1. Mensagem de José Manuel Matos Dinis* (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 17 de Outubro de 2009:
Carlos,
Andei aqui às voltas com este assunto.
Anexo um texto que pode conter erros de apreciação, mas foi o que se me deparou dizer numa manhã de revolta. Pode ser que, entre os nossos atabancados, algum dos juristas possa pronunciar-se em esclarecimentos. Quanto a eventuais manifestações de repúdio, chamo a atenção para que sejam convenientemente organizadas, e não voltem o feitiço contra o feiticeiro, ou redundem em fracasso geral.
Sobre esse assunto troquei impressões, ou manifestei-me, com alguns camaradas.
Para ti e para a Tabanca, abraços fraternos
José Dinis
Esmiuçando o SEP e o AVP
Coincidindo com o mês de pagamento do Acréscimo Vitalício de Pensão, bem como do Suplemento Especial de Pensão, a todos os antigos combatentes que estiveram em condições especiais de dificuldade ou perigo, a quase totalidade dos combatentes mobilizados para a Guiné, verificou ser afectada em parte daqueles pagamentos. Mas não só, outros combatentes estão privados de qualquer daquelas verbas.
Quando em 2002 foi publicada a Lei n.º 9, também conhecida pela lei do Paulo Portas, cheirou-me a demagogia barata, a um piscar de olho aos antigos combatentes, com vista a caçar votos. De facto, os trinta contitos propostos (na época ainda se referiam contos), não só não resolviam qualquer problema à generalidade dos beneficiários, como o respectivo encargo, iria agravar o deficit público que, logo em 2005, Bagão Félix, por artes rapinosas, foi obrigado a equilibrar, pela nacionalização de fundos particulares para garantia de pensões. Por outro lado, não me consta que alguma nação proceda a pagamentos de idêntico significado junto dos seus antigos combatentes. Em benefício de antigos combatentes, outra poderia ter sido a solução, principalmente no que concerne à assistência.
Mas atentemos na Lei n.º 9. Trata-se da regulamentação dos períodos de prestação do serviço militar de ex-combatentes, para efeitos de aposentação e reforma, conforme o preâmbulo. Nos artigos sexto e sétimo estabelece, respectivamente, o Complemento Especial de Pensão (CEP) e o Acréscimo Vitalício de Pensão (AVP). Quanto aos encargos decorrentes da aprovação da Lei são suportados pelo Orçamento de Estado, sem prejuízo do pagamento das quotizações ou contribuições que couber a cada subscritor ou beneficiário, expressa o n.º 1 do artigo 11.º. Estas duas figuras jurídicas configuram, assim, um prémio de reconhecimento atribuído a todos os combatentes que estiveram em condições especiais de dificuldade ou perigo, comummente designadas por zonas de 100%.
A partir de 2004 todos os antigos combatentes na situação de reforma ou aposentação poderiam passar a receber o CEP e o AVP, desde que satisfeitas as regras determinadas pelo artigo 3.º, relativas a pagamentos de quotizações ou contribuições. Aqui a porca começa a torcer o rabo. A coisa já não era tão linear. Mas, ainda assim, havia quem recebesse. E passou a constar que os dependentes da Segurança Social não estavam abrangidos pelos benefícios. Isso resulta, apenas, da tradicional e liberal rebaldaria, que permite apurar pensões pelo cálculo médio de uns quantos anos de descontos, com medidas políticas que estabelecem valores para pensões mínimas, sem correspondência aos valores descontados, que incentivam o desleixo e a dificuldade crescente na satisfação dos encargos. Mas não é politicamente correcto esclarecer e definir a situação, e transcende esta matéria.
Agora, chegou a nova Lei n.º 3 de 2009. No artigo segundo, reforça e esclarece que a lei aplica-se aos beneficiários do sistema da previdência de segurança social; aos beneficiários dos regimes de subsistema de solidariedade do sistema de segurança social; aos subscritores ou aposentados da CGA; aos abrangidos por sistemas de segurança social de Estados membros da União Europeia e demais Estados membros do espaço económico europeu, bem como pela legislação suíça, coordenados pelos regulamentos comunitários; aos abrangidos por sistemas de segurança social de Estados com os quais foram celebrados instrumentos internacionais...; aos abrangidos pelo regime de protecção social dos bancários, beneficiários da Caixa de Previdência dos Advogados e Solicitadores e da Caixa de Previdência do Pessoal da Marconi.
A lei não abrange os ex-combatentes sem abrigo e outros marginais à sociedade, nem os que não beneficiam de qualquer dos regimes antes referidos. Aqui, parece-me notar uma inconstitucionalidade grave, pois se no espírito do legislador se pretende indemnizar os antigos combatentes que estiveram em condições especiais de dificuldade ou perigo, a lei discrimina entre os que estiveram naquelas condições, nas tintas pelo princípio da igualdade. E por isto, põe-se-me ainda a questão de perceber, como é que se pode considerar que em Luanda e Lourenço Marques tivessem cumprido integralmente as suas comissões alguns combatentes que não saíram do ar condicionado. O mesmo, aliás, relativamente a outras cidades, Bissau incluída, apesar dos mísseis que rebentaram para os lados da Sacor em 10/06/1971. Sobretudo em condições especiais de dificuldade ou perigo. Adiante.
Da leitura do artigo 6.º resulta nova estupefacção. Ali se refere que o Acréscimo Vitalício de Pensão, previsto na Lei n.º 9/2002, "é uma prestação pecuniária de natureza indemnizatória atribuída aos antigos combatentes", mas, a seguir discrimina de entre alguns, menos dos que são referidos no penúltimo parágrafo atrás referido. Parece querer dizer-se que, para o Governo, de entre os que combateram nas condições de dificuldade ou perigo, alguns (muitos?) não merecem ser indemnizados. É como se, grosseiramente, um juiz não determinasse o pagamento de uma indemnização, se, no direito português, e numa época anterior que os tivesse dispensado, o beneficiário tivesse os impostos por liquidar. Isto é um exagero, claro. Porque nem essa regra indemnizatória existe, nem os antigos combatentes mereceriam ser discriminados, porque a sua Nação não considera semelhante regra condicional em qualquer outra situação; ou, não satisfizeram regras agora pertinentes (art.º 12.º), porque requereram a contagem de tempo em época anterior, nos termos da legislação então vigente.
Aconteceu comigo ter pedido a contagem de tempo do serviço militar para efeitos de aposentação, no fim da década de oitenta, nos termos da legislação então em vigor. Mais tarde, requeri o direito aos abonos contemplados pela Lei n.º 9/2009, nos termos e prazo que fixava. E fiquei descansado, à espera que, um dia reformado, me pagariam a verba a que me sinto com o mesmo direito que os demais, porque estava no âmbito dos que serviram em condições especiais de dificuldade ou perigo, e porque os meus actos subsequentes foram em conformidade com as leis da Nação.
No princípio deste ano, com data de 16.01.2009, recebi da CGA a comunicação sobre o pagamento da pensão a que tenho direito desde Fevereiro. Em "observações" referia-se que "o tempo de serviço militar foi contado com dispensa do pagamento de quotas, nos termos do art.º 3.º da Lei n.º 9/2002 e art.º 10.º, n.º 2, do Decreto-Lei n.º 160/2004, de 11 de Fevereiro e 2 de Julho, respectivamente". Fiquei contente a pensar que os abonos da lei do Paulo Portas estavam assegurados. Afinal, quilhei-me.
É que a alínea a), do n.º 1, do art.º 12.º da Lei 3/2009 estabelece a dependência do direito aos benefícios, de o antigo combatente, à data do seu vencimento, "ser titular de pensão de invalidez ou de aposentação, SALVO quando esteja em causa a contagem do tempo de serviço efectivo e das respectivas percentagens de acréscimo com dispensa do pagamento de contribuições ou quotas". Até parece que pedi a contagem de tempo para efeito de aposentação à surrelfa, sem qualquer suporte legal. Esta alínea da Lei revela má fé e discriminação incompreensível.
Provavelmente, outras situações de injustiça se revelam, nomeadamente a que é determinada pelo pelo n.º 4 do artigo 8.º que estabelece três critérios de valorização do SEP, e que penaliza a generalidade dos que combateram ou prestaram serviço no TO da Guiné, dado que só recebem os cento e cinquenta euros, quem permaneceu 24 meses em condições especiais de dificuldade ou perigo, o que não vincula a maioria dos guineenses, princípio completamente abandalhado, na medida em que muita gente repimpada nas cidades e no ar condicionado, viu, saiba-se lá porquê, majorada a contagem de tempo em 100%. Não estou contra eles, estou é incrédulo com a desfaçatez com que o Governo patrocina esta injustiça, pois é consabido que na Guiné, foi onde o IN desenvolveu mais actividade, com consequência no número de baixas causadas, e onde o clima se manifestava mais inóspito. Quem queria a Guiné por destino?
Do exposto, resulta que o Governo manifestou um tratamento leviano sobre esta matéria, que procedeu a notórias injustiças, ignorando uns, discriminando outros. Agora, ao Governo só resta proceder a uma adequada alteração aos termos de benefício do AVP e do SEP, com efeitos retroactivos, convenientemente publicitada para que os excluídos possam aceder ao direito, e normalizar, sem exclusões ou limitações, o benefício entre todos os que serviram a Pátria com nobreza e sentido do dever.
__________
Notas de CV:
(*) Vd poste de 14 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5106: História da CCAÇ 2679 (28): Mais visões quotidianas (José Manuel M. Dinis)
Vd. último poste da série de 18 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5129: Direito à indignação (6): As míseras migalhas que os comensais da mesa estatal deixam cair (Jorge Picado)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Guiné 63/74 - P5132: Humor de caserna (13): Rambo uma vez, rambo para sempre (Joaquim Mexia Alves)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1972/73) > Imagens do Alf Mil Op Esp Mexia Alves, que foi o primeiro oficial português (se não me engano...) a comandar o famoso destacamento de Mato Cão, na margem direita do Rio Geba (ou Xainga) entre Bambadinda e o Xime, frente a Nhabijões.
Fotos: © Joaquim Mexia Alves (2008). Direitos reservados
1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil da CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), Pel Caç Nat 52 (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73:
Caros camarigos editores:
Anda para aí um pessoal a contar umas aventuras de guerra pelos jornais e até em alguns livros, pelo que eu decidi também contar uma aventura minha!
Claro que é tudo verdade!!!!!
Agora a sério, se julgarem que pode ferir susceptibilidades ou que não se enquadra no "perfil" da Tabanca, só têm que arquivar o "brilhante" texto na "cesta" secção.
Abraço amigo do
Joaquim Mexia Alves
2. Humor de caserna (*) > Uma ida à mata!
por J. Mexia Alves
Olhei para a minha G3, feita especialmente para mim, e chamei os furriéis:
- Ó Manel, manda lá o pessoal preparar-se que eu hoje apetece-me encontrar os gajos e pregar-lhes uma carga de tiros!
O Furriel Manel, entre o brincalhão e o apreensivo, voltou-se para os outros e disse:
- É pá, cuidado com ele! O Alferes hoje tá danado para a porrada! Até já tou com pena dos turras!
Reentrei no meu quarto e comecei a preparar-me. Pintei a cara e as mãos segundo a melhor arte de camuflagem e vesti o camuflado.
No tornozelo direito coloquei num coldre apropriado a minha Walter PPK. No tornozelo esquerdo o meu revólver Smith & Weston, fiel companheiro de tantas idas ao mato sem nunca encravar.
À volta da cintura, presas ao cinturão 4 granadas defensivas enquadradas pelos diversos carregadores de munições das diferentes armas.
Presa à passadeira do camuflado no ombro esquerdo coloquei a minha indispensável faca de mato, que já me tinha valido a vida em tantas lutas corpo a corpo naquelas matas da Guiné.
Olhei para o cantil da água e coloquei-o de lado. Homem que é homem não bebe água e um guerrilheiro não tem sede! Em vez de levar o cantil, coloquei mais duas granadas à cinta e no ombro direito.
Coloquei os óculos de lentes amarelas no bolso do peito porque já sabia que me iam fazer falta para ver os turras empoleirados nas árvores no meio da folhagem.
