Fotos (e legenda): © António Graça de Abreu (2021) Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo", da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74. (*)
António Graça de Abreu
Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); é membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem já três centenas de referências no blogue.
Maravilhas à solta na extrema da “ditosa Pátria”, onde o Minho acaba e a Galiza se desdobra.
Castro Laboreiro, os montes suspensos no céu, enraizados na terra, as ruínas do velhíssimo castelo. A magia castreja, espigueiros e moinhos, fornos comunitários e pontes medievais sobre ribeiros eternos saltitando sobre a penedia. Carvalhos e castanheiros, as cabras e as gentes, as vacas e a transumância, as pedras e o rolar do tempo. Para encantar o palato, iguarias de espantar, cabrito serrano, bacalhau com broa, vitelinha assada. Insinuante, na berma da estrada, um cachorrinho castro-laborense, os olhos irradiando ternura, saúda o viajante.
Um passeio largo em volta da aldeia. Ar puro e intensos perfumes enovelando-se nos caminhos. Depois das viagens por tanto mundo, a graça serena de fruir o meu país. A meu lado, a minha amiga rescende entre lírios selvagens, urze e glicínias brancas. A fantasmagoria de existir, circunspecto e exaltante.
Envelheço, o coração cansado ao lado da menina, senhora minha companheira, ilustração excelente de sete sinuosos lustros de vida. Um beijo, na montanha verde, inóspita e afectuosa, um abraço com as cores da terra e do céu. Rejuvenesço ainda, cada dia que passa.
António Graça de Abreu
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Castro Laboreiro, Portugal
Maravilhas à solta na extrema da “ditosa Pátria”, onde o Minho acaba e a Galiza se desdobra.
Castro Laboreiro, os montes suspensos no céu, enraizados na terra, as ruínas do velhíssimo castelo. A magia castreja, espigueiros e moinhos, fornos comunitários e pontes medievais sobre ribeiros eternos saltitando sobre a penedia. Carvalhos e castanheiros, as cabras e as gentes, as vacas e a transumância, as pedras e o rolar do tempo. Para encantar o palato, iguarias de espantar, cabrito serrano, bacalhau com broa, vitelinha assada. Insinuante, na berma da estrada, um cachorrinho castro-laborense, os olhos irradiando ternura, saúda o viajante.
Um passeio largo em volta da aldeia. Ar puro e intensos perfumes enovelando-se nos caminhos. Depois das viagens por tanto mundo, a graça serena de fruir o meu país. A meu lado, a minha amiga rescende entre lírios selvagens, urze e glicínias brancas. A fantasmagoria de existir, circunspecto e exaltante.
Envelheço, o coração cansado ao lado da menina, senhora minha companheira, ilustração excelente de sete sinuosos lustros de vida. Um beijo, na montanha verde, inóspita e afectuosa, um abraço com as cores da terra e do céu. Rejuvenesço ainda, cada dia que passa.
António Graça de Abreu
Nota do editor:
Último poste da série > 3 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22962: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XXVI: Antigua Guatemala, Guatemala, 2016
Último poste da série > 3 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22962: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XXVI: Antigua Guatemala, Guatemala, 2016
10 comentários:
Castro Laboreiro terra isolada, ouvia-se na rádio em Invernos com neve.
Abreu, belo texto ou melhor dizendo belo poema.
Nos anos 1990s, costumava visitar essas terras em Junho com a minha mãe e o meu filho
Tinha de ir carregado com uma "piroga" para o meu filho fazer o percurso do rio desde a queda debaixo da ponte medieval e outras quedas d'água quase durante o dia todo. Grandes malucos ele mais alguns galegos.
Por aqueles lados nasceram parentes do meu avô materno, mais precisamente na aldeia do Giestoso, ou Xiestoxo, com a sua incrível ponte de pedra solta do tempo dos Celtas.
É mais uma região do norte de Portugal entregue às mulheres, os homens foram à vida deles e elas ficaram a tomar conta de tudo. As raparigas são pastoras de cabras e as mais mulheres levam as vacas aos lameiros, sempre acompanhadas de cães feios de olhos castanho/verde que não ladram mas mordem.
Então quantos xão, somos quatro respondia eu.
Ah! xão xó quatro, dizia a rapariga do "Miradouro".
E marchava aquele cabritinho no forno ......
Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz
Mais a norte, a 30 km de Castro Laboreiro, fica o Lindoso, onde há trinta e tal anos comi o melhor bacalhau da minha vida: frito em cebolada e acompanhado com batatas fritas às rodelas... Num estabelecimento, misto de mercearia e tasca frente ao castelo, cheio de moscas... Chegámos tarde, encomendámos o almoço, almoçámos tarde (aí por volta das 16h00)... Mas soube-nos pela vida!... Eu, a Alice e uma amiga...
