quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 – P5796: Histórias do Eduardo Campos (8): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério (Parte 8): Nhacra 3


1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, dando continuidade às suas histórias da Companhia, iniciadas nos postes P5711 e P5729, enviou-nos a 8ª fracção e 4 documentos históricos do seu vasto arquivo pessoal:

CCAÇ 4540 – 72/74
"SOMOS UM CASO SÉRIO"

PARTE 8

NHACRA 3

Como nada de importante se passava em Nhacra, os dias eram passados de uma forma totalmente diferente das Matas do Cantanhez, e, acreditem que por vezes, surgiam-nos as saudades. A vida era tornava-se demasiado sedentária.

As alternativas encontradas, para fugir à rotina, eram as idas a Bissau, e, já que a alimentação nunca foi algo digno desse nome em Nhacra, aproveitava estas saídas para ir ao Pelicano, à Churrascaria de Santa Luzia, ao Bento, etc. Assim, evitava que a “dieta” que me tinha sido imposta, fosse levada muito a sério.

Por falar de alimentação, enquanto no Cantanhez suportamos tudo, por vezes até com um sorriso, em Nhacra as coisas eram diferentes. O pessoal ficou mais rebelde e negou-se a comer duas vezes (2 levantamentos de rancho). Um dos quais teve como resultado, que passadas duas horas do início do levantamento, estávamos a comer um bacalhau cozido com batatas, que parecia ter sido confeccionado no Hotel Hilton.

Embora não estivesse de oficial de dia nessa data, foi o nosso camarada e amigo tabanqueiro Vasco Ferreira (ex-Alferes da CAÇ 4540), que resolveu o problema.

A dificuldade em adquirir gado bovino (como já disse no poste anterior, o povo por motivos religiosos e tradicionais não o vendia), dava origem a que, um grupo de camaradas acompanhado de um especialista em ”ginecologia”, fossem às tabancas, de madrugada, á procura de gado. Então o nosso “especialista” apalpava… apalpava e, não estando prenha a vaca, toca a roubá-la.

Logicamente, o dono da rês vinha atrás deles a gritar e a chorar, mas não havia nada a fazer. Chegados ao aquartelamento, acabavam por fazer negócio e diziam que lhe pagavam um preço justo.

A minha eterna dúvida, nestes negócios forçados, é: “Mas que raio de preço justo era esse, se o homem não queria vender o animal!?”

A minha curiosidade sobre o desenvolvimento destas operações, levou-me a que, um belo dia, os acompanhasse para ver como decorria a captura da vaca seleccionada.

Nesse dia, logo por azar, o “ginecologista” improvisado enganou-se e trouxe mesmo uma vaca prenha. Foi remédio santo para mim, nunca mais comi carne bovina até ao fim da comissão.

A partir de determinada altura, mesmo cabritos, galinhas e porcos os nativos resistiam em vender. Aqui chegados, um camarada das transmissões, inventou uma fórmula original, na época, para roubar galinhas, que constava do seguinte: Um fio de pesca com vários anzóis, onde colocava uns grãos de milho. Depois pela tabanca fora ia espalhando mais alguns grãos de milho pelo chão. As galinhas vinham por ali adiante a comer os grãos e acabavam, quase sempre, por engolir um dos anzóis. Quando o tal camarada via que a bicha tinha caído na esparrela, saía rapidamente da tabanca com a “vítima” atrás dele.

DOCUMENTOS HISTÓRICOS DE COLECÇÃO

A história também se faz de notícias, pelo que, hoje, seleccionei 4 peças do meu arquivo pessoal, para publicação, relacionadas principalmente com a Guiné e a Guerra do Ultramar, que nos chegam com 37 anos de idade.





Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCAÇ 4540

Fotos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
___________
Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5795: Parabéns a você (78): José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68 (Editores)

1. Hoje dia 10 de Fevereiro de 2010, está de parabéns o nosso camarada José Brás* que foi Furriel Miliciano na CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, nos anos de 1966/68).

Não podia a tertúlia deixar de vir desejar-lhe um feliz dia de aniversário, pleno de saúde e alegria, junto dos seus familiares e amigos.

Desejamos ao nosso camarada Brás uma longa vida para podermos, todos nós, comemorar esta data muitas vezes.



Postal alusivo à data comemorativa, de autoria de Miguel Pessoa


José Brás que muitos de nós têm o prazer de conhecer pessoalmente, vive no Alentejo, mais propriamente na bonita cidade de Montemor-o-Novo. É autor do romance "Vindimas no Capim", Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura, assim como de poemas, alguns dos quais publicados no nosso Blogue.

Gosta de argumentar, e fá-lo como poucos, mesmo quando os temas são fracturantes e levam a diálogos intensos. Mantém sempre um elevado nível de cordialidade e respeito pelas divergências do opositor de ocasião. Tive o prazer de o ter como companheiro de mesa no último Encontro em Ortigosa, pena foi que não pudessemos conversar mais, mas o ambiente não era o melhor. Algum burburinho e muitas solicitações a ambos, que interrompiam sistematicamente os diálogos.

O nosso camarada Brás tem colaborado intensamente no nosso Blogue. Uma série a destacar, "Vindimas e Vindimados", baseado no seu livro "Vindimas no Capim", infelizmente interrompida há muito tempo. O último poste, 4696, data de 16 de Julho de 2009, pelo que desde já lhe lanço um apelo para que retome a publicação dos textos desta série.

Navegando pelo Blogue, consegui encontrar 33 postes deste nosso camarada que aconselho a ler. Desde histórias, poesia, argumentação, de tudo se pode encontrar, com qualidade garantida.


Entretanto, apreciem esta não poesia, na pespectiva de José Brás, seu autor

Anéis

Dedos apontados à secura da terra
acusavam-lhe a falência genética
do seu ventre parideiro
de diamantes, de minas
e de morte

olhos vitri-fixos diziam
mundos-nada-amargura
saudade já
de outros eu
fantasmas-frustração
coval marcado no espaço sideral

bocas-protesto-quase-renúncia
gritavam imagens-desejo
de um encéfalo criador
de novos cosmos

e seios negros-flácidos-lacerados
eram a denúncia-prova
de cordões umbilicais
que ligam ainda
o símio-escravo-jeová
à terra-mãe


ARCAS

Do Homem
guarda
o silex
o gesto

e nas marcas do sangue
se guardam
as ânsias
de infinito


Espantosa Visão

Corriam os olhos
na imagem
de um desfiladeiro de pedra
cinzenta
e os gritos colados
nas asas
de pássaros dourados
rasando os tufos
raros
de verde azeitona
impunham
na paisagem vazia
um pesado irreal
e a solidez
do alerta.