Olhei-me no espelho grande que tinha no quarto e um ligeiro tremer apoderou-se de mim. Porra até a mim eu metia respeito!!!
Saí para a parada e do meu Pelotão formado saiu um Ah! de espanto e temor! Eu tinha esse condão!
Quando saía para a mata em operações o pessoal ficava sempre à rasca quando me via. Ou não tivesse eu a fama que tinha! Ouviam-se pelo meio dos soldados uns murmúrios que diziam:
- É, pá, o gajo hoje tá de todo. Coitados dos gajos, nem têm hipótese!
Como sempre fazia, levantei a voz e disse para os meus homens:
- Pessoal, já sabem como é. Não há misericórdia, nem fazemos prisioneiros, e já sabem que enquanto eu estiver a dominar a coisa sozinho, vocês não metem o bedelho!
Só o Furriel Manel é que fica incumbido de atirar ao gajos das árvores se eu não os conseguir abater a todos.Todos têm as palhinhas para respirarem debaixo de água?
Era o meu melhor truque! Colocávamo-nos dentro de água, totalmente imersos e a respirar por umas palhinhas e, quando os gajos se chegavam ao rio, era só saltar de dentro de água e disparar a torto e a direito! Nem um só escapava!
Olhei para o pessoal, olhos nos olhos de cada um, e comandei em voz alta e forte:
- Vamos lá despachar uns gajos que eu quero chegar a tempo de beber a cervejinha da tarde!!!
Ouviu-se uma grande algazarra, vozes a discutir, etc, e depois finalmente uma voz que dizia esganiçada:
- Porra! Façam silêncio no estúdio que estamos a filmar!!!
Monte Real, 19 de Outubro de 2009
J. Mexia Alves
[Revisão / fixação de texto / título do poste: L.G.]
3. Comentário do L.G.:
Adorei essa da cesta secção, a do caixote do lixo... Na minha profissão, há o termo pubelication (composto de poubelle, caixote do lixo em francês, e publication, acto ou efeito de publicar, do inglês, to publish... Tudo isto, por causa do terrível mandamento que infernaliza as nossas vidas de cientistas: Publish or perish, publica ou morre; é que sem a pubelication não há carreira...).
Pois, aqui tens, camarigo, o teu texto, o qual merece conhecer a luz do sol, quero eu dizer, as luzes da blogosfera... Se mais não fosse, por um mérito intrínseco ao autor: quem tem humor é tolerante, sabe falar e sabe ouvir, tem sentido de autocrítica, é capaz de se rir de si próprio, e é incapaz de comportamentos... de bravata. Essa é, de resto, umas das razões por que de tempos a tempos recorro aos teus serviços de especialista em intermediação de conflitos. O título que pus no teu poste, é da minha única responsabilidade, e não pretende caricaturar nada nem ninguém, até por que Rambo é marca registada, é um produto exclusivamente americano.
Um Alfa Bravo, Luís.
_____________________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 2 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5045: Humor de caserna (12): A Paisanada... e Os Insaciáveis (Vitor Junqueira / Luís Graça)
Guiné 63/74 – P5131: Estórias do Fernando Chapouto (Fernando Silvério Chapouto) (10): As minhas memórias da Guiné 1965/67 – Ataque à tabanca do Sincho
1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda e autorizou-nos a publicar a 10ª fracção das suas memórias. A série foi iniciada nos postes P4877, P4890, P4924, P4948, P4995, P5027, P5047, P5056 e P 5095:
AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUINÉ - 1965/67
Como era dia de rendição era necessário ir fazer a picagem da estrada até Mansaina.
Saíram duas secções, em coluna motorizada, que, como se tornara costume, sempre se atrasava na sua formação e viajamos até Banjara.
Uma vez ali chegados, carregamos todo o equipamento programado para cima das viaturas e desejamos sorte ao outro pelotão, que era o do furriel Vaqueiro, comandado pelo Alferes Almeida.
Quando tudo foi dado como pronto, arrancamos e deixamos Banjara para trás.
Só quando houve operações para esta zona, é que o nosso destino foi Geba, sede da Companhia.
Geba permitia-nos descansar psicologicamente do isolamento que se vivia em Banjara, recuperarmos algumas forças e passarmos melhor o tempo (que em Banjara era um marasmo total), matando saudades em longos passeios pelas tabancas.
Em Bafatá, era possível matar as saudades de comermos uns pratinhos de camarões, pescados no rio Geba, frangos e ovos estrelados, devidamente acompanhados de umas boas e frescas “cervejolas”.
Ataque à tabanca do Sincho
em 10 de Janeiro de 1967
Passados alguns dias acabou-se o descanso. Por volta das onze horas da noite, estava eu no bar com os oficias e sargentos, quando chegou o 1º Cabo Cripto e chamou o meu Alferes, dizendo-lhe para se dirigir com urgência ao nosso capitão.
Ficamos a olhar uns para os outros. Que teria acontecido desta vez?
Coisa boa não era com certeza. Soubemos então, que o IN atacou a tabanca de Sincho (perto de Cantacunda).
Conseguimos que um condutor, num jipe, nos levasse ao aquartelamento, que distava uns quinhentos metros, no cimo da colina.
Cada furriel mobilizou o seu pessoal, que na maior parte já se encontrava deitado, para que se prevenissem com todo o equipamento necessário, incluindo o morteiro de 80 mm e o lança-granadas.
Informei-os de que o IN atacara uma tabanca perto de Cantacunda.
Com as viaturas já prontas, seguimos em direcção à referida tabanca, que distava de Geba cerca de trinta quilómetros. Passamos por Camamudo, por volta da meia-noite e, quando chegamos à bolanha, para nossa sorte, as viaturas atravessaram-na bem, não sendo preciso recorrer ao auxílio dos seus guinchos, pois o caudal de água era pouco naquela altura do ano.
Um quilómetro, ou dois, mais adiante, deixamos a picada que de dirigia para Cantacunda e desviamo-nos, por uma picada mais estreita que ficava à direita.
Como a noite estava clara começamos a ver algum fumo no ar, entramos numa grande clareira e vimos ao fundo a tabanca.
Como não podia deixar de ser, a nossa aproximação foi feita com muito cuidado e segurança, cercando o perímetro da tabanca.
Pouco e pouco foi aparecendo a população, notava-se que estava aterrorizada e com muito medo.
Procedemos ao reconhecimento nas cercanias, mas nem sinais do IN.
A tabanca estava toda queimada e destruída, constatamos haver dois mortos entre a população. Ao romper do dia, verificamos a existência de um terceiro morto, completamente carbonizado. De noite seria extremamente difícil localizá-lo, pois estava envolvido em cinzas de colmo e de canas, que serviram para o “assar”.
Continuamos o reconhecimento nas redondezas e procuramos “ler” nos rastos deixados, qual a direcção que o IN havia tomado na sua aproximação à tabanca antes de atacar, e encontramos inúmeros invólucros de calibre 7,62 mm.
Também detectamos deformações no capim onde estiveram deitados, esperando pela noite, para efectuar o ataque.
Como tudo se mantinha calmo, sem outras evidências do IN, regressamos a Geba.
(Continua)
Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/Ranger da CCAÇ 1426
__________
Nota de MR:
Vd. poste anterior desta série, do mesmo autor, em:
Guiné 63/74 - P5130: Parabéns a você (36): Carlos Filipe Coelho da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74 (Editores)
1. Hoje, dia 19 de Outubro de 2009, está de parabéns, por completar mais um ano de vida, o nosso camarada Carlos Filipe Coelho, Radiomontador da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74.
Toda a Tabanca deseja ao Carlos um dia de aniversário com alegria e boa disposição junto dos que lhe são mais chegados, família e amigos.
O nosso camarada Carlos Filipe já nos acompanha desde Dezembro de 2005 como se pode constatar no poste CDIV da primeira série.
Apresentou-se oficialmente à nossa Tabanca em Novembro de 2008 (**).
Recordemos as sua palavras:
Caros Srs e Amigos.
Em Dezembro de 2005, contactei o Blog. Ver por favor o Post com a data de 31 Dezembro 2005.
Contactei mais uma ou outra vez, entretanto acontecimentos graves com a saúde de minha esposa me tiraram todo o tempo e agora tenho-o todo do mundo infelizmente.
Recentemente o meu ex-camarada Juvenal, Post 3067 (***), teve a gentileza de escrever sobre a minha pessoa, o que provocou o entusiasmo para participar (embora o meu espólio de recordação seja reduzido) de qualquer forma... estou cá.
Assim sendo gostaria que os amigos me considerassem tertuliano do nosso Blog Camaradas da Guiné.
Envio esta foto actualíssima (7 meses) e para outra militar, poderão talvez extrair do post 3067 com algum pequeno redimensionamento.
Obrigado pela atenção. E bom trabalho (de preferencia pouco complicado)
Aqui ficam algumas fotos do aniversariante
O Filipe com o Esofe que se juntou à Resistência
O Filipe com a lavadeira
O Filipe no HM 241 de Bissau
O Filipe em Galomaro
O Filipe na esplanada do Regala com dois camaradas do STM e Centro de Operações
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 31 Dezembro 2005 > Guiné 63/74 - CDIV: Batalhão de Caçadores 3872 (Galomaro, 1971/74)
(**) Vd. poste de 28 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3539: Tabanca Grande (100): Carlos Filipe Coelho, Radiomontador da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro 1971/74
(***) Vd. poste de 17 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3067: Estórias do Juvenal Amado (12): O longo abraço (Juvenal Amado)
Vd. último poste da série de 12 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5097: Parabéns a você (35): À nossa jovem tertuliana Cátia Félix (Editores)
Toda a Tabanca deseja ao Carlos um dia de aniversário com alegria e boa disposição junto dos que lhe são mais chegados, família e amigos.
O nosso camarada Carlos Filipe já nos acompanha desde Dezembro de 2005 como se pode constatar no poste CDIV da primeira série.
Apresentou-se oficialmente à nossa Tabanca em Novembro de 2008 (**).
Recordemos as sua palavras:
Caros Srs e Amigos.
Em Dezembro de 2005, contactei o Blog. Ver por favor o Post com a data de 31 Dezembro 2005.
Contactei mais uma ou outra vez, entretanto acontecimentos graves com a saúde de minha esposa me tiraram todo o tempo e agora tenho-o todo do mundo infelizmente.
Recentemente o meu ex-camarada Juvenal, Post 3067 (***), teve a gentileza de escrever sobre a minha pessoa, o que provocou o entusiasmo para participar (embora o meu espólio de recordação seja reduzido) de qualquer forma... estou cá.
Assim sendo gostaria que os amigos me considerassem tertuliano do nosso Blog Camaradas da Guiné.
Envio esta foto actualíssima (7 meses) e para outra militar, poderão talvez extrair do post 3067 com algum pequeno redimensionamento.
Obrigado pela atenção. E bom trabalho (de preferencia pouco complicado)
Aqui ficam algumas fotos do aniversariante
O Filipe com o Esofe que se juntou à Resistência
O Filipe com a lavadeira
O Filipe no HM 241 de Bissau
O Filipe em Galomaro
O Filipe na esplanada do Regala com dois camaradas do STM e Centro de Operações
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 31 Dezembro 2005 > Guiné 63/74 - CDIV: Batalhão de Caçadores 3872 (Galomaro, 1971/74)
(**) Vd. poste de 28 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3539: Tabanca Grande (100): Carlos Filipe Coelho, Radiomontador da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro 1971/74
(***) Vd. poste de 17 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3067: Estórias do Juvenal Amado (12): O longo abraço (Juvenal Amado)
Vd. último poste da série de 12 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5097: Parabéns a você (35): À nossa jovem tertuliana Cátia Félix (Editores)
domingo, 18 de outubro de 2009
Guiné 63/74 - P5129: Direito à indignação (6): As míseras migalhas que os comensais da mesa estatal deixam cair (Jorge Picado)
1. Mensagem de Jorge Picado, ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 15 de Outubro de 2009:
Caros Editores
Como não sei quem está de serviço e vai receber este mail, não especifico.
Abraços para todos.
Aí vai mais um pastelão que brotou desta minha fase mais sombria resultante desta minha entrada no período Outono-Inverno.
