terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24108: (In)citações (232): "Olha o Guinéu português!!!" (Tony Borié, ex-1.º Cabo Op Cripto)


1. Mensagem do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66), com data de 24 de Fevereiro de 2023, onde nos fala da palavra Guiné:


O nome Guiné

Por aqui neste continente, quando vivíamos no norte e estávamos no mercado de trabalho, no nosso convívio com companheiros locais, e que na guerra do Vietname viveram experências dramáticas parecidas com as nossas, às vezes falávamos e alguns deles diziam: ”olha o Guinéu Português”!

Claro, gostávamos e não gostávamos do apelido, no entanto era o início da conversa onde logo vinha a história onde alguns fizeram um “tour”, que era uma missão no Vietname, que para a maioria das forças terrestres durava um ano, que não fizeram nada de mal como as películas que Hollywood mostram, no entanto, os militares dos EUA usaram quase 12.000 helicópteros no Vietname, dos quais mais de 5.000 foram destruídos, o que demonstrou que ser piloto de helicóptero ou membro da tripulação estava entre as tarefas mais perigosas daquela maldita guerra.

E diziam “olha o Guinéu Português” com alguma razão, pois existem únicamente quatro países no mundo, cujo nome incluem a palavra Guiné. Fomos analizar, “coscuvilhar”, procurar informação e chegámos à conclusão de que embora não sendo incomum que as cidades compartilhem nomes, mas acontece ainda com menos frequência com nomes dos países.
No entanto, quatro nações, três das quais estão situadas na África, usam a palavra “Guiné” nos seus títulos, que são: Guiné, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial e Papua Nova Guiné. E daí, como é possível ter tantos países a usarem a mesma palavra? Era como se houvesse quatro países com o nome de Portugal. Simples, mesmo muito simples, tem a ver com a colonização da África Ocidental.

E, embora a origem exacta da palavra “Guiné” não seja conhecida, todos acreditem que o termo vem da palavra portuguesa “Guiné”, que apareceu por volta do final do século quinze para descrever uma região ao sul do rio Senegal ao longo da costa oeste da África.

Depois, depois muitos anos passaram e já no final do século dezoito, muitos países europeus reivindicaram terras africanas numa corrida que os historiadores chamam de “Scramble for Africa”, que quer mais ou menos dizer, “Passeio por África”, onde entre outras potências, foram a Espanha, a França e Portugal, que compartilharam o controle da região da Guiné na África Ocidental.

Quase toda aquela área foi dividida e a terra geralmente identificada pelo seu país controlador. No entanto, os nomes que conhecemos hoje não surgiriam até ao século 20, quando cada nação se separou do controle europeu, onde a Guiné Francesa manteve o nome Guiné depois de obter a independência em 1958, a Guiné Espanhola tornou-se Guiné Equatorial em 1963 e a Guiné Portuguesa assumiu o nome Guiné-Bissau, referindo-se à sua capital Bissau, depois da “revolução dos cravos”, em 1974.

Quanto à outra Guiné, a Papua-Nova Guiné, localizada a milhares de quilómetros a leste através do Oceano Índico, dois exploradores lhe deram o nome. Em 1526, o navegador português Jorge de Meneses apelidou parte da ilha de “ilhas dos Papuas”, da palavra malaia “papuwah”, referindo-se aos cabelos crespos dos ilhéus, enquanto o explorador espanhol Yñigo Ortiz de Retez declarou outra porção da Nova Guiné, acreditando que seus cidadãos se assemelhavam ao povo da costa africana da Guiné.

Voltando à origem da palavra Guiné, cremos que é absolutamente certo que a moeda inglesa conhecida como "Guinea" é derivada da palavra portuguesa "Guiné" que levou este nome desde que o ouro usado na fabricação das moedas foi originalmente extraído na região da Guiné, palavra que era usada para se referir às terras pertencentes aos Guineus, que eram um termo para os africanos que vinham das regiões ao sul do rio Senegal.

Muitos colonos europeus quando chegaram à região da Guiné na África Ocidental aplicaram nomes como "Guiné Alemã", "Guiné Espanhola", "Guiné Francesa" ou "Guiné Portuguesa” no entanto, e como acima já explicámos, alguns países mantiveram o nome Guiné em parte do seu nome após a independência, mas a Guiné Alemã abandonou totalmente a parte da Guiné do nome, para se tornar Cameron e Togo.

Companheiros, de uma maneira ou de outra, não vamos esquecer mais o nome “Guiné”, lá naquela região de África, onde existiam as aldeias dos “Papeis”, dos “Balantas”, dos “Fulas”, dos “Bijagós”, dos “Mandingas”, dos “Felupes”, dos “Manjacos”, dos “Biafadas” ou dos “Nalus”, numa zona de savana e selva, rodeada de pântanos e vegetação, onde estivémos estacionados num aquartelamento cercado de arame farpado que ajudámos a construir, por um período de dois longos anos.

Tony Borie

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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE FEVEREIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24106: (In)citações (231): Caraças, andamos nós p'ráqui, a pensar no "fim da picada"!... Corações ao alto!... Pensemos antes que até aos cem... é sempre em frente! (João Crisóstomo, Nova Iorque)

8 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Tony, pela tua lição de história e de geografia. Estamos sempre a aprender uns com os outros. Um alfabravo. Luis

PS - Vê se arranjas alguma camarada luso-americano que substitua, nas nossas fileiras, o António Cunha (Tony) que a "gadanha da morte" nos ceifou...