Pressa

Urgente
seria
que as palavras
cruzassem
o espaço
(fechado)
da memória
e no seu eco
se rompessem
as cadeias
do tempo
e do sangue
na terra da morte
e dos olhos
parados


Memória de fogo

Eruptiva terra
vermelha e retorcida
vulva aberta
múltipla
e imprevista
teu quente orgasmo
da periódica
orgia vem
arrefecendo
solidifica
em ferro
e flores
nos corpos
de crianças
fardadas



O nosso aniversariante dirigiu-se ao nosso Blogue pela primeira vez em 27 de Janeiro de 2009. Relembremos as suas palavras:

Caro Luís Graça
Enviei a 19.01.09 (ou penso que enviei) o texto abaixo junto com carta aberta a J. Mexia Alves sobre intervenção sua e editada no blogue acerca da chamada “batalha de Guilege”.

Acompanhavam tal texto duas fotos, uma antiga e outra actual, forma que julgo suficiente para ser considerado um novo “camarada” da Tabanca Grande.

Entretanto novos textos foram aparecendo sobre o mesmo tema, uns, como o de JMA, deambulando por caminhos de análise puramente militar e hipermetrópica, própria do contrário da história, outras que, como eu, não negando a análise militar (tudo é analisável), não arredam a parte mais interessante da visão universal do direito dos seres humanos a disporem da sua vida e da sua liberdade num mundo que sempre se sonha melhor no futuro.

Estive com alguns problemas no meu computador e, no exemplo do que aconteceu com outras mensagens para outros destinatários, temo que não tenha chegado ao teu correio o texto que refiro acima como enviado.

Indicia tal situação o facto de não lhe ter visto mais qualquer referência no blogue, nem ter recebido eu a acusação da recepção.

Desse modo o reenvio agora com um abraço de cumplicidade a todos os que mantém o interesse na discussão plural e aberta sobre uma página da nossa história que, como todas as histórias, individuais ou colectivas, não se fazem apenas de glórias e heroísmos mas também de muitas misérias e cobardias.

José Brás


Ortigosa, 2009 > Conversa animada de Mexia Alves e José Brás com...

Ortigosa 2009 > Vasco da Gama e José Brás

Ortigosa 2009 > José Brás e José Rocha
__________

Notas de CV:

(*) Para encontrar os postes de José Brás, recorrer aos marcadores "José Brás" e "Vindimas e Vindimados"

Vd. último poste da série de 6 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5773: Parabéns a você (77): José Belo, se o calor da nossa amizade chegasse a Kiruna, a tua Lapónia era o Alqueva (Os Editores)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5794: In Memoriam (36): Júlio Marques Tavares, o Madragoa (1945-1986), ex- Sold Cond Auto, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Marisa Tavares / Vitor Condeço / Fernando Graça)


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS/ BART 1913 (1967/69) > O Madragoa, o Sold Cond Auto Júlio Tavares, condutor de GMC... Nasceu em Lisboa em 1945 e morreu em 1986, no Canadá, para onde emigrara em 1975. Os seus pais eram de Pardilhó, Estarreja. Quando jovem, o Júlio viveu na Madragoa. Quando voltou da Guiné, fixou-se em Pardilhó, onde casou e teve o seu filho Pedro. A sua filha Marisa, que tinha 6 anos quando o pai faleceu, de doença prolonada, anda à procura de camaradas dele. Graças ao nosso blogue, já localizou alguns. Diz que tem muito orgulho no seu pai.

O seu gesto sensibilizou-nos a todos. Convidei a Marisa para integrar o nosso blogue, o que ela aceitou, embora não domine bem o português. O pai foi trabalhador da construção civil. Conseguiu dar, no entanto, uma educação de nível superior aos seus dois filhos. A Marisa diz que ele tem outro filho, que terá ficado em Catió. Recentemente lançou um blogue para procurar esse meio irmão perdido: Are You My Brother ? É meu irmão ? (Vamos também ajudá-la nesta procura do paradeiro do seu eventual mano guineense, de Catió, que a ser vivo e viver ainda na Guiné-Bissau deverá rondar os 42 anos).


Louvor averbado na caderneta, p. 12, do Sold Cond Auto Rodas Júlio Marques Tavares, nascido em 9 de Dezembro de 1945, em Lisboa, freguesia de São Sebastíão da Pedreira. Era mais conhecido pela alcunha do Madragoa (bairro de Lisbo onde viveu quando jovem). Ainda de acordo com a caderneta militar, era solteiro e tinha como profissão "ajudante de condutor auto sem prática" (sic). Tinha 4 anos de escolaridade ["exame de 4ª classe do E.P.E. (4º grupo)]".



Na caderneta do Júlio Tavares consta ainda, em "ocorrências extraordinárias" (p. 20), o seguinte: "1966. Apto no exame psicotécnico para condutor auto. Considerado refractário nos termos do atº 48º da Lei 1961, desde 19 de Agosto de 1966. (..) Ausente com licença definitiva para o Canadá desde 27/2/75". (Excertos)

Fotos: © Marisa Tavares (2010). Direitos reservados

Prémio, condecorações e louvores. 1968. Louvado pelo Comandante do BArt 1913 porque ao longo de 19 meses de comissão sempre se evidenciou como elemento trabalhador e disciplinado, sendo de salientar ser um condutor cuidadoso, e merecendo-lhe a viatura que lhe está distribuída constante cuidado. Nas colunas em que tomou parte nunca mostrou qualquer receio ou hesitação em que a sua viatura GMC fosse a 1ª da coluna. De espírito alegre e comunicativo, granjeou a simpatia e a amizade de todos (Ordem de Serviço, do BART 1913, nº 282). Medalha Comemorativa das Campanhas da Guiné. Legenda "Guiné 1967-68-69" (OS nº 26 do BART 1913. de 1969).


1. Mensagem do Vitor Condeço, de 6 do corrente, em resposta ao meu pedido para legendar algumas das fotos do álbum da Marisa:

Querida Marisa, meu caro Luis Graça:

Vamos ver o que consigo dizer sobre as fotografias que a Marisa, filha do Júlio Tavares nos presenteou.


Vê por favor o que consegues aproveitar, não estou certo de ter escolhido a melhor forma de as comentar. [A publicar oportunamente].


Antes e para começar, um pouco e história:


O Júlio Marques Tavares era Soldado Condutor Auto nº 06255566 da CCS do BART1913, que embarcou a 26 de Abril de 1967 no NM UIGE, tendo chegado à Guiné na manhã de 1 de Maio.


Desembarcados directamente do Uige para barcaças de transporte, seguimos até Bolama onde pernoitámos aguardando a maré, prosseguindo ao alvorecer o nosso destino para sul até Catió na região do Tombali, onde chegámos às 15H00 do dia 2 de Março, (este trajecto foi feito sem qualquer escolta e a única arma a bordo era uma pistola 6.75 do Cap. Botelho). Aqui ficámos até 17 de Fevereiro de 1969, data em que embarcados no cais do porto exterior de Catió no rio Cagopere a bordo da LDG 101 – Alfange, regressaram a Bissau.


Aqui, o BArt reagrupou com as restantes companhias e terminaríamos a comissão embarcando novamente no Uige na tarde de 2 de Março, levantando ferro com destino a Lisboa às 00H00 do dia 3 e onde chegamos a 9 do mesmo mês pela manhã, seguindo de comboio para V.N. de Gaia (RAP2), onde se chegou a princípio da tarde.