Façam o que melhor entenderem, porque era demasiado longo para comentário. Jorge Picado
Direito à indignação
Sobre o tema corrente das míseras migalhas que os comensais da mesa estatal deixam cair, a uns pobres diabos que teimam em não deixar este mundo, o que muito aliviaria as suas (desses comensais subentenda-se) consciências, resultantes dessa obra prima que foi a excelsa Lei n.º 9/2002, eis algumas considerações que resolvi exprimir tendo por base o meu caso.
Como sabem sou aposentado da Função Publica e, quando esta lei foi publicada, já me encontrava nessa situação.
Como Funcionário Publico, portanto um dos famigerados responsáveis pela vergonhosa situação deste País, segundo sempre foi incutido na cabeça dos Portugueses que não tinham esta profissão por todos (com a mais repugnante expressividade pelo desastroso governo que terminou uns dias atrás) os incompetentes que tiveram a desdita de governar este rectângulo à beira-mar plantado, tinha aprendido que ao Estado nem um centavo, agora cêntimo, deve ser perdoado nem muito menos devolvido.
Com esta aprendizagem, agravada com a minha péssima relação com a instituição militar (isto não é apenas fruto das minhas nulas capacidades para essa profissão… mas sim pela forma como fui tratado desde 31 de Agosto de 1959 - dia da incorporação - até 2 de Março de 1972 - passagem à disponibilidade depois de regressar da Guiné – quando finalmente nunca mais me chatearam), assim que a tal Lei foi publicada não perdi tempo a requerer aquilo a que tinha direito.
Devo dizer que de todo o meu tempo de serviço militar, os descontos para a CGA tinham sido devidamente efectuados com base nos meus vencimentos de Técnico Superior (até ao ano de 1962, quando o que me pagavam militarmente nos períodos em que efectuei serviço militar activo era muito inferior) e com base no vencimento militar de 25/8/69 até 2/3/72.
Portanto, em 2004, também recebi uma resposta dando-me conhecimento que “é com satisfação que lhe enviamos um vale postal no valor de 312,26 euros”, respeitando tão elevado montante a “145,46 euros de Complemento Especial de Pensão devido a 1 ano e 11 meses de serviço militar prestado (1 ano e 355 dias foram os dias contados como tempo na Guiné) e o primeiro Acréscimo Vitalício de Pensão no valor de 166,80 euros por ter efectuado o pagamento de quotizações”. No final também constava: - “Estes benefícios, que agora recebe pela primeira vez, serão pagos todos os anos”.
Confesso que fiquei espantado com tanta magnificência dos poderes de então, ao atribuir-me valor tão elevado, já que tivera conhecimento dos valores mais baixos atribuídos então aos meus conterrâneos com quem falava destes assuntos. Mas logo conclui que a razão estava no tal acréscimo resultante de ter pago mais para ter direito a que aquele tempo me fosse contado para a reforma se chegasse inteiro ao fim da comissão. Era apenas a devolução (com juros?) do dinheiro que então me esbulharam!
Como felizmente este montante não me fazia falta, sempre foi encaminhado para as dádivas que anualmente faço a certas Instituições e nunca mais me preocupei a saber se era diminuído ou aumentado.
Recebi agora o impresso da CGA onde nos abonos me dizem: - Acréscimo Vital. Pensão - 2009… 150,00€. Depois no texto informam-me que nos próximos dias receberei uma carta com informação detalhada sobre a prestação pecuniária… como antigo combatente…
Só posso comparar com 2008 em que na tal alínea constava 166,80€.
Ora estes 166,80 não eram mais do que o valor atribuído em 2004 ao tal acréscimo. O complemento devido ao tal 1 ano e 11 meses desapareceu?
Esbugalharam-me mais 16,80€!!!
Já nem os míseros dinheiros para compensar os sacrifícios etc e tal pagam?
Cada vez as migalhas que vão caindo da mesa dos comilões são mais escassas! O que parece significar que estes comilões são cada vez mais vorazes… e menos tementes a Deus…
Para terminar e como esta já vai muito longa, quero dizer que estou com todos os camaradas pelo DIREITO À INDIGNAÇÃO, mas não apoio as devoluções. Sou adepto da criação dum bolo com essa verba, para entrega aos mais necessitados, como tenho visto em vários escritos de camaradas que estão no terreno para auxiliar aqueles infelizes que o Estado, não confundir com Nação, tanto despreza.
Digam-me para quem e como enviar esse dinheiro.
Abraços
Jorge Picado
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 23 de Setembro de 2009Guiné 63/74 – P5000: Filatelia(s) (3): Selos emitidos pelo novo Estado da GUINÉ-BISSAU Após a Proclamação da Independência (Jorge Picado)
Vd. último poste da série de 16 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5115: Direito à indignação (5): O CEP foi transformado em SEP... e os ex-combatentes da Guiné recebem cada vez menos (Júlio Ferreira)
Caros Editores
Como não sei quem está de serviço e vai receber este mail, não especifico.
Abraços para todos.
Aí vai mais um pastelão que brotou desta minha fase mais sombria resultante desta minha entrada no período Outono-Inverno.
Façam o que melhor entenderem, porque era demasiado longo para comentário. Jorge Picado
Direito à indignação
Sobre o tema corrente das míseras migalhas que os comensais da mesa estatal deixam cair, a uns pobres diabos que teimam em não deixar este mundo, o que muito aliviaria as suas (desses comensais subentenda-se) consciências, resultantes dessa obra prima que foi a excelsa Lei n.º 9/2002, eis algumas considerações que resolvi exprimir tendo por base o meu caso.
Como sabem sou aposentado da Função Publica e, quando esta lei foi publicada, já me encontrava nessa situação.
Como Funcionário Publico, portanto um dos famigerados responsáveis pela vergonhosa situação deste País, segundo sempre foi incutido na cabeça dos Portugueses que não tinham esta profissão por todos (com a mais repugnante expressividade pelo desastroso governo que terminou uns dias atrás) os incompetentes que tiveram a desdita de governar este rectângulo à beira-mar plantado, tinha aprendido que ao Estado nem um centavo, agora cêntimo, deve ser perdoado nem muito menos devolvido.
Com esta aprendizagem, agravada com a minha péssima relação com a instituição militar (isto não é apenas fruto das minhas nulas capacidades para essa profissão… mas sim pela forma como fui tratado desde 31 de Agosto de 1959 - dia da incorporação - até 2 de Março de 1972 - passagem à disponibilidade depois de regressar da Guiné – quando finalmente nunca mais me chatearam), assim que a tal Lei foi publicada não perdi tempo a requerer aquilo a que tinha direito.
Devo dizer que de todo o meu tempo de serviço militar, os descontos para a CGA tinham sido devidamente efectuados com base nos meus vencimentos de Técnico Superior (até ao ano de 1962, quando o que me pagavam militarmente nos períodos em que efectuei serviço militar activo era muito inferior) e com base no vencimento militar de 25/8/69 até 2/3/72.
Portanto, em 2004, também recebi uma resposta dando-me conhecimento que “é com satisfação que lhe enviamos um vale postal no valor de 312,26 euros”, respeitando tão elevado montante a “145,46 euros de Complemento Especial de Pensão devido a 1 ano e 11 meses de serviço militar prestado (1 ano e 355 dias foram os dias contados como tempo na Guiné) e o primeiro Acréscimo Vitalício de Pensão no valor de 166,80 euros por ter efectuado o pagamento de quotizações”. No final também constava: - “Estes benefícios, que agora recebe pela primeira vez, serão pagos todos os anos”.
Confesso que fiquei espantado com tanta magnificência dos poderes de então, ao atribuir-me valor tão elevado, já que tivera conhecimento dos valores mais baixos atribuídos então aos meus conterrâneos com quem falava destes assuntos. Mas logo conclui que a razão estava no tal acréscimo resultante de ter pago mais para ter direito a que aquele tempo me fosse contado para a reforma se chegasse inteiro ao fim da comissão. Era apenas a devolução (com juros?) do dinheiro que então me esbulharam!
Como felizmente este montante não me fazia falta, sempre foi encaminhado para as dádivas que anualmente faço a certas Instituições e nunca mais me preocupei a saber se era diminuído ou aumentado.
Recebi agora o impresso da CGA onde nos abonos me dizem: - Acréscimo Vital. Pensão - 2009… 150,00€. Depois no texto informam-me que nos próximos dias receberei uma carta com informação detalhada sobre a prestação pecuniária… como antigo combatente…
Só posso comparar com 2008 em que na tal alínea constava 166,80€.
Ora estes 166,80 não eram mais do que o valor atribuído em 2004 ao tal acréscimo. O complemento devido ao tal 1 ano e 11 meses desapareceu?
Esbugalharam-me mais 16,80€!!!
Já nem os míseros dinheiros para compensar os sacrifícios etc e tal pagam?
Cada vez as migalhas que vão caindo da mesa dos comilões são mais escassas! O que parece significar que estes comilões são cada vez mais vorazes… e menos tementes a Deus…
Para terminar e como esta já vai muito longa, quero dizer que estou com todos os camaradas pelo DIREITO À INDIGNAÇÃO, mas não apoio as devoluções. Sou adepto da criação dum bolo com essa verba, para entrega aos mais necessitados, como tenho visto em vários escritos de camaradas que estão no terreno para auxiliar aqueles infelizes que o Estado, não confundir com Nação, tanto despreza.
Digam-me para quem e como enviar esse dinheiro.
Abraços
Jorge Picado
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 23 de Setembro de 2009Guiné 63/74 – P5000: Filatelia(s) (3): Selos emitidos pelo novo Estado da GUINÉ-BISSAU Após a Proclamação da Independência (Jorge Picado)
Vd. último poste da série de 16 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5115: Direito à indignação (5): O CEP foi transformado em SEP... e os ex-combatentes da Guiné recebem cada vez menos (Júlio Ferreira)
Guiné 63/74 - P5128: Em busca de... (99): Condutores Auto da 3.ª CCAV/BCAV 8323, Pirada, 1973/74 (Fernando Belo)
1. Mensagem de Fernando Manuel Belo, ex-Soldado Condutor da 3.ª CCAV/BCAV 8323, Pirada, 1973/74, com data de 16 de Outubro de 2009:
Amigo Vinhal
Desde já, um abraço de sincera amizade.
Sou há quinze dias mais um membro da Tabanca Grande, agradeço-te a ti, ao Luís Graça e a todos os camaradas ex-combatentes da Guiné, fazer parte desta grande família.
Vinhal, se possível fosse, gostaria que divulgasses este e-mail, se preciso for, dá-lhe o retoque da tua mão, já que és mais letrado do que eu.
Sou o Fernando Belo, na Guiné, conhecido pelo MURTOSA, fui Condutor da 3.ª CCAV/BCAV 8323 em Pirada, de 1973 a 1974.
Ando há muito procurando pelos seguintes Condutores, todos da minha Companhia:
Apenas infelizmente, de alguns só te posso dar o nome próprio ou alcunha, e localidade dos mesmos.
- Raul Pinto Pereira Lopes, natural de Aguada de Baixo, Concelho de Oliveira do Bairro. Em 1973 residia lá.
- Camilo, natural de Eelvas.
- Cachuxo, natural de Setúbal.
- Clemente, natural do Cartaxo. Tocava bateria, num conjunto de que já não me lembro do nome.
- Alenquer, natural de Alenquer.
- Covilhã, natural da Covilhã.
Caro Vinhal, publica isto se possível, à tua maneira, para mim era a maior alegria se algum me contactasse.
Camarada, desculpa-me, se te incomodei com esta conversa toda, mas sabes tão bem como eu, a guerra, já lá vai há muito, mas a amizade, a
camaradagem, as tristezas e alegrias, que partilhaámos uns com os outros, ficarão para sempre gravadas nos nossos corações.
Vinhal, um grande abraço meu amigo
Fernando Manuel Belo
maito:fernandombelo@hotmail.com
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 10 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5090: Tabanca Grande (179): Fernando Manuel Oliveira Belo, ex-Soldado Condutor da 3.ª CCAV/BCAV 8323 (Pirada, 1973/74)
Vd. último poste da série de 16 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5116: Em busca de... (98): CAÇ 3326 - Os Jovens Assassinos de Mampatá (1971/73) (António Amaral Brum, Ontário, Canadá)
Amigo Vinhal
Desde já, um abraço de sincera amizade.
