sábado, 17 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22109: Fotos à procura de... uma legenda (147): Mais elementos para a compreensão de uma falsificação da História: a proclamação da independência da Guiné-Bissau, em 24 de setembro de 1973, em Madina do Boé...

 



Figura 13. Extracto da base topográfica elaborada para a Carta Geológica da Guiné-Bissau,
correspondente à região do Boé. As curvas de nível incluídas nesta base são: 0, 10, 50, 100 e 200 m, sendo ainda visíveis pontos cotados. A rede viária apresentada inclui trajectos nem sempre com garantia de trânsito, nomeadamente durante a época das chuvas, em locais de atravessamento da rede hidrográfica, ou ainda face a alterações do coberto vegetal.

Imgens e legendas: Fonte:  Paulo H. Alves, Vera Figueiredo - Carta Geológica da Guiné-Bissau: de 1982 a 2011.  LNEG - Laboratório Nacional de Energia e Geologia. Estrada da Portela, Bairro do Zambujal – Alfragide, Ap.7586, 2610-999 Amadora. Disponível aqui:

http://repositorio.lneg.pt/bitstream/10400.9/2924/1/36790.pdf


Resumo: Apresenta-se o que foi o Centro de Geologia do IICT e em particular o Projecto da Carta Geológica da Guiné-Bissau, que incluiu 40 meses de cartografia e foi marcado por limitações várias, como dispor de uma única equipa no terreno, pelo que recorreu a metodologias inovadoras. Concluído no LNEG em 2012, numa edição em formato frente e verso, inclui uma nova base topográfica do país e apresenta a geologia de superfície e do substracto, bem como informação hidrogeológica, com logs de 335 sondagens e poços, bibliografia, carta hipsométrica e divisão administrativa. 

Palavras-chave: geologia de África, cartografia digital, Bissau, Bacia do Senegal  



1. O vasto setor do Boé (que faz parte da região do Gabu) é intransitável no tempo das chuvas (que vai de meados de maio  a  meados de novembro). Dois grandes rios atravessam o Boé: o Corubal [, que corre de sul para nordeste] e o Féfiné [, que corre a norte e a leste de Béli, e a sudeste de Cabuca, sendo um afluente do rio  Corubal].

Como se pode ver na foto acima, já no início da época da chuvas o rio Féfiné tem um caudal elevado, tornando na prática difícil ou mesmo impossível a sua travessia em viatura automóvel. A alternativa para se alcançar, na época das chuvas, o complexo Dulombi-Boé-Tchetche (um conjunto de 3 parques nacionais cobrindo cerca de 319 mil hectares),  é entrar, a nordeste, por Foula Mori, na Guiné-Conacri...

Estas duas imagens podem ser usadas como complemento da informação constante do poste P22106 (*). Faz-se um convite aos nossos leitores (**) para as relacionar com a narrativa do PAIGC segundo a qual a I Assembleia Nacional Popular (, onde se terá proclamado,  a 24 de setembro de 1973,  em plena época das chuvas, a independência da Guiné-Bissau,) ter-se-ia realizado na "região libertada" de Madina do Boé... 

Há muito que sabemos que  esta narrativa é, em parte,  uma "falsificação da História". (Repare-se que na Carta Geológica da Guiné-Bissau, encomendada pelo Governo guineense, ao LNEG portugês, os geólogos continuam a considerar Madina do Boé como a mítica capital fundadora do país: vd. figura nº 13 acima).

7 comentários:

patricio disse...

Boa noite,
O meu amigo, Paulo Alves percorreu durante anos estes caminhos, para as sua recolhas, desceu ao fundo de muitos poços para recolher amostras do solo, carregou para Lisboa muitas centenas de kg de pedras, para os ensaios.

O jipe da foto morreu em outra guerra, apanhou com estilhaços da guerra civil de 98, estava estacionado na Cooperação Portuguesa em Bissau e lá ficou inoperacional.

O rio Féfiné, dá para ser ultrapassado de viatura todo-o-terreno com as 4 rodas engrenadas, na estrada que liga Lugajol a Vendu Leidi, na época seca, o fundo do rio é rochoso, mas as margens não.
Já lá tive que rebocar um outro jipe, para saírem para a margem sul.

Se precisarem de algum assunto para esta bandas (para os vossos netos)…
Informo na próxima 3ª feira, vai para lá, uma equipa nossa fazer um trabalho em Béli.

Sobre o tema P.22106, já dei a minha contribuição por diversas vezes, acompanhadas com muitas fotos.