Depois de entrega do espólio, todos recebemos um passaporte de licença por 21 dias e uma requisição de transporte para o tão desejado regresso a casa.


Passámos à disponibilidade em 1 de Abril de 1969.

Dos registos na História do Batalhão consta que o Júlio Tavares foi louvado pelo comandante do batalhão em 25 de Novembro de 1968.


A resposta que esperava do camarada Fernado Graça, a quem pedi para falar sobre o Júlio, acabou por chegar só hoje, ao que parece andou perdida pela rede pois o endereço antes usado estava incorrecto e voltava à caixa dele. (...)


3. Aqui fica então o que o Fernando, há distância de mais de quarenta anos, consegue recordar sobre o Júlio:


Caro amigo Vítor Condeço,


A razão desta mensagem é para falar sobre o soldado condutor auto Júlio Tavares que fez parte da CCS do BART 1913 estacionada em Catió.


Este amigo era conhecido por Madragoa, era um homem bem disposto, reinadio e bom camarada.


A alguns condutores (tínhamos 24 na CCS) foram distribuídas as poucas viaturas existentes, o Madragoa conduzia uma GMC, outros camaradas tinham os Unimog 404 e o 411, a Mercedes Benz, e os Jeeps.


Quando havia coluna de reabastecimento de Catió para Cufar todos os carros de grande porte faziam o trajecto entre estes dois aquartelamentos, operação que durava todo dia. Os abastecimentos vindos de Bissau em barcos apoiados pela marinha, quando chegavam ao cais velho de Catió, (I) as viaturas eram carregadas e seguiam rumo a Cufar, o nosso amigo Madragoa assim como outros camaradas condutores lá alinhavam nos seus 'mustangues'.


Enquanto os sapadores picavam a estrada, outros camaradas montavam segurança, o dia era passado numa azafama por razões obvias, creio que a viatura do Madragoa ou a do Fontes, um camarada de Famalicão, tinham sobre os guarda-lamas, nos estribos e no próprio chão da cabine do condutor, sacos de areia para amortecer o impacto do rebentamento de alguma mina que não fosse detectada.


O nosso amigo Madragoa também fez umas comissões de serviço em Ganjola, um pequeno destacamento a uns quatro km de Catió, era obrigatório fazer um mês neste destacamento, mas havia quem ficasse por lá mais tempo do que o habitual.


O Madragoa, quase no fim da nossa comissão, talvez dois meses antes, escreveu umas milongas (II) aos seus familiares a pedir dinheiro. Foram dois meses a tirar a barriguinha da miséria, bifes com batatas fritas no bar Catió e no outro bar que ficava em frente ao quartel do qual não me recordo o nome. (III)


Foi um manjar de deuses e brutas pielas. Fez bem o nosso amigo, porque quase dois anos de feijão-frade com atum de salmoura em barrica, arroz com calhaus que quase nos partiam os dentes e outras mistelas já bastavam.


E por isso, houve mosquitos por cordas quando fizemos um levantamento de rancho!


Quando chovia torrencialmente o nosso amigo Madragoa não se fardava, metia a capa impermeável camuflada pela cabeça, as botas e lá andava ele na sua GMC.


Envio-te esta mensagem a contar estes pequenos nadas, mas muito significativos para nós, que os vivemos.


Faz chegar à filha do nosso camarada MADRAGOA este lembrar do que passamos há quarenta e três anos.


Com um grande abraço do


Fernando Graça
Ex-Sold. Cond.
CCS/BART 1913
Guiné - Catió 1967/69
____________

Notas do F. G.:

(I) - Porto Interior


(II) - Falsas histórias


(III) - Era a Cantina do Sr. Mota
__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

2 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5749: Álbum fotográfico de Júlio Marques Tavares, sold cond auto, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Parte I) (Marisa Tavares)

1 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5742: Em busca de ... (115): Camaradas de meu pai, Júlio Marques Tavares, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Marisa Tavares)

Guiné 63/74 - P5793: Pré-publicação de Mulher Grande, de Mário Beja Santos (4): S. Domingos, 21 de Julho de 1961: Benedita, eles já aqui estão!


Guiné > Região do Cacheu > Varela > 1961 > Luta felupe, de Augusto Trigo. Painel que se encontra(va) numa parede de um restaurante/café, completamente em  ruínas. O painel foi restaurado, digitalmente, pelo Rui Fernandes. Foto de Rui Fernandes, cedida ao nosso amigo Pepito e aqui reproduzida com a devida vénia. (O Rui integra a nossa Tabanca Grande, desde Janeiro de 2008).

Augusto Fausto Rodrigues Trigo nasceu em Bolama, a 17 de Outubro de 1938. Órfão de pai em 1945, veio com mais dois dos seus irmãos para Portugal. A  mãe ficou  na Guiné, com o filho mais novo.

Esteve na Casa Pia até aos 19 anos (1957). Aí começou a revelar e a desenvolver o seu talento artístico. O seu primeiro emprego foi como pintor de publicidade. Regressa à Guiné para rever a mãe e os irmãos. Trabalha como desenhador cartográfico. Nos momentos livres, desenha e pinta (a óleo e a aguarela). Em 1964 realiza a sua primeira exposição de pintura. O Governo da província faz-lhe encomendas... O quadro, cuja imagem reproduzimos acima, data de 1961... Ainda viveu na Guiné-Bissau, a seguir à independência, tendo dirigido o Departamento de Artesanato Nacional, mas regressou definitivcamente a Portugal, em Setembro de 1979. É hoje um conhecido ilustrador e consagrado autor de Banda Desenhada (em parceria com o argumentista Jorge Magalhães). Para saber mais,  clicar aqui.


Foto: © Rui Fernandes / AD - Acção para o Desenvolvimento (2008). Direitos reservados


1. Pré-publicação de excertos do próximo livro do nosso amigo e camarada Mário Beja Santos, Mulher Grande. Trata-se da terceira parte do Capº III (*):


Mulher Grande > III > A Guiné em chamas ou o “Tubabo Tiló”
por Mário Beja Santos


[III. 4] Décimo segundo solilóquio


O tempo esfriou, chuvisca, aproveito para ir ao Google ver o que aconteceu em S. Domingos, naquele dia 21 de Julho de 1961. Coisa estranha, parece que a luta armada só começou em Janeiro de 1963, com o ataque a Tite, desencadeado pelo PAIGC. No entanto, aos farrapos, fala-se da formação de rebeldes no Senegal, de um Movimento para a Libertação da Guiné, nalguns documentos fala-se mesmo da FLING. Imprimo tudo, algumas respostas podem ser encontradas nas entrelinhas.

Afinal, a FLING fora alimentada pelas autoridades de Dakar, tinha um projecto exclusivamente guineense, não queria o envolvimento dos cabo-verdianos. Noutro documento encontro referências à fuga de quadros, vejo mesmo o nome de Rafael Barbosa ligado à FLING, surpreende-me, pois o seu nome também aparece associado ao PAIGC.

