segunda-feira, 1 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24274: Notas de leitura (1577): "Rumo à Revolução, Os Meses Finais do Estado Novo", por José Matos e Zélia Oliveira; Guerra e Paz, Editores, 2023 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Abril de 2023:

Queridos amigos,
Trata-se de uma narrativa muitíssimo bem urdida, estribada na solidez da documentação, e se dúvidas subsistissem quanto à hierarquia dos problemas cruciais que levaram ao desmoronamento do Estado Novo, o rigor e a probidade deste estudo, a consulta de arquivos nacionais e estrangeiros, falam por si: como o livro de Spínola teve o poder de espoletar a discussão pública e no interior de regime quanto às soluções possíveis depois do prolongamento de uma guerra que conhecia, após 1973, um acirramento asfixiante. 

Naqueles últimos meses que precedem ao baqueamento do regime procurava-se desesperadamente comprar armas para manter a guerra, isto graças ao financiamento sul-africano. E acompanhamos a evolução do que podia parecer exclusivamente uma querela corporativa transformar-se numa vaga estuante, o MFA; e, mais facilmente se torna compreensível como praticamente ninguém tenha vindo defender o regime, que caiu num só dia, e com escasso derramamento de sangue. Mas ainda estamos no princípio, segue-se um corropio de peripécias até ao momento em que a PIDE/DGS capitula, na António Maria Cardoso.

Um abraço do
Mário



Os últimos meses do Estado Novo, como a guerra colonial fez baquear um regime (1)

Mário Beja Santos

A obra intitula-se "Rumo à Revolução, Os Meses Finais do Estado Novo", Guerra e Paz, Editores, 2023, por José Matos e Zélia Oliveira, o primeiro investigador em História Militar, a segunda, jornalista e com uma tese de mestrado sobre a crise final do marcelismo. Estão aqui registados numa narrativa que prende o leitor do princípio ao fim os três últimos meses que antecederam o 25 de Abril. Basta ver a bibliografia para perceber que os autores consultaram centenas de documentos de arquivos nacionais e estrangeiros, temos aqui um olhar sobre aquele que terá sido o período mais tumultuoso do marcelismo, aqui se registam os principais ingredientes que conduziram ao seu colapso.

15 de fevereiro de 1974, Marcello Caetano preside à última reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional. 

“Costa Gomes informa os presentes de que tinha sido assinado um contrato para a aquisição de uma bateria de mísseis antiaéreos, para defender Bissau, e que o governo procurava rapidamente adquirir armas anticarro, para enfrentar as viaturas blindadas que se dizia estarem na posse do PAIGC na fronteira sul da Guiné. As baixas causadas pela guerrilha às forças portuguesas na Guiné, em 1973, tinham sido de 347 mortos e 1007 feridos, o que representava um quantitativo muito elevado. Neste ponto da reunião, Marcello Caetano intervém para referir que o governo sentia grandes dificuldades em comprar armas nos mercados internacionais, dando, como exemplo, o caso dos mísseis antiaéreos franceses Crotale. O governo francês tinha concordado em vender os mísseis por 75 milhões de francos, na perspetiva de que eram armas de defesa e que não seriam usadas no combate às guerrilhas.” 

Costa Gomes passará em revista os teatros de operações de Moçambique e Angola, interveio o secretário de Estado da Aeronáutica, Tello Polleri, sublinhando a importância de prosseguir o programa de reequipamento da Força Aérea, havia que comprar caças Mirage.

Três dias depois desta reunião, Caetano recebeu um exemplar do livro "Portugal e o Futuro", lerá o livro na noite de 20, escreverá mais tarde que tinha compreendido que o golpe de Estado militar era agora inevitável. Os autores debruçam-se sobre as razões de fundo das razões de Spínola que levaram a escrever a obra, as peripécias um tanto tortuosas sobre quem autorizou a publicação, foi uma corrida ao livro que se esgotou no mesmo dia, os leitores aperceberam-se da bomba: a vitória exclusivamente militar era inviável. 

“Pretender ganhar uma guerra subversiva através de uma solução militar é aceitar, diante mão, a derrota, a menos que se possuam ilimitadas capacidades para prolongar indefinidamente a guerra, fazendo dela uma instituição. Será esse o nosso caso?” 

Costa Gomes e Spínola são convocados a 22 de fevereiro, Caetano sente-se desautorizado e sugere aos dois generais que deviam assumir as suas responsabilidades, que serão enjeitadas por estes.

