domingo, 21 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5862: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (13): Um buraco no inferno da Mata dos Madeiros

1. Mensagem de José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73), com data de 5 de Fevereiro de 2010:

Caro amigo Carlos Vinhal,
Junto encontrarás mais uma pedaço do meu roteiro por terras da Guiné.

Os meus votos de boa saúde vão para ti e para os nossos camaradas, com um abraço amigo
José Câmara


Um buraco no inferno da Mata dos Madeiros

A partir do momento em que a CCaç 3327 foi notificada para se preparar para sair para o interior, muita coisa se modificou no comportamento diário dos militares. A alegria de sair de Bissau, contrastava com a ânsia de providenciar para as necessidades imediatas de quem iria sair ao encontro do desconhecido.

Tínhamos apenas quatro dias pela frente, e a nossa actividade militar continuava inexorável. O tempo livre era escasso, pelo que tivemos que nos socorrer da entreajuda para as pequenas, mas necessárias tarefas.

Entre as tarefas imediatas e pessoais, tivemos que contactar as nossas lavadeiras para devolverem os uniformes, tarefa arrojada pois nem sabíamos onde moravam. Eram elas que vinham até Brá levantar e depositar os uniformes. No meu caso pessoal, a minha roupa era lavada no Palácio, pelo que nesse aspecto não tive preocupações. Porque sabíamos que íamos por um período mais ou menos longo para a Mata dos Madeiros, onde estaríamos privados de quase tudo, houve a necessidade de comprarmos artigos de higiene para um período longo, e ainda envelopes, papel para a escrita e selos, pois muitos nós tínhamos os nossos familiares nos EUA e não podíamos utilizar os aerogramas.

O preço de uma carta para os States magoava os escassos recursos financeiros de alguns dos nossos soldados

A acrescentar a tudo isso, tivemos que requisitar todo o material logístico necessário ao desempenho da nossa missão - viaturas, metralhadoras, morteiros, lança granadas e respectivas munições. A acrescentar a tudo isso, uma cozinha de campanha, frigoríficos a petróleo, tendas individuais, colchões insufláveis, cobertores, mantimentos para 15 dias, incluindo as rações de combate. E ainda um posto sanitário de campanha.

No dia 5 de Abril emalamos a secretaria e aos poucos fomos emalando os nossos haveres. Muitos de nós saímos de serviço com o Render da Parada no dia 6 de Abril. Alguns minutos para limparmos os nossos alojamentos, e os últimos retoques nas nossas malas.

Finalmente soou a hora da partida.

A ordem foi dada para que as rações de combate fossem distribuídas e as as malas fossem colocadas nas viaturas. Foi então que um dos militares disse: - Malas-às-costas! Como os nómadas...

A coluna estava em marcha. Primeiro obstáculo, a jangada em João Landim. No lado de cá ficava Bissau. No outro lado... eu perdiria a minha virgindade em relação à guerra. Confesso que me sentia apreensivo, e mais ainda, quando depois de passar à entrada de Bula comecei a ver a quantidade de tropas que protegia a nossa passagem. Depois Có, a mítica Curva da Morte, um autêntico cotovelo antes de chegarmos ao Pelundo. Finalmente, entrámos em Teixeira Pinto para uma pequena apresentação no CAOP1.

A tarde ia avançada. Mesmo assim, avançámos para o Bachile. Ao chegarmos junto da Ponte Alferfes Nunes, reparámos que esta estava em obras de reparação, pelo que só uma viatura de cada vez atravessava no tabuleiro.
Nessa altura, eu ainda não sabia que estava a deixar o paraíso para entrar no inferno.

Pernoitámos no Bachile, um quartel de reduzidas dimensões, sede da CCaç 16. Ali ficaria a secretaria da companhia e a padaria. Também seria deste quartel que nos abasteceríamos de água.

No dia seguinte, 7 de Abril, rumámos ao sítio do nosso primeiro acampamento. Seguimos pela estrada nova, passando pelo primeiro buraco (acampamento) das tropas ainda ali estacionadas. Impressionantes eram as condições. Senti que não ia para melhor.

Chegada à Mata dos Madeiros. As secções agrupam-se para dar início à primeira saída

A partir de certa altura, a parte alcatroada acabou. Penetrámos na mata. O guia, engenheiro-topógrafo da obra, a determinada altura, flectiu para a esquerda, entrou numa pequena clareira e parou.

Estávamos a cerca de 10 (dez) quilómetros do Bachile - rodeados de mato, do chilrear dos pássaros, e protegidos (a fé é que nos salva) pelo Sagrado Coração de Maria.

O Furriel Pinto com a sua secção já preparada para sair

Descarregadas as malas, de imediato se preparou a protecção ao "descampado".

Enquanto penetrávamos na mata, sentimos o barulho das máquinas a arrumar o matagal e a preparar o terreno do acampamento. Com o anoitecer, regressámos. Preparados os turnos de sentinela, cada um procurou qualquer coisa para encostar a cabeça e descansar um pouco. Infelizmente tal não foi possível, pois passamos a noite à bofetada com os mosquitos.

Ali era o buraco da Mata dos Madeiros.
José Câmara
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5787: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (12): Bissau, uma guerra diferente onde os rumores também voavam

Guiné 63/74 - P5861: Ainda o desastre do Cheche, em 6 de Fevereiro de 1969 (4): Cerm anos que viva nunca esquecerei as imagens da catástrofe e o diálogo entre o Alf Diniz e o Cap Aparício (Rui Felício)

1. Mensagem, com data de 19 do corrente, do Rui Felício(ex-Alf Mil, CCAÇ 2405, Mansoa, Galomaro e Dulombi, 1968/70):

 Assunto: Ainda o Cheche (*)

Meu Amigo Luis Graça (c/c  Paulo Raposo)

Antes de mais um abraço, depois de tão longa ausência. Aproveito, a propósito, para te dizer que nada justifica o meu afastamento do teu blogue, a não ser alguma preguiça e o desvio para outros blogues onde às vezes escrevo. E o tempo não dá para tudo...

