Arsénio Puim, natural de Santa Maria, Açores, a viver em São Miguel,
escritor, ex-alf mil capelão, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72):
1. Mensagem do nosso amigo e camarada Arsénio Puim:
Data - 11 de fevereiro de 2022 17:25
Assunto - Nota de leitura
Obrigado pela tua “nota de leitura” relativa ao meu livro (*). Um livro, sem dúvida, simples e limitado, de cariz popular e muito mariense-açoriano, mas que julgo será um bom documento para a posteridade.
Posso informar-te que, desde há algum tempo, estou a preparar uma nova 2.º edição, também revista e acrescentada. Desta vez , é a reedição do livro “A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria”, que publiquei em 2001 (, edição do Museu de Santa Maria, 109 pp.). Espero que venha a lume no próximo verão.
Luís, apreciei o pequeno debate relativo a alguns termos marienses de influência americana (**). Penso que esta foi no passado, em maior ou menor dimensão, uma realidade frequente em meios populares mais isolados e menos escolarizados que sofreram a influência doutras culturas.
Em Santa Maria a influência foi americana, noutros meios será francesa ou alemã e ainda noutros foi portuguesa. É o caso, “mutatis mutandis”, do crioulo, que também se insere nesta dinâmica linguística corrente, proporcionada pela oralidade corrente, no caso, a associação da língua nativa e a língua dos colonizadores. São fenómenos curiosos.
Relativamente ao termo “calafona”, não há duvida que vem de “Califórnia”. Porém, no uso mariense popular o termo foi alargado a todo os emigrantes de qualquer área da América que apresentam características muito americanizadas, tanto no sotaque como no vestuário, maneiras de ser e linguagem. Já o termo “calafão” é muito menos usual em Santa Maria.
Quanto ao termo “raivar”, é verdade que às vezes, numa versão mais evoluída, se diz draivar, mas num americanismo mais retinto é mesmo “raivar”.
Do termo “estôa” não conheço em Santa Maria a variante estoro. Sei, porém, que os termos podem adquirir nas diversas ilhas um cunho próprio. E quanto aos nomes próprios, eles sofrem habitualmente grandes adaptações na América.
E tu, Luís,, quando é que escreves o teu livro? Com a tua bagagem e capacidade, há que pensar nisso.
Sabes que o Mário Ferreira, médico do nosso Batalhão, também publicou em 2007 o livro “Tempestade em Bissau”? (***) Numa ocasião em que fui a Lisboa , há quinze anos, ele ofereceu-me um exemplar. É uma visão da Guiné e da guerra, romanceada mas ao mesmo tempo baseada na realidade, à maneira talvez de romance histórico - escrita por alguém que (vê-se) esteve lá - e onde afloram conceitos filosóficos e sociais muito válidos.
Muita saúde! Um grande abraço.
Relativamente ao termo “calafona”, não há duvida que vem de “Califórnia”. Porém, no uso mariense popular o termo foi alargado a todo os emigrantes de qualquer área da América que apresentam características muito americanizadas, tanto no sotaque como no vestuário, maneiras de ser e linguagem. Já o termo “calafão” é muito menos usual em Santa Maria.
Quanto ao termo “raivar”, é verdade que às vezes, numa versão mais evoluída, se diz draivar, mas num americanismo mais retinto é mesmo “raivar”.
Do termo “estôa” não conheço em Santa Maria a variante estoro. Sei, porém, que os termos podem adquirir nas diversas ilhas um cunho próprio. E quanto aos nomes próprios, eles sofrem habitualmente grandes adaptações na América.
E tu, Luís,, quando é que escreves o teu livro? Com a tua bagagem e capacidade, há que pensar nisso.
Sabes que o Mário Ferreira, médico do nosso Batalhão, também publicou em 2007 o livro “Tempestade em Bissau”? (***) Numa ocasião em que fui a Lisboa , há quinze anos, ele ofereceu-me um exemplar. É uma visão da Guiné e da guerra, romanceada mas ao mesmo tempo baseada na realidade, à maneira talvez de romance histórico - escrita por alguém que (vê-se) esteve lá - e onde afloram conceitos filosóficos e sociais muito válidos.
Muita saúde! Um grande abraço.
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 8 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22977: Notas de leitura (1418): "O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências", 2ª edição revista e acrescentada (2021), por Arsénio Chaves Puim, um caso de grande sensibilidade sociocultural e de amor às suas raízes (Luís Graça ) - Parte III: a influência dos "calafonas"
3 comentários:
Arsénio, já neste livro sobre os falares de Santa Maria, tens um subcapítulo dedicado ao léxico (quase todo de origem americana) relacionado com a "pesca da baleia"... Falaremos disso na continuação das notas de leitura sobre o teu último livro...
Mas, "by the way", tu que podes falar de cátedra sobre estas "coisas" da tua terra, diz-me lá o seguinte: é pesca, caça ou "baleação" ? Na verdade, a baleia e o cachalote não são peixes, mas mamíferos, pelo que o termo "pesca" não seria lá muito correto, segundo alguns autores... Mas aqui quem mais ordena, é também o povo... Qual o teu ponto de vista ?
A minha ignorância sobre os Açores é mais do que muita, desconhecia de todo que vocês, marienses, também foram no passado grandes baleeiros... Um abraço fraterno. Luis
Luís Graça,
Na gira popular todos os termos que acima mencionastes eram usados nas ilhas, sendo que a caça era o mais usado. O termo balear, pelo menos na ilha das Flores, era muito normal quando os baleeiros estavam na faina directa, isto é, quando estavam a caçar.
Todas as ilhas açorianas estiveram envolvidas na faina da baleia. A ilha do Corvo tinha uma vigia e também servia de estação para botes baleeiros. Mas desconheço se teve campanha própria.
A cidade da Horta, na ilha do Faial, ficou na história pela sua ligação a New Bedford, Estado de Massachusetts, pelo acolhimento às barcas vindas daquele estado, que depois aproavam a Cabo Verde e Provincetown, no Cape Cod. De recordar aqui que aquelas barcas empregavam muitos açorianos e alguns deles chegaram a posição de destaque. Como exemplo, a freguesia da Fajãzinha, Concelho das Lajes, ilha das Flores, segundo li algures, sete baleeiros daquela freguesia, chegaarm a comandantes das referidas barcas americanas.
O museu das Lajes do Pico é riquíssimo, que, conjuntamente com o Whaling Museum of New Bedford, oferece um manancial de conhecimento sobre o que foi a caça à baleia. Muito disso está disponível na internet, visitas a não perder.
Tenho a certeza que o nosso companheiro Arsénio Puim tem muito mais a acrescentar e com muito mais conhecimento que eu.
Abraço transatlântico,
José Câmara
My dear Yosé (...leia-se: Rosé) “City” Hall:
È sempre um prazer ver-te por estas bandas,e para mais falando da tua terra... Os Açores e os acorianos precisam de ter mais voz e visibilidade no nosso blogue. Falaremos em próxima "nota de leitura" da atividade baleeira e das suas marcas no falar das gentes de Santa Maria.
Haja saúde! Haja vida!
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