Por essa altura, a 25 de fevereiro, a Comissão Coordenadora Executiva do MFA reúne-se em casa de Otelo Saraiva de Carvalho, é elaborado um texto, agenda-se um mini plenário para 5 de março. Os autores dão-nos conta do que desencadeara esta movimentação, uma legislação publicada no verão de 1973 que essencialmente procurava atrair oficiais milicianos à profissão militar, de acordo com a primeira legislação promulgada os oficiais milicianos mediante cursos rápidos passariam ao quadro permanente, a antiguidade dos oficiais deste quadro parecia posta em causa. 

“Os oficiais oriundos de milicianos iriam ultrapassar na carreira os oriundos de cadetes do quadro permanente, situação que se considerava ser uma injustiça.” 

Caetano encontra-se com o Presidente da República em 28 de fevereiro, pede a Thomaz que aceite a exoneração do executivo, Thomaz responde que esta não fazia sentido.

A situação internacional era manifestamente intolerável para a vida do regime, o ataque da Síria e do Egito a Israel a 6 outubro de 1973, teve consequências gravíssimas para a economia portuguesa, os grandes produtores árabes bloquearam o fornecimento dos hidrocarbonetos a Portugal, o abastecimento passou a ser feito no mercado livre, a um preço gravoso. Kissinger escreveu mesmo uma carta a Caetano em tom de Ultimatum, precisava da base das Lajes imediatamente, senão… Isto numa altura em que Portugal precisava de obter desesperadamente mísseis terra-ar portáteis, do tipo Redeye para proteger as tropas portuguesas na Guiné. 

Costa Gomes fizera uma análise na reunião de 19 de outubro no Conselho Superior de Defesa Nacional, chamara a atenção para uma possível escalada da guerra da Guiné, “uma vez que aquele país dispunha de caças MiG-15 e MiG-17 e havia informações de pilotos do PAIGC a serem treinados na União Soviética, que se podiam juntar aos da própria Força Aérea da República da Guiné. Costa Gomes refere ainda que a situação militar na colónia se tinha agravado devido às novas capacidades militares da guerrilha e à alteração do conceito de manobra que levou o PAIGC a fazer grandes concentrações à volta de três quartéis das tropas portuguesas, em zonas de fronteira, que isolou e bombardeou com elevado poder de fogo.” O general falou dos números decorrentes destas operações e do agravamento da guerrilha: “As nossas forças tiveram 125 mortos e 586 feridos até ao fim do período em análise, o que são números muito elevados (correspondem à perda de um batalhão), dos quais 96 mortos e 500 feridos só nos mês de maio.”

E os autores continuam: “A situação podia piorar ainda mais no caso de um ataque de aviação que, na opinião de Costa Gomes, poderia conduzir ao colapso militar das forças portuguesas naquele teatro de operações. Sendo assim, defendia que a nova ameaça exigia a existência de meios de defesa antiaérea apropriados para a cidade de Bissau, o que teria de incluir mísseis terra-ar e, complementarmente, aviões de caça modernos que podiam ser usados para retaliar sobre o país vizinho. A defesa de Bissau era prioritária, mas qualquer quartel na Guiné podia ser atacado, o que exigia também mísseis terra-ar portáteis para defender as tropas portuguesas. Sá Viana Rebelo, o ministro da Defesa, deu conta das negociações com a Africa do Sul de fornecimento de material de guerra, nessa altura considerava-se a possibilidade de um empréstimo avultado em dinheiro para reequipar as forças portuguesas que precisavam urgentemente de ser modernizadas.” 

E nesta reunião, Cota Dias, ministro das Finanças, informou não estar em condições de assegurar despesas suplementares.

É num capítulo intitulado “Uma questão de vida ou de morte” que os autores escrevem as conversações luso-norte-americanas para a aquisição de mísseis, veículos, aeronaves, equipamentos. Quando Kissinger vem a Lisboa em 17 de dezembro de 1973 recebe um memorando onde claramente se põem números para mísseis terra-ar, veículos modernos com sistema antitanques e aviões de transporte C-130, o secretário de Estado lembrou que o Congresso dos EUA iriam levantar inúmeros obstáculos, impunha-se encontrar soluções em intermediários, segue-se um período em que Washington andou a empatar até um dia o embaixador português ter recebido uma resposta de que os EUA iriam ofertar uma central nuclear.

