terça-feira, 21 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8456: Notas de leitura (249): A Guerra de África 1961 - 1974, por José Freire Antunes (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Junho de 2011:

Queridos amigos,
É uma oportunidade ler esta obra, há muito esgotada. Estamos agora no segundo volume, recentemente dado à estampa. Vale a pena ler Diogo Neto e Silva Cunha na íntegra, bem como apreender a essência do pensamento e acção de Spínola nos primeiros anos na Guiné, está ali tudo publicado. Temos depois Carlos Fabião, Alpoim Calvão, várias operações, depois Luís Cabral e, por último, Marcelino da Mata, um dos guerreiros do Império.


Um abraço do
Mário


A guerra de África, segundo volume, por José Freire Antunes

Beja Santos

No âmbito do cinquentenário do início da guerra em Angola, volta-se a publicar o mais completo levantamento de testemunhos de personalidades que por qualquer razão tiveram uma acção relevante à volta dos acontecimentos, entre 1961 e 1974 (“A Guerra de África”, por José Freire Antunes, segundo volume, Círculo de Leitores, 2011).

Muitos dos protagonistas ouvidos neste segundo volume têm directamente a ver com o teatro de operações da Guiné: é o caso de Franco Nogueira, de Diogo Neto, de Silva Cunha, de Carlos Fabião, Alpoim Calvão, Luís Cabral e Marcelino da Mata. Como se compreenderá, dada a riqueza destes depoimentos, haverá um desdobramento dentro da recensão.

No caso de Franco Nogueira, não é sobre o seu posicionamento enquanto defensor da política externa que aqui cabe falar, mas de uma carta que dirige a Marcelo Caetano, em Novembro de 1970, em que o assunto se prende com a libertação depois de longo cativeiro do então sargento aviador António Sousa Lobato. Referindo detalhadamente o seu comportamento íntegro enquanto prisioneiro de guerra, recusando sistematicamente a assinar qualquer documento em que se declarasse desertor ou condenasse as “atrocidades” do Exército português.

E expõe o seguinte: “Depois pretenderam obrigá-lo a assinar outro papel em que se comprometesse, quando liberto, a não se alistar mais nas Forças Armadas portuguesas. O Lobato respondeu que, quando fosse liberto, a primeira coisa que faria seria a de se apresentar às suas autoridades militares. Passado tempo, novamente voltaram a insistir: se assinasse um papel comprometendo-se a não combater mais na Guiné, seria solto. Lobato respondeu que, logo que estivesse livre, pediria às suas autoridades militares para combater precisamente na Província da Guiné. Foi sempre da maior firmeza, decisão e patriotismo; e isso em condições morais e de saúde não podiam ser mais precárias e difíceis, raros terão tido um tão alto sentido do dever e uma tão constante e sólida coragem. Penso que o sargento Lobato merece uma alta distinção militar, e que o seu exemplo deveria ser publicamente conhecido e reconhecido”.

O testemunho de Diogo Neto é do maior interesse para o conhecimento dos meios aéreos existentes na Guiné e a evolução da guerra. Oiçamo-lo: “Na Guiné, o PAIGC desenvolveu intensa actividade antiaérea com armas 12.7, quadruplas ZPU 4 de 14.5 e canhões de 37mm sistematicamente atacadas e destruídas pelos Fiat. As armas disparavam de posições preparadas, protegidas por parapeitos, a descoberto, o que facilitava a sua localização. A maior parte dos atiradores era constituída por cubanos, cuja coragem temos de reconhecer, pois aguentavam-se firmes, agarrados às armas (…) Quando o PAIGC começou a ter mísseis Strella, a reacção da Força Aérea foi péssima. O seu aparecimento representou um agravamento neste tipo de luta, exigindo a adopção de equipamentos nas aeronaves para detecção das saídas dos mísseis, o que nunca se verificou (…) Evidentemente que foram afectadas as unidades do Exército que estavam isoladas e que dependiam do apoio logístico dos aviões pequenos e até dos próprios helicópteros. Os pilotos passaram a fazer os bombardeamentos de Fiat acima dos 8 mil pés, o que fazia com que não tivessem tanta precisão. Os aviões de transporte também já não podia voar porque eram um alvo muito fácil. A parte final da Guiné correu mal. O PAIGC tece um incremento muito grande ao nível das acções”.

O ex-ministro Silva Cunha descreve minuciosamente o seu relacionamento com Spínola. Mas surpreende o leitor desvendando um segredo bem guardado acerca das negociações decididas por Caetano, em 1974, o que no ano da primeira edição desta obra (1994) provocou algum alarido pois ratificava o que José Pedro Castanheira tinha publicado no jornal Expresso: “Aquando dos encontros entre diplomatas portugueses e dirigentes do PAIGC, em Londres, eu já não era ministro do Ultramar, era ministro da Defesa. Eu tive conhecimento dos contactos que houve, quando era ministro do Ultramar, entre o general Spínola e gente do PAIGC. Foi o caso daqueles três majores que eu conheci pessoalmente, poucos dias antes de terem sido assassinados. Esses contactos eram do conhecimento de Amílcar Cabral. Estou convencido de que eles foram assassinados por aqueles que depois preparam o assassínio de Amílcar Cabral”.

Depois de falar do seu relacionamento com Spínola e deste ter levantado o problema do colapso militar, diz ter mandado à Guiné o general Costa Gomes que quando regressou lhe afirmou que a Guiné era perfeitamente defensável desde que se mudasse o dispositivo”. Não explicou qual era a mudança do dispositivo, há uma referência no livro com a entrevista concedida pelo marechal Costa Gomes à historiadora Manuela Cruzeiro, é referido que estava previsto o abandono de todas as posições ao alcance dos foguetões e dos morteiros 120, a verdade é que não se conhece nenhuma historiografia que diga explicitamente em que consistia esta mudança do dispositivo e quais as suas consequências sociopolíticas no abandono das povoações.