Abraço

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Patrício, faz viagem, ainda estamos na época seva, não te vais atolar no "pântano do Boé". De resto, aprecio a tua honestidade intelectual tanto quanto o a tua sensibilidade de diplomata... És guineense de coração, e muito tens feito por aquele nosso país irmão, criando infraestruturas valiosas para as populações locais do Leste e não só, por todo o lado,

Se te lembrares, tiras fotos desse "cu de Judas", e em especial de Beli e arredores, já que lá vais em trabalho...A maior parte de nós, como a maior parte dos então combatentes do PAIGC, nunca lá põs os pés...

Recordo-me agora de me teres apresentado o teu amigo Paulo Alves que fez, de resto, um trabalho fabuloso na sua área de especialidade... Almoçámos juntos em Lisboa... Penso até que foi na mesma altura em que te conheci pessoalmente. A Alice também esteve presente.

Mantenhas. Bom ida e volta. Luis

PS - Vejo que és "irreformável", apesar das mazelas do corpo... Já foste vacinado contra a Covid-19 ? Duvido... Não sabia que tinhas voltado... Mereces um jipe craregado de cruzes de guerra...

Patricio Ribeiro disse...

Luís,
Sim, estivemos junto em um almoço com o Paulo Alves.

Nós já tínhamos estado anteriormente, no teu trabalho, quando me ofereces-te as cartas militares digitalizadas.(que não estavam disponíveis no Blogue).
Servem para os meus trabalhos, assim como a alguns investigadores, que como o Paulo Alves percorrem o interior da Guiné.

Desta vez não vou a Beli, vão os meus colaboradores, eu coordeno a partir das margem do Vouga.
Vou sim, no próximo mês ainda tenho que tomar 2a vacina.

Tenho que ir em Maio antes das chuvas, trocar a palha da minha palhota em Varela, e apanhar uns peixes que de imediato vão para a grelha.

Ainda estou no Vouga, em tele trabalho de manhã.
Todas as tardes no ginásio...com a enxada na mão, na horta, ou tratar das videiras e dos eucaliptos e pinturas, a fazer a preparação física, para mais uma estadia na Guiné.

Quem estão velhos, são os outros...

Abraço

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Aliás, foste tu, Patrício, quem nos mandou cópia da foto nº 4 (travessia do rio Fétiné)...O Jorge Araujo identificou a origem e eu fui lá ver o artigo, disponível em pdf no repositório do LNEG que, curisoamente, fica na minha freguesia, Alfragide, Amadora...

Recordo-me, há anos, quando nos encontrámos de me teres apresentado o Paulo Alves como o homem no mundo que conhecia melhor o subsolo da Guiné-Bissau. Percebo pouco de geologia, mas é uma ciência que me fascina...E acho que não devemos chamar geógrafos aos geólogos, que eles não gostam... E eles "não têm que saber de História", têm que saber apenas de "história da terra"... Muito menos da nossa pequena história e das nossas pequenas teimosias: "Foi ali!... Não, foi acolá!"...

E sobre o "jipe carregado de cruzes de guerra"... Devo acrescentar que foste um herói, na guerra civil de 1998, ajudando a salvar muitos portugueses e guineenses... Sera´que alguém sabe isso , no Palácio de Belém ? Os homens do Presidente não leem o nosso blogue... Vâo lá preocupar-se com estes "velhadas" que têm memórias politicamente incorretas!...

Mas a Nação Portuguesa e a Nação Guineense têm que te mostrar gratidão!...

Hélder Valério disse...

Caro amigo Patrício

Acho meu dever dizer que considero as tuas intervenção muito interessantes, assertivas, por norma "positivas".
Sem alardeamentos, nem presunções.
Em regra, bons contributos para um visão atual (e não só) da vivência na Guiné-Bissau, dos seus dramas, insuficiências, falhanços, virtudes.
E também muito se aprende (ou recorda) sobre as inegáveis belezas naturais, a fauna e a flora, as incontornáveis características do mosaico dos seus povos.