No último almoço em casa da Benedita vi a emoção com que ela falou na degradação das relações com as novas autoridades senegalesas do Casamansa. Falámos na missão da Christine Garnier, ela ter-se-á encontrado com Senghor que mandou uma mensagem para Salazar apelando-lhe a um quadro de pequenas concessões imediatas e sugerindo-lhe um plano de transmissão de poderes com a duração de 20 anos. O que quer que tenha acontecido, Salazar, que recebeu Benjamim Pinto Bull em S. Bento, recusou qualquer modalidade de negociação. Segundo a Benedita, 15 a 20 dias antes do ataque atribuído à FLING apareceu o administrador do Casamansa em S. Domingos. Encontrou-se em privado com o Albano, ele partiu para Bissau com uma mensagem e entregou-a ao Governador. Soube-se mais tarde que foi uma derradeira tentativa para a negociação.

Dou comigo a pensar como certos protagonistas secundários têm às vezes entre mãos responsabilidades que podem levar à mudança da História. A acreditar-se no relato da Benedita, o Albano tinha consciência que se estava a dançar à beira do abismo. Seria muito interessante saber-se como Bissau transmitia para Lisboa a versão das hostilidades iminentes.

Estou a entusiasmar-me por um pedaço da história da Guiné que eu ignorava completamente. Mas o que mais me surpreendeu foram as respostas que me deram quando telefonei, por sugestão da Benedita, para um administrador e dois chefes de posto do tempo, bem como dois coronéis na reserva, alferes na Guiné em 1961. Foram muito cordatos ao telefone, ninguém se lembrava do nome dos rebeldes, aonde se situava o seu acampamento, embora se tenha falado que estava dentro do Casamansa ou em Kolda, nunca tinham ouvido falar na FLING ou no Movimento para a Libertação da Guiné.

Porque será que estes homens não querem falar? Pondo imediatamente de parte a hipótese de uma conspiração de silêncio, somos levados a pensar que ninguém acreditava que dois países independentes à volta da Guiné portuguesa iam ficar quietos, sem explorar o descontentamento existente nas várias linhas de independentistas guineenses. E não menos curioso é como esta sucessão de episódios não consta na história da Guiné-Bissau.

Mais recordações da Benedita (décimo segundo trabalho de casa)

Haverá o direito de eu estar a arrogar-me a um papel importante nos acontecimentos do ataque a S. Domingos? Tenho a consciência que a memória não me atraiçoa. Aí uns dez dias antes do ataque o Albano soube que ia haver um desfile contra Portugal, em Ziguinchor. Aquelas informações eram vitais, ele não podia ir nem ninguém da administração.

Vendo-o tão preocupado, sem saber o que fazer, tomei uma decisão sem hesitar: “Albano, eu vou, não se preocupe, toda a gente me trata bem em Ziguinchor, diga-me exactamente o que pretende saber”. Ele ainda tentou dissuadir-me, mas acabou por me dar razão. Ao amanhecer do dia previsto do desfile, parti com o chefe da central eléctrica de S. Domingos, pretextei uma indisponibilidade do Albano, referi que tinha umas compras urgentes, ao princípio da tarde estaríamos de regresso.

Em Ziguinchor, notava-se à vista desarmada um clima de grande tensão, as pessoas procuravam não falar comigo, ou respondiam-me com monossílabos. Estive na farmácia, no escritório de Hugues Lemaire, depois comprei tecidos a um mercador ambulante. Na farmácia, o farmacêutico que era claramente contra a presença portuguesa, perguntou-me por Monsieur le Commandant, senti-me bem tratada.

O desfile anti-português estava praticamente no fim, via papéis a convocar para a manifestação espalhados pelo chão, resolvi não apanhar nenhum. Na loja de um djila, senti que ele me estava a fazer perguntas acintosas, do tipo “o que é que eu pensava se ele abrisse um magasin em S. Domingos”, respondi que ficaria encantada. Hugues Lemaire recebeu-me imediatamente e advertiu-me: “O Albano que se organize e se defenda. O melhor seria vocês abandonarem já S. Domingos, eles vão atacar em breve”.

A mulher dele deu-me uma pistola e Hugues Lemaire precisou as últimas instruções: “Não posso escrever nada, a partir de agora, se souberem que estou a passar informações estamos perdidos. Estão a ser preparados 200 homens nas granjas de Tibelor, perto dos serviços de agricultura de Ziguinchor”. Ainda fui comprar umas conservas, livros e revistas.

Foi no carro que o Augusto, o chefe da central eléctrica, me mostrou os panfletos que tinham sido distribuídos na manifestação do tipo um capitalista gordo com charuto na boca às costas de um nativo, um cipaio com uma palmatória na mão a maltratar um indígena com as correntes nos pés e de mão estendida. Um dos panfletos falava na luta para expulsar os portugueses, admitindo se necessário recorrer à destruição de vidas. O Augusto disse-me: “Senhora, as coisas estão muito feias, eles têm espingardas e granadas”. Seguimos imediatamente para S. Domingos, o Albano não escondeu o seu alívio quando ali cheguei. Ouviu-me, escreveu uma longa mensagem, o secretário seguiu imediatamente para Bissau.


Antes do ataque a S. Domingos, em 21 de Julho de 1961


Pela primeira vez na minha vida, eu sentia-me no centro de uma agitação política que não entendia, onde não participava directamente, olhava, ouvia os comentários do Albano, lançaram-me avisos em Ziguinchor, mas como não via guerra nem era evidente qualquer hostilidade, continuei a viver sem alterar nada.

Enviaram de Bissau um novo secretário e um novo aspirante para S. Domingos, logo percebi que era para dar mais tempo ao Albano, libertá-lo das tarefas administrativas, os acontecimentos do Senegal e o espectro da guerra ocupavam-no cada vez mais. Nós estávamos preocupados com o que tinha acontecido em Angola, começava-se a pensar que íamos ser brutalmente atacados, até mesmo chacinados.

A mexer nos meus papéis, nas coisas que juntei nos últimos dias, tenho aqui registada a chegada de um homem que só nos deu dores de cabeça, Aventino Guerreiro, um aventureiro que chegou a S. Domingos com uma proposta de instalar um negócio de óleo de palma, queria que o Albano lhe concedesse mão-de-obra gratuita. Claro que o Albano recusou e pô-lo fora do gabinete.

Este Aventino Guerreiro só no ano de 1961 apresentou 15 queixas contra o Albano. Ele devia ter muitos apoios em Bissau, deve tê-los sugestionado com um conto do vigário, qualquer coisa como montar um sistema de informações ao longo de toda a fronteira, o pretexto seria a compra de mancarra, seria aí, durante as transacções, que se obteriam informações.

Um dia, vínhamos nós de Bissau, o Albano contou-me tudo no carro, como publicamente se manifestara contra este embuste, se Bissau queria boas informações, se queria confirmar e ampliar as informações que a PIDE oferecia, deviam estar atentos ao que ele escrevia, sobretudo às informações que ele recolhia em Ziguinchor.