Por fim, refere Silva Cunha: “Conseguimos artilharia em Israel, porque uma das coisas que se queixavam na Guiné era que a artilharia deles tinha alcance superior ao da nossa. Conseguimos os Red Eye, mísseis terra-ar individuais, na Alemanha. Não sei quem os vendia, só sei que eles nos forneciam 500 Red Eye americanos. Aí, também houve influência do Ministério dos Negócios Estrangeiros, mas indirecta. Esteve no meu gabinete o general Étoile, que era quem superintendia na venda dos aviões Mirage, e que nos fez uma oferta de Mirage, pondo como única condição ficarem com base em Cabo Verde. Eu disse-lhe: “Não preciso dos Mirage em Cabo Verde, mas na Guiné”. Ele respondeu: “O senhor sabe muito bem como é que isso se faz depois”. Oficialmente, os Mirage não podiam ter base na Guiné. Eu não sei se, depois do 25 de Abril, o material veio ou não”. Trata-se de um longo depoimento, abundam críticas em várias direcções, Kaúlza e Spínola são directamente visados.

Com o título “Spínola em Bissau, as armas e a razão”, José Freire Antunes publica um conjunto de directivas secretas, foram fundamentais no início do seu mandato e incluem: a retirada de Madina do Boé, a remodelação do dispositivo à volta da Aldeia Formosa, bem como em Sangonhá e Canatanhez, retirada da companhia instalada na ilha do Como, etc. e procede a críticas, do tipo: “Dos vários relatórios da acção que tenho lido, de relatos verbais feitos por comandantes de subunidades e por praças feridos em combate, conclui que na generalidade as NT cometem erros graves frente ao IN, de que resulta: não se cumprirem integralmente as missões; um gasto exagerado de munições, um aumento desnecessário de baixas; e, em consequência, um muito sensível abaixamento moral das NT que, na generalidade, se encontram complexadas perante um IN melhor armado e manobrador”. Trata-se de um extenso conjunto de documentos que comportam diferentes orientações, chegando mesmo ao procedimento a ter para com os informadores secretos da PIDE.

A próxima recensão começará com o depoimento de Carlos Fabião, seguramente um dos oficiais que melhor conheceu a Guiné em todo o período da guerra.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8434: Notas de leitura (248): Eis a Guiné! Breve notícia da sua terra e da sua gente, de Fernando Rogado Quintino (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8455: Memória dos lugares (156): Texas, o anexo do Hospital Militar Principal, na Rua da Artilharia Um, em Lisboa (Carlos Rios / Rogério Cardoso / Jorge Picado / António Tavares)


Guiné > Bissau > Hospital Militar 241 > O Carlos Filipe, radiomontador, da CCS/BCAÇ    (Galomaro, 1972/74)  esteve internado 32 dias em Bissau, antes de ser evacuado para o Hospital Militar da Estrela em Lisboa, onde esteve 173 dias. Com hepatite C... (Embora luta contra outra doença, não infectiosa, mas não menos tramada...Daqui vai, para ele, um abraço camarigo de toda a Tabanca Grande, dando-lhe coragem e esperança).


Houve homens, camaradas nossos, como Carlos Rios, que lá passaram anos, por estes sítios, alguns tenebrosos como o Texas... Esperemos que nos cheguem, ao blogue, mais testemunhos destas dolorosas estadias no back office da guerra... Em relação ao Hospital Militar Principal, em Lisboa, na Estrela, quantos anexos afinal havia ? Campolide, Artilharia Um, Graça (*)...

Foto © Juvenal Amado(2008). Todos os direitos reservados.



1. Excertos de mensagens e comentários sobre o famigerado Anexo Texas, do Hospital Militar Principal (Estrela), sito na Rua Artilharia Um (**)... Tudo começou com o António Santos a contar como foi parar ao HMP, para fazer caixões de pinho, enquanto não o mandavam para a Guiné:


Carlos Rio
Ex-Furriel Mil
CCAÇ 1420
(Fulacunda, 1965/67)

(…) Fui dos que passou pelas instalações e sofri as piores atribulações [n]aquelas miseráveis e desumanas instalações, principalmente o anexo (Texas), do Hospital Militar Principal.

Ali passei seis anos com imensas operações, vindo a ficar estropiado, de 1966 a 72. O director era um déspota bem como a maioria do pessoal ligado àquilo que deveria ser o lenitivo para as misérias que nos atingiam mas que afinal se vinha a transformar como que um castigo por termos sido feridos. De tal maneira que já no Depósito de Indisponíveis, onde se encontrava o pessoal em tratamentos ambulatórios, termos sido metidos nas escalas de serviço, como se os doentes em tratamento estivessem numa Unidade.

Imagina um Oficial de dia quase maneta e eu próprio, já coxo, a fazer o içar da bandeira na porta de armas, vindo ao exterior a comandar a guarda e dar ordens militares para o caso. Fui um espectáculo macabro, eu só consigo andar com uma bengala. Calcula o ridículo.
No decrépito anexo não havia um espaço onde pudessemos ter um bocadinho de lazer, havendo apenas uma horrorosa cantina pequena para largas centenas de todo o tipo de doentes, cegos, amputados, loucos, etc...tudo á mistura. Não podiamos estar nas camas depois das nove horas nem sair para o exterior antes das catorze, exceptuando os acamados. Era-nos sugerido, quase obrigado, que não andássemos fardados. Enfim atribulações e peripécias dos pobres que eram arrancados às familias para servir alguém. 


