1. Continuação da apresentação do primeiro capítulo do próximo livro, "Quebo", de autoria do nosso camarada Rui Alexandrino Ferreira* (foto à direita) (ex-Alf Mil na CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67 e ex-Cap Mil na CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72):
COMPANHIA DE CAÇADORES 18
1. O BCaç 2892 e o Sector
S-2 no sul da Guiné-Bissau
Por Pezarat Correia
O Batalhão de Caçadores 2892 (BCaç 2892), mobilizado no
Regimento de Infantaria 16, Évora, chegou à Guiné em 28 de Outubro de 1969 e,
em 10 de Novembro, assumiu a responsabilidade do Sector S-2, com sede em Aldeia
Formosa no sul do Teatro de Operações (TO) (Mapa 1), sob o
comando do Tenente-Coronel Rocha Peixoto e sendo 2.º comandante e oficial de
operações respectivamente os Majores Moura Sampaio e Pezarat Correia, este
último o subscritor destas linhas. Em Abril de 1970 o Tenente-Coronel Agostinho
Ferreira substituiria o Tenente-Coronel Rocha Peixoto no comando do batalhão.
O BCaç 2892 rendeu, no Sector S-2, o Comando Operacional
(COP) 4, tendo as suas companhias orgânicas ficado assim estacionadas:
Companhia de Comando e Serviços (CCS) em Aldeia Formosa, Companhia de Caçadores
(CCaç) 2614 em Nhala, CCaç 2615 em Aldeia Formosa e CCaç 2616 em Buba. Passou a
ser reforçado com mais 3 companhias operacionais que já se encontravam no
sector sob comando do COP 4, CCaç 2381 sedeada em Empada, Companhia de
Artilharia (CArt) 2519 em Mampatá e a CArt 2521 em Aldeia Formosa e com 3
Pelotões de Caçadores (PCaç) do recrutamento provincial, 55 em Chamarra, 68 em
Mampatá e 69 em Pate Embaló (Mapa 1).
O BCaç 2892 passou também a contar com o apoio, de combate
e logístico, de várias subunidades que já encontrou em sector, Pelotão de
Artilharia de Campanha (PAC) 14 cm em Aldeia Formosa, PAC 10,5 cm em Buba, 1
Pelotão de Morteiros (PMort) 2138 de 8,1 cm com sede em Buba mas com as suas
secções dispersas por Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Nhala, Pelotão de
Intendência (PInt) 2191 em Buba e Destacamento do Serviço de Transmissões
Militares (DSTM) em Aldeia Formosa. O Pelotão de Reconhecimento (PRec) Fox 2175
entrou em sector juntamente com o BCaç 2892 e ficou em Aldeia Formosa rendendo
o que aí anteriormente já se encontrava. Em Junho de 1971 o Sector S-2 passou a
contar também com o 2.º Pelotão da Bateria de Artilharia Anti-Aérea (BAAA)
3381, que ficou sedeado em Aldeia Formosa (Mapa 1).
Sob controlo operacional do BCaç 2892 passaram a estar
ainda o Destacamento de Fuzileiros Especiais (DFE) 3 sedeado em Buba, duas
Companhias de Milícias (CMil) em Empada e Mampatá, esta última com Pelotões de
Milícias (PMil) destacados em Aldeia Formosa, Nhala e Buba e um Grupo de
Caçadores Nativos (CNat) dispersos por Aldeia Formosa, Chamarra e Pate Embaló (Mapa 1).
Foi com estes meios, aparentemente numerosos, que o BCaç
2892 assumiu a responsabilidade operacional do Sector S-2 em 10 de Novembro de
1969, recebendo do General Comandante-Chefe, do qual, operacionalmente,
dependia directamente, a Directiva Operacional “Caça Grossa” que, nas suas
linhas gerais, configurava uma típica missão de quadrícula que se articulava em
quatro tarefas prioritárias:
- protecção aos trabalhos de
construção da pista para aterragem de aeronaves em Aldeia Formosa (temporária e
até à conclusão dos trabalhos, o que se verificou em Março de 1970);
- contrapenetração
nos eixos tradicionalmente usados pelo PAIGC para, a partir das suas bases na
República da Guiné reabastecer e rodar efectivos das suas bases no interior, em
Injassane (norte do Rio Grande de Buba) e em Xitole (norte do Rio Corubal);
- controlo da região de
Contabane, fronteiriça com a República da Guiné;
- condução da Acção Psico-Social
(APS), tendo como principais alvos as populações civis sob controlo das Nossas
Tropas (NT), as populações civis sob controlo do Inimigo (IN),
as populações civis sob duplo controlo e as NT.