No início de 1974 dá-se o agravamento da situação em Moçambique, uma família de agricultores brancos é atacada por guerrilheiros da FRELIMO, a mulher é morta, segue-se uma greve geral, apedreja-se a messe de oficiais do exército na Beira, Costa Gomes vai a Moçambique, é no decurso dessas reuniões que o general confirma as dificuldades decorrentes da dependência portuguesa, crescera o número de países que impediam a venda de armamento, acresce a falta de oficiais do exército para comandar a polícia. 

“As tropas no Ultramar e em instrução na metrópole tinham aproximadamente 200 mil homens, e em função desse número deviam existir 18 mil oficiais. Mas na verdade, no terreno, existiam pouco mais de 4 mil. Um estudo do Secretariado-Geral da Defesa Nacional, datado de março de 1973, já chamava a atenção para o problema referindo que era uma questão inadiável e que os oficiais em funções de combate estavam a atingir o limite da exaustão. No estudo podia-se ver que o número de oficiais que o Exército devia ter na metrópole, no Ultramar e de reserva para as forças de segurança estava muito abaixo do necessário. Em teoria, deviam ser 5650 oficiais na globalidade, mas em janeiro de 1972 existiam apenas 2872. Além disso, as carências eram mais graves ao nível de capitães e oficiais subalternos. Nas conclusões, o estudo alertava para a situação gravíssima e potencialmente perigosa que se vivia no Exército, e para a urgência de medidas de fundo a tomar rapidamente para não se correr o risco do Exército se desmoronar.”

José Matos
Zélia Oliveira
Notícias sobre o levantamento das Caldas, em 16 de março de 1974
Imagem de Guidage ao tempo em que o coronel Moura Calheiros e a sua equipa fora exumar os paraquedistas falecidos durante as operações de libertação do cerco, que ocorreram maio de 1973
Outra imagem de Guidage, da autoria de Albano Costa, publicada no blogue Dos Combatentes da Guerra do Ultramar, com a devida vénia

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24263: Notas de leitura (1576): Atitudes e comportamentos raciais no Império Colonial Português (2): "Relações Raciais no Império Colonial Português", por Charles Ralph Boxer, Tempo Brasileiro, 1967 (Mário Beja Santos)

13 comentários:

antónio graça de abreu disse...

Claro que a situação estava complicada e não íamos ganhar militarmente aquela guerra. Nem as NT, as tropas portuguesas, nem o PAIGC iriam obter uma vitória no terreno de luta. Mas o cagaço, o cansaço (dos dois lados) imperava. Essa dos MIGs 15 e 17 do Paigc, dos mísseis terra ar a comprar aos franceses, era tudo pura fantasia. Jamais aconteceu. A nossa História faz-se com factos, reais.

Abraço,

António Graça de Abreu

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ao fim destes anos todos, já sabemos muito mais sobre a situaçáo político-militar no final da guerra. E ainda bem que temos gente a "vasculhar" as fontes disponíveis...

A questão dos MiG russos foi um bocado empolada, nos nossos debates... Sabemos hoje que o PAIGC não tinha MiG, mas poderia bvir a ter médio prazo... A questão não é essa: desde 22 de novembro de 1970, a Op Mar Verde, a questão era de saber se os MiG do Sekou Touré podiam ou não invadir o nosso espaço territorial... que nem sequer dispunha de radares nem sistemas de defesa anti-aérea credível...

O PAIGC não precisava de ter pilotos, bastava-lhe ter dinheiro para pagar a "mercenários" e ter os aviões do Sékou Touré à sua disposição, quanto mais não fosse por umas horas ou uns dias...

Um guerrilheiro balanta, analfabeto, precisava de uma hora para aprender a utilizar a Kalash, mas dificilmente aprenderia a pilotar um MiG num ano... O PAIGC náo tinha "massa crítica" suficiente para pôr gente a manobrar, em tema recorde, armas modernas mais sofisticadas, como as viaturas anfíbias blindadas, a artilhar de longo alcance 130 mm, para não falar dos MiG... As armas pesadas de infantaria, como o morteiro 120 mm, era usadas a "olhómetro"... felizmente para nós.