Rogério Cardoso 
Ex-Fur Mil 
Cart 643, Águias Negras
(Bissorã, 1964/66)


(…) Também eu passei as passas do Algarve no chamado Texas, [na Rua da Artilharia 1]. Estive lá de Fevereiro de 1966 a meados de 1967.

De facto o Director era uma pessoa intragável, assim como muito do pessoal lá destacado. Voltando ao director, assisti uma vez, ele dar uma bofetada num 2º Sarg Enf por ele não ter chamado á atenção de um Fur Mil que estava deitado em cima da cama, pelo meio da manhã. O homem até chorou, pela humilhação sofrida. (…)

 (…) Estou lembrado de mais uma cena humilhante. Nós, sargentos, instalados no anexo Texas, frequentemente tíonhamos consultas no HMP Estrela, estou a falar no ano 1966. A deslocação era feita numa carrinha Mercedes, salvo erro de 18 lugares. Até aqui tudo bem, mas a nossa vestimenta era pior do que a de um recluso. Calças de cotim com dezenas de carimbos com uma estrela, com os dizeres HMP, camisa branca sem colarinho tipo moço de estrebaria, também com carimbos, casaco cinzento de golas largas (capote cortado a 3/4) e barrete branco de algodão, igual aos que os velhotes usavam para dormir no século XIX, além de sapatilhas brancas.A nossa vestimenta era mais do que ridícula, os reclusos eram uns "pipis" comparando. Era o tratamento a que os combatentes que tiveram azar, eram sujeitos. (…) 


Jorge Picado
Ex-Cap Mil na CCAÇ 2589/BCAÇ 2885,
 Mansoa, na CART 2732, Mansabá e no CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72


(...) No Hospital, Anexo ou Texas, existente na Rua de Artilharia 1, tive as primeiras visões horríveis, do que me poderia esperar, qualquer que fosse o TO que me saísse na rifa. Isto aconteceu talvez nos finais de Setembro de 1969, quando estava a frequentar o CPC em Mafra. Aí funcionavam, não sei se outras, as consultas de Ortopedia, para onde fui encaminhado pelo Oficial Médico Mil da EPI, face aos problemas da coluna lombar de que já padecia.

Para chegar à zona das consultas tinha de percorrer vários corredores (ou seria só um muito comprido, mas dividido por várias portas?), atulhados com macas ocupadas por estropiados brancos e negros, meio ao "Deus dará". Da primeira vez fiquei meio "zonzo" com aquelas cenas e nas seguintes procurava chegar rapidamente ao local olhando par o ar...Quanto ao Cap Med do QP, chefe da Ortopedia, fiquei com as piores recordações, respondendo-lhe "torto" e chamando-lhe a atenção que não estava a falar para um analfabeto, mas sim para
um licenciado como ele, mas isso são outros contos. (...)






António Tavares
Ex-Fur Mil 
CCS/BCAÇ 2912
(Galomaro, 1970/72)

 Em Janeiro de 1969 estive internado no anexo do HMPrincipal, R Artilharia 1, onde vi e assisti a episódios sem classificação...Impossível a sua descrição.
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Notas do editor:


(*) Último poste da série > 8 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8243: Memória dos lugares (155): Bedanda 1972/73 - A Mulher, Menina, Bajuda de Bedanda (2) (António Teixeira)

(**) 18 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8438: (Ex)citações (141): Hospital Militar Principal: Sofri as piores atribulações naquelas miseráveis e desumanas instalações, principalmente o anexo, o Texas (Carlos Rios, ex-Fur Mil, CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67)

Guiné 63/74 - P8454: Convívios (356): Encontro do pessoal da CART 564 (Guiné, 1963/65), dia 2 de Julho de 2011 em Silvalde

1. A pedido dos nossos camaradas Júlio Santos e Leopoldo Correia, respectivamente, ex-1.º Cabo Escriturário e ex-Fur Mil da CART 564 (Guiné, 1963/65), damos a conhecer o Encontro/Convívio do pessoal desta CART, a realizar no dia 2 de Julho de 2011, em Silvalde.


CONVÍVIO DA CART 564

02 DE JULHO DE 2011

(FÁBRICA DE PAPEL PONTE REDONDA, SA - SILVALDE)

Caros amigos

Já são quase 50 anos desde que nos juntamos para o serviço militar e a Campanha na Guiné. Podemos sentir orgulho pelo nosso desempenho, pois foi mais de interligação e colaboração entre dois povos do que o impor de uma soberania.

A forma como somos recebidos no país, agora livre, mostra a real amizade que persiste passadas dezenas de anos.

Como a ordem natural da vida nos vai retirando maiores oportunidades, venho convidar-vos para um Encontro/churrascada, informal a exemplo do que fazíamos em Nhacra, Mansoa ou Cutia.