Com base na Directiva Operacional
“Caça Grossa” e em resultado de detalhado Estudo de Situação a que se procedeu,
o comandante do BCaç 2892 elaborou a sua própria Ideia de Manobra na qual
fundamentou o Plano Operacional do Batalhão que se chamou “Galgos Ligeiros”, onde
constavam as missões para as suas diversas subunidades e cujo esforço deveria incidir:
- nas acções de
contrapenetração, especialmente sobre o chamado “corredor de Missirã” e sua
derivação do “corredor de Buba” que, prolongando o “corredor de Guileje”,
constituíam os principais eixos de abastecimentos do PAIGC para o interior sul,
nomeadamente para as regiões de Injassane e Xitole, a partir das suas bases na
República da Guiné (Mapa 2);
- complementarmente, no controlo
das respectivas Áreas de Responsabilidade (AR), através de uma constante
nomadização e de acções dinâmicas de segurança próxima dos estacionamentos
(emboscadas nas imediações das zonas mais favoráveis aos grupos do PAIGC para
instalação de bases de fogos para flagelações).
Todas as companhias operacionais, orgânicas e de reforço,
ficaram, assim, com AR atribuídas, em missões de quadrícula que preenchiam toda
a AR do Sector S-2, inclusive a CCS a quem coube a área envolvente de Aldeia
Formosa incluindo os PCaç de Chamarra e Pate Embaló. A única excepção foi a
CArt 2521, à qual não foi atribuída AR e que recebeu a missão de unidade de
reserva, actuando como força de intervenção do Comando do Sector,
prioritariamente destinada a reforçar as acções de contrapenetração no
“corredor de Missirã” e em acções de controlo da região de Contabane na
fronteira com a República da Guiné. Outro caso particular foi o do DFE, que nem
incluo como excepção, uma vez que estava apenas sob controlo operacional do
BCaç 2892 e a sua missão, definida pelo próprio Comando-Chefe, estava
objectivamente orientada para o controlo do Rio Grande de Buba e seus
afluentes, em especial para os locais mais favoráveis à “cambança” (travessia)
dos guerrilheiros e reabastecimentos do PAIGC o que, obviamente, também se
inscrevia na missão da contrapenetração. Mas o Comando do Sector S-2 podia
utilizar o DFE – e utilizou-o excepcionalmente – como unidade de intervenção do
sector. Apesar de ter sido várias vezes rendido o Sector S-2 nunca deixou de
contar com a presença de um DFE em Buba.
Estas preocupações especiais do
Sector S-2 com a contrapenetração, para além de corresponderem à missão
recebida do General Comandante-Chefe, são facilmente compreensíveis se atendermos
à sua posição na quadrícula da zona sul do TO da Guiné (Mapa 3). A Zona de Acção (ZA) do Sector S-2 deveria constituir um
verdadeiro tampão contra a infiltração das colunas do PAIGC vindas do litoral
norte da República da Guiné, uma vez que se estendia desde a fronteira com a
região de Cansembel, a leste, até ao mar (Canal de Bubaque), a ocidente,
procurando isolar a região de Cantanhês, uma das mais fortes do PAIGC. No
entanto e apesar da aparente riqueza de meios de que o Sector S-2 dispunha –
riqueza apenas efectiva se comparada com as quadrículas em Angola e Moçambique,
mas absolutamente ilusória face às condições objectivas da Guiné e, por isso,
atrás lhe chamámos aparente –, a contrapenetração nunca foi eficaz, nem neste
nem em qualquer outro sector da Guiné. Como não foi em Moçambique, nem em
Angola, nem na Indochina, nem na Argélia. A rede de emboscadas da manobra de
contrapenetração era mais do que insuficiente, a incontornável rotina da permanência
sobre o corredor (o “carreiro” como lhe chamavam os nossos militares), fez com
que o PAIGC se fosse apercebendo dos locais preferentemente escolhidos para a
sua montagem, jogando habilmente com os horários de instalação e levantamento,
aguardando os momentos oportunos para passarem em segurança. Bons conhecedores
do terreno contornavam as emboscadas com facilidade e efectuavam manobras de
diversão, ameaçando nuns locais ou provocando encontros noutros para passarem
ao lado. Várias intercepções as NT conseguiram, algumas com assinaláveis
resultados, mas as colunas e grupos do PAIGC nunca deixaram de passar, as suas
bases no interior nunca deixaram de ser abastecidas e os seus efectivos nunca
deixaram de ser rendidos e reforçados.
