domingo, 12 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10255: Bibliografia de uma guerra (62): Primeiro Capítulo do próximo livro "Quebo", de Rui Alexandrino Ferreira (3): Primeira parte do depoimento do Major General Pezarat Correia (2)

1. Fim da apresentação do primeiro capítulo do próximo livro, "Quebo", de autoria do nosso camarada Rui Alexandrino Ferreira* (foto à esquerda) (ex-Alf Mil na CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67 e ex-Cap Mil na CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72):


COMPANHIA DE CAÇADORES 18


2. A CCaç 18 em reforço do Sector S-2


Por Pezarat Correia

Foi neste ambiente geográfico, humano e operacional que, em Janeiro de 1971, se integrou a Companhia de Caçadores 18 (CCaç 18), comandada pelo Capitão Rui Alexandrino Ferreira e que tinha sido acabada de formar na própria Guiné. A atribuição desta companhia não ia constituir uma surpresa para o Comando do BCaç 2892, nem a área de actuação e a correspondente missão seriam novidade para grande parte do pessoal da Companhia.

O Comando do BCaç 2892 soubera, já não recordo através de que vias, que a CArt 2521, que lhe estava atribuída de reforço e que estava a terminar a sua comissão, iria ser rendida por uma companhia da guarnição normal, isto é, a formar na Guiné e, predominantemente na base do recrutamento regional, da etnia fula, portanto. Aliás isto era voz corrente na tabanca, onde muitos desses militares tinham família e o que se sabia na tabanca sabia-se no quartel e vice-versa. Tal significava que parte do pessoal seria oriundo da região do Quebo cujo regulado tinha sede em Aldeia Formosa. Alguns deles já tinham mesmo experiência operacional, pois haviam pertencido aos pelotões de milícias e caçadores nativos, sob controlo operacional do Comando do Sector S-2. Estavam intimamente familiarizados com o terreno e com as populações, conheciam as formas de actuar do PAIGC na região, não lhes era estranho o ambiente dentro do BCaç 2892 e das suas Companhias e a forma de actuação do seu Comando. Sabia-se ainda que o comandante da companhia era um capitão miliciano, em segunda comissão na Guiné e, portanto, voluntário, que na anterior comissão, como subalterno, se distinguira brilhantemente na sua actividade operacional tendo sido condecorado com uma Cruz de Guerra de 1.ª Classe. Havia, portanto, de parte a parte, uma expectativa positiva com a entrada em sector da CCaç 18.

A Companhia chegou a Aldeia Formosa em 17 de Janeiro de 1971, na coluna logística que nesse dia regressou de Buba, onde chegara na véspera vindo de Bissau em Lancha de Desembarque Grande (LDG), da Marinha de Guerra. Era já noite e no Batalhão preparara-se uma recepção modesta mas, tanto quanto possível acolhedora. Depois de instalado todo o pessoal, reuniram-se os oficiais na velha e acanhada casa de tipo colonial que servia de messe de oficiais, com uns frugais aperitivos (a inevitável mancarra e castanha de caju em lata, insípidos bocados de queijo e fiambre de conserva) para acompanhar uns whiskies e cervejas e dar as boas-vindas aos recém-chegados. Mas as primeiras impressões foram algo frustrantes. Não pelos subalternos, naturalmente ansiosos, certamente desiludidos com as péssimas condições do aquartelamento, desordenado, mal iluminado, predominando o enquadramento operacional, arame farpado, torreões, trincheiras, abrigos. Os veteranos, todos com mais de um ano de comissão, olhavam sobranceiramente, como sempre se olhavam os novos “periquitos”. A frustração vinha do capitão, parecendo pouco comunicativo, mal-encarado, senão mesmo desconfiado. Deitámo-nos cedo, como habitualmente e o pessoal da CCaç 18 vinha “estoirado” e precisava de descanso. No dia seguinte as impressões alteraram-se radicalmente. Para melhor, muito melhor. O Capitão Rui (como rapidamente passou a ser conhecido), apareceu bem-disposto, conversador, irónico, cheio de iniciativa. Afinal ele vinha, na véspera, a sair de uma crise de paludismo que, com o cansaço da viagem, era o responsável pelo seu humor enganador. O dinamismo com que imediatamente começou a tratar da instalação da Companhia, a preparar metódica e eficazmente o treino operacional e a sobreposição com a CArt 2521, a integrar-se no ambiente geral e na missão que lhe ia ser atribuída, justificou as mais optimistas perspectivas. E rapidamente daria provas.