Posto este esclarecimento, passo a responder ao que me pedes, sobre o desastre do Cheche.

Reitero tudo o que disse o Paulo Raposo. E não o faço pela grande amizade que lhe tenho. Faço-o porque o que ele diz é a verdade.

Com efeito, como já antes escrevi e como já antes disse telefonicamente ao próprio Cap Aparício, foi ele mesmo quem deu a ordem ao Alf Diniz.

E também escrevi que este Alferes alertou o Cap Aparício para o facto de a ordem que lhe estava por ele a ser dada ser contrária às instruções que tinha. Isto é, que a jangada não poderia suportar uma lotação superior a dois grupos de combate, sendo certo que a ordem do Cap Aparício significava o embarque do dobro dessa lotação.

Escrevi também então, que o Alf  Diniz, contrariado, se conformou com a ordem recebida e lhe deu execução, em virtude da patente mais alta do Cap Aparício.

Quanto ao major, tanto quanto julgo lembrar-me, era um oficial com funções de 2º comandante da operação comandada pelo Cor Hélio Felgas.

Sempre estive convencido que ele estava no lado sul do rio. Pelo menos sei que o vi por lá. Talvez durante as travessias anteriores. Mas se o Raposo afirma que na altura do acidente ele estava já no lado norte, não tenho razões para duvidar do que ele diz.

Porque, sem querer que pareça que estou com ele a trocar galhardetes, o Paulo Raposo é um homem por cuja idoneidade e seriedade seria capaz de pôr as mãos no lume. E admito que neste caso do major a minha memória já me tenha atraiçoado.

Onde ela não me atraiçoa, e essas imagens ainda hoje as tenho presentes, é na própria catástrofe e no diálogo entre o Cap Aparício e o Alf Diniz. Passassem cem anos e jamais esqueceria...

Finalmente, os parabéns pela excelente qualidade do teu blogue que atingiu nestes poucos anos um patamar cimeiro na blogosfera nacional. Sei-o pelo que vejo e pelos testemunhos de inúmeras pessoas que a ele se referem.

Rui Felício
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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série:

21 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5859: Ainda o desastre do Cheche, em 6 de Fevereiro de 1969 (3): O oficial mais graduado que ia na jangada era o Cap Aparício, comandante da CCAÇ 1790 (Paulo Raposo)

Guiné 63/74 - P5860: O 6º aniversário do nosso Blogue (7): Sempre em frente (José Eduardo Reis de Oliveira – JERO -, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 675)


1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil Enf da CCAÇ 675 (Binta, 1964/66) e enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 21 de Fevereiro de 2010:

Camaradas,

Com alguma solenidade aqui estou eu a enviar um texto, com o título "Sempre em frente", com que pretendo homenagear os Editor do blogue "Luís Graça e Camaradas da Guiné", co-Editores, e demais Camaradas que têm colaborado com as suas mensagens, para o crescimento do blogue que tanto mudou a minha vida, desde que nele "entrei".

Com o simbolismo do texto, que também tem muita leitura nas entrelinhas, pretendo homenagear todos aqueles que, ao longo de seis anos, têm conseguido manter cada vez mais viva a memória e respeito que são devidos aos ex-combatentes.

Bem hajam por isso.
Guardámos até hoje – quarenta e tal anos passados -o nº.2 do jornal “Sempre em Frente” de 5 de Agosto de 1965,“Órgão das Sete Ninfas do Cacheu”, propriedade do «490 & Companhias».
“SEMPRE EM FRENTE”

(ORGÃO DAS SETE NINFAS DO CACHEU)

Numa fase em que tanto se fala das pressões a que a Imprensa e os jornalistas dos nossos dias estão sujeitos pelos órgãos do Poder recordamos um jornal d’outros tempos, de que foi proprietário o “490 & Companhias” (1).
Recuando no tempo...

Tinha como Director «O Constante», Editor «O Constâncio» e Redactor «O Constantino»!!!

Em artigo da Direcção, titulado “Razão de Ser”, reportava-se ao número anterior – o número 1 – e reafirmava-se – jogando com as palavras - que... «Sempre em Frente» não é um papel impresso, mas uma ideia que se expressa... que vive dentro de nós, e se comunica aos outros, não para propagandear e sugestionar, mas para estabelecer amplo convívio, pela comunicação de sentimentos que mereçam ser convividos».

Antes disso esclarecia o Editor que… «SEMPRE EM FRENTE nasceu com um ideal e os ideais são sempre superiores à opinião. Esta costuma precisamente impor-se, governar e escravizar os que não têm nenhum ideal».

À distância no tempo interrogamo-nos porque não temos o nº. 1 do “SEMPRE EM FRENTE”…

Talvez dificuldades de “distribuição” não o tenham feito chegar a Binta (e à CCaç.675), que se situava a 20 Kms. de Farim, onde era “impresso” o “Órgão das Sete Ninfas do Cacheu”, propriedade do «490 & Companhias».Recordamos – só para situar quem hoje nos leia – que a C.Caç.675 foi uma Companhia Independente que, de Junho de 1964 a Abril de 1965 , esteve subordinada ao B.Cav. 490, comandado pelo mítico Ten. Coronel Fernando Cavaleiro.

Neste número 2, a que nos temos vindo a referir, haviam dois artigos –“Tabanca Nova”, da responsabilidade de “Ardina Camuflado” e “O Cais que Não Caiu”, de “Turista do Cacheu” – que confirmam a mensagem do Editorial“... a obra de reconstrução... e os que conseguiram sair do ódio e do rancor que a guerra carrega, para que à guerra suceda à paz, como à tempestade se segue a bonança... que restitui a ordem... e os valores que dão sentido à vida.»

Ora estes artigos tinham a ver com a “minha” Companhia 675 , comandada pelo “meu” Capitão Tomé Pinto.

Julgamos que terá sido por isso que guardámos esta “relíquia” jornalística (que conta hoje quarenta e tal anos) e que nesta data, como reconhecimento e “prenda” do 6º.aniversário do nosso blogue ofereço aos seus Editores para os arquivos do nosso “Luís Graça e Camaradas da Guiné”´.
E chega o momento de desvendar quem era o Director «Constante», o Editor «Constâncio» e o Redactor «Constantino».

