalhão deviam ser comandadas pelo comandante ou pelo segundo comandante do batalhão, como é evidente. Não era por acaso que elas eram chamadas «a nível de batalhão». No entanto, no Batalhão de Caçadores 3880 tais operações nunca foram comandadas por nenhum dos dois. Nem uma só! O tenente-coronel ou o major atribuíam a responsabilidade pelo comando de uma tal operação a um capitão ou a um alferes (chegaram a atribuí-lo a mim mesmo) e
ficavam refastelados à espera dos resultados, bebendo whisky, o major, e insultando-nos pelas costas, o tenente-coronel.
As operações a nível de batalhão deviam ser comandadas pelo comandante ou pelo segundo comandante do batalhão, como é evidente. Não era por acaso que elas eram chamadas «a nível de batalhão». No entanto, no Batalhão de Caçadores 3880 tais operações nunca foram comandadas por nenhum dos dois. Nem uma só! O tenente-coronel ou o major atribuíam a responsabilidade pelo comando de uma tal operação a um capitão ou a um alferes (chegaram a atribuí-lo a mim mesmo) e
ficavam refastelados à espera dos resultados, bebendo whisky, o major, e insultando-nos pelas costas, o tenente-coronel.
Como é evidente, nenhum capitão nem nenhum alferes, com pouco mais de vinte anos de idade e ainda por cima miliciano, tinha conhecimentos ou preparação suficientes para poder comandar cem e mais homens num teatro de guerra! Comandaram como souberam e puderam, só Deus sabe em que condições.
Em contraste, as operações a nível de batalhão que eram feitas no subsetor de Quitexe, pelo Batalhão de Caçadores 3879 (vizinho do nosso na geografia e na numeração), eram efetivamente comandadas pelo próprio comandante do batalhão em pessoa, e assim é que devia ser.
Em contraste, as operações a nível de batalhão que eram feitas no subsetor de Quitexe, pelo Batalhão de Caçadores 3879 (vizinho do nosso na geografia e na numeração), eram efetivamente comandadas pelo próprio comandante do batalhão em pessoa, e assim é que devia ser.
No nosso caso, depois de terminada uma operação a nível de batalhão, o tenente-coronel ou o major exigiam ao alferes ou ao capitão, que a tivesse comandado, que escrevesse um relatório sobre a mesma. Este era um relatório sem qualquer valor, que se destinava apenas a servir de rascunho a um outro relatório, este sim oficial, a ser enviado ao brigadeiro de Santa Eulália e onde era contado um grande filme, no qual o tenente-coronel ou o major é que tinham comandado a operação!
Em ocasiões diferentes, a CCaç 3535 foi comandada pelo capitão Lamas da Silva, pelo alferes Arrifana, por mim e pelo capitão Antunes. As pessoas podem ter gostado ou não do capitão Lamas da Silva. Podem ter gostado ou não do alferes Arrifana. Podem ter gostado ou não do alferes Ribeiro. Mas se houve alguma coisa que o Lamas da Silva, o Arrifana e o Ribeiro fizeram, de meritório, foi defenderem e protegerem os militares da CCaç 3535 dos caprichos do comandante, sempre e em todas as circunstâncias.
Em ocasiões diferentes, a CCaç 3535 foi comandada pelo capitão Lamas da Silva, pelo alferes Arrifana, por mim e pelo capitão Antunes. As pessoas podem ter gostado ou não do capitão Lamas da Silva. Podem ter gostado ou não do alferes Arrifana. Podem ter gostado ou não do alferes Ribeiro. Mas se houve alguma coisa que o Lamas da Silva, o Arrifana e o Ribeiro fizeram, de meritório, foi defenderem e protegerem os militares da CCaç 3535 dos caprichos do comandante, sempre e em todas as circunstâncias.
Com efeito, o comandante do batalhão estava decididamente apostado em fazer dos militares da 3535, e só os da 3535 (já se vai ver porquê), uns escravos às suas ordens e para todo o serviço, por mais absurdo que fosse este serviço, e muitas vezes era.
Como se não bastasse a intensíssima atividade operacional da companhia, que esgotava até extremos inimagináveis os seus elementos, tanto do ponto de vista físico como psicológico, o comandante queria que eles fizessem todo o tipo de tarefas e de trabalhos enquanto estivessem no quartel, por mais penosos e desnecessários que fossem.
Como se não bastasse a intensíssima atividade operacional da companhia, que esgotava até extremos inimagináveis os seus elementos, tanto do ponto de vista físico como psicológico, o comandante queria que eles fizessem todo o tipo de tarefas e de trabalhos enquanto estivessem no quartel, por mais penosos e desnecessários que fossem.
Ao mesmo tempo, os militares da CCS mantinham-se de costas ao alto. Nem saíam para a mata, nem trabalhavam como uns desgraçados no quartel, porque o seu comandante de companhia, capitão Óscar, protegia os seus subordinados e não aceitava que o tenente-coronel interferisse nas competências que ele considerava serem suas.
O capitão Óscar era um homem carismático, que só com a sua presença infundia respeito. Nem o próprio comandante tinha coragem para se lhe impor. Assim, como não se atrevia a impor-se ao capitão Óscar, insistia em querer impor-se a quem estivesse à frente da C. Caç. 3535.
