domingo, 7 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14709: Os nossos seres, saberes e lazeres (98): A Ana Luísa Valente mais o José Manuel Lopes, a Quinta Senhora da Graça e o Pedro Milanos à vossa espera hoje, das 17h às 22h, nos jardins setecentista do Palácio do Marquês de Pombal, em Oeiras, no Festival de Vinhos Europeus e do Enoturismo


Oeiras > Jardins e Adega do Palácio do Marquês de Pombal > Festival de Vinhos Europeus e do Enoturismo, 6 de junho de 2015 > Aspeto parcial do recinto... Confesso que já não ia lá, ao palácio do marquês de Pombal, desde os tempos do INA - Instituto Nacional de Administração (que tinha aqui a sua sede, até â sua lamentável extinção; passou agora a ser uma obscura direção geral da qualificação dos trabalhadores da função pública; em contrapartida, o munícípio de oeiras ficou a ganhar a com o negócio; o palácio e os jardiins são visitáveis)...


Oeiras > Jardins e Adega do Palácio do Marquês de Pombal > Festival de Vinhos Europeus e do Enoturismo, 6 de junho de 2015 > A Luísa e a Alice


Oeiras > Jardins e Adega do Palácio do Marquês de Pombal > Festival de Vinhos Europeus e do Enoturismo, 6 de junho de 2015 > O produtor e nosso camarada, grã-tabanqueiro, José Manuel Lopes



Oeiras > Jardins e Adega do Palácio do Marquês de Pombal > Festival de Vinhos Europeus e do Enoturismo, 6 de junho de 2015 >  As marcas expostas


Oeiras > Jardins e Adega do Palácio do Marquês de Pombal > Festival de Vinhos Europeus e do Enoturismo, 6 de junho de 2015 > O Pedro Milanos Douro Doc Reserva, tinto 2011  (1)



 Oeiras > Jardins e Adega do Palácio do Marquês de Pombal > Festival de Vinhos Europeus e do Enoturismo, 6 de junho de 2015 > O Pedro Milanos Douro Doc Reserva, tinto 2011 (2)



Oeiras > Jardins e Adega do Palácio do Marquês de Pombal > Festival de Vinhos Europeus e do Enoturismo, 6 de junho de 2015 > Atuação do Rancho Folclórico Lavadeiras da Ribeira da Lage, Oeiras (1)



Oeiras > Jardins e Adega do Palácio do Marquês de Pombal > Festival de Vinhos Europeus e do Enoturismo, 6 de junho de 2015 > Atuação do Rancho Folclórico Lavadeiras da Ribeira da Lage, Oeiras (2) > Vídeo (2' 37''): o fandango... Santa ignorância minha, não sabia que também era dançado pelas mulheres, fora taberna... O fandango é uma dança, aos pares, que existe na península ibérica desde o séc. XVIII...Portanto, não é uma dança exclusiva dos homens nem sequer do Ribatejo...


Fotos (e vídeo): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados


1. Foram três dias dedicados ao deus Baco, ao senhor Vinho. Havia teoricamente a possibilidde de provar mais de mil vinhos, previamente selecionados e classificados por um conjunto de 70 jurados. A gastronomia (desde o choco frito ao leitão e à chanfana) também marcou presença, a par da farta e variada animação musical... O festival, que termina hoje,  tem entrada gratuita.

A abertura oficial deste Festival teve lugar no dia 5 de junho, às 18h00, nos Jardins stecentistas do Palácio do Marquês de Pombal, numa cerimónia em que foram divulgados os vinhos premiados no XIV Concurso Internacional “La Selezione del Sindaco” (a escolha do Presidente) - que se realizou em Oeiras nos últimos dias de Maio (29, 30 e 31) - e foi feita feita uma prova de vinhos das grandes medalhas.

 Para além dos vinhos do concurso, os visitantes puderam (e podem ainda, até ao fim deste domingo)  provar vinhos e produtos regionais apresentados por uma dezena e meia de municípios presentes na vertente enoturismo. Regiões  portuguesas presentes: Arcos de Valdevez; Cartaxo; Coruche; Lagoa; Mértola; Nelas; Oeiras; Ponte da Barca; Ponte de Lima; Reguengos de Monsaraz «Cidade Europeia do Vinho 2015»; Santa Marta Penaguião; Seia; Viana do Castelo; Vidigueira e as Rotas de Vinho de Bucelas, Carcavelos e Colares e da Península de Setúbal  .