Foi o lendário Capelão Padre Monteiro da Gama que, atrevemo-nos a dizer, foi um dos grandes homens do seu tempo na Guiné.

Neste momento tão especial do nosso blogue aqui fica também a nossa humilde homenagem à sua memória.

Num tempo em que tanto se fala dos problemas da Imprensa e dos jornalistas e da promiscuidade e jogos interesses que “moram” junto do Poder sabe-nos bem recordar pessoas como o Padre Gama!
Nota (1): Reprodução parcial da capa da revista “Sempre em Frente”, nº. 2, edição do (Batalhão) 490 & Companhias. Revista do arquivo pessoal do autor, 05.08.1965.

Um abraço,
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675
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Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:

21 de Fevereiro de 2010 >
Guiné 63/74 - P5856: O 6º aniversário do nosso Blogue (6): Seis (6) anos em prol da História de Portugal e da Guiné-Bissau (Mário Fitas)

Guiné 63/74 - P5859: Ainda o desastre do Cheche, em 6 de Fevereiro de 1969 (3): O oficial mais graduado que ia na jangada era o Cap Aparício, comandante da CCAÇ 1790 (Paulo Raposo)

1. Mensagem do Paulo Raposo,  a quem pedi que comentasse o texto do Armandino Alves (*):

 Data: 19 de Fevereiro de 2010 10:59
Assunto: Ainda o Cheche

Olá,  Luís, bem Hajas. Vou responder ao Armandino.

1 – Sou camarada de armas, mas não camarada.

2 – Como é que o Major que estava ao meu lado, quando eu já tinha passado o rio, podia ter dado a ordem de embarque a todo o pessoal ?

3 – Todo o staff que eu conheci ao Spinola foi o Cap Almeida Bruno. Os safardanas dos políticos de hoje é que esbanjam o nosso dinheiro em staff e mordomias.

4 - O Cap José Aparício e Cap Jerónimo são vivos e boa saúde, porque é que o Alf Dinis já podia ter morrido.?

5 – O oficial mais graduado que ia na jangada era o Cap Aparício, portanto…

6 – O meu muito amigo Alf Felício, que é como um irmão para mim, é um homem integro e verdadeiro. Diz ele que o Cap Aparício não fez caso das advertências do Alf Dinis, pelo facto de ir pessoal a mais na jangada.

7 – O Major que estava ao meu lado devia ser do Batalhão que estava em Nova Lamego que coordenava toda a logística.

8 – Na grande operação em que também tomei parte,  ao Fiofioli, [Op Lança Afiada,] na véspera do assalto à respectiva mata, os Ten Cor Hélio Felgas e Banazol, dormiram connosco no mato e tomaram parte do assalto.

9 – O que eu e o Alf Felício dizemos é a verdade e faz fé. Nós precisamos de ser confirmados para...

10 – Podem recolher informações do Alf Diniz, mas nunca para confirmar as nossas declarações.

Um abraço para ti, meu rapaz.

Paulo Lage Raposo
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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 21 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5858: Ainda o desastre do Cheche, em 6 de Fevereiro de 1969 (2): Acima do Alf Diniz, só havia 2 homens, os Cap Aparício (CCAÇ 1790) e Jerónimo (CCAÇ 2405) (Armandino Alves)

Guiné 63/74 - P5858: Ainda o desastre do Cheche, em 6 de Fevereiro de 1969 (2): Acima do Alf Diniz, só havia 2 homens, os Cap Aparício (CCAÇ 1790) e Jerónimo (CCAÇ 2405) (Armandino Alves)

1. Mensagem com data de 8 do corrente,  do Armandino Alves, ex-1º Cabo Enf, CCAÇ 1589 (Fá, Beli, Madina do Boé, 1966/68):

Assunto - Ainda o Cheche

Caríssimo Camarada Luís Graça:

Perguntas se o Major que estava com o Paulo Raposo seria o que pressionou o Alferes Diniz a violar o regulamento. Nunca podia ser pois ele estava do lado de cá do Rio Corubal e a conversa que o Paulo Raposo viu foi do outro lado do rio onde estavam os elementos que iam atravessar. (*)

Este Major devia fazer parte do staff do Spínola pois ele estava lá a dar as boas vindas aos amigos. Operações com comandos de Majores ou Tenentes Coronéis só a nivel de Batalhão. Esta de levar ou trazer Companhias actuando como escolta e segurança era uma operação a nível de Companhia e portanto comandada por um Capitão do Quadro ou Miliciano. Normalmente era reforçada pelo Esquadrão de Reconhecimento Fox com uma ou duas viaturas e respectiva guarnição. Portanto,  acima do Alferes Diniz só havia dois homens : Capitão Aparício e Capitão Jerónimo. Qual deles deu a ordem ? Se alinhavarem tudo o que está escrito de certeza que descobrem. Não sei se o Alferes Diniz é vivo ou não, mas este é que poderia dissipar as dúvidas

Armandino Alves

PS - No Poste 2828 de 9 Maio 2008 do Helder de Sousa (**) fala do livro No ocaso da Guerra do Ultramar e mostra uma página desse livro relativa à Operação Mabecos. Esta Operação não tem nada a ver com a do desastre do Cheche [ ,Op Mabecos Bravios]
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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

21 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5853: FAP (47): O desastre de Cheche visto do ar (Vitor Oliveira, ex- 1º Cabo Melec, BA 12, 1967/69)

20 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5851: Ainda o desastre de Cheche, em 6 de Fevereiro de 1969 (1): Silvina Claudino, de 26 anos, uma sobrinha que o 1º Cabo José Antunes Claudino, da CCAÇ 2405, natural de Alcanhões, Santarém, nunca conheceu

7 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5778: Efemérides (45): O desastre do Cheche, visto por quem esteve lá e perdeu 11 homens do seu grupo de combate (Rui Felício, Alf Mil, CCAÇ 2405, Galomaro, 1968/70)

6 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5775: Efemérides (44): O desastre de Cheche, 41 anos depois (José Martins)

(**) Vd. poste de 9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2828: Convívios (56): CCS/BCAV 2922, Piche, Buruntuma, Canquelifá (Helder Sousa)

Guiné 63/74 - P5857: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (4): Operação Grande Ronco (2)

1. Segunda parte da Operação Grande Ronco*, trabalho de autoria de Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70).