O capitão Óscar era um homem carismático, que só com a sua presença infundia respeito. Nem o próprio comandante tinha coragem para se lhe impor. Assim, como não se atrevia a impor-se ao capitão Óscar, insistia em querer impor-se a quem estivesse à frente da C. Caç. 3535.
[Foto à esquerda: Capitão Óscar Augusto de Oliveira, o carismático comandante da Companhia de Comandos e Serviços (CCS) do Batalhão de Caçadores 3880]
O que aqui fica escrito pode parecer de uma violência verbal excessiva. Dir-me-ão que estou a exagerar. Não estou. Juro que não estou. Esta minha violência verbal nada é, comparada com o tratamento que recebemos da parte de quem teve os nossos destinos nas mãos durante o nosso serviço militar obrigatório.
Ora vamos lá ver se nos entendemos. Quem tivesse enveredado por uma carreira de oficial das Forças Armadas, então seguiu uma carreira para a qual a vida humana pouco ou nada valia. Isto dito assim parece uma ofensa gratuita dirigida aos oficiais do quadro permanente, mas não é. É a verdade, tirando algumas exceções (algumas delas insuspeitas), que eram muito honrosas, sem dúvida nenhuma, e às quais presto a minha homenagem mais sincera, mas eram exceções.
O que aqui fica escrito pode parecer de uma violência verbal excessiva. Dir-me-ão que estou a exagerar. Não estou. Juro que não estou. Esta minha violência verbal nada é, comparada com o tratamento que recebemos da parte de quem teve os nossos destinos nas mãos durante o nosso serviço militar obrigatório.
Ora vamos lá ver se nos entendemos. Quem tivesse enveredado por uma carreira de oficial das Forças Armadas, então seguiu uma carreira para a qual a vida humana pouco ou nada valia. Isto dito assim parece uma ofensa gratuita dirigida aos oficiais do quadro permanente, mas não é. É a verdade, tirando algumas exceções (algumas delas insuspeitas), que eram muito honrosas, sem dúvida nenhuma, e às quais presto a minha homenagem mais sincera, mas eram exceções.
De resto, sempre que acontecia algum incidente do qual resultassem baixas, por exemplo, a primeira pergunta que os oficiais do quadro permanente faziam era: «Quantos mortos? Quantos feridos?» Números.
«Exijo que vocês sofram mais baixas», dizia-me o major Lacerda com toda a brutalidade. Números. «Quantos hectares de lavras foram destruídos?», perguntavam o tenente-coronel e o oficial de operações em Zemba, assim como o brigadeiro em Santa Eulália, que queriam provocar a fome à população civil e obrigá-la a entregar-se. Números.
Era verdadeiramente chocante verificar até que ponto podia chegar a fria insensibilidade perante a morte e o sofrimento dos outros, mesmo dos mais inocentes, da parte destes oficiais oficiais de carreira.
Aliás, a palavra "carreira" era, sem qualquer sombra de dúvida, a palavra mais usada por eles nas suas conversas. A propósito de tudo e de nada, lá falavam eles na sua carreira militar. Nada lhes interessava a não ser a sua progressão na carreira. Em face deste seu desígnio supremo, todos os valores morais e humanos se apagavam
para eles. Mortos e feridos? Números.
(Continua)
[Fixação / revisão de texto para efeitos de edição no blogue: LG]
____________
Nota do editor:
(*) Último poste da série > 26 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20096: Dignidade e Ignomínia (Episódios do Meu Serviço Militar) (Fernando de Sousa Ribeiro, CCAÇ 3535, Angola, 1972/74) - Parte IV: O respeito pelos homens que comandei (pp. 33-42)
«Exijo que vocês sofram mais baixas», dizia-me o major Lacerda com toda a brutalidade. Números. «Quantos hectares de lavras foram destruídos?», perguntavam o tenente-coronel e o oficial de operações em Zemba, assim como o brigadeiro em Santa Eulália, que queriam provocar a fome à população civil e obrigá-la a entregar-se. Números.
Era verdadeiramente chocante verificar até que ponto podia chegar a fria insensibilidade perante a morte e o sofrimento dos outros, mesmo dos mais inocentes, da parte destes oficiais oficiais de carreira.
Aliás, a palavra "carreira" era, sem qualquer sombra de dúvida, a palavra mais usada por eles nas suas conversas. A propósito de tudo e de nada, lá falavam eles na sua carreira militar. Nada lhes interessava a não ser a sua progressão na carreira. Em face deste seu desígnio supremo, todos os valores morais e humanos se apagavam
para eles. Mortos e feridos? Números.
(Continua)
[Fixação / revisão de texto para efeitos de edição no blogue: LG]
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Nota do editor:
(*) Último poste da série > 26 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20096: Dignidade e Ignomínia (Episódios do Meu Serviço Militar) (Fernando de Sousa Ribeiro, CCAÇ 3535, Angola, 1972/74) - Parte IV: O respeito pelos homens que comandei (pp. 33-42)
27 comentários:
Fernando: ontem eu perguntei-te como iam os "quatro humores" (sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra, procedentes, respectivamente, do coração, sistema respiratório, fígado e baço)... A saúde, dizia o velho Hipócrates, há 25 séculos atrás, dependia do seu equilibrio... Se o sangue está gordo, sangria com ele!... Se o caso, é obstipação, purga com ele!... Purgai-o e purgai-o e se morrer enterrai-o!... Por isso se dizia, no séc. XVIII, em Lisboa nem purga má nem sangria boa...