O Albano tudo fazia para manter excelentes relações com os colegas do Casamansa. Ele sabia, desde 1960, que as relações iam ficar tensas, esforçou-se por fazer convites oficiais às novas autoridades senegalesas, recebemo-los em nossa casa, notámos da parte deles que não queriam muita intimidade, sentia-se no ar que em breve se iria chegar à ruptura. O Albano estava a sofrer muito, tinha recebido um telegrama a anunciar que a mãe estava a morrer, decidiu não vir a Portugal com tudo o que se estava a passar ali à volta.

Pode parecer contraditório, mas eu estava a receber novas alegrias. Fui admitida como professora no ano lectivo de 1960-1961, ninguém mais concorreu para S. Domingos. Comecei a juntar dinheiro, pois o ordenado de professora ia inteirinho para Lisboa, aproveitando o direito à transferência. Adorei ensinar, ver aquelas crianças que por vezes faziam quilómetros a pé a mostrar entusiasmo com a tabuada, começavam a soletrar e meses depois assistia àquele milagre das palavras serem ditas, mesmo aos solavancos.

É de repente que começo a sentir o desânimo do Albano por causa da indiferença de Bissau face aos seus avisos. Aquela indiferença deitava-o por terra. Já na festa da independência do Senegal ficara ao lado de um oficial reformado do exército francês que se mostrou muito glacial comigo. Perguntei ao meu amigo Hugues Lemaire o que levava aquele senhor a ser tão pouco gentil comigo e ele disse-me sem papas na língua: “Benedicte, tu não acreditas no que te andamos a dizer, tu jantaste ao lado do oficial que anda a treinar os rebeldes guineenses aqui no Senegal”. Fiquei sem saliva, olhei-o sem poder articular uma palavra. Hugues Lemaire também já avisara o Albano que Senghor queria marcar posição antes de Sekou Touré, iria apoiar insurreições no Norte da Guiné com rebeldes da nossa província. Senghor era a favor de uma Guiné para os guineenses, não apreciava os cabo-verdianos. Senghor dizia abertamente que o futuro desta nova Guiné independente iria ficar sob a sua custódia.

Vão seguir-se dias de tensão, nunca mais na minha vida tive uma espera tão dolorosa, inquietante, como aquela. Sentimos que muita gente estava a partir, até mesmo gente da população local deixou de vir a S. Domingos. Os comerciantes de Bissau, do Cacheu, de Bissorã ou Bula, nunca mais apareceram. O silêncio nocturno era horrível, nunca mais se ouviu um batuque, acabaram as fogueiras, as cerimónias e festas dos Felupes ou dos Manjacos. Eu procurava resistir dando aulas mas sentia também a falta de muitos alunos.
Estávamos todos à espera, num enervamento horrível. Chegara entretanto um contingente de tropa que ficou a viver dentro da povoação, e não muito longe de nós. Começava o nosso relacionamento com a tropa, que não foi nada feliz. Na noite de 21 de Julho, estávamos deitados quando se ouviram tiros, um deles partiu um vidro do nosso quarto. Como uma mola, saltámos da cama e rastejámos para a porta, punha-se assim termo a todos aqueles meses de expectativa.

Há quem diga que quando morremos a nossa vida passa no nosso cérebro como um filme acelerado, já me disseram que vemos e pensamos aquilo que mais no impressionou na existência. Pois eu sei que vou ouvir nesse momentos a voz do Albano gritar-me ao ouvido, plena de exaltação: “Benedita, eles já aqui estão!”.

(Continua)

[ Revisão  / fixação de texto / título: L.G.]
_____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 4 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5758: Pré-publicação de Mulher Grande, de Mário Beja Santos (3): Dois anos maravilhosos: S. Domingos, Varela, Ziguinchor, antes da guerra...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5792: Blogoterapia (145): Como te compreendo, amigo António Rosinha (José Brás)

1. Comentário do José Brás ao último poste do António Rosinha (*):
 Luís: O Rosinha já me havia enviado este texto antes, e eu havia também respondido com o texto que junto mais abaixo.
É um caso curioso, este, porque começou a nossa troca de correspondência no blogue, pareceu-me com uma certa animosidade negativa e com  o seu desenvolvimento, na base do respeito pelo humano e pelas diferenças, temos feito uma excelente aproximação.
Parece-me um homem muito sério que carrega legitimamente uma grande lástima pelo que aconteceu no desfazer do Império.
No texto que lhe enviei, juntei outro que nem sei se serve para o blogue, porque tem 12 páginas e sai do tema restrito da guerra colonial e da Guiné para tentar perceber melhor o Regime, a Colonização e a chamada Descolonização.
Se achares bem posso enviar-te uma cópia e tu verás se vale a pena.
Um abraço
José Brás


2. Texto do José Brás:

António, meu amigo:
Acredita que não é demagogia dizer-te "como te compreendo, amigo". E não to digo porque te queixes, porque isso ainda não vi que fizesses, mas porque apontando o dedo, denuncias uma situação trágica na sociedade portuguesa, aqui na metrópole, e lá, em Angola, Moçambique e Guiné.
E o não te queixares é já a denúncia de uma enorme dignidade, complementada, evidentemente pelo uso do direito à indignação e à incompreensão.

De modo curto, poderia dizer-te, utilizando o teu sub-título ENTÃO COMO FICAMOS? GUERRA OU ABANDONO?, que quanto a mim a questão não está aí mas é anterior e a sua não solução, anterior, precipitou tudo.

Evidentemente, dá para ver que nem de perto nem de longe aceito ou aceitei alguma vez, desde que me lembro de botar pensamento, a Salazar.

Contudo, face ao horror espalhado pela UPA no Norte de Angola, nada havia a fazer no imediato, senão enviar tropas que travassem o verdadeiro massacre que a UPA fazia e pretendia continuar a fazer porque não tinha como programa político senão o terror e o ódio racista servidos por superstições como sabemos.

Travado esse massacre, Salazar estava ainda muito a tempo para dar indícios de possibilidade de negociação.

É claro amigo, a questão era e é o petróleo, os diamantes e outros recursos espantosos que se encontram naquela terra, acxrescentando-se que também a luta pela hegemonia territorial global entre a URSS e os EEUU.

E acho que é isso mesmo que fez de Portugal um simples peão que suportou os prejuízos e que na hora de segurar e de dar a volta às coisas, não tinha a mínima força para o fazer.
E a verdade é que este povo que foi expulso daquela terra que amava, muita falta fez ao novo País, dizendo eu isto sem a mínima intenção neo-colonial, mas na parceria que poderia ter sido exemplar.

Acabo de escrever um trabalho de 12 páginas precisamente sobre esse assunto, um pouco motivado pela nossa anterior correspondência no blogue, e também na questão colocada pela amiga Filomena e a minha resposta já publicada, como sabes. (**)

Ainda nem sei se o irei enviar ao blogue, pelo seu tamanho e pela matéria abordada que extravasa largamente a nossa questão Guiné.

Em parte, tal trabalho, poderia ser uma resposta ao teu desafio. ´Não o é porque não há aqui necessidades de respostas nem de desafios, e porque as questões suscitadas pelo drama dos retornados são muito mais vastas e complexas.