Um abraço
Américo Loureiro



Marcações para:

Américo Loureiro
Apartado 2
4501-851 Espinho

Telefone 227 330 800 / Fax 227 330 801
Telemóvel 964 024 918


EMENTA:

Entradas
Pastéis de bacalhau, rissóis, croquetes, moelas e pataniscas de bacalhau

Sopa
Caldo verde

Carne
Churrasco na brasa (entremeada, tiras, salsicha, coxas de frango, bife), com arroz de feijão e batata frita

Sobremesa
Bolo do serviço e fruta da época
1 taça de Espumante

Bebidas
Vinho da casa branco e tinto (Cruzeiro e Pegões), refrigerantes, cerveja e águas

Para terminar
Café / descafeinado
Bagaço
Wisky novo
Amêndoa amarga / Licor Beirão

Preço por pessoa... 15 €uros

Croqui de acesso ao local do Encontro/Convívio
(Clicar na imagem para ampliar)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8446: Convívios (349): 12º Encontro da Tabanca do Centro, 29 de Junho (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P8453: Parabéns a você (275): António Teixeira, ex-Alf Mil da CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 e CCAÇ 6 (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ

DIA 21 DE JUNHO DE 2011

ANTÓNIO TEIXEIRA

NESTE DIA DE FESTA, A TERTÚLIA E OS EDITORES VÊM POR ESTE MEIO DESEJAR AO NOSSO CAMARADA ANTÓNIO TEIXEIRA, AS MAIORES FELICIDADES E UMA LONGA VIDA COM SAÚDE, JUNTO DE SEUS FAMILIARES E AMIGOS.




As crianças...

...as bajudas...

...e as paisagens captadas pela máquina fotográfica de © António Teixeira
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Notas de CV:

António Teixeira foi Alf Mil na CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 que esteve em Teixeira Pinto e na CCAÇ 6 que esteve em Bedanda durante os anos de 1971 a 1973

Vd. último poste da série de 19 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8445: Parabéns a você (274): Tertuliano e amigo Leopoldo Amado, Historiador natural da Guiné-Bissau (Tertúlia / Editores)

Guiné 63/74 - P8452: (Ex)citações (142): Nos 50 anos do início da guerra colonial (para uns), guerra de África ou do ultramar (para outros)... Mediatização das efemérides, moda ? Ou dever de memória e de reconciliação ?




Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) >Álbum fotográfico do nosso saudoso camarada Victor Condeço  (1943-2010)> Catió - Quartel > Foto 03 > "Foto tirada de cima do depósito da água do quartel [Julho de 1967]. Vista parcial da zona antiga do quartel, o primeiro edifício eram quartos, o do meio era o dos quartos do 7,5 e ao fundo a Central Eléctrica Geradora Civil do lado de lá da rua das Palmeiras que ligava à estrada de Priame. Era também a zona da capela/escola, posto de socorros/enfermaria, arrecadação de material de guerra, arrecadação de material de sapadores, oficina de rádio, etc". 

Foto (e legenda): © Victor Condeço (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



1. Perdemos, o ano passado,  o nosso Victor Condeço (Entroncamento), em contrapartida encontrámos o capelão militar do seu batalhão, o BART 1913, o Horácio Neto Fernandes, pela mão do nosso camarada Alberto Branquinho... Dizem que a guerra (colonial) começou em 1961, comemora-se este ano o 50º aniversário, sem pompa nem circunstância... Como em todas as efemérides, há alguma mediatização e com ela, segundo uns,  o risco de exaberção do debate político-ideológico e a inevitável saturação das memórias e das representações... Para outros, há sobretudo do dever de memória e de reconciliação (connosco e com os outros)...

Para o Alf Mil Capelão Fernandes, natural de Ribamar, Lourinhã [, foto à esquerda], Catió no sul da Guiné terá sido um ponto de viragem na sua vida, de homem e de padre... O Alberto Branquinho tem a delicada e difícil missão de o trazer até nós, comunidade virtual e eral da Tabanca Grande.


2. Do nosso leitor Salvador Nogueira [, antigo oficial pára-quedista, com passagem pelos três 3 TO da "guerra de África"; não faz parte da nossa Tabanca Grande, e por essa razão não publicitamos o seu endereço de e-mail]:

O que me parece interessante é o facto de muitos dos actuais protagonistas de movimentos de solidariedade com os combatentes (coitadinhos!) e com a guerra 'como facto histórico e social', serem os mesmos que há poucos anos os abominavam.

Além de 'interessante', parece 'vivacidade de alpinista' uma vez que só agora, tarde, cada vez mais escribas e cineastas (com alargamento aos incontornáveis 'televisivos'), muitos deles nem sabendo do que falam, embora abordando a questão de perto, se dedicam em reptidos 'encontros' de mundanice volúvel e a loas e panegíricos que nós, ex-combatentes das Forças Armadas Portuguesas, dispensaríamos - muit'obrigado!- pois bem se vê que o intuito não é louvar nem promover mas sim louvar-se e promover-se, cada um, a si, fazendo pela vidinha curta e pequenina.
SNogueira
Domingo, Junho 12, 2011 8:33:00 PM (*)






 







3.  Do nosso camarada José Câmara, membro da nossa Tabanca Grande, a viver no EUA [, foto à direita]:





Caro SNogueira,

Julgo compreender o seu sentir sobre esta matéria. 
Na verdade os antigos combatentes foram esquecidos e muitas vezes ultrajados na sua honra pessoal e militar por dois pecados que, para alguns, talvez demasiados, cometeram na vida: amar e defender Portugal, independentemente do seu sentir sobre a guerra. Pelos sacrifícios prestados enquanto pecadores,  os antigos combatentes apenas pediram e pedem o respeito da Nação. É justo!

Hoje é melhor que alguns falem de nós, bem, mesmo que os seus sentimentos nem sempre sejam tão altruístas como gostaríamos que o fossem. Um dia, tenho a certeza, esses nobres sentimentos humanos virão ao de cima em toda a sua plenitude.

Hoje são cada vez mais as flores depositadas nos monumentos aos combatentes do ultramar, que aos poucos se vão espalhando pelo país. Portugal está a mudar.

São visíveis,  bem visíveis,  alguns sinais da reconciliação. Deixemos a todos os portugueses esse dever.

