(2005). Direitos reservados.
Texto enviado - como sempre, religiosamente, semanalmente, a tempo - pelo nosso camarada
Beja Santos (ex-Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 52,
Missirá e Bambadinca, 1968/70), em 20 de Novembro de 2007:
Luís, aqui vai mais um episódio. Num instante, chegámos às 70 páginas, mas não tenho ilusões o pior está para vir, viveremos tu e eu a
Tigre Vadio nesse Março onde realizei as principais operações destes nossos livros. Quanto às ilustrações, vou enviar-te os três livros aqui citados, a fotografia que te enviei ontem do
Doutor farás o favor de a publicar no episódio da morte do Uam Sambu. Como aqui refiro locais altamente frequentados pela CCAÇ 12, vê, por favor, se podes ilustrar com elementos que te são próximos. A seguir vou falar da operação
Lua Nova, em que andei com gente de Mansambo e do Xime e mais tarde tu e eu faremos a operação
Punhal Resistente, um fiasco espantoso que tem a ver com a incapacidade de se escolherem guias e itinerários possíveis. Um grande abraço do Mário
Operação Macaréu à Vista - Parte II > Episódio nº 16 > AQUELE DEZEMBRO ACIZENTADO E ACIDENTADO, TODO NÓMADA (1)
por Beja Santos
(i) Conversas com o Queta e com o Pires
Dezembro pareceu-me um tempo em que as forças do PAIGC convergiam para desarticular metodicamente a vida civil à volta de Bambadinca: intimidação com incêndio de moranças, roubos de vacas, assaltos a tabancas, respondendo nós com idas a Mero e aos Nhabijões, percorrendo as tabancas a sueste de Bambadinca, instalando-nos na ponte de Udunduma, patrulhando assiduamente
Amedalai-Demba Taco-Moricanhe.
Se tínhamos vida nómada no Cuor, na região de Bambadinca acelerámos. Porque para além da nomadização, fizemos colunas aos Xitole, operações na região de Mansambo e Xime-Ponta do Inglês, mantiveram-se as malfadadas emboscadas à volta da pista, com a aproximação do Natal passámos a ir ao Bambadincazinho e a ficar até as 6h da manhã na missão do sono.
Escreve-se na história da CCAÇ 12 que houve, neste período, acções de intimidação contra as populações de Canxicame, Nhabijão Bedinca e Bissaque. Diz-se mais: que foi reforçado o dispositivo defensivo de Bambadinca com emboscada diária, mais um grupo de combate no Bambadincazinho, etc e tal, tudo se fazia para travar a aproximação de Bambadinca, quer a partir da região do Buruntoni quer a partir da região de Galo Corubal. Precisava da interpretação do fenómeno, não encontro elementos nas minhas cartas, pedi para conversar com o Queta e com o Pires.
Como sempre, o Queta entrou-me bem acordado, mal passava das 8 horas da manhã, sentou-se com o seu copo de água bem à mão, li-lhe os relatos das intrusões à volta de Bambadinca e as notas que tinha tirado das operações a Mansambo e ao Xitole. O Queta levantou o dedo, e logo me calei:
- Nosso alfero, do lado do Cuor, queriam roubar comida porque estavam com fome. Os balantas tinham imensos amigos nos Nhabijões, não foi o reordenamento que lhes meteu medo. Despiam a farda amarela antes de chegar à tabanca, punham um pano à volta do corpo, nos mercados de Bambadinca ninguém se atrevia a perguntar de onde vinham. Entre Bambadinca e Mansambo era diferente. O PAIGC queria montar uma barraca entre Mansambo e Sinchã Mamajâ. Mesmo em Badora, à volta de Madina Bonco, tentaram levar a população mandinga para o mato. Não descansaram, sempre quiseram montar barraca para cercar Bambadinca e fazer fugir todo o povo de Badora, impedindo as culturas na região de Galomaro. Estou à vontade para dizer isto pois nos Comandos, em 72 e 73, fomos várias vezes destruir barracas, eles voltavam para Galo Corubal, faziam a guerrilha a sério. O povo dos Nhabijões nunca nos foi fiel. Nós fazíamos patrulhas, eles recorriam ao bombolom, avisavam as gentes de Madina. Por isso não lhes convinha atacar os Nhabijões, onde não havia quartel, só arame farpado, nós dormíamos nas casas já feitas, nas moranças da antiga tabanca. Mas quando nosso alfero partiu, o PAIGC já estava a lançar o terror, houve minas na estrada e aumentaram os roubos. Quero também lembrar-lhe que recebemos em Dezembro o soldado Jali Quebá, da tabanca de Bricama, ele fora recusado nos Comandos, fazia-lhe continência a dez metros de distância.