A organização do evento foi da AMPV- Associação de Municípios Portugueses do Vinho e da Confraria dos Enófilos do Vinho de Carcavelos, com o apoio da Câmara Municipal de Oeiras e da ERT – Lisboa, Casa Ermelinda Freitas, Água do Luso, Delta Cafés e CP.

Ontem, o festival esteve animado com diversos grupos de música tradicional portuguesa.


2. Eu e a Alice fomos lá de propósito para dar um abraço à Luísa e ao José Manuel Lopes, o nosso camarada e poeta Josema.  A Quinta Senhora da Graça lá estava bem representava, no pavilhão do município de Santa Marta de Penaguião.

Claro que tivemos a oportunidade de, além do abraço e de dois dedos de conversa, beber um copo do último "Pedro Milanos Douro Doc,  reserva, tinto 2011" (enólogo: Vasco Lopes). É uma "grande pomada", com 14,5º!... Aquece o corpo, conforta a alma!

"Pedro Milanos"  é o anagrama de Armindo Lopes, pai (já falec ido) do nosso Zé Manel. Na sua pequena herdade de 3 hectares com vista largas, para o Marão e o Douro, o nosso camarada produz cerca de 11250 litros de vinho / 15 mil garrafas.  Principais castas do "Pedro Milanos": Touriga Nacional,  Touriga Franca,  Tinta Roriz,  Tinta Barroca, Malvasia Fina, Códego e Rabigato.  

Aqui fica o contacto da Quinta Senhora da Graça: telef 254 811 609 | telem 91665 1639 ou 91 335 1640.  No dia 10 de junho va receber um grupo de 17 (, camaradas nossos e acompanhantes). Há página no Facebook.

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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14694: Os nossos seres, saberes e lazeres (97): Tomar à la minuta (2) (Mário Beja Santos)


Guiné 63/74 - P14708: (Ex)citações (276): Sexo em tempo de guerra... De Ganturé ao Pilão (Mário Gaspar, ex-fur mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)



Guiné > Região de Tombali > Canturé > CART 1659 (166/68) > Foto nº 1  > A bajuda mais linda de Ganturé



Foto nº 2


Foto nº 3



Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6  > A primeira, do lado esquerdo, foi minha lavadeira


Foto nº 7


Guiné > Região de Tombali > Canturé > CART 1659 (1967/68) > Beldades de Canturé.


Fotos (e legendagem): © Mário Gaspar (2015). Todos os direitos reservados Edição: LG]



1. Texto enviado ontem pelo Mário Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68; e, como ele gosta de lembrar, Lapidador Principal de Primeira de Diamantes):



Assunto: Filhos da guerra



Caros Camaradas

Já enviei um texto sobre o tema, oara publicação … Nós nunca poderíamos ser "santinhos", nem ponho a hipótese de violações. A verdade é que o Soldado português era Homem.

Exibicionismo? Nunca assisti! No mínimo dos mínimos o que se fazia era pela calada da noite, naquilo que conheço.


Cumprimentos

Mário Vitorino Gaspar


2. Sexo em tempo de guerra: de Ganturé ao Pilão

por Mário Gaspar



O nosso Camarada Jorge Cabral disse,  no Cinema São Jorge no dia 22 de Maio último sobre o tema “Filhos da Guerra”: (i) que defendia a honra do soldado português na Guiné; (ii) que " não éramos emprenhadores compulsivos”; (iii) que 80 a 90% dos soldados portugueses na Guiné não tiveram relações sexuais…”;  e (iv) que "a prostituição organizada se restringia a Bissau…”. (*)

Por aqui fico. Estou totalmente de acordo com o Camarada, acrescento novamente:  aqueles que “não estavam virados do avesso” – não gosto dessa gente – tinham necessidades normais para a idade. Os soldados portugueses eram,  na grande maioria,   virgens e alguns perderam a virgindade na véspera da despedida da namorada ou noiva. Existem estudos sobre o tema e participei nos debates. É mesmo verdade. E estive lá, na Guiné, e fico pasmado com os camaradas que percorreram aquelas paragens e que contestam.