... E a propósito de alguns "filhos da mãe", que tu e eu, todos nós, conhecemos na tropa e na guerra (e que tu evocas, neste teu texto e noutros anteriores), eu acrescentava o seguinte:
Conhecendo o espírito e a letra do blogue , seguramente concordarás comigo que não é nossa vocação fazer de "tribunal do santo ofício"... nem sequer de simples "tribunal"... Não nos cabe aqui fazer ajustes de contas com ninguém, mesmo que nos tenham ficado "atravessados na garganta"...
Enfim, no blogue (, e por que não é essa a sua vocação nem missão...) devemos evitar a tentação de "julgar na praça pública" os homens que nos comandaram, ou deviam ter comandado... Muitos deles, de resto, já não fazem parte do número dos vivos... E, estando mortos (ou reformados, que é também uma outra forma de morte... social), já não faz muito sentido criticar o seu desempenho como homens e militares no decurso da guerra colonial (ou do ultramar ou de África, como eles preferem dizer).
Quando fazemos referências a eles, devemos de preferência pôr apenas o o apelido e o posto da época... Têm filhos, têm netos, têm bisnetos... Para quê pôr o nome de família na praça pública ?
Mas isso não nos impede de exercer o nosso direito à "crítica histórica" e até o direito à indignação... Estanos de "actos públicos", praticados no "espaço público" que é a tropa e a guerra...
Foram "homens do sistema", os nossos comandantes, nem eles nem nós estávamos preparados para fazer aquela p... de guerra!... Em todo o caso, eu faço sempre uma distinção, quando falo de camaradas: camarada vai até ao posto de capitão, que esse sim era um comandante operacional... Só conheci um tenente-coronel que andou no "mato", ao meu lado, ao nosso lado, de G3 na mão... Foi uma vez, quando quis conhecer o seu "teatro de operações", e chegou ao batalhão, a que estávamos adidos, mas foi o bastante para ainda hoje o recordar com admiração e apreço...
Mas é nas situações-limite como a guerra que o melhor e o pior de cada um de nós vem ao de cima...
Por outro lado, em relação aos vivos, não me interessa nada saber em que águas "político-ideológicas" navegarão agora... Vivemos numa democracia pluralista e eles, como cidadãos, fazem as opções que entenderem, e que nos deixavam fazer, no tempo da outra senhora, fosse em Santa Eulália, fosse em Santa Margarida, fosse em Bambadinca...
Quanto ao resto, tu sabes muito bem que a política partidária, o clubismo futebolístico e as "igrejas" ficam de fora da Tabanca Grande...
Como editores, temos que velar pelo cumprimento das nossas regras editoriais... Nem sempre é fácil, em todo o caso, definir a linha de fronteira e "equilibrar os quatro humores"...
Dito isto, confesso que, como leitor, li com grande emoção e respeito o teu texto ("O que nos fizeram foi criminoso")... Também e muitos dos meus camaradas da CCAÇ 12 fomos "usados e abusados"... Ou pelo menos foi o "sentimento" que nos ficou...Infelizmente não há nenhuma "comissão de apoio à vítima" a que possamos recorrer meio século depois... Felizmwnte que eu, por outro lado, não sou homem de "ressentimentos"...
Saúde, muita, se possível. E longa vida. Eu cá vou andando, de canadianas, procurando manter o equílbrio dinâmico dos quatro humores... Luís
Luís,
O que eu escrevi, neste e noutros capítulos, não tem por finalidade ajustar contas com ninguém, nem dizer bem nem mal de tal ou tal partido, clube, religião, etc. Eu nem sequer tencionava tornar público o que escrevi. Há coisas que não interessam a ninguém, a não ser ao próprio.
Eu não quero fazer de vítima, nem de santinho, mas passei por situações que necessitam de alguma explicação. Aqui ficaram algumas. Se eu acabei por ir parar às consultas de Psiquiatria do Hospital Militar de Luanda, como refiro em um dos meus capítulos, por alguma razão foi.
Um abraço e, se não puderes participar na meia-maratona, pelo menos sobe muitas vezes o Caracol da Graça e a Calçada da Senhora do Monte sem canadianas, não deixando de dares uma espreitadela ao Bairro Estrela d'Ouro e à Vila Berta, de que gosto tanto.
Fernando de Sousa Ribeiro
Luis.
O Fernando Ribeiro tem destas coisas.. ou melhor, destas milicianas confissões.
Temos que aceitar, mas também concordo, vá lá, com a exclusão de nomes.
O grande problema é que houve nomes que são inseparáveis da patente militar.
Calhando, dizer quem teve a culpa foi o filh….d p... do cor.. (não me lembro do nome) seria bem mais fácil, mas o Fernando Ribeiro não é desses e sabe os nomes.
Por outro lado, ainda está viva muita gente que não teve nenhum problema de consciência ou, sequer, de inteligência de que a guerra nas colónias, ou ultramar como queiram, tinha que acabar. Então não podemos dizer o nome dos que nunca se lembraram disso?
O fulano tal foi, não podemos falar disso aqui no nosso blogue?
Ab. e chutos pra baliza.
