quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 – P5796: Histórias do Eduardo Campos (8): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério (Parte 8): Nhacra 3


1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, dando continuidade às suas histórias da Companhia, iniciadas nos postes P5711 e P5729, enviou-nos a 8ª fracção e 4 documentos históricos do seu vasto arquivo pessoal:

CCAÇ 4540 – 72/74
"SOMOS UM CASO SÉRIO"

PARTE 8

NHACRA 3

Como nada de importante se passava em Nhacra, os dias eram passados de uma forma totalmente diferente das Matas do Cantanhez, e, acreditem que por vezes, surgiam-nos as saudades. A vida era tornava-se demasiado sedentária.

As alternativas encontradas, para fugir à rotina, eram as idas a Bissau, e, já que a alimentação nunca foi algo digno desse nome em Nhacra, aproveitava estas saídas para ir ao Pelicano, à Churrascaria de Santa Luzia, ao Bento, etc. Assim, evitava que a “dieta” que me tinha sido imposta, fosse levada muito a sério.

Por falar de alimentação, enquanto no Cantanhez suportamos tudo, por vezes até com um sorriso, em Nhacra as coisas eram diferentes. O pessoal ficou mais rebelde e negou-se a comer duas vezes (2 levantamentos de rancho). Um dos quais teve como resultado, que passadas duas horas do início do levantamento, estávamos a comer um bacalhau cozido com batatas, que parecia ter sido confeccionado no Hotel Hilton.

Embora não estivesse de oficial de dia nessa data, foi o nosso camarada e amigo tabanqueiro Vasco Ferreira (ex-Alferes da CAÇ 4540), que resolveu o problema.

A dificuldade em adquirir gado bovino (como já disse no poste anterior, o povo por motivos religiosos e tradicionais não o vendia), dava origem a que, um grupo de camaradas acompanhado de um especialista em ”ginecologia”, fossem às tabancas, de madrugada, á procura de gado. Então o nosso “especialista” apalpava… apalpava e, não estando prenha a vaca, toca a roubá-la.

Logicamente, o dono da rês vinha atrás deles a gritar e a chorar, mas não havia nada a fazer. Chegados ao aquartelamento, acabavam por fazer negócio e diziam que lhe pagavam um preço justo.

A minha eterna dúvida, nestes negócios forçados, é: “Mas que raio de preço justo era esse, se o homem não queria vender o animal!?”

A minha curiosidade sobre o desenvolvimento destas operações, levou-me a que, um belo dia, os acompanhasse para ver como decorria a captura da vaca seleccionada.

Nesse dia, logo por azar, o “ginecologista” improvisado enganou-se e trouxe mesmo uma vaca prenha. Foi remédio santo para mim, nunca mais comi carne bovina até ao fim da comissão.

A partir de determinada altura, mesmo cabritos, galinhas e porcos os nativos resistiam em vender. Aqui chegados, um camarada das transmissões, inventou uma fórmula original, na época, para roubar galinhas, que constava do seguinte: Um fio de pesca com vários anzóis, onde colocava uns grãos de milho. Depois pela tabanca fora ia espalhando mais alguns grãos de milho pelo chão. As galinhas vinham por ali adiante a comer os grãos e acabavam, quase sempre, por engolir um dos anzóis. Quando o tal camarada via que a bicha tinha caído na esparrela, saía rapidamente da tabanca com a “vítima” atrás dele.

DOCUMENTOS HISTÓRICOS DE COLECÇÃO

A história também se faz de notícias, pelo que, hoje, seleccionei 4 peças do meu arquivo pessoal, para publicação, relacionadas principalmente com a Guiné e a Guerra do Ultramar, que nos chegam com 37 anos de idade.





Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCAÇ 4540

Fotos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
___________
Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

4 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro Eduardo

Ao ver estes exemplares da Presse lamento não ter ficado com nenhum dos do meu tempo, principalmente aqueles para os quais contribuí.
Mas vou ver se me lembro de um ou outro episódio relacionado.
Um abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Pois é, Hélder, estavas longe de imaginar que um dia haveria de aparecer a Net, os blogues, o nosso blogue... Agora precisamos de "alimentar o monstro"... Um abração. Luís

Anónimo disse...

Olá Eduardo,

As coisas que tu guardaste. Estava longe de ver uma destas folhas.

Tal como referiu o Hélder e completou o Luis, não só não dávamos, falo por mim, a importância que devíamos às coisas, como nunca pensámos que viria a aparecer a Internet.

Um abraço,
BSardinha

Anónimo disse...

Amigo Campos

Por isso e muitas outras coisas mais, tenho de pagar quando tiver dinheiro 100.000$00(€ 500.00)

Vasco Ferreira