sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22754: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XX: outras guerras, outros protagonistas: os mosquitos, as abelhas, as formigas, as matacanhas...



Foto nº 1


Foto nº 2 


Foto nº 3

Legendas: Foto nº 1 >  Bagabaga Baga Baga – Uma excelente proteção nos contactos no mato com o IN (e vice-versa!). Foto de autor desconhecido

Foto nº 2 > O Soldado Covas brincando com um dos habitantes do Cumbijã.  Cortesia do soldado Covas

Foto nº 3 > O cão rafeiro “Tigre” e a cabra “Joana”



 Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > CCAV 8351 (1972/74 > A hortinha do José Carlos, estrategicamente plantada junto aos nossos chuveiros aproveitando a rega automática. 

Fotos (e legendas): © Joaquim Costa (2021). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]







O ex- furriel mil Joaquim Costa: natural de V. N. Famalicão,
vive hoje em Fânzeres, Gondomar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado.
Tem pronto o seu livro de memórias (, a sua história de vida),
de que estamos a editar alguns excertos, por cortesia sua. Tem um pósfácio da autoria do nosso editor



Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) (*)




Parte XX -  OUTRAS GUERRAS, OUTROS PROTAGONISTA



Para além dos perigos inerentes a um conflito militar, outros, também difíceis de ultrapassar, nos eram colocados:

Os mosquitos (**)

Um inimigo duro, resiliente e nunca vencido. Muitas vezes nos atirando para a cama de um hospital com o paludismo. Lutávamos contra este inimigo implacável utilizando todas as armas disponíveis: rede mosquiteira, repelente, álcool, etc.

Desde muito cedo nos ensinaram que a melhor forma de os combater era... o álcool.

Um sargento, tarimbado e porventura já imune, depois de uma noite bem bebida, dormiu sem rede mosquiteira e de manhã era vê-los todos mortos, os mosquitos,... de “coma alcoólico”!

Tal como o IN, atacava, principalmente, ao cair da noite.

Com este inimigo nunca houve tréguas, nem mesmo depois do 25 de Abril (estavam-se “marimbando” para as revoluções!). A luta foi, implacável, do primeiro até ao último dia de Guiné.

As formigas Bagabaga (**)

Segundo estudo do camarada  Rui Silva (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), eram “térmitas (cupim) que construíam montículos de terra endurecida onde habitava toda a comunidade.  Estes montículos podem atingir até cerca de 8 metros de altura. Espécie de formiga esbranquiçada e de contornos e cabeça avermelhados que vive numa comunidade, aos milhares, uma comunidade organizada com Rei, Rainha, operárias e soldados, e que constrói o bagabaga com a secreção de saliva misturada principalmente com pó de terra fazendo daquela obra de engenharia, arejamento, climatização e arrumação, o seu habitáculo. Desconheço se foi a formiga bagabaga que deu o nome ao montículo ou se o bagabaga (montículo daquela formiga) é que deu nome à formiga”.

Atacavam pela calada, em silêncio, principalmente quando adormecíamos na mata. Entravam por todas as aberturas: Pernas das calças, mangas da camisa e pelo pescoço. Muitas vezes assisti ao desespero de camaradas a tirar toda a roupa e a coçar violentamente os “coisos” (e não só). Depois de se instalarem, era muito difícil desalojá-las. Muito mais difícil do que desalojar o IN na operação “Balanço Final”. Já “calejado”, sempre que dormia na mata, atava um nagalho nas calças e nas mangas e apertava o último botão da camisa.

As abelhas

Estas foram o único adversário que conseguiram desbaratar todo um grupo de combate que fugiu “covardemente” do terreno de batalha. 

O lema deste temível adversário era: Juntos somos invencíveis. Ouve-se lá ao longe em pequeno zumbido (o enxame), que se vai aproximando à medida que aumenta o pânico no grupo de combate, experimentado e disponível para outras guerras que não esta.

Tudo fica em silêncio para não denunciar a sua presença, não conseguindo disfarçar o “cagaço” que reina nas hostes.

De um momento para o outro, militares experimentados, com grande espírito de grupo (cujo lema é ninguém fica para trás), que colocados em situações de grande dificuldade nunca vacilaram ou fugiram, começam a gritar como crianças mimadas e assustadas, a chorar e a chamar pela mãezinha, largando a arma, mochila e tudo o que dificulta a fuga, sem saber para onde, procurando safar-se daquele horror, sem nunca pensar nos que ficam para trás, cada um por si.