Cumprimentos,
José Câmara


Domingo, Junho 12, 2011 10:29:00 PM  (*)


4. Excerto de um recente poste do José Brás (**):


(...) Com referência na intervenção de Marta Pessoa e da sua recolha de depoimentos junto de mulheres que viveram a guerra, ou ficando aqui sofrendo as ausências e aguardando a volta, ou aceitaram fazê-la directamente no campo da luta, e na sua afirmação de que é muito importante por ainda hoje a falar a vozes que teimam em se calar, dei uma pequena nota de um episódio real vivido por mim duas horas antes, a partir de conversa com uma mulher, culta, social e culturalmente de esquerda (ainda que resguardando tal significado), que, respondendo a pergunta sua eu tinha informado que estaria num Colóquio sobre a Guerra Colonial, de imediato tinha recebido dessa mulher uma declaração azeda "ainda andam a falar disso?", "mas não chega já de conversa sobre tal cansativo assunto?" . 


Tal resposta tinha-me surpreendido como emboscada e deixara-me com pouca reacção, perguntando apenas se ela não achava que tal guerra que tinha matado mais de oito mil jovens, danificado de corpo mais de quinze mil, ferido mais de trinta mil, envolvido directamente mais de oitocentos mil e respectivas famílias e, ao fim de contas, determinado fortemente o fim do antigo regime, a actual situação da democracia e o desenvolvimento das situações vividas nas ex-colónias, se tal guerra, achava ela, que teria já acabado, ou que teria sido já debatida em excesso. (...) 


Último poste desta série (Ex)citações > P8321 (***)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 de Junho de 2011 >  Guiné 63/74 - P8409: As mulheres que, afinal, foram à guerra (15): Filme do dia: Quem Vai à Guerra (Diana Andringa)


(**) Vd. poste de 18 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8443: Agenda cultural (136): Colóquio/Debate OS FILHOS DA GUERRA COLONIAL - Pós-memória e Representações, ocorrido nos dias 14 e 15 de Junho de 2011 no Auditório do CIUL; CES - Lisboa (José Brás)

(***) Último poste da série > 25 de Maio de 2011 >Guiné 63/74 - P8321: (Ex)citações (139): Comentário ao Post 8318 - Notas de Leitura - Porque Perdemos a Guerra, de Manuel Pereira Crespo (José Manuel M. Dinis)



segunda-feira, 20 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8451: Blogpoesia (151): De manhã, sentindo o tempo (Felismina Costa)

1. Mensagem da nossa tertuliana Felismina Costa , com data de 1 de Junho de 2011:

Saudações amigas para o meu editor Carlos Vinhal!

Saindo um pouco do torpor em que tem decorrido estes meus dias, apeteceu-me escrever um pouco esta manhã e envio o que escrevi, que resulta de alguns momentos de calma descontracção, no espaço junto à Ribeira das Jardas, cuja foto segue anexa, e que é um lugar agradável nesta minha cidade de Agualva-Cacém.
Às vezes, os anos falam connosco e vamos com eles relembrar o passado e o próprio presente precisa de análise: Quantas vezes?
Assim, sou eu pensando, nestas linhas, onde cada palavra tem o meu sentir, a minha fraqueza e a minha força.

Carlos, se achar que deve publique.
Obrigada.
Felismina Costa

Ribeira das Jardas

De manhã, sentindo o tempo!

Manhã ventosa desta Primavera que termina.
A Ribeira, calma e tranquila nesta manhã de sábado, acolhe risonha os transeuntes matinais.
O vento, fresco, desperta-nos, acorda-nos para as lembranças e as saudades.
Para as lembranças do passado, que não se apagam, que antes se avivam, a cada dia que passa, e, para as saudades do presente, que não consigo ultrapassar.
Contudo, tanto as lembranças do passado, como as saudades do presente, são o suporte da minha personalidade!
Vivo com elas… valorizando-as.
Vivo com elas.
Sinto, que estou viva!
Que estou sentindo a vida.

Se as não sentisse, era porque as não tinha vivido, porque as não vivia, porque o que nos deixa saudades, é o que nos faz crescer, é o que anima os dias, é o que nos diz, que viver, é sentir a mensagem do tempo, das pessoas e das coisas, que marcam a nossa vida, que promovem a nossa formação sentimental, ética e cívica.
Ter saudades, é, pois, viver e reviver o tempo que ficou para trás, os tempos que vivemos, com, ou sem realização, com todas as emoções de que o ser humano é capaz.

Saudade da criança que fomos, do adolescente, do jovem adulto, do homem jovem, activo, laborioso, contudo em formação permanente, iludindo-se e desiludindo-se, na caminhada ininterrupta até ao presente, onde continua sentindo as mesmas ilusões e desilusões, tão mais, apenas capaz, de uma análise mais profunda de tudo o que viveu.

A paz deste lugar, que aos fins-de-semana, gosto de visitar, traz-me pois as lembranças da criança que fui, que continuo sendo, acreditando na vida, vendo nela a obra de arte, que mais valorizo, porque…

Felismina Costa

Eu sou a vida!

Porque, acendo a chama que aquece e alumia!
Acendo-a e mantenho-a viva!
Aposto na alegria
Que procuro em cada dia que chega
Trazendo a luz, o sol, as aves,
Que suaves e elegantes,
Decoram o céu que observo.
Sem exigências impossíveis,
Aceito a liberdade
De poder circular por todo o espaço.
Aceito o ar que respiro e me inebria.
A cor das flores,
Seus desenhos variados,
Seu perfume,
E, numa bebedeira de gratidão,
Danço, até cair sobre este chão,
Que me segura e cria:
Eu sou a vida!
A vida que se ergue cada dia!
Que não desiste.
Que se ergue a cada chamamento.
Que avança rumo ao futuro,
Que procuro melhorar,
Para o ofertar melhorado,
Aos que depois de mim…
Pisarem este palco!...