Operação Grande Ronco (2)

Parte 2

A 26Jul68, depois do sol nascer, ouve-se uma voz de comando:

- Vá, levantem-se que vamos arrancar.

Era o Comandante da minha Unidade que parou por detrás de mim. Não me tendo apercebido deste facto, porque estava deitado no capim, levantei-me e dou meia volta com a arma na mão. Pelo movimento tive azar, fui ameaçado de prisão pelo superior hierárquico, desfiz-me em pedir desculpas porque não sabia que ele ali estava. Aceitou o meu pedido com ar de sorriso, mas com voz forte disse-me:

- Se houver uma segunda vez não te safas de uma porrada. (já lhe falei no assunto, mas não lhe viera à memória esta situação).

Alguns momentos depois chegara o Coronel Hipólito que dialogou com o Capitão. Como após o primeiro embate as coisas ficaram complicadas, delegou neste funções de orientação operacional e do que achar por conveniente, dada a sua experiência. Deste caso lembrou-se o Capitão, hoje, Coronel.

Tudo pronto, é reiniciada a marcha, são percorridos alguns quilómetros e a ponte móvel a servir, detectaram-se minas que são levantadas ou deflagradas, contudo sempre que necessário a frente ia informando e passando a palavra para não haver sobressaltos.

O IN desencadeara uma emboscada na zona frente da coluna auto, que se estendia desde as viaturas que eu seguia para o centro, eram as balas das kalashs e das PPSH (costureirinhas) sobre as árvores só para chatear. Via a certa distancia explosões de vários tipos de granadas que podiam também ser de granadas lançadas pelas NT, dado que também batiam a zona.

Pensando que no caso de haver uma emboscada, iria proteger-me numa das viaturas próximas, no entanto para esta situação, o pensado não surtira efeito. Logo que acontecera, acercara-me de um bagabaga que me estava próximo e o melhor onde podia proteger-me, mas quando reflecti sobre esta posição achei que poderia ter sido perigosa, dado que era um local propício para aí o IN colocar mina e/ou fornilho (servira-me de lição).

Sendo a primeira embosca em que intervinha, mirava para algo suspeito e apercebo-me de uma elevação com mata muito densa, o que dava a entender que o IN deveria estar instalado em zona privilegiada e de contra encosta.

Entre outras, uma granada explodira a cerca de 40 metros do local onde estava amochado, que depois foi identificada como do RPG 2, pois fui posteriormente apanhar a parte do foguete que saltara do corpo da granada, para guardá-lo como ronco (foto 5).

Logo alguém disse:

- Tens que ir apanhar muitas. - E eu respondi: - Não vou, porque esta tem significado.

Considerando o alcance máximo do RPG 2 e provavelmente o IN estaria emboscado a cerca de 300 metros da coluna.

Foto 5 > Guiné-Bissau> Buba> Sinchã Cherno> 1968 > Resto do foguete depois da explosão, que esteve acoplado ao corpo da Granada do RPG 2.

Eis que há uma pausa no cair granadas nas proximidades, não se ouvindo a passagem das balas das costureirinhas ou outras. De repente um camarada aproxima-se de nós e grita para não dispararmos, porque os que vão flanquear estão próximos dos gajos e a chegar à nossa frente.

Viemos a saber que a malta do Pelotão de Caçadores Africanos que iam no flanco, deram um enxerto de porrada no IN e como estes foram surpreendidos tiveram que se pôr em fuga.

Nesta intervenção, as NT não sofreram quaisquer baixas.

Refeita a marcha, algum tempo depois, a coluna sofreu nova emboscada, agora na retaguarda, tendo ocasionado às NT um ferido ligeiro. Por sua vez o IN deveria ter levado um embrulho e/ou sentirem-se pressionados pelas tropas dos flancos, puseram-se em fuga e não mais incomodaram.

Continuando a progressão, é montada a ponte móvel, são detectadas e levantadas minas, sem outros incidentes.

Pelo meio da manhã apareceram dois Fiat's quase de simultâneo, que nos sobrevoaram quase rasando as copas das árvores, talvez para nos verem e/ou comunicar. Mas pelo barulho dos motores e conjugando com o som da deslocação do ar, deram-se acontecimentos de grande incerteza, foram para mim situações que mais pareciam de bombas e que o céu ia desabar.

A partir de agora já havia contacto com o exterior e com apoio aéreo, a tensão amainou e com isso veio a emoção.

Posteriormente pelo menos deu-se a observar a chegada de um helicóptero, trouxera equipamento de Rádio de Transmissões e efectuara os Tevs para o HM 241 de Bissau.

Foto 6 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Sector de Buba > 1969 > Helicóptero Alouette III a efectuar TEVS. Eu estou mantendo segurança a pedido do Piloto, estando um ferido no banco de trás.

Refeitas as transmissões via rádio, logo se soube que ao encontro da coluna vinham tropas de Aldeia Formosa e Mampatá. A sua frente teve contacto quase ao fim da tarde. Como vieram a picar a estrada, detectaram uma mina e por isso estava supostamente livre.

Como o aproximar da noite ocasionara que as viaturas levassem as luzes acesas e que as da frente fossem em marcha acelerada, a existência de poças de água ainda mais ajudava a maltratar a já depauperada estrada de terra, dificultando a marcha das que procediam.

Estivemos perante uma situação em que se o IN nos atacasse, com aquela forma dispersa, umas dezenas iam parar aos anjinhos.

Os mais velhos diziam que já não haviam problemas porque estávamos a chegar a Mampatá, que era já ali, mas foi uma eternidade para lá chegarmos (foto 7).

Chegados, estava população a ofertar água a quem seguia na coluna, era sua tradição o que muito nos sensibilizara.