Fernando Ribeiro disse...

Por amor de Deus, não chamem "Cameron" aos Camarões! O nome do país é português! Quer os franceses lhe chamem "Cameroun", os ingleses "Cameroon" e os alemães "Kamerun" (porque o til não existe nas suas línguas), a verdade é que o nome foi dado pelos navegadores portugueses que, ao chegarem à região, encontraram um rio cheio de crustáceos semelhantes a camarões e, por isso, lhe puseram o nome de Rio dos Camarões.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Quem é que não quis "abocanhar" a pobre África ai à mão, na época da expansão do colonialismo ?...Não sabia que os Camarões tinham sido colónia alemão no tempo dos "Kaisers"...

DW - Deutsche Welle

Camarões: língua, cultura e história alemãs em destaque
30/04/201030 de abril de 2010

https://www.dw.com/pt-002/camar%C3%B5es-l%C3%ADngua-cultura-e-hist%C3%B3ria-alem%C3%A3s-em-destaque/a-5491663


Os Camarões, um país da África ocidental, tem duas línguas oficiais: o francês e o inglês. Mas a língua alemã também goza de uma grande importância, sendo ensinada - como língua estrangeira - a cerca de 300 mil pessoas.

Entre 1884 e 1919 - os Camarões foram uma colónia alemã. E este curto período de apenas 35 anos de domínio alemão deixou alguns rastos culturais que ainda hoje são visíveis no país.

Uma reportagem da Deutsche Welle, de autoria de Dirk Bathe, apresentada por António Cascais.

Anónimo disse...

Olá Luis.

Obrigado por ainda resistires, tal como os teus colaboradores, com uma obra que a todos nos orgulha, que é este blogue.

Lamento a morte do companheiro Tony Cunha, que já não resistiu mais. Já dediquei algum tempo de meditação à sua memória.

A sua subtituição “nas nossas fileiras” é impossível. No entanto por aqui no sul, onde vivo vai para vinte anos somos muito poucos daqueles que viram lama, mosquitos e terra vermelha, comeram mangos e mancarra, sofreram calor húmido e abafado e conviveram com o povo “fula”, “mandinga” ou “balanta”, enquanto também combatiam.

Desses já falei neste blogue contando a sua história que são o José Augusto Nogueira, soldado do ano de 1964, que foi ferido em combate, andava cansado da guerra e já não podia ouvir o som do seu “morteiro” e comer arroz e peixe da bolanha, no entanto ainda anda por aí.

Do Jorge Manuel da Cruz Soares, que esteve estacionado em Bissau, e explicava que o General Spínola, fora do serviço militar, era uma excelente pessoa e bastante conversador. Infelizmente, e já lá vão uns anos, sofreu um ataque que o deixou paralizado do lado esquerdo e continua internado num lar e não gosta de receber visitas segundo eu tenho conhecimento.

O Amílcar Vitorino Branco Fialho, que era o “1.º Cabo Fialho” da Companhia de Caçadores 616 e até gostava de saber se alguém que pertenceu à sua Companhia ainda se lembrava dele. Este, a sua amável e saudosa esposa morreu, e ele reconstituiu a sua vida e viajou para outras paragens, não sei se para o norte ou para oeste onde tinha um filho.

E por último, o “Zarco” das minhas histórias, que é o Jorge Almeida, que era um soldado para-quedista, está bom e também anda por aí! Tem residência no norte mas passa temporadas no outro lado no Golfo e visitamo-nos frequentemente, no entanto gosta muito de lembrar episódios da Guiné mas não os quer colocar na escrita, quem os vai colocando sou eu.

Um abraço para todos vocês do fundo do coração.

Tony Borie.

Valdemar Silva disse...

Nota-se o entusiasmo que o nosso camarada da guerra na Guiné Tony Borie dedica ao nosso blogue
E tem sempre escrito bons e acertados textos, que o continue a fazer.
Assim nos dá sinais de vida e nos informa do outro lado do atlântico sobre outros rapazes que passaram os verdes anos na guerra e bolanhas da Guiné.
Gostava de saber o que é que dizem os américas sobre os portugueses terem tido o "seu Vietname" durante mais de uma década nas suas colónias em África.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

paulo santiago disse...

Tony
Tens de aparecer com mais frequência, escreves grandes textos sobre a Guiné,e não só,estou a lembrar-me da viagem ao Alasca.
Aqui da nossa Águeda,vai forte abraço

P.Santiago

Manuel Luís Lomba disse...

Tony:
Houve uma corrente de opinião que dava Guinela, uma tabanca e um pequeno rio (?) nos arredores de Bula, como plausível local de desembarque dos primeiros descobridores e a origem do nome Guiné. Amílcar Cabral teria escolhido o nome de República da Guinela para a ex-Guiné Portuguesa, nomenclatura ultrapassada pela Comunicação social internacional, que a identificava por Guiné-Bissau.
Estou a citar de memória - talvez o nosso provedor Cherno Baldé nos dê melhor explicação...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Tony, obrigado...A gente sabe que há um antigo combatente em cada 150, um por companhia, que gosta de escrever e partilhar o que escreve no nosso blogue...

Não tenho ilusões: será difícil chegarmos aos 900, quanto mais aos 1001... Mas temos bravos e resistentes camaradas como tu...

Um alfabravo, Luis