Consultando os registos de que disponho verifico que, em 19 de Fevereiro de 1971, ainda em período de sobreposição com a CArt 2521, a CCaç 18, a dois GC e comandada pelo seu Capitão, actuava pela primeira vez no corredor de Missirã. Os resultados foram significativos e revelaram uma boa acção de comando e uma conduta eficaz (aí estava mais um êxito de uma operação que fugia à rotina diária do GC emboscado passivamente). As tropas emboscadas detectaram um movimento no “carreiro”, verificando que era apenas um elemento isolado (no “carreiro” já se sabia, quem nele se deslocava e não fosse das NT era IN). Revelando uma serenidade notável para uma acção de estreia em que a tensão é sempre muito elevada e propiciadora de precipitações, o dispositivo deixou passar esse elemento concluindo que seria um explorador avançado e não se denunciou, o que só terá sido possível pela acção experiente do comandante se bem que, deve salientar-se, a Companhia contasse com combatentes já experimentados como milícias e caçadores nativos. Conseguiu manter a emboscada atenta e, passadas cerca de duas horas e meia, surge o grosso da coluna do PAIGC, com avultados reabastecimentos em material de guerra, logístico e diverso. Só então a emboscada foi desencadeada, desbaratando a coluna IN que, experiente em combate e conhecedora do terreno, reagiu pelo fogo e dispersou mas deixando no terreno a maior parte do material que era transportado por carregadores e não por guerrilheiros. Estes não perderam nenhuma das suas armas individuais. O Capitão Rui não considerou a operação terminada como, provavelmente, muitos outros o fariam, reorganizou as suas tropas e transferiu a emboscada para outro local mais adiantado em relação ao sentido de marcha do grupo do PAIGC que, entretanto, também se recompusera. Uma hora mais tarde verifica-se novo contacto de fogo em que a CCaç 18 causou baixas ao IN e lhe capturou armamento. A acção mereceu referências elogiosas do Comandante-Chefe, General Spínola.

Cinco dias mais tarde a CCaç 18 assumia integralmente a sua missão como unidade de reserva (intervenção) do Sector S-2. Em 30 de Junho um GC da companhia tem um novo contacto no corredor de Missirã e agora em missão de rotina na rede de emboscadas, com resultados menos favoráveis e sofrendo sete feridos ligeiros.

Quando o BCaç 2892 foi rendido pelo BCaç 3852, que assumiu a responsabilidade do Sector S-2 em 26 de Agosto de 1971, a CCaç 18 passou a reforçar o novo Batalhão e, já experiente e com provas dadas, constituiu para ele uma unidade fundamental. Em 13 de Janeiro e 8 de Fevereiro de 1972 voltou a registar vultosos resultados em novos contactos no corredor de Missirã, dos quais o Rui me ia mantendo informado através de correspondência que trocávamos.

Mas a acção do Capitão Rui e da sua Companhia não sobressaiu apenas na actividade operacional. Pela sua maneira de ser expansiva, relacionamento fácil e aberto, aproveitando muito bem a ligação que grande parte dos seus militares tinham com as populações locais, conseguiu estabelecer com estas relações estreitas, que lhe foram muito úteis no papel de relevo que desempenhou nas tarefas de reordenamento (escolha, planificação e construção de novos aldeamentos para as populações civis) na região de Aldeia Formosa, que constituiu uma missão importante do BCaç 2892.

O certo é que, muito justamente, em Junho de 1971, apenas 4 meses depois de ter assumido a sua missão no quadro do BCaç 2892, o Capitão Rui foi louvado pelo Comandante deste. E, ao terminar a sua comissão nos finais de 1972, foi condecorado com uma nova Cruz de Guerra de 1.ª Classe. Mas, atenção, Rui Alexandrino Ferreira, Capitão Miliciano, era um combatente de eleição mas não era um belicista sádico ou vingativo. Tinha sentido de missão, procurava cumpri-la bem, sem alardes ou exageros. Era racional e respeitava o adversário.