Felismina Costa
Agualva, 18 de Junho de 2011
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Nota de CV:

Vd. poste de 1 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8352: Blogpoesia (150): A todas as crianças do mundo (Felismina Costa)

Guiné 63/74 - P8450: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (15): 16 de Dezembro de 2009, o Gabu, onde se fala mais francês do que português... (Parte II)











  
Guiné-Bissau > Região do Gabu > Gabu > 16 de Dezembro de 2009 > A nova capital do leste, a Nova Gabu [, outrora Nova Lamego], que veio destronar a decadente mas ainda encantadora Bafatá, colonial, banhada pelo Rio Geba (Estreito)...

"Cidade comercial", diz o João... Onde se fala mais francês do que português, e onde correm muitos CFA... Como em qualquer parte do mundo, três instituições poderosas, aqui fotografadas: a sanitária, a económico-financeira, a judicial... Três poderosas instituições que modelam (e podem decidir) a vida e a morte dos povos... A ordem (dos factores) é arbitrária...

Nas três ou quatro primeiras fotos a contar de cima , aparecem dois edifícios, de traça colonial, imponentes, os mais imponentes da cidade, que parecem ter sido reconstruídos. Num deles está instalada a agência local do Banco da África Ocidental (BAO), dispondo de uma caixa automática Multibanco (MB) que, como se sabe, é uma marca registada portuguesa...

Trata-se de um banco guineense, com 100% de trabalhadores guineenses, fundado em 1997, com o o objectivo de contribuir para a modernização da economia guineense: em 2010, apenas 2% dos 1,3 milhões de guineenses utilizam serviços bancários... O Banco tem participação de capitais portugueses. Tem (ou tinha no início de 2010) cinco agências no país (duas em Bissau, e as restantes em Gabu, Bafatá e Canchungo), pretendendo abrir outras duas, em S. Domingos e em Buba.

Segundo notícia da Agência Lusa, publicada no Público em 17/12/2007, "o Banco da África Ocidental (BAO) na Guiné-Bissau iniciou sexta-feira o funcionamento de duas caixas de Multibanco em Bissau e uma em Gabu, as primeiras do país"... "É a primeira vez que a Guiné-Bissau tem caixas de Multibanco, permitindo aos clientes do bancos, estrangeiros a habitar na Guiné-Bissau e turistas o levantamento de dinheiro, nomeadamente através de cartões Visa, Visa Electron e Master Card. Até aqui os residentes em Bissau sem conta no BAO eram obrigados a fazer transferências para a Western Union (agência de transferência de dinheiro) ou para contas bancárias de empresários a trabalhar na Guiné-Bissau. Para ter acesso ao dinheiro, as pessoas eram também obrigadas a levantar cheques directamente aos balcões do BAO, enfrentando longas filas de espera" (...).


Espero que o sistema continue a funcionar, e que seja fiável, para bem dos guineenses, e dos estrangeiros que visitam o país ou que nele vivem e trabalham ... (LG).

Fotos: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservado.



1. Continuação da publicação das notas do diário de viagem à Guiné, do João Graça, acompanhadas de um selecção de algumas das centenas fotos que ele fez, nas duas semanas que lá passou (*)...


16/12/2009, 3ª feira, 12º dia, visita a Gabu [, antiga Nova Lamego]

12.14. Tribunal. Das cenas mais marcantes: 3 juízes/vara, de preto. Um dactilógrafo superlento. Bancos de madeira. Terra batida, paredes sujas. Não me deixaram tirar fotos.



12.15. Voltei a tempo de festival [de música] em Bissau. Vi os Super Camarimba [, da tabanca de Tabatô,] a tocarem.


(Continua)






Reprodução de duas páginas do Diário de viagem, do João Graça



[ Revisão / fixação de texto / título / selecção, edição e legendagem de fotos: L.G ]
 


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Nota do editor:


(*) Último poste da série > 19 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8449: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (14): 16 de Dezembro de 2009, o Gabu, onde se fala mais francês do que português... (Parte I)

domingo, 19 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8449: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (14): 16 de Dezembro de 2009, o Gabu, onde se fala mais francês do que português... (Parte I)




















Guiné-Bissau > Região do Gabu > Gabu > 16 de Dezembro de 2009 > A nova capital do leste, que veio destronar a decadente mas encantadora Bafatá, colonial... "Cidade comercial", diz o João... Onde se fala mais francês do que português, e correm muitos CFA... Das fotos, ressalta a ideia de dinamismo económico, de consumo, de vida, de direito à "felicidade", enfim, a ideia de uma nova África com futuro, que parace contrastar com quase todo o interior da Guiné... Pura ilusão ? O João foi, mais uma vez, "superlacónico" no seu diário, deixando a sua Nikon falar... (LG).


Fotos: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservado.


1. Continuação da publicação das notas do diário de viagem à Guiné, do João Graça, acompanhadas de um selecção de algumas das centenas fotos que ele fez, nas duas semanas que lá passou (*)...


16/12/2009, 3ª feira, 12º dia, visita a Gabu [, antiga Nova Lamego]

12.13. Gabu. Dei um passeio com Ali. Cidade Comercial.

(Continua)


[ Revisão / fixação de texto / título / selecção, edição e legendagem de fotos: L.G ]

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Guiné 63/74 - P8448: Blogoterapia (182): A primeira vez! - Em Monte Real (Carlos Pinheiro)


1. Mensagem do nosso camarada Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro* (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 17 de Junho de 2011, estreante nos Encontros da Tabanca Grande:

Caro Carlos Vinhal
Anexo um pequeno artigo sobre o nosso Encontro de Monte Real.