Foto 7 > Guiné Bissau >Região de Tombali > Mampatá > 1968 > Paragem de uma coluna e tempo de espera para se recompor. Os camaradas que estão na foto são da minha Unidade. Em cima da esquerda, sou eu e depois o ex-Condutor Auto Vítor “O Lisboa”; em baixo, não ligo o nome com o camarada, a seguir o Soldado Isaac das Trms e o Soldado Albino Oliveira “O Cantiflas,” que devido a acidente nos deixara em Empada.

A marcha prossegue, passando pelas Tabancas de Bacardado e Afia. Por conseguinte são cerca das 20 horas, do dia 26 de Julho de 68, passamos pela estrada contígua à pista de aviação, quando finalmente chegamos a Aldeia Formosa (Quebo) onde nos aguardavam.

Ufa, até que enfim, que ansiedade de chegar ao cabo de cerca de 36 horas.

Deduzindo o tempo de pernoita, temos que os 30 quilómetros de distância foram percorridos à média de 1,5 Km/h.

Foto 8 > Guiné-Bissau > Região de Tombali >Aldeia Formosa (Quebo) > 1968 > O que restou do Unimog sinistrado pela mina AC (agora com colocação de rodado), a ser rebocado para a oficina (em fundo) a fim de ser desmantelado para peças sobressalentes. Na viatura, em cima e da esquerda: sou eu, e os restantes são da CCaç 1792, o ex-1.º Cabo Condutor Auto, o ex-1.º Cabo Mecânico Auto e um Condutor Auto; em baixo, o ex-1.º Cabo Mecânico Auto José Luís Moreira, da minha Secção, e um Soldado da CCaç 1792.


Parte 3

Da posição: Guiné 63/74 –P5699 estórias avulsas (70) A.E.; Rubrica de Perdidos e Achados, sou de dar o seguinte conhecimento.

Após receber vários E-mails e usando o GPS, finalmente descodifiquei os caminhos para chegarmos ao epicentro da Unidade Militar do celebre desconhecido e localizei a estátua “O Pensador.”

Sendo convocado o Soldado Condutor Manuel Martins, o barbeiro de serviço, hoje comerciante a residir em Aldeia do Carrasco - Portimão, que a solicitação do José Belo, retirara a boina da cabeça do dito cujo, não sendo o suficiente fez-lhe o cortes do cabelo e da barba. Tendo-se feito luz sobre de quem se tratava, aí está o homem e deixem-no tratar do seu bloco de notas (Foto 9).

Há mais “estórias” amigo e camarada Zé Teixeira, virá a vez de outro haja saúde e boa disposição.

Não esquecendo que revelando fotografias, ainda fiquei com a cara de muitos camaradas, não tendo mais por ter enviado material para revelar na África do Sul, provavelmente parte foi confiscado e outro já se deteriorou.

Relativamente ao convívio no almoço de cozido, em Monte Real, digo, que por ali não reconhecia o camarada e amigo José Belo, a neve da Lapónia branqueia-lhe a barba, o ar deverá ser gélido e não há a amenidade dos meus Algarves.

Diga-se que tenho dele uma fotografia como recordação que irei mostrar no momento adequado. Penso que deixei de o ver pessoalmente em Abrantes, no entanto em datas posteriores ao 25 de Abril, voltei a vê-lo pelas imagens da RTP.

Foto 9 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > Porta de Armas> 1969 > Momento de concentração de um pensador, escrevendo belos poemas e/ou estórias.

Nesta data, completara a primeira etapa da minha comissão de serviço, sendo um quadro do que no futuro eu teria intervenção, tornando-se mais ou menos de rotina.

Porque para além da minha Especialidade e em escoltas às colunas auto, também era escalado para a defesa dos aquartelamentos e para apoio nocturno a população em auto defesa, com intervenção na protecção à abertura e construção do troço de estrada Buba - Nhala.

Com um grande abraço deste amigo e camarada, subscrevo-me,
Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas
Um Maioral
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5845: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (3): Operação Grande Ronco (1)

Guiné 63/74 - P5856: O 6º aniversário do nosso Blogue (6): Seis (6) anos em prol da História de Portugal e da Guiné-Bissau (Mário Fitas)

1. O nosso camarada Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763, Os Lassas, Cufar, 1965/66, enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 20 de Fevereiro de 2010:


Seis (6) anos em prol da História de Portugal e da Guiné-Bissau



Caros Camaradas desta Grande Família, atabancados nesta maravilhosa aventura, de deixar escrito na primeira pessoa, com as suas próprias mãos, a verdadeira história do comportamento do Soldado Português na Guerra da Guiné.

Acabei de falar com um desses grandes soldados, Homem precisamente com H muito grande, e se encontra fazendo a sua última batalha.

Não estou portanto preparado para grandes escritos. No entanto, não quero passar sem deixar uma palavra de gratidão, para o Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Brito e Eduardo Magalhães Ribeiro pelo trabalho extraordinário que têm feito em prol do conhecimento da verdadeira vida, dos jovens Portugueses que participaram na dura experiência da Guerra em terras dessa maravilhosa Guiné.

Desculpem-me todos os camaradas tertulianos, em apenas citar o fundador e seus co-editores, mas ficai com a certeza que todos estão em igualdade no meu coração.

Magra a minha contribuição que ao Blogue tenho dado. Espero ainda vir a dar mais daquilo que me é possível contribuir para a nossa História.

A todos aqueles, que por comentários ou escritos, fui inconveniente. Aqui ficam as minhas desculpas e pedido de perdão.

De Florbela Espanca, grande poeta da minha querida Planície, a forma como termina o meu “Putos, Gandulos e Guerra”.

“Almas de Vagabundos
Onde há charcos e lagos
Pântanos e lamas…
Onde se erguem chamas
Onde se agitam mundos,
E coisas a morrer…
E sonhos… e afagos…

Almas sem Pátria,
Almas sem rei,
Sem fé nem lei!
Almas de anjos caídos,
Almas que se escondem para gemer
Como leões feridos!”