Justifica-se aqui uma breve reflexão que, excedendo a mera apreciação da actuação da CCaç 18, me parece oportuna. Cumprir bem as missões de combate, logo num contexto de guerra, isto é, fazer bem a guerra, não implica que se goste da guerra ou, mesmo, que se concorde com ela. E não há nada de paradoxal nisto.

Quem é mobilizado para combater numa guerra tem duas opções antes de se encontrar perante o facto consumado: ou recusa liminarmente o seu contributo e deserta, ou vai. Mesmo contrariado, até eventualmente revoltado, mas vai. Esta delicada questão colocava complexos problemas de consciência dadas as conexões políticas da guerra colonial. Evidentemente que todas as guerras têm conexões políticas (a guerra é a continuação da política por outros meios, Clausewitz dixit) mas a guerra colonial levantava o problema da legitimidade política, uma vez que era determinada por um regime político que não resultava de uma escolha democrática dos cidadãos, era uma ditadura assente na repressão e na recusa dos direitos fundamentais. A guerra colonial era a expressão dessa política ilegítima nas colónias e os militares eram seus instrumentos. Respeito os que assumiram desertar por convicções legítimas, por vezes forçados a rupturas radicais nas suas vidas, rupturas dolorosas, enfrentando riscos e situações muito precárias. Foram actos de coragem. Mas também sabemos que sob a capa de motivações respeitáveis houve quem desertasse por mero comodismo, porque dispunha de condições materiais para enfrentar um exílio dourado, sustentado pelas famílias que os visitavam com frequência, sem que tivesse sobre a guerra e a situação política qualquer objecção de consciência ou rejeição ideológica. Para os militares dos quadros permanentes a mera admissão da deserção era mais traumática e, em tempo de guerra, envolvia o anátema da traição, da cobardia, do abandono “perante” o IN, colocando por isso delicados dilemas no campo moral e ético. Era uma opção extremamente problemática, particularmente quando se tinha de deixar mulher e filhos cuja subsistência estava a seu cargo. Mesmo assim houve quem, honesta e temerariamente, fizesse essa opção.

Para quem não podia, ou não queria, seguir o caminho da deserção, a alternativa era só uma, ir à guerra. E, uma vez na zona de combate, em operações, face ao IN, cumprir e cumprir bem ou não cumprir e cumprir mal, podia significar a diferença entre sobreviver ou morrer, não apenas para o próprio mas para os que o acompanhavam. Isto era especialmente verdadeiro para quem tinha responsabilidades de comando, quando dos seus actos não dependia apenas a sua integridade pessoal, mas também a dos seus comandados. As decisões de um comandante em campanha não têm um mero alcance individual ou egoísta, envolvem sempre os seus comandados e, por isso, não tem o direito de, por não concordar com a guerra, recusar ou abrandar a actividade operacional, desmotivar-se a si e aos seus subordinados, dar, pela sua passividade, todos os trunfos ao adversário. Para além de profissionalmente condenável seria eticamente inaceitável que, por causa das suas convicções, por muito louváveis que as considerasse, pusesse em risco a integridade física, a vida dos homens que dependiam e confiavam na sua acção de comando. Este era um problema humano de uma enorme delicadeza, que se colocou a muitos oficiais e testemunho-o por experiência própria. O comandante não só tinha de cumprir e cumprir bem, como tinha que fazer com que os seus subordinados cumprissem e cumprissem bem.

Mas, então, e aqueles que já tinham, ou foram adquirindo consciência cívica, inteirando-se da injustiça da guerra e dos interesses reais que esta servia, da natureza perversa do sistema colonial e da ditadura na metrópole a que estava associado? Como conciliar estas convicções político-ideológicas com as suas obrigações de comandante? A solução só poderia ser aguentar os riscos materiais e os custos morais de uma guerra com a qual se discordava, exercer com sacrifício mas com honra a sua acção de comando e tratar de aproveitar o próprio paradoxo da guerra, as contradições que introduzia no sistema, para alimentar as fragilidades que iam minando o regime, tornando inevitável o seu derrube e, no momento oportuno estar no lado certo e com as pessoas certas para lhe aplicarem o golpe decisivo. As imposições éticas que tinham com os seus homens, com os seus comandados, não as tinham para com os responsáveis políticos nas alcatifas do poder que, como atrás assinalei, nem sequer era legítimo e era, esse sim, o responsável pelas verdadeiras causas e perversões da guerra. Em relação ao poder político ilegítimo e ditatorial, a obrigação do militar consciente era colocar-se do lado do povo, revoltar-se e derrubá-lo. E foi isso que veio a acontecer mas levou tempo a amadurecer. A própria guerra se encarregou de gerar os factores e os agentes que estariam na base do derrube do regime que levara à guerra e era agora dela prisioneiro.