Sou há quinze dias mais um membro da Tabanca Grande, agradeço-te a ti, ao Luís Graça e a todos os camaradas ex-combatentes da Guiné, fazer parte desta grande família.
Vinhal, se possível fosse, gostaria que divulgasses este e-mail, se preciso for, dá-lhe o retoque da tua mão, já que és mais letrado do que eu.
Sou o Fernando Belo, na Guiné, conhecido pelo MURTOSA, fui Condutor da 3.ª CCAV/BCAV 8323 em Pirada, de 1973 a 1974.
Ando há muito procurando pelos seguintes Condutores, todos da minha Companhia:
Apenas infelizmente, de alguns só te posso dar o nome próprio ou alcunha, e localidade dos mesmos.
- Raul Pinto Pereira Lopes, natural de Aguada de Baixo, Concelho de Oliveira do Bairro. Em 1973 residia lá.
- Camilo, natural de Eelvas.
- Cachuxo, natural de Setúbal.
- Clemente, natural do Cartaxo. Tocava bateria, num conjunto de que já não me lembro do nome.
- Alenquer, natural de Alenquer.
- Covilhã, natural da Covilhã.
Caro Vinhal, publica isto se possível, à tua maneira, para mim era a maior alegria se algum me contactasse.
Camarada, desculpa-me, se te incomodei com esta conversa toda, mas sabes tão bem como eu, a guerra, já lá vai há muito, mas a amizade, a
camaradagem, as tristezas e alegrias, que partilhaámos uns com os outros, ficarão para sempre gravadas nos nossos corações.
Vinhal, um grande abraço meu amigo
Fernando Manuel Belo
maito:fernandombelo@hotmail.com
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 10 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5090: Tabanca Grande (179): Fernando Manuel Oliveira Belo, ex-Soldado Condutor da 3.ª CCAV/BCAV 8323 (Pirada, 1973/74)
Vd. último poste da série de 16 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5116: Em busca de... (98): CAÇ 3326 - Os Jovens Assassinos de Mampatá (1971/73) (António Amaral Brum, Ontário, Canadá)
Guiné 63/74 - P5127: Historiografia da presença portuguesa em África (23): Aquela Guiné dos anos 50 (Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos*, (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Outubro de 2009:
Malta,
Fiquei suspenso pela leitura do texto do casal Cabral.
Até imaginei o que teria acontecido se as autoridades portuguesas lhe tivessem reconhecido o mérito, o talento e a capacidade de preparar a Guiné para outros rumos, na hora própria.
O devaneio é meu, a desgraça é de dois povos.
Um abraço do
Mário
Aquela Guiné dos anos 50
Beja Santos
A heroína de uma obra de ficção que estou a preparar (e que a seu tempo proporei a sua publicação em primeira mão no blogue) irá viver na Guiné entre 1952 e 1962. Fui alegremente arranjar a minha desgraça, as fontes de informação são poucas, nem sempre convincentes e casos há em que são fantasiosas. É por isso que o Boletim Cultural da Guiné Portuguesa é o meu permanente porto de abrigo: é ali que encontro notícias de grupos como o Sporting Clube de Bissau, o Sport Lisboa e Bissau e o Atlético Clube de Bissau (dou comigo a imaginar o grau de rivalidades de gente que partiu de Alvalade, Benfica e Alcântara); é ali que encontro anúncios de actividades económicas e das grandes personalidades do meio como Jamil Younis e Jamil Zaidara, ambos em Farim, descobri um Samuel Benoliel, despachante oficial, a Nosoco – Nouvelle Société Commerciale Africaine, em Bissorã. Em 1952, o governador é o engenheiro Raimundo Serrão, em 1954 o capitão-de-fragata D. Diogo António José Leite Pereira de Mello e Alvim, virá a seguir outro marinheiro, Peixoto Correia, que fora chefe de gabinete de outro marinheiro, Manuel Maria Sarmento Rodrigues.
O Boletim Cultural foi criado por Avelino Teixeira da Mota, ao tempo colaborador de Sarmento Rodrigues, é uma revista de uma importância incalculável para acompanhar o público, o semi-privado e a cultura nos mais variados matizes, desde a história até à medicina tropical. O grande acontecimento de 1952 foi a inauguração da ponte de Ensalmá, ligando a ilha de Bissau ao continente (conhecia em boas condições, em 1968, e já numa perfeita ruína, em 1991). Folheava o número de Janeiro de 1954 quando dei conta de um artigo com um título intrigante: “Breves notas da razão de ser, objectivos e processos de execução do recenseamento agrícola da Guiné”, assinada por Maria Helena Cabral e Amílcar Lopes Cabral. As datas coincidem com a novela que eu arranjei de uma ida de ambos, separadamente, a Bissorã. A minha heroína nunca escondeu o derriço pelo charme de Amílcar Cabral, surpreendeu-a sempre o cosmopolitismo e a estruturada cultura europeia desse engenheiro de solos que fora aluno brilhante no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa. Muito mais tarde, já na luta armada, Amílcar Cabral diria que foi este recenseamento agrícola que lhe deu a possibilidade de conhecer as realidades da Guiné e de estabelecer contactos que lhe permitiram fundar o PAIGC na clandestinidade. O que para o caso me interessa é resumir esse punhado de notas que apresentam um documento, único no seu género, ao tempo e no Ultramar Português.
Segundo o casal Cabral, Portugal tinha contraído o compromisso de levar a efeito o recenseamento agrícola em todas as parcelas ultramarinas, em finais de 1947, em instâncias internacionais. Com esse recenseamento procurar-se-ia apurar: superfícies cultivadas e superfícies consagradas às diferentes culturas; número e características da população; importância do gado; dados sobre a produção das principais culturas. O casal de engenheiros enuncia o rol de dificuldades que obstaculizaram um trabalho rigoroso: nada havia de previamente lançado, tudo teve que ser improvisado em cima da hora. Com o trabalho de campo conheceram-se as culturas principais, a variedade de explorações agrícolas de “chão” para “chão”, apurando-se que a terra era um bem colectivo e que a propriedade privada incidia sobre os produtos obtidos pela agricultura praticada pelos elementos constituintes da família. Mas que não houvesse ilusões, o limite deste recenseamento era de uma mera estimativa. Recorrera-se ao método de amostragem, tendo-se escolhido povoações que, pelas características da sua agricultura, se podiam considerar representativas de uma dada região. Procurara-se igualmente efectuar um estudo detalhado dessas povoações nos aspectos social, económico e cultural. Para o casal Cabral havia que destacar as seguintes características deste recenseamento: cada povo tinha estrutura agrária constante; a presença de um povo numa região prendia-se aos imperativos da estrutura agrária; a exploração da terra era sempre feita em regime familiar; a extensão das terras cultivadas dependia principalmente do número de unidades de trabalho da família.
Foi reconhecido este recenseamento como obra modelar. O comportamento de Cabral, no entanto, já lançava suspeitas, ele foi transferido para Angola. Verdade ou não, ficara a conhecer todo o território por cuja causa veio a dar a vida.
O que impressiona, quando se lê este texto preparado para informação numa revista de âmbito local é a qualidade do português, o esforço de síntese, a boa comunicação de coisas herméticas de uma forma tão simples. Parece que é um dom daqueles que estão convencidos do que sabem e do que fazem.
O Boletim Cultural tinha sempre uma secção de imagens intitulada “Aspectos e tipos da Guiné Portuguesa”. Junta-se um felupe de Sucujaque, é pena que a máquina da Sociedade de Geografia de Lisboa não permita realçar o esplendor de quem parece ter um trono atrás de si.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 14 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5104: Notas de leitura (29): Um Amor em Tempos de Guerra, de Júlio Magalhães (Beja Santos)
Vd. último poste da série de 7 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5069: Historiografia da presença portuguesa (22): África, da Vida e do Amor na Selva, Edições Momentos, 1936 (Beja Santos)
Malta,
Fiquei suspenso pela leitura do texto do casal Cabral.
Até imaginei o que teria acontecido se as autoridades portuguesas lhe tivessem reconhecido o mérito, o talento e a capacidade de preparar a Guiné para outros rumos, na hora própria.
O devaneio é meu, a desgraça é de dois povos.
Um abraço do
Mário
Aquela Guiné dos anos 50
Beja Santos
A heroína de uma obra de ficção que estou a preparar (e que a seu tempo proporei a sua publicação em primeira mão no blogue) irá viver na Guiné entre 1952 e 1962. Fui alegremente arranjar a minha desgraça, as fontes de informação são poucas, nem sempre convincentes e casos há em que são fantasiosas. É por isso que o Boletim Cultural da Guiné Portuguesa é o meu permanente porto de abrigo: é ali que encontro notícias de grupos como o Sporting Clube de Bissau, o Sport Lisboa e Bissau e o Atlético Clube de Bissau (dou comigo a imaginar o grau de rivalidades de gente que partiu de Alvalade, Benfica e Alcântara); é ali que encontro anúncios de actividades económicas e das grandes personalidades do meio como Jamil Younis e Jamil Zaidara, ambos em Farim, descobri um Samuel Benoliel, despachante oficial, a Nosoco – Nouvelle Société Commerciale Africaine, em Bissorã. Em 1952, o governador é o engenheiro Raimundo Serrão, em 1954 o capitão-de-fragata D. Diogo António José Leite Pereira de Mello e Alvim, virá a seguir outro marinheiro, Peixoto Correia, que fora chefe de gabinete de outro marinheiro, Manuel Maria Sarmento Rodrigues.
O Boletim Cultural foi criado por Avelino Teixeira da Mota, ao tempo colaborador de Sarmento Rodrigues, é uma revista de uma importância incalculável para acompanhar o público, o semi-privado e a cultura nos mais variados matizes, desde a história até à medicina tropical. O grande acontecimento de 1952 foi a inauguração da ponte de Ensalmá, ligando a ilha de Bissau ao continente (conhecia em boas condições, em 1968, e já numa perfeita ruína, em 1991). Folheava o número de Janeiro de 1954 quando dei conta de um artigo com um título intrigante: “Breves notas da razão de ser, objectivos e processos de execução do recenseamento agrícola da Guiné”, assinada por Maria Helena Cabral e Amílcar Lopes Cabral. As datas coincidem com a novela que eu arranjei de uma ida de ambos, separadamente, a Bissorã. A minha heroína nunca escondeu o derriço pelo charme de Amílcar Cabral, surpreendeu-a sempre o cosmopolitismo e a estruturada cultura europeia desse engenheiro de solos que fora aluno brilhante no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa. Muito mais tarde, já na luta armada, Amílcar Cabral diria que foi este recenseamento agrícola que lhe deu a possibilidade de conhecer as realidades da Guiné e de estabelecer contactos que lhe permitiram fundar o PAIGC na clandestinidade. O que para o caso me interessa é resumir esse punhado de notas que apresentam um documento, único no seu género, ao tempo e no Ultramar Português.
Segundo o casal Cabral, Portugal tinha contraído o compromisso de levar a efeito o recenseamento agrícola em todas as parcelas ultramarinas, em finais de 1947, em instâncias internacionais. Com esse recenseamento procurar-se-ia apurar: superfícies cultivadas e superfícies consagradas às diferentes culturas; número e características da população; importância do gado; dados sobre a produção das principais culturas. O casal de engenheiros enuncia o rol de dificuldades que obstaculizaram um trabalho rigoroso: nada havia de previamente lançado, tudo teve que ser improvisado em cima da hora. Com o trabalho de campo conheceram-se as culturas principais, a variedade de explorações agrícolas de “chão” para “chão”, apurando-se que a terra era um bem colectivo e que a propriedade privada incidia sobre os produtos obtidos pela agricultura praticada pelos elementos constituintes da família. Mas que não houvesse ilusões, o limite deste recenseamento era de uma mera estimativa. Recorrera-se ao método de amostragem, tendo-se escolhido povoações que, pelas características da sua agricultura, se podiam considerar representativas de uma dada região. Procurara-se igualmente efectuar um estudo detalhado dessas povoações nos aspectos social, económico e cultural. Para o casal Cabral havia que destacar as seguintes características deste recenseamento: cada povo tinha estrutura agrária constante; a presença de um povo numa região prendia-se aos imperativos da estrutura agrária; a exploração da terra era sempre feita em regime familiar; a extensão das terras cultivadas dependia principalmente do número de unidades de trabalho da família.