Aqui, entre nós, há apenas lugar para a amizade e para a compreensão. Ainda assim, envio-to, solicitando que por enquanto fique entre nós, sobretudo porque utilizo dois quadros que retirei do trabalho de outro a quem terei de dar contas.

Um forte abraço

José Brás

Guiné 63/74 - P5791: Controvérsias (64): Os efeitos colaterais da guerra (Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519)



1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem, em 5 de Fevereiro de 2010:



OS EFEITOS COLATERAIS DA GUERRA


Por volta do fim de Março de 1971, tive de me deslocar ao Hospital Militar da Estrela, por motivos das análises que tinha efectuado ao Paludismo, aquando da desmobilização no RAL 3 em ÉVORA.


Nessa minha deslocação, apanhei um eléctrico no Largo de Camões com destino à Estrela. Como sempre viajava junto ao guarda-freio (na frente do eléctrico junto ao condutor), quando de repente disparou a protecção do circuito eléctrico, que liga o trólei aos cabos condutores aéreos de alimentação da energia.

O disparo provocou um forte estrondo, e eu acabado de regressar das lides guerreiras, reagi instintiva e instantaneamente, saltando do eléctrico e enfiando-me na primeira porta aberta de um prédio em frente.

Perante o espanto geral de toda a gente, que no viajava no veículo e vários citadinos, que, apeados, circulavam na rua e que foram os primeiros a chegar junto de mim, indagando sobre o que me tinha acontecido.

Dei a minha explicação, dizendo que eram efeitos da Guerra do Ultramar, da qual tinha regressado recentemente, nomeadamente da Guiné.

Sem saber como e donde, apareceu um indivíduo, intitulando-se jornalista do jornal “O Século”, que me informou que gostava de relatar o acontecimento, ao qual não me opus e eu compus a notícia.


A redacção dizia, mais ou menos, o seguinte:


"Ontem, pelas 10h00 da manhã, um militar recém-regressado da Guerra da Guiné, atirou-se dum eléctrico em andamento (carreira 28), perante o espanto geral de todos os passageiros, quando o circuito eléctrico do carro disparou estrondosamente. O mesmo encontra-se bem apesar de alguns ferimentos ligeiros.

Este é um dos efeitos colaterais de que sofre uma boa parte da nossa juventude, cicatrizada pelas vicissitudes da Guerra do Ultramar e que lhes marcará as memórias, para todo o sempre."


É obvio que esta notícia foi sujeita ao “lápis azul” dos censores da época, que depois de censurada foi recomposta do seguinte modo:


"Ontem, pelas 10h00 da manhã, um cidadão regressado à pouco tempo do Ultramar, caiu de um eléctrico em andamento, da carreira 28, perante um movimento brusco do mesmo veículo, quando viajava pendurado no estribo do mesmo."


Para os mais jovens esclareço que, nessa época, o regime político de Salazar/Caetano, tinha os seus acólitos sempre atentos sobre todas as notícias da Guerra do Ultramar, exercendo severa censura sobre todas elas, inclusive as de menor interesse, como era esta agora descrita.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art
____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P5790: Memórias de outros tempos (3): Porque rapei o meu bigode (Jorge Teixeira/Portojo)

1. Mensagem do nosso camarada Jorge Teixeira (Portojo)* (ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70), com data de 6 de Fevereiro de 2010:

Carlos
Se achares que deves publicar, siga.

Um abraço do
Jorge Portojo



Porque rapei o meu bigode ou as meias palavras do meu Comandante Mário Belo de Carvalho

Catió, Junho ou Julho de 1969. As datas precisas fugiram-se-me.

O Comando do sector, da responsibilidade do senhor TCor Mário Belo de Carvalho, Comandante do BART 2865, com cerca de 5/6 meses de mato, foi visitado pelo senhor General Spínola.

Formados na parada para receber Sua Excelência, logo ali ficamos com a impressão de que algo ia acontecer de mau. Na realidade, algum tempo depois, o senhor TCorn Belo de Carvalho levou uma porrada e saiu para Bissau. A opinião da tropa bandalha, (leia-se: soldados, cabos e furrieis milicianos) foi que o Segundo Comandante, Major e posteriormente TCor Melo Machado (de quem ninguem gostava e ainda hoje assim alguns pensamos), tinha ajudado a colocar os patins ao nosso Comandante. Os motivos, nunca soubemos

Acontece que este senhor nunca foi pessoa bem vista entre a rapaziada, contrariamente ao Comandante Belo de Carvalho. Um cavalheiro, que dirigia a palavra a toda a rapaziada, jogava a bola connosco, pessoa bastante humana.
Portanto, Catió andava com os nervos à flor da pele. O meu Pelotão que era apenas adido para efeitos operacionais, de alimentação e alojamento, também sentiu o efeito. Creio que o meu alferes Comandante do Pelotão nesta altura estava de férias e nunca trocamos qualquer palavra sobre o assunto.


TCor Art Mário Belo de Carvalho - BART 2865

Em Julho, durante uma flagelação à unidade e população, (não lembro o dia porque passaram a ser frequentes e aí o calendário acabou) ou já estava fora ou saí para reforço de segurança no exterior. O Pelotão foi esquecido e não recebemos ordem de regressar. Quando clareou o dia dei ordem para regressar e formei o Pelotão em frente ao Comando. Quis saber porque fiquei sem comunicações durante toda a noite. A central tinha-me dito que todos se foram deitar e não poderiam entregar qualquer mensagem aos comandos a não ser assuntos urgentes.

O senhor Comandante Belo de Carvalho recebeu-me, já não me lembro muito bem da conversa que tivemos, mas duas coisas eu lembro: perguntou-me quem tinha dado ordem para regressarmos e quem deu autorização para eu usar bigode. Respondi-lhe que ninguém, às duas perguntas. Mandou-me destroçar o Pelotão. De imediato, dirigi-me aos lavabos e cortei o meu apendice piloso. Com um desgosto grande, pois os meus pais gostavam de mer ver com ele.

Em seguida entrei no Comando e pedi autorização para ser recebido pelo nosso Comandante. Fui aceite e então fiz talvez a minha apresentação mais solene desde sempre: om batimento de pés e pala como era norma:

- Apresenta-se a V.Ex.ª o Furriel Miliciano Jorge Teixeira do Pelotão de Canhões Sem Recuo 2054 com o bigode cortado.

Sorriso daquele homem, mas logo sério. Em sentido, está apresentado, pode retirar-se.

Porquê esta conversa toda, só para falar do meu bigode rapado? É que tudo tem uma razão. Ele que tantas vezes me viu de bigode, nunca fez qualquer observação. A situação em que se encontrava, a negligência do comando com o pessoal, etc. talvez a única coisa de que se lembrou foi de me dar uma "ripeirada".