Não estou a dizer que esta tipificação se aplicasse ao Capitão Rui Ferreira. O que quero dizer é que, em termos teóricos, é deslocado identificar, linearmente, bom combatente e apologista da guerra, bom combatente da guerra colonial e defensor do sistema colonial. A segurança e a vida dos seus homens, a mais importante obrigação de um chefe, obriga um comandante, uma vez que aceitou assumir o comando de uma unidade, a comandar bem. E nesse particular não tenho dúvidas, o Capitão Rui Alexandrino Ferreira foi um excelente comandante de companhia em campanha e um excepcional condutor de homens. Posso testemunhá-lo porque convivi com ele directamente durante oito meses, em ambiente de campanha e de guerra, acompanhei-o algumas vezes nas saídas para o mato e, afirmo-o convictamente, ao longo da minha experiência de trinta e seis anos de serviço militar efectivo, na grande maioria em contacto com as tropas e em todos os sucessivos escalões de comando, com seis comissões na Índia e em África desde alferes a major, o Capitão Rui Alexandrino Ferreira foi dos melhores condutores de homens que me foi dado conhecer.

Há uma característica da liderança que considero o tempero decisivo capaz de conferir virtude a determinados atributos de comando que, sem ela, podem tornar-se excessivos e transformar-se em defeitos perversos. Refiro-me ao bom senso, o equilíbrio moderador que impede que a coragem resvale para temeridade gratuita empurrando os seus homens para riscos desnecessários, que evita que o culto da disciplina dê lugar ao autoritarismo desumano, que a tolerância resvale para o laxismo, que o gosto pela decisão rápida caia na precipitação, que o excesso de ponderação conduza à hesitação. O bom senso confere sangue frio nas situações de pressão emocional, presença de espírito quando à volta se instala a ansiedade. É uma virtude que, normalmente se adquire com a idade, com a experiência, com a dimensão da responsabilidade. Mas, apesar da sua juventude, o Capitão Rui Alexandrino Ferreira aliava ao seu entusiasmo contagiante uma notável dose de bom senso, o que lhe permitiu aplicar a sua coragem, o seu sentido de disciplina, o seu gosto pela decisão, na medida e no sentido convenientes. Não estou a fazer um elogio fácil. Não devemos nada um ao outro nem pretendemos nada um do outro. Estou apenas a registar uma opinião madura e consolidada, que é a minha.

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Mas há ainda uma outra característica do Rui Alexandrino Ferreira que me interessa destacar. É a sua faceta humana, a facilidade para conquistar e cultivar amizades, a sua disponibilidade para conviver, para colaborar e para ajudar, o que também foi um trunfo na sua elevada capacidade de liderança.

Em Aldeia Formosa as instalações eram muito deficientes, nomeadamente as dos oficiais, bem piores do que as dos sargentos e as das praças, cujas casernas foram as primeiras a serem concluídas depois da chegada do BCaç 2892. Quando este foi rendido estava ainda em construção um novo edifício de quartos para oficiais que só veio a ficar concluído depois da sua rendição pelo BCaç 3852.

O Rui resolveu alugar uma casa rudimentar na tabanca, fora do perímetro do quartel e aí se instalou com os seus oficiais subalternos. Era pouco mais do que uma palhota melhorada, coberta a zinco, mas ampla e os seus novos residentes fizeram os arranjos possíveis, com cartazes (do tipo das motivações mais correntes em ambientes masculinos e bélicos), com boa instalação sonora, com um conforto mínimo. Era um oásis dentro de Aldeia Formosa e passou a ser o local de convívio para muitos oficiais, incluindo o Comandante, Segundo-Comandante e Oficial de Operações, que ali iam à noite beber uns copos, ouvir música (predominando a música da época, do pós-década de sessenta, de intervenção e contestatária), falar com liberdade de tudo, sem mesmo deixar de lado temas mais incómodos, culturais, sociais ou políticos. Às vezes chegava-se ali vindo de actividade operacional e saia-se a correr para responder às flagelações dos grupos do PAIGC.