Precisamos de saber, com mais certezas, do papel desempenhado pelo Sékou Touré, no comando da guerra, a seguir ao assassinato do Amílçar Cabral... Até que ponto o PAIGC ficou mais refeém ainda da vontade ou dos caprichos ditador de Conacri ? E até que ponto os russos estavam dispostos a dar "luz verde" ou "luz amaarela intermitente" a uma ataque aéreo a Bissau, que iria "internacionalizar" ainda mais a guerra da Guiné (já lá estavam so cubanos no terreno, mas tam b´+em mercenários de outras provenièncias...).

Parabéns ao José Matos (e à Zélia) por continuar m a "fazer luz" sobre este período final da "nossa" guerra... LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Nunca tinha feito estas contas, mas a verdade é que no TO da Guiné p problema era dramático...

(...) “As tropas no Ultramar e em instrução na metrópole tinham aproximadamente 200 mil homens, e em função desse número deviam existir 18 mil oficiais. Mas na verdade, no terreno, existiam pouco mais de 4 mil.

"Um estudo do Secretariado-Geral da Defesa Nacional, datado de março de 1973, já chamava a atenção para o problema referindo que era uma questão inadiável e que os oficiais em funções de combate estavam a atingir o limite da exaustão.

No estudo podia-se ver que o número de oficiais que o Exército devia ter na metrópole, no Ultramar e de reserva para as forças de segurança estava muito abaixo do necessário. Em teoria, deviam ser 5650 oficiais na globalidade, mas em janeiro de 1972 existiam apenas 2872.

Além disso, as carências eram mais graves ao nível de capitães e oficiais subalternos Nas conclusões, o estudo alertava para a situação gravíssima e potencialmente perigosa que se vivia no Exército, e para a urgência de medidas de fundo a tomar rapidamente para não se correr o risco do Exército se desmoronar.” (...)

À boa maneira portuguesa, lançámos mão do nosso proverbial "desenrascanço": quem não tem cão, caça com gato... Deu o que deu, senhores do Estado Novo, "coveiros do império" (que nunca chegou a sè-lo, a não ser de opereta, como se viu na "Índia Portuguesa")...

A. Murta disse...

Caro Luís Graça, permite que te faça uma pequena correção: isso de "As armas pesadas de infantaria, como o morteiro 120 mm, era usadas a "olhómetro"... felizmente para nós", não foi sempre assim. No meu tempo, em 1973/74, em muitas situações, eles usavam essas armas com o apoio de equipas de IOL (Informação, Observação e Ligação) formadas na União Soviética, como já antes referi aqui. Nós tínhamos essa informação e ela confirmava-se naqueles casos em que o PAIGC até acertava no interior dos espaldões das nossas armas.
Aliás, aqui no Blogue relatei um caso (não me apetecia agora estar a repeti-lo), em que durante uma flagelação a Cumbijã, estava eu no mato em corrida de regresso com o meu pelotão, mais o de outro alferes, e descobri um posto de observação que só podia ser de IOL: em pleno mato fechado, uma árvore muito alta e com o tronco limpo de ramos, com uma pequena copa no cimo. De alto a baixo, esse troco, tinha pequenas tábuas atravessadas e pregadas na forma de escadaria vertical. Como lá mais atrás tínhamos estado, ainda há pouco, entre dois fogos, o do nosso obus e do canhão deles, a minha reacção foi rapidamente contornar a árvore para detectar alguém lá em cima. Mas não estava ninguém, felizmente para eles.

Sobre a falta de oficiais:
Não eram só oficiais que faltavam, pois eu (e muitos outros) nunca tive mais de dois furriéis no meu pelotão e, em muitas situações, havia pelotões a serem comandados por furriéis devido às mais diversas causas.
Em relação ao nosso armamento e à evolução do armamento do PAIGC, nem quero falar disso, pois só iria levantar polémica com os camaradas que continuam a achar que isso é tudo ficção. Em 1973/74 estávamos a caminho de um buraco negro. Um colapso. Quando cheguei a Nhala, em Março de 1973, o Capitão que fomos render, disse quase com cinismo: "Nós já nos safámos, mas para vós o futuro é incerto. Podem bem ser varridos à forquilha para o mar, como aconteceu às nossas tropas que estavam na Índia". Foi muito animador...

Abraço.
António Murta.

Fernando Ribeiro disse...