Como oficial de operações do BCaç
2892 tive ocasião de percorrer, a pé, toda a ZA do Sector S-2. Observei
pessoalmente muitos dos trilhos que constituíam os corredores de Missirã e de
Buba e os locais onde as NT montavam emboscadas. Percorri também assiduamente em
coluna auto a estrada Buba-Aldeia Formosa que constituía o eixo nevrálgico do
Sector e conhecia bem a zona vista do ar, que sobrevoei muitas vezes.
Testemunhei, por isso, as dificuldades e fragilidades da acção de
contrapenetração. Os corredores não proporcionavam locais ideais para montagem
de emboscadas, longe disso. A ausência de elevações de terreno e a mata densa
não permitiam observação a distância, o trilho era uma longa recta sem curvas
apertadas, sem desfiladeiros, sem pontes ou zonas não torneáveis. Havia
meia-dúzia de lugares mais favoráveis, nomeadamente algumas clareiras ou
bolanhas mas, esses, o IN conhecia-os bem, evitava-os ou, se os atravessava,
rodeava-se de precauções especiais. Acresce que as NT tinham de estar, em
permanência, 24 horas emboscadas, tinham de variar os locais vendo-se obrigados
a escolher, por vezes, posições menos apropriadas mas a que não podiam fugir, sob
pena de se tornarem, não apenas inúteis porque detectáveis, como alvos fáceis
para flagelações do IN. Era um tipo de actividade que, por ser tão aleatória, se
tornava cansativa e frustrante. Os Grupos de Combate (GC)
das várias companhias empenhadas na contrapenetração, de Buba, Nhala, Mampatá e
Aldeia Formosa passavam, de 3 em 3 ou de 4 em 4 dias, 24 horas emboscados nos
“carreiros”, actividade que, por vezes, se reforçava com GC da companhia de
reserva. Era uma rede de emboscadas dispersa e os GC, obviamente, nunca se
rendiam uns aos outros no mesmo local. Ao fim de poucos meses os militares estavam
esgotados, saturados e o silêncio absoluto necessário para o êxito nas
emboscadas era progressivamente afrouxado. Os guerrilheiros do PAIGC, experientes,
com muitos anos de guerra, intimamente conhecedores do terreno, quase
“adivinhavam” os locais das emboscadas, que detectavam através dos trilhos que
as NT deixavam no terreno para os atingirem. Por tudo isto foram muito escassas
as intercepções conseguidas mas, mesmo assim, o mais espantoso terá sido
terem-se conseguido essas poucas. De uma maneira geral, quando se efectuavam
operações de maior envergadura no corredor de Missirã obtinham-se melhores
resultados, mas essa não era a opção táctica do General Comandante-Chefe que
desejava uma presença permanente na rede de emboscadas a que atribuía um papel
dissuasor mas que, na realidade, não funcionava como tal. E este empenhamento
permanente não deixava disponíveis efectivos para efectuar operações mais
rentáveis.
Vale a pena contar aqui uma história real, relacionada com
esta matéria. Em 9 de Junho de 1970 um GC da CCaç 2614, de Nhala, emboscada no
corredor de Missirã, intercepta uma coluna do PAIGC. Houve intensa troca de
tiros e baixas de parte a parte. As NT sofreram três mortos e quatro feridos
mas, com excepção de um morto causado por fogo IN, as restantes baixas resultaram
de um acidente com o dilagrama.