No meu Livro “0 Corredor da Morte”, no Capítulo 9 (“O Rebentamento Durante o Batuque”), pode-se ler:
Estamos em Ganturé, 4 de Julho de 1967 (…). Do outro lado,  uma das mulheres do régulo – a mais nova – dono e senhor da população e colaborador da nossa tropa, com o posto de tenente de 2.ª linha Abibo Injasso, dirigia-se para a habitação fronteiriça, com um aspecto bem diferente das outras, como se fosse a rainha. (…). A mulher mais nova daquele rei,  de olhos escuros e seios grandes e firmes, que se soltavam do corpo gracioso quando caminhava. Era esbelta. Vestia um pano com cores berrantes, enrolado da cintura até aos joelhos. Sorri-me, notando­‑lhe os lábios carnudos rompendo-lhe o rosto. Atraía-me aquela mulher, que há bem pouco pilava, como se de uma dança se tratasse. 

(…). Ouvia-se o batuque. Aquele som, era diferente, bem diferente dos bailes em Alhandra, normal­mente aos sábados. A música vinha com eles do ventre. Eram sons vivos e ritmados que convidavam à dança. A mulher mais nova do régulo avançava, seguramente em direcção do batuque. O enrolar da saia, aquele acto de enrolar, assemelhava-se decerto ao ritual do toureiro, quando veste o seu traje de luzes, enrolada da cintura para baixo, deixando ver um palmo acima do joelho, e antevendo-se o nu do corpo escuro e brilhante. Uma volta, e outra, que com o andar, deixavam ver as pernas bem torneadas, não no torno das oficinas da Fábrica Grande, mas no do nascimento. As ancas carnosas sentiam-se roçando, num movimento ligeiro e cadenciado, o tecido multicolor. Seguiam-se uns seios harmoniosos, espetados, com os bicos tenros ainda, de rosas. Era aquilo que nós chamávamos naquelas terras: - de “mama firme”. 

As relações sexuais eram impensáveis. Se o Abibo soubesse! Toda a que fosse apanhada com o branco, era severamente castigada, depois de sujeita a um “julgamento”, em que participavam “os homens grandes”. Funcionava o chicote, tal e qual como nos filmes de histórias da escravatura dos americanos. As madeiras das traves que sustentavam o alpendre daquela tabanca luxuosa, que não era luxo, serviam para amarrar as “pecadoras” que cometessem adultério. Depois funcionava o chicote. Eram os usos e costumes daquele povo onde o Abibo era rei e senhor. (…). 

Mesmo em frente lá estava o centro das atenções daquela festa, o famigerado batuque. Os ouvidos ficaram repentinamente presos ao corpo. Mulheres e crianças em círculo, rodeavam os músicos munidos de tambores artesanais. As mulheres grandes e as bajudas dançavam, quase todas, com os seios descobertos – existindo excepções – a alegria transmitida por aquele ritmo trepidante fazia lembrar ciganos nas danças dos seus acampamentos e até em feiras. Os seios, ora rijos da juventude, flácidos outros e grandes movimentavam-se acompanhando as notas musicais, não existindo parte alguma daqueles corpos que não trepidasse. 

