Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Guiné 63/74 - P4232: Agenda Cultural (8): Lançamento do livro "Guiné Saudade e Sofrimento", em Santa Comba Dão, dia 25 de Abril de 2009
Lançamento do livro “Guiné Saudade e Sofrimento”
O dia 25 de Abril foi o esolhido para o lançamento do livro “Guiné Saudade e Sofrimento” da autoria do Prof. Doutor Hugo Coimbra na Casa da Cultura de Santa Comba Dão.
Este evento faz parte do programa da autarquia para a comemoração do Dia da Liberdade e terá inicio às 15h.
Simultaneamente decorrerá uma Exposição relativa ao mesmo tema e que tem como fontes as fotografias dos militares do concelho que estiveram na Guiné.
Conta-se com uma grande afluência de público já que o livro é uma compilação dos dados biográficos de todos os que, deste concelho, cumpriram o Serviço Militar na Guiné e os que lá faleceram.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 20 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4222: Agenda Cultural (8): Os Traumas da Guerra Colonial, Museu de Arte Sacra e Etnologia, Fátima, 24/4/09 (J. Mexia Alves)
Guiné 63/74 - P4231: Convívios (117): Pessoal da CCS/BCAÇ 4612, no dia 2 de Maio de 2009, em Benavente (Jorge Canhão)
Almoço de confraternização da CCS/BCAÇ 4612/72
Camarada Carlos Vinhal
Desejo em primeiro lugar que esteja tudo bem contigo e familiar.
Embora muito atrasado venho pedir se podiam comunicar no nosso Blogue que a CCS do BCAÇ 4612/72 - MANSOA - vai fazer mais um almoço no dia
2 de Maio de 2009, no restaurante FANDANGO, situado em Benavente E.N. 118 - Km 40
A concentração será a partir das 11h00
Contactos:
Ex-Fur Mil Sapador Pauleta 914 393 926
Ex 1.º Cabo Escriturário C. Alves 914 729 724
Abraços
Jorge Canhão
Ex-Fur Mil
3 ª CCaç/BCAÇ 4612/72
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 21 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4224: Convívios (114): Pessoal das CCAV 677 e 678, no dia 21 de Junho em Fátima (Santos Oliveira/Rodrigues)
Guiné 63/74 - P4230: Listagem dos mortos na emboscada do Quirafo, em 17 de Abril de 1972 (José Martins)
Boa tarde e resto de bom fim de semana
Com atraso(?) aqui vai mais uma contribuição para o Caso Quirafo (*).
José Martins
Militares, milícias e civis, abaixo indicados por ordem alfabética, independentemente do posto e situação, que
TOMBARAM NA PICADA ENTRE MADINA BUCÔ E QUIRAFO EM 17 DE ABRIL DE 1972
ANTÓNIO FERREIRA, 1.º Cabo Radiotelegrafista, natural de Cedofeita, Porto.
ANTÓNIO MARQUES PEREIRA, Soldado Atirador, natural de Pedreira, Fátima, Vila Nova de Ourém.
ANTÓNIO MOREIRA AZEVEDO, Soldado Atirador, natural de Moreira, Maia
ANTÓNIO DE MOURA MOREIRA, Soldado Atirador, natural de São Cosme, Gondomar.
ARMANDINO DA SILVA RIBEIRO, Alferes Miliciano de Infantaria, natural de Mangueira, Lamego.
BERNARDINO RAMOS DE OLIVEIRA, Soldado Atirador, natural de Pedroso, Vila Nova de Gaia.
DEMBO JAU, Sargento Milícia, Pelotão de Milícias n.º 287, natural de Sinchã Nanconi, Nossa Senhora da Graça, Bafatá.
FRANCISCO OLIVEIRA DOS SANTOS, Furriel Miliciano Atirador, natural de Ovar
SÉRGIO DA COSTA PINTO REBELO, 1.º Cabo Apontador de Metralhadora, natural de Samil, Vila Chã de São Roque, Oliveira de Azeméis.
SERIFO BALDÉ, Assalariado, natural de Madina do Bocô, Bafatá.
TIJANE BALDÉ, Assalariado, natural de Cansamangue, Xitole, Bafatá.
ZOZIMO AZEVEDO, Soldado Atirador, natural de Alpendurada, Marco de Canaveses.
Pertenciam à Companhia de Caçadores n.º 3490, Unidade Orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 3872, mobilizado no Regimento de Infantaria n.º 2 em Abrantes.
Embarcaram, em Lisboa, em 18 de Dezembro de 1971 e desembarcaram em Bissau em 24 de Dezembro de 1971.
Era comandante do Batalhão o Tenente-Coronel de Infantaria, José de Castro e Lemos, tendo como segundo Comandante, o Major de Infantaria José Carlos Moreira de Campos e Oficial de Operações e Informações Adjunto, o Major Amélio Ventura Martins Pamplona.
No comando das companhias estiveram:
Companhia de Comando e Serviços:
Capitão do Serviço Geral do Exército Jorge de Araújo Mateus,
Capitão do Quadro Especial de Oficiais, Carlos Alberto de Araújo Rolin e Duarte, e
Tenente do Serviço Geral do Exército, Mário da Encarnação Raposo.
Companhia de Caçadores n.º 3489:
Capitão Miliciano de Infantaria, Manuel António da Silva Guarda e
Capitão Miliciano de Infantaria, José Francisco Rosa.
Companhia de Caçadores n.º 3490:
Capitão Miliciano de Infantaria, Dário Manuel de Jesus Lourenço.
Companhia de Caçadores nº 3491: Capitão Miliciano de Artilharia Fernando de Jesus Pires
A divisa da unidade e suas subunidades orgânicas era “O inimigo vos dirá quem somos”.
Assumiu o sector L 5, com sede em Galomaro, e nas suas operações capturou ao inimigo uma pistola-metralhadora, duas espingardas, dois lança granadas foguete e quarenta e duas granadas de armas pesadas. Foi rendido pelo Batalhão de Caçadores n.º 4518/73 em 9 de Março de 1974.
O subsector de Cancolim foi assumido pela Companhia de Caçadores n.º 3489 em 11 de Março de 1972, destacando um Pelotão para Anambé. Foi rendida pela 2.ª Companhia do Batalhão de Caçadores n.º 4518/73 em 8 de Março de 1974.
O subsector de Saltinho foi assumido pela Companhia de Caçadores n.º 3490 em 11 de Março de 1972, destacando um Pelotão para Cansamba. Foi rendida pela 3.ª Companhia do Batalhão de Caçadores n.º 4518/73 em 7 de Março de 1974.
O subsector de Dulombi foi assumido pela Companhia de Caçadores n.º 3491 em 08 de Março de 1972, destacando um Pelotão para Cancolim. Foi rendida pela 3.ª Companhia do Batalhão de Caçadores n.º 4518/73 em 7 de Março de 1974. Em 9 de Março de 1973 foi transferida para Galomaro, assumindo a responsabilidade do subsector atribuída, até então, a Companhia de Comando e Serviços do Batalhão. Cedeu um Pelotão para reforço da guarnição de Piche, Pelotão este que foi posteriormente deslocado para Nova Lamego. Foi rendida pela 1.ª Companhia do Batalhão de Caçadores n.º 4518/73 em 7 de Março de 1974.
Efectuaram o regresso em 28 de Março de 1974.
José Martins
2. Comentário de CV:
Deixo desde já um agradecimento público ao nosso bom camarada José Martins, que apesar de ter uma vida profissional intensa, dispensa muito do seu tempo de descanso para colaborar connosco, sempre que lhe pedimos alguma coisa. Muitas vezes, quase adivinhando o nosso pensamento, envia-nos trabalhos complementares aos assuntos em actualidade no Blogue.
3. Caberá aqui incluir um velho documento que o nosso camarada António Batista descobriu entre os seus papéis
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Notas de CV:
(*) Vd. postes de 17 de Abril de 2008:
Guiné 63/74 - P4200: Ainda e sempre a tragédia do Quirafo. Sortes distintas para António Batista e António Ferreira (Mário Migueis / Paulo Santiago)
e
Guiné 63/74 - P4202: Dia 17 de Abril de 1972. A emboscada do Quirafo, 37 anos depois (Mário Migueis)
terça-feira, 21 de abril de 2009
Guiné 63/74 - P4229: Os nossos camaradas guineenses (7): Amadu Djaló, as memórias do Comando Africano continuam (Virgínio Briote)
Caros Luís e Carlos
Um abraço
Passei duas semanas fora de Lisboa, na Casa de Estói. Levámos a nossa neta mais velha e levámo-la a conhecer o litoral algarvio. Depois retomei o trabalho com o Amadu Bailo Djaló.