«Diante mão»? António de Spínola não teria escrito «de antemão»? Eu não tenho nenhum exemplar do livro "Portugal e o Futuro" em meu poder, mas aposto que ele escreveu «de antemão». Conferir, por exemplo, neste trabalho académico de Zélia Oliveira: https://run.unl.pt/bitstream/10362/9154/1/zelia.pdf

Anónimo disse...

Nem tanto ao mar nem tanto à terra

A maioria dos oficiais subalternos eram milicianos.A nível de capitães muito poucos eram do quadro,daí a tentativa de aliciarem estes para passarem ao quadro permanente.
Nos cursos do csm muito instruendos passavam ao com, tudo "carne para canhão".
Em gadamael só um capitão era do quadro.Apareceram em gadamael vários alferes que eram de artilharia de costa para serem intruidos e convertidos em artilharia de campanha.

Quanto aos migs e carros de combate tudo não passou de uma miragem, com excepção de copá onde houve a tentaviva de uma auto-metralhadora entrar no perimetro.

Estávamos exaustos em material e meios humanos mas acontecia o mesmo ao in.
Estávamos num impasse,e a guerra estava perdida desde o inicio, mas daí a sermos corridos para o mar ía uma grande distancia.

Não sei qual seria o meu futuro, estando em gadamael,por isso o terminar da guerra foi para mim uma benção.
Houve muitos ejageros de parte a parte. A contra informação era "mato".

AB

C.Martins

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A. Murta: quando digo a "olhómetro", quero dizer por reconhecimento visual...recorrendo nalguns casos (Guileje, maio de 1073, por exemplo) a observadores avançados, ligados por telefone. Um abraço. Luis

PS- O PAIGC tinha poucos artilheiros com razoável formação, caso dos cabo-verdianos Julinho Carvalho e Osvaldo Lopes da Silva... Mas eu não sou especialista em artilharia... muito kmenos do PAIGC.

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Osvaldo%20Lopes%20da%20Silva

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Posso ser interpretado quando escrevo:

(...) "Um guerrilheiro balanta, analfabeto, precisava de uma hora para aprender a utilizar a Kalash, mas dificilmente aprenderia a pilotar um MiG num ano... O PAIGC náo tinha "massa crítica" suficiente para pôr gente a manobrar, em tempo recorde, armas modernas mais sofisticadas, como as viaturas anfíbias blindadas, a artilharia de longo alcance 130 mm, para não falar dos MiG... As armas pesadas de infantaria, como o morteiro 120 mm, eram usadas a "olhómetro"... felizmente para nós." (,,,)


O PAIGC náo tinha (mas poderia vir a ter a longo prazo) pilotos de aviação... O balanta (que era a base da "carne para canhão" do PAIGC) nunca aprenderia a pilotar um avião, no prazo de um ano, não por ser balanta mas por ser analfabeto... Chumbava logo nos "psicotécnicos" (e eu também...)

Por favor, não quero ser acusado de racismo...No pós-independència, o Luís Cabral foi buscar um "tuga", o comandante Pombo, para pilotar o seu jacto pessoal... Não foi buscar nenhum piloto guineense ou cabo-verdiano da sua confiança pessoal e política: não os tinha... E o comandante Pombo lá ficou, ainda ao serviço do 'Nino' Vieira, depois do golpe de Estado de 14 de novembro de 1980.

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Comandante%20Pombo

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... citando: «manter a guerra, isto graças ao financiamento sul-africano».
Ah ah ah ah...!
As "leituras" do 'cientista' Mário Beja dos Santos não cessam de me surpreender.

Antº Rosinha disse...

Os soviéticos naqueles tempos dificilmente poriam um MIG nas mãos de um africano.

Em 1982 1983, os soviéticos tinham 2 MIG 21 no aeroporto de Bissau, pilotados por eles próprios, que pelo menos semanalmente levantavam vôo uns pequenos periodos de tempo.

Como uma empresa portuguesa estávamos a prolongar e modernizar a pista, víamos que eram só pilotos não africanos.

Até que um dia vimos um piloto negro, a aterrar e sair do MIG, sozinho, aliás não tenho memória de ver dois tripulantes nesses voos.

Foi apenas uma única vez que vimos um africano nesses voos, e largas dezenas de guineenses nossos trabalhadores, constataram que nem era guineense.

Na Guiné sabe-se sempre tudo.

Agora discutir que com mais armas ou com mais homens nós fazíamos melhor guerra, da nossa parte, para mais contra fanáticos soviéticos e cubanos, é conversa fiada.