Foi reconhecido este recenseamento como obra modelar. O comportamento de Cabral, no entanto, já lançava suspeitas, ele foi transferido para Angola. Verdade ou não, ficara a conhecer todo o território por cuja causa veio a dar a vida.
O que impressiona, quando se lê este texto preparado para informação numa revista de âmbito local é a qualidade do português, o esforço de síntese, a boa comunicação de coisas herméticas de uma forma tão simples. Parece que é um dom daqueles que estão convencidos do que sabem e do que fazem.
O Boletim Cultural tinha sempre uma secção de imagens intitulada “Aspectos e tipos da Guiné Portuguesa”. Junta-se um felupe de Sucujaque, é pena que a máquina da Sociedade de Geografia de Lisboa não permita realçar o esplendor de quem parece ter um trono atrás de si.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 14 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5104: Notas de leitura (29): Um Amor em Tempos de Guerra, de Júlio Magalhães (Beja Santos)
Vd. último poste da série de 7 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5069: Historiografia da presença portuguesa (22): África, da Vida e do Amor na Selva, Edições Momentos, 1936 (Beja Santos)
Guiné 63/74 - P5126: Um Casal Garcia, para desinfectar o dente... (Joaquim Peixoto, ex-Fur Mil, CCAÇ 3414, Bafatá e Sare Bacar, 1971/73)
O Joauqim Peixoto, natural de Penafiel, a bordo do T/T Niassa
"Ilha de Bolama. Primeira fotografia tirada na Guiné" (JP).
Fotos: Joaquim Peixoto (2009). Direitos reservados
Marco de Canaveses > Paços de Gaiolo > Ambrões > 4 de Setembro de 2009 > Foi aqui que a jovem professora Margarida Peixoto (hoje já reformada do ensino básico) viveu um ano, enquanto deu aulas na Escola de Passinhos / Foz... Na foto, tem à esquerda o marido, o Prof Joaquim Peixoto (ainda no activo) e a Maria Alice, à sua esquerda.
Fonte: A Nossa Quinta de Candoz > 10 de Setembro de 2009 > A Homenagem da Professora Aos Seus Primeiros Alunos (Escola de Passinhos, 1972) (*)
1. Texto do Joaquim Peixoto, professor do 1º ciclo ensino básico, residente em Penafiel, membro da nossa Tabanca Branca, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 3414, Bafatá e Sare Bacar, 1971/73:
É com grande expectativa e curiosidade que diariamente ao ligar a “caixinha das surpresas” qual cartola de mágico fazendo sair um coelho da cartola, ou lenços coloridos fazendo lembrar um arco-íris em movimento, o meu computador me leva ao blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
De olhos bem abertos e com toda a atenção leio e releio todos os artigos, deliciando-me com todos os casos narrados e parecendo viver ou mesmo reviver alguns deles.
Logo penso cá comigo:
- Também vou escrever.
Sem mais demandas pego numa folha de papel em branco para o colorir com factos vividos na Guiné. As ideias surgem-me em catadupa, mas a força, a dinâmica para arrancar afrouxa, porque surge o pensamento:
- O que vou escrever?
Os textos que li são tão elucidativos, estão tão bem escritos que … vou repetir por outras palavras o que outros já disseram ?...
E assim, de dia para dia, de pensamento em pensamento eis que surge luz na caverna dos meus pensamentos … Dessa luz nasceu algo que passo a narrar.
Fins de Junho de 1971. Embarquei no Niassa, viajando num meio de transporte diferente do que habitualmente utilizava, tendo como estrada o rasgar das águas do Atlântico e como paisagem um céu azul reflectindo a sua cor nas águas turbulentas e agitadas onde aquele barco se agitava com um sem número de gaiatos, jovens, julgando que já eram homens, partindo não sei bem para onde, nem sabendo muito bem o que os esperava, rumava eu com os outros camaradas com destino à Guiné.
E eis que já farto de água e céu, chegamos à terra prometida Bissau.
Que admiração!
Que espanto!
Que curiosidade!
Tudo era diferente…
Já tínhamos visto negros, mas assim. Tão diferentes na maneira de ser, nas roupagens, nos olhares!... E no entanto tão iguais a nós. Seres humanos, seres com sentimentos sonhos e necessidades como as nossas.
A paisagem deslumbrante, de uma vegetação diferente e uma terra barrenta com um cheiro tão característico, que passados tantos anos ainda o reconheceríamos. O clima dum calor húmido, que nos humedece o corpo mas não o arrefece. Tudo era diferente! Transportava-nos, com os nossos tenros vinte e poucos anos, a um mundo quase irreal. Naquele momento não podíamos nem queríamos fazer juízos de valor nem aprofundar onde estávamos.
Assaltou-me um pensamento:
- Como seria a guerra?
Não tive tempo de imaginar. Uma voz que me pareceu surgir do nada informa:
- Agora vão para a ilha de Bolama. Lá é tudo muito calmo. Não há guerra. Vão tirar a IAO. Só podem usar balas de salva.
E sem mais explicações, nem tempo para pensar, fomos metidos num barco (penso que seria uma LDM ).
Numa calmaria, baloiçando nas águas tranquilas, ladeados por uma vegetação inigualável, surgiu o primeiro contratempo. Um soldado deixando-se embalar por aquele calor tórrido, deixou-se adormecer, sonhando talvez com umas férias paradisíacas. No final da viagem no lugar do sonho que o embalava, tinha um grande escaldão que precisou tratamento médico durante muito tempo.
À chegada a Bolama o espanto foi total. Então não íamos para a guerra? É que no local onde iríamos viver durante um mês, tinha escrito em letras garrafais, embora já comidas pelo tempo:
HOTEL DE BOLAMA
Então isto é a guerra? Como diria o nosso saudoso Raul Solnado : “Cheguei à guerra … mas a guerra já tinha acabado. “
Estava na Guiné, estava num hotel. Não havia guerra. O que havia de pensar?
O tempo ia decorrendo e os corações agitados com a perspectiva duma guerra que não conhecíamos, ia acalmando.
Mas … como não há bela sem senão… Eis que ao segundo dia sou abanado pelo primeiro ataque. Não, não pensem já em vítimas … Foi um ataque de uma enorme dor de dentes. Daquelas que uma pessoa não sabe se grita, se chora, se toma uma piela … ou se simplesmente vai ao dentista.
Era de noite, as estrelas bailavam no firmamento e este silêncio contrastava com o ressonar de alguns camaradas que no meu quarto de hotel (que compartilhava com mais dezassete) dormiam a sono solto, sem se aperceberem que eu estava a ser atacado.
Mas, eis que, no meio da minha dor, do ressonar composto por diversos sons, um barulho muito esquisito feriu os meus ouvidos e contendo a respiração por alguns segundos ouvi um grande rebentamento. De um só salto, todos abandonamos as nossas camas e saímos do quarto.
Era mesmo um ataque a sério. Estávamos a ser atacados por mísseis. (Julho de 1971). Era o nosso baptismo de fogo. E nós, pobres indefesos e inocentes a este tipo de despertar, o que podíamos fazer? Como nos defender? Atirar as balas de salva?
Alheios ao perigo que corríamos ficámos minutos e minutos a falar como se de um fogo de artifício de alguma romaria se tratasse.
E assim, sem reagirmos ao inimigo recolhemos à caverna. Perdão, hotel. Para meu espanto verifiquei que a dor de dentes me tinha passado. Remédio milagroso!!!
Aliviado pela anestesia que tinha apanhado preparava-me para dormir o sono dos justos, quando por artes mágicas o maldito ataque do dente deu a sua réplica e enquanto a dor me martirizava ia recordando com uma certa perplexidade se tinha assistido a um ataque a sério ou se tinha havido uma romaria próximo do nosso local e nós nem a música ouvimos.
Ao romper o dia fui direitinho meter uma cunha ao enfermeiro Furriel Silva para ser o primeiro a ser atendido quando viesse o médico. Amparando a dor com analgésicos fui aguentando a dor até à chegada do médico.
Qual o meu espanto, ao fim do dia, o médico tinha ido embora e eu não tinha sido chamado. O enfermeiro tinha-se esquecido de pôr o meu nome na lista.
Não será difícil de pensar qual foi a minha reacção a tão cruel esquecimento. Procurando no mais profundo do meu ser encontrei as palavras mais cultas e eruditas que se possa dizer a quem nos faz um favor. Assim desde “filhinho da mamã”… até à árvore mais frondosa que nos protege do sol quando o calor nos sufoca, o “carvalho”, surgiram em catadupa uma série de vocábulos que jamais imaginaria um dia transmitir a quem quer que fosse.
No meio do meu desespero, alguém me contou que o médico havido tirado dois dentes a um paciente, quando este se queixou só de um dente. Enganos!!! Ouvido isto, agradeci sinceramente ao enfermeiro Silva o ter-se esquecido do meu pedido e retirei-lhe toda a sabedoria com que o tinha brindado.
Algum tempo depois deste incidente chegou finalmente a minha vez de ir ao dentista. Desta vez já estava em Sare Bacar e desloquei-me a Bafatá numa coluna de reabastecimento. O consultório era no rés-do-chão, com uma cadeira de barbeiro e na parede alguns posters alusivos à nossa mente jovem, com o intuito de nos ir distraindo. Uma janela, aberta de par em par, dava para o exterior e como se de um circo se tratasse o tratamento aos dentes, tinha assistência garantida. Duas negras lindas olhavam boquiabertas (com os dentes duma alvura invejável) para a boca aberta de quem se sentava numa cadeira de barbeiro, não para fazer a barba ou cortar o cabelo, mas para extrair um dente.
E, um gajo já com a cabeça à roda, olhando para o colo desunado daquelas musas encantadas, apontava ao dentista, já meio anestesiado, qual o dente que me doía.
E assim, o competente dentista, apertando o alicate e puxando, como se de um prego se tratasse, arrancou-me o dente mau, sem que eu tivesse qualquer dor e mandou-me sair. Não houve direito a palmas, a assistência limitou-se a observar.
Saí e fui directo a um café comprar uma garrafa de água para limpar a boca.
Hoje, passados quase quarenta anos, posso afirmar que foi o dente que me custou menos a extrair.
Eram dez horas da manhã. Aproximava-se a hora do almoço. Ao meio dia juntei-me com os outros camaradas da companhia para irmos almoçar ao Restaurante Transmontano, o célebre bife com batatas fritas. O proprietário do restaurante, o Sr. Anis, ao ver-me fez a perguntar habitual da qual já sabia a resposta:
- Uma garrafinha de vinho da sua terra, “Casal Garcia”, de Penafiel?
Respondi:
- Certamente, para desinfectar a ferida.
_______________
Nota de L.G.
(*) Margarida Peixoto, natural de Penafiel (com 6 anos de Angola, dos 10 aos 16, em plena guerra colonial), volta a Paredes de Viadores para reencontrar e homenagear os seus "meninos e meninas" da Escolinha de Passinhos / Foz, no já longínquo ano de 1972... Tinha acabado de sair do Magistério. Foi o seu primeiro ano de trabalho. Tinha cerca de três dezenas de alunos, de ambos os sexos, da 1ª à 4ª classe... Nunca mais se esqueceu deles...
Conheceu a Alice por ocasião do IV Encontro Nacional do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, em 20 de Junho de 2009, na Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria. O seu marido, também professor, Joaquim Carlos Peixoto, fez a guerra colonial na Guiné e é amigo do Luís..
A Alice proporcionou agora este reencontro com alguns dos seus antigos alunos: a Laurinda, a Leonor, o Fernando... No dia 4 de Setembro de 2009, um dia de semana... Alguns, contactados, não puderam comparecer, por trabalharem no Porto e no estrangeiro... Fica em preparação um encontro alargado para o verão do próximo ano (...).
"Ilha de Bolama. Primeira fotografia tirada na Guiné" (JP).