Valdemar Queiroz
Confesso uma coisa inconfessável: o meu filho, psiquiatra, mora na Graça, perto do miradouro da Senhora do Monte, eu vou lá de tempos a tempos... Estou desde 1975 em Lisboa e não conhecia, imperdoável (!), a Vila Berta!...
Foi preciso haver, no Festival Todos 2019, uma visita guiada às vilas e pátios da Graça, que de resto não pude fazer porque já não fui a tempo de me inscrever, e as vagas eram limitadas... Mas conheci a Vila Berta!... E tirei fotos,que vou publicar em tua honra... Obrigado pelas tuas dicas... Já agora pergunto-te se conheces o novo Jardim da Cerca da Graça que faz interface com a Mouraria...
https://www.facebook.com/VilaBerta/
http://www.cm-lisboa.pt/equipamentos/equipamento/info/jardim-da-cerca-da-graca
E já que falamos de saúde e de médicos, toma lá esta que me acaba de mandar uma amiga de Luanda:
- O médico deu-me três meses de vida. Matei o médico e o juiz deu 25 anos. Imagina tu, se eu não reajo a tempo, a esta hora já estava enterrado...
Humor com humor se paga...
PS - Valdemar, os nomes dos nossos "comandantes" (de batalhão, de companhia, etc.) são conhecidos, são públicos e notórios, estão escarrapachados nos livros da CECA - Comissão para o Estudo das Campanhas de África, vêm na História da Unidade, etc. Não precisamos de "encetar uma caça às bruxas", métodos que eu não aprecio...
Voltando à vaca fria: Valdemar e Fernando, temos que poder e saber conciliar dois direitos, nem sempre compatíveis,o direito à liberdade de expressão e a proteção de dados, incluindo o direito ao esquecimento, válido na União Europeia.. Em inglês, "the right to be forgotten"... Por outro lado, o nosso blogue luta justamente para que os ex-combatentes da Guiné não sejam inumados na "vala comum do esquecimento"...
Ver aqui como é que o gigante dos motores de busca, na Internet, o Google, está a implementar esta decisão, de 2014, do Tribunal de Justiça da união Europeia.
(...) "A recente decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia tem consequências profundas para os motores de pesquisa na Europa. O Tribunal considerou que determinados utilizadores têm o direito de solicitar a motores de pesquisa, como o Google, a remoção dos resultados para consultas que incluam o respetivo nome. Para serem qualificáveis, os resultados mostrados teriam de ser inadequados, irrelevantes, deixarem de ser relevantes ou excessivos. " (...)
https://policies.google.com/faq?hl=pt-PT
Quando as coisas corriam mal em Angola, diziam os que lá estavam que "em 61 foi bem pior".
Acontece que em 72 as coisas eram complicadas para Fernando Ribeiro.
Mas devido à censura, mal ele e muitos em Angola adivinhavam o que se passava em 72 nas fronteiras da Guiné, e aí haveria outras reações, que não aquela "maré mansa" de Angola.
Fernando Ribeiro viu a guerra assim, Lobo Antunes de outra maneira, eu retornado também tenho a minha opinião, enfim Angola é um " tratado" que dá para mil livros.
E o Valdemar Queiroz tem a opinião dele:"Por outro lado, ainda está viva muita gente que não teve nenhum problema de consciência ou, sequer, de inteligência de que a guerra nas colónias, ou ultramar como queiram, tinha que acabar. Então não podemos dizer o nome dos que nunca se lembraram disso?"
Pois é Valdemar, eram muuitos os que nunca se lembraram, mas não seriam muitos mais os que em Angola, oficiais e sargentos QP, não gostavam mesmo nada que "aquilo" acabasse?
Quantos romances dava para escrever!
Rosinha, é uma boa pista: afinal, a guerra tornou-se um modo de vida... Desde que fossem os milicianos e as praças do contingente geral a morrer ou a ficar estropiados... Mas não há guerras eternas, mesmo que durem cem anos... Nem os futuros generais do MPLA e da Unita e da FNA acreditavam na "Blitzkrieg"...
Só Salazar sabia que a guerra ia durar e durar como as pilhas Duracell... E eu: em 1961, com 14 anos, também sabia que "aquela" guerra ia sobrar para mim...
Segundo o pensamento estratégico de Salazar (, e a estratégia, quer dizer em grego, a arte do general), era preciso aguentar até o mundo dar uma volta e convencer-se da justeza das nossas (dele) posições...
O problema é que em 1961 Salazar, nascido em 1889, era já um septuagenário, hipocondríaco, desgastado, mas ainda convencido de que "depois dele seria o caos"... Sete anos depois estava arrumado e não deixa sucessor político nem testamento político... Nisso o Franco foi rato ou não fosse galego... E a guerra continuou... Só tenho pena que pessoas boas e generosas como tu não tivessem podido continuar em Angola, a terra que tinham escolhido paar viver... Um kandandu. Luis
Luís Graça, Fernando Ribeiro, Valdemar Queiroz e António Rosinha: apreciei vir a esta caixa de comentários e verificar a elevação e o respeito com que trocaram ideias. Infelizmente não tem sido sempre assim no nosso Blogue, com outros a “desrespeitar (sistematicamente) as boas regras de convívio que estão em vigor entre nós”. Chega a ser penoso e confrangedor. O que acabo de ler, mesmo não contendo temas fortes para picardias, deu-me ânimo para escrever estas linhas e enviar um grande e respeitoso abraço para vocês em especial.
