1. Mensagem do António Duarte (ex-Fur Mil da CCAÇ 12, Xime, 1973/74) (1) que, embora enviada há mais de um mês, não perde actualidade:
A todos os homens com coragem para lutar. A todos os homens com coragem para desertar. A todas as mulheres com coragem para perdoar a ambos.
(Copiado do blog do Manuel Bastos, combatente em Moçambique onde foi ferido muito gravemente em 1972, Cacimbo > Episódios da Guerra Colonial).
Caro Luís,
Bem sei que ainda há pouco tempo houve discussão brava sobre o tema dos desertores (2) e a possibilidade de estes manifestarem a sua opinião no nosso espaço.
Como conheço o Manuel Bastos, de vez em quando visito o seu espaço e deparei com esta bonita frase, que eu subscrevo inteiramente. É da sua autoria e mostra uma tranquilidade e um perdão implícito, que vindo de um camarada nosso que quase perdeu a vida, me toca profundamente. Desta forma e se algum dia achares oportuno voltar de novo ao tema da aceitação de desertores na nossa caserna, regista que, e sem prejuízo de respeitar, perceber e aceitar opiniões diversas, se deveria permitir a participação dos outros que desertaram.
Quero também dizer que não dou esmola para o peditório de que desertaram por não concordarem com a guerra colonial. Diria que no limite, o que abre lugar a muitas poucas excepções, todos desertaram porque não quiseram arriscar a pele. Do outro lado ficam os que, como nós, combateram, o que não nos torna a todos concordantes com a bondade da guerra.
Um abraço
António Duarte
__________
Nota de L.G.:
(1) Vd. os seguintes posts, da autoria do António Duarte (ou com referências a ele):
5 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1565: A CCAÇ 12, o nosso 'neto' António Duarte e os nossos queridos 'nharros' (Abel Rodrigues)
28 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1553: A CCAÇ 12 no Poidão e na Ponta do Inglês, pela enésima vez (António Duarte)
20 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXVIII: Notícias da CART 3493 (Mansambo, 1972) e da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1973/74) (António Duarte)
18 Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - DLXI: Um periquito da CCAÇ 12 (António Duarte / Sousa de Castro)
21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1302: Blogoterapia (1): Palmas para o Amílcar Mendes, o Beja Santos e o Victor Tavares (António Duarte, CART 3493 e CCAÇ 12)
24 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P984: Ainda a tragédia de Quirafo: o 'morto' que afinal estava vivo (António Duarte)
17 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P966: O Mexia Alves que eu conheci em Bambadinca (António Duarte, CCAÇ 12, 1973)
11 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLV: Ex-graduados da CCAÇ 12 também foram fuzilados (António Duarte)
(2) O ponto de partida foi o post de 3 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1560: Questões politicamente (in)correctas (25): O ex-fuzileiro naval António Pinto, meu camarada desertor (João Tunes)
Até há data publicaram-se mais de uma dúzia de posts sobre este tópico.
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 30 de maio de 2007
Guiné 63/74 - P1798: Região de Catió: Descendentes da família Pinho Brandão procuram-se (Gilda Pinho Brandão)
Guiné > Região de Tombali > Ilha do Como > 1964 > Croquis da Op Tridente (de 14 de Janeiro a 24 de Março de 1964) .... "A designada Ilha do Como é, na realidade, constituída por 3 ilhas: Caiar, Como e Catunco mas que formam na prática um todo, já que a separação entre elas é feita por canais relativamente estreitos e apenas na maré-cheia essa separação é notória". O Mário Dias, que participou na Operação Tridente, desenhou este croquis com base na carta da província da Guiné (1961). A vermelho, aparece assinalada a famosa Casa Brandão que esteve no centro da batalha da Ilha do Como, uma batalha mítica para o PAIGC e para a sua máquina de propaganda (LG).
Infogravura: © Mário Dias (2005). Direitos reservados.
1. Mensagem enviada por Gilda Bras:
Muito boa tarde,
Parabéns pela vossa página, pois ajudou-me a descobrir que a família que eu procuro há mais de 35 anos, foi importante para a formação da Guiné.
Não sei se alguém me pode ajudar, eu gostava de encontrar familiares do Afonso Pinho Brandão e Manuel Pinho Brandão, comerciantes importantes na Guiné na altura da Guerra (1).
Sou filha do Afonso Pinho Brandão, chamo-me Gilda Pinho Brandão. Se me puderem ajudar, podem fazê-lo para o meu e-mail.
Muito obrigada e continuem com o vosso bom trabalho.
Cumprimentos
Gilda Brás
2. Minha querida:
Dois dos nossos camaradas que estiveram na Ilha do Como e em Catió, têm apontamentos sobre a família Pinho Brandão. Pelo que presumo das suas palavras, o Afonso e o Manuel de Pinho Brandão seriam irmãos. É isso ? Será que estamos a falar da mesma família ? Julgo que sim.
Pode ser que que os nossos camaradas Mário Dias e Mendes Gomes possam acrescentar algo mais sobre estes importantes comerciantes e proprietários da Região de Tombali. Obrigado pela simpática apreciação que faz do nosso blogue. Apareça sempre. Saudações. Luís Graça & Camaradas da Guiné.
__________
Nota de L.G.
(1) Há várias referências no nosso blogue à Casa Brandão e à figura, já então lendária, do comerciante Manuel de Pinho Brandão, da Ilha do Como. Vd. posts sobre a batalha da Ilha do Como (1964):
17 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCV: A verdade sobre a Op Tridente (Ilha do Como, 1964) (Carlos Fortunato / Mário Dias)
15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXX: Histórias do Como (Mário Dias)
15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)
(...) "[A Ilha do Como] não tinha estradas. Apenas existia uma picada que ligava as instalações do comerciante de arroz, Manuel Pinho Brandão (na prática, o dono da ilha) a Cachil. A partir desta localidade o acesso ao continente (Catió) era feito de canoa ou por outra qualquer embarcação. A casa deste comerciante era, se não estou em erro, a única construída de cimento e coberta a telha" (...)
16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXV: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): II Parte (Mário Dias)
(...) "A tabanca de Cauane, bem como as restantes, estava praticamente destruída assim como a casa do comerciante Brandão, ali bem próxima. Meses antes, já a aviação havia actuado na ilha bombardeando e destruindo todas as instalações que pudessem ser proveitosas ao IN. Recordo-me ainda de assistir no QG em Santa Luzia, onde ocasionalmente me encontrava, aos protestos do referido Brandão por lhe terem escavacado tudo quanto possuía no Como" (...).
(...) "Um dos pontos que pretendíamos dominar era a picada que, partindo das imediações da casa Brandão, seguia para Norte em direcção a Cassaca e Cachil. Tarefa difícil pois o inimigo tinha instaladas à entrada da mata metralhadoras no enfiamento da picada. No dia 23 o grupo de comandos reforçado com uma secção da CCAV 488 e uma secção de fuzileiros dirigiu-se ao local para tentar alcançar e destruir as metralhadoras. Escondidos na casa Brandão, fomos progredindo de um e outro lado do ourique. Porém, ao chegarmos junto ao rio que atravessa a bolanha tínhamos que subir para o ourique e passar por umas tábuas que faziam de ponte. Como era de esperar, as metralhadoras entraram em funcionamento. Zás. Tudo a saltar de novo para o desnível do ourique" (...).
17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias)
(...) "Passagem e pequena paragem na tabanca de Cauane, troca de informações com o comandante da CCAV 488, dono da casa, e iniciámos a penetração na mata à 1 hora do dia 21, partindo da casa Brandão. Reacção do IN?...nenhuma. Progredimos até Cassaca que foi alcançada às 02H30. Feita uma batida cuidadosa à região, encontraram-se a Norte algumas casas de mato quase destruídas e há muito abandonadas" (...).
15 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLI: Falsificação da história: a batalha da Ilha do Como (Mário Dias)
Há também uma referência a um outro (?) Brandão, de Ganjola, região de Catió, e que é aqui soberbamente evocado pelo nosso camarada Mendes Gomes:
22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira
(...) "Sete e Meio era o nome dado à casa que albergava os alferes da companhia de intervenção e mais alguns dos felizardos, residentes com o comando do batalhão (...).
"Era a casa do enfermeiro de antes da guerra. Como aconteceu a tantos outros, foi obrigado a cedê-la, de aquartelamento, aos militares.
"Uma pequena moradia, em cimento armado e tijolo, como as que se encontravam em qualquer parte da metrópole, ali, era um palacete de luxo, aos olhos dos indígenas das rudes tabancas de palha. Uma sala comum, quatro quartos e uma casa de banho, dava a sensação de estadia romanesca, para um aventureiro que viesse fazer uma caçada nas cerradas matas tropicais, ali ao pé.
"Era-nos fácil imaginar, com sadia cobiça, a deliciosa época da vida colonial, de antes da guerra, para os felizardos, a quem a sorte, em boa hora, escorraçara, com a pena de desterro, por feitos heterodoxos à moral reinante das gentes da metrópole.
"Era o caso do Sr. Brandão, de Ganjola, a quinze km de Catió, um injustiçado lavrador das terras de Arouca. Ali vivia há dezenas de anos, por assassínio, cometido numa das romarias da Senhora da Mó. No meio dos folguedos e romarias, por vezes, acertavam-se contas atrasadas, duma qualquer hora de desavença, mesmo no fim da missa domingueira.
"O Sr. Brandão, agora, era um velhote, rodeado de filhos e netos que foi gerando, ao sabor das madrugadas de batuque e da liberdade de escolha, sem custos, entre as mais viçosas bajudas da tabanca…
"Uma negra, velha, mas de rosto e olhar, ainda iluminados por olhos meigos, como a sua voz, doce, era a predilecta, de sempre. Seu nome, Sexta-Feira. Soava bem aos ouvidos dos falares balantas, fulas ou mandingas. Era ela quem lhe tratava das tarefas caseiras. Dedicada. Sem nada cobrar, para além do breve e malicioso sorriso do velho Brandão, quando lhe despontava o desejo do seu corpo, negro, sem idade. Podia despontar a qualquer hora. Sexta-Feira ali estava, sempre dócil e submissa.
"Uma loja farta de tudo o que chegava na carreira regular das barcaças de Bissau. Os lindos panos de cor garrida e os gordos cordões reluzentes, de fantasia, com que as negras tanto gostavam de se enfeitar.
"O vinho tinto da metrópole era o regalo dos ociosos negros, de rostos engelhados e curtidos pelo álcool, pela tarde fora, a par da cachaça de coco.O saboroso bacalhau, curado nas míticas secas da Figueira da Foz e Aveiro, tão apreciado e toda a sorte de ferragens eram tudo o que aguçava o desejo daquelas gentes, para a troca do arroz, milho, mandioca, galinhas e demais produtos que, em cortejo lento e constante, pelas picadas entre as frondosas matas, traziam em açafates, à cabeça.O preço era feito, à medida da vontade gulosa do velho, matreiro e bem afortunado, Brandão.
"Dizia-se que tinha metade das terras de Arouca… não fosse o diabo tecê-las. Ali, vivia, pacatamente, como se não houvesse guerra, numa típica mansão colonial, de um piso sobreelevado, com um varandim a toda a volta, com as dependências necessárias à farta panóplia de utensílios, alfaias e mercadoria.
"Ficava mesmo ao pé [do rio], rico de peixe, onde, infalivelmente, chegavam, em cada dia, as marés vivas capazes de lhe movimentar, de graça, os prodigiosos moinhos com que moía os cereais abundantes.
"Conhecia toda a gente, naquelas paragens, incluindo os turras, a quem pagava, com simpatia, os devidos tributos de guerra…quando não era o fornecimento das informações sobre os últimos planos de operações que, por artes obscuras, ali chegavam aos ouvidos bem afilados.
"Aquele sítio era estratégico e crucial. Por isso, um pelotão reforçado com uma metralhadora pesada, destacado de Catió, disputava-lhe os largos aposentos, como guarda avançada e tampão às possíveis arremetidas que os turras poderiam desfechar sobre Catió" (...).
__________
Nota de L.G.
(1) Há várias referências no nosso blogue à Casa Brandão e à figura, já então lendária, do comerciante Manuel de Pinho Brandão, da Ilha do Como. Vd. posts sobre a batalha da Ilha do Como (1964):
17 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCV: A verdade sobre a Op Tridente (Ilha do Como, 1964) (Carlos Fortunato / Mário Dias)
15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXX: Histórias do Como (Mário Dias)
15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)
(...) "[A Ilha do Como] não tinha estradas. Apenas existia uma picada que ligava as instalações do comerciante de arroz, Manuel Pinho Brandão (na prática, o dono da ilha) a Cachil. A partir desta localidade o acesso ao continente (Catió) era feito de canoa ou por outra qualquer embarcação. A casa deste comerciante era, se não estou em erro, a única construída de cimento e coberta a telha" (...)
16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXV: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): II Parte (Mário Dias)
(...) "A tabanca de Cauane, bem como as restantes, estava praticamente destruída assim como a casa do comerciante Brandão, ali bem próxima. Meses antes, já a aviação havia actuado na ilha bombardeando e destruindo todas as instalações que pudessem ser proveitosas ao IN. Recordo-me ainda de assistir no QG em Santa Luzia, onde ocasionalmente me encontrava, aos protestos do referido Brandão por lhe terem escavacado tudo quanto possuía no Como" (...).