Fotos: Joaquim Peixoto (2009). Direitos reservados
Marco de Canaveses > Paços de Gaiolo > Ambrões > 4 de Setembro de 2009 > Foi aqui que a jovem professora Margarida Peixoto (hoje já reformada do ensino básico) viveu um ano, enquanto deu aulas na Escola de Passinhos / Foz... Na foto, tem à esquerda o marido, o Prof Joaquim Peixoto (ainda no activo) e a Maria Alice, à sua esquerda.
Fonte: A Nossa Quinta de Candoz > 10 de Setembro de 2009 > A Homenagem da Professora Aos Seus Primeiros Alunos (Escola de Passinhos, 1972) (*)
1. Texto do Joaquim Peixoto, professor do 1º ciclo ensino básico, residente em Penafiel, membro da nossa Tabanca Branca, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 3414, Bafatá e Sare Bacar, 1971/73:
É com grande expectativa e curiosidade que diariamente ao ligar a “caixinha das surpresas” qual cartola de mágico fazendo sair um coelho da cartola, ou lenços coloridos fazendo lembrar um arco-íris em movimento, o meu computador me leva ao blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
De olhos bem abertos e com toda a atenção leio e releio todos os artigos, deliciando-me com todos os casos narrados e parecendo viver ou mesmo reviver alguns deles.
Logo penso cá comigo:
- Também vou escrever.
Sem mais demandas pego numa folha de papel em branco para o colorir com factos vividos na Guiné. As ideias surgem-me em catadupa, mas a força, a dinâmica para arrancar afrouxa, porque surge o pensamento:
- O que vou escrever?
Os textos que li são tão elucidativos, estão tão bem escritos que … vou repetir por outras palavras o que outros já disseram ?...
E assim, de dia para dia, de pensamento em pensamento eis que surge luz na caverna dos meus pensamentos … Dessa luz nasceu algo que passo a narrar.
Fins de Junho de 1971. Embarquei no Niassa, viajando num meio de transporte diferente do que habitualmente utilizava, tendo como estrada o rasgar das águas do Atlântico e como paisagem um céu azul reflectindo a sua cor nas águas turbulentas e agitadas onde aquele barco se agitava com um sem número de gaiatos, jovens, julgando que já eram homens, partindo não sei bem para onde, nem sabendo muito bem o que os esperava, rumava eu com os outros camaradas com destino à Guiné.
E eis que já farto de água e céu, chegamos à terra prometida Bissau.
Que admiração!
Que espanto!
Que curiosidade!
Tudo era diferente…
Já tínhamos visto negros, mas assim. Tão diferentes na maneira de ser, nas roupagens, nos olhares!... E no entanto tão iguais a nós. Seres humanos, seres com sentimentos sonhos e necessidades como as nossas.
A paisagem deslumbrante, de uma vegetação diferente e uma terra barrenta com um cheiro tão característico, que passados tantos anos ainda o reconheceríamos. O clima dum calor húmido, que nos humedece o corpo mas não o arrefece. Tudo era diferente! Transportava-nos, com os nossos tenros vinte e poucos anos, a um mundo quase irreal. Naquele momento não podíamos nem queríamos fazer juízos de valor nem aprofundar onde estávamos.
Assaltou-me um pensamento:
- Como seria a guerra?
Não tive tempo de imaginar. Uma voz que me pareceu surgir do nada informa:
- Agora vão para a ilha de Bolama. Lá é tudo muito calmo. Não há guerra. Vão tirar a IAO. Só podem usar balas de salva.
E sem mais explicações, nem tempo para pensar, fomos metidos num barco (penso que seria uma LDM ).
Numa calmaria, baloiçando nas águas tranquilas, ladeados por uma vegetação inigualável, surgiu o primeiro contratempo. Um soldado deixando-se embalar por aquele calor tórrido, deixou-se adormecer, sonhando talvez com umas férias paradisíacas. No final da viagem no lugar do sonho que o embalava, tinha um grande escaldão que precisou tratamento médico durante muito tempo.
À chegada a Bolama o espanto foi total. Então não íamos para a guerra? É que no local onde iríamos viver durante um mês, tinha escrito em letras garrafais, embora já comidas pelo tempo:
HOTEL DE BOLAMA
Então isto é a guerra? Como diria o nosso saudoso Raul Solnado : “Cheguei à guerra … mas a guerra já tinha acabado. “
Estava na Guiné, estava num hotel. Não havia guerra. O que havia de pensar?
O tempo ia decorrendo e os corações agitados com a perspectiva duma guerra que não conhecíamos, ia acalmando.
Mas … como não há bela sem senão… Eis que ao segundo dia sou abanado pelo primeiro ataque. Não, não pensem já em vítimas … Foi um ataque de uma enorme dor de dentes. Daquelas que uma pessoa não sabe se grita, se chora, se toma uma piela … ou se simplesmente vai ao dentista.
Era de noite, as estrelas bailavam no firmamento e este silêncio contrastava com o ressonar de alguns camaradas que no meu quarto de hotel (que compartilhava com mais dezassete) dormiam a sono solto, sem se aperceberem que eu estava a ser atacado.
Mas, eis que, no meio da minha dor, do ressonar composto por diversos sons, um barulho muito esquisito feriu os meus ouvidos e contendo a respiração por alguns segundos ouvi um grande rebentamento. De um só salto, todos abandonamos as nossas camas e saímos do quarto.
Era mesmo um ataque a sério. Estávamos a ser atacados por mísseis. (Julho de 1971). Era o nosso baptismo de fogo. E nós, pobres indefesos e inocentes a este tipo de despertar, o que podíamos fazer? Como nos defender? Atirar as balas de salva?
Alheios ao perigo que corríamos ficámos minutos e minutos a falar como se de um fogo de artifício de alguma romaria se tratasse.
E assim, sem reagirmos ao inimigo recolhemos à caverna. Perdão, hotel. Para meu espanto verifiquei que a dor de dentes me tinha passado. Remédio milagroso!!!
Aliviado pela anestesia que tinha apanhado preparava-me para dormir o sono dos justos, quando por artes mágicas o maldito ataque do dente deu a sua réplica e enquanto a dor me martirizava ia recordando com uma certa perplexidade se tinha assistido a um ataque a sério ou se tinha havido uma romaria próximo do nosso local e nós nem a música ouvimos.
Ao romper o dia fui direitinho meter uma cunha ao enfermeiro Furriel Silva para ser o primeiro a ser atendido quando viesse o médico. Amparando a dor com analgésicos fui aguentando a dor até à chegada do médico.
Qual o meu espanto, ao fim do dia, o médico tinha ido embora e eu não tinha sido chamado. O enfermeiro tinha-se esquecido de pôr o meu nome na lista.
Não será difícil de pensar qual foi a minha reacção a tão cruel esquecimento. Procurando no mais profundo do meu ser encontrei as palavras mais cultas e eruditas que se possa dizer a quem nos faz um favor. Assim desde “filhinho da mamã”… até à árvore mais frondosa que nos protege do sol quando o calor nos sufoca, o “carvalho”, surgiram em catadupa uma série de vocábulos que jamais imaginaria um dia transmitir a quem quer que fosse.
No meio do meu desespero, alguém me contou que o médico havido tirado dois dentes a um paciente, quando este se queixou só de um dente. Enganos!!! Ouvido isto, agradeci sinceramente ao enfermeiro Silva o ter-se esquecido do meu pedido e retirei-lhe toda a sabedoria com que o tinha brindado.
Algum tempo depois deste incidente chegou finalmente a minha vez de ir ao dentista. Desta vez já estava em Sare Bacar e desloquei-me a Bafatá numa coluna de reabastecimento. O consultório era no rés-do-chão, com uma cadeira de barbeiro e na parede alguns posters alusivos à nossa mente jovem, com o intuito de nos ir distraindo. Uma janela, aberta de par em par, dava para o exterior e como se de um circo se tratasse o tratamento aos dentes, tinha assistência garantida. Duas negras lindas olhavam boquiabertas (com os dentes duma alvura invejável) para a boca aberta de quem se sentava numa cadeira de barbeiro, não para fazer a barba ou cortar o cabelo, mas para extrair um dente.
E, um gajo já com a cabeça à roda, olhando para o colo desunado daquelas musas encantadas, apontava ao dentista, já meio anestesiado, qual o dente que me doía.
E assim, o competente dentista, apertando o alicate e puxando, como se de um prego se tratasse, arrancou-me o dente mau, sem que eu tivesse qualquer dor e mandou-me sair. Não houve direito a palmas, a assistência limitou-se a observar.
Saí e fui directo a um café comprar uma garrafa de água para limpar a boca.
Hoje, passados quase quarenta anos, posso afirmar que foi o dente que me custou menos a extrair.
Eram dez horas da manhã. Aproximava-se a hora do almoço. Ao meio dia juntei-me com os outros camaradas da companhia para irmos almoçar ao Restaurante Transmontano, o célebre bife com batatas fritas. O proprietário do restaurante, o Sr. Anis, ao ver-me fez a perguntar habitual da qual já sabia a resposta:
- Uma garrafinha de vinho da sua terra, “Casal Garcia”, de Penafiel?
Respondi:
- Certamente, para desinfectar a ferida.
_______________
Nota de L.G.
(*) Margarida Peixoto, natural de Penafiel (com 6 anos de Angola, dos 10 aos 16, em plena guerra colonial), volta a Paredes de Viadores para reencontrar e homenagear os seus "meninos e meninas" da Escolinha de Passinhos / Foz, no já longínquo ano de 1972... Tinha acabado de sair do Magistério. Foi o seu primeiro ano de trabalho. Tinha cerca de três dezenas de alunos, de ambos os sexos, da 1ª à 4ª classe... Nunca mais se esqueceu deles...
Conheceu a Alice por ocasião do IV Encontro Nacional do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, em 20 de Junho de 2009, na Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria. O seu marido, também professor, Joaquim Carlos Peixoto, fez a guerra colonial na Guiné e é amigo do Luís..
A Alice proporcionou agora este reencontro com alguns dos seus antigos alunos: a Laurinda, a Leonor, o Fernando... No dia 4 de Setembro de 2009, um dia de semana... Alguns, contactados, não puderam comparecer, por trabalharem no Porto e no estrangeiro... Fica em preparação um encontro alargado para o verão do próximo ano (...).
Guiné 63/74 - P5125: José Augusto Rocha: da crise estudantil de 1962 à Op Tridente, Ilha do Como, 1964 (José Colaço / Luís Graça)
Coimbra > 3 de Outubro de 2009 > A Alta de Coimbra, vista do Convento de Santa Clara a Velha...
Coimbra > 3 de Outubro de 2009 > Ubiversidade de Coimbra > A famosa torre sineira e a "cabra"...
Coimbra > 3 de Outubro de 2 > Universidade de Coimbra > A famosa Via Latina...
Coimbra > 3 de Outubro de 2009 > Universidade de Coimbra > Vista (parcial) sobre Coimbra (em primeiro plano, a Sé Velha)
Coimbra > 3 de Outubro de 2009 > Lápide em azulejo evocativa da passagem de Zeca Afonso por uma casa junto à Sé Velha
Coimbra > 3 de Outubro de 2009 > Estátua de D. Dinis, fundador da universidade portuguesa (12 ) definitivamente instalada em Coimbra, em 1537, por decisãod e D. João III... A Universidade de Coimbra tem estado sempre ligada a momentos importantes de contestação social e política... como foi o caso da crise académica de 1962.
Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
1 Mensagem enviada, em 16 do corrente, pelo editor L.G. ao José Colaço (ex-Sold de Trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65, mmembro da nossa Tabanca Grande) (*)
Conheci ontem, pessoalmente, um homem que foi da tua companhia [ a CCAÇ 557], o Alf Mil Rocha... Lembras-te dele ? Esteve na Op Tridente [ Ilha do Como, Janeiro-Março de 1964,] e depois no Cachil...Vai publicar em breve um resenha de memórias desse tempo...
Falou-me de vários nomes, também teus conhecidos [ ou do teu tempo]: Cavaleiro Ferreira, Barão da Cunha, Saraiva... O Barão da Cunha foi preso por se recusar a combater, [não sei exactamente em que circunstâncias, mas penso que no decurso da Op Tridente,] e ele foi quem lhe deu "apoio jurídico", sugerindo nome de advogados da oposição (Mário Soares, por ex.) para o defender... O Barão da Cunha esteve preso na Trafaria... Conhecias este episódio ?