Os movimentos dos corpos faziam-me vibrar. Eram escuros, com um brilho envernizado. Luz quase inexistente, quase somente a claridade do luar batia meigamente nos corpos de miúdas de palmo e meio, que enfeitavam o quadro. Avançavam como que desafiando as mais velhas que sorriam. Uma fotografia para recordar aqueles momentos? Talvez não fosse necessário porque jamais esqueceria aqueles momen­tos. Os homens do centro batiam com força nos tambores molhados do suor que escorria das suas faces. Não haviam frequentado qualquer escola de música mas fabricavam o som que fazia tremer o meu corpo. Aprenderam decerto com os pais, os avós e, recuando gerações, de escravos quem sabe, transportados para longínquas paragens em naus para os cinco cantos do mundo. No futuro seriam eles os professores dos filhos. Poucos eram os militares presentes. Pretendiam envolver-se na dança, notei-lhes nos olhos quando o círculo se alargou e o 1.º cabo, olhando-me com um sorriso gaiato, afirmou com convicção.
– Tão boas...Que mamas,  minha mãe!... E as bundas?
– Daqui não levas nada, só com os cinco dedos da mão! Podes apro­veitar o balanço e faz-me uma, pode ser com a canhota ou com a irmã dela! – Ouvi da boca do soldado.
– Olha-me esta merda?! Dou-te uma tampona, que estás uns tempos que não vês o que tens entre as pernas... Vai mas é mijar que isso passa. É tesão de mijo. Podes agarrar-te àquelas de tetas grandes, deixa as bajudas para mim!

Logo de seguida afastaram-se ambos sorrindo, quando avistei a filha do régulo. Magra e bem esculpida, de seios pequenos. Os olhos escuros brilhavam no escuro do rosto onde sobressaía um nariz também pequeno. O pai vendia-a, segundo diziam os militares pretos, por três mil patacões (três mil escudos).

Ela olhou-me e riu-se.
– Meu furriel...

Imaginei estar encostado à sua bunda arredondada que trepidava com a música e colocar-lhe os braços em redor da cintura estreita, subindo as mãos até aos seios rijos de 20 anos. Afastou-se de mim. Embora não dan­çasse, balanceava com os pés presos ao chão, ao sabor dos tambores. Não entendia o que se estava a passar comigo. Sonhava que lhe tocava em todo o corpo. Parece que adivinhava o que eu pensava:
– Mim, cá nega!

Ao mesmo tempo que soltou dos seus lábios carnudos a pequena frase, bateu com o interior do cotovelo na sua cintura e lançou o braço para a frente, repetindo e voltando a repetir.
– Mim, cá nega!... Mim, cá nega! Furriel!

Depois de a escutar só me restava uma solução: - Sair daquele local. (…).


Pois este é um exemplo daquilo que sucedia. Todos jovens e ávidos de sexo. Não o faço por acaso. No Livro naturalmente não existem personagens com rosto, os diálogos que passo são resumos de factos que assisti.

Aquilo que descrevo era a realidade. No final de comissão, em Bissau andava com um camarada Furriel Miliciano e vimos duas cabo-verdianas muito bonitas, e decidimos averiguá-las, responderam “que eram mulheres para Oficiais, e não para Furriéis”. Considerámos que não era assim e procurámos encontrá-las, o que veio a suceder. Batemos à porta indicada e vem atender-nos um homem grande e bem grande, a quem elas tratavam de “paizinho”. A sala grande quase sem mobília: um frigorífico no meio da parede do fundo; a cadeira onde se sentou o “paizinho”, a mesa e mais duas cadeiras.

O “paizinho” tratava as lindas moças por “filhinhas”, e nós incrédulos. O “paizinho” vendia e a bom dinheiro as “filhinhas”.  Depois do “paizinho” dar uma cerveja a cada um de nós, resolvemos deixá-los em paz.

Esta é uma entre muitas – até algumas no Pilão – há que não ter receio de contar: “O nudismo em Gadamael Porto” e “Nudismo em Mejo”; As “Meninas do Movimento Nacional Feminino”; “Meninas dos Correios de Bissau”, e que tal o apetite sexual de uma mulher branca por um Furriel Miliciano? São temas.

São algumas bajudas de Ganturé. Tenho mais fotos. Aquilo que relato no livro sobre as “bajudas” é o exemplo que dou e foi escrito em 1996. Não escondo de ninguém. Se como disse “não virei”, sou sempre um potencial candidato a um coração, só que em Ganturé e Gadamael Porto não existiam possibilidades, decerto um ou outro caso surgiu. Em Mejo, Guileje, Sangonhá, Cacoca, Cameconde e Cacine com certeza eram locais onde existiam outras liberdades.

Recordo que em Bissau quando vim de licença, fui com camaradas ao Pilão, e à noite.