O Amadu vem cedo, almoça comigo em casa e depois mãos ao trabalho. Tem sido a minha tarefa. Ler-lhe os textos, corrigir, acrescentar pormenores, cortar outros, pôr datas, nomes, locais, enquadrar as histórias, telefonar a camaradas, cruzar a informação, reavivar pormenores. Tem sido assim toda a semana, excepto à 6ª feira, que é dia dele ir rezar à Mesquita. O Amadu tem boa memória. E muita dificuldade em escrever. Por isso, a ajuda que posso esperar dele está na memória. Tem sido muito bom para ele. Vê finalmente alguém interessado em dar corpo às suas memórias. O meu principal problema reside agora na 1ª parte do manuscrito, que foi reescrito por um senhor angolano que já morreu e que deitou fora o original escrito pela mão do Amadu. Esta reescrita está cheia de loas ao patriotismo e à irmandade das comunidades luso-africanas. Não coincide com a cultura do Amadu, nem com a forma africana dele contar e que estou a tentar seguir nesta 2ª parte do texto.
As memórias, como já referi, cobrem todos os anos da guerra. De ainda antes, até. O nascimento em Bafatá, a frequência da escola corânica e depois a da missão católica, de uns padres italianos, a permanência de dois meses no mato para a cerimónia da circuncisão, aos 13 anos a viagem com o irmão mais velho a Boké, os negócios da venda de tecidos e bugigangas na República da Guiné-Conackry, as saudades dos pais e da vida de Bafatá e o regresso à cidade natal.
A incorporação na tropa deu uma grande volta à vida dele. O contacto com os militares europeus, a passagem por Bolama, Cacine, Bedanda, Farim, o 1º ataque do PAIGC a Farim, as 3 emboscadas, no mesmo dia, na estrada Cuntima-Farim, o 1º morto do PAIGC que ele viu ser arrastado pelo soldado Solda, do BCav 490, em 1964, o regresso à CCS do QG, a entrada para os comandos do Saraiva. Uma grande volta na vida dele.
Com o Saraiva viu coisas que nunca imaginou. Viu tudo. Inaugurou a pista de Madina do Boé. Desembarcou de uma das cinco Do.27, que levaram o grupo para Madina. Ao som de tambores, percorreram o trajecto da pista, acabada nesse mesmo dia, até ao aquartelamento. Episódios de Madina que não esquece: a ida com o Saraiva e com o régulo a Hore Moure, na Rep. da Guiné-Conackry, os três vestidos à fula, com duas granadas ofensivas cada um com o grupo emboscado a cerca de 500 metros. A entrada nas casas, que serviam de pouso à ainda incipiente guerrilha apenas durante o dia. A história da mina que matou quase metade do grupo em Gobige. Os funerais em Bissau, a reunião em Brá para discutirem os procedimentos que tinham tomado em Madina e logo a seguir a ida para o Oio, com mais 11 camaradas. Nesta acção, indescritível para os nossos olhos de agora, viu mesmo tudo o que de pior a guerra, qualquer guerra, tem. Crianças, velhos, paralíticos, gado, ficaram-lhe na memória como os principais actores dessa saída.
E depois, Burontoni e o Malan, um miúdo de 7 ou 8 anos que vivia com os pais, junto a um acampamento da guerrilha.
Ninguém queria ficar com o Malan. O Saraiva não queria mascotes, o capitão L., da Companhia local respondeu negativo. Amadu trouxe a criança para Brá. Depois, com 4 metros de tecido que um camarada tinha apanhado num acampamento, foi a um alfaiate fazer 4 calções e 3 camisas. Uns sapatos e uns chinelos completaram o guarda-roupa do Malan, que teve de mudar o apelido para Djaló.
Malan Djaló passou a viver na grande família Djaló. Nunca ninguém soube a história do rapaz até 1973. Malan cresceu, andou na escola, aprendeu bem o português.
Quando chegou a independência voltou a ver os pais, mas à noite regressou à família Djaló. Passou a dar aulas de português em quartéis do PAIGC, até conhecer uma jovem por quem se apaixonou. Casou e nasceu-lhe uma menina. A sorte da vida não estava com o Malan. Uma doença rápida, em dias, matou-o numa cama do hospital de Bafatá. Um ano depois, a menina morreu também, vitima da mesma doença, presume o Amadu.
Histórias, umas atrás das outras, que a guerra foi muito longa e foi feita de muitos episódios.
Tem sido este o meu trabalho, caros Camaradas. Programei a entrega do texto para o final deste mês.
Um abraço a todos,
vb
Fotografias do Alferes Graduado Comando Amadu Bailo Djaló. De cima para baixo: Amadu Djaló vestido com o uniforme nº 1 de oficial do Exército Português; em 1966 depois de terem acabado os cmds do CTIG e o Amadu, em anos mais recentes junto à lápide dos nossos Camaradas mortos nas três frentes da Guerra.
Fotos: © Virgínio Briote (2009). Direitos reservados
Editadas por Carlos Vinhal
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Nota de CV:
Sobre o Srgt Amadu Djaló ver postes de:
22 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4067: Os nossos camaradas guineenses (3): Amadu Djaló, Fula de Bafatá, comando da 1ª CCA, preso, exilado... (Virgínio Briote)
25 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4076: Os nossos camaradas guineenses (4): Amadu Djaló, com marcas no corpo e na alma (Virgínio Briote)
27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4086: Os nossos camaradas guineenses (5): O making of do livro do Amadu Djaló, as memórias de um comando africano (Virginio Briote)
29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4102: Os nossos camaradas guineenses (6): Amadu Djaló, as memórias de um comando africano (Virginio Briote)
Guiné 63/74 - P4228: Louvores e condecorações (6): Alf Mil Cav Joaquim J. Palmeiro Mosca, morto a 20/4/1970 no chão manjaco (Manuel Resende)
Reprodução do louvor (*), atribuído a título póstumo, por proposta do Com-Chefe, ao Alf Mil Cav Palmeiro Mota, que pertencia à CCAÇ 2585 (Jolmete, 1969/71), do BCAÇ 2884 (Pelundo, 1969/71). Morreu no chão manjaco, juntamente com os majores Passos Ramos, Magalhães Osório e Pereira da Silva, e mais três 'nativos' (um intérprete e dois condutores) (**).
(...) "Tomou parte em várias acções do mais alto interesse para o teatro de operações, numa actividade exaustiva e prolongada, arriscando-se serena e corajosamente em missões de reconhecimento e contacto, frequentemente de noite e sem protecção, contribuindo para o desiquilíbrio psicológico altamente favorável à causa nacional, tornando-se objectivo de primordial importância para o inimigo, que, em reacçáo desesperada, o imolou quando cumpria uma nobre missão em prol da paz" (...)
Antes de ter passado a exercer funções de adjunto do oficial de informações do CAOP1, o malogrado Joaquim J. Palmeiro Mosca tinha sido comandante do Pel Caç Nat 59. Cortesia de Manuel Resende novo membro da nossa Tabanca Grande.
Foto e documento: © Manuel Resende (2009). Direitos reservados
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Notas de L.G.:
(*) Vd. último poste desta séreoe > 15 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3061: Louvores e punições (5): António Pinto (Pirada, Madina do Boé e Beli, 1963/65)
(**) Vd. poste de 20 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4223: Efemérides (20): Faz hoje 39 anos que foram mortos os 3 majores e o Alf Mosca no chão manjaco (Manuel Resende)
Guiné 63/74 - P4227: O meu Furriel parece um passador (Santos Oliveira)
“O MEU FURRIEL PARECE UM PASSADOR!”
Foi Publicada, a 15DEZ2007, Post 2352 (1) esta descrição: “A 16 de Novembro de 1964, avistei dois charutos estampados no escuro do céu, de forma difusa, que aparentavam dois cigarros acesos atirados ao ar, desde o fundo do aquartelamento. A recriação, mais ou menos fiel dos Fortes de defesa contra os Índios, em que a paliçada era construída de troncos de Palmeira, que, como se sabe, são moles e duram cerca de três meses; aquelas tinham mais que isso. Portanto, eram apenas uma defesa psicológica.
Acordei. A Rádio Portugal Livre (a) havia sido extremamente suave e comedida no seu estilo linguístico.
-Fogo! Rápido!”