António Murta.
Diz o Fernando Ribeiro:
"Quem tivesse enveredado por uma carreira de oficial das Forças Armadas, então seguiu uma carreira para a qual a vida humana pouco ou nada valia. Isto dito assim parece uma ofensa gratuita dirigida aos oficiais do quadro permanente, mas não é. É a verdade, tirando algumas exceções (algumas delas insuspeitas), que eram muito honrosas, sem dúvida nenhuma, e às quais presto a minha homenagem mais sincera, mas eram exceções."
Espantosa afirmação de um alferes miliciano que passou por Angola, considerando verdadeiros criminosos a esmagadora maioria dos então oficiais do Quadro Permanente das Forças Armadas que nos comandavam.
Mas o Fernando Ribeiro explica:
"Se eu acabei por ir parar às consultas de Psiquiatria do Hospital Militar de Luanda, como refiro em um dos meus capítulos, por alguma razão foi."
Abraço,
António Graça de Abreu
Caro Graça de Abreu.
São inúmeros os comentários em que temos discordado ao longo de mais de uma década.
Maneiras diferentes de olhar a vida?
Experiência diferentes?
Ou simplesmente...”temperamentos” ?
Do poético ao pragmático as viagens são sempre longas.
(Principalmente quanto faltam na estrada as tais “curvas suaves” tão bem descritas em poema do Ruy Belo)
De qualquer modo,quanto a este comentário,estou de acordo contigo.
Abraço do J.Belo
Leio estupefacto:
“Ora vamos lá ver se nos entendemos. Quem tivesse enveredado por uma carreira de oficial das Forças Armadas, então seguiu uma carreira para a qual a vida humana pouco ou nada valia. Isto dito assim parece uma ofensa gratuita dirigida aos oficiais do quadro permanente, mas não é. É a verdade, tirando algumas exceções (algumas delas insuspeitas), que eram muito honrosas, sem dúvida nenhuma, e às quais presto a minha homenagem mais sincera, mas eram exceções.”
Bem sei que o ressentimento tanto bloqueia a lucidez como distorce a ética mas...
É meu feitio chamar os bois pelos nomes. Na qualidade de orgulhoso Oficial do QP com mais de 3 dezenas de anos de serviço na linha da frente comandando, instruindo e ensinando, duas comissões em combate em Angola e na Guiné e capitão do 25 de Abril repudio a forma despudorada com que este ex-alferes miliciano expurga as suas mágoas ofendendo-me gratuitamente e aos meus camaradas que comandaram, combateram e morreram nos 3 TO e são exemplo da vida do QP que combateu em África.
Morais da Silva
Coronel artilheiro/infante reformado
Nenhum bastardo já venceu uma guerra morrendo por seu país. Você venceu ao fazer o outro pobre bastardo idiota morrer pelo país dele.
isto foi dito pelo General Patton aos seus soldados .
Esta dupla azevedo&lacerda pelos vistos pensavam ao contrario. Coitados.Ao menos podiam ter estudado um bocado de história militar.
Honra e gl´ria ao CapSGE que fez frente a estes dois pobres coitados para não ofender algumas sensibilidades. Este senhor se é vivo tem 100 anos.
G.Tavares
A Ccac 3535 durante a sua permanancia no TO de Angola teve somente um ferido por ter accionado uma mina anti-pessoal.A maior parte do pessoal da Companhia nunca ouviu um tiro.Este Alferes era um idiota,mas agora parece estar pior.
Parece que estamos em presença do estilo facebocas anónimas, há tempos repudiado pelo Hélder Sousa.
Neste nosso blogue não temos lápis azuis nem exames prévios, mas não devemos deixar entrar este esquema que até parece um ensaio de orquestra enferrujada a tocar musica foleira.
Valdemar Queiroz
Uma baixa é sempre uma baixa. Nem devia ter havido nenhuma.
Durante a minha comissão,conheci vários militares do QP. O meu PelCaçNat 53,esteve adido a duas CCaç,a primeira comandada por um Capitão QP e a segunda por um Cap.Mil (proveta). Na instrução de Milícias,lidei com outros militares QP (capitães e oficiais superiores)
De todos,qual o sacana?? O proveta,culpado da morte de uma dezena de militares da sua companhia,e que um dia teve a desfaçatez de dizer-me "você deve estar feito com o IN,não tem mortos"
Se eu dissesse que não esperava uma tal "tempestade" nos comentários, mentiria. Vou tentar responder.
Antonio Graça de Abreu,
Involuntariamente acabou por me dar razão. Se eu não tivesse aturado aqueles despautérios, não teria ido parar à consulta de Psiquiatria.
Morais da Silva,
Compreendo que se sinta magoado. «Quem não se sente, não é filho de boa gente», diz o povo. Peço-lhe mil desculpas se o ofendi, mas descrevi um sentimento que me ficou, de um tempo que me foi doloroso demais. Se fui injusto para consigo, mais uma vez lhe peço imensa desculpa. Um grande abraço.