Agora, uma outra coisa.
Concordo com a necessidade do "rigor histórico", para a determinação de coisas, pessoas, lugares, acontecimentos.
Mas parece-me, "sinto", que há aqui uma espécie de "cavalo de batalha" com a questão da "proclamação de independência", da Guiné, alegadamente em "Madina do Boé".
Aqui, no Blogue, esse local geográfico já foi mais que escalpelizado, demonstrando-se com variadíssimos argumentos e teses, da impossibilidade de tal ter sido assim, aí. Foram já aventadas algumas outras localizações possíveis, todas elas bem sustentadas nos argumentos.
Até aqui, tudo bem.
Temos que ser exigentes. Principalmente com "os outros". E mais principalmente se esses "outros" não serem suscetíveis de merecer a nossa simpatia, seja por questões factuais, ideológicas ou mesmo "só porque sim".
Por isso tenho-me divertido muito com uma pequena peça que circula desvairadamente "pelas redes sociais" (ler "Facebook"), que me chegou por muitos meios, maioritariamente por parte de simpatizantes do "antigo regime", de "anti atuais situacionistas", e que, embora presuma que o "alvo" seja coisa mais recente, não deixa de ser interessante registar, já que o título, o pretexto, é "os mentirosos em Portugal".
Trata-se de uma oratória de Hermano José Saraiva que começa por dizer que "como sabem, o que não falta em Portugal são mentirosos".
E explicita: "a nossa literatura está cheia de embustes".. e continua... "isto começa pelas nossas 5 quinas que reportam ao "milagre de Ourique", que nunca aconteceu", "a independência portuguesa assenta nas atas das Cortes de Lamego, mas também nunca houve Cortes em Lamego", depois continua por mais uns quantos exemplos e remata com "em Portugal não há o culto da verdade".
Não me parecendo que Hermano José Saraiva (com quem tive duas situações engraçadas, uma em 1969 e outra já mais recentemente, uns poucos anos antes do seu falecimento) possa ser tido como um propagandista de "doutrinas esquerdistas" (linguagem e conceitos tão na moda, embora utilizados ignorantemente), fico deliciado com estas coisas e a "matutar" no velho ditado sobre São Tomás que diz "faz o que ele diz e não o que ele faz".
E mais uma vez se prova que somos muito bons a dar lições aos outros.

Hélder Sousa

Paulo Alves disse...

Boa noite Caro Luis
O nosso amigo Patricio alertou-me, e bem, para este post sobre o Boé, uma das regiões da Guiné-Bissau onde mais gostei de trabalhar para o novo mapa geológico do país e depois para o meu doutoramento.
Este UMM foi um bom aliado nessa 1ª fase do trabalho (1990-1998) e a Foto da travessia do Féfine retrata isso mesmo (Foto antes de chover). Com base em Béli, fomos estudar a zona VenduLeidi - Burquelém - Tabadará e após uma forte chuvada (a 1º chuva, a mostrar que a época seca estava a acabar), o regresso a Béli tendo de atravessar de novo o Féfine esteve quase a correr muito mal, com o jipe a ser empurrado de lado pela forte corrente entretanto formada com essa carga de água.
O resto do trabalho por estes sítios, para acabar o reconhecimento geológico do extremo Leste do Boé (para lá do Féfine), ou foi feito mais cedo, antes do início da chuvas, ou então via Guiné-Conakry: saindo da Guiné por Piche para entrar na Guiné-Conakry e, via FulaMory, reentrar na GB, contando na estadia com a hospitalidade magnífica e simpática da população de Dalabá (e com eles partilhar o que necessitavam da minha boa "farmácia" de primeiros socorros, face a algumas situações complicadas de saúde).

Luis, estou em falta com este blog. Tenho de passar a escrever e partilhar informação convosco, com tantos entusiastas desta realidade tão diferente da nossa.
Abraços
paulo h. alves
geólogo (o que na GB é sinónimo de uma certa aventura)

Paulo Alves disse...

Boa noite Caro Luis
O nosso amigo Patricio alertou-me, e bem, para este post sobre o Boé, uma das regiões da Guiné-Bissau onde mais gostei de trabalhar para o novo mapa geológico do país e depois para o meu doutoramento.
Este UMM foi um bom aliado nessa 1ª fase do trabalho (1990-1998) e a Foto da travessia do Féfine retrata isso mesmo (Foto antes de chover). Com base em Béli, fomos estudar a zona VenduLeidi - Burquelém - Tabadará e após uma forte chuvada (a 1º chuva, a mostrar que a época seca estava a acabar), o regresso a Béli tendo de atravessar de novo o Féfine esteve quase a correr muito mal, com o jipe a ser empurrado de lado pela forte corrente entretanto formada com essa carga de água.
O resto do trabalho por estes sítios, para acabar o reconhecimento geológico do extremo Leste do Boé (para lá do Féfine), ou foi feito mais cedo, antes do início da chuvas, ou então via Guiné-Conakry: saindo da Guiné por Piche para entrar na Guiné-Conakry e, via FulaMory, reentrar na GB, contando na estadia com a hospitalidade magnífica e simpática da população de Dalabá (e com eles partilhar o que necessitavam da minha boa "farmácia" de primeiros socorros, face a algumas situações complicadas de saúde).

Luis, estou em falta com este blog. Tenho de passar a escrever e partilhar informação convosco, com tantos entusiastas desta realidade tão diferente da nossa.
Abraços
paulo h. alves
geólogo (o que na GB é sinónimo de uma certa aventura)