(...) "Um dos pontos que pretendíamos dominar era a picada que, partindo das imediações da casa Brandão, seguia para Norte em direcção a Cassaca e Cachil. Tarefa difícil pois o inimigo tinha instaladas à entrada da mata metralhadoras no enfiamento da picada. No dia 23 o grupo de comandos reforçado com uma secção da CCAV 488 e uma secção de fuzileiros dirigiu-se ao local para tentar alcançar e destruir as metralhadoras. Escondidos na casa Brandão, fomos progredindo de um e outro lado do ourique. Porém, ao chegarmos junto ao rio que atravessa a bolanha tínhamos que subir para o ourique e passar por umas tábuas que faziam de ponte. Como era de esperar, as metralhadoras entraram em funcionamento. Zás. Tudo a saltar de novo para o desnível do ourique" (...).
17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias)
(...) "Passagem e pequena paragem na tabanca de Cauane, troca de informações com o comandante da CCAV 488, dono da casa, e iniciámos a penetração na mata à 1 hora do dia 21, partindo da casa Brandão. Reacção do IN?...nenhuma. Progredimos até Cassaca que foi alcançada às 02H30. Feita uma batida cuidadosa à região, encontraram-se a Norte algumas casas de mato quase destruídas e há muito abandonadas" (...).
15 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLI: Falsificação da história: a batalha da Ilha do Como (Mário Dias)
Há também uma referência a um outro (?) Brandão, de Ganjola, região de Catió, e que é aqui soberbamente evocado pelo nosso camarada Mendes Gomes:
22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira
(...) "Sete e Meio era o nome dado à casa que albergava os alferes da companhia de intervenção e mais alguns dos felizardos, residentes com o comando do batalhão (...).
"Era a casa do enfermeiro de antes da guerra. Como aconteceu a tantos outros, foi obrigado a cedê-la, de aquartelamento, aos militares.
"Uma pequena moradia, em cimento armado e tijolo, como as que se encontravam em qualquer parte da metrópole, ali, era um palacete de luxo, aos olhos dos indígenas das rudes tabancas de palha. Uma sala comum, quatro quartos e uma casa de banho, dava a sensação de estadia romanesca, para um aventureiro que viesse fazer uma caçada nas cerradas matas tropicais, ali ao pé.
"Era-nos fácil imaginar, com sadia cobiça, a deliciosa época da vida colonial, de antes da guerra, para os felizardos, a quem a sorte, em boa hora, escorraçara, com a pena de desterro, por feitos heterodoxos à moral reinante das gentes da metrópole.
"Era o caso do Sr. Brandão, de Ganjola, a quinze km de Catió, um injustiçado lavrador das terras de Arouca. Ali vivia há dezenas de anos, por assassínio, cometido numa das romarias da Senhora da Mó. No meio dos folguedos e romarias, por vezes, acertavam-se contas atrasadas, duma qualquer hora de desavença, mesmo no fim da missa domingueira.
"O Sr. Brandão, agora, era um velhote, rodeado de filhos e netos que foi gerando, ao sabor das madrugadas de batuque e da liberdade de escolha, sem custos, entre as mais viçosas bajudas da tabanca…
"Uma negra, velha, mas de rosto e olhar, ainda iluminados por olhos meigos, como a sua voz, doce, era a predilecta, de sempre. Seu nome, Sexta-Feira. Soava bem aos ouvidos dos falares balantas, fulas ou mandingas. Era ela quem lhe tratava das tarefas caseiras. Dedicada. Sem nada cobrar, para além do breve e malicioso sorriso do velho Brandão, quando lhe despontava o desejo do seu corpo, negro, sem idade. Podia despontar a qualquer hora. Sexta-Feira ali estava, sempre dócil e submissa.
"Uma loja farta de tudo o que chegava na carreira regular das barcaças de Bissau. Os lindos panos de cor garrida e os gordos cordões reluzentes, de fantasia, com que as negras tanto gostavam de se enfeitar.
"O vinho tinto da metrópole era o regalo dos ociosos negros, de rostos engelhados e curtidos pelo álcool, pela tarde fora, a par da cachaça de coco.O saboroso bacalhau, curado nas míticas secas da Figueira da Foz e Aveiro, tão apreciado e toda a sorte de ferragens eram tudo o que aguçava o desejo daquelas gentes, para a troca do arroz, milho, mandioca, galinhas e demais produtos que, em cortejo lento e constante, pelas picadas entre as frondosas matas, traziam em açafates, à cabeça.O preço era feito, à medida da vontade gulosa do velho, matreiro e bem afortunado, Brandão.
"Dizia-se que tinha metade das terras de Arouca… não fosse o diabo tecê-las. Ali, vivia, pacatamente, como se não houvesse guerra, numa típica mansão colonial, de um piso sobreelevado, com um varandim a toda a volta, com as dependências necessárias à farta panóplia de utensílios, alfaias e mercadoria.
"Ficava mesmo ao pé [do rio], rico de peixe, onde, infalivelmente, chegavam, em cada dia, as marés vivas capazes de lhe movimentar, de graça, os prodigiosos moinhos com que moía os cereais abundantes.
"Conhecia toda a gente, naquelas paragens, incluindo os turras, a quem pagava, com simpatia, os devidos tributos de guerra…quando não era o fornecimento das informações sobre os últimos planos de operações que, por artes obscuras, ali chegavam aos ouvidos bem afilados.
"Aquele sítio era estratégico e crucial. Por isso, um pelotão reforçado com uma metralhadora pesada, destacado de Catió, disputava-lhe os largos aposentos, como guarda avançada e tampão às possíveis arremetidas que os turras poderiam desfechar sobre Catió" (...).
Guiné 63/74 - P1797: Bibliografia (7): Homenagem ao Rui Ferreira e apresentação do último livro do Gertrurdes da Silva (Paulo Santiago)
Capa do livro do Cor Gerturdes da Silva, Quatro Estações em Abril, editado em 2007 pela Palimage.
1. Mensagem do Paulo Santiago, com data de 27 de Maio de 2007
Hoje, também estavas convidado, fui a Viseu onde o Rui, mais uma vez, reuniu alguns dos seus camaradas da CCAÇ 1420 (que esteve em Fulacunda, entre outros locais), da CCAÇ 18, a qual formou e comandou e ainda ainda militares de outras Companhias que ele comandou após o 25 de Abril.
Estavam também, era o meu caso, ex-militares amigos do Ruizinho. Cheguei atrasado ao RIV [Regimento de Infantaria de Viseu], onde começava o encontro, com uma Missa pelos militares já falecidos. Encaminharam-me para o auditório do Instituto Politécnico, fica frente ao RIV, onde decorria um Colóquio, estando no uso da palavra, quando entrei, o Cor Gertrudes da Silva, que falou segundo me apercebi - incovenientes de chegar atrasado - da problemática da Guerra Colonial, aparecimento do Movimento dos Capitães, desembocando no 25 de Abril. Tudo muito bem exposto, outra coisa não seria de esperar de um Capitão de Abril com uma licenciatura em História tirada nos inícios dos anos 80.
Falou de seguida um ex-militar, Dr. José Moreira, que fez a Guerra na [CCAÇ] 1420. Notável exposição. Falou outro, também ex-comandado do Rui, que já não fez a Guerra, entrou para o COM em 76. O Comandante do RIV também proferiu algumas palavras, antes de nos encaminharmos para aquele Regimento, onde houve um almoço volante bem servido e bem acompanhado com vinhos da adega cooperativa de Silgueiros.
Às 15,30 voltámos ao auditório do Politécnico, onde se ia proceder à apresentação do último livro do Cor Gertrudes da Silva intitulado Quatro Estações em Abril, último da trilogia iniciada com Deus, Pátria e... A Vida, a que se seguiu A Pátria ou A Vida... (à presentação deste último também assisti, em Viseu, no mesmo local, convidado pelo Rui, feita de forma brilhante pelo
Major-General Pezarat Correia, oficial de operações em Aldeia Formosa, quando o Cap
Rui Alexandrino comandava a CCAÇ 18).
A apresentação do livro de hoje foi feita, dizem-me, com grande sapiência e clareza (estava um pouco estourado e passei pelas brasas) pela Prof Dr Margarida Sofia, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
O Cor Gertrudes da Silva (1) terminou agradecendo a presença dos presentes, com uma palavra especial para o Ruizinho, afirmando que, possivelmente sem o seu apoio, esta trilogia nunca teria aparecido.
Também outro momento, marcante, foi quando tirou um envelope do bolso, endereçado à sua esposa com um remetente de uma Gervásia Romão, moradora em Algés, vindo dentro deste envelope um outro, mais pequeno fechado, em que vinha escrito Cap Gertrudes da Silva, trazendo uma carta, com a data de 5 de Maio de 1974, que (cito de cabeça) alterava uma data/hora já programada, falava da adesão da Companhia de Comandos de Lamego, inquirindo também sobre a adesão do Regimento da Guarda que seria necessário para bloquear a fronteira em Vilar Formoso e informando que a nova data/hora seria marcada por estafeta. Assinava a carta: Otelo... Isto é história!
Viseu > 2001 > O Rui Alexandrino Ferreira, hoje coronel de infantaria na reforma, faz a apresentação do seu livro de memórias Rumo a Fulacunda, editado pela Palimage(2)
Foto: © Rui Ferreira (2007). Direitos reservados.
Deste terceiro livro, não posso dizer nada, ainda não o comecei a ler, os outros dois anteriores, são ficção, mas ficção vivida pelo autor na dureza do mato em Angola e na Guiné, havendo uma certa continuação do primeiro para o segundo e, nas palavras do Editor, existirá.a também um fio condutor entre o segundo e este último.
Aconselho a ler, são livros que nos dizem muito. Passe a publicidade, a editora é a Palimage (1), a mesma que editou Rumo a Fulacunda, do Rui Alexandrino Ferreira (2).
Mesmo para quem passou pelas brasas, a mensagem já vai longa.
Paulo Santiago
PS 1- O Cor Gertrudes da Silva escreve alguns textos na Avenida da Liberdade, página da Associação 25 de Abril, editada pelo Pedro Lauret.
PS2 - O coronel Gertrudes da Silva no dia 25 de Abril de 1974, prestando serviço no RI 14 de Viseu, comandou uma força de mais de 500 homens que se dirigiu do Norte sobre a capital. Ficou conhecido por Agrupamento Norte.
Pormenores em http://www.25abril.org/index.php?content=1&hora=1&unidade=10&tema=
(Mensagem de Pedro Lauret).
____________
Notas de L.G.:
(1) Nota curricular fornecida pela editora:
Gertrudes da Silva, de seu nome completo Diamantino Gertrudes da Silva, nasceu em Alvite, concelho de Moimenta da Beira, a 20 de Fevereiro de 1943.
Em 1963 ingressou na Academia Militar, seguindo depois a carreira de Oficial do Exército, na Arma de Infantaria, até ao posto de coronel, encontrando-se agora na situação de reforma.
No tempo próprio cumpriu duas comissões por imposição na Guerra Colonial – a 1.ª em Angola e a 2.ª na Guiné [, CCAÇ 2781, Bissum, 1970/72). À margem das suas ocupações profissionais militares, em 1980 concluiu a Licenciatura em História na Universidade de Coimbra.
Para além de outras condecorações, foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade pela sua participação no Movimento do 25 de Abril de 1974.
Publicações:
Deus, Pátria e... a Vida
A Pátria ou A Vida
Quatro Estações em ABRIL
As imagens aqui utilizadas estão disponíveis no sítio da editora Palimage. São por nós utilizadas, com a devida vénia.
(2) Vd. post de 17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1285: Bibliografia de uma guerra (14): Rumo a Fulacunda, um best seller, de Rui Alexandrino Ferreira (Luís Graça)
Guiné 63/74 - P1796: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (5): A(s) alegria(s) do(s) reencontro(s)
Guiné > Subsector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > Mortos da companhia > Memorial executado pelo Furriel Timóteo > Vítimas mortais: António Jacinto da Conceição Carrasqueira (10/8/70, mina a/c); António Guimarães (18/2/71 / mina a/c); José Augusto Dias de Sousa (18/2/71; mina a/c); José Guedes Monteiro (1/10/71; combate); Rogério António Soares (1/10/71; combate); Luís Vasco Fernandes (5/10/71; mina a/c); Adriano Francisco (8/3/72, doença).
Fotos: Fernando Barata (2007). Direitos reservados.
V (e última) parte do resumo da história da CCAÇ 2700 (Dulombi, Maio de 1970/ Abril de 72), unidade que pertenceu ao BCAÇ 2912, e foi render a CCAÇ 2405 do BCAÇ 2852 (1968/70). O autor do texto é o ex-Alf Mil Fernando Barata, da CCAÇ 2700 (1).