Quando estive em Bissau, antes de ser internado no HM, já em Setembro, soube que ele estava de "castigo", aguardando ordens para regressar à Metrópole, numa daquelas casas dentro do Quartel General, à esquerda de quem entrava. Fui visitá-lo. Não me lembro minimamente do que falamos. Sei que o olhar do homem era vago, triste. Presumo que para um militar de carreira o pior que lhe poderia acontecer era ser recambiado para casa.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5741: Blogoterapia (142): Aquela janela virada para o heliporto (Jorge Teixeira/Portojo)

Guiné 63/74 - P5789: História de vida (28): Um retornado que pagou para ver: Angola, 1961-1974... (António Rosinha)


Angola > s/d > Foto da Estrada da Leba, nas serra da Chela,  na cidade do Lubango (Sá da Bandeira).

Esta obra admirável foi projectada por um engenheiro angolano,  de nome João Campinos, que foi meu director. Em geral todos os meus colegas que trabalharam nessa obra eram angolanos, e na sua maioria vieram para cá, uns,  e outros para o Brasil.


Faziam parte de milhares que juravam que jamais sairiam de Angola, terra deles, tão angolanos como os  Pepetelas, os Lúcios Laras, os Luandinos Vieiras, os Ouros Negros, os Ruis Romanos...isto para falar de gente notória.


A maioria foi para o Brasil, Canadá, etc. Esta gente, muitos milhares, eram de um valor enorme. Quem perdeu não foram eles, foi Angola e Portugal. Quando digo que vivi anos maravilhosos em Angola, foi porque convivi com gente maravilhosa, desde o autor desta obra até aos sobas da Huila (Sá da Bandeira).

Foto (e legenda): ©  António Rosinha (2010). Direitos reservados


1. Texto de António Rosinha, com data de 6 do corrente:

Assunto: Uma passagem por Angola

A GUERRA QUE POR UM TRIZ PODIA NÃO TER ACONTECIDO
ou ... UM RETORNADO QUE PAGOU PARA ASSISTIR A TUDO
(Ao José Brás, para complementar...)(**)

Em 1961 quando a UPA [, União dos Povos de Angola,] fez os massacres (actos de terrorismo) do norte de Angola, provocou a tal frase do Salazar: "para Angola [rapidamente, e] em força", isto mais ou menos. Como não recorro a estudos, só falo do que assisti e ouvi, posso trocar alguns termos históricos mas o sentido é fiel ao que se passou.

Se não fosse a decisão tão rápida do Salazar, provavelmente não teria havido esta guerra em que todos neste blog participámos. Teria havido outras guerras, mas esta não. Digo isto porque já estava muita gente (brancos, de cá e de lá) a fazer as malas para dar à sola. E muita gente cavou.

E, se a mobilização provocada pelo Salazar demorasse mais uns dias, só ficavam aqueles que não tivessem dinheiro para a passagem, e alguns dos que nasceram lá.

Ou seja, acontecia o que se viu com os vizinhos belgas, e com os retornados em 1974. E tal como aconteceu, após a fuga dos belgas e como aconteceu com a fuga dos portugueses, começou num e noutro território a caça ao tesouro. Para mim, foi a guerra que se seguiu no ex-Congo belga e em Angola. Caça ao tesouro, só e mais nada, porque essa do MPLA ser de uma ideologia e os outros de outra, e Lumumba ser de uma ideologia e Mobutu de outra, assim como essa da conversa da libertação dos povos, tudo isso resumia-se a diamantes, petróleo, ferro, manganês e...território. (seguiu-se uma guerra internacional de 27 anos).

E, se em 1961 a debandada se concretizasse, como os americanos pensavam (Kenedy e as missões evangelistas), ao ajudar e financiar a UPA, será que o Salazar lançaria aquela ordem Para Angola [rapidamente, e] em força? Sem portugueses em Angola, duvido que Salazar reagisse como reagiu.

Mas mesmo com a chegada dos primeiros navios com caçadores de camuflado ( Cuanza, Vera Cruz) a Luanda, que eu vi desfilar na marginal, eu já fardado de furriel, ainda havia muita gente desanimado e indeciso "vai não vai". Eu era um, tanto mais que sabia que nem armas de jeito havia nos quartés.

E essa gente indecisa que resolveu ficar, ficou por um motivo que nunca vejo explicado, nem por militares nem por retornados, nem por esses novos historiadores tipo Joaquins Furtados. Esse motivo, foi mais uma decisão rápida do Salazar, que arrumou com a malta toda do vai não vai.

Num piscar de olhos, aquela cabeça [, Salazar, ] decidiu que o dinheiro dos angolanos em que 1000$00 equivalia em Lisboa a 900$00, passou a valor de 0,00$00. Zero vírgula zero, zero. Ou seja, ficámos todos tesos de um momento para o outro. E quem estava indeciso esperou para ver, não tinha outro remédio. E é sabido que o emigrante português tem vergonha de regressar sem dinheiro.

Angola > 1961 > Desfile de tropas > O Rosinha, furriel miliciano aparece aqui em primeiro plano, assinalado com um X. Repare-se no tipo de armamento das NT: pistola-metralhadora FP, para os graduados; espingarda Mauser, para as praças...Farda: caqui amarelo... (LG)

Foto: © António Rosinha (2006). Direitos reservados


Pessoalmente, como antes da guerra já trabalhava em cartografia em Angola, fazia exactamente os mapas iguais aos da Guiné do Blog, eu mais uns cento e tal colegas, muitos eram angolanos de várias cores, uns dos Serviços Geográficos outros de empresas privadas, continuei, a seguir ao serviço militar , na mesma actividade de barraca de campanha e aparelhagem às costas (às costas dos pretos descalços, contratados, semi-nus...Ouvi declamar Agostinho Neto e Castro Alves em comícios de Abril), por montes e vales, Cuanzas, Cunenes e Zaires... Mais tarde deixei os mapas e passei à Junta Autónoma de Estradas, novamente com ajuda do trabalho braçal dos contratados pretos, (com machados e catanas, de tronco nu, a transpirar e sem desodorizante...).

E a guerra continuava e os barcos e aviões iam e vinham cheios de militares, e muitos, inclusive um capitão metropolitano que me comandou, dizia, que estava naquela guerra, porque nós, os brancos de Angola, tratávamos mal os pretos, por isso eles se revoltaram. Esse capitão, em 1961, via a guerra dessa maneira."Estava a guardar as minhas costas". Esse capitão que andará pelos 80 anos hoje, chama-se se a memória não falha, Silva e Souza, e esta conversa dele para mim, foi entre Golungo Alto e Cerca, em Julho ou Agosto de 1961 (este pormenor é para ver se haverá feed back), pois a partir da minha idade, 71, há poucos internautas.

Os capitães eram maus para mim, sujaram-me a caderneta militar por duas vezes porque no periodo de manhã nunca chegava às 8 horas ao quartel. Por duas vezes, para fugir dos capitães maus, ofereci-me voluntário para zonas de intervenção. Ameaçavam que para a próxima ia para prisão.

Luanda era a minha desgraça. Não conseguia cumprir. Custou-me mais o quartel em 36 meses e a farda, do que certos isolamentos de semanas seguidas sem ver cidades de branco e a comer mandioca e caça ou batata doce.