Estavam já perto do destacamento, pelo que a maioria alcança-o em corrida louca com dezenas de abelhas coladas na cara e braços, com a estupefação do pessoal que os via chegar, sem arma, sem cinto, sem bornal e sem cantil, olhando para a orla da mata a confirmar se o IN vinha em perseguição. 

Felizmente não participei nesta cena “degradante” que atirou por terra todo o prestígio e respeito conquistado no teatro de operações

Um grupo de combate saiu para recolher todo o equipamento deixado na fuga e ajudar os que ficaram para trás (um militar nunca deixa outro militar para trás!) a regressarem ao quartel.


A Matacanha (**)

A matacanha é uma pulga minúscula, que penetra nos dedos dos pés e se desenvolve produzindo um saco de ovos que pode chegar a atingir o tamanho de um grão de milho. Tem de ser removida com habilidade, utilizando uma agulha fina. Alguns africanos eram de tal forma atacados pelas matacanhas, que acabavam por quase não conseguir andar. Eram então apelidados de calonjandas.

Depois de vários patrulhamentos, na época das chuvas, em bolanhas inundadas, comecei a sentir uma comichão no dedo grande do meu pé direito. Fui coçando supondo tratar-se de uma ligeira micose, comum nestas regiões. A comichão não passava e começou a afetar a minha marcha.

Tomei a decisão de consultar o nosso furriel enfermeiro, numa altura em que este estava a folhear, se a memória não me falha, uma revista de medicina, da especialidade de “anatomia” (penthouse) que o Martins lhe tinha emprestado. Mostrei-lhe o pé e, sem um Raio X, sem uma ressonância magnética ou análises à urina, atira-me, numa fração de segundos, o diagnóstico à cara:

- Temos aqui uma matacanha que precisamos de remover. 

Pensei, é desta que vou passar umas férias a Bissau, tratar de tal coisa que nunca tinha ouvido falar. 

 Ó Caetano! trata lá disso para ser operado o quanto antes em Bissau.
 Está bem  – dise  o Caetano–  dá cá o pé para eu fazer o relatório que te acompanhará até Bissau. 

Dou-lhe o pé e logo ele com a  da faca de mato, que desinfetou com uísque (creio que Ballantines) escarafunchou até encontrar o dito bicho que me colocou na palma da mão a “rabiar”. Ainda não foi desta que fui comer umas ostras a Bissau…

Nota: O Caetano afirma que me tirou a matacanha não com a faca de mato mas com uma agulha bem desinfetada com Whisky. É a palavra dele contra a minha…

Outros protagonistas bem mais pacíficos:

O Macaco-cão

Não havia saída para o mato em que não encontrássemos estes amigos babuínos, vítimas indefesas de uma guerra que que não era a sua. Eu ficava maravilhado com as suas acrobacias de árvore para árvore, alguns com os seus filhotes às costas. Eram grandes observadores repetindo gestos e procedimentos que viam nas nossas tropas. Cheguei a ver ao longe um grupo caminhando na picada mais parecendo um grupo de combate, descortinando um ou outro com um pau mais parecendo picadores.

Em emboscadas noturnas quando pressentiam um ruído estranho,  ladravam como uma matilha de cães. Era nossa convicção que estavam do nosso lado, “ladrando” quanto pressentiam que o perigo espreitava.

Há relatos de muitas vezes serem confundidos por grupos de IN com o descarregar de todas as munições sobre estas indefesas criaturas por tropa periquita ainda num processo de aprendizagem

Como era comum em quase todos os destacamentos, havia dois pequenos macacos no Cumbijã, sendo um deles companhia inseparável do furriel França, ainda periquito, do meu pelotão.

Da grande colónia de macacos com os quais convivíamos diariamente na altura, e que faziam as nossas delícias, de acordo com as informações que chegam de alguns cooperantes, com o consumo nas zonas rurais como subsistência e com o comércio organizado, já é muito raro encontrar esta espécie nas matas da Guiné.

Ainda hoje me repugna o facto de, com alguma probabilidade, ter comido em Aldeia Formosa macaco cão,

Como já referi num post anterior, fui convidado, por um Furriel africano, para comer uma cabra de mato (que estava divinal), que vomitei, depois do anfitrião ter declarado, no final do repasto: “Ainda bem que gostaram do macaco cão preparado por mim!”

