quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22980: Blogoterapia (301): Que será feito do "Caboiana", o menino órfão que deixámos em Teixeira Pinto? (Ramiro Jesus, Fur Mil Cmd, 35ª CCmds, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73)

Teixeira Pinto - O Fur Mil CMD Ramiro Jesus com o "Caboiana" ao colo

 
Foto (e legenda): © Ramiro Jesus (2022).Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso camarada Ramiro Jesus (ex-Fur Mil Comando da 35.ª CComandos, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73), com data de 8 de Fevereiro de 2022:

Boa-tarde, camaradas.

Por estes dias, ao ler o Cherno Baldé, avivou-se-me a memória, tantas vezes repetida nas últimas cinco décadas, acerca de uma criatura especial, das muitas de que me tenho lembrado, depois da minha passagem e regresso da Guiné.

Pois é, como todos que por ali passámos, e apesar das condições em que o fizemos - que não eram propriamente de confraternização com os seus naturais - houve sempre alguém daquela população civil ou outros militares e para-militares com os quais cada um de nós foi convivendo e que, em cada caso, ao deixá-los, foi criada em cada um de nós (julgo eu) uma certa carga nostálgica, agravada pelos desenvolvimentos posteriores à passagem de soberania. 

No meu caso, recordo muitos dos que pertenceram às três Companhias de Comandos Africanos, tantos deles cujos nomes fui encontrando nos jornais, que foram relatando o fim trágico a que foram sujeitos logo depois da independência e outros que, tendo escapado aos fuzilamentos, às vezes ainda aparecem em algumas reportagens.

Mas há um caso muito especial, como disse inicialmente, que me veio à memória com mais vigor: é o Caboiana, que me acompanha na pobrezinha foto que anexo.

Pois é, este menino, de que ninguém sabia o nome e nem ele (por ser bebé), era um "prisioneiro" de guerra, que nos foi entrgue pela Companhia - a 26.ª CC - que rendemos em Teixeira Pinto, e que o tinha trazido de uma operação na Caboiana (uma daquelas zonas que o PAIGC chamava libertadas), em que a pobre mãe, com ele, tinha caído numa emboscada em que perdeu a vida. 

Quando, em Fevereiro de 1973, deixámos aquela terra, deixámo-lo também a ele. Pergunto-me então:

Quem o terá criado?
Que nome lhe terão dado?
Como terá sido a sua vida?
Onde estará agora?
E... sei lá mais o quê?!

Nada sei. E sinto uma espécie de angústia.

Um abraço
Ramiro Jesus
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22939: Blogoterapia (300): O tempo passa, mas as suas marcas ficam (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR da CART 3493)

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