QUAL A ALTERNATIVA À GUERRA ?

Agora, passados estes anos, todos têm a sua própria solução, tanto quem foi para a França, ou Moscovo ou Argel, como quem viveu a guerra, como quem viveu a paz e a guerra.

A maioria acha que deviamos fazer o que fez a Inglaterra ou a França. É raro dizer que se devia imitar a Bélgica (abandono e a ONU e outros que resolvam).

Pode haver muitos que sabem o que fizeram esses paises, mas sei que há muita gente que não sabe.

Mas havia um herói Guineense que sabia muito bem o que fizeram; esse herói é Amilcar Cabral. E escreveu. E eu dou-lhe razão. Segundo Amilcar Cabral, Salazar nunca vai negociar a Independência das colónias, porque sabe que não tem força para manter o neo-colonialismo.

Em geral todos sabemos que a Inglaterra e a França, tinham (têm?) tropas permanentemente em acção na protecção aos diversos dirigentes que apoiavam, ou no derrube de outros. É célebre na literatura a Legião Francesa. O Amilcar refere-se e critica muitas vezes os países africanos em que acontece isso.

Mas, para aqueles que vivíamos em Angola, não era apenas essa certeza do Amílcar que não tinhamos força para manter o neocolonialismo, como por exemplo aconteceu com o Congo Belga em que os belgas também não tiveram força para proteger nenhum regime, pois foi primeiro a União Soviética, depois a França, depois os Estados Unidos: Lembram-se de figuras como Lumumba, Kasavuvu, e Mobutu ? Havia outros, mas eu nunca fui especialista, para mim era tudo farinha do mesmo saco. Ninguém quid saber do povo, nem mesmo a ONU teve comportamento decente.

Para Portugal, ia ser pior, visto por quem vivia lá, se se negociase fosse com quem fosse, ou se se desse sinal de baixar a guarda e algum daqueles Chefes de movimentos desse um passo em frente, esse alguém era imediatamente trucidado, ficava tudo a ferro e fogo, e a intervenção internacional ia ser mais selvagem e brutal do que foi os 27 anos a seguir ao 25 de Abril, e não creio que aquelas fronteiras (uma recta no sul tem 400 Klm), resistissem 24 horas.

A Guiné, todos sabemos com o que se passa em Casamansa / Senegal...já viram qual era a solução! Em 1998 esteve quase. E com o Sekou Touré tambem sabemos o que ele sempre pensou sobre as Guinés!

Sobre Angola e Moçambique era simplesmente uma justificação igual à do mapa côr de rosa. Os portugueses não ocupam, abandonam, então ocupamos nós... Mas nós, quem? Em 1961 em plena guerra fria, não ficava pedra sobre pedra. E, ainda havia a interioridade de certos paises anglófonos e francófonos que nunca viram com bons olhos aquelas paredes Angola e Moçambique.

ENTÃO COMO FICAMOS? GUERRA OU ABANDONO?


Partindo do princípio que em África nenhum dirigente se impôs sem protecção, (neocolonialismo? protecionismo?), e Amílcar tinha razão que nós não tinhamos força par proteger ninguém, (nem fronteiras, nem a língua, digo eu), penso que a guerra que suportámos, só deve ser julgada se foi esticada demais e devia terminar mais cedo, ou até se devia, no caso de Angola, ter mantido a força e a displina militar e não ter dado espaço aos russos e americanos e sul-africanos e cubanos terem feito aquela desgraça toda.

Os Movimentos deram espaço e tempo para nos organizarmos melhor. Eu pessoalmente tratei da minha saída , e ainda tive que meter cunhas para pedir a demissão do serviço, cunha para a PIDE (PIM) me dar o visto no passaporte, trocar algum dinheiro na tropa (25%), para ir para o Brasil em Novembro de 1974 e a independência, com pontes aéreas, salteadores, assassinatos gratuitos...cubanos e sul-africanos, navios de guerra ao largo, em Novembro de 1975. 25A 1974 - Nov75 = 19 meses. Era tempo suficiente, mas nós, somos nós!

Para mim, que vi a desorganização nossa no início da guerra, os oficiais não se entendiam nem sabiam o que fazer, sem armas, sem disciplina, era tudo por improvisações, até falta de fardas e calçado se fazia sentir, tal a desorientação. Sargentos idosos a chorar, para que nós, os novos, fossemos para o norte porque eles tinham filhos para criar. Nós, os novos, no meu caso tinham feito na carreira de tiro meia dúzia de tiros de Mauser e FBP.

Como depois tornei a ver a desorganização do fim da guerra, com oficiais a puxar cada um para seu lado, que se pode chamar que houve falta de respeito para com eles próprios, como assisti portanto ao princípio e ao fim, penso que fizemos a guerra que estava ao nosso alcance, mas que tinha que ser feita, sim.

E que, à parte as políticas, quem fez esta guerra fomos nós os portugueses, o Salazar era português, o Spinola era português, Salgueiro Maia era português, que se fez de bom ou mau, fomos nós, os portugueses que fizemos esta guerra.

E, em respeito a todos os amigos e conhecidos que morreram, e em memória de muitos amigos angolanos, com quem vivi, e que trabalhamos, lutamos e nos divertimos em português, só quero que aquelas fronteiras e a lingua portuguesa não desapareçam.

Pois sem esta guerra, em que tantos morreram, aquelas fronteiras e a lingua portuguesa tinham desaparecido em 1961.


EM PORTUGUÊS,

Retornado = portuga que foi e regressou;

Entornado = são os que nasceram lá e vieram, mas querem diferenciação. (blogs diversos)

Os portugueses discriminam os pretos, só se vêm a limpar o lixo, a trabalhar nas obras, mas nenhum é ministro (Bonga na TV).

Os portugueses não fizeram nada no Brasil, só exploraram o índio (Caetano Veloso, jornais);

O mulato quando é pobre é preto, quando é rico é branco (calcinhas de Luanda, antigamente);

O Brasil seria melhor se fosse Holandês? Espanhol? ( debate na TV Globo, Rio, após 154 anos de independência);

Os Angolanos não são valentes como nós (pioneiros do PAIGC, Bissau).

EM PORTUGUÊS A GENTE SE ENTENDE!... E ISSO É O ESSENCIAL.

Um abraço para todos,

Antº Rosinha

[ Revisão / fixação de texto / bold / título: L.G.]

_______________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste do António Rosinha > 31 de Janeiro de 2010> Guiné 63/74 - P5739: Efemérides (42): Dia 25 de Maio de 2009, finalmente inaugurada a estátua de Amílcar Cabral na Guiné-Bissau (António Rosinha)

Viveu em Angola, onde cumpriu o serviço militar, foi Fur Mil em 1961; topógrafo na TECNIL, na Guiné-Bissau, entre 1979/93. É membro, de pleno direito, do nosso blogue desde Novembro de 2006.



(**) O José Brás comentou o texto do António Rosinha que lhe foi enviado directamente. Esse texto será publicado, oportunamente, noutro poste.