Considerando que, em média o tempo de percurso da saída do Morteiro, até o atingir o objectivo, naquelas circunstâncias, seriam uns escassos 36 segundos, corri até aos dois Postos de Sentinela, do lado da Mata, e onde se situavam duas das três “Bredas” a fim de dar o alarme; como era consabido, as Armas Ligeiras do IN, só se iniciavam simultaneamente com os rebentamentos das Granadas de Morteiro. Na altura, nem pensei se iria, ou não, dar tempo.
Duma coisa estava seguro: quando aquelas granadas rebentassem, o IN já não teria mais tempo para apontar os seus Morteiros, já que, quando tal aconteceu, já estavam a caminho, em objectivos diferentes, umas 9 a 12 Granadas dos nossos Morteiros.
Na verdade, nunca comentei e nunca o neguei a quem afirma terem caído duas Granadas dentro do Quartel (apenas omiti) aquelas traziam a direcção correcta e na verdade, caíram cerca de um terço do espaço da Parada (Parada?). Desconheço se traziam o destino do Gerador, que era uma peça visível desde a Mata e que estava um tanto ao lado dos locais de impacto…
Eu fui apanhado, em plena correria de regresso ao meu Posto, fui projectado para trás, uns bons dez metros. Meio atordoado levantei-me e não senti nada de especial a não ser o característico zumbido nos ouvidos, provocado pela proximidade do rebentamento.
Naquela escuridão e debaixo da chuvinha molha tolos, tudo continuou conforme já foi descrito no Post.
Entretanto, por rotina, após cada ataque, como muito bem refere o Camarada Carvalho no seu Comentário ao Post 3544 (2) e que foi, posteriormente, destacado no Post 3566 (3).
“…Este era o furriel que depois de cada ataque vinha saber de posto em posto, como estávamos e dizia-nos que já tinha terminado tudo, que esta já se tinha passado e outras coisas. Tinha sempre uma palavra que nunca ouvimos dos nossos alferes ou furriéis.”
Eu segui os Caminhos habituais de "revista às Tropas”. De lanterna na mão (a tradicional garrafa de cerveja com petróleo e uma mecha a arder) fiz a pergunta sacramental:
-Por aqui, está tudo bem?
Por resposta, um ar de perplexidade e espanto e o dedo do meu interlocutor apontado para mim com uma expressão que não mais esquecerei:
- O meu Furriel parece um passador!
Olhei-me, passou-me o filme da Granada a rebentar na minha frente e aí, sim, senti a DOR dos estilhaços e a RAIVA de nem sequer haver sentido nada naquelas longas duas horas e meia.
Acho que o Ten Médico Rogério (CCaç 557) demorou mais umas quantas horas a retirar os múltiplos estilhaços da minha carne cauterizada e com pouco derramamento de sangue.
Ficou estabelecido, por minha vontade, que não seria registado Ferido em Combate e assim se fez. Das Cicatrizes, ficou a cicatriz moral, outra do corte (5cm) provocado por estilhaço de dimensões razoáveis e que se ficou pelo fémur (foto actual) e o corte do tendão que me impossibilita o movimento da falangeta no dedo mínimo da mão direita. Das restantes, talvez existam alguns fragmentos no meu corpo, mas que não se têm manifestado muito incómodos pelo que não lhes dou outra importância.
Para mim, na altura, a decisão que tomei, teve duas vertentes deveras importantes:
1.º - Providenciar por manter o desconhecimento, por parte do IN do acertar dos tiros efectuados (hipótese remota, mas, temporalmente provável), logo
2.º - Se transpirasse a notícia de ferido, iria dar no mesmo ponto de acerto do Tiro de Morteiros em acções futuras.
Este, o outro testemunho que faltava acrescentar àquele relato e que muitos Camaradas reclamavam fosse divulgado.
Apenas uma nota final: o EP do PAIGC estava em Formação e as Armas Pesadas no seu todo, já tinham como Instrutores/Combatentes os Militares Cubanos. Uma fuga de informação, nesta circunstância, teria sido fatal para as NT.
Como referi no Post, estas são apenas amostras com as consequências de se ser Bando, por Ordem Expressa de SEXA o CEM e GOVERNADOR, Brigadeiro Arnaldo Schults, que superiormente (por Ordem Directa, pessoal e verbal) determinou tal procedimento.
Abraço a todos, do
Santos Oliveira
Cicatriz do estilhaço no Joelho
Cicatriz do estilhaço no Joelho
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Notas de CV:
(1) 15 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2352: Ilha do Como: os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu... (Santos Oliveira)
(2) 30 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3544: O segredo de... (2): Santos Oliveira: Encontros imediatos de III grau com o IN
(3) 5 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3566: Blogoterapia (80): Um elogio vindo da Bélgica (Soldado Carvalho / Santos Oliveira)
Guiné 63/74 - P4226: FAP (25): Encontros quase imediatos ou como a pista de Cacine se tornou curta (Miguel Pessoa)
Carlos
Sem pressa de o ver publicado, para descanso dos leitores, aqui vai mais um texto relativo a um episódio passado na Guiné com este aviador.
Li uma vez no blogue que temos a tendência para facilmente expor as nossas fraquezas e falhas, em contraste com os nossos antigos oponentes, que referem mais os aspectos positivos das suas acções, às vezes exagerando-os, até.
É capaz de ser verdade, mas a experiência diz-me que podemos aprender menos com a História dos grandes feitos do que com a descrição dos nossos erros ou insucessos e os ensinamentos que daí podemos tirar. É que são estes que nos levam normalmente - assim o queiramos - a procurar fazer melhor na próxima vez que tentarmos.
Um abraço.
Miguel
ENCONTROS QUASE IMEDIATOS
A esquadra 121 da BA 12 operou nos últimos anos do conflito na Guiné três tipos de aeronaves. A actividade de voo prevista para cada piloto da Esquadra apontava para a necessidade de todos saberem voar mais que um tipo de avião, de maneira a rentabilizarem ao máximo a sua disponibilidade para voo.
Ao chegarem à Base, os pilotos vinham qualificados pelo menos num de dois tipos de avião ali existentes - T-6 ou Fiat G-91. O DO-27, o terceiro avião do plantel, sendo um avião relativamente fácil de voar, deveria ser operado por todos os pilotos da Esquadra, motivo porque uma das primeiras tarefas que nos davam era a qualificação neste tipo de avião. Isso era feito utilizando os pilotos mais batidos para instruírem os novatos (vulgo piras) na arte de dominar aquela cavalgadura.
Por norma a única experiência dos pilotos dos Fiat G-91 com aviões convencionais (os que têm aquele pauzinho à frente...) tinha sido no início, na instrução elementar de pilotagem, onde tinham voado o pequeno Chipmunk (bilugar monomotor de asa baixa), passando depois para os jactos, numa sequência lógica que os fazia passar por qualificações sucessivas no T-37, T-33 e F-86, culminando numa adaptação ad-hoc ao Fiat G-91 - no meu caso pessoal 25 horas voadas na Base Aérea 5 (Monte Real) - antes de embarcar para o fim do mundo.
Pessoalmente não senti dificuldades significativas nessa adaptação ao DO-27, dado que, ainda antes de ser brevetado na Força Aérea, já tinha obtido o meu brevet civil no Aero-Clube de Portugal, onde voei essencialmente o Auster, um avião ligeiro de asa alta. Este avião tinha em comum com o DO-27 uma característica que não era muito habitual noutros aviões militares. Sucedia que o piloto, voando do lado esquerdo e tendo a manete do motor a meio do tablier, tinha que usar a mão esquerda para controlar os comandos do avião, o oposto daquilo a que ele estava habituado. Essencialmente o que se verificava era uma menor sensibilidade na execução das manobras, principalmente na fase de descolagem e aterragem (particularmente nesta última). Mas não era nada que não se ultrapassasse com algumas horas de voo no avião. No meu caso nem senti esse problema, pois estava habituado a pilotar de modo igual com qualquer das mãos (mas provavelmente pouco com a cabeça, como se poderá ver mais à frente...).
Tive a sorte de me calhar um instrutor de primeira, o Comandante do GO1201, Ten Cor Brito, o qual me ensinou em rápidas e elucidativas demonstrações como poderia dominar o avião sem danos significativos no mesmo... E a partir daí fiquei apto a desempenhar todo o tipo de missões no DO-27.
Estarão a perguntar-se para que serviu toda esta conversa até agora. Dois motivos me orientaram: Primeiro, a história que tenho para contar resume-se em poucas palavras e assim o texto fica mais composto com esta introdução; segundo, sempre é uma oportunidade de os leigos lerem alguma coisa sobre a Força Aérea e perceberem que isto de trabalhar sentado não é necessariamente coisa fácil...