Era um acidente infelizmente muito vulgar pois, na tensão do combate, por vezes
o atirador de dilagrama perturbava-se na troca de carregadores e acabava por accionar
o dilagrama com a munição normal, o que provocava o rebentamento da granada à boca
da arma com resultados funestos, para o próprio atirador e para os camaradas que
lhe estavam mais próximos. Quando na sede do batalhão recebi, em cima da hora,
a informação rádio do incidente e os pedidos de evacuação, falei imediatamente
com o comandante e concluímos que deveríamos ir rapidamente ao local da
emboscada, com a presença no local do GC interveniente e, aí, analisarmos as
condições em que tinha ocorrido o contacto de fogo. Até porque, a experiência
nos ditava, o General Comandante-Chefe, mais tarde ou mais cedo e como era seu
hábito, quereria ir ver o que se passara e era importante estarmos previamente
esclarecidos. Assim fizemos e poucos dias depois o GC estava de novo emboscado
no mesmo local e eu acompanhei o Comandante do Batalhão, idos de Aldeia Formosa
com outro GC. À chegada constatámos que o local da emboscada correspondia,
dentro dos condicionamentos atrás descritos, a uma escolha criteriosa, que
houvera uma boa aproximação pelo meio da mata sem deixar vestígios e o
dispositivo era perfeitamente aceitável e, a verdade, é que o IN até tinha nele
penetrado sem o ter detectado. Apenas o incidente do dilagrama impedira um
maior sucesso operacional. De qualquer forma lembro-me de ter prevenido o
comandante – o tenente-coronel Agostinho Ferreira, um excelente comandante,
experiente, que já ia na segunda comissão no comando de batalhão na Guiné em
zona operacional, muito dinâmico e sempre disponível para se integrar
pessoalmente em operações – que tínhamos de munir-nos de argumentação sólida
pois o General Spínola devia vir de “faca afiada” para desancar a emboscada.
Não nos enganámos. Avisámos o Comando-Chefe do resultado da nossa análise no
local e, no dia seguinte recebíamos uma mensagem avisando que o General Spínola
se deslocaria em dia que indicava ao local da emboscada, onde deveria estar o
GC envolvido na acção, reproduzindo o mesmo dispositivo e ainda o Comandante e
o Oficial de Operações do Batalhão. Com o GC que nos escoltara a partir de
Aldeia Formosa montámos a segurança num local onde aterrou o helicóptero que
transportava o general, que chegou com o seu Ajudante-de-Campo e com o Chefe da
Repartição de Operações. Dirigimo-nos imediatamente para o local da emboscada e
ao chegarmos e quando dissemos “É aqui”, o general parou, ajeitou o monóculo, olhou
à sua volta e, apontando o inseparável “pingalim”, ripostou de imediato “Aqui é
que eu nunca montaria uma emboscada”. O Comandante do Batalhão e eu trocámos um
olhar cúmplice, nada surpreendidos e respondemos de imediato: “Foi o possível
para quem tem de mudar todos os dias; este nem é dos piores e a verdade é que o
IN até caiu na emboscada. E posições ideais para emboscadas só se encontram em
caixas de areia e em temas escolares”. Certo é que Spínola até nem alimentou a
controvérsia. Falou com o pessoal que participara na emboscada, inteirou-se das
condições em que decorrera o contacto de fogo e deu-se por satisfeito. Afinal
ele até gostava que argumentassem com ele, apreciava a combatividade de quem
lutava pelo que achava certo.
Nas salas de operações do Comando-Chefe tinha-se uma
percepção teórica da potencial eficácia da contrapenetração e queriam
resultados diários. Mas a realidade no terreno era bem outra. Esta diferente
perspectiva alimentou um conflito permanente entre as unidades de quadrícula e
o Quartel-General (QG), independentemente de quem estava nas respectivas
funções. Operacionais e “ar condicionado” sempre fizeram guerras diferentes, em
todas as épocas e em todos os lugares.