Assim! Como tem acontecido, para todos:

Aquele fraterno abraço do tamanho do Cumbijã!
Mário Fitas
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763
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Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P5855: V Convívio da Tabanca Grande (1): Vamos escolher uma data para o evento (A organização)

V ENCONTRO NACIONAL DA TERTÚLIA

ORTIGOSA - MONTE REAL - LEIRIA - 2010


Caros Camaradas e amigos tertulianos

Estão desde já todos convidados a participar no V Encontro Nacional da Tertúlia, a realizar em Ortigosa, Monte Real, Leiria, na Quinta do Paul, o mesmo restaurante onde se realizaram os dois Encontros anteriores.

Como primeiro passo para se avançar na organização deste evento, trazemos junto da Tertúlia duas datas que pareceram as mais apropriadas, atendendo ao calendário das festividades e feriados nacionais.

Assim propõe-se a escrutínio, o último sábado de Maio (dia 29) e o primeiro de Junho (dia 5), ficando desde já combinado que o fim de semana escolhido para este ano será o mesmo para os futuros Encontros.

O nosso camarada Mexia Alves está já a negociar com a Quinta do Paul, e tudo leva a crer que vamos ter o mesmo preço do ano passado. Também como no ano transacto, no preço está incluído um lanche que ninguém vai desperdiçar, já que queremos convívio até cerca das 20 horas. E por que não pelas ruas de Monte Real?

Além do Mexia Alves e de mim (na retaguarda), ainda vão dar uma ajuda, o Miguel Pessoa que se encarregará dos adereços, e os novíssimos colaboradores Belarmino Sardinha e José Eduardo Oliveira (JERO). Não podemos esquecer o Eduardo Magalhães que também estará disponível, assim como o Comandante Luís Graça para chamar a atenção quando algo estiver a correr mal. Quando todos ajudam, custa menos.

Se alguém, a quem as datas são indiferentes, se se quiser desde já inscrever, pode fazêlo. Sugiro, para não haver dispersão de dados, que utilizem para o efeito preferencialmente o meu endereço, porque assim vou actualizando a lista que irá ser posta na nossa Página, como aliás é costume. Eu encaminharei as inscrições para a Organização

Mais tarde dar-se-ão mais pormenores quanto a ementa, preço, estadia em Monte Real, etc.

Julgo que por agora é tudo. Vamos pois preparar com afinco o nosso V Encontro e tentar bater o número de presenças do ano passado.

Como diria qualquer político da nossa praça: - Votem por favor.

O porta-voz
Carlos Vinhal

O nosso camarada Mexia Alves às voltas com as massas
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Vd. poste do IV Encontro de 30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4609: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (17): Comentários para rescaldo (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P5854: O Nosso Livro de Visitas (83): Policia Militar na Guiné (Nuno Esteves, ex-Militar de Cavalaria (PE) no Regimento de Lanceiros 2)




1. O nosso Amigo Nuno Esteves, ex-Militar de Cavalaria (PE) no Regimento de Lanceiros nº2, entre 1994 e 1996, com o posto de Soldado RC PE, enviou-nos a seguinte mensagem em 8 de Fevereiro de 2010:

Policia Militar na Guiné

Saudações Lanceiras caro Sr. Luís Graça,

Espero que perdoe a minha ousadia por lhe enviar este email. Passo-me a apresentar: Chamo-me Nuno Esteves, fui militar de Cavalaria (PE) no Regimento de Lanceiros nº 2, entre 1994 e 1996, com o posto de Soldado RC PE e actualmente sou administrador do fórum: http://regimentolanceiros2.forumeiros.com


O assunto que me leva a enviar este e-mail, é a presença de companhias/pelotões de Policia Militar no Teatro de Operações da Guiné.

Solicitava assim a vossas Ex.ªs, se alguém da vossa vastíssima tabanca, me podia fornecer dados sobre essas mesmas companhias ou pelotões PM.

Fica o meu e-mail de contacto caso me possam ajudar: nuno.lanceiros@hotmail.com

Um bem hajam,
Sem mais, subscrevo-me atenciosamente.
Nuno Esteves
Ex-Sold RC PE
"Morte ou Glória" e "Ajudar a Cumprir" para sempre.

Emblema de colecção da CPM 8242 e PPM 8223: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5853: FAP (47): O desastre de Cheche visto do ar (Vitor Oliveira, ex- 1º Cabo Melec, BA 12, 1967/69)

1. Mensagem do Vitor Oliveira, ex-1.º Cabo Melec, FAP, BA 12, Guiné, 1967/69 [, na foto, à direita]:

Amigos Luís e Victor.

Quero vos dizer que infelizmente assisti a este acidente no Cheche aquando da retirada de Madina do Boé. Foi o dia mais triste que passámos em Nova Lamego,não houve ninguém que não chorasse. Mas quero dizer que as versões que tenho lido, na sua maioria, não são verdadeiras.

1º - Não era uma lancha que fazia a travessia mas sim uma jangada feita em bidões de 200 litros.

2º - Não houve nenhum ataque do IN.

3º - A protecção era feita por dois T6G que estavam desde o amanhecer e não por um Helicanhão (na altura do acidente estava lá um Héli pilotado pelo 1.º Srgt Ribeiro).

4º - O acidente deu-se por excesso de peso e má distribuição da carga.

5º - A Força Aérea tinha em Nova Lamego uma DO 27 um Heli e seis T6G assim distribuídos: dois com duas bombas de 50 quilos e seis de 15 quilos, dois com Rockets e dois com metralhadoras e seis bombas de 15 quilos. Era a mesma frota que levávamos quando da protecção das colunas para Béli ou Madina.

6º - Passado cerca de duas ou três horas do acidente, apareceu o General Spínola e acompanhou a pé a coluna até ao quartel que havia entre o Cheche e Nova Lamego do qual não me recordo o nome (penso que era Canjadude).