Ou ganhávamos a guerra ganhando os povos, foi o que tentámos, e se conseguiu parcialmente em Angola, por exemplo bem concreto, ou faziamos as malas (caixotes).

Mas contra a força não há resistência, mesmo com africanização do exército.

O que fez Salazar com Goa? simplesmente reduziu ao máximo as forças em parada.

Ficou para a história que estavam lá 3500 militares, contra um dos paises mais populosos do mundo.

Mas fazer os «caixotes» em 1961, em África e Timor, simplesmente não tinha sobrado nada, dos 500 anos.

Seria melhor?

Para alguma gente, tanto lá como cá, parece que sim.





Cherno Baldé disse...


Caro amigo Luis Graça,

"Lubu, nin si u ka gosta del, mah kau dal padja de bobra" dizem os guineense.

Sera mesmo que "O PAIGC não precisava de ter pilotos, bastava-lhe ter dinheiro para pagar a "mercenários" e ter os aviões do Sékou Touré à sua disposição, quanto mais não fosse por umas horas ou uns dias..."???

Nao entendo essa insistencia em tentar diminuir e menosprezar a capacidade e os esforços do PAIGC, numa guerra dita de baixa intensidade, mas quao infernal foi na sua fase final (73/74) para as tropas portuguesas com o dramatico balanço de +350 mortos so em 73.

Devemos ter em devida conta que a filosofia principal de ACabral e do PAIGC e que merecia a admiraçao e o respeito de quase todos os seus parceiros, foi sempre no sentido de que quem devia estar no terreno e lutar para a independencia deviam ser os proprios guineenses (e Caboverdianos quando era possivel) e, esse principio era aplicado em todos os campos que eram considerados necessarios para fazer avançar a luta no interior do territorio.

Para que consta e, talvez um dia possamos ter regsitos que o confirmem, toda a artilharia e outros equipamentos logisticos utilizados na guerra da Guiné (dita portuguesa) era do proprio movimento e nao emprestados por Sekou Touré, como se insinua frequentemente neste Blogue, porque apos a independencia estes meios foram vistos e estiveram distribuidos em Bissau e no interior da Guiné, caso dos anfibios que, em Bafata, quase todas as semanas iam dar expectaculo nas aguas do rio Geba ao lado da piscina, eu estava la naquela altura e os condutores eram jovens oficiais (Tenentes) saidos das academias e centros de treino da URSS.

Quanto aos MIG's, o Rosinha confirmou ter visto um africano a sair de um desses MIG's estacionados em Bissalanca, mas eu digo mais, eram sim guineenses e constituidos por uma equipa de mais de 10 elementos entre 1974/80 que toda a gente sabia em Bissau. Claro que isto nao podia ser considerado uma esquadrilha ou frota de avioes, mas estavam la e faziam voos de treino com pilotos guineenses saidos da escola piloto de Conacri e formados numa base na Crimeia, o que constituia um pequeno começo, mas que tinha granjeado um enorme orgulho dos guineenses por serem nossos, mesmo se havia soviéticos e Cubanos ao seu lado.

Os pilotos e mecanicos para avioes civis so começaram a ser preparados apos a independencia e no meu grupo de Kiev estiveram, pelo menos uma duzia deles, depois alguns voltaram ao pais mas outros seguiram para outros paises como Cabo-Verde, Angola e/ou Guiné-Equatorial. O actual Primeiro ministro do pais (Nuno Nabian) fazia parte deste grupo de tecnicos que, regressados ja nos anos 90 encontraram uma outra realidade totalmente invertida quanto aos objectivos da sua formaçao, como aconteceu com todos apos o golpe de 14NOV80.

Muito abrigado ao amigo A. Murta pela coragem que tem de dizer certas verdades que a maioria dos ex-combatentes da Guiné quer inutilmente escamotear.

Cordialmente,

Cherno Baldé

antonio graça de abreu disse...

Meu caro Cherno, onde estão hoje os pilotos (?) dos Migs soviéticos emprestados ao PAIGC em 1974? Onde está hoje a Força Aérea da Guiné-Bissau pilotando os seu aviões?

Abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Caro AGA,

Emprestados sim, lógicamente, como o foram os Jatos da NATO à Portugal, mais tarde retirados da Guiné por uso indevido, no início da guerra, é que tanto guineenses como portugueses não fabricamos aviões, ou não é ???

Cherno AB