Há um outro aspecto que interessa assinalar e que contribuía
para a fragilidade da contrapenetração. Uma das inovações corajosamente
assumidas pelo General Spínola quando, em 1968, assumiu o Governo e Comando-Chefe
da Guiné, na sequência do Estudo de Situação que mandou elaborar, foi o
reconhecimento de que havia áreas do TO que se encontravam sob controlo do
PAIGC e, perante isso, tomou a decisão de proceder a uma profunda remodelação
do dispositivo de quadrícula – aquilo a que se pode chamar uma retracção do
dispositivo – e à reformulação da conduta operacional. Algumas guarnições das
NT que estavam completamente cercadas nessas áreas, sem possibilidade de
desenvolverem qualquer actividade operacional útil para além de defenderem as
suas instalações e que representavam um enorme e não compensador encargo
logístico, foram mesmo totalmente abandonadas pelas NT. Essas áreas passaram,
justificadamente, a ser exibidas pelo PAIGC como áreas libertadas onde
proporcionavam visitas a representações estrangeiras. O exemplo tragicamente
mais assinalável foi o de Madina do Boé, a mais extensa e situada no SE do TO, onde
em Setembro de 1973 o PAIGC declararia unilateralmente a independência da
República da Guiné-Bissau. E digo tragicamente porque, quando da retirada da
última guarnição militar portuguesa, a travessia para norte do Rio Corubal foi
marcada pelo acidente de uma jangada que causou quase cinco dezenas de mortos
às NT, entre militares e milícias. Este reconhecimento de que havia áreas do TO
sob controlo do PAIGC levou o Comando-Chefe a delimitá-las dentro das ZA dos
respectivos Sectores, com a designação de Zonas de Intervenção do Comando-Chefe
(ZICC), nas quais às unidades de quadrícula estava vedado conduzir actividade operacional
sem autorização do Comando-Chefe, até porque eram áreas de bombardeamento
sistemático da Força Aérea que poderiam atingir as NT se aí estivessem em operações
sem conhecimento superior. Passaram a ser zonas reservadas a operações de
iniciativa do Comando-Chefe, com as suas unidades de intervenção na base de
forças especiais (paraquedistas, fuzileiros, comandos ou grupos especiais), desencadeadas
quando recortava notícias indiciadoras de objectivos remuneradores e com as
quais, por vezes, colaboravam as unidades da respectiva quadrícula. Foi, por
exemplo, numa dessas ZICC, no limite que separava o sul da ZA do Sector S-2 com
o norte da ZA do Sector S-3, no mítico “corredor de Guilege”, que forças
paraquedistas emboscaram a coluna do PAIGC na qual se integrava o cubano Capitão
Peralta, que foi ferido e capturado. Esta operação verificou-se entre 16 e 19
de Novembro de 1969, pouco depois de o BCaç 2892 ter assumido a
responsabilidade do Sector S-2 (10 Nov).
É claro que estas ZICC se transformaram (ou melhor se
reforçaram porque já o eram) em bastiões do PAIGC, com muita população sob seu
controlo e boas zonas de cultivo de arroz e criação de gado. No sul da Guiné as
zonas mais férteis para a agricultura estavam todas nas mãos do PAIGC. Os seus
grupos circulavam aí com algum à-vontade e tinham bases de apoio aos
guerrilheiros, tornando muito mais curtos e menos vulneráveis os troços dos
corredores de abastecimento susceptíveis de serem interceptados pela
contrapenetração. Na ZA do Sector S-2, quando o BCaç 2892 assumiu a sua
responsabilidade, as ZICC representavam, em superfície, quase 50% da área total
do sector (Mapa
4).
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A designação de Inimigo (IN) não deve ser entendida
com um sentido calunioso ou depreciativo, nem subentende qualquer valoração,
como por vezes, fora do meio militar, se tende, erradamente, a interpretar. Na
terminologia técnica militar e em tempo de guerra o inimigo é o outro, o que se
opõe às NT e que é sempre identificado pela sigla IN. Aliás, na Guiné, os
militares portugueses respeitavam o PAIGC como movimento de libertação e os
seus combatentes como guerrilheiros valorosos, que, apesar de serem apelidados,
na linguagem corrente da época, de terroristas, na realidade nunca optaram por
acções terroristas.