Ainda hoje não sei se comi cabra de mato  ou macaca cão..

 O "Tigre" (***)

O nosso cão rafeiro e fiel amigo. Era o primeiro a dar sinal que algo ia acontecer, seja ataque ao arame ou flagelação. Era um “come e dorme” mas não deixava de estar presente sempre que alguém saía para o mato, assim como era o primeiro na “porta de armas” a receber-nos no regresso.

Habituado às carícias de toda a companhia não reagiu bem à chegada da cabra Joana que trouxemos de Nhacobá no dia da operação “Balanço final”

A "Joana" (***)

A simpática cabra que trouxemos de Nhacobá, no dia do assalto, passou a ser a dona do destacamento. Manteve até ao fim um relacionamento conflituoso com o rafeiro "Tigre", numa luta de “titãs” pelo poder.

No dia de abandonar o Cumbijã,  não deixamos de verter uma lágrima por deixar estes dois grandes e fieis amigos entregues à sua sorte.

Continua ...
____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 12 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22711: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XIX: As hortinhas... dos "durões"

(**) Vd. postes de 

20 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7012: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (1): Paludismo (Rui Silva)

26 de novembro de  2010 > Guiné 63/74 - P7342: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (3): Formiga baga-baga (Rui Silva)

26 de janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7674: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (4): As abelhas (Rui Silva)

(***) Vd. poste de 1 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22422: Passatempos de Verão (24): A cabra Joana de Nhacobá e o cão rafeiro Tigre de Cumbijã: fábula 2: "Ao que parece, nem os macacos se salvaram" (Joaquim Costa)

14 comentários:

Valdemar Silva disse...

Costa, mais umas belas pérolas.
'Tal como o IN, atacavam, principalmente, ao cair da noite', o raio dos mosquitos.
Parece que o "anofélis" se alimentava do fumo de repelente (Leo-Brand ?) como dum paivante (não confundir com os apoiantes de Paiva Couceiro) de haxixe se tratasse.
Levei com manga deles de noite a descer o Geba de Bambadinca a Bissau, com sorte levar calças compridas e um pano duma bajuda a tapar os braços.
Sobre as formigas até se podia fazer uma aposta desonesta: em qualquer lado havia sempre formigas debaixo das botas.
Não sei como serão as pérolas da continuação, com certeza não vão faltar os sapos a aparecer dentro das botas e até dentro do copo dos dentes.

Abraço e saúde
Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Queria dizer repelente "Lion Brand"

Valdemar Queiroz

José Botelho Colaço disse...

Destes três inimigos o mais ofensivo e temível eram as abelhas, por sorte não fui vítima mas sei de camaradas que sofreram esse ataque das abelhas do qual nunca recuperaram a 100%, quanto aos outros dois inimigos a matacanha aproveitava a falta de higiene pessoal por esse motivo a minha companhia de C.c. 557 durante a operação tridente como é do conhecimento geral a agua até para beber era racionada foi muito atacada, todos nós tinha-mos um alfinete ou em falta dele um palito torrado para se tornar mais agúdo e poder sacar a matacanha. Havia na companhia um militar que por transpirar muito as matacanhas aproveitavam para se instalar e fazer o seu ninho desde os pés aos sovacos dos braços o que o tornou conhecido por o alcunha do "Matacanhas".

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Joaquim, percebe-se porque é que foram os pobres dos cabo-verdianos e não os "tugas" a colonizar (?) a Guiné... Basta ver hoje a lista das doenças tropicais para um europeu pensar duas vezes antes de ir passar umas simples férias à Guiné-Bissau...

https://www.ihmt.unl.pt/glossary/

Não sei se a cobertura sanitária no nosso tempo seria melhor ou pior no nosso tempo do que hoje... Mas, pelo menos no nosso tempo, a gente sabia que podia confiar as nossas vidas no HM 241, em Bissau, que era o melhor hospital da África subsariana (excluindo a África Austral).

Mas mesmo assim houve homens extraordinários (e algumas mulheres...) que enfrentaram (e sobreviveram a) aquele inferno, que era a Guiné dos anos 30/40/50/60/70 do séc. XX. Já não dos tempos anteriores, em que a medicina era pouco ou nada eficaz contra as doenças tropicais...

Ainda me lembro de ver gajos a mijar sangue, depois de mergulharem nos rios/charcos da Guiné... Porra, não vem aqui na lista do Instituto de Medicina e Higiene Tropical, o raio da doença, parasitária, a bilharziose, também conhecida como esquistossomose...

É por isso é que eu acho que as crianças da Guiné-Bissau que sobrevivem aos 5 anos (a Alicinha não escapou por pouco!...) são umas heroínas: correm o risco de apanhar estas doenças mais as que são típicas dos países pobres ou fracamente desenvolvidos...

Para nós, apesar de tudo, a "matacanha", a "flor do Congo", o "paludismo" ou a "blenorragia" não ficavam mal de todo... no currículo de um "antigo combatente"... Machismo à parte...e sem ofensa às vítimas destas doenças, milhões e milhões!...

Mas fazes bem, Joaquim, recordar. Até pro que também tiveste um filho a trabalhar lá, na Soares da Costa, na construção da Ponte de São Vicente!


https://www.ihmt.unl.pt/glossary

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Com a devida vénia ao sítio do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade NOVA de Lisboa (IHMT/UNL)...

https://www.ihmt.unl.pt/glossary/doencas-tropicais-negligenciadas/

Doenças Tropicais Negligenciadas


As doenças tropicais negligenciadas incluem um conjunto de doenças que ocorrem predominantemente nos países em desenvolvimento e são responsáveis por elevada morbilidade e mortalidade.

Além das consequências na saúde das populações, estas doenças replicam, nas populações atingidas (normalmente, as mais desfavorecidas), ciclos de pobreza, de desenvolvimento deficitário na infância, impacto negativo nas taxas de fertilidade e natalidade, e na produtividade.

A estas doenças estão ainda associadas a falta de interesse das autoridades competentes, a ausência de investimento na área da investigação e do desenvolvimento de novas moléculas para o tratamento ou cura.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, existem 17 doenças tropicais negligenciadas: dengue; raiva; tracoma; úlcera de Buruli; bouba; hanseníase; doença de Chagas; doença do sono; leishmaniose; teníase e neurocisticercose; dracunculose; equinococose; trematodíases de origem alimentar; filariose linfática; oncocercose (cegueira dos rios); schistosomose; e helmintíases transmitidas pelo solo.

Fernando Ribeiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Valdemar.
Sapos dentro das botas não me lembro mas quando abri a minha mala de cartão, que tinha debaixo da cama, quando ainda dormíamos em tendas de campanha, procurando as minhas calças de bombazine para ir todo janota de férias, não imaginas a quantidade de bicharada que saiu dentro da mesma, que nunca fui capaz de identificar, e que devorou tudo o que lá existia.

José Colaço
"a matacanha aproveitava a falta de higiene pessoal". Se fosse hoje teria lavado mais vezes os pés.
A tua operação "Tridente" não foi pera doce. Até as matacanhas não deram sossego ao pessoal!

Luís
És um poço de sabedoria. Estivéssemos nós na altura na posse de toda essa informação e muitos mais desertores teria havido.
Abraço e muita saúde
Joaquim Costa

Anónimo disse...

Pois, os sapos não nos largavam com visitas diárias em Guiro Iero Bocari, que também dormíamos em tendas de campanha. De manhã já se sabia haver dessa bicharada nas botas, copos e em tudo que pudessem descansar.
A cena mais espectacular de sapos que assisti foi em Bissau à noite na porta duma casa em frente à Solmar. A luz acesa sobre a porta atraía mosquitada, grilos e outra bicharada, então os sapos como fossem Panhards ou M47s atacavam os milhares que estavam no chão até a barrigada aguentar.
Em Nova Lamego havia duas Missões do Sono devido ser zona dessa doença. No percurso da estrada Nova Lamego-Cabuca apareciam umas moscas grandes de asas cruzadas que nos atacavam, os nossos soldados fulas diziam ser a mosca do sono mas não havia problema por naquela zona serem todas machos.

Abraço e saúde
Valdemar Queiroz

Cherno Baldé disse...

Caro Valdemar,

As moscas grandes que te referes são moscas canibais (vespas) que sugam o sangue como os mosquitos, mas não são causadoras da doença do sono. São muito agressivas e montam emboscadas nos caminhos que ligam as aldeias nas zonas dos interior. A doença do sono é causada por uma mosca mais pequena que a mosca domestica chamada Tsé-tsé muito frequente nas margens do rio Corubal, inclusive na zona de Cabuca e Che-Che.

Mais temível que as abelhas é a Vespa gigante de cor preta que habita em troncos ócos da floresta tropical cuja picada pode ser mortal. Os nativos, normalmente lidam bem com esses bichos, mas ninguém brinca com aquela espécie de vespa que só ataca nos seus dominios.

Os sapos são repugnantes, mas inofensivos, pelo que, na impossibilidade de os afastar, nas nossas aldeias convivemos com eles de forma pacífica. E a pior coisa que nos pode acontecer, mesmo em Bissau, é receber uma visita de familiares nados e criados na Europa que têm medo de tudo e mais alguma coisa. Se for uma criança, então é bem pior.

Abraços,

Cherno Baldéw

José Teixeira disse...

Tive a sorte de no primeiro ataque de abelhas um soldado milícia ir ao meu lado e me agarrar por um braço e me ordenar: Fica quietinho como eu estou! Não te mexas! Assim fiz. As abelhas rodearam-nos, pousaram na roupa. A cabeça bem coberta com o kiko estava protegida. O que assustava era o zumbido. Naquele estado pude ver toda a gente a fugir, deixando a coluna totalmente desprotegida por cerca de quinze minutos. Se não fosse o lugar onde estávamos daria para rir...o Milícia dizia-me, mantem-te quieto que o "Turra" também tem medo...
Da segunda vez, segui a mesma tática e apesar de estar no centro do furacão, pois a colmeia estava na árvore que foi deitada abaixo pelo caterpiller, onde eu ia a conversar com o manobrador, nada sofri, mas tive de tratar dois camaradas, um dos quais estava sufocar devido a ser alérgico.
Das formigas, nem falar. Não descobri forma de me livrar delas. Provocavam um sofrimento horroroso.
Mantacanhas, trouxe uma comigo e vi-me grego para me livrar dela, pois o dermatologista limitou-se a meter o bisturi e abrir a bolsa de ovos. Resultado: semeou-me a bicha na planta do pé. Usei descamante à base e ácido acetilsalicílico e nitrato de prata para me ver livre da bicha.
Zé Teixeira

Valdemar Silva disse...

Meu caro Cherno Baldé
Tu é que és o entendido nestas coisas, obrigado pela rectificação/explicação.
Mas, como íamos para Cabuca talvez a explicação do Ussumane Colubali, sempre a meu lado*, (guarda-costas de tu, dizia ele) falasse na doença do sono, moscas machos e as tais moscas que apareceram e eu percebesse estar em presença dos machos da tsé-tsé.
E quanto aos europeus terem medo duma simples formiga em África, possivelmente serão europeus citadinos e não do interior provinciano como eram os nossos soldados metropolitanos. Só soldados humildes, depreciativamente chamados matarruanos, valentes e habituados formigas, pulgas, piolhos, moscardos, sapos e rãs, cobras, lagartos e sardões como quase todos eles, aguentavam a merda da guerra e naquelas condições de viver em buracos.
Evidentemente que a admiração era por haver manga de bicharada, era tudo em grande escala.
Era estar em África.... que nunca mais esqueceremos.

Abraço e continuação de boa saúde
Valdemar Queiroz Colubali

*na fotografia enigmática do meu Pelotão, publicada no blog, lá está o Ussumane Colubali em pé ao meu lado.

Valdemar Silva disse...

No P13666 vemos a enigmática fotografia do meu 4º. Pelotão/CART11, em Nova Lamego, junto da GMC atingida por uma mina A/C, e lá está o Ussumane Colubali em pé disfarçadamente a meu lado.
É uma das grandes fotografias do blog, que tenho pena não saber quem teria sido o fotógrafo.
Foi na vez do meu Pelotão estar a "descansar" na sede da Companhia.

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Caro Valdemar,

Foto enigmática e histórica. O vosso Pelotão tinha conseguido criar um ambiente muito bom (hoje dizem espírito de equipa) para fazer frente as adversidades da guerra. Pena que o desfecho tenha sido tão dramático para os locais, senão haviam de repetir a encenação no seu 50 aniversário com os netos a tocar palmas.

Abraço,

Cherno

Valdemar Silva disse...

Meu caro Cherno Baldé
Seria uma encenação não tão enigmática, com toda a certeza.
E passados 50 anos o que será feito de toda aquela rapaziada, os que escaparam a fuzilamento e
ainda estão vivos são todos mauro gorcos de mais de 70 anos de idade.

Abraço e saúde
Valdemar Queiroz