Um abraço
Carlos Pinheiro





Carlos Pinheiro, à direita da foto, durante o VI Encontro da Tabanca, no dia 4 de Junho de 2011, no Palace Hotel de Monte Real, acompanhado por José Martins, ao centro, e Sucena Rodrigues à esquerda.


A primeira vez!

Há sempre uma primeira vez em tudo na vida.
E a primeira vez que tive a honra, o prazer e o privilégio de participar num Encontro da Tabanca Grande foi no passado dia 4 de Junho em Monte Real. Foi de facto um dia grande na Tabanca Grande.

Se os baptismos fizessem parte do cerimonial, teria que passar a chamar padrinho, na melhor acepção da palavra, ao meu grande amigo António Sampaio. Foi ele o grande “responsável” por eu ter conseguido quebrar os receios, os medos, de um encontro onde não conhecia a maior parte dos camaradas de armas. Mas o António Duarte também foi um dos “culpados”.
Por isso um agradecimento muito especial a estes dois amigos de longa data e que um dia reconhecemos que afinal de contas todos tínhamos bebido “manga” de água da “bolanha”, naquelas terras quentes e húmidas da Guiné.


Mas o Carlos Vinhal e o Luís Graça, com quem eu já me tinha correspondido através do blogue, também merecem uma palavra de agradecimento por tudo o que têm feito pelo pessoal ao longo de muitos anos, mantendo-se assim vivo o espírito de camaradagem que, apesar dos anos passados, se mantém inalterado.

Para o Mexia Alves, Grão-mestre da arte de bem receber, uma palavra de agradecimento e outra de estimulo pelo muito que tem feito e pelo muito mais que ainda continuará a fazer, especialmente em tudo o que diga respeito a logística, abastecimentos e ainda na vertente sociocultural que também é importante nestes convívios recordatórios e de que ele também é um extraordinário executante do fado, canção nacional, quando as guitarras começam a trinar.
De facto, o dia 4 de Junho foi um dia diferente, um dia bem passado entre pessoas que tinham e têm algo em comum, pelo facto de todos terem estado envolvidos directamente na Guerra Colonial ou do Ultramar, como lhe queiram chamar.

Viva o Encontro de 2011.
Que venha o Encontro de 2012.

Carlos Pinheiro
17.06.11
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Notas de CV:

Vd. poste de 15 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8421: Monte Real, 4 de Junho de 2011: O nosso VI Encontro, manga de ronco (9): Os apanhados pela objectiva do Manuel Resende (Parte II)

Vd. último poste da série de 1 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8360: Blogoterapia (181): Apesar da idade, continuamos a realizar os nossos Encontros e ainda nos comovemos (Ernesto Duarte)

Guiné 63/74 - P8447: Agenda Cultural (137): A propósito do lançamento da Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial, no dia 15 de Junho de 2011 no Auditório CIUL, Lisboa (José Brás)



1. Mensagem do nosso camarada José Brás* (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 16 de Junho de 2011:
(continuação)

Lateralmente, devo dizer que não assisti à sessão de apresentação da Antologia, numa postura pessoal talvez exagerada mas fincada nesse dito popular "quem não se sente, não é filho de boa gente", sendo certo que já não tenho idade para engolir sapos destes.

Eu explico.

Em tempo apropriado foi-me solicitada autorização para inclusão na Antologia**, de um texto meu identificado então. Respondi que sim mas que o texto estava incompleto e seccionado, sugerindo que tal autorização estava garantida para o texto completo que sabia que a Dr.ª Margarida tinha com ela mas que juntei na altura.
Mais tarde responderam-me que si, que fazia sentido inteiro e que a sugestão havia sido acolhida.

Ontem, adquirido um exemplar, depois de me sentar para participar na sessão, constatei que, afinal, o que ali estava era a primeira opção e não o que havia sido acordado. Senti com se numa guerra qualquer me tivessem seccionado abaixo do pescoço e acima da anca e me deixasse a caminhar assim com o vazio do meio.

Naturalmente que entendo que para além da formação científica e da habilidade para construir uma Antologia como esta, é necessário também uma outra que diz respeito à construção literária e, mesmo ao gosto de cada um. Mas creio igualmente que também faz falta outra coisa que é o respeito pela propriedade que cada autor mantém sobre o que pinta, o que escreve, o que diz, no fundo, pelas várias vias da comunicação e da arte.

Admito mesmo que poderá ter ocorrido um erro qualquer que terá levado ao resultado que me desgosta. Contudo, na posse do organizador da Antologia estava o texto integral e um razoável número de outros textos sobre a mesma matéria e de minha autoria.

Como dizia o cónego, "não habia nexexidade", saí antes que começasse a sessão.