O Rocha tinha o 5º ano do curso de licenciatura em direito qundo foi expulso de Coimbra [ na sequência de crise estudantil de 1962]... Fez a tropa e foi mobilizado para a Guiné... Encontrei um currículo dele, de onde não consta a passagem pela Guiné...
Disse-me que não é homem de blogues nem pretende "alimentar" o nosso banco de memórias... Foi cordial comigo, foi-me apresentado pela Diana Andringa [ na estreia, no Doclisboa 2009, o filme Dundo, Memória Colonial] (**)...
Vou estar atento a um escrito dele, sobre a Op Tridente, prometido (a título excepcional...) para ser inserido na página Caminhos da Memória [, de cuja redacção fazem parte dois membros do nosso blogue, Diana Andringa e João Tunes]...
Fotos: Luís Graça (2009). Direitos reservados Um abraço. Luís
Anexo - Nota curricular de José Augusto Rocha
(i) Nascido, em Viseu, a 25 de Outubro de 1938;
(ii) Advogado, licenciado pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra;
(iii) Inscrição na Ordem dos Advogados, em 13 de Agosto de 1968;
(iv) Director da Associação Académica de Coimbra (AAC), em 1962;
(v) Expulso de todas as Escolas Nacionais, por dois anos, na crise académica de 62, por decisão do Senado da Universidade de Coimbra, acusado de ter realizado o 1º Encontro Nacional de Estudantes, sob proibição do Ministro da Educação Nacional [Recorde-se que, em 26 de Março de 1962, O Dia do Estudante é proibido em Lisboa, levando à greve estudantil. A Academia de Coimbra solidariza-se e a luta estudantil mantém-se acesa até Maio. A AAC é encerrada] (***);
(vi) Julgado no Tribunal Criminal de Coimbra, acusado de crime de desobediência ao Ministro da Educação Nacional, por ter realizado o referido Encontro;
(vii) Preso no Forte de Caxias na sequência da crise académica de 62 e daí liberto sem culpa formada;
(viii) Membro da redacção do órgão da Associação Académica de Cimbra, Via Latina, em 61/62;
(ix) Membro da Direcção da Caixa de Previdência [da Ordem dos Advogados, presume-se] no triénio 73/75;
(x) Autor de várias comunicações em Congressos da Ordem de Advogados e intervenção activa nos movimentos associativos e eleitorais da Ordem dos Advogados;
(xi) Participação em numerosos julgamentos no Tribunal Plenário Criminal de Lisboa, onde defendeu vários presos políticos, nomeadamente, Victor Ramalho, Francisco Canais Rocha, João Pulido Valente, António Peres, Diana Andringa, Fernando Rosas, Maria José Morgado, José Mário Costa, Paula Rocha, Isabel Patrocínio Saldanha
Sanches.
(xii) Presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados em 2008.
Fonte: Caminhos da Memória > José Augusto Rocha
2. Resposta do José Colaço, ex-Sold de Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65),
Olá, Luís, boa noite: O ex-alferes miliciano Rocha era o meu comandante de pelotão, o 4º ou seja o pelotão de armas pesadas. Ele era também o 2º comandante da companhia.
Guardo dele, durante a nossa estada na guerra da Guiné, bem como de todos os oficiais e sargentos e restantes camaradas, as melhores recordações.
Mas para este ambiente funcionar como uma máquina bem oleada, houve e ainda há um homem que, além de militar com a sua patente de capitão, via no seu subordinado, no homem que estava à sua frente, outro ser humano como ele...
Este Homem dá pelo nome de João da Costa Martins Ares, hoje coronel reformado.
O Rocha possivelmente não te contou esta passagem: no início da nossa comissão é recebida uma mensagem dos serviços da PIDE com o seguinte teor, mais ou menos: po capitão deunciasse o dia a dia do alferes Rocha pois ele era elemento a ser vigiado na sua conduta diária.
As palavras não eram exactamente estas mas o sentido era vigiar o Rocha e informar os serviços da PIDE.
O capitão toma a seguinte resolução: chama o alferes Rocha, tem uma conversa séria de homem para homem, mostra-lhe a mensagem; o Rocha, por sua vez, conta-lhe todo o seu passado politico de oposicionista ao governo de Salazar, mas dá um voto de confiança ao capitão, o qual poderá contar com ele e, mais, que nunca seria atraiçoado.
Deste modo, o capitão conseguiu mais um amigo para levar a bom porto aquela nau durante vinte e três meses.
Quanto ao que dizes no teu mail, praticamente é tudo do meu conhecimento embora não com um grau de muita profundidade.
Sobre este assunto, se tivermos ocasião de falarmos pessoalmente, poderemos abordar o assunto, neste momento o meu estado de saúde não seja o melhor mas penso que não será nada de preocupante.
Um abraço
Colaço
______________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes relacionadas com o José Colaço e a CCAÇ 557:
1 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4765: Convívios (153): Almoço/Convívio: CCAÇ 557, Cahcil, Bissau e Bafatá 1963/65 - (José Colaço)
20 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2970: Ilha do Como, Cachil, Cassacá, 1964: O pós-Operação Tridente (José Colaço)
29 de Julho de 2008 >Guiné 63/74 - P3099: Os Nossos Regressos (13): Fundeámos ao largo, com as luzes de Cascais...(José Colaço, Cachil, Bissau, Bafatá, 1963/65))
9 de Outubro de 2008 >Guiné 63/74 - P3287: Controvérsias (2): Repor a realidade vivida, CCAÇ 557, Cachil, Como, Janeiro-Novembro de 1964 (José Colaço)
19 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3334 O meu baptismo de fogo (14): Cachil, Ilha do Como, meia-noite, 25 ou 26 de Janeiro de 1964 (José Colaço)
11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3598: O segredo de... (4): José Colaço: Carcereiro por uma noite
16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4196: Blogpoesia (39): CCAÇ 557, Missão cumprida na Guiné (José Colaço/Francisco dos Santos)
(**) Vd. poste de 15 de Outubro de 2009 >Guiné 63/74 - P5110: Agenda Cultural (33): Doclisboa 2009: Hoje, 23h, Cinema Londres2: Dundo, memória colonial, de Diana Andringa
(***) Sobre a crise académica de 1962, vd. os seguintes documentos na Net:
A crise académica de 1962 > Artigo de Rui Grilo
Vd. também Maria Manuela Cruzeiro, Rui Bebiano - Anos Inquietos. Vozes do Movimento Estudantil em Coimbra (1961-1974), Porto, Edições Afrontamento, 305 pp.
ACCORNERO, Guya. Anos Inquietos: Vozes do Movimento Estudantil em Coimbra (1961-1974). Anál. Social. [online]. 2007, no.184 [citado 18 Outubro 2009], p.919-923. Disponível na World Wide Web: <http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732007000300011&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0003-2573.
(...) Os relatos de Fernando Martinho e Carlos Baptista são significativos pelo esboço da África que trazem. Nascidos em famílias — embora de meio social diferente — de colonos portugueses, ambos sublinham a maior abertura cultural das colónias, onde o controlo do regime, pelo menos até ao começo da guerra colonial, não chega a ser tão eficaz como na metrópole. Esta abertura e a experiência diária do racismo e da discriminação dos negros foram fundamentais para a formação política, assim como o contacto com militantes dos movimentos de libertação.
Em Coimbra, onde chegou em 1961, Fernando Martinho integrou uma célula do MPLA que tinha como objectivo recrutar jovens angolanos para o movimento de libertação e organizar uma rede de deserção. Empenhado nas actividades da Associação Académica, foi preso pela PIDE durante alguns meses. Como outros dois entrevistados, Pio Abreu e José Cavalheiro, sofreu a experiência da guerra colonial, embora tenha conseguido evitar um envolvimento directo nas acções militares graças a sua profissão de médico.
Médico, no seu caso psiquiatra, é também Pio Abreu, originário de Santarém, onde nasceu, numa família bastante católica e conservadora, em que a política era uma coisa proibida. Chega a Coimbra em 1962, em plena crise académica, e liga-se, como Fátima Saraiva, ao Conge, uma estrutura que será fundamental na crise de 1969. Também nesta entrevista a experiência da guerra na Guiné ocupa um lugar essencial, em que se salienta sobretudo a forte contradição entre a formação política do entrevistado e a participação num conflito que se baseava em fundamentos completamente opostos. Assim como Fernando Martinho e José Cavalheiro, Pio Abreu descreve a sua atitude de «boicote passivo» das acções militares, favorecida, também neste caso, pela sua formação de médico, que sempre tentou desenvolver segundo a sua própria ética contra a do exército. (...)
Vd. tambéma bibliografia no blogue Estudos sobre o Comunismo, fundado por José Pacheco Pereira
CRISE ESTUDANTIL DE 1962
Anselmo Aníbal, "A propósito do 24 de Março de há 20 anos", Diário de Lisboa, 25/3/1982
“Estudantes de 1962 recordam a "crise académica"“, Jornal da Educação, 54, Abril 1982
João Pedro Ferro (Org.) A Primavera que Abalou o Regime. A Crise Académica de 1962, Lisboa, Presença, 1996
Maria Antónia Fiadeiro, "Crise Académica de 62: memória na primeira pessoa", Diário de Lisboa, 24/4/1982
Eurico de Figueiredo, "Movimento Estudantil de 62 provocou a maior crise estrutural do fascismo", Entrevista ao Portuqal Hoje, 24/3/1982
Álvaro Garrido, Movimento estudantil e crise do Estado Novo: Coimbra 1962. Coimbra, Livraria Minerva, 1996
Maria Antónia Palla, "24 de Março de 1962: tão amigos que nós eramos", Expresso, 26/3/82
Daniel Ricardo, "Greve académica de 62 uma grande batalha contra a ditadura", O Jornal, 19/3/1982
Daniel Ricardo, “Contra os bastões lucidez e unidade”, O Jornal, 27/3 a 2/4/1987
[Sobre o movimento estudantil posterior a 1962.]
Rogério Rodrigues, "A geração de 62 sabe dialogar entre si", O Jornal, 26/3/1982
Rogério Rodrigues, "Crise Académica de 62: a memória dos anos 20", O Jornal, 26/3/1982
Rogério Rodrigues,"Crise Académica de 62: os dois anos que abalaram Coimbra", O Jornal, 2/4/1982.
Coimbra > 3 de Outubro de 2009 > Ubiversidade de Coimbra > A famosa torre sineira e a "cabra"...
Coimbra > 3 de Outubro de 2 > Universidade de Coimbra > A famosa Via Latina...
Coimbra > 3 de Outubro de 2009 > Universidade de Coimbra > Vista (parcial) sobre Coimbra (em primeiro plano, a Sé Velha)
Coimbra > 3 de Outubro de 2009 > Lápide em azulejo evocativa da passagem de Zeca Afonso por uma casa junto à Sé Velha
Coimbra > 3 de Outubro de 2009 > Estátua de D. Dinis, fundador da universidade portuguesa (12 ) definitivamente instalada em Coimbra, em 1537, por decisãod e D. João III... A Universidade de Coimbra tem estado sempre ligada a momentos importantes de contestação social e política... como foi o caso da crise académica de 1962.
Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
1 Mensagem enviada, em 16 do corrente, pelo editor L.G. ao José Colaço (ex-Sold de Trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65, mmembro da nossa Tabanca Grande) (*)
Conheci ontem, pessoalmente, um homem que foi da tua companhia [ a CCAÇ 557], o Alf Mil Rocha... Lembras-te dele ? Esteve na Op Tridente [ Ilha do Como, Janeiro-Março de 1964,] e depois no Cachil...Vai publicar em breve um resenha de memórias desse tempo...
Falou-me de vários nomes, também teus conhecidos [ ou do teu tempo]: Cavaleiro Ferreira, Barão da Cunha, Saraiva... O Barão da Cunha foi preso por se recusar a combater, [não sei exactamente em que circunstâncias, mas penso que no decurso da Op Tridente,] e ele foi quem lhe deu "apoio jurídico", sugerindo nome de advogados da oposição (Mário Soares, por ex.) para o defender... O Barão da Cunha esteve preso na Trafaria... Conhecias este episódio ?