Louvores
José Augusto Dias de Sousa (título póstumo)
Alfredo Lopes Ribeiro
Teodoro da Cruz Abreu
Francisco Teixeira Pinto
Arnaldo Seabra da Costa
Carlos Medeiros Barbosa
João dos Santos Henriques Veras
Luís Manuel Telha
Carlos Alberto Maurício Gomes (pelo Cmdt Batalhão)
Manuel Maria Cardoso Maricato
Ricardo Pereira Lemos
Manuel Pedrosa Costa
Alberto Jorge Seixas Pereira
José Maria Prata
José Rocha Carvalho
José Joaquim Queirós Fernandes
Vítor Manuel Rodrigues
Carlos Teixeira Santos
Fernando Costa Ramos
Alfredo Azevedo
Manuel Fernando C. Almeida
Vítor António Gonçalves
Augusto Pereira Rosa
José Silva dos Santos
Albino Almeida da Piedade
Bernardino Rodrigues Pereira
Luís Santos Silva
José Augusto de Sousa
Miguel Carvalho Teixeira
Manuel Fernando R. Brito
Domingos Magalhães Lemos
António Vasco Lopes Alves
Ramiro de Jesus Oliveira
Posfácio
Terminada esta dura campanha da nossa vida (1), igualmente dura e não menos importante fase haveríamos agora que enfrentar.
Para alguns era o retomar dos estudos então interrompidos, para outros o retomar duma profissão deixada a meio possivelmente na altura que se começava a potenciar o que o mestre havia ensinado, para outros, o iniciar de uma caminhada, pintalgada agora, aqui e além por outras minas e armadilhas.
Era o tempo para saborear avidamente junto dos familiares, amigos e conhecidos momentos mágicos de confraternização, de comemoração e até de alguma cumplicidade com os colegas mais chegados.
Foi também tempo para alguns tentarem a sua sorte noutras paragens, principalmente França e Alemanha, países que desde a década de 60 se tinham aberto à imigração.
Os anos foram passando e não imaginam a tristeza que eu ia sentindo, sempre que ao folhear quer A Bola quer o Jornal de Notícias, ia tomando conhecimento de mais um almoço/convívio da companhia x ou do batalhão y, sempre na expectativa que mais dia menos dia lá apareceria publicitado o almoço da 2700.
E não é que (quem espera sempre alcança) por meados de Maio de 1991, me aparece na caixa do correio uma convocatória para o 1.º almoço da Companhia.
Graças a dois Homens que – nunca será de mais realçar – foram os obreiros deste “saboroso mecanismo socializante” e que dão pelo nome de José Marinho e Fernando Ramos, como todos sabem. Sei que posteriormente têm sido ajudados por alguns camaradas (recordo-me do Quintas, do Ferreira, do Cunha, do Silva Soares), mas perdoem-me, sem eles o milagre não teria acontecido.
A 20 de Julho de 1991, apesar das dificuldades em divulgar o evento, pelo desconhecimento da morada de bastante camaradas, lá estava o Campo da Feira, em Barcelos, emoldurado com aproximadamente 60 ex-elementos da Companhia, a maior parte acompanhada pela respectiva cara-metade e alguns mesmo com os herdeiros.
Foram momentos inolvidáveis aqueles que se sentiram e que se prolongaram no restaurante, agora com o estômago já reconfortado, mas sinceramente isso foi o acessório.
A partir daqui e de forma ininterrupta todos os anos nos temos encontrado nos mais diversos locais.
Pelo seu significado não quero deixar de realçar o 7.º Encontro que se realizou no Regimento de Infantaria de Abrantes, quartel onde a nossa Companhia foi formada, tendo sido descerrada uma placa alusiva ao acontecimento e celebrada missa pelo capelão da Unidade. No ano seguinte foi escolhido o Regimento de Infantaria de Vila Real, pela razão de ter sido aqui que a maior parte das praças que formavam a Companhia ter feito a sua recruta.
É digno de registo, tanto em Abrantes como Vila Real, a forma exemplar como fomos recebidos pelas respectivas chefias.
Esperamos que estes convívios mantenham a sua periodicidade. Não tenho dúvida que enquanto, pelo menos o Marinho e Ramos forem vivos, eles realizar-se-ão (2).
___________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts anteriores:
22 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1541: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (1): Introdução: a 'nossa Guiné'
26 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1550: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (2): A nossa gente
15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1595: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (3): minas, tornados, emboscadas, flagelações e acção... psicossocial
11 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1651: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (4): Historietas
(2) O próximo encontro, o 16º, será a 10 de Junho de 2007, em Braga: vd. post de 30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1795: Convívios (12): 16.º Encontro da CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912 (Dulombi, 1970/72), Braga, 10 de Junho de 2007 (Fernando Barata)
Guiné 63/74 - P1795: Convívios (12): 16.º Encontro da CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912 (Dulombi, 1970/72), Braga, 10 de Junho de 2007 (Fernando Barata)
Guiné > Zona Leste > Galomaro > BCAÇ 2912 > CCAÇ 2700 > Dulombi (1970/72) > Estandarte do batalhão e emblema da companhia.
Mensagem enviada pelo nosso camarada Fernando Barata, ex-Alf Mil, CCAÇ 2700 (Dulombi, Maio de 1970/ Abril de 72) (1)
16.º Encontro da CCAÇ 2700/BCAÇ 2912 (Dulombi, 1970/72), Braga, 10 de Junho de 2007
10H30 - Concentração no Parque do Estádio 1.º de Maio, em Braga
11H30 - Missa na Igreja Paroquial de Trandeiras
12H30 - Romagem à campa de José Dias Ferreira, no Cemitério de S. Paio de Arcos
13H00 - Almoço no Restaurante Palace Club - Quinta das Rosas - Priscos - Braga
Confirmações para: 962497110 ou timoteomemoria@gmail.com
Um abraço do
Fernando Barata
16.º Encontro da CCAÇ 2700/BCAÇ 2912 (Dulombi, 1970/72), Braga, 10 de Junho de 2007
10H30 - Concentração no Parque do Estádio 1.º de Maio, em Braga
11H30 - Missa na Igreja Paroquial de Trandeiras
12H30 - Romagem à campa de José Dias Ferreira, no Cemitério de S. Paio de Arcos
13H00 - Almoço no Restaurante Palace Club - Quinta das Rosas - Priscos - Braga
Confirmações para: 962497110 ou timoteomemoria@gmail.com
Um abraço do
Fernando Barata
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Nota de L.G.:
(1) Vd. posts de:
22 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1541: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (1): Introdução: a 'nossa Guiné'
26 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1550: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (2): A nossa gente
15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1595: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (3): minas, tornados, emboscadas, flagelações e acção... psicossocial
terça-feira, 29 de maio de 2007
Guiné 63/74 - P1794: Blogoterapia (21): Falar da guerra, com pudor... e com alegria do novo Doutor, Leopoldo Amado (Luís Graça)
Lisboa > Universidade de Lisboa > Reitoria > 28 de Maio de 2007 > Provas públicas de doutoramento do luso-guineense Leopoldo Amado, em História Contemporâena > Alguns minutos antes do início da defesa da sua tese (Guerra colonial 'versus' guerra de libertação: o caso da Guiné-Bissau). O Leopoldo e os seus amigos (incluindo a malta do nosso blogue):
Um abraço a todos os camaradas Tertulianos!
Fiquei mesmo foi com muita vontade de ler a tese de Doutoramento em História Contemporânea - Guerra colonial 'versus' guerra de libertação: o caso da Guiné-Bissau - do Professor Doutor Leopoldo Amado. Quem sabe um dia... o lançamento... aqui em Cabo Verde, uh?
Etiquetas: Guiné, História, Portugal
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 29 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1793: Operação Muralha Quimérica, com os paraquedistas do BCP 12: Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael, Abril de 1972 (Victor Tavares)
(2) Vd. posts de:
24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1782: O nosso doutorando Leopoldo Amado vai ter o seu 'baptismo de fogo' no próximo dia 28, na Universidade de Lisboa (Luís Graça)
24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1783: Tese de doutoramento de Leopoldo Amado: Guerra colonial 'versus' guerra de libertação (João Tunes)
(3) Vd. post de 27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...
(4) Vd. post de 4 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P840: Curriculum Vitae do nosso doutorando Leopoldo Amado
Da direita para a esquerda (sem qualquer conotação ideológica): Eugénio Alameida (angolano, viajante entre Angola e Portugal, editor dos blogues Pululu e Malambas), António Santos, Hugo Moura Ferreira, Leopoldo Amado, José Martins, António Lopes (jornalista, ex-Público), Luís Graça e João Tunes. Tirando o Eugénio Almeida e o António Lopes, os demais pertencem a esta tertúlia, de seu nome Luís Graça & Camaradas da Guiné. Na foto só não está... o fotógrafo que, na ocasião, foi o nosso Carlos Fortunato.
Universidade de Lisboa > Reitoria > 29 de Maio de 2007 > Provas públicas de doutoramento do luso-guineense Leopoldo Amado, em História Contemporânea > Depois da decisão do júri, os amigos e a família manifestaram o seus contentamento ao novo Doutor > Na foto, o Leopoldo com duas das suas manas, simpatiquíssimas (eles são oito irmãos, espalhados pelo mundo), mais o seu filho (à esquerda) e o marido de umas das irmãs, que é farmacêutica (à direita).
Fotos: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.
Comentário do editor do blogue, a propósito do poste anterior (1) e do doutoramento do Leopoldo Amado (2):
1. A nenhum dos membros desta tertúlia move, hoje, o espírito revivalista da guerra e muito menos o espírito belicista... É bom que isso fique claro.
Não somos um clube de veteranos, de guerreiros, mortos ou aposentados... Não somos uma tertúlia de gente saudosista, que perdeu o Império, o coconote e o pôr do sol nas praias dos Bijagós... Não somos muito menos um corja de neocolonialistas, à direita, ou de antiqualquer coisa, à esquerda, como já têm insinuado a nosso respeito... Somos apenas um grupo de amigos e camaradas da Guiné, com existência mais virtual do que real...
Se falamos da guerra, e dos seus factos brutais - os mortos, os feridos, de uma lado e de outro - é apenas porque a guerra (a colonial, a do Ultramar, a de Libertação...) existiu e prolongou-se, infelizmente, por demasiado tempo... Se falamos da Guiné, é porque aprendemos a amar a terra e o seu povo...
Não defendemos aqui a superioridade - moral, militar, cultural ou civilizacional - de ninguém... O Victor Tavares foi paraquedista e foi um bom paraquedista, ao que sei. Mobilizado para a Guiné, já com um ano de paraquedista, só podia ser paraquedista e um bom paraquedista... Tem escrito sobre as suas memórias, sobre as operações em que participou... Uma escrita simples, singela, escorreita, narrando os factos, sem grandes justificações e sobretudo sem desculpas nem alibis...
Infelizmente, continua-nos a faltar aqui o ponto de vista do combatente do outro lado, bem como das populações, sob o controlo do PAIGC, que sofreram os ataques da nossa aviação, da nossa artilharia ou das nossas tropas especiais... Ninguém aqui faz a apologia da guerra.
Fotos: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.
Comentário do editor do blogue, a propósito do poste anterior (1) e do doutoramento do Leopoldo Amado (2):
1. A nenhum dos membros desta tertúlia move, hoje, o espírito revivalista da guerra e muito menos o espírito belicista... É bom que isso fique claro.
Não somos um clube de veteranos, de guerreiros, mortos ou aposentados... Não somos uma tertúlia de gente saudosista, que perdeu o Império, o coconote e o pôr do sol nas praias dos Bijagós... Não somos muito menos um corja de neocolonialistas, à direita, ou de antiqualquer coisa, à esquerda, como já têm insinuado a nosso respeito... Somos apenas um grupo de amigos e camaradas da Guiné, com existência mais virtual do que real...
Se falamos da guerra, e dos seus factos brutais - os mortos, os feridos, de uma lado e de outro - é apenas porque a guerra (a colonial, a do Ultramar, a de Libertação...) existiu e prolongou-se, infelizmente, por demasiado tempo... Se falamos da Guiné, é porque aprendemos a amar a terra e o seu povo...
Não defendemos aqui a superioridade - moral, militar, cultural ou civilizacional - de ninguém... O Victor Tavares foi paraquedista e foi um bom paraquedista, ao que sei. Mobilizado para a Guiné, já com um ano de paraquedista, só podia ser paraquedista e um bom paraquedista... Tem escrito sobre as suas memórias, sobre as operações em que participou... Uma escrita simples, singela, escorreita, narrando os factos, sem grandes justificações e sobretudo sem desculpas nem alibis...
Infelizmente, continua-nos a faltar aqui o ponto de vista do combatente do outro lado, bem como das populações, sob o controlo do PAIGC, que sofreram os ataques da nossa aviação, da nossa artilharia ou das nossas tropas especiais... Ninguém aqui faz a apologia da guerra.
Nenhum de nós, camaradas da Guiné, foi rambo ou cultivava o espírito rambo... A guerra é a actividade mais trágica a que o ser humano se pode dedicar... Quando evocamos, com letimidade e propriedade, a nossa experiência de guerra, de combatentes, fazêmo-lo com pudor... Falo em geral, por que às vezes as palavras atraiçoam-nos...