7º - Passados uns dias com uma DO 27 o Tenente-Coronel Piloto Costa Gomes, um Tenente Piloto do qual não me recordo o nome (era o piloto mais magrinho que existia na base) e eu sobrevoámos o rio e vimos cenas horríveis, os corpos a boiar e os crocodilos à volta deles. O Tenente-Coronel Costa Gomes entrou em contacto com os Fuzileiros para recolher os corpos, creio que fizeram um pequeno cemitério próximo do Cheche onde colocaram os corpos.

Junto envio cópia da caderneta de voo onde tenho 3 horas e 10 minutos a sobrevoar a coluna nesse maldito dia 6 Fevereiro 1969.

Um abraço.
Vítor Oliveira
1.ª 66 Melec

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5852: Blogoterapia (145): Considera que Portugal valoriza os seus ex-combatentes? (Carlos Cordeiro)

1. Mensagem do nosso tertuliano e camarada Carlos Cordeiro* (ex-combatente em Angola, onde fez a sua comissão como Fur Mil Inf no Centro de Instrução de Comandos, nos anos de 1969/71), com data de 17 de Fevereiro de 2010:

Caros Luís e Carlos,
Acabo de assistir ao programa "Estação de Serviço", da RTP-Açores, com a participação telefónica de telespectadores.

A pergunta foi: "considera que Portugal valoriza os seus ex-combatentes"?

Como convidado em estúdio esteve um representante da Associação de ex-combatentes da ilha do Faial.

Contrariamente ao que geralmente acontece no programa, o número de chamadas foi elevadíssimo e, disse o jornalista, muitas ficaram por atender.

Fiquei deveras impressionado com os dramas que foram ali expostos. Revoltei-me com os camaradas que demonstravam grande revolta pelo esquecimento - mesmo o desprezo, como alguns disseram - a que os ex-combatentes são votados pelo Estado.

No fundo, muitas das questões que o blogue tem vindo a tratar foram ali levantadas com a emoção a ficar bem patente nas intervenções de muitos dos ex-combatentes.
Assisti a tudo com grande emoção, sobretudo quando um dos intervenientes denunciou o facto de um deficiente de guerra aguardar há meses que o Estado-Maior do Exército, o ministério, ou seja quem for, resolvam o problema do seu meio de locomoção: uma cadeira de rodas com motor, que avariou e não há maneira de a mandarem consertar ou adquirirem uma nova. Também foi muito doloroso ouvir a irmã de um ex-combatente que morreu em combate e era o sustento da casa.

Mas também devo dizer que tive orgulho, muito orgulho ao verificar que, mais do que queixumes sobre questões pessoais, o que mais abundou foram palavras de viva solidariedade dirigidas aos camaradas em situações de miséria, ostracismo e mesmo marginalidade.

Um abraço amigo do
Carlos Cordeiro
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5372: Agenda cultural: (49): Síntese da minha comunicação no Colóquio Internacional na Universidade dos Açores (Carlos Cordeiro)

Vd. último poste da série de 4 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5765: Blogoterapia (144): Que estou eu aqui a fazer? (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P5851: Ainda o desastre de Cheche, em 6 de Fevereiro de 1969 (1): Silvina Claudino, de 26 anos, uma sobrinha que o 1º Cabo José Antunes Claudino, da CCAÇ 2405, natural de Alcanhões, Santarém, nunca conheceu

1. Comentário de Sílvia Claudino, com data de 12 do corrente, ao poste P5775 (*):

Olá, o meu nome é Silvia Claudino, tenho 26 anos e sou a sobrinha que o primeiro-cabo José Antunes Claudino, da CCaç 2405,  nunca conheceu.

O desastre de Cheche tirou a vida a muitos rapazes, incluindo a do meu tio, talvez por culpa de quem os mandou subir, talvez por culpa das águas, talvez por culpa do inimigo. O que é certo é que estes rapazes ainda tinham uma vida pela frente.

Leio constantemente relatos do que aconteceu, talvez para estar um pouco mais perto do meu tio, mas o que é certo é que nunca o vou conhecer, pelo menos não nesta vida. É-me impossível sequer tentar imaginar a dor e o desespero destes homens quando, devido à força da gravidade e do peso que traziam consigo, os puxavam cada vez mais para o fundo deste rio.

Infelizmente esta Guerra está cada vez mais esquecida nas escolas, na aprendizagem das crianças que muitas nem sabem porque é que a Guerra se deu. É como vivemos...

[ Revisão / fixação de texto / bold / título: L.G.]
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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 8 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2819: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (4): 1968-1973 (Fim) (A. Marques Lopes)

(...)  José Antunes Claudino, 1.º Cabo / CCaç 2405 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Alcanhões, Santarém / Corpo não recuperado. (...)

(...) Sobre o desastre do Cheche, no Rio Corubal, no âmbito da Operação Mabecos Bravios, e sobre Madina do Boé, vd. os postes publicados no nosso blogue (1ª e 2ª série). Há ainda uma depoimento do Brigadeiro Hélio Felgas, a publicar em breve, e que nos chegou às mãos por intermédio do Paulo Raposo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2405. (...)

Guiné 63/74 - P5850: Memória dos lugares (71): Mansambo, CART 2339 (1968/69): Eram uns gajos do caraças!... (Torcato Mendonça)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Fotos Falantes III >  Foto nº 59 > A famosa Santinha, uma capa de calendário com uma carinha larocas, que ajudava a exorcizar as tensões das noites de emboscada fora do aquartelamento... Em formato extra-largo, pode ver-se melhor a silhueta da HK 21...

Foto: © Torcato Mendonça (2010). Direitos reservados                                                                                                                                                  


1. Comentário do Torcato Mendonça, ex-Alf Mill Art, CART 2339 (Mansambo, 1968/69), meio alentejano e meio algarvio, português dos quatro costados, exilado na Cova da Beira, com vista para a Gardunha e a Estrela... (Data: 14 de Janeiro último; poste P5643) (*)


Na madrugada das dez abri o blog... e fugi. Então ele postou o mail...e, ainda por cima, sem a Santinha!!!. Tristeza. Um homem deve ter sempre uma. Vim agora e li os comentários. Não devia escrever mais...só que mando um abraço aos Camaradas: para a gélida Suécia, o Mato Cão onde tanta segurança fiz (Breda tinha eu, bela...) e os barcos que por lá passavam, diziam, ter truque. Logo info antes de cambar...Bater palmas ao belo filme do J. Félix... Dizer que devo uma resposta ao Zé Brás. Belarmino,  não é regresso. Estou a tentar acomodar centenas de slides e fotos. Um abração ao JCabral, e ao Luís Graça dizer que...olha já saiu. O que é um "camarada e amigo by- passado?"... E a bomba soluça é do frio."Tou f... ".