Entramos finalmente na história que estou há mais de quanto tempo para contar. Expliquei que me sentia à vontade a voar o avião; mas sei hoje, pela minha experiência, que quanto mais à vontade, maior a tendência para a asneira, por sobrevalorizarmos as nossas competências e ultrapassarmos os limites do razoável.
Tem isto a ver com a missão que me levou num DO-27 até à pista de Cacine, isto já no tempo do míssil Strela, o que me obrigou a fazer o percurso até lá a baixa altitude. Mandavam as regras que nesses casos, quando se chegasse ao destino se fizesse uma volta em espiral a subir de modo a posicionar o avião apontado à pista, tentando pôr-se o estojo no chão o mais depressa possível, para evitar ser alvejado.
Assim fiz, mas a volta que executei deixou-me um bocado mais alto do que devia em relação ao início da pista. Prossegui aumentando a razão de descida, o que fez aumentar a velocidade do avião, mesmo com o motor reduzido (i.e., na rotação mínima) - isso tem como consequência natural aumentar também a distância percorrida na aterragem até conseguir imobilizar o avião (a que chamamos "corrida de aterragem").
Até aqui, mal nenhum, porque qualquer aviador esperto sabe que pode tentar uma segunda vez: mete motor, volta a subir e dá a volta (procedimento a que chamamos "borregar") e faz uma nova aproximação à pista, de preferência melhor que a primeira...
Entram então aqui os factores envolventes que por vezes condicionam o discernimento do aviador e o levam a pensar com os pés, conduzindo-o ao desastre. Neste caso, poder-se-iam considerar três: primeiro, o facto de, voltando a subir, ir expor o avião a qualquer atirador entretanto alertado pelo barulho da aproximação inicial; segundo, o facto de no fundo da pista estar estacionado um outro DO-27 que tinha transportado o Gen Spínola até ali, com o piloto descontraidamente encostado ao avião enquanto aguardava o seu regresso do quartel - ninguém gosta de fazer figuras tristes à frente dos seus...; terceiro e último, a presença na pista de um bom número de militares que esperavam igualmente o regresso do Gen Spínola - e o que é um facto é que ninguém gosta de fazer figuras tristes à frente de quem quer que seja...
Assim, por uma questão de brio (neste caso, mais propriamente falta de humildade) resolvi prosseguir para a aterragem. Como era de calcular, aquele excesso de velocidade levou-me a tocar o solo bastante mais à frente do que o habitual, o que me levou a calcar desesperadamente os travões, tentando reduzir rapidamente a velocidade do avião. O facto é que começava a aproximar-me rapidamente do fim da pista... e também do DO que lá estava estacionado, bem no sítio para onde o meu avião apontava.
Tudo indicava que, embora já com velocidade reduzida, não conseguiria parar completamente o avião até chegar lá, pelo que decidi provocar o que se costuma chamar um "cavalo de pau", alterando rapidamente a direcção em que o avião avançava, fazendo um pião em que o avião rodasse 180º, ficando aquele virado em sentido contrário. E assim foi - muito resumidamente, que não gosto de me lembrar disto - travagem forte no pedal direito, fazendo o avião iniciar uma rotação brusca para esse lado, logo seguida de uma travagem brutal com o travão esquerdo, obrigando o avião a rodar para a esquerda; finalmente, quando o avião estava quase a completar os 180º de rotação, uma travadela final com o travão direito para parar a rotação (e para acabar com o resto dos travões...). A verdade é que o avião acabou parado, de costas para o outro DO e a poucos metros dele... um bambúrrio de sorte que eu dificilmente poderia voltar a ter.
O pessoal de Cacine pareceu-me ter ficado impressionado com a demonstração de performance cá do aviador, mas o olhar que o outro piloto me deitou esclareceu-me perfeitamente quanto ao risco parvo que tinha corrido; e nem quero pensar no que teria sido o meu futuro como piloto se o Gen Spínola, no seu regresso, tivesse deparado com os dois aviões enfeixados...
Miguel Pessoa
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de > 19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4217: FAP (24): Afinal quem foi o camarada artilheiro do PAIGC que me 'strelou' em 25 de Março de 1973 ? Caba Fati ? (Miguel Pessoa)
Guiné 63/74 - P4225: Estórias avulsas (9): Periquitos empoleirados numa GMC (Fernando Oliveira)
A minha tropa [1]
Guiné -> Out.68 a Dez.70 -> 26 meses [1]
Há cerca de três meses, vi na televisão parte de uma reportagem desenrolada em Guidage, no norte da Guiné, a respeito da identificação, para posterior trasladação, dos restos mortais de soldados que no início dos anos 70, devido a situações dramáticas vividas lá na altura da guerra colonial, tiveram de ser sepultados naquela zona [procedimento ao arrepio do que era normal, ou seja, o envio dos corpos para a metrópole e a sua entrega aos familiares].
Lembrei-me, então, que estive na Guiné durante 26 meses da minha tropa, e que dois ou três deles foram passados naquela povoação. Recordei também algumas das peripécias que lá vivi ou presenciei. E recordei ainda a boa sorte que me acompanhou durante todo aquele tempo.
Cheguei a Bissau em finais de Outubro/68, após uma viagem de uma semana a bordo do "Uíge". Na época, este navio de passageiros estava requisitado para o transporte de tropas destinadas ao Ultramar e, por isso, seguiam a bordo mais de dois mil militares. E, destes, a grande maioria era constituída por soldados rasos que viajaram nos porões em péssimas condições.
N/M Uíge (1954/1974) pertencente à Companhia Colonial de Navegação.
Com a devida vénia a http://navios.no.sapo.pt/
O meu grupo viajou em camarotes e era constituído por vinte e poucos furrieis milicianos das Informações, especialidade que tínhamos tirado juntos em Tavira no fim do ano anterior. Fomos todos mobilizados em rendição individual para a Guiné [numa altura em que já estávamos esperançados de não ir para o Ultramar, visto que um mês depois outra fornada de milicianos terminaria a especialidade].
Como aquele navio era de grande calado, teve de ficar ao largo do porto de Bissau. O transporte das tropas para o cais foi feito em barcaças. A meio da tarde, o meu grupo chegou ao cais, todos vestidos com fardas de camuflado, novas a estrear, compradas umas semanas antes no Casão Militar. [E, por causa dessas fardas novas, os militares chegados pela primeira vez à Guiné eram apelidados de periquitos].
Fomos, então, os vinte e tal, distribuídos por viaturas Unimog e GMC [viaturas militares de caixa aberta e banco corrido ao centro] a caminho do Quartel General. A mim e a mais cinco, calhou o transporte numa velhinha GMC. A meio do trajecto, a nossa viatura avariou e... nem para a frente, nem para trás. O soldado que a conduzia apanhou uma boleia e foi ao QG arranjar outro meio de transporte, enquanto nós, os seis periquitos, ficámos à espera, sentados no banco central da gê-éme-cê.
Entretanto, o tempo ia passando e... nada! O transporte alternativo tardava. E o tempo continuava a passar. Eram mais ou menos seis da tarde e... de repente, anoiteceu! E nós, os periquitos, acabados de chegar a Bissau, sentados na GMC, às escuras numa estrada sem luz, estávamos ali todos cagadinhos de medo. Olhávamos em redor e apenas conseguíamos vislumbrar vultos a passar a pé ao lado da viatura. Seriam turras?... [designação dada aos combatentes das forças de libertação que o regime salazarista chamavava de terroristas].
Após duas horas e tal de espera, finalmente chegou o condutor com outra viatura. E, já noite feita, lá nos conduziu ao QG.
Mas, daqueles caguefes e de algumas cuecas borradas, já ninguém nos livrou!
Fernando Oliveira
ex-Fur Mil Rec Inf
Guiné 1968/70
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4214: Tabanca Grande (135): Fernando Oliveira, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné, 1968/70)
Vd. último poste da série de > 18 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4206: Estórias avulsas (29): Fur Mil Aguinaldo Pinheiro, o morto-vivo do BART 1913 (Jorge Teixeira)
Guiné 63/74 - P4224: Convívios (116): Pessoal das CCAV 677 e 678, no dia 21 de Junho em Fátima (Santos Oliveira/Rodrigues)
Vinhal
O nosso querido Furriel Rodrigues, fez-me chegar este Mail, com o apelo de entreajuda e divulgação.
De acordo com as disponibilidades e na oportunidade...
Cá vou "esperando" a dispensa médica para voltar a ver as novidades do Blogue (que já não o serão, pelo menos desde o dia 30 do mês passado) .