G.Tavares,
O capitão SGE Óscar de Oliveira já não está entre nós. Faleceu há vários anos. Era hábito ofender os sargentos e os oficiais vindos dessa classe, chamando-lhes "lateiros" e outros epítetos muito pouco caridosos. Tais epítetos eram terrivelmente injustos para o capitão Óscar. Ele foi um Militar com M maiúsculo.
Anónimo cobarde que me chama «idiota»,
Eu não devia responder a um tal "valentão", que insulta sem dar a cara. Diz o "cavalheiro" que a minha companhia teve «somente» (sic) um ferido, por ter acionado uma mina antipessoal. Cá estão os malditos números. Para este anónimo, não interessa saber que o primeiro-cabo Carretas, que ficou sem um pé, era um ser humano; para ele foi apenas um número. Em rigor, a minha companhia, CCAÇ 3535, não sofreu «somente» um ferido em campanha, mas dois. O segundo ferido, o primeiro-cabo Lopes, acabou por ficar sem sequelas permanentes e por isso não costuma ser contabilizado no número de baixas da companhia. Mas devia. Depois der ter passado alguns meses no hospital, o cabo Lopes regressou às fileiras com algumas cicatrizes no corpo. Quanto às baixas por acidente, a minha companhia não sofreu nem mortos, nem feridos. Eu podia explicar por que razão a minha companhia sofreu «somente» dois feridos, mas o anónimo cobarde não merece que perca mais tempo com ele. Deixo-lhe apenas duas dicas: disciplina e iniciativa.
Restantes comentadores,
Agradeço os vossos comentários, mas o tempo não chega para responder a todos. Um abraço
Fernando de Sousa Ribeiro
Caro Fernando Ribeiro, reduzir o número de mortos e feridos de uma unidade militar operacional à disciplina e iniciativa é muito subjectivo, digo eu, simples furriel miliciano ou civil armado à força como costumo dizer. A minha Companhia teve um morto por acidente de viação, um militar que caiu de um Unimog quando este arrancou. Outro morreu de doença. Onde conta aqui a disciplina e a iniciativa? O alferes de Minas e armadilhas morreu ao manusear uma mina a/p inimiga e dois soldados morreram numa emboscada a uma coluna auto em Mamboncó, no cruzamento do carreiro do Morés. Neste mesmo sítio ficaram mais vidas de outros jovens que estavam no local errado à hora errada. Queres comentar?
Ao contrário do que acontecia em Angola e talvez em Moçambique, na Guiné não havia locais para descanso da tropa, era tudo, mesmo tudo, território em guerra. Nem Bissau escapava a uns foguetões de vez em quando.
A minha CART 2732 esteve no Oio, zona do famigerado Morés, 22 meses, dos quais mais de meio ano a colaborar na protecção das obras de asfaltamento do último troço da estrada Mansabá/Farim. Fomos muito sacrificados, assim como a maioria das unidades que passaram pela Guiné.
Abraço
Vinhal
Pela primeira vez, é publicado neste blogue, um texto eivado de ódio, que insulta miseravelmente a esmagadora maioria dos oficiais do Quadro Permanente das Forças Armadas Portuguesas na Guerra do Ultramar, uma guerra que ninguém desejou mas onde, quase todos nós, fomos gente digna e honesta.
Uma tristeza alguns dos comentários aqui publicados.
Para onde vai este blogue?
Abraço,
António Graça de Abreu
Caro Carlos Vinhal,
Eu não quero vangloriar-me perante quem fez a guerra na Guiné, em Moçambique ou onde quer que seja. Eu sei que a guerra na Guiné foi duríssima para quem a viveu, foi muito mais dura do que a "minha" guerra em Angola, sem qualquer sombra de dúvida, e por isso seria uma aberração da minha parte vir para aqui gabar-me.
No que respeita à disciplina e à iniciativa, de que falei e que questionas, elas tiveram, na minha modesta opinião, uma influência determinante no evoluir da "minha" guerra pessoal no norte de Angola. Passo a explicar.
Quando me referi à disciplina e à iniciativa, estava apenas a referir-me aos mortos e feridos em campanha, e não aos sofridos em acidentes. Aliás, como eu disse, a minha companhia não sofreu mortos nem feridos em acidentes, mas podia ter sofrido.
Quando a minha companhia chegou a Zemba, na região dos Dembos, no norte de Angola, no início da comissão em junho de 1972, colocou-se perante os oficiais da companhia a questão da forma de atuação que iríamos adotar durante a nossa estadia lá. Um dos meus camaradas, o saudoso alferes Pedrosa, que morreu já há muitos anos vítima de cancro, resumiu muito bem a forma de atuação que acabou por ser a nossa, dizendo:
- Nós temos que fazer como no futebol. Se jogarmos à defesa, corremos o risco de perder o jogo, porque o adversário pode conseguir meter-nos um golo numa jogada de contra-ataque inesperada. A melhor maneira de não sofrermos golos, portanto, não é jogarmos à defesa, mas sim obrigar o nosso adversário a jogar, ele sim, à defesa, para que não se aproxime da nossa baliza e nos marque golos. Temos que pressionar o adversário, ir até ao meio-campo dele e impedi-lo de sair de lá.
Assim procuramos fazer. Fizemos os possíveis por ir a todo o lado, pressionar os turras e procurar obrigá-los a jogar à defesa. A última inicitiva que os turras tiveram contra nós em Zemba foi um ataque que fizeram ao nosso quartel e à sanzala (tabanca) vizinha, no dia 1 de janeiro de 1973, dia de Ano Novo. A partir desse dia, a iniciativa foi sempre nossa.