Alguns de nós - a começar pelo editor do blogue - não concordavam com aquela guerra mas também não desertaram... Não vale a pena retocar a fotografia, nem muito menos destruí-la: de Junho de 1969 a Março de 1971, eu por exemplo estive na Guiné... Não direi de corpo e alma... Estive objectivamente na Guiné, de corpo inteiro, às vezes com a morte na alma, como muitos outros camaradas meus cujo sofrimento não posso avaliar... Não tenho nenhum alibi histórico... Passei muitos anos a autojustificar-me. Em vão. Hoje só quero percebero verso e o reverso da mesma moeda, da mesma guerra, colonial, do ultramar ou de libertação...
De qualquer modo, um dos princípios fundamentais deste blogue é a recusa em fazer, publicamente, juízos de valor - condenar ou louvar - as acções de guerra, quer de um lado quer do outro, relatadas na primeira pessoa do singular ou do plural... Matámos e morremos, quer de um lado e outro, da Ponta do Inglês ao Quirafo, de Guileje ao Cufeu, de Missirá às colinas do Boé: alguém tem que contar, em primeira mão, estas histórias, para que os historiadores possam fazer a História...
Na blogosfera e fora dela, queremos contribuir para que a guerra (colonial, do ultramar ou de libertação) deixe de ser aquilo que ainda é na sociedade portuguesa (e na sociedade guineense, acrescento, eu) : um "tabu contornado", para usar as palavras certeiras do meu amigo e camarada João Tunes (2).
Atrevo-me, de resto, a fazer meus os votos do embaixador Manuel Amante, para "que as memórias, por mais dolorosas que possam ter sido, não sejam apagadas mas se possam erigir numa teia que envolva ainda mais a todos os que nasceram, viveram ou tenham passado pela Guiné" (3)...
2. E a propósito da História e da guerra da Guiné, o nosso amigo, lusoguineense, Leopoldo Amado acaba hoje mesmo de obter o grau de doutor, pela Universidade de Lisboa, em História Contemporânea.
Alguns de nós - a começar pelo editor do blogue - não concordavam com aquela guerra mas também não desertaram... Não vale a pena retocar a fotografia, nem muito menos destruí-la: de Junho de 1969 a Março de 1971, eu por exemplo estive na Guiné... Não direi de corpo e alma... Estive objectivamente na Guiné, de corpo inteiro, às vezes com a morte na alma, como muitos outros camaradas meus cujo sofrimento não posso avaliar... Não tenho nenhum alibi histórico... Passei muitos anos a autojustificar-me. Em vão. Hoje só quero percebero verso e o reverso da mesma moeda, da mesma guerra, colonial, do ultramar ou de libertação...
De qualquer modo, um dos princípios fundamentais deste blogue é a recusa em fazer, publicamente, juízos de valor - condenar ou louvar - as acções de guerra, quer de um lado quer do outro, relatadas na primeira pessoa do singular ou do plural... Matámos e morremos, quer de um lado e outro, da Ponta do Inglês ao Quirafo, de Guileje ao Cufeu, de Missirá às colinas do Boé: alguém tem que contar, em primeira mão, estas histórias, para que os historiadores possam fazer a História...
Na blogosfera e fora dela, queremos contribuir para que a guerra (colonial, do ultramar ou de libertação) deixe de ser aquilo que ainda é na sociedade portuguesa (e na sociedade guineense, acrescento, eu) : um "tabu contornado", para usar as palavras certeiras do meu amigo e camarada João Tunes (2).
Atrevo-me, de resto, a fazer meus os votos do embaixador Manuel Amante, para "que as memórias, por mais dolorosas que possam ter sido, não sejam apagadas mas se possam erigir numa teia que envolva ainda mais a todos os que nasceram, viveram ou tenham passado pela Guiné" (3)...
2. E a propósito da História e da guerra da Guiné, o nosso amigo, lusoguineense, Leopoldo Amado acaba hoje mesmo de obter o grau de doutor, pela Universidade de Lisboa, em História Contemporânea.
A decisão do júri foi por unanimidade e com distinção... A nossa tertúlia está mais rica... O mérito é do Leopoldo que, nascido em Catió, em 1960, teve que comer o pão que o diabo amassou para chegar até aqui (4)...
Nem a arrogância intelectual de um dos senhores professores doutores do júri conseguiu estragar a festa e a boa disposição dos presentes, sempre atentos, críticos e solidários... De qualquer modo, é de sublinhar a cordialidade, a pertinência e a elegância do desempenho dos restantes membros do júri.
As provas disputaram-se em dois dias. No primeiro, 28, foi a arguição da tese, sendo o principal arguente o coronel Aniceto Afonso, ex-director do Arquivo Histórico-Militar. No segundo dia, 29, foram discutidas duas questões, previamente sorteadas: (i) o Islão e a Guiné-Bissau; (ii) Etnicidade(s) e identidade nacional...
Iremos dar-lhe, ao Leopoldo e à defesa da sua tese, o devido destaque, em próximos posts. (LG).
PS 1 - Ontem foi recebido uma mensagem de apoio ao Leopoldo, que passo a transcrever:
Bom dia! Quero desejar ao Leopoldo Amado as maiores felicidades nestes dias da sua tese de doutoramento!
As provas disputaram-se em dois dias. No primeiro, 28, foi a arguição da tese, sendo o principal arguente o coronel Aniceto Afonso, ex-director do Arquivo Histórico-Militar. No segundo dia, 29, foram discutidas duas questões, previamente sorteadas: (i) o Islão e a Guiné-Bissau; (ii) Etnicidade(s) e identidade nacional...
Iremos dar-lhe, ao Leopoldo e à defesa da sua tese, o devido destaque, em próximos posts. (LG).
PS 1 - Ontem foi recebido uma mensagem de apoio ao Leopoldo, que passo a transcrever:
Bom dia! Quero desejar ao Leopoldo Amado as maiores felicidades nestes dias da sua tese de doutoramento!
Um abraço a todos os camaradas Tertulianos!
José Rocha
Ex-Alferes Miliciano - CART 2410 - OS DRÁCULAS
Ex-Alferes Miliciano - CART 2410 - OS DRÁCULAS
PS 2 - No blogue Amante da Rosa, escreve-se:
Terça-feira, Maio 29, 2007 > Um Post e uma Tese de Doutoramento
Há um dia ou dois que andava meio desconfiada com o número, cada vez maior, de visitantes aqui no blog. Isto sempre foi meio intimista (pouco conhecido - é mais correcto) e de repente passo a ter mais visitantes num dia do que numa semana inteira. 20, 30 e 40 visitantes! Wow!
Desvendei o mistério. Os novos visitantes vêm todos do blogueforanadaevaotres que fez um post sobre o meu post. É engraçado e espero que seja uma descoberta agradável para os visitantes que por cá passem pela primeira vez.
Há um dia ou dois que andava meio desconfiada com o número, cada vez maior, de visitantes aqui no blog. Isto sempre foi meio intimista (pouco conhecido - é mais correcto) e de repente passo a ter mais visitantes num dia do que numa semana inteira. 20, 30 e 40 visitantes! Wow!
Desvendei o mistério. Os novos visitantes vêm todos do blogueforanadaevaotres que fez um post sobre o meu post. É engraçado e espero que seja uma descoberta agradável para os visitantes que por cá passem pela primeira vez.
Fiquei mesmo foi com muita vontade de ler a tese de Doutoramento em História Contemporânea - Guerra colonial 'versus' guerra de libertação: o caso da Guiné-Bissau - do Professor Doutor Leopoldo Amado. Quem sabe um dia... o lançamento... aqui em Cabo Verde, uh?
Etiquetas: Guiné, História, Portugal
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 29 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1793: Operação Muralha Quimérica, com os paraquedistas do BCP 12: Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael, Abril de 1972 (Victor Tavares)
(2) Vd. posts de:
24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1782: O nosso doutorando Leopoldo Amado vai ter o seu 'baptismo de fogo' no próximo dia 28, na Universidade de Lisboa (Luís Graça)
24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1783: Tese de doutoramento de Leopoldo Amado: Guerra colonial 'versus' guerra de libertação (João Tunes)
(3) Vd. post de 27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...
(4) Vd. post de 4 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P840: Curriculum Vitae do nosso doutorando Leopoldo Amado
Guiné 63/74 - P1793: Operação Muralha Quimérica, com os paraquedistas do BCP 12: Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael, Abril de 1972 (Victor Tavares)
1. Texto do ex-1º cabo paraquedista Victor Tavares , do BCP 12 / CCP 121 (1972/74) (1)
OPERAÇÃO MURALHA QUIMÉRICA
Acção desenrolada entre 27 de Março e 8 de Abril de 1972, no sul da Guiné (Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael).
Esta operação, na qual participaram as CCP 121, 122, 123 e outras forças, com resultados excelentes, nas zonas operacionais de Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael Porto, foi uma das muitas operações importantes em que intervieram os Paraquedistas do BCP 12 durante o ano de 1972.
Zona de acção: uma 'zona libertada' do PAIGC
A zona de acção situava-se numa região que o PAIGC considerava libertada e onde os guerrilheiros se movimentavam com relativo à-vontade conforme se viria a constatar.
O rio Balana separava o corredor de Guileje, que se estendia a sul entre a fronteira e ia até Salancaur Jate. A outra, a norte do mesmo rio, onde se movimentavam os grandes efectivos do Primeiro Corpo do Exército do PAIGC e que se incluía no troço do corredor de Missirá.
Para esta operação, além das Companhias de Paraquedistas, também fizeram parte duas Companhias de Comandos Africanos assim como duas Companhias do Exército, as CCAÇ 3399 e 3477, mais a CCAÇ 18 além de um grupo especial do COE. Todas estas forças estavam sob o comando do Tenente-Coronel Paraquedista Araújo e Sá, Comandante do BCP 12, tendo como adjunto o Cap Paraquedista Nuno Mira Vaz.
Todas estas forças estavam organizadas em vários agrupamentos operacionais.
A Operação iniciou-se no dia 27 com o deslocamento de parte dos efectivos a serem colocados por via aérea em Aldeia Formosa e Gadamael Porto, para no dia seguinte serem lançadas várias acções simultâneas na região.
Logo após a helicolocação de dois Grupos de Combate de Parquedistas, estes detectaram um grupo de guerrilheiros com quem tiveram um forte contacto, causando-lhe dois mortos e a captura de 1 Kalashnikov e de 1 LGF-RPG 7 assim como vários carregadores e 4 granadas de RPG 7.
Horas mais tarde este mesmo Agrupamento teve contacto com outro grupo IN, abatendo um dos seus elementos, capturando 1 Metralhadora ligeira Degtyarev e provocando alguns feridos conforme se veio a confirmar pelos vários rastos de sangue existentes no local das suas posições.
10 guerrilheiros e 4 civis mortos na sequência dos bombardeamentos dos Fiat
Entretanto os Paraquedistas que compunham este Agrupamento, vieram a emboscar durante a noite num local perto de uma picada e de uma zona bombardeada pela nossa aviação.
Manhã cedo, 5 horas e pouco, foi levantada a emboscada, seguindo a direcção do local bombardeado na véspera pelos Fiat 91. Nesse local detectámos um acampamento IN, parcialmente destruido. No seu interior encontravam-se 10 guerrilheiros do PAIGC mortos, todos fardados, e 4 civis da população.
O bombardeamento do dia anterior tinha sido feito com grande precisão e rapidez, não dando possibilidade de se protegerem nos vários abrigos subterrâneos que os mesmos aí dispunham.
Passada revista ao aldeamento foi apreendido o seguinte material de guerra,:
Durante a revista, um grupo de guerrilheiros atacou as nossas forças, que prontamente responderam pondo-os em debandada e provocando-lhe mais 1 morto e a perda de 1 Kalashnicov.
No mesmo dia por volta das 14 horas este agrupamento foi visitado na zona de acção pelo Comandante Chefe [gen Spínola].
A actuação dos Comandos Africanos
A 1 de abril [de 1972] outro Agrupamento, formado por três Grupos de Combate de uma das Companhias de Comandos Africanos, detectou um grupo inimigo estimado em cerca de 35 elementos, que se deslocava em direcção à fronteira.
Foi então movida a perseguição, vindo a ter um forte contacto de cerca de 15 minutos, causando-lhe 4 mortos e a apreensão de 2 Kalashnikov assim como vários equipamentos destes elementos abatidos.
Por sua vez outro Agrupamento, este constituído por 2 Grupos de Combate também de uma das Companhias de Comandos Africanos, quando nesse mesmo dia procedia a evacuação de um militar doente, foi atacado por um grupo da força inimiga que, fazendo largo uso de morteiros e LGF-RPG 2 e 7, lhes veio a provocar 1 morto e 5 feridos, embora durante a reacção das nossas tropas os guerrilheiros do PAIGC tenham sofrido 3 mortos e vários feridos e perdido os equipamentos destes.
A 3 de Abril o Agrupamento Onça 0, formado por dois Grupos de Combate da CCP 122, detectou um acampamento na Região do Xitole, onde recolheu 4 granadas de canhão s/recuo e 12 granadas de RPG 2.
Continuada a batida, foi encontrada na zona do Corredor de Missirá, outro acampamento IN, este já abandonado à pressa, onde foram encontradas 5 granadas de RPG 2, 1 carabina Zbrojovska, além de 30 mochilas contendo artigos de fardamento e munições em grandes quantidades.
Foi ainda este Agrupamento que no dia 5 de Abril detectou outro acampamento do PAIGC na região de Guileje, onde foram apreendidas 22 granadas de morteiro 82, 3 de RPG 7 assim como diversos equipamentos com munições.
No dia 8 de Abril foi dada como terminada esta Operação, alcançando os seus principais objectivos, neutralizando a organização que o PAIGC tinha naquela região, pelo menos durante algum tempo, o que viria a acontecer, até porque o PAIGC já possuía algumas estruturas, tais como um hospital e uma Loja do Povo, destruídos pelas nossas tropas na região de Guileje.
Este cenário veio entretanto a ser alterado, porque as forças de guerrilha do PAIGC acabaram por se reorganizar e, passados alguns meses, estavam com uma dinâmica operacional incrível, bastará recordar o que se passou em Guileje e Gadamael um ano depois. Nnguém que passou por aquele sector operacional esquecerá o inferno porque passou...
Balanço das perdas do PAIGC
Nesta grande Operação as Tropas Paraquedistas tinham obtido os seguintes resultados totais: 30 mortos, 17 guerrilheiros feridos e capturados, além de muitos feridos causados durante os vários contactos tidos, capturando também o seguinte material:
1 canhão s/recuo B-10,
1 morteiro 82 completo,
2 metralhadora ligeira Degtyarev,
4 espingardas automáticas Kalashnikov,
2 espingardas semiautomáticas Simonov,
1 espingarda Mauser,
2 pistolas-metralhadoras PPSH (costureirinhas),
1 carabina Zbrojovska,
5 granadas de mão defensivas,
24 granadas de morteiro 82,
22 granadas de RPG 2,
14 granadas de RPG 7,
6 granadas de canhão s/recuo,
2 cunhetes de munições 7,62,
além de muito fardamento e equipamento militar.
Por seu lado a CCP 121 sofreu 2 feridos provocados pela explosão de uma granada da nossa artilharia que rebentou a boca do cano.
Quanto às restantes forças que participaram nesta operação, os Comandos Africanos tiveram 1 morto e 7 feridos.
Louvor ao Batalhão de Paraquedistas 12
O Comandante Operacional das Forças Terrestres Tenente-Coronel Paraquedista Araújo e Sá, no Relatório de Operações, fez uma destacada citação às tropas participantes não pertencentes ao BCP 12, designadamente às duas Companhias de Comandos Africanos e às Companhias de Caçadores 3477, 3399 e CCAÇ 18 pelo seu espírito de missão, assim como aos Pilotos da Força Aérea com saliência para o Alferes Trindade Mota, Piloto de Helicanhão.
Também relacionado com a Op Muralha Quimérica, o Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné concedeu ao Batalhão de Paraquedistas um Louvor que relevava a forma valorosa como, uma vez mais, as Tropas Paraquedistas do BCP 12 se tinham batido neste Teatro de Operações.(2)
Findo este período as nossas forças regressaram em LDG ao BCP 12 para retemperar forças e preparar-se para novas missões.
Victor Tavares
______________
Notas de L.G.
(1) Vd. posts do Victor Tavares:
25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto
9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida
20 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1616: O meu regresso a Guidaje (Victor Tavares, CCP 121)
19 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1613: Com as CCP 121, 122 e 123 em Gadamael, em Junho/Julho de 1973: o outro inferno a sul (Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista)(3)
18 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1610: Ao meu pai, Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista, CCP 121 (Osvaldo Tavares)
8 de Março de 2007 >Guiné 63/74 - P1573: O Victor Tavares, da CCP 121, a caminho de Guidaje, com uma equipa da TVI (Luís Graça)(4)
21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1099: O cemitério militar de Guidaje (Manuel Rebocho, paraquedista)
(2) Vd. poste de 26 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19623: (In)citações (127): A Comissão Especial da ONU e outros embustes… (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav)
OPERAÇÃO MURALHA QUIMÉRICA
Acção desenrolada entre 27 de Março e 8 de Abril de 1972, no sul da Guiné (Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael).
Esta operação, na qual participaram as CCP 121, 122, 123 e outras forças, com resultados excelentes, nas zonas operacionais de Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael Porto, foi uma das muitas operações importantes em que intervieram os Paraquedistas do BCP 12 durante o ano de 1972.
Zona de acção: uma 'zona libertada' do PAIGC
A zona de acção situava-se numa região que o PAIGC considerava libertada e onde os guerrilheiros se movimentavam com relativo à-vontade conforme se viria a constatar.
O rio Balana separava o corredor de Guileje, que se estendia a sul entre a fronteira e ia até Salancaur Jate. A outra, a norte do mesmo rio, onde se movimentavam os grandes efectivos do Primeiro Corpo do Exército do PAIGC e que se incluía no troço do corredor de Missirá.
Para esta operação, além das Companhias de Paraquedistas, também fizeram parte duas Companhias de Comandos Africanos assim como duas Companhias do Exército, as CCAÇ 3399 e 3477, mais a CCAÇ 18 além de um grupo especial do COE. Todas estas forças estavam sob o comando do Tenente-Coronel Paraquedista Araújo e Sá, Comandante do BCP 12, tendo como adjunto o Cap Paraquedista Nuno Mira Vaz.
Todas estas forças estavam organizadas em vários agrupamentos operacionais.
A Operação iniciou-se no dia 27 com o deslocamento de parte dos efectivos a serem colocados por via aérea em Aldeia Formosa e Gadamael Porto, para no dia seguinte serem lançadas várias acções simultâneas na região.
Logo após a helicolocação de dois Grupos de Combate de Parquedistas, estes detectaram um grupo de guerrilheiros com quem tiveram um forte contacto, causando-lhe dois mortos e a captura de 1 Kalashnikov e de 1 LGF-RPG 7 assim como vários carregadores e 4 granadas de RPG 7.
Horas mais tarde este mesmo Agrupamento teve contacto com outro grupo IN, abatendo um dos seus elementos, capturando 1 Metralhadora ligeira Degtyarev e provocando alguns feridos conforme se veio a confirmar pelos vários rastos de sangue existentes no local das suas posições.
10 guerrilheiros e 4 civis mortos na sequência dos bombardeamentos dos Fiat
Entretanto os Paraquedistas que compunham este Agrupamento, vieram a emboscar durante a noite num local perto de uma picada e de uma zona bombardeada pela nossa aviação.
Manhã cedo, 5 horas e pouco, foi levantada a emboscada, seguindo a direcção do local bombardeado na véspera pelos Fiat 91. Nesse local detectámos um acampamento IN, parcialmente destruido. No seu interior encontravam-se 10 guerrilheiros do PAIGC mortos, todos fardados, e 4 civis da população.
O bombardeamento do dia anterior tinha sido feito com grande precisão e rapidez, não dando possibilidade de se protegerem nos vários abrigos subterrâneos que os mesmos aí dispunham.
Passada revista ao aldeamento foi apreendido o seguinte material de guerra,:
- 1 canhão SB-10, com o respectivo aparelho de pontaria;
- 1 morteiro 82 completo;
- 1 bipé de morteiro 82;
- 1 espingarda semiautomática Simonov;
- 1 pistola metralhadora PPSH; 5 granadas de LGF-RPG 7;
- 4 granadas de LGF-RPG 2:
- além de várias peças de fardamento e muitas munições de vários calibres.
Durante a revista, um grupo de guerrilheiros atacou as nossas forças, que prontamente responderam pondo-os em debandada e provocando-lhe mais 1 morto e a perda de 1 Kalashnicov.
No mesmo dia por volta das 14 horas este agrupamento foi visitado na zona de acção pelo Comandante Chefe [gen Spínola].
A actuação dos Comandos Africanos
A 1 de abril [de 1972] outro Agrupamento, formado por três Grupos de Combate de uma das Companhias de Comandos Africanos, detectou um grupo inimigo estimado em cerca de 35 elementos, que se deslocava em direcção à fronteira.
Foi então movida a perseguição, vindo a ter um forte contacto de cerca de 15 minutos, causando-lhe 4 mortos e a apreensão de 2 Kalashnikov assim como vários equipamentos destes elementos abatidos.
Por sua vez outro Agrupamento, este constituído por 2 Grupos de Combate também de uma das Companhias de Comandos Africanos, quando nesse mesmo dia procedia a evacuação de um militar doente, foi atacado por um grupo da força inimiga que, fazendo largo uso de morteiros e LGF-RPG 2 e 7, lhes veio a provocar 1 morto e 5 feridos, embora durante a reacção das nossas tropas os guerrilheiros do PAIGC tenham sofrido 3 mortos e vários feridos e perdido os equipamentos destes.
A 3 de Abril o Agrupamento Onça 0, formado por dois Grupos de Combate da CCP 122, detectou um acampamento na Região do Xitole, onde recolheu 4 granadas de canhão s/recuo e 12 granadas de RPG 2.
Continuada a batida, foi encontrada na zona do Corredor de Missirá, outro acampamento IN, este já abandonado à pressa, onde foram encontradas 5 granadas de RPG 2, 1 carabina Zbrojovska, além de 30 mochilas contendo artigos de fardamento e munições em grandes quantidades.
Foi ainda este Agrupamento que no dia 5 de Abril detectou outro acampamento do PAIGC na região de Guileje, onde foram apreendidas 22 granadas de morteiro 82, 3 de RPG 7 assim como diversos equipamentos com munições.
No dia 8 de Abril foi dada como terminada esta Operação, alcançando os seus principais objectivos, neutralizando a organização que o PAIGC tinha naquela região, pelo menos durante algum tempo, o que viria a acontecer, até porque o PAIGC já possuía algumas estruturas, tais como um hospital e uma Loja do Povo, destruídos pelas nossas tropas na região de Guileje.
Este cenário veio entretanto a ser alterado, porque as forças de guerrilha do PAIGC acabaram por se reorganizar e, passados alguns meses, estavam com uma dinâmica operacional incrível, bastará recordar o que se passou em Guileje e Gadamael um ano depois. Nnguém que passou por aquele sector operacional esquecerá o inferno porque passou...
Balanço das perdas do PAIGC
Nesta grande Operação as Tropas Paraquedistas tinham obtido os seguintes resultados totais: 30 mortos, 17 guerrilheiros feridos e capturados, além de muitos feridos causados durante os vários contactos tidos, capturando também o seguinte material:
1 canhão s/recuo B-10,
1 morteiro 82 completo,
2 metralhadora ligeira Degtyarev,
4 espingardas automáticas Kalashnikov,
2 espingardas semiautomáticas Simonov,
1 espingarda Mauser,
2 pistolas-metralhadoras PPSH (costureirinhas),
1 carabina Zbrojovska,
5 granadas de mão defensivas,
24 granadas de morteiro 82,
22 granadas de RPG 2,
14 granadas de RPG 7,
6 granadas de canhão s/recuo,
2 cunhetes de munições 7,62,
além de muito fardamento e equipamento militar.
Por seu lado a CCP 121 sofreu 2 feridos provocados pela explosão de uma granada da nossa artilharia que rebentou a boca do cano.
Quanto às restantes forças que participaram nesta operação, os Comandos Africanos tiveram 1 morto e 7 feridos.
Louvor ao Batalhão de Paraquedistas 12
O Comandante Operacional das Forças Terrestres Tenente-Coronel Paraquedista Araújo e Sá, no Relatório de Operações, fez uma destacada citação às tropas participantes não pertencentes ao BCP 12, designadamente às duas Companhias de Comandos Africanos e às Companhias de Caçadores 3477, 3399 e CCAÇ 18 pelo seu espírito de missão, assim como aos Pilotos da Força Aérea com saliência para o Alferes Trindade Mota, Piloto de Helicanhão.
Também relacionado com a Op Muralha Quimérica, o Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné concedeu ao Batalhão de Paraquedistas um Louvor que relevava a forma valorosa como, uma vez mais, as Tropas Paraquedistas do BCP 12 se tinham batido neste Teatro de Operações.(2)
Findo este período as nossas forças regressaram em LDG ao BCP 12 para retemperar forças e preparar-se para novas missões.
Victor Tavares
______________
Notas de L.G.
(1) Vd. posts do Victor Tavares:
25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto
9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida
20 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1616: O meu regresso a Guidaje (Victor Tavares, CCP 121)
19 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1613: Com as CCP 121, 122 e 123 em Gadamael, em Junho/Julho de 1973: o outro inferno a sul (Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista)(3)
18 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1610: Ao meu pai, Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista, CCP 121 (Osvaldo Tavares)
8 de Março de 2007 >Guiné 63/74 - P1573: O Victor Tavares, da CCP 121, a caminho de Guidaje, com uma equipa da TVI (Luís Graça)(4)
21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1099: O cemitério militar de Guidaje (Manuel Rebocho, paraquedista)
(2) Vd. poste de 26 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19623: (In)citações (127): A Comissão Especial da ONU e outros embustes… (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav)
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Guiné 63/74 - P1792: Uma dívida de gratidão (Gabriel Gonçalves, ex-1º Cabo Op Cripto, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)
Mensagem do Gabriel Gonçalves (ex-1º cabo cripto da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71):
Camaradas e amigos, editores do blogue:
Foi com bastante satisfação que compareci ao nosso encontro de sábado (1), onde revi a rapaziada do nosso tempo de Bambadinca. Especialmente um deles, que na altura se manifestou para comigo de uma amizade e companheirismo sem par: O José Fernando Almeida, ex-Furriel Miliciano de Transmissões, da CCAÇ 12.
Sobre o Almeida, já em tempos enviei ao editor uma estória que não foi publicada, suponho que se tenha perdido ou então não mereceu esse estatuto. De qualquer modo, torno a enviá-la.
Um abraço
GG
Uma dívida de gratidão
por Gabriel Gonçalves (2)
Cada vez que navego no blogue há lembranças que despertam na minha memória. Uma das coisas que me atormentava era não me lembrar do nome do nosso furriel de transmissões que, em dada altura da comissão, já mais para o fim, me salvou de uma situação por que passei, bastante difícil, pois adoeci gravemente, baixando à enfermaria onde fui tratado pelo Dr. Saraiva e pelos nossos pastilhas.
Era o Almeida, grande amigo, reconheci-o numa foto do blogue. Nessa altura ele era o responsável pela messe de sargentos e oficiais.
Estando eu acamado na enfermaria, fui visitado pelo sargento Piça e pelo primeiro Brito, que chegaram à conclusão que eu estava muito magrinho e que precisava de comer melhor. Comer melhor...
- A comida do refeitório das praças é uma granda merda!!!
- Vamos falar com o Almeida - disseram eles e arrancaram!
Mais tarde voltaram na companhia do Almeida e anunciaram num tom cerimonioso: a partir de agora vais arranchar na messe.
Desde esse dia arranchei na messe e, passado algum tempo, elhorei e tive alta, era ver-me a engordar de dia para dia, ainda por cima comia na cozinha juntamente com os cozinheiros que é onde se come melhor.
São coisas que um gajo não pode esquecer, é nos momentos difíceis que se vê os amigos, jamais lhes poderei agradecer condignamente.
_________
Notas de L.G.:
(1) Vd. pots de 27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1788: Convívios (10): Pessoal de Bambadinca 1968/71: CCS do BCAÇ 2852, CCAÇ 12, Pel Caç Nat 52 e 63 (Luís Graça)
(2) Vd. outros post do Gabriel Gonçalves:
18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1377: CCAÇ 2590/CCAÇ 12: Apresenta-se o 1º Cabo Operador Cripto Gabriel Gonçalves
26 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1464: Oficiais, sargentos e praças: tropa é tropa, uísque é uísque (Gabriel Gonçalves / Luís Graça)
2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1485: Bambadinca revisitada... ou os azares de um operador cripto em fim de carreira (Gabriel Gonçalves, CCAÇ 12)
24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1695: Cancioneiro de Bambadinca: Isto é tão bera (Gabriel Gonçalves)
26 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1700: Bambadinca: Quando a cantiga... era uma arma (Gabriel Gonçalves)
Camaradas e amigos, editores do blogue:
Foi com bastante satisfação que compareci ao nosso encontro de sábado (1), onde revi a rapaziada do nosso tempo de Bambadinca. Especialmente um deles, que na altura se manifestou para comigo de uma amizade e companheirismo sem par: O José Fernando Almeida, ex-Furriel Miliciano de Transmissões, da CCAÇ 12.
Sobre o Almeida, já em tempos enviei ao editor uma estória que não foi publicada, suponho que se tenha perdido ou então não mereceu esse estatuto. De qualquer modo, torno a enviá-la.
Um abraço
GG
Uma dívida de gratidão
por Gabriel Gonçalves (2)
Cada vez que navego no blogue há lembranças que despertam na minha memória. Uma das coisas que me atormentava era não me lembrar do nome do nosso furriel de transmissões que, em dada altura da comissão, já mais para o fim, me salvou de uma situação por que passei, bastante difícil, pois adoeci gravemente, baixando à enfermaria onde fui tratado pelo Dr. Saraiva e pelos nossos pastilhas.
Era o Almeida, grande amigo, reconheci-o numa foto do blogue. Nessa altura ele era o responsável pela messe de sargentos e oficiais.
Estando eu acamado na enfermaria, fui visitado pelo sargento Piça e pelo primeiro Brito, que chegaram à conclusão que eu estava muito magrinho e que precisava de comer melhor. Comer melhor...
- A comida do refeitório das praças é uma granda merda!!!
- Vamos falar com o Almeida - disseram eles e arrancaram!
Mais tarde voltaram na companhia do Almeida e anunciaram num tom cerimonioso: a partir de agora vais arranchar na messe.
Desde esse dia arranchei na messe e, passado algum tempo, elhorei e tive alta, era ver-me a engordar de dia para dia, ainda por cima comia na cozinha juntamente com os cozinheiros que é onde se come melhor.
São coisas que um gajo não pode esquecer, é nos momentos difíceis que se vê os amigos, jamais lhes poderei agradecer condignamente.
_________
Notas de L.G.:
(1) Vd. pots de 27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1788: Convívios (10): Pessoal de Bambadinca 1968/71: CCS do BCAÇ 2852, CCAÇ 12, Pel Caç Nat 52 e 63 (Luís Graça)
(2) Vd. outros post do Gabriel Gonçalves:
18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1377: CCAÇ 2590/CCAÇ 12: Apresenta-se o 1º Cabo Operador Cripto Gabriel Gonçalves
26 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1464: Oficiais, sargentos e praças: tropa é tropa, uísque é uísque (Gabriel Gonçalves / Luís Graça)
2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1485: Bambadinca revisitada... ou os azares de um operador cripto em fim de carreira (Gabriel Gonçalves, CCAÇ 12)
24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1695: Cancioneiro de Bambadinca: Isto é tão bera (Gabriel Gonçalves)
26 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1700: Bambadinca: Quando a cantiga... era uma arma (Gabriel Gonçalves)
Guiné 63/74 - P1791: Convívios (11): 32º encontro da CAÇ 12 (Bambadinca, 1971/73) (Victor Alves)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Finete, regulado do Cuor > 1969: Destacamento de milícias e aldeia em autodefesa de Finete, junto ao Rio Geba, frente a Bambadinca.
Na foto, o autor (furriel miliciano Henriques) e dois dos soldados africanos da CCAÇ 12, do 4º Grupo de Combate, o Soldado Arvorado (mais tarde promovido a 1º cabo) Samba Só e o Soldado Umarú Baldé, apontador de morteiro 60 (na foto, de pé, de cachimbo)...
Na época, quando o conhecemos em Contuboel, em Junho de 1969, na instrução da especialidade, o Puto não teria mais do que 16 anos... Ainda hoje me pergunto quem foi o inconsciente que o admitiu nas fileiras do exército português... O Umaru era uma criança...
O Umaru, o Puto (assinalado com um rectângulo a amarelo), era uma espécie de mascote da companhia...
Depois da independência, terá fugido para o Senegal e alcançado Portugal. Vivia na Amadora, trabalhando nas obras. Morreu há tempos, por doença. Soube-o há dias, com tristeza. O Puto teria hoje 53 ou 54 anos, se fosse vivo.
Foto: © Luís Graça (2005). Direitos reservados.
1. Mensagem do Victor Alves, que foi furriel miliciano vagomestre na CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971/73), o periquito do Jaime, o primeiro vagomestre da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadina, 1969/71).
O Victor, que vive em Santarém, acaba, maravilhado, de descobrir o nosso blogue. Há 32 anos que os nossos periquitos da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971/73) se reunem anualmente, sem a gente (a velhice) saber.
O Victor Alves, o Jaime Pereira (ex-Alf Mil) e outros camaradas de que perdemos o contacto começaram a chegar a Bambadinca em Fevereiro de 1971 para nos render... (Cada um de nós, quadros e especialistas metropolitanos foi rendido individualmente).
No dia 2 de Junho vão realizar o seu 32º almoço de convívio... Aqui fica o programa.
Victor, aparece na nossa tertúlia e entretanto dá um grande abraço ao resto da malta. Diz-lhes que o Puto morreu. Provavelmente de doença ou de saudade do seu chão, Badora... L.G.
Santarém, 14 de Maio de 2007
Companheiros,
Vamos realizar o 32º Almoço da CCAÇ 12
- Dia 2 de JUNHO
-Zona Setúbal
EMENTA
- Entradas: Moscatel, Pão regional, queijo de ovelha, manteigas, azeitonas, etc…
- Peixe: Polvo assado c/ batata a murro e alho c/ azeite da quinta-feira
- Carne: Borrego Assado no Forno c/ batatinhas e Legumes
- Nota: Servido em ½ Doses
- Bebida: Vinhos Branco e Tinto da Casa, Refrigerantes e Águas
- Digestivos: Excluídos
LOCAL:
RESTAURANTE PÉ DE VINHO
Rua dos Trabalhadores da Empresa Setubalense 10
VILA FRESCA DE AZEITÃO
2925-495 AZEITÃO
Telefone: 212 188 048
IMPORTANTE: Preço por pessoa: 20 € (euros)
Contamos com a presença de todos.
Contactos: 93 581 08 98 (Victor Alves); 91 725 50 26 (Jaime Pereira)
Victor Alves
R: Bernardim Ribeiro-38 r/c
2000-202 SANTARÉM
segunda-feira, 28 de maio de 2007
Guiné 63/74 - P1790: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (5): Protecção a uma coluna logística Bula/Có
Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > Além de tecnologicamente ultrapassada, a Panhard era uma vitura blindada que se viria a mostrar completamente inadequada às condições do terreno no TO da Guiné. Noutras zonas havia outro de viaturas blindadas, não menos obsoletas e muitas inoperacionais, por falta de peças sobresselentes... O mínimo que se pode dizer é que, no tempo de Spínola, que era da arma de cavalaria, a nossa cavalaria era de... opereta!... Isto não implica qualquer juízo de menos apreço pela abnegação, competência e valentia dos nossos cavaleiros... Estamos só a constatar um facto: uma boa parte do nosso armamento e equipamento era ferro-velho...
A título informativo, recorde-se aqui a constituição de um Esquadrão de Reconhecimento Fox , como o 2640, que esteve em Bafatá (1969/71). Segundo o testemunho, em tempos já publicado, do nosso camarada Manuel Mata (1), este esquadrão era constituído por: (i) um Pelotão de Comando e Serviços; (ii) três Pelotões de Reconhecimento, equipados com as seguintes viaturas: três Auto Metralhadoras DAIMLER; duas Auto Metralhadoras FOX; um Granadeiro com blindagem lateral sendo a sua guarnição composta por atiradores; um Unimog cuja secção tinha um morteiro 81. (LG).
Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > Coluna em deslocação de Bula para Có.
Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > Apesar das frequentes desmatações das bermas das estradas ou picadas, o capim era quase sempre um elemento presente no cenário de guerra, facilitando as acções de aproximação, simulação e emboscada do IN.
Fotos: © Raul Albino (2007). Direitos reservados.
Quinta parte das memórias de campanha de Raul Albino, ex-alf mil da CCAÇ 2402, pertencente ao BCAÇ 2851 (Có, Mansabá, Olossato, 1968/70), que embarcou no Uíge, em finais de Julho, juntamente com o BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) . Texto enviado em 3 de Maio de 2007 (2). (LG).
Caro Luís,
Após os agradáveis momentos de Pombal, é altura de voltarmos ao activo. Aqui vai o 5º texto das memórias da CCAÇ 2402.
Ainda sobre Pombal e depois de tantos comentários elogiosos e algumas chamadas de atenção, aqui fica um meu apontamento. Quando o Vitor indicou a seguir ao almoço que ia haver uma visita guiada com os automóveis a seguirem em fila, tive um presentimento de que não ia ser fácil o esquema resultar. É que no ano anterior no convívio da CCAÇ 2402 em Figueiró dos Vinhos, o Beja Santos conseguiu que a Câmara cedesse dois autocarros para uma visita semelhante e tudo correu às mil maravilhas. Uma coluna de viaturas não é a mesma coisa e os meus receios de dispersão, infelizmente, vieram a concretizar-se.
Foi uma iniciativa de periquito, que não afectou o global da optima organização do Vitor. Parabéns a ele pelo seu evento. Saudações a todos, Raul Albino.
Protecção a coluna de reabastecimento Bula/Có
por Raul Albino
Esta operação passou-se no dia 24 de Setembro de 1968, tendo como objectivo proteger a coluna de reabastecimentos vinda de Bula para Có. Só mais tarde viria a saber que nessa coluna viajavam também alguns colegas nossos que vinham render aqueles que, por doença ou outra qualquer razão, nos tinham deixado. Será curioso observar os seus relatos do contacto com o inimigo, sobre o ponto de vista de quem fazia parte da própria coluna que estávamos a proteger.
A protecção era constituída pelo 3º pelotão, mais outro pelotão que não recordo qual mas que detinha o comando da operação e ainda alguns milícias nativos. Deslocámo-nos pela manhã de modo a tomarmos posições de protecção. Escolhemos o local mais sensível a emboscadas do inimigo, pelas características do terreno, cheio de capim e mato, cujo historial antecedente apontava para ser um dos pontos preferidos de ataque do inimigo às nossas colunas.
Montámos a protecção colocando as tropas numa linha paralela ao trilho, como podem ver na figura (os desenhos com espinhos são árvores e não rebentamentos), não tão perto do trilho que tornasse a nossa acção inútil, nem tão afastado que se perdesse o contacto com a coluna de veículos.
Mais uma vez o inimigo mostrou uma especial inteligência para aquele tipo de guerrilha, pois às 11.25 h da manhã, quando a coluna de veículos se deslocava à nossa vista, o inimigo desencadeou um ataque com morteiro 60 e armas automáticas ligeiras.
O engenhoso deste ataque é que, devido à grande altura do capim naquela altura do ano, o inimigo conseguiu infiltrar-se entre as nossas tropas de protecção e a própria coluna, iniciando o tiroteio e mudando imediatamente de posição, esperando que a reacção da coluna incidisse sobre as nossas tropas, após a sua rápida retirada desse local.
Essa estratégia quase resultou e me fez passar um dos maiores sustos da guerra. Para minha surpresa vejo a Panhard que seguia junto aos camiões da frente da coluna, avançar ligeiramente pelo interior do mato, rodando a torre do canhão em direcção a mim e aos meus companheiros, pronta a fazer fogo. Logo que me apercebi da manobra, tive de tomar uma opção arrojada, levantei-me sujeito a ser baleado pelo inimigo, gesticulando para o blindado indicando em que direcção o inimigo estava e para onde devia direccionar o tiro.
O meu desespero consistia em saber se dentro da torre do blindado me estavam a ver e se entendiam os meus gestos. Para minha alegria, a torre voltou a girar, agora na direcção correcta e os seus disparos começaram a fazer debandar o inimigo, frustrando-lhes a esperança de verem as nossas tropas aos tiros entre si. Bem vistas as coisas, não me restava outra alternativa senão arriscar, pois entre um tiro do inimigo e uma granada da Panhard não ficava grande escolha.
A acção das Panhard também aqui se mostrou ser mais um elemento dissuasor do que verdadeiramente uma arma de grande efeito sobre o inimigo. Senão vejamos, era um blindado ligeiro, como podem ver na foto acima, com um pequeno canhão lança-granadas e uma ou duas metralhadoras, possuindo rodas grandes em pneu e aqui consistia a sua principal fraqueza. Os pneus davam-lhe ligeireza, mas não tinham sido concebidos para aquele terreno, impedindo-os de entrarem pelo mato dentro.
Quando deste ataque, as bermas do caminho tinham sido desmatadas, mas os tocos aguçados do mato cortado estavam por todo o lado e eram o principal inimigo para os pneus destas unidades, impedindo-as de ir muito longe. Aliás, esta fraqueza tornou-se rapidamente patente com a degradação dos pneus, levando à paralisação continuada de viaturas, para ceder os seus pneus às que se mantinham no activo. Devido à enorme dificuldade de reposição de peças de substituição para aqueles veículos de tecnologia ultrapassada, creio mesmo que com o tempo e uso, acabaram todos por ficar inoperacionais.
Mais tarde, pelas 13,45 horas, quando do regresso das viaturas a Bula, o inimigo efectuou outra emboscada à coluna, desta feita já sem protecção das nossas tropas no terreno. No entanto as nossas tropas, que acompanhavam a coluna, responderam ao fogo, continuando o seu avanço e pondo em fuga o inimigo, sem que este tivesse causado qualquer dano material ou humano.
Curiosamente, neste mesmo dia, seguiria o 1º Pelotão, comandado pelo Alferes Brito, com destino à Ilha de Jete [, ao largo de Caió, a sudoeste de Teixeira Pinto, ] para aí instalar um posto de protecção àquela zona geográfica da Guiné.
Visão (e texto) do militar Carlos Nascimento Silva Pereira que integrava a coluna atacada:
Eu fui para a Guiné alguns meses mais tarde do que a restante companhia, devido a ter sido sujeito a uma intervenção cirúrgica no hospital militar.
Lembro-me do dia em que cheguei e estava em Bula com uma escolta à minha espera e a mais dois colegas para seguirmos todos juntos para Có. Em Bula o 1º sargento deu-me a sua arma e cartucheiras. No trajecto para Có, fomos atacados pelos 'Turras'.
Eu ia em cima de uma viatura Unimog com mais alguns camaradas e atirámo-nos para o chão, tendo caído dentro de um buraco cheio de formigas enormes. Quando me apercebi que estava a ficar coberto de formigas, saltei fora do buraco e escondi-me por detrás de uma árvore, ficando os meus camaradas dentro a serem mordidos pelas formigas. Quando olho para o lado apercebi-me de outro camarada (condutor) escondido atrás da viatura às gargalhadas perante a nossa aflição.
No meio de tanta aflição procurei 'dar fogo' ao inimigo mas não conseguia, só mais tarde me apercebendo que tinha a arma em segurança. Como resultado de terem ficado dentro do buraco, os meus camaradas tiveram de receber tratamento.
Carlos N. S. Pereira
___________
Nota do autor (R.A.):
Nalguns textos que virei a enviar ao blogue, torna-se interessante observarmos os depoimentos de militares que, estando presentes no mesmo acontecimento, o viram com outros olhos e outra perspectiva, contribuindo para um relato mais rico e pormenorizado. Pena que nem todos tivessem respondido ao meu repto, uns por não terem jeito para a escrita, outros porque ainda temem tocar nestes assuntos que eles fizeram por esquecer. Imaginem um ataque ao quartel visto de vários ângulos e descrito por vários intervenientes … Parece um filme com várias câmaras.
____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 25 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) (Manuel Mata) (3)
(2) V d. post anteriores:
15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1282: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (1): duas baixas de vulto, Beja Santos e Medeiros Ferreira
6 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1343: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (2): O primeiro ataque ao quartel de Có, os primeiros revezes do IN
12 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1516: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (3): Combatentes, trolhas e formigas bagabaga
13 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1658: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (4): Uma emboscada em Catora e um Lobo Mau pouco predador
A título informativo, recorde-se aqui a constituição de um Esquadrão de Reconhecimento Fox , como o 2640, que esteve em Bafatá (1969/71). Segundo o testemunho, em tempos já publicado, do nosso camarada Manuel Mata (1), este esquadrão era constituído por: (i) um Pelotão de Comando e Serviços; (ii) três Pelotões de Reconhecimento, equipados com as seguintes viaturas: três Auto Metralhadoras DAIMLER; duas Auto Metralhadoras FOX; um Granadeiro com blindagem lateral sendo a sua guarnição composta por atiradores; um Unimog cuja secção tinha um morteiro 81. (LG).
Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > Coluna em deslocação de Bula para Có.
Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > Apesar das frequentes desmatações das bermas das estradas ou picadas, o capim era quase sempre um elemento presente no cenário de guerra, facilitando as acções de aproximação, simulação e emboscada do IN.
Fotos: © Raul Albino (2007). Direitos reservados.
Quinta parte das memórias de campanha de Raul Albino, ex-alf mil da CCAÇ 2402, pertencente ao BCAÇ 2851 (Có, Mansabá, Olossato, 1968/70), que embarcou no Uíge, em finais de Julho, juntamente com o BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) . Texto enviado em 3 de Maio de 2007 (2). (LG).
Caro Luís,
Após os agradáveis momentos de Pombal, é altura de voltarmos ao activo. Aqui vai o 5º texto das memórias da CCAÇ 2402.
Ainda sobre Pombal e depois de tantos comentários elogiosos e algumas chamadas de atenção, aqui fica um meu apontamento. Quando o Vitor indicou a seguir ao almoço que ia haver uma visita guiada com os automóveis a seguirem em fila, tive um presentimento de que não ia ser fácil o esquema resultar. É que no ano anterior no convívio da CCAÇ 2402 em Figueiró dos Vinhos, o Beja Santos conseguiu que a Câmara cedesse dois autocarros para uma visita semelhante e tudo correu às mil maravilhas. Uma coluna de viaturas não é a mesma coisa e os meus receios de dispersão, infelizmente, vieram a concretizar-se.
Foi uma iniciativa de periquito, que não afectou o global da optima organização do Vitor. Parabéns a ele pelo seu evento. Saudações a todos, Raul Albino.
Protecção a coluna de reabastecimento Bula/Có
por Raul Albino
Esta operação passou-se no dia 24 de Setembro de 1968, tendo como objectivo proteger a coluna de reabastecimentos vinda de Bula para Có. Só mais tarde viria a saber que nessa coluna viajavam também alguns colegas nossos que vinham render aqueles que, por doença ou outra qualquer razão, nos tinham deixado. Será curioso observar os seus relatos do contacto com o inimigo, sobre o ponto de vista de quem fazia parte da própria coluna que estávamos a proteger.
A protecção era constituída pelo 3º pelotão, mais outro pelotão que não recordo qual mas que detinha o comando da operação e ainda alguns milícias nativos. Deslocámo-nos pela manhã de modo a tomarmos posições de protecção. Escolhemos o local mais sensível a emboscadas do inimigo, pelas características do terreno, cheio de capim e mato, cujo historial antecedente apontava para ser um dos pontos preferidos de ataque do inimigo às nossas colunas.
Montámos a protecção colocando as tropas numa linha paralela ao trilho, como podem ver na figura (os desenhos com espinhos são árvores e não rebentamentos), não tão perto do trilho que tornasse a nossa acção inútil, nem tão afastado que se perdesse o contacto com a coluna de veículos.
Mais uma vez o inimigo mostrou uma especial inteligência para aquele tipo de guerrilha, pois às 11.25 h da manhã, quando a coluna de veículos se deslocava à nossa vista, o inimigo desencadeou um ataque com morteiro 60 e armas automáticas ligeiras.
O engenhoso deste ataque é que, devido à grande altura do capim naquela altura do ano, o inimigo conseguiu infiltrar-se entre as nossas tropas de protecção e a própria coluna, iniciando o tiroteio e mudando imediatamente de posição, esperando que a reacção da coluna incidisse sobre as nossas tropas, após a sua rápida retirada desse local.
Essa estratégia quase resultou e me fez passar um dos maiores sustos da guerra. Para minha surpresa vejo a Panhard que seguia junto aos camiões da frente da coluna, avançar ligeiramente pelo interior do mato, rodando a torre do canhão em direcção a mim e aos meus companheiros, pronta a fazer fogo. Logo que me apercebi da manobra, tive de tomar uma opção arrojada, levantei-me sujeito a ser baleado pelo inimigo, gesticulando para o blindado indicando em que direcção o inimigo estava e para onde devia direccionar o tiro.
O meu desespero consistia em saber se dentro da torre do blindado me estavam a ver e se entendiam os meus gestos. Para minha alegria, a torre voltou a girar, agora na direcção correcta e os seus disparos começaram a fazer debandar o inimigo, frustrando-lhes a esperança de verem as nossas tropas aos tiros entre si. Bem vistas as coisas, não me restava outra alternativa senão arriscar, pois entre um tiro do inimigo e uma granada da Panhard não ficava grande escolha.
A acção das Panhard também aqui se mostrou ser mais um elemento dissuasor do que verdadeiramente uma arma de grande efeito sobre o inimigo. Senão vejamos, era um blindado ligeiro, como podem ver na foto acima, com um pequeno canhão lança-granadas e uma ou duas metralhadoras, possuindo rodas grandes em pneu e aqui consistia a sua principal fraqueza. Os pneus davam-lhe ligeireza, mas não tinham sido concebidos para aquele terreno, impedindo-os de entrarem pelo mato dentro.
Quando deste ataque, as bermas do caminho tinham sido desmatadas, mas os tocos aguçados do mato cortado estavam por todo o lado e eram o principal inimigo para os pneus destas unidades, impedindo-as de ir muito longe. Aliás, esta fraqueza tornou-se rapidamente patente com a degradação dos pneus, levando à paralisação continuada de viaturas, para ceder os seus pneus às que se mantinham no activo. Devido à enorme dificuldade de reposição de peças de substituição para aqueles veículos de tecnologia ultrapassada, creio mesmo que com o tempo e uso, acabaram todos por ficar inoperacionais.
Mais tarde, pelas 13,45 horas, quando do regresso das viaturas a Bula, o inimigo efectuou outra emboscada à coluna, desta feita já sem protecção das nossas tropas no terreno. No entanto as nossas tropas, que acompanhavam a coluna, responderam ao fogo, continuando o seu avanço e pondo em fuga o inimigo, sem que este tivesse causado qualquer dano material ou humano.
Curiosamente, neste mesmo dia, seguiria o 1º Pelotão, comandado pelo Alferes Brito, com destino à Ilha de Jete [, ao largo de Caió, a sudoeste de Teixeira Pinto, ] para aí instalar um posto de protecção àquela zona geográfica da Guiné.
Visão (e texto) do militar Carlos Nascimento Silva Pereira que integrava a coluna atacada:
Eu fui para a Guiné alguns meses mais tarde do que a restante companhia, devido a ter sido sujeito a uma intervenção cirúrgica no hospital militar.