Ontem, pelas circunstâncias que conheces, acabou, no final do dia, por ser difícil para mim.
Ainda não estou estabilizado, mas estou com boas esperanças.
... Mas correu tudo muito bem. Só não houve outro alguém que "botasse" faladura. Eu, nesse momento, estava meio bloqueado pela emoção, pelo que nem me atrevi a tal.
Os Camaradas tiraram fotos pelo que vais acabar por ver e saber como tudo se processou.
Abraços, do
Santos Oliveira
2. Mensagem do ex-Fur Mil Rodrigues para Santos Oliveira
Bom dia.
Meu caro Santos Oliveira.
Votos de boa saude.
Embora de relance, tenho visto algo do que tens escrito no blogue.
Tenho imensa pena que, neste momento, não tenha disponibilidade de tempo para poder participar com alguns testemunhos e vivencias.
Ficará para quando me aposentar... porque reformado sou há 7 anos.
Porque vamos ter o nosso encontro no dia 21 de Junho em Fátima, lembrei-me de te pedir se pode ser inserido, como noticia, a carta que segue como anexo, e se podem fazer divulgação. pode ser que apareça sempre algum que veja o blogue. Teremos gospo em receber toda a "malta que nos conheceu em Tite, S. João ou Fulacunda.
Sei que não é possivel, mas precisava de quem me ajudasse a abrir e ver 350 mails que tenho por abrir!...
Um forte abraço do amigo
Rodrigues
Encontro de 2009, das CCav 677 e 678, dia 21 de Junho em Fátima (*)
António Correia Rodrigues
tonicrodrigues@sapo.pt
Avenida Padre Júlio Fragata, 104
4710-413 BRAGA
Braga, 10 de Abril de 2009
Meu caro amigo e camarada das lides da Guiné.
Um forte abraço extensivo a todos os que te são queridos.
Apesar de termos marcado inicialmente o encontro para o dia 7 de Junho, andamos largos dias a tentar informações que poderíamos realizar o mesmo nesse dia. Começamos por ter indícios que nesse dia seriam realizadas as eleições para o Parlamento Europeu, noticia daqui noticia dali, e veio a confirmar-se aquilo que menos desejávamos. As eleições para o Parlamento Europeu, são mesmo a 7 de Junho.
Não fora saber que muitos dos nossos camaradas estão nesse dia, tal como eu, empenhados nas eleições quer como autarcas, quer como elementos das assembleias de voto, e talvez mantivéssemos a data. No entanto, pretendendo que estejam presentes o maior número de elementos da CCav 677/8 alteramos a data para o dia 21 de Junho em Fátima conforme previsto.
Embora fruto do acaso, ou talvez não, recentemente reparamos que neste ano de 2009, mais precisamente a 13 de Maio, faz 45 anos que chegamos à Guiné, e sem nos termos apercebido da coincidência, escolhemos Fátima para o nosso 17.º Encontro.
O Encontro começa com agrupamento, cerca das 10H45, ao fundo do recinto, junto da estátua do Papa João Paulo II.
Daí seguiremos para a participação na Eucaristia das 11 horas, em cuja celebração será referida a nossa presença.
Para os retardatários, haverá novo reagrupamento no final da Eucaristia e no mesmo sítio.
Partiremos para o restaurante D. Nuno Álvares Pereira
Estrada Minde 326
2495-300 FÁTIMA
Tel.: 249 539 041 que fica na estrada para Minde, a cerca de 6 km.
O valor estabelecido é de 25,00€ e comporta já um pequeno contributo para as despesas de organização.
A confirmação para este almoço deverá ser feita até ao dia 10 de Junho para qualquer dos contactos indicados nesta carta.
Porque foi uma boa experiência, quando fomos para Évora de autocarro, também, todos os do Norte, poderão beneficiar desta possibilidade que se traduz em mais economia, maior conforto e mais convívio.
O preço e locais de entrada serão indicados quando fizerem marcação. Terá a sua partida de Braga às 6,45 horas, passará pelo Porto para recolher quem lá pretender entrar, às 7H30.
Deves manifestar desejo de ir no autocarro o mais breve possível, para que possamos saber com o que contar.
Tal como no anterior encontro, não será ofertada qualquer lembrança, as coisas estão negras… Vamos fazer troca de prendas e como sempre, só tem prenda quem trouxer para trocar. O valor não deverá exceder os 2,50€.
Este convite é extensivo a todos os Camaradas da Companhia de Cavalaria 678, nossos convidados em encontros anteriores. Bem-vindos.
Contactos:
Rodrigues
Mail – tonicrodrigues@sapo.pt
Telemóvel 919 717 832
Trabalho 253 262 824
Telefones fixos:
Casa depois das 20 horas: 253 693 615
Manuel Fernandes (2001)
Telemóvel 917 634 474
Telefone casa 253 577 883
Restaurante D. Nuno
Telefone 249 539 040
MAPA DE LOCALIZAÇÃO
__________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
1 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3551: Brasões, Guiões ou Crachás (4): CCAÇ 728; CCAÇ 2617; CCAÇ 3566; PEL CAÇ NAT 63; CCAV 677 e CCAÇ 2402 (José Martins)
25 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3516: Em busca de... (54): Companheiros da CCAV 677/BCAÇ 599 (Resultados) (Santos Oliveira)
e
23 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3504: Em busca de... (53): Companheiros da CCAV 677/BCAÇ 599, Guiné, 1964/66 (José Matos)
Vd. último poste da série de 20 de Abril de 200): Guiné 63/74 - P4219: Convívios (113): Pessoal da CCAÇ 3491, no dia 16 de Maio, em São Martinho de Antas, Sabrosa, Vila Real (Luís Dias)
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Guiné 63/74 - P4223: Efemérides (20): Faz hoje 39 anos que foram mortos os 3 majores e o Alf Mosca no chão manjaco (Manuel Resende)
Passam hoje 39 anos sobre sobre a tragédia do chão manjaco. Curvamo-nos à sua memória dos nossos camaradas (Maj CEM Raul Ernesto Mesquita Costa Passos Ramos, Maj Art Joaquim Pereira da Silva, de Inf Alberto Fernão Magalhães Osório, e Alf Mil Cav Joaquim João Palmeiro Mosca) e à memória dos guineenses que os acompanhavam (Mamadu Lamine Djuare, Patrão da Costa e Aliu Sissé).
Segundo a legenda (rectificativa) que nos mandou o Manuel Resende (que mora em São Domigos de Rana), "ao meio é 2º Sargento da Companhia, (não me lembro o nome); ao fundo é o Alf Marques Pereira". A crescenta ainda que a companhia dele, a CCaç 2585 partiu para a Guiné, no T/T Nassa, em 7 de Maio de 1969, portanto duas semanas antes da CCaç 2590, independente (futura CCaç 12) a que pertenci eu e o Humberto Reis, o cartógrafo-mor... (LG)
1. Mensagem do Manuel Resende, ex-Alf Mil da CCaç 2585, BCaç 2884, que esteve em Jolmete, Pelundo, Teixeira Pinto, chão manjaco (1969/71):
O Manuel Resende já se apresentou há tempos à nossa Tabanca Grande (**). Hoje envia-nos as fotos da praxe e um pequeno apontamento sobre a morte dos MAJORES no Chão Manjaco, faz hoje precisamente 39 anos.
Caro Luís:
Sou o Manuel Resende, ex-Alf da CCaç 2585 de Jolmete. Lá era o Alf Ferreira. Junto envio as duas fotos da praxe e um pequeno apontamento sobre a morte dos três MAJORES. É o meu contributo para um futuro esclarecimento total desta situação.
Alguém questionava, num dos artigos que li no Blogue sobre o local exacto onde os Majores foram assassinados. Pois o local exacto já foi devidamente explicado, até com fotos do Google Earth. Está correcto. Foi junto à segunda bolanha a contar de Jolmete-Pelundo (cerca de 5 Km de Jolmete).
Mas surge outro problema: porquê ali e não no local previamente combinado entre eles, junto à terceira bolanha (no mesmo sentido, ou primeira a contar do Pelundo-Jolmete também a cerca de 5 Km do Pelundo)?
Devido à demora nos resultados da reunião, ao anoitecer foi-nos dito pelo Comandante da Companhia o que se estava a passar, e que tinha sido decidido sair tropa de Jolmete em direcção ao Pelundo e do Pelundo em direcção a Jolmete, até se encontrarem. O resto já todos sabem.
Acrescento só que eu também ouvi alguns tiros, penso que três, longínquos, cerca das três ou quatro horas da tarde. Em tempo de defeso ouvir tiros no mato,... foi muito esquosito e comentado, mas como só o Capitão sabia o que se estava a passar, a coisa ficou assim.