Tomei igualmente nota das suas recordações à volta das operações Lua Nova e Punhal Resistente, em que participámos nesse mês de Dezembro.
Foto: ©
Beja Santos (2007). (Com a devida vénia ao Pires, que facultiu esta e outras fotos). Direitos reservados.
(ii) Em Bambadinca havia uma parte da tropa que pareciam funcionários públicos (Ex-Fur Mil Pires)
Voltei a encontrar o Pires na Livraria Barata, em Lisboa. Continua meticuloso como sempre foi, não há uma ponta de azedume, às vezes sinto que o estou a violentar, o Pires tinha deliberado arrumar no fundo da memória quase tudo quanto vivemos juntos no leste da Guiné. Li-lhe os meus apontamentos, referi-lhe o meu princípio de depressão e a perda de energia que me vai levar, em Janeiro, a um tratamento em Bissau. O Pires trazia outro tipo de reflexões:
-Eu também me habituei muito mal a Bambadinca. Em Missirá não havia todas aquelas continências, nem aquela sensação paradoxal que a guerra acabava às cinco horas da tarde para a maior parte do quartel. Em Missirá havia o quartel e a tabanca tudo junto, em Bambadinca saíamos a qualquer hora mas havia um parte da tropa que pareciam funcionários públicos, tinham coisas para fazer a partir das oito da manhã e saíam dos escritórios e das oficinas e quase que mudavam de existência até ao amanhecer. De tudo o que se passou durante esse tempo, recordo a tal ponte de Udunduma com abrigos em pontos elevados, com uma total visibilidade a toda a volta, dormíamos nuns buracos com camas e mosquiteiros, para poder dormir púnhamos o Lion Brand para afugentar os mosquitos. Picávamos a estrada até Amedalai e mesmo até às outras tabancas. O refeitório era um espaço mal protegido por chapa zincada, maior desconforto não havia. Missirá era um hotel em comparação com a vida que levávamos nessa ponte. Fazíamos a manutenção dos abrigos térreos e depois pôs-se arame farpado à volta. Era um dia a dia sem parança, uma secção para o correio, duas para as emboscadas, uma secção reforçada para ir às tabancas à volta. Sim, no princípio de Dezembro, a sua saúde foi-se abaixo.
(iii) Uma actividade a toda extensão, a 360 graus
A 2 de Dezembro [de 1969], saio de novo com duas secções, anoiteceu e caminhamos à volta da pista de aviação, sinto uma angústia enorme, andamos às voltas, a iluminação é tão forte que as nossas sombras se projectam no saibro barrento. Depois de cirandar à procura de uma mata protectora que não existe, caminhamos para a estrada que leva ao Rio Udunduma, aí estacionamos com duas sentinelas convenientemente vigilantes nos dois extremos. É então que sinto um suor anormal, um formigueiro nos lábios, uma sobrecarga no coração, não sei se é náusea, não sei se vou desmaiar, a espingarda tomba-me, onde a noite está cerrada e conciliadora atiro-me para a frente, à procura de um sono protector que me mitigue este sofrimento, quem me segura é Tunca Sanhá e Nhaga Macque. A 5, a viver uma nova crise epistolar, escrevo à Cristina:
“Estou doente, doente do organismo parasitado, ando vergado pela falta de temperatura, tenho a tensão desnivelada, sofro de grandes estados de ansiedade, Agora é o Pires quem vai às emboscadas, pois nem essa actividade posso ter, dias atrás tive de interromper uma emboscada devido às dores no coração. O Vidal Saraiva veio ver-me à enfermaria, auscultou-me e disse-me que eu tinha manifestações de puro cansaço, obrigou-me a dois dias inteiros na cama ou em actividades burocráticas.
"Os meus soldados vieram para Bambadinca como pau para toda a obra, reforços, escoltas, emboscadas, patrulhas e uma intervenção que lembra uma variante da polícia militar junto das populações civis que são visitadas pelos guerrilheiros. Mas amanhã vou numa coluna ao Xitole, depois volto ao Joladu, à região de Mero e S. Helena, as gentes de Madina roubam e espancam a sua fonte de abastecimento, não percebo porquê.”
Mudando de tom, falo das minhas banalidades: que li o Trópico de Câncer, de Henry Miller, surpreendeu-me a carga erótica; que continuo a coligir os meus apontamentos no caderninho viajante; que almocei hoje com o capitão Neves, sei que em breve estaremos juntos numa operação, mas não sei onde; que Bolama foi atacada com mísseis; que estou a pensar no seu Natal, e encomendei uma pulseira mandinga a um artista de nome Amadu, primo daquele Amadu que encontrámos ao pé de Canturé, nadara em fuga de um barco atacado à bazucada perto de S. Belchior, e aparecera-nos com o pavor nos olhos e na fala; que fui a Sinchã Mamajâ fazer psico, trouxe doentes, levei arroz e livros para as crianças, fatalmente que perguntei se os bandidos andam a roubar vacas; e despeço-me voltando a pedir-lhe que visite o Alcino Barbosa nos serviços de ortopedia no Hospital Militar Principal, e deixo o pior para o fim, segundo o tenente Pinheiro, quem, como eu, foi punido em Agosto, terminando a sua comissão no ano seguinte, não terá direito a férias no ano seguinte, e manifesto todo o meu pesar no nosso amor maltratado, mas ainda com confiança em visitar Lisboa em Fevereiro.
Guiné > Zona Leste > Sector L1 >
Estrada de Bambadinca-Mansambo-Xitole > Ponte do Rio Jagarajá (?) > CCAÇ 2590/ CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)> Eu, o então Fur Mil Ap Armas Pesadas Inf Henriques, pau para toda a obra,como o Beja Santos,
pião de nicas - como me chamava o meu capitão - e o soldado condutor auto-rodas Dalot, o Diniz G. Dalot, talvez o melhor condutor de GMC do mundo ou, pelo menos, o melhor que eu alguma vez conheci... O Setúbal, como lhe chama aqui, nesta crónica, o Beja Santos.
Berliet e GMC nas mãos dele, carregadas de sacos de arroz, não ficavam atoladas na famosa estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole, a menos que rebentassem debaixo de uma mina. E mesmo assim, era preciso que os cabos de aço ou os troncos das árvores não aguentassem... Eu dizia que era preciso ser maluco para conduzir uma GMC. Ele ofendia-se: era o mais profissional dos nossos condutores auto-rodas...
Reguila, setubalense, condutor de pesados na vida civil, apanhou logo no princípio da comissão, em Julho de 1969, cinco dias de detenção. Por ser reguila, setubalense, condutor de pesados, descendente de franceses, e se calhar por ser o melhor condutor de GMC que eu alguma vez vi na vida... Já há tempos lhe mandei, em vão, esta missiva: "Gostava de te rever, Dalot. Sinceramente, gostava de te rever. Tu fazes parte da mítica galeria dos meus (anti)-heróis, tu e todos os bravos soldados condutores auto-rodas que passaram pela Guiné" (2)... (LG).
Foto e legenda: ©
Luís Graça (2005). Direitos reservados.
(iv) No comando de uma coluna logística ao Xitole
Comandar uma coluna ao Xitole era uma completa novidade para mim. A partir das cinco da manhã, dezenas de viaturas formam coluna junto à porta de armas, a cauda vem até à ladeira íngreme do quartel. Com o auxílio do Pires, do Benjamim e do Domingos, posicionamos viaturas Daimler, GMC, Unimog 404 e 411 intercalando-as entre as viaturas civis dos mais aparatosos formatos e cores, vão ali toneladas de comércio, quando chegarmos ao Xitole tudo será descarregado e então tudo será carregado com madeiras, mancarra, óleo de palma, sairão civis, entrarão civis.
Recordo que a mulher de um jovem oficial vestira um camuflado e avançara calmamente para mim, perguntando-me onde é que podia ir sentada. Foi uma confusão dos diabos, a senhora queixara-se ao marido, o marido a Jovelino Corte Real, este percebeu que eu não cedia (“Meu comandante, a senhora está convencida que vai para um safari, peço-lhe que dê a ordem por escrito sobre esta sua determinação, imagine um acidente, uma emboscada, depois a culpa é sempre do alferes”), lá convenceu a senhora que não podia ir à aventura num teatro de operações.
Findas todas estas peripécias, com emboscadas montadas na região de Mansambo e na região de Xitole, a coluna lança-se à desfilada, primeiro Samba Juli, passamos um pontão sobre o rio Cuiana, depois um outro pontão sobre o rio Quêuol (Mamadu Djau e Queta Baldé dizem-me que Moricanhe e Demba Taco, que já conheço, não estão muito longe), cada vez a comer mais pó a coluna que leva à testa a GMC, conduzida pelo Setúbal, galopa uma interminável estrada rodeada de capim alto, palmares à distância, entre Mansambo e o rio Jago encontramos grupos de combate a patrulhar a região, saúdo gente que talvez tenha conhecido em Mato de Cão, a coluna prossegue enquanto eu vejo na carta nome de santuários do PAIGC que me são familiares: Galoiel, Biro, Mina, Buruntoni e Baio.
Prosseguimos atravessando o rio Cancaniel, continua a picada interminável, passamos o pontão do rio de Jagaraja, mais à frente seguimos já com escolta no pontão do rio Pulom, depois o pontão do rio Bubà, chegámos ao Xitole, estamos junto ao rio Curubal, vejo que há uma tabanca ali ao pé que se chama Portugal. Não sem surpresa, confirmo que as casas do casario desta importante povoação lembram o Gabu e até Bafatá em menor dimensão.
Enquanto lavo a cara, refresco a boca e como um pão, no meio de uma grande algazarra mudam as mercadorias, parte dos transportados sobe e desce e ainda dentro da nuvem de pó de laterite a coluna militar e civil inverte a posição, impaciente por voltar a atravessar o pontão do rio Pulom. Empoeirados como fantasmas desenterrados, regressámos, são dezenas de quilómetros feitos nesta correria em que é o Setúbal quem marca a cadência, todos, em todas as viaturas têm os olhos postos em quem vai à frente.
Saímos de Bambadinca ainda não eram 6 da manhã, estamos a regressar ainda não são cinco da tarde. A imensa coluna de viaturas com militares e civis desfaz-se rapidamente, enquanto dou instruções para que as munições voltem ao paiol, Bala, o sempre sorridente ordenança do comando, informa-me que o major Sampaio tem urgência em falar-me. Com vários quilos de poeira no camuflado, entro no seu gabinete.
-Beja, amanhã tem lugar a
Acção Hindu, você e um grupo de combate da CCAÇ 12 vão conversar com os chefes de tabanca de Sinchã Dembel, Iero Nhapa, Aliu Jai, Queroane, Queca e Sare Nhade, apurem se estão a ser pressionados pelos gajos de Buruntoni, temos notícias preocupantes de gente que foge para o mato, há nativos espancados, tragam os doentes, vejam se eles precisam de Mauser, passem a pente fino todas as informações que nos sejam úteis.
Lá fomos para a
Acção Hindu, lembro que não houve resultados práticos, teria sido necessário levar intérpretes de confiança para os chefes de tabanca, procurar perceber como os guerrilheiros assediavam as populações, quais as informações que pretendiam. Não eram os nossos soldados que podiam fazer este trabalho com sucesso. A comunicação estava viciada à partida, os resultados igualmente viciados.
Esta a minha primeira semana se Dezembro. A saúde não melhora, a seguir vou a Mero, onde a comunicação está igualmente viciada, onde as populações estão obrigadas ao jogo duplo e depois parto para a operação
Lua Nova.
Cópia do livro de Dom Claude Jean-Nesmy,
São Bento e a vida monástica. Rio de Janeiro: Agir. 1963 (Colecção Mestres Espirituais, 8). (tr. do fr.)
(v) Leituras: São Bento, Maigret e Os Sequestrados de Altona, de Sartre
Devorei uma biografia de São Bento, sempre à procura da explicação de como é que o cristianismo se constituiu como a grande resistência à maior comoção de todos os tempos e de todas as civilizações, as Invasões Bárbaras, do séc. V.
Já em adolescente eu me interrogava como é que Lombardos, Hunos, Godos e Ostrogodos, entre outros, tinham tido capacidade para destruir toda a civilização greco-romana e acabaram por se converter ao cristianismo e incorporar a cultura e a civilização que vinham saquear. São Bento e o monaquismo, a grande mensagem de
ora et labora, a meditação e a vida colectiva, o testemunho e a preservação dos documentos fundamentais coube em grande parte aos beneditinos, um pouco por toda a Europa.
São estes monges medievais que dinamizam a oração litúrgica, exaltam o trabalho manual e o intlectual; deve-se aos beneditinos a leitura orientada para fazer nascer o amor das realidades sobrenaturais. Como escreve Dom Claude Nesmy neste livro, foi graças ao ideal beneditino que se reencontrou o sentido cristão da liturgia, do trabalho e da pobreza, em que a Bíblia e a antiga Tradição passaram a ser o alimento de uma espiritualidade renovada.
Capa do romance policial de Simenon,
Maigret a peur. Paris: Presses de la Cité. 1953.
Maigret tem medo é uma obra prima. O comissário veio de um congresso da polícia internacional, que se realizou em Bordéus, e resolve ir visitar o seu amigo Julien Chabot a Fontenay-le-Comte.
É uma viagem de comboio admiravelmente descrita, onde um cavalheiro da região, Hubert Vernoux de Courçon lhe faz saber que tem um caso à sua espera. O encontro com o juiz Chabot e a sua mãe é igualmente admirável. Um serial killer aterroriza este povoada de oito mil habitantes.
Foto: O romancista George Simenon, o criador de Maigret.
Maigret é reconhecido pelos jornalistas, a polícia pede-lhe ajuda, não se vê nenhuma relação possível entre os crimes e as vítimas, todas elas executadas com um pedaço de tubo em chumbo. Maigret procura não ter parte activa na investigação, vai ouvindo, vai conversando, entre as fumaças do seu cachimbo e conversas avulsas descobre o móbil do crime.
A sua derradeira conversa Hubert Vernoux de Courçon devia fazer parte da melhor literatura mundial. Volta a Paris e à rotina criminal, aqui recebe uma carta de Chabot que descreve o final do caso. Nunca mais irei esquecer este livro.
Já tinha saudades de ler uma peça teatral de Sartre. Um oficial do exército de Hitler, Frantz von Gerlach, parece querer arrostar os crimes praticados na guerra, encerrando-se nas águas furtadas da casa paterna. Os principais personagens são Frantz, o seu pai, o seu irmão Werner, a sua irmã Leni e a sua cunhada Johanna. A vida de Frantz e a sua atitude polarizam a drama teatral. Leni faz-lhe chegar ao quarto um mundo de miséria e opróbrio em que vive a Alemanha actual. Os membros da família urdiram a mentira acerca das razões do sequestro de Frantz, e é a cunhada Johanna quem vai acelerar o clímax da peça, o suicídio de pai e filho.
A mensagem existencialista sobre o estado de culpa e a procurar de um juiz para si próprio, já que para Sartre é na História que se pode encontrar o julgamento dos nossos actos e até lá somos nós que respondemos pela nossa vida e pela nosso época, daí o absurdo de tudo, o nada que nos convida a responder pela nossa consciência necessariamente intranquila porque lúcida.
Capa da peça de teatro de Jean-Paul Sartre,
Os Sequestrados de Altona. Lisboa: Europa-América. 1961. (Colecção Os Livros das Três Abelhas, 38). (tr. do fr.)
Fotos: ©
Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
É na leitura e menos na música que encontro força e resistência. Para a semana vou confrontar-me com um cacimbo de estalar os ossos, vou revisitar acampamentos abandonados pelos guerrilheiros. Venham comigo.
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Notas de L.G.:
(1) Vd. poste anterior desta série > 11 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2431: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (15): Oficial e cavalheiro em Bambadinca, às ordens de Dona Violete
(2) Vd. poste de 11 de Agosto de 2005 >
Guiné 63/74 - CLXX: As heróicas GMC e os malucos dos seus condutores (CCAÇ 12, Septembro de 1969) (Luís Graça)