O Rocha tinha o 5º ano do curso de licenciatura em direito qundo foi expulso de Coimbra [ na sequência de crise estudantil de 1962]... Fez a tropa e foi mobilizado para a Guiné... Encontrei um currículo dele, de onde não consta a passagem pela Guiné...
Disse-me que não é homem de blogues nem pretende "alimentar" o nosso banco de memórias... Foi cordial comigo, foi-me apresentado pela Diana Andringa [ na estreia, no Doclisboa 2009, o filme Dundo, Memória Colonial] (**)...
Vou estar atento a um escrito dele, sobre a Op Tridente, prometido (a título excepcional...) para ser inserido na página Caminhos da Memória [, de cuja redacção fazem parte dois membros do nosso blogue, Diana Andringa e João Tunes]...
Fotos: Luís Graça (2009). Direitos reservados Um abraço. Luís
Anexo - Nota curricular de José Augusto Rocha
(i) Nascido, em Viseu, a 25 de Outubro de 1938;
(ii) Advogado, licenciado pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra;
(iii) Inscrição na Ordem dos Advogados, em 13 de Agosto de 1968;
(iv) Director da Associação Académica de Coimbra (AAC), em 1962;
(v) Expulso de todas as Escolas Nacionais, por dois anos, na crise académica de 62, por decisão do Senado da Universidade de Coimbra, acusado de ter realizado o 1º Encontro Nacional de Estudantes, sob proibição do Ministro da Educação Nacional [Recorde-se que, em 26 de Março de 1962, O Dia do Estudante é proibido em Lisboa, levando à greve estudantil. A Academia de Coimbra solidariza-se e a luta estudantil mantém-se acesa até Maio. A AAC é encerrada] (***);
(vi) Julgado no Tribunal Criminal de Coimbra, acusado de crime de desobediência ao Ministro da Educação Nacional, por ter realizado o referido Encontro;
(vii) Preso no Forte de Caxias na sequência da crise académica de 62 e daí liberto sem culpa formada;
(viii) Membro da redacção do órgão da Associação Académica de Cimbra, Via Latina, em 61/62;
(ix) Membro da Direcção da Caixa de Previdência [da Ordem dos Advogados, presume-se] no triénio 73/75;
(x) Autor de várias comunicações em Congressos da Ordem de Advogados e intervenção activa nos movimentos associativos e eleitorais da Ordem dos Advogados;
(xi) Participação em numerosos julgamentos no Tribunal Plenário Criminal de Lisboa, onde defendeu vários presos políticos, nomeadamente, Victor Ramalho, Francisco Canais Rocha, João Pulido Valente, António Peres, Diana Andringa, Fernando Rosas, Maria José Morgado, José Mário Costa, Paula Rocha, Isabel Patrocínio Saldanha
Sanches.
(xii) Presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados em 2008.
Fonte: Caminhos da Memória > José Augusto Rocha
2. Resposta do José Colaço, ex-Sold de Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65),
Olá, Luís, boa noite: O ex-alferes miliciano Rocha era o meu comandante de pelotão, o 4º ou seja o pelotão de armas pesadas. Ele era também o 2º comandante da companhia.
Guardo dele, durante a nossa estada na guerra da Guiné, bem como de todos os oficiais e sargentos e restantes camaradas, as melhores recordações.
Mas para este ambiente funcionar como uma máquina bem oleada, houve e ainda há um homem que, além de militar com a sua patente de capitão, via no seu subordinado, no homem que estava à sua frente, outro ser humano como ele...
Este Homem dá pelo nome de João da Costa Martins Ares, hoje coronel reformado.
O Rocha possivelmente não te contou esta passagem: no início da nossa comissão é recebida uma mensagem dos serviços da PIDE com o seguinte teor, mais ou menos: po capitão deunciasse o dia a dia do alferes Rocha pois ele era elemento a ser vigiado na sua conduta diária.
As palavras não eram exactamente estas mas o sentido era vigiar o Rocha e informar os serviços da PIDE.
O capitão toma a seguinte resolução: chama o alferes Rocha, tem uma conversa séria de homem para homem, mostra-lhe a mensagem; o Rocha, por sua vez, conta-lhe todo o seu passado politico de oposicionista ao governo de Salazar, mas dá um voto de confiança ao capitão, o qual poderá contar com ele e, mais, que nunca seria atraiçoado.
Deste modo, o capitão conseguiu mais um amigo para levar a bom porto aquela nau durante vinte e três meses.
Quanto ao que dizes no teu mail, praticamente é tudo do meu conhecimento embora não com um grau de muita profundidade.
Sobre este assunto, se tivermos ocasião de falarmos pessoalmente, poderemos abordar o assunto, neste momento o meu estado de saúde não seja o melhor mas penso que não será nada de preocupante.
Um abraço
Colaço
______________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes relacionadas com o José Colaço e a CCAÇ 557:
1 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4765: Convívios (153): Almoço/Convívio: CCAÇ 557, Cahcil, Bissau e Bafatá 1963/65 - (José Colaço)
20 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2970: Ilha do Como, Cachil, Cassacá, 1964: O pós-Operação Tridente (José Colaço)
29 de Julho de 2008 >Guiné 63/74 - P3099: Os Nossos Regressos (13): Fundeámos ao largo, com as luzes de Cascais...(José Colaço, Cachil, Bissau, Bafatá, 1963/65))
9 de Outubro de 2008 >Guiné 63/74 - P3287: Controvérsias (2): Repor a realidade vivida, CCAÇ 557, Cachil, Como, Janeiro-Novembro de 1964 (José Colaço)
19 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3334 O meu baptismo de fogo (14): Cachil, Ilha do Como, meia-noite, 25 ou 26 de Janeiro de 1964 (José Colaço)
11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3598: O segredo de... (4): José Colaço: Carcereiro por uma noite
16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4196: Blogpoesia (39): CCAÇ 557, Missão cumprida na Guiné (José Colaço/Francisco dos Santos)
(**) Vd. poste de 15 de Outubro de 2009 >Guiné 63/74 - P5110: Agenda Cultural (33): Doclisboa 2009: Hoje, 23h, Cinema Londres2: Dundo, memória colonial, de Diana Andringa
(***) Sobre a crise académica de 1962, vd. os seguintes documentos na Net:
A crise académica de 1962 > Artigo de Rui Grilo
Vd. também Maria Manuela Cruzeiro, Rui Bebiano - Anos Inquietos. Vozes do Movimento Estudantil em Coimbra (1961-1974), Porto, Edições Afrontamento, 305 pp.
ACCORNERO, Guya. Anos Inquietos: Vozes do Movimento Estudantil em Coimbra (1961-1974). Anál. Social. [online]. 2007, no.184 [citado 18 Outubro 2009], p.919-923. Disponível na World Wide Web: <http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732007000300011&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0003-2573.
(...) Os relatos de Fernando Martinho e Carlos Baptista são significativos pelo esboço da África que trazem. Nascidos em famílias — embora de meio social diferente — de colonos portugueses, ambos sublinham a maior abertura cultural das colónias, onde o controlo do regime, pelo menos até ao começo da guerra colonial, não chega a ser tão eficaz como na metrópole. Esta abertura e a experiência diária do racismo e da discriminação dos negros foram fundamentais para a formação política, assim como o contacto com militantes dos movimentos de libertação.
Em Coimbra, onde chegou em 1961, Fernando Martinho integrou uma célula do MPLA que tinha como objectivo recrutar jovens angolanos para o movimento de libertação e organizar uma rede de deserção. Empenhado nas actividades da Associação Académica, foi preso pela PIDE durante alguns meses. Como outros dois entrevistados, Pio Abreu e José Cavalheiro, sofreu a experiência da guerra colonial, embora tenha conseguido evitar um envolvimento directo nas acções militares graças a sua profissão de médico.
Médico, no seu caso psiquiatra, é também Pio Abreu, originário de Santarém, onde nasceu, numa família bastante católica e conservadora, em que a política era uma coisa proibida. Chega a Coimbra em 1962, em plena crise académica, e liga-se, como Fátima Saraiva, ao Conge, uma estrutura que será fundamental na crise de 1969. Também nesta entrevista a experiência da guerra na Guiné ocupa um lugar essencial, em que se salienta sobretudo a forte contradição entre a formação política do entrevistado e a participação num conflito que se baseava em fundamentos completamente opostos. Assim como Fernando Martinho e José Cavalheiro, Pio Abreu descreve a sua atitude de «boicote passivo» das acções militares, favorecida, também neste caso, pela sua formação de médico, que sempre tentou desenvolver segundo a sua própria ética contra a do exército. (...)
Vd. tambéma bibliografia no blogue Estudos sobre o Comunismo, fundado por José Pacheco Pereira
CRISE ESTUDANTIL DE 1962
Anselmo Aníbal, "A propósito do 24 de Março de há 20 anos", Diário de Lisboa, 25/3/1982
“Estudantes de 1962 recordam a "crise académica"“, Jornal da Educação, 54, Abril 1982
João Pedro Ferro (Org.) A Primavera que Abalou o Regime. A Crise Académica de 1962, Lisboa, Presença, 1996
Maria Antónia Fiadeiro, "Crise Académica de 62: memória na primeira pessoa", Diário de Lisboa, 24/4/1982
Eurico de Figueiredo, "Movimento Estudantil de 62 provocou a maior crise estrutural do fascismo", Entrevista ao Portuqal Hoje, 24/3/1982
Álvaro Garrido, Movimento estudantil e crise do Estado Novo: Coimbra 1962. Coimbra, Livraria Minerva, 1996
Maria Antónia Palla, "24 de Março de 1962: tão amigos que nós eramos", Expresso, 26/3/82
Daniel Ricardo, "Greve académica de 62 uma grande batalha contra a ditadura", O Jornal, 19/3/1982
Daniel Ricardo, “Contra os bastões lucidez e unidade”, O Jornal, 27/3 a 2/4/1987
[Sobre o movimento estudantil posterior a 1962.]
Rogério Rodrigues, "A geração de 62 sabe dialogar entre si", O Jornal, 26/3/1982
Rogério Rodrigues, "Crise Académica de 62: a memória dos anos 20", O Jornal, 26/3/1982
Rogério Rodrigues,"Crise Académica de 62: os dois anos que abalaram Coimbra", O Jornal, 2/4/1982.
Guiné 63/74 – P5124: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (26): Lágrimas de uma mãe
1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 26ª estória:
Camaradas,
Ao rever as minhas memórias, encontrei este texto no meu baú, que pretende ser uma homenagem às Mães deste país, que tiveram os seus filhos na Guerra do Ultramar.
LÁGRIMAS DE UMA MÃE
Nunca julguei que era tão difícil separar-me de minha mãe.
Na hora da despedida, senti as suas lágrimas e pensei: “Sente uma mãe, um filho na sua barriga, seu corpo mudar de forma e esperar a boa hora.”
Para quê?
Ver o seu filho crescer e ser a razão do seu viver.
Por mim chorou, sorriu, sofreu e lutou.
Quantas vezes me levou á escola, me viu jogar á bola, me levou ao médico e me amparou na doença.
Noites sem dormir, com febres e cólicas, quantos sustos lhe dei.
Então cresci e um dia fui-me embora, não para estudar ou trabalhar, não para constituir família. Mas sim, para o serviço militar.
Fiz as sortes, fui incorporado, mobilizado e parti para a guerra… na Guiné.
Vi as lágrimas de minha mãe derramadas na hora da partida!
Minha mãe pediu a Deus, que voltasse são e salvo, para o seu regaço.
Lembrou-se de uma amiga que enterrou seu filho morto em África, tinha vinte e dois anos e morreu vítima da guerra.
Chorou lágrimas de desespero quando seu filho foi ferido.
Toda a mãe chora quando vê partir um filho e só volta a ter alegria, quando o torna a ver, a ter perto de si outra vez.
Com lágrimas nos olhos recebeu-me quando regressei e agradeceu a Deus, pelo seu filho estar de volta com vida.
Foram muitas as lágrimas de… minha Mãe.
Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art
____________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
12 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 – P5098: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (25): As armas proibidas que nós utilizámos
Subscrever:
Mensagens (Atom)