Acredito mas não compreendo como os mártires foram esquartejados por rajadas de metralhadora, sem que nós tivéssemos ouvido. É mais fácil ouvir uma rajada do que um tiro avulso. A ideia com que fiquei na altura é que foram todos assassinados com um tiro na nuca. Por quem? ... Esse é outro problema.
Não quero contradizer ninguém, mas no Domingo, véspera do fatídico dia 20 de Abril de 1970, ao jantar, o Major Pereira da Silva recebeu um telefonema dizendo que um tal "Luís" iria estar presente na reunião. Segundo testenunhas o Major ficou petrificado, depois desse telefonema. Foi ele que não autorizou a ida do comandante do CAOP, Coronel Alcino, e outras pessoas que estavam previstas ir, pois parece que já adivinhava o que se ia passar. Daí também ele ter escrito a carta à esposa antes de sair. Estavam previstos três jipes e só saíram dois.
Caro Luís, em 1980 fui à Guiné em serviço da empresa onde trabalhava. Estive a falar com um Tenente do PAIGC, que me foi apresentado. Éramos vizinhos em Jolmete, pois ele lembrava-se bem da Companhia 2585. Depois de alguma conversa concluímos que estivemos várias vezes em confronto. Disse ele:
-Os Portugueses eram muito ingénuos, pensavam que nós nos íamos entregar ...
Nota: Podes corrigir ou cortar texto se for necessário para melhor enquadramento.
Eu tenho cerca de 200 fotos, muitas sem interesse, mas irei enviar algumas. Hoje vou mandar três, sendo uma com três Alferes da Companhia (eu estou no meio), outra com o Alf Mosca na véspera de Natal de 1969 a preparar um petisco na cozinha (3 meses e meio antes de ele morrer), e uma do Dandi, Cap de Milícia, para preparar o próximo apontamento.
No comentário anterior que fiz, ao dizer o nome dos Alf da Companhia, por lapso, não disse Raul antes de Manuel Charraz Godinho (*). Aqui fica a rectificação: Raul Manuel Charraz Godinho.
Um abraço e até outro dia.
Manuel Resende
Guiné > Região do Oio > Jolmete > CCAÇ 2585 (1969/71) > O Capitão de Milícia, Dandi.
Guiné > Região do Oio > Jolmete > CCAÇ 2585 (1969/71) > 3 alferes da companhia, o Manuel Resende, mais conhecido pelo último apelido, Alf Ferreira, é o do meio.
Fotos: Manuel Resende (2009). Direitos reservados
_____________
Notas de L.G.:
(*) Vd. os últimos postes sobre o massacre do chão manjaco:
1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2320: Relatórios Secretos (1): Massacre do Chão Manjaco: O resgate dos corpos (Virgínio Briote)
27 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2004: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (Anexo A): Depoimento de Fur Mil Lino, CCAÇ 2585 (Jolmete, 1970)
(**) Vd. poste de 26 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4080: Tabanca Grande (127): Manuel Resende, ex-Alf Mil, CCAÇ 2585 (Jolmete, 1969/71): como o mundo é pequeno e o nosso blogue é grande
Guiné 63/74 - P4222: Agenda Cultural (7): Os Traumas da Guerra Colonial, Museu de Arte Sacra e Etnologia, Fátima, 24/4/09 (J. Mexia Alves)
Meus caros camarigos
Para conhecimento da Tabanca, se assim acharem de bem.
Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves
2. De: Museu de Arte Sacra e Etnologia
Data: 20/04/2009
Exmos(as). Senhores(as),
“Os Traumas da Guerra Colonial” é o tema da próxima tertúlia no Museu a realizar-se no próximo dia 24 de Abril, sexta-feira, pelas 21h00, no MASE -Museu de Arte Sacra e Etnologia, em Fátima.
Foram convidados especiais para esta tertúlia o médico psiquiatra Afonso de Albuquerque e o Armindo Roque da Associação APOIAR.
Esta tertúlia irá ter também a participação de quatro alunos do Centro de Estudos de Fátima que elaboraram o projecto ”Heróis esquecidos”.
“Tertúlias no Museu” resulta de uma parceria entre o Museu de Arte Sacra e Etnologia dos Missionários da Consolata e a Junta de Freguesia de Fátima, visando desenvolver mecanismos culturais para a comunidade local. A entrada é livre.
Sexta-feira dia 24 de Abril – 21h00
Museu de Arte Sacra e Etnologia
Instituto Missionário da Consolata
Rua Francisco Marto, 52 Apt. 5
2496-908 – FÁTIMA
Tel 249 539 470
Fax 249 539 479
E-mail: museuartesacra@consolata.pt
Blog: Museu de Arte Sacra e Etnologia
Sítio Instituto Missionário da Consolaado IMC: /
__________
Nota de CV:
Vd. último poste de 15 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4191: Agenda Cultural (7): 2º Ciclo de Conferências 'Memórias Literárias da Guerra Colonial', Espaço Grandella, Lisboa (José Martins)
Guiné 63/74 - P4221: Da Suécia com saudade (11) (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (11): Custa a acreditar que o Gen Almeida Bruno nos trate assim
Foi com grande surpresa que tive conhecimento dos comentários do Sr. General Almeida Bruno. É, na verdade, difícil de acreditar que o Sr. General trate os Soldados, Sargentos e Oficiais que desempenharam talvez menos romantizadas funções como tropa de quadrícula, de semelhante modo (**).
- Ocupação e interdição de terreno.
- Protecção local das populações e tabancas isoladas.
- Abertura de novas estradas.
- Construção de postos escolares onde militares voluntários ensinavam a ler e escrever.
- Assistância sanitária a populações que nunca tinham visto um medicamento, com um carinho e dedicação incompreensíveis nas circunstâncias em que era exercido.
- Escoltas heróicas a colunas de abastecimentos por itenerários pré-conhecidos e devidamente armadilhados, ou emboscados, pelo inimigo.
- Muitos vivendo em isolados destacamentos sem disporem de, literalmente, NADA!
Não se podem esquecer os riscos e os actos de heroismo practicados pelos Pára-quedistas, Fuzileiros ou Comandos. Mas não se pode também esquecer que, terminadas as operações, as tropas especiais regressavam à cidade, ao duche, ao rancho digno de seres humanos, e a um mais que merecido período de descanso... em segurança.
Comparar com as condições diárias, semanais, mensais, anuais da tropa da quadrícula em tabancas e aquartelamentos perdidos algures na mata? Bandos, meu General?
Para os Camaradas que o desconheçam, o Sr. Gen. Almeida Bruno tem uma folha de serviços das mais heróicas e exemplares de entre os oficiais que COMBATERAM na guerra colonial. Os que serviram sob as suas ordens testemunham que as tão altas condecorações e louvores que recebeu foram justas. Inúmeros actos de heroicidade, e sacrifícios para além do dever, acompanhados sempre por uma exemplar solidariedade para com os subordinados, eram a norma do procedimento do Sr. Capitao Bruno.
Muitos desconhecerão que os óculos escuros que sempre o acompanhavam são o resultado de grave deficiencia ocular que quase lhe provocou a cegueira ao recusar ser evacuado de uma operação em que participava para não abandonar os seus camaradas na difícil situação em que se encontravam. E, para os mais políticos temos que nos recordar ter sido Almeida Bruno preso pela Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) em Marco de 1974, por ter optado por se revoltar antes de ser mais conveniente fazê-lo.
Onde quero chegar com tudo isto? Ao facto de ser totalmente INCOMPREENSIVEL, INACEITAVEL e INDESCULPAVEL que o Sr. General tenha qualificado de uma forma geral os involuntários da guerra da Guiné como um... bando! E, mesmo que, se em algumas situações muito específicas, guarnições poderão não ter estado à altura das circunstâncias, não será aos Soldados do Contingente Geral, Furriéis e Alferes Milicianos, ou mesmo Capitães Graduados, que as culpas devem cair!
Melhor que ninguém, quanto à Guiné, o Sr. General o deveria saber!Talvez, afinal, o poeta esteja certo quando escreveu referindo-se ao nosso querido Portugal:
- O meu País? O meu País é o que o mar não quer!
Estocolmo 30/3/09
José Belo.
2. Comentário de CV:
Quero pedir desculpa ao camarada Belo pela demora na publicação desta sua mensagem, que já é de 30 de Março, ainda por cima tratando-se de um comentário às lamentáveis e ofensivas palavras, a nós todos dirigidas pelo Gen Almeida Bruno (**).