A disciplina foi absolutamente fundamental no resultado que obtivemos e ela tomou diversos aspetos. Por exemplo, nunca nenhum atirador nosso foi autorizado a andar com a G3 ao ombro ou às costas durante as operações. Nunca, absolutamente nunca, mas mesmo NUNCA, nem que ele caísse para o lado morto de cansaço! A partir do momento em que saíssemos do arame farpado, era terminantemente proibido andar com a espingarda ao ombro. Porquê?
Os mortos e feridos que ocorriam durante uma emboscada aconteciam nos primeiros momentos, quando éramos apanhados de surpresa. Assim que nós começássemos a responder ao fogo inimigo, os turras abaixavam a cabeça, passavam a disparar mais ou menos às cegas e só por muito azar conseguiriam acertar em mais alguém. Era vital, portanto, reduzir o nosso tempo de reação ao mínimo dos mínimos. Nestas condições, nós tínhamos sempre, mas SEMPRE, que andar com a G3 nas mãos, para podermos responder a uma emboscada tão rapidamente quanto possível. Custava? Ah, pois custava. Andar dias e dias a fio, de manhã até à noite, com uma G3 a pesar-nos nos braços causava-nos umas dores que nem te conto. Mas tinha de ser, pois era uma questão de vida ou de morte.
Outro exemplo de disciplina que impúnhamos nas operações era o tabaco. Quando seguíamos pelo interior de uma floresta nas proximidades de um objetivo inimigo, por exemplo, ninguém podia fumar, por muito que custasse. O cheiro do tabaco ficava a pairar no ar e podia denunciar a nossa presença na zona, mesmo horas depois de termos passado pelo local. O mesmo acontecia, aliás, com as rações de combate. Nas proximidades de um objetivo, ninguém podia aquecer o conteúdo das latas da ração, para que o cheiro da comida não nos denunciasse. A ração tinha que ser comida fria, e mesmo assim largava imenso cheiro.
(continua)
(continuação)
As colunas de progressão em bicha pirilau eram também objeto do maior rigor disciplinar da nossa parte. Milhões e milhões de vezes, foi necessário impor aos nossos homens que se afastassem uns dos outros, pois o medo levava-os a aproximar-se de forma inconsciente. Se algum elemento do IN disparasse uma morteirada ou uma bazucada contra a coluna, só acertaria em um ou dois militares, e não mais, se fossem mantidas as distâncias convenientes.
Muitos outros cuidados eram necessários durante as operações, tanto no que respeita ao ruído e às vozes, como no que respeita às latas vazias das rações de combate, por exemplo. Era imperioso que as latas das rações fossem completamente amassadas depois de utilizadas, para que os turras não as aproveitassem para enchê-las de pólvora e usá-las contra nós em armadilhas, fornilhos, etc.
Quando chegávamos ao quartel no fim de uma operação, a atitude dos oficias da minha companhia mudava radicalmente. Após a rigorosíssima disciplina que impusemos na mata, passava a reinar na companhia a maior liberdade possível para o nosso pessoal. Ninguém consegue viver sob pressão todo o tempo. Precisa de algum tempo para respirar fundo e recuperar ânimo. Em Zemba, o comandante do meu batalhão olhava para a minha companhia, via aquilo que lhe parecia ser (mas não era) uma rebaldaria e sentenciava:
- É preciso dar que fazer àqueles sacanas daqueles coirões! Se não houver nada para fazerem, invente-se!
E começava a "guerra" entre o comandante do batalhão e o comandante da companhia, que procurava demonstrar em vão ao comandante do batalhão que o pessoal precisava de descansar, tanto física como psicologicamente.
Já me esquecia, mas ainda vou a tempo de lembrar, que o aparentemente reduzido número de baixas que nós sofremos se deve também às qualidades militares do soldado português. Além de uma extraordinária e insuperável capacidade de abnegação e de sofrimento que demonstrou na guerra (em todas as guerras, quaisquer que elas fossem), o soldado português sempre se caracterizou por nunca virar as costas ao inimigo, fosse em que circunstância fosse. Se alguém tinha que abandonar o campo de batalha primeiro, era o inimigo e só o inimigo, porque o soldado português ficava. Não virava as costas e não deixava o terreno para o inimigo. O soldado português ficava senhor do terreno, sempre, tenazmente, a pé firme, até à morte se necessário fosse, mas ficava. O soldado português foi um combatente verdadeiramente temível. Em Angola, pelo menos, isto era reconhecido pelos guerrilheiros.
Fernando de Sousa Ribeiro
Lembrar aqui uma das nossas regras editoriais "básicas":
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O editor Luís Graça
Meu caro Fernando de Sousa Ribeiro
Procurei ler com a atenção merecida o seu longo comentário.
Termina o mesmo ressaltando as inúmeras (e indiscutíveis) qualidades do Soldado português.
Espero que no termo genérico “Soldado” estejam também incluídas as outras classes militares.
Saberá certamente que qualquer Exército,mesmo se constituído por míticos soldados,a não ser enquadrado por responsáveis competentes facilmente se pode tornar nos tais “bandos armados” que infelizmente também existiram nos três teatros de operações em África.