Termino dizendo a César Venâncio: não sei se pertence a esta Tertúlia. Por mim exprima-se como entender. Cafre pode ser pejorativo,  fez bem em dizer sem ofensa a eles. São Bantos e não só. Os outros, das fotos, o senhor também não ofende. Há vários significados para cafre. Deixo isso a exploração sua, se assim o entender.

Este Grupo de Homens e Militares passaram com dignidade pela guerra na Guiné. Não vieram todos. Mesmo lá,  e posteriormente, alguns tiveram vidas diversas de Comando (3ª a 16ª -68/69) a outras guerras...vidas! Se assim viviam,  era para sobreviver.

A todos eles,  meus Camaradas, vivos ou mortos presto a minha gratidão e eterna amizade. Somos unidos, fortemente unidos.Só alguns compreendem.

Um abraço para todos do TM.

2. Respondi-lhe, eu, L.G.,  de imediato:

Torcato: Contas-me a história da Santinha e eu publico a foto (editada)... Na nº 59 não vejo HK nenhuma... Falo das Fotos Falantes III.. Um abraço. Luís

PS - O by-passado é um trocadilho, se calhar de mau gosto... I' m sorry[E seguia foto em anexo, que se publica acima, em formato extra-largo.]

3. Resposta do TM, no mesmo dia:

A Santinha está encostada à HK 21,  meio tapada com o meu lenço azul (lenço da 2339).

Fotos 55 e 58. Engano meu,  na 59. A solidão,  Camarada,  e o calendário, a revista,  servia para suavizar...só isso. Era duro esperar horas e horas à chuva,  em emboscada infrutífera, caminhar noite escura para um objectivo e não saber que encontrar ou quem ia voltar, cair na emboscada e deixar de ser ele e ser a besta e praguejar, insultar e ouvir tuga...tuga...e replicar com filhos de puta...teu pai...tua mãe. Isso era o menos. Isso era o menos... o normal, o normal...era a bestialidade...Esquece camarada e amigo, tu sabes.

Por isso,  o melhor: São brincadeiras, boas maneiras de aliviar tensões,  à falta de tesões, no meio de certas confusões e mais agora que a Tabanca Grande foi internacionalizada e bem...  Da Lapónia de onde vem certamente o Papa Nöel e as renas com os ius ius a tilintar. O José Belo deve saber e na penumbra do dia deu certamente indicações às renas e ao Papa Nöel...está a chegar atrasado a prenda de Natal, O frasco da Alegria, Boa Disposição, Alivia Tensões...Os sexagenários brincarão depois como meninos à volta de uma fogueira...

Adeus,  amigo,  e um abraço do Torcato

[ Revisão / fixação de texto / bold a cor / título: L.G.]

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 14 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5643: Memória dos lugares (68): Os militares eram uns tipos do caraças (Torcato Mendonça, CART 2339, Mansambo, 1968/69)

Guiné 63/74 - P5849: Convívios (191): A Tabanca Pequena em Matosinhos/Porto (Sousa de Castro (1º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873)



1. O nosso Camarada Sousa de Castro (*), que foi 1º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74, enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 18 de Fevereiro de 2010:



A Tabanca Pequena de Matosinhos


Eu estive lá!... Na passada quarta-feira, dia 17 de Fevereiro.


Na 'tabanca pequena' (Matosinhos) e desfrutei de um ambiente fantástico e, também, de vários sabores alimentícios, que nos foram servidos no Restaurante "Milho Rei".



Há muito que esperava uma oportunidade para me deslocar lá. Surgiu pelo convite que nosso tabanqueiro Coutinho Lima (Coronel reformado), me endereçou.

Convivi com todos aqueles que resolveram aparecer para atabancar neste dia: o Marques Lopes, o David Guimarães, o Teixeira (o fermero das bajudas), o Eduardo Campos, o morto-vivo do Quirafo, o Pimentel, o Casimiro (Pirata de Guilege), o Álvaro Bastos da CART3492, do Xitole, e todos os outros de que agora não me recordo do nome (que me perdoem esses)!



Curiosamente, não sei porquê, as conversas iam dar todas à Guiné, quer do tempo da Guerra Colonial, mas também da actualidade.


Para mim foi um dia diferente para melhor, tudo malta fixe. Vou ter de repetir.

Aproveito para agradecer a todos a forma como fui recebido.

Bem hajam!
Abraços e beijinhos (conforme os casos),
Sousa de Castro
1º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5848: Convívios (190): 19º Convívio da CCaç 1439 (Enxalé, Missirá, Porto Gole, 1965/67) e dos Pel Caç Nat 52 e 54 (Henrique Matos)



1. O nosso Camarada Henrique Matos, (ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 - Enxalé, 1966/68), enviou-nos a seguinte mensagem em 19 de Fevereiro de 2010:



Convívio

19º Convívio da CCaç 1439 (Enxalé, Missirá, Porto Gole, 1965/67) e dos Pel Caç Nat 52 e 54.






Camaradas,


Vai decorrer o 19º convívio da CCaç 1439 (Enxalé, Missirá, Porto Gole, 1965/67) a que se vão juntar os Pel Caç Nat 52 e 54.

Data: 6 de Março

Local: Restaurante Quinta da Várzea - Coruche
Ponto de encontro: Parque do Sorraia, junto à Praça de Touros a partir das 11 horas
Confirmação das presenças: Até ao dia 28 do corrente
Contactos: Pimentel - 912356339 ou Cunha - 934779181

Abraço grande,
Henrique Matos,
CMDT do Pel Caç Nat 52

Emblema e guião de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em: