Autorização, com data de Bissau, 2 de dezembro de 1969, dada pela PIDE - Polícia Internacional e de Defesa do Estado, ao alf mil João José Lourenço Rodrigues Lobo, para poder entrar "a bordo de paquetes e navios de carga, nacinais e estrangeiros, fora das horas de embarque e desembarque de passageiros".
[ (i) ex-alf mil, cmdt Pelotão de Transportes Especiais / BENG 447 (Bissau, Brá, dez1967/fev1971);
(ii) fez o 1º COM, no último trimestre de 1967, em Angola, na EAMA, Nova Lisboa, Angola, onde viveu na sua juventude;
(iii) natural de Óbidos, vive em Torres Vedras onde trabalhou durante mais de 3 décadas como chefe dos serviços de aprovisionamento do respetivo hospital distrital;
e (iv) é membro nº 841 da Tabanca Grande.]
Assunto - Apontamentos da "tropa"
Boa tarde,
Caro Luis e demais editores do Blog,
Cá vai mais uma achega da minha passagem pelo Exército Português:
Tenho lido alguns comentários e outras publicações no Blog com algumas interrogações,
assim talvez ajude a esclarecer ou a complicar mais. E após mais de 50 anos não devem ser segredos militares nem tabus.
assim talvez ajude a esclarecer ou a complicar mais. E após mais de 50 anos não devem ser segredos militares nem tabus.
Para a razão da minha ida da RMA (Região Militar deAngola) para o CTIG (Guiné) foi-me dito: "intercâmbio entre Províncias Ultramarinas". Aceitei a "informação" verbal. Mas teria sido só?
Especulando bastante quando se não percebe bem a razão apontada:
(i) Podia eu ter sido colega de "turras" que andaram comigo no Liceu Nacional Salvador Correia. (aliás como o Luís dá a entender num seu comentário).( Pura especulação). Mas realmente desse tempo tenho uma recordação que me foi dada por um colega. (imagem anexa, à esquerda, um pin do MPLA) .
(ii) Fui em rendição individual para render um camarada da Metrópole que não cheguei a conhecer e, no fim da comissão, fui rendido por um camarada da metrópole que também não cheguei a conhecer. Como já li em vários comentários no blog, teria sido porque, àquela data, estaria o filho de alguém "importante" em vias de ir e se baldou com alguma cunha? (Pura especulação). A seguir, e no final, um "pequeno" episódio...
(iii) Teria o meu trabalho no QGA da RMA " colidido" com os interesses económicos de "alguém" pois no pouco tempo que lá estive, além de ir comandar MVL , era eu o responsável por controlar todos os quilómetros, horas e facturas de todas as viatura civis contratadas para transportes militares (centenas) e, tendo arranjado métodos de conferência que teriam poupado bastante aos cofres do Exército? E os camionistas andavam fulos comigo? (Pura especulação).
(iv) Teria algum elemento da PIDE/DGS, por motivos pessoais, ou outros, tido alguma influência ? (Pura especulação).
A PIDE metia-se em tudo e, na Guiné, para ir a bordo dos navios onde, como alferes, ia receber toda a carga e materiais para o BENG , tive que, mesmo assim, ser entrevistado e de me passarem o cartão, anual (o de 1968 tive de entregar) na recordação em anexo (1969), senão pasme-se, era preso !!!
(v) Ainda penso noutras possíveis especulações ou num conjunto de várias acima. Lanço o repto aos camaradas que me estão a ler para fazerem os seus comentários. Só se passaram 53 anos, talvez se recordem de outros possíveis motivos ...
.
A propósito do ponto 2 acima tenho um "episódio" que me parece irreal e se passou comigo. Sem inventar.
Uma das minhas primeiras "acções" quando me colocaram a Comandar o PTE - Pelotão de Trabsportes Especiais, do BENG 447, foi pedir ao Comando uma lista exaustiva e completa das viaturas e homens que pertenciam ao PTE e em que trabalhos estariam deslocados.
Eramos muitos. Após a conferência, o incrível, faltava um soldado condutor auto rodas que "ninguém" sabia onde estava, mas diziam estar em Bissau (tendo um Mercedes próprio no qual se deslocava). Mandei recados, sem levantar ainda quaisquer problemas, dando-lhe 3 dias para se apresentar no PTE e no Batalhão.
O recado chegou ao destino e, um dia depois, fui convidado a ir a uma residência na cidade para ir jantar com um oficial da PM. Mesmo estranhando e sem saber porque cargas de água me tinha sido feito o convite, resolvi aceitar e fui.
Era um jantar a 3 onde estava o soldado "desaparecido" e onde me tentaram convencer em não levantar ondas pois ele nunca se iria apresentar no Batalhão. Foi uma "conversa" muito interessante e insinuante. Não cedi e mantive o prazo dado.
Ao sair, disseram-me que ele não se iria apresentar, ao que eu respondi que iria fazer a respectiva participação ao comando do BENG e logo se veria. E, não é que ele não se apresentou e, foi logo "evacuado" para a metrópole !
Ainda me lembro do seu apelido, embora com a dúvida se a segunda letra do apelido é um E ou um A. Era realmente de uma família muito "importante".
Abraço, João
____________
Nota do editor:
Último poste da série > 31 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22675: Reavivando memórias do BENG 447 (João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, cmdt do Pelotão de Transportes Especiais, Brá, 1968/71) - Parte VIII: O meu percurso militar (II): Depois da RMA, o CTIG: ao todo, 3 anos e 4 meses ao serviço da tropa
5 comentários:
Olá, João. Estive há dias na tua segunda terra, fui com uns amigos aos museu Leonel Trindade, ver a exposição sobre o castro do Zambujal...Notável o trabalho de Torres Vedras no domínio da arqueologia (e da museologia). E adorei ver os azulejos do claustro do convento da Graça, sou fã dos nossos azulejos, nomeadamente os do séc. XVIII...
Olha, aqui tens mais um poste teu... Dou-te os parabéns pelo cuidado em guardar estes papéis que são preciosos (e até porque são raros, a malta tem tendência para mandar tudo para o lixo...) para documentar este período da nossa vida (e da nossa história)...
Gostei das duas histórias... Abraço grande, Luis
Interessante.
Quando estive no RAP3, na Figueira da Foz, fazia parte de uma Companhia de Instrução de Condutores Auto, dando instrução da parte militar propriamente dita.
De facto todos os Cabo milicianos e os Aspirantes da instrução Auto da especialidade de Rodoviários eram filhos de gente rica e conhecida.
Abraço e saúde
Valdemar Queiroz
... Uma pista: além de serem "filhos de algo", já tinham carta de condução e carro... Quem tinha carro nos anos 60 ?...Nas nossas aldeias, vilas e vilórias, o carro era um luxo... Quem pôde, aproveitou para tirar a carta na tropa ou no ultramar...
Não há dados estatísticos, mas se calhar ser condutor, mesmo no ultramar, desde que fosse num centro urbano (Luanda, Bissau, Lourenço Marques...), não era nada mau... De preferência, condutor de jipe, ou de Wolkswagen ou Mercedes, às ordens de oficial superior (e família). Privilégio, é isso mesmo: é só para alguns...
O oficial da PM julgo não ter sido capitão, talvez tenente ,aqui a memória já falha. Mas fez-me recordar a dúvida ds segunda letra,da qual já me recordo, mas peço desculpa talvez não seja ainda de revelar.
João, tudo o que se revela aqui é do domínio... público: a nossa vida na tropa, cá e lá... Claro que todos temos alguns segredos que não queremos revelar. E temos esse direito...
Mas já se passaram mais de 50 anos... Não precisas de referir o nome do capitão ou tenente que, hoje, a ser vivo, será coronel ou general... O teu "condutor", que pertencia ao teu Pelotão de Transportes Especiais e que não respondia à chamada, logo no primeiro dia, esse, tem apelido de família, como todos nós... Não precisas de dizer o nome próprio, pode só Melo, Espírito Santo, Champalimaud... Já que levantaste a lebre...
Por outro lado, não temos que continuar a alimentar a "hipocrisia social": é nossa convicção de que éramos todos iguais perante a lei, ontem como hoje, mas uns eram mais iguais do que outros....
O Forte da Amura (onde estava instalada a PM - Polícia Militar) era um bom sitio para se passar umas "férias" em Bissau.... Claro que havia outros "resorts" bem piores, de Canquelifá a Madina do Boé, da Ponta do Inglês à Ponte de Caium, do Xime ao Cumbijã, de Gamadael a Guidaje, de Mampatá a Mejo, de Bedanda a Buruntuma.... Ab, Luis
Enviar um comentário