E para que o blogue avalie se exagerei ou não, segue-se o texto completo e o outro que foi publicado.

tinhas no olhar
sinais seguros de esperança
quando
numa quente segunda-feira
de verão
em 64
eles vieram à vila
tomar-te o peso
o pulso
a medida do peito
o sonho
o sonho não
à tarde
quando partiram
a tua ficha dizia apenas
João
20 anos
apto para todo o serviço


tinhas na boca
uma leve aragem de troça
e nos olhos
sinais seguros de esperança
quando
numa suave manhã
de maio
em 65
passada a porta d’armas
os muros do regimento
pretenderam
separar-te
do aroma dos pinhais

e o aroma dos pinhais
ardia em ti
nas noites
de Maio de Junho e de Julho
quando
após o “cross”
a ordem unida
a instrução da “mauser”
e da “guerra subversiva”
o sonho retomava o seu lugar
subvertendo o cansaço
a raiva
e a ordem das coisas

nas Caldas da Rainha
os pinhais
tinham o mesmo aroma
dos pinhais da tua terra
e o cansaço
a esperança
e a raiva
subiriam contigo ao “Niassa”
numa gelada manhã
de Novembro
em 66
no Cais da Rocha

os compêndios
de instrução militar
diziam
que na Guiné
não havia pinhais
queriam convencer-te
que na Guiné
o sonho morrera
e tu sabias da gente
sonhando a liberdade
de armas na mão
na escola da guerrilha
nas clareiras abertas
“p’lo napalm”

a mata da Guiné
seria o caminho
da tua liberdade
ouviras dizer
que nenhum homem
é livre
enquanto oprime outro homem
e concluíras
que
na mata da Guiné
como nos pinhais da tua terra
o sonho e a luta
libertavam
o homem

tinhas
nos olhos
sinais seguros
de esperança
e o sonho
retomava o seu lugar
subvertendo o cansaço
a raiva
e a frieza da “G3”
quando
deixaste o quartel
na direcção de Guileje
a caminho do “corredor”
onde a liberdade se ganhava
e se perdia
em cada passo em frente
em cada morte

tinhas no olhar
sinais seguros
de esperança
e na tua frente
a mata
densa
da Guiné
confundia-se
com os pinhais da tua terra
quando
a mina
te rasgou o peito
no corredor
perto do destacamento
da Xamarra

************

tinhas no olhar
sinais seguros de esperança
quando
numa quente segunda-feira
de verão
em 64
eles vieram à vila
tomar-te o peso
o pulso
a medida do peito
o sonho
o sonho não
à tarde
quando partiram
a tua ficha dizia apenas
João
20 anos
apto para todo o serviço

tinhas no olhar
sinais seguros
de esperança
e na tua frente
a mata
densa
da Guiné
confundia-se
com os pinhais da tua terra
quando
a mina
te rasgou o peito
no corredor
perto do destacamento
da Cambajate


Nota:
Quero dizer-te ainda que o que digo sobre o Colóquio, e sobretudo sobre a minha reacção ao "erro" no texto que havia acordado, não coloca em causa a minha apreciação pessoal sobre a importância do Colóquio, da organização e edição da Antologia e do valioso trabalho da Dr.ª Margarida Calafate sobre a temática das memórias da Guerra Colonial.

Penso mesmo que lhe devemos todos um voto de agradecimento pela sua contribuição para que sejam preservados relatos, estudos e investigações, colecção de testemunhos e análises deste caldo que nos envolve a todos, ex-combatentes pela via da emoção desatada na memórias dessa parte das nossas vidas, filhos e famílias de ex-combatentes que sofreram de modo diverso o nosso envolvimento, artistas que em algum tempo elegeram o tema como justificação dos seus trabalhos, investigadores armados de método ou simples observadores da guerra e das suas consequências então e hoje.

Grande abraço
José Brás
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8443: Agenda cultural (136): Colóquio/Debate OS FILHOS DA GUERRA COLONIAL - Pós-memória e Representações, ocorrido nos dias 14 e 15 de Junho de 2011 no Auditório do CIUL; CES - Lisboa (José Brás)

(**) Vd. poste de Guiné 63/74 - P8406: Agenda Cultural (131): Lançamento do livro Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial, dia 15 de Junho de 2011, pelas 19 horas, no Auditório CIUL / Forum Picoas Plaza, Lisboa (José Brás)

Guiné 63/74 - P8446: Convívios (355): 12º Encontro da Tabanca do Centro, 29 de Junho (Joaquim Mexia Alves)


1. O nosso camarada Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, solicitou-nos a divulgação do próximo encontro da Tabanca do Centro:

12º Encontro da Tabanca do Centro

Postal da autoria do Miguel Pessoa feito já há uns tempos atrás

O 12º ENCONTRO DA TABANCA DO CENTRO, terá lugar no dia 29 de Junho, pelas 13.30 horas, na Pensão Montanha, em Monte Real, como sempre.


Escolhemos para este dia, uma ementa diferente, e portanto iremos comer um belíssimo Cozido à Portuguesa!O local de reunião, será no Café Central de Monte Real, pelas 13 horas.



As inscrições devem ser feitas até às 12 horas e 30 minutos do dia 27 de Junho aqui na caixa de comentários, ou por tabanca.centro@gmail.com, impreterivelmente.
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Nota de M.R.:


Guiné 63/74 - P8445: Parabéns a você (274): Tertuliano e amigo Leopoldo Amado, Historiador natural da Guiné-Bissau (Tertúlia / Editores)


PARABÉNS A VOCÊ

DIA 19 DE JUNHO DE 2011

LEOPOLDO AMADO

NESTE DIA DE FESTA, 

A TERTÚLIA E OS EDITORES DO BLOGUE LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ, 

VÊM POR ESTE MEIO DESEJAR 

AO NOSSO AMIGO LEOPOLDO AMADO, HISTORIADOR GUINEENSE, 

AS MAIORES FELICIDADES 

E UMA LONGA VIDA COM SAÚDE E MUITOS ÊXITOS, 

JUNTO DE SEUS FAMILIARES E AMIGOS.
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Notas de CV:

Leopoldo Amado é Doutorado em História Contemporânea pela Universidade Clássica de Lisboa (Faculdade Letras de Lisboa), sob a temática “Guerra Colonial da Guiné versus Luta de libertação Nacional (1961 – 1974)".

Vd. último poste da série de 17 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8431: Parabéns a você (273): Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872 (Tertúlia / Editores)