Claro que o assunto não está esgotado e algo que apareça será sempre alvo da nossa atenção.
Nesta mensagem porém, o tom é diferente das demais, tendo alguns comentários e esclarecimentos, mais ponderados e frios, explicaria melhor para não ferir susceptibilidades, mas apaziguadores, sem no entanto desculpar o General.
Cada pessoa tem o seu estilo de escrita e, ainda bem que há pluridade para que todos sejamos lidos e discutidos.
Muito obrigado pelos vossos comentários.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 19 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4056: Da Suécia com saudade (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (10): Um certo CMDT de Batalhão nas margens do Cacheu
(**) Vd. poste de 18 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4208: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (15): Curvo-me perante V.Ex.ª, uma vez mais... (Manuel Maia)
Guiné 63/74 - P4220: Cancioneiro do Cantanhez (2): Cabedu és nossa terra (Tony Grilo, Canadá)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cantanhez > Cabedu > Vista aérea do destacamento e da tabanca de Cabedu, com a sua pequena pista de aviação.
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Catió > Cemitério de Catió > Duas sepulturas de militares portugueses, pertencentes à CCaç 1427 (1965/67), segundo informação do Tony Grilo.
Fotos: © Tony Grilo (2009). Direitos reservados.
1. Resposta do nosso camarada da diáspora (vive no Canadá desde 1972), Tony Grilo, que foi Apontador de obús 8,8, em Cabedu, Cacine e Cameconde, 1966 e é membro da nossa Tabanca Grande desde Março último (**)... Ele entrou em contacto connosco, em 5 de Março, tentando saber notícias da malta que passou por Cabedu, entre 1966 e 1968: CCAÇ 1427, CART 1614 e BAC [Bateria Anti-Costa].
Amigo Luís Graça:
Obrigado pelo teu email.
Dando resposta as tuas perguntas àcerca de Cabedu, vou tentar explicar o melhor possível.
Era um acampamento no meio da célebre mata do Catanhez, só podíamos sair de lá, por mar ou de avião.
Era um acampamento pequeno quando lá cheguei (em Julho de 1966).Tinha uma pista para avionetas e helicópteros,uma população muito pequena, talvez umas 15 a 20 tabancas [moranças],com uma clareira de uns 100 metro até à mata.
Quando cheguei, estava lá a [CCaç] 1427,uma companhia velha, com bastante experiência, e com algumas operações no Catanhez, onde numa delas tiveram 2 mortos e vários feridos, um deles com uma bazucada na cabeça. Por sinal tiveram que deixar o corpo na mata e fugir, pois os turras caíram-lhes em cima, se não fugissem ainda lá ficariam mais (***).
Da 1427 ficaram 2 mortos enterrados em Catió. Aí vão as fotos das seputuras (***).
Durante os meus 18 meses en Cabedu, alargámos o acampamento para o dobro, fizemos abrigos subtertrâneos, um paiol de munições, uma igreja (aí vai a foto) e um campo de futebol.
Estavamos perto de um famoso acampamento, Darsalame, onde o Amilcar Cabral e o Agostinho Neto [o autor deveria querer dizer 'Nino' Vieira..., já que o angolano Agostinho Neto era dirigente do MPLA e não do PAIGC], paravam muito. Numa das operações da [CCaç] 1427 e mais 2 companhias, quase que apanharam o Amílcar, mas ele foi mais esperto e safou-se.
Fomos atacados muitas vezes, pois os turras tinham a pouca vergonha de vir mesmo à beira da mata, apontavam o canhão sem recuo, em fogo directo, e salve-se quem puder. Mas assim que o obus 8,8 começava a vomitar, os turras calavam-se logo e fugiam, pois onde elas (as granadas)caíam faziam um estrago termendo.
Muita fome se passava aí, pois estavamos quase sempre sem mantimentos. Como tudo era trazido por batelões, levavam uma vida a chegar lá, então tínhamos que nos desenrascar, as galinhas dos pretos é que pagavam. Quando não havia chance para isso, iamos para a tabanca comer bianda com eles.
Apanhei ai uma fraqueza tão grande, por vezes não conseguia segurar-me nas canetas, até que tive que ir para Bissau ao hospital fazer exames, pois estava com uma anemia do último grau. Pois é, meu caro Graça, desculpa a liberdade, até bicho branco deitava nas fezes...
Quanto à tua pergunta sobre a minha vinda para o Canadá... Foi mais uma das minhas aventuras (pois a gente só esta bem onde não está).
Como tinha cá a minha irmã e cunhado, nesse tempo tudo foi muito fácil para eu imigrar, e então vim. Mas hoje, se me perguntares se estou arrependido, em parte estou, pois deixei um bom emprego e tinha uma boa situação em Portugal. Por outro lado, estou feliz pois pude dar uma boa educação aos meus 4 filhos que, todos, estão bem na vida, aqui.
Emfim, nem tudo na vida são rosas.
Graça, agora aí vão uns versos que eu fiz em Cabedu.
Um grande abraço para toda a TERTúLIA.
Tony Grilo
2. Cancioneiro de Cantanhez > Cabedu, nossa terra (*****)
por Tony Grilo
Nas tabancas dos nativos
Nós fazemos uma acção
Que certo Mundo não sabe
Que nos sai da coração.
O inimigo espreita
Atacando gente boa,
Mas os soldados respondem
Sem ser com tiros à toa.
De canais e muito mato
É composta a região,
Os musquitos são malignos
Terroristas de picão.
Com insectos ou sem eles
Que o tempo se vá passando,
Oh malta, já estamos vendo
O Niassa navegando.
Em Cabedu, em Cabedu,
Vão desfilando tantos soldados,
Mesmo com guerra, és nossa terra,
Nestes dois anos amargurados.
Oh Cabedu, oh Cabedu,
És fortaleza desta Guiné,
Te defendemos com valentia,
Aqui no mato, de noite e dia.
Cabedu, 1966
Tony Grilo
[Fixação / revisão de texto: L.G.]
_________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3182: Em busca de... (38): Causas da morte do Alf Mil Manuel Sobreiro (Mampatá, 1968) Parte II (José Martins)
Vd. postes de:
5 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3986: O Nosso Livro de Visitas (57): Tony Grilo, Canadá: Artilheiro, apontador de obus 8,8 (Bissau, Cabedu, Cacine, Cameconde,1966/68)
24 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4073: Tabanca Grande (126): Tony Grilo, Artilheiro, Apontador de obús 8,8 (Guiné, 1966/68)
15 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4192: Estórias avulsas (28): Sorte na Vida... ou quando uma dor de dente te salva a vida (Tony Grilo, Canadá)
(***) Segudo os dados recolhidos e tratados pelo nosso camarada A. Marques Lopes, haveria apenas um militar da CCaç 147, sepultado em Catió:
Vd. poste de 5 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2811: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (3): De 1966 a 1967 (A. Marques Lopes)
(...) Avelino do Patrocínio Lage, Soldado / CCaç 1427 / 03.01.66 / Cafal / Ferimentos em combate / Paranhos, Porto / Corpo não recuperado.
(...) Adolfo do Nascimento Piçarra, Soldado / CCaç 1427 / 20.03.66 / Catesse / Ferimentos em combate / Ferradosa, Alfândega da Fé / Cemitério de Catió, Guiné.
(...) Albino Teixeira Martins, Soldado / CCaç 1427 / 20.03.66 / Catesse / Ferimentos em combate / Cachopo, Tavira / Corpo não recuperado.
(****) Vd. último poste da série > 20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3915: Cancioneiro do Cantanhez (1): De Cafal Balanta a Cafine, Cobumba, Chugué, Dugal, Fatim... (Manuel Maia)
Guiné 63/74 - P4219: Convívios (115): Pessoal da CCAÇ 3491, no dia 16 de Maio, em São Martinho de Antas, Sabrosa, Vila Real (Luís Dias)
Caro Carlos Vinhal
Não te queria maçar muito porque deves estar com muito que fazer, por "estares de serviço" ao nosso blogue. Assim, venho apenas pedir que publicites no blogue o Almoço-convívio da minha companhia - a CCAÇ 3491, que anexo.