A Alice esteve a trabalhar no Parque Nacional da Peneda Gerês na altura do seu arranque, em 1971, quando os habitantes locais ainda desconfiavam das reais intenções do Estado... Aprendi com ela a conhecer aquelas terras e aquelas gentes...
O Graça de Abreu no seu melhor.
O Graça que escreve "prosa poética" ou "poesia em prosa", tanto faz, mas de uma grande sensibilidade, uma grande profundidade.
É este Graça que eu gosto.
Hélder Sousa
Luís, estás a ver o mapa de pernas para o ar. O Lindoso fica a sul e não a norte de Castro Laboreiro. Enquanto Castro Laboreiro fica nos confins da serra da Peneda e pertence ao concelho de Melgaço, o Lindoso fica numa encosta da Serra Amarela (entre a serra da Peneda e a do Gerês), virada para o rio Lima, e pertence ao concelho de Ponte da Barca.
Nestes últimos dias, a albufeira da barragem do Alto Lindoso tem sido alvo de reportagens nos telejornais, porque está incrivelmente vazia, a ponto de deixar a descoberto as ruínas de uma aldeia galega, pela primeira vez desde há não sei quantas décadas. Como só este ano é que há seca na região, só se pode explicar o extremo esvaziamento da albufeira com o facto de a EDP ter turbinado a água toda que nela havia, esperando certamente que viesse a chover.
Tens razão, Fernando... Eu sei que tenho um péssimo sentido de orientação... Pena não ter andado nos escoteiros... Fazer comentários à hora às 11 e tal da noite, é o que dá: troquei as cassetes... Mas tu estavas atento às três e cinco da manhã... A essa hora levantei-me para ir "regar as plantas"... Um abraço, Luis
Meus amigos!
Por muito mundo que cavalguemos só a Penada Gerês, com a natureza em estado puro, as gentes modestas e afáveis e em particular a sua mesa simples mas desmesuradamente gostosa, faz vir ao de cima o melhor que um homem tem!
Joaquim Costa
Pois, não queria arranjar problemas de orientação: cada um vê o norte ou o sul conforme lhe dê mais a jeito.
Sair de Castro Laboreiro para ir ao Lindoso tem de voltar para trás, ou segue pela estrada e entra na Galiza dando uma grande volta de 200 e tal km tudo de norte para sul.
Voltando para trás vai até Lamas de Mouro e dirigindo-se para sul entra na estrada para o Santuário da N.Sra. da Peneda. Na Sra. da Peneda fica-se aparvalhado com o enorme pedregulho ao lado do Santuário e acautela-se nos sanitários ao "largar o preso" a uns 30 m de altura para umas leiras de milho. Depois segue, sempre para o sul, até à grande eira aos espigueiros do Soajo e mais abaixo atravessa o Lima antes de chegar aos Arcos.
Vindo de norte cheguei ao Lindoso com o dia chuvoso, e por uma ruela escura de piso cheio de porcaria tentei ir ver os espectaculares espigueiros à volta do Castelo, mas desisti.
Tudo isto para sul de Castro Laboreiro, depois nos Arcos segui para norte por uma via rápida, que por muito que acelerasse o carro pouco desenvolvia, até chegar a Monção.
Uff, ainda sabendo a quantas ando, já estou cansado, sem poder repetir esta viagem......
Abraço e saúde da boa.
Valdemar Queiroz
Rectifico. No Santuário da Senhora da Peneda, em vez de 'enorme pedregulho' é mais correcto chamar colossal rochedo, que no Inverno até à Primavera se forma uma grande cascata de água.
É conhecido pelo Penedo das Meadinhas com 300 m de altura.
Valdemar Queiroz.
Lembrei-me hoje, haver promessas à N. Sra. da Peneda feitas dentro de caixões que eram carregados por familiares, em vez das habituais promessas de joelhos.
Em 1963 ainda se faziam essas promessas, que eram habituais na romaria da N.Sra. da Aparecida em Lousada.
Valdemar Queiroz
Valdemar
Já que falamos na N. Sra. da Aparecida em Lousada, recomendo, depois das orações à Santa, visitar, já no fim da escadaria, a "PITA ARISCA" e "deitar abaixo" um divinal cabrito assado no forno regado com um verde tinto servido numa malga (como sempre deve ser servido o verde tinto).
Um abraço
Joaquim Costa
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