Lembro-me do dia em que cheguei e estava em Bula com uma escolta à minha espera e a mais dois colegas para seguirmos todos juntos para Có. Em Bula o 1º sargento deu-me a sua arma e cartucheiras. No trajecto para Có, fomos atacados pelos 'Turras'.
Eu ia em cima de uma viatura Unimog com mais alguns camaradas e atirámo-nos para o chão, tendo caído dentro de um buraco cheio de formigas enormes. Quando me apercebi que estava a ficar coberto de formigas, saltei fora do buraco e escondi-me por detrás de uma árvore, ficando os meus camaradas dentro a serem mordidos pelas formigas. Quando olho para o lado apercebi-me de outro camarada (condutor) escondido atrás da viatura às gargalhadas perante a nossa aflição.
No meio de tanta aflição procurei 'dar fogo' ao inimigo mas não conseguia, só mais tarde me apercebendo que tinha a arma em segurança. Como resultado de terem ficado dentro do buraco, os meus camaradas tiveram de receber tratamento.
Carlos N. S. Pereira
___________
Nota do autor (R.A.):
Nalguns textos que virei a enviar ao blogue, torna-se interessante observarmos os depoimentos de militares que, estando presentes no mesmo acontecimento, o viram com outros olhos e outra perspectiva, contribuindo para um relato mais rico e pormenorizado. Pena que nem todos tivessem respondido ao meu repto, uns por não terem jeito para a escrita, outros porque ainda temem tocar nestes assuntos que eles fizeram por esquecer. Imaginem um ataque ao quartel visto de vários ângulos e descrito por vários intervenientes … Parece um filme com várias câmaras.
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 25 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) (Manuel Mata) (3)
(2) V d. post anteriores:
15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1282: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (1): duas baixas de vulto, Beja Santos e Medeiros Ferreira
6 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1343: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (2): O primeiro ataque ao quartel de Có, os primeiros revezes do IN
12 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1516: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (3): Combatentes, trolhas e formigas bagabaga
13 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1658: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (4): Uma emboscada em Catora e um Lobo Mau pouco predador
Guiné 63/74 - P1789: Blogues que nos citam (2): Amante da Rosa ou a Geração das Flores da Revolução de Bissau
Amante da Rosa > "Meu Cabo Verde. História e Estórias. Minhas raízes, família e recordações. A Guiné. Pensamentos e Imagens. Sem ordem cronológica".
1. Um blogue no feminino. Carla. Cabo Verde. Ilha de Santiago. Praia... A Carla é filha do nosso amigo e camarada Manuel Amante (1) e, espero, futuro membro da nossa tertúlia ou Tabanca Grande....
Muito ouvimos nós, a geração das Flores da Revolução de Bissau, falar da luta da libertação nacional que decorreu nas matas da Guiné e dos nossos bravos combatentes e libertadores da pátria amada que lutaram corajosamente contra os tugas colonizadores (assim era a linguagem, não há enganos). Enfim... Jovens cheios de ideais nobres que combateram contra outros jovens, alguns renitentes e outros "impregnados ainda dos ideais de um império moribundo" como alguém me disse.
A parte dos combates foi sempre muito abstracta e idealizada na minha mente. Uma de mistura de memórias de criança com imagens do filme "Mortu Nega" e uns salpicos daquelas elipses convenientemente cinematográficas, onde se leva o espectador directamente para o que interessa, sendo dispensado de ver a parte chata e, sobretudo, sem aflorar a tragédia que está por detrás da rotina dos acontecimentos. Gostaria de poder acreditar que, da minha parte, foi uma negação mascarada de ingenuidade.
Mas... e o concreto? O sangue, os massacres de populações civis indefesas, os fuzilamentos, as luta corpo a corpo? As situações mórbidas que poucos têm coragem de perguntar e que, muitos dos que levaram a cabo essas acções, não gostariam de se lembrar?
Há blogs engraçados, curiosos, originais e há blogs que me provocam, literalmente, uma reacção orgânica qualquer que não consigo explicar. O blogueforanadaevaotres editado por Luís Graça é um deles. Narrado quase sempre na primeira pessoa, relata o historial da guerra na Guiné e como foi vivido pelos portugueses. Está tudo lá! São descrições, factos e memórias impressionantes. Conforme ia lendo só me ocorria uma palavra - Catarse.
Não se consegue ler tudo de uma vez e o que se vai descobrindo arrepia. Arrepia a estória de Uloma, o comando africano “caçador de cabeças”. Sobressalta o alegado número de fuzilados que o historiador Leopoldo Amado avança e surpreende saber que o Supervisor da 1ª. Companhia de Comandos Africanos e Director de Instrução de Cursos de Comandos em Fá Mandinga, que se chamava Octávio Manuel Barbosa Henriques, nasceu em 18 de Novembro de 1938, na Freguesia de Nª. Sr.ª da Conceição, ilha do Fogo.É o outro lado e há muito a descobrir...
Já agora... Recomendo a visita a esta página, também no mesmo blog, que tem informações interessantes sobre a força expedicionária portuguesa em que passou por São Vicente durante a II Guerra mundial.
Etiquetas: Descendentes de Caboverdeanos, Estórias, Fogo, Guiné, História, São Vicente
2. Este post suscitou dois comentários: o primeiro é de alguém que, francamente, fez uma leitura muita apressada do nosso blogue (por onde já passaram mais de centena e meia de homens e mulheres e onde já se publicaram, em dois anos, cerca de 1800 textos, fora os milhares de imagens)... É de alguém que faz juízos de valor apressados e nem sequer leu (ou entendeu) as dez normas de conduta que norteiam o nosso blogue. Blogue que de resto não é dele, do tuga Luís Graça, é de um colectivo, de gente de grande generosidade, que ama a Guiné e o seu povo, que historicamente fez a guerra colonial, e que luta hoje pelo direito à memória... Ora ninguém pode viver sem memória, indivíduos ou povos... E a memória, tanto dos vencidos como dos vencedores, é sempre (re)construída...
É gente que tem nome, que pensa pela sua cabeça, que é cultural, ideológica e politicamente plural, e que até é capaz de pequenos gestos solidários como, por exemplo, estar hoje, às 10 hora da manhã, na Reitoria da Universidade de Lisboa, para apoiar, abraçar e escutar um dos seus, o lusoguineense Leopoldo Amado, a defender a sua tese de doutoramento em História Contemporânea > Guerra colonial 'versus' guerra de libertação: o caso da Guiné-Bissau... E muitos outros não puderam estar, porque vivem longe ou têm os seus inadiáveis afazares profissionais... Em representação da nossa Tabanca Grande estavam lá, além de mim, o João Tunes, o José Martins, o Carlos Fortunato, o António Santos e o Hugo Moura Ferreira (espero não ter omitido ninguém)... Sem contar os amigos e familiares do Leopoldo, pois claro... (LG)
hiena disse...
Por acaso passei há dias nesse blog (foranada...etc) , e fiquei sabendo algumas coisas - o outro lado... Claro que senti a escrita dele um pouco suspeita, naturalmente puxa a brasa pra sua sardinha, fiquei com a impressão que era americano que contava seus feitos heróicos no Vietnam, tipo foram os outros e não nôs, muito romântico... Ficou a dúvida mas essa sempre estará presente pois as guerras têm sempre duas verdades ! Qual será a mais verdadeira ? Nunca saberemos! By the way , continua ...
5/15/2007 11:37 AM
Anónimo disse...
É ainda mais difícil saber onde está a verdade porque um dos lados se recusa a falar sobre o assunto.
5/16/2007 8:23 AM
____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...
(2) Vd. post anterior desta série > 22 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1777: Blogues que nos citam (1): Rumos e Culturas, de Carlos Palmeiro
1. Um blogue no feminino. Carla. Cabo Verde. Ilha de Santiago. Praia... A Carla é filha do nosso amigo e camarada Manuel Amante (1) e, espero, futuro membro da nossa tertúlia ou Tabanca Grande....
Com a devida vénia, transcrevo este post recente que fala de nós, Luís Graça & Camaradas da Guiné (2):
Terça-feira, Maio 08, 2007 > Blogueforanada - sem palavras.Muito ouvimos nós, a geração das Flores da Revolução de Bissau, falar da luta da libertação nacional que decorreu nas matas da Guiné e dos nossos bravos combatentes e libertadores da pátria amada que lutaram corajosamente contra os tugas colonizadores (assim era a linguagem, não há enganos). Enfim... Jovens cheios de ideais nobres que combateram contra outros jovens, alguns renitentes e outros "impregnados ainda dos ideais de um império moribundo" como alguém me disse.
A parte dos combates foi sempre muito abstracta e idealizada na minha mente. Uma de mistura de memórias de criança com imagens do filme "Mortu Nega" e uns salpicos daquelas elipses convenientemente cinematográficas, onde se leva o espectador directamente para o que interessa, sendo dispensado de ver a parte chata e, sobretudo, sem aflorar a tragédia que está por detrás da rotina dos acontecimentos. Gostaria de poder acreditar que, da minha parte, foi uma negação mascarada de ingenuidade.
Mas... e o concreto? O sangue, os massacres de populações civis indefesas, os fuzilamentos, as luta corpo a corpo? As situações mórbidas que poucos têm coragem de perguntar e que, muitos dos que levaram a cabo essas acções, não gostariam de se lembrar?
Há blogs engraçados, curiosos, originais e há blogs que me provocam, literalmente, uma reacção orgânica qualquer que não consigo explicar. O blogueforanadaevaotres editado por Luís Graça é um deles. Narrado quase sempre na primeira pessoa, relata o historial da guerra na Guiné e como foi vivido pelos portugueses. Está tudo lá! São descrições, factos e memórias impressionantes. Conforme ia lendo só me ocorria uma palavra - Catarse.
Não se consegue ler tudo de uma vez e o que se vai descobrindo arrepia. Arrepia a estória de Uloma, o comando africano “caçador de cabeças”. Sobressalta o alegado número de fuzilados que o historiador Leopoldo Amado avança e surpreende saber que o Supervisor da 1ª. Companhia de Comandos Africanos e Director de Instrução de Cursos de Comandos em Fá Mandinga, que se chamava Octávio Manuel Barbosa Henriques, nasceu em 18 de Novembro de 1938, na Freguesia de Nª. Sr.ª da Conceição, ilha do Fogo.É o outro lado e há muito a descobrir...
Já agora... Recomendo a visita a esta página, também no mesmo blog, que tem informações interessantes sobre a força expedicionária portuguesa em que passou por São Vicente durante a II Guerra mundial.
Etiquetas: Descendentes de Caboverdeanos, Estórias, Fogo, Guiné, História, São Vicente
2. Este post suscitou dois comentários: o primeiro é de alguém que, francamente, fez uma leitura muita apressada do nosso blogue (por onde já passaram mais de centena e meia de homens e mulheres e onde já se publicaram, em dois anos, cerca de 1800 textos, fora os milhares de imagens)... É de alguém que faz juízos de valor apressados e nem sequer leu (ou entendeu) as dez normas de conduta que norteiam o nosso blogue. Blogue que de resto não é dele, do tuga Luís Graça, é de um colectivo, de gente de grande generosidade, que ama a Guiné e o seu povo, que historicamente fez a guerra colonial, e que luta hoje pelo direito à memória... Ora ninguém pode viver sem memória, indivíduos ou povos... E a memória, tanto dos vencidos como dos vencedores, é sempre (re)construída...
É gente que tem nome, que pensa pela sua cabeça, que é cultural, ideológica e politicamente plural, e que até é capaz de pequenos gestos solidários como, por exemplo, estar hoje, às 10 hora da manhã, na Reitoria da Universidade de Lisboa, para apoiar, abraçar e escutar um dos seus, o lusoguineense Leopoldo Amado, a defender a sua tese de doutoramento em História Contemporânea > Guerra colonial 'versus' guerra de libertação: o caso da Guiné-Bissau... E muitos outros não puderam estar, porque vivem longe ou têm os seus inadiáveis afazares profissionais... Em representação da nossa Tabanca Grande estavam lá, além de mim, o João Tunes, o José Martins, o Carlos Fortunato, o António Santos e o Hugo Moura Ferreira (espero não ter omitido ninguém)... Sem contar os amigos e familiares do Leopoldo, pois claro... (LG)
hiena disse...
Por acaso passei há dias nesse blog (foranada...etc) , e fiquei sabendo algumas coisas - o outro lado... Claro que senti a escrita dele um pouco suspeita, naturalmente puxa a brasa pra sua sardinha, fiquei com a impressão que era americano que contava seus feitos heróicos no Vietnam, tipo foram os outros e não nôs, muito romântico... Ficou a dúvida mas essa sempre estará presente pois as guerras têm sempre duas verdades ! Qual será a mais verdadeira ? Nunca saberemos! By the way , continua ...
5/15/2007 11:37 AM
Anónimo disse...
É ainda mais difícil saber onde está a verdade porque um dos lados se recusa a falar sobre o assunto.
5/16/2007 8:23 AM
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...
(2) Vd. post anterior desta série > 22 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1777: Blogues que nos citam (1): Rumos e Culturas, de Carlos Palmeiro
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