“Bandos armados” onde estariam certamente incluídos os Soldados,Sargentos e Oficiais com as qualidades referidas no seu comentário.
Como em todas as outras profissões existirão graduados menos competentes nas Forças Armadas .
O seu número é em muito ultrapassado por todos os outros que procuram (simplesmente?) servir o nosso querido Portugal.
O caso muito específico dos Quadros Milicianos aquando da guerra em África acaba sempre por levar a generalizações demasiado fáceis.
As competências para uma vida militar,em todas as suas especifidades muito diferente das profissões civis,não seriam para muitos as melhores.
E nunca será demais salientar...”profissão” por eles não escolhida mas imposta!
Mas , e tendo em conta todos os factores ,a grande maioria soube cumprir em todo o muito que lhe foi exigido!
Voltando às qualidades dos Militares portugueses referidas no seu comentário (com as quais estou de absoluto acordo) não se deverá esquecer que precisamente as mesmas qualidades são continuamente atribuídas aos militares dos seus países sejam eles Norte-Americanos,Alemães,Franceses,Ingleses Espanhóis Russos,Chineses,etc,etc,etc.
“Patrioteiras “ generalizações? Pois.........
Ou ,talvez ,os mais de quarenta anos a viver “sob” outras bandeiras,a tornar-me extremamente cauteloso quanto ao embrulhar-me em bandeiras de conveniências várias.
Um abraço do J.Belo
(Alferes Miliciano na Guiné ,Capitão de Infantaria Reformado,Jurista...não Reformado!)
Pode não estar no espirito do blogue mas é bom ter conhecimento o que muitos militares sofreram com certos comandantes de sector, além da guerra. Eu tive como comandante um capitão de carreira quadro, costumo dizer foi das melhores coisas que me aconteceu ter como comandante aquele Senhor hoje coronel reformado continuamos amigos há duas semanas almoçamos juntos e em Outubro lá estará o sr. Coronel no almoço de confraternização anual o sempre nosso capitão porque naquele dia ele é despromovido da patente de coronel e passa com muito orgulho de todos nós a nosso capitão.
Bom dia juventude!
Desde há algum tempo deixei de ser assíduo na frequência desta Tabanca Grande, e por algumas razões aqui explanadas. Mas tenho sentimentos, e continuo a nutrir amizade por muitos dos que se revêm desde que foram postos à prova em tão difíceis circunstâncias.
Circunstâncias que não foram lineares, isto é, que diferiram nas condições implícitas à guerra de cada um, quer na actividade operacional e no risco inerente, quer na qualidade e diversidade da alimentação, quer nas relações sociais preponderantes em cada unidade, quer nos sentimentos provocados pela separação da família, enfim, houve um diversidade que podia condicionar mais ou menos o estado de espirito, a disciplina, o discernimento, a voluntariedade e a camaradagem solidária, tanto em termos individuais como colectivos.
Dito isto, quero dizer que apreciei o texto em apreço, pese embora as diferenças de avaliação da cada leitor. Eu acho-o um testemunho sério sobre as discrepâncias das acções e comportamentos relatados.
De facto, comentei neste local e noutros, que um exército carece de auditorias, não só com vista à ponderação dos recursos, e à preservação do melhor espírito colectivo, a tal moral tantas vezes alegadamente elevada, quando o pessoal em privado não se cansava de comentar com indignação. Também aqui relatei que na minha Companhia havia um parque automóvel de uma dezena de viaturas, na maioria inoperacionais, e que um pelotão chegou a caber com exagerados riscos numa GMC ou numa Beriet. Uma única viatura, mas os mapas para Bissau indicavam que todas trabalhavam e gastavam carburante adquirido na Casa Gouveia, num esquema de fornecimento de metade dos tambores requisitados. A coisa só se remediou, quando um belo dia recusei fazer a coluna sem um mínimo de seis viaturas, e elas apareceram em meia hora.
Assim como requeri transferência de companhia por incompatibilidade com o comando, requerimento que ficou detido alguns dias, e gerou uma acção junto do pelotão exorbitando uma orfandade, que não era a minha intenção, mas deixou o pessoal em estado de perturbação. Também isso conduziu ao aumento da segurança nas colunas.
Para terminar, também os capitães (QP)que comandaram a minha Companhia não saíram para o mato, excepto numa pequena patrulha em redor de Piche para habituação, e mais tarde, numa escapada de Bajocunda para Amedalai (com todos os graduados) onde se esconderam de um Brigadeiro que ali se deslocou, certamente avisados corporativamente.
Abraços fraternos
JD
Caro Colaço, no blogue pode-se dizer tudo, respeitando, no entanto, a memória de quem tendo já partido não se possa defender. Eu também tive um "mau comandante" que não podia comigo, vá-se lá saber porquê, que amiúde ameaçava dar-me uma porrada. Felizmente fez-se de maluco e veio evacuado para a metrópole definitivamente, tendo eu acabado a minha comissão em paz. Tive uma menção num relatório de uma Operação e acabei por ser o único furriel louvado a nível de COP, injustamente no meu ponto de vista, porque havia outros camaradas bem melhores operacionalmente. Fica o exemplo de como nem sempre os nossos superiores nos conheciam (reconheciam) bem.
Vinhal
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