Um abraço
Luís Dias
ALMOÇO DE CONFRATERNIZAÇÃO DA CCAÇ 3491 “GUINÉ 71-74”
MAIO – 2009
Caro Amigo e Camarada de Guerra
É com enorme prazer e alegria que vimos convidar-te para mais um Almoço-Convívio entre os elementos da Companhia de Caçadores 3491. Lembramos que neste ano comemoramos os 35 anos da chegada ao nosso país, depois de cumpridos 27 meses e meio de Guiné e vamos com certeza recordar aqueles autênticos “campos de férias” (Dulombi, Galomaro, Paiai Lemenei, Rio Corubalo, Vendu Cantoro, Vendu Columbai, Bangacia, Samba Árabe, Campata, Rio Mondajane, Padada, Jifim, Cansamba, Umaro Cossé, Samba Cumbera, Mali Bula, Dulô Gengele, Pate Gengele, Sincha Bucô, R.Canhanque, Sangue Cabomga, Sarrancho, Deba, etc….) e também a imensa camaradagem e sincera amizade que nos uniu e une. Ainda, relembrar os camaradas que já partiram e que nos deixaram uma infinita saudade.
Caso saibas de algum camarada que, por qualquer motivo, não tenha ainda participado nos nossos encontros anuais, envia-lhe o convite ou fala-lhe deste encontro. O convívio é ainda aberto a camaradas do Batalhão ou que tenham estado na Guiné e que queiram participar desta reunião, bem assim, como é hábito, às nossas famílias.
O Almoço-Convívio terá lugar no próximo dia 16 de Maio (Sábado), a partir das 10H00 da manhã, em São Martinho de Antas, Concelho de Sabrosa, Vila Real.
A Concentração efectuar-se-á no Largo do Eiró, no centro de S. Martinho.
Às 11H00 faremos uma visita à casa e ao busto do escritor filho da terra, Miguel Torga.
Às 11H30, será celebrada uma missa de Acção de Graças, na Capela de Nossa Senhora da Azinheira e
às 12H00 partiremos para o Restaurante Constantino, onde será servido o almoço.
O almoço será antecedido de entradas típicas de Trás-os-Montes e depois teremos, como não podia deixar de ser, a boa vitela e o bom cabrito assado desta região. Serão servidas as sobremesas e a acompanhar o repasto, os bons vinhos da zona.
O preço é de 30 euros por pessoa.
Resta pedir que tragam apetite e que confirmem para o organizador a vossa presença até ao dia 30 de Abril de 2009.
ORGANIZADOR: António Augusto de Jesus Pinto Melro
S. Martinho de Antas
Telefone: 259 939 659
Telemóvel: 934 557 883
“OS DENTES ESTÃO ENVELHECIDOS, MAS AINDA
MORDEMOS. ESTAMOS VIVOS!”
COMEMORAÇÃO DOS 35 ANOS APÓS O REGRESSO.
VALOROSA CCAÇ 3491 QUE TANTO
PERCORRESTE……!!!!
“É MUITO!”
Junta-se mapa de acesso ao local do Almoço-Convívio para uma melhor localização.
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Nota de CV:
(1) Vd. poste de 22 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4068: Recordando a tragédia do Quirafo, ocorrida no
dia 17 de Abril de 1972 (Luís Dias)
(2) Vd. poste do dia 11 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4012: Efemérides (18): Faz hoje 37 anos que tivémos o primeiro contacto com o IN (Luís Dias, CCAÇ 3491, Dulombi, 1971/74)
Vd. último poste da série de 19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4213: Convívios (112): Pessoal da CART 2339, Os Viriatos, dia 23 de Maio de 2009 no Alto Foz, Peniche (Carlos Marques Santos)
Guiné 63/74 - P4218: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (13): Um mês complicado (2) Emboscada bem montada
Amigo Vinhal
Segue mais uma Viagem… que relata aligeirada mas fielmente, uma situação complicada com pormenores que julgo jamais esquecer, na sua essência.
Um abraço amigo
Luís Faria
Bula – um mês complicado (2)
Emboscada bem montada
Dias após a Op. Borboleta, com o meu 2.º GComb fomos de novo palmilhar Ponta Matar a desígnios da Op. Bajudinha.
Como sempre, saída à noite, entrada na mata ao amanhecer, progressão com atenção redobrada sem facilitar, evitando o mais possível os trilhos e clareiras, ouvidos atentos aos sons ambiente e sua alteração, sentidos alerta e prontos a reagir, enfim aplicando as medidas possíveis de segurança que íamos aprimorando com a experiência.
Por termos tido uma instrução de Tropa Especial , o Castro e eu considerávamos que a segurança do Grupo era maior indo um de nós, por norma, em primeiro ou segundo lugar na fila o que também nos permitia melhor controlar o andamento na progressão e evitar ou corrigir mais rapidamente, possíveis riscos de itinerário. Não nos demos mal com este sistema e usámo-lo durante toda a comissão (O Fontinha também o usou no 4.º GComb)
Pela hora de almoço o pessoal, mantendo as posições parou numa zona de árvores de grande porte e com alguns baga-baga, aproveitando para comer algo e descansar. Até aqui… tudo a correr bem.
Menos cansados e já reabastecidos, recomeça-se o andamento em mata folgada, comigo em segundo lugar, Barros a meio e Castro na retaguarda. A dada altura, por a mata ser extremamente fechada, fomos obrigados a seguir num antigo trilho de viaturas, que após uma curva à direita, desembocava numa pequena bolanha e ladeando-a dividia-se virando à esquerda na orla, e seguindo em frente em trilho mais estreito.
Tomadas as devidas precauções, avançamos a descoberto, situação que não me agradou, mas era forçosa e já perto da bifurcação, rebenta a emboscada à minha esquerda, com violência, apanhando-me e a uma dezena de rapazes em campo aberto, obrigando-nos a atirar para o chão, usando como protecção relativa o rebordo alteado do desnivelamento do trilho com a bolanha, (ver croquis)
Croquis da emboscada (Op. Bajudinha – Ponta Matar )
Estendidos no chão, ripostamos sem que o restante pessoal mais atrasado pudesse intervir eficazmente - à excepção talvez do Cancêlo e seu morteiro e do Augusto com os seus dilagramas - por causa da mata quase impenetrável que os ladeava e impossibilitava a movimentação de envolvimento.
De súbito vejo levantarem-se salpicos de terra a escassos palmos à frente da minha cabeça e o sentido da sua deslocação indica-me que os tiros vêm das árvores que estão à minha retaguarda. Rodo sobre o corpo e faço uma série de tiros para a única árvore que considerei passível de acoitar o atirador (3.ª vez que me aconteceu uma situação do género. A primeira no Choquemone, a segunda uns dias atrás nesta mesma zona de Ponta Matar) que, ou por ter sido atingido ou se sentir detectado, deixou de os fazer.
Ao rodar de novo para a posição inicial, ouço e vejo um rebentamento de morteiro no trilho mais estreito que estava no enfiamento da picada, logo seguido de um outro e mais outro, cada vez mais próximos de nós!! Era óbvio que havia um morteiro IN no trilho estreito, que não conseguia ver, mas que vinha alongando o tiro na nossa direcção. (ver croquis)!!!
Gritei para o Pessoal:
- Morteiro!!… saiam do trilho !!
Deitado passei-me para o outro lado do rebordo, no que fui seguido pela rapaziada. Mais três ou quatro morteiradas caíram já na zona e acabaram, fazendo-nos um ferido – creio que o 1.º Cabo Castanhas, (já tinha sido ferido no Choquemone) - tendo sido evacuado por heli.
… Julgo que, com a chegada de apoio aéreo e do heli para evacuação, tudo acaba.
Tínhamos ultrapassado uma dura emboscada, mas desta vez e no meu entender, concebida para arrumar com uma série de nós, o que só não aconteceu graças a Deus, à calma fria e experiência que cada vez mais íamos adquirindo.
Ao que deduzi e aprendi, o IN detectou-nos e conhecedor do terreno , apercebendo-se de que tínhamos entrado naquele antigo trilho de viaturas, sabia que não tínhamos outra saída que não fosse desembocar na bolanha. Daí ter tido tempo mais que suficiente para nos armar aquela emboscada tão bem montada!
De novo confirmei que em progressão na mata, os trilhos, picadas, clareiras eram de evitar a todo o custo, se queríamos ter mais hipótese de regressar pelo próprio pé e… SOBREVIVER . Era também para isso que lá estávamos!
Nota: O 1.º Cabo Castanhas foi um dos que, muito merecidamente foi distinguido com o Prémio Governador.
Um abraço à Tertúlia
Luís Faria
Bula (Ponta Matar) – Op. Bajudinha - Sold. Seno com a G3 do evacuado
Bula (Ponta Matar) – Op. Bajudinha - Evacuação
Fotos e legendas: © Luís Faria (2008). Direitos reservados
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 11 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4174: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (12): Bula - Um mês complicado (1) Faria, oh Faria, apanharam-me