O Rui tinha um relacionamento muito próximo com todo o seu pessoal, oficiais sargentos e praças, sem nunca ter sido beliscado o seu ascendente de líder natural. Mas também eram muito boas as suas relações com os camaradas das outras subunidades e com os oficiais superiores do Batalhão sem que daí resultasse a mínima perturbação para os condicionamentos hierárquicos. A “palhota” da CCaç 18 era um sítio onde todos se sentiam bem, desinibidos e descontraídos. 

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3. Para além da CCaç 18

Pela minha parte felicito-me por ter feito com o Rui uma sã amizade.

Depois do seu regresso da Guiné, finais de 1972 princípios de 1973, antes de nova mobilização minha, restabelecemos a nossa relação que, aliás, nunca interrompêramos completamente pois mantivemos alguma troca de correspondência. Ele pretendia continuar ao serviço do Exército e queria ir para Angola, de onde era natural, onde crescera até vir para Portugal para a tropa, onde tinha a sua família há várias gerações (na então cidade de Sá da Bandeira, actual Lubango) e onde queria fixar-se. Em meados de 1973 iniciei uma nova comissão em Angola, tendo sido convidado para ir chefiar o Gabinete das Forças Auxiliares na Zona Militar Leste (GFA/ZML) com sede na cidade do Luso (hoje Luena), que incluía as força estrangeiras catanguesas (nome de código Fiéis), zambianas (Leais) e os angolanos Grupos Especiais (GE). Convidei o Rui, que entretanto se tinha oferecido para nova comissão em Angola, para ir trabalhar comigo, isto é para, uma vez eu chegado a Angola propor a sua nomeação para um dos lugares de adjuntos no GFA/ZML, alguns dos quais eram destacados junto dos campos dos Fiéis e Leais. Aceitou, em princípio, mas ficou combinado que, assim que chegasse a Luanda entraria em contacto comigo. Assim fez mas, entretanto, ficou colocado em Luanda onde sua mulher – tinha acabado de se casar – também tinha aí emprego. Não fazia sentido que ele fosse para o leste nessas condições apesar de eu ter gostado muito de ter contado com a sua valiosa colaboração.

Estas palavras finais já ultrapassam o espaço temporal sobre o qual o Rui me convidou para contribuir com o meu modesto depoimento – aquele que cruzou as rotas da CCaç 18 e do BCaç 2892. Mas justifica-se porque invoca uma amizade que resultou desse cruzamento. Depois seguiram-se os anos, trinta e quatro longos, agitados e riquíssimos anos. Por vezes posicionámo-nos diversamente em relação a determinadas rupturas e evoluções posteriores a 1974 mas nunca, tenho a convicção disso, em relação aos fundamentos e aos princípios que de então para cá mudaram Portugal, o Mundo e a sua Terra, Angola. Mas estas já são outras matérias que excedem o objectivo destas linhas. Creio que temos dado provas, de parte a parte, que mantemos uma sólida amizade e nos respeitamos mutuamente. A CCaç 18 está na origem dessa amizade. A sua invocação ajusta-se plenamente neste livro em que o hoje Tenente-Coronel Rui Alexandrino Ferreira quis registar a memória da Companhia que, brilhantemente, formou e comandou, enquanto jovem Capitão, nas matas e bolanhas da Guiné.

PEDRO PEZARAT CORREIA
Dezembro de 2008

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Mapas a elaborar:

Mapa 1 - Guiné c/ localização do Sector S-2 e assinaladas as localidades onde estavam guarnições militares:
ALDEIA FORMOSA
CHAMARRA
PATE EMBALÓ
MAMPATÁ
NHALA
BUBA
EMPADA
Assinalar ainda:
CONTABANE
República da Guiné
Sectores limítrofes: S-1, S-3, L-1 e L-5
Mapa 2 - Sul da Guiné localizando os corredores de Guilege, de Missirã e de Buba e assinalando:
INJASSANE
XITOLE
Rio Grande de Buba
Rio Corubal
Mapa 3 - Guiné realçando a posição do Sector S-2 como tampão do sul do TO e assinalando:
CANTANHÊS
CANSEMBEL
Canal de Bubaque

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