E os filhos desses encontros e desencontros:

a) Existe uma criança e o pai desconhece;
b) Existe uma criança e o pai sabe mas não assume;
c) Existe uma criança e a mãe diz ser “x” o pai, mas este nega, por saber que ela andava com outros;
d) Existe uma criança e o pai assume pretender tomar conta dela, mas a mãe não autoriza e
e) Outros

Defendo um mundo de Amor.

Cumprimentos

Mário Vitorino Gaspar

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sábado, 6 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14707: Os jogos de cabra-cega: Sinchã Jobel (A. Marques Lopes) (Parte III): Op Jigajoga 2, 31/8/1967, e Op Jacaré, 16/9/1967... Fotos de Banjara


Lisboa > Jantar de Natal 2007 > Os quatro magníficos da CART 1690, todos eles alferes milicianos... e todos eles membros da nossa Tabancca Grande: da esquerda para a direita,   o António Moreira, o Domingos Maçarico,  esquerda, o Alfredo Reis e o A. Marques Lopes,  O Domingos Maçariço foi gravemente ferido e evacuado para a metrópole no decurso da Op Jacaré,  16 de Setembro de 1967, na primeira tentativa (falhada) de assalto e destruição da base IN de Sinchã Jobel. 

Foto (e legenda) : © A. Marques Lopes (2007). Todos os direitos reservados.






Guiné > Zona Leste > Setor L2 > CART 1690 (Geba, 1967/68) > Banjara (vd. carta de 1956, escala 1/50 mil) > Foto nº 5 > 

O destacamento era constituído por: (i) uma caserna; (ii) quatro abrigos subterrâneos; e (iii) um posto de comando, que era uma casa abarracada, sem portas nem janelas... Tinha ainda outros abrigos à superfície. A envolver este destacamento, que no essencial era uma clareira circular com cerca de mil metros de diâmetro, havia duas fiadas de arame farpado paralelas e em círculo. As casas de banho, eram... a céu aberto. O capim era necessário cortá-lo de dois em dois meses, para evitar a aproximação camuflada do IN.


Guiné > Zona Leste > Setor L2 > Geba > CART 1690 (1967/68) > Banjara  > Foto nº 4 >

Banjara ficava situada a cerca de 40/45  km de Geba e a cerca de 20 Km de Mansabá, na estrada Bissau-Bafatá. Ficava no coração da mata do Oio, e teve, antes da guerra colonial, uma unidade industrial de serração de madeiras. Pertencia, durante a guerra, à área de actuação da Companhia de Geba, do Batalhão de Bafatá.

Na época, passava por ser, a seguir a Beli, na zona de Madina do Boé, o piro sítio da Guiné...  Não apenas pelos ataques a que estava sujeito o destacamento como, e  sobretudo, pelo perigo que representava, por estar muito isolado da companhia, e por estar cercado por uma cintura de posições IN, que vigiavam facilmente, de fora do arame farpado e do alto das gigantescas árvores em redor, todos os movimentos da nossa tropa. Em termos de 'bases' IN tinha Sinchã Jobel do lado sul e Samba Culo do lado norte.




Guiné > Zona Leste > Setor L2 > CART 1690 (Geba, 1967/68) > Banjara  > Foto nº 6

A paisagem envolvente era de uma beleza indescritível, com dezenas de cajueiros, mangueiras, árvores gigantes, capim e as célebres lianas. O barulho ensurdecedor dos milhares de pássaros e a vozearia nocturna da mais variada bicharada, desde macacos a hienas, tornavam aquele ambiente um mistério todos os dias renovado.





Guiné > Zona Leste > Setor L2 > CART 1690 (Geba, 1967/68) > Banjara Foto nº 7 > A famosa fonte que saciava a sede, à vez, tanto das NT como do IN... A malta procurava lá ir a horas desencontradas...



Guiné > Zona Leste > Setor L2 A> CART 1690 (Geba, 1967/68) > Banjara Foto nº 12

Este destacamento tinha apenas uma coluna de reabastecimento por mês, no máximo, mas chegava a estar mais de 2 meses sem alimentos frescos e sem correio. Não havia população civil, apenas militares. A çaça era um recurso...



Guiné > Zona Leste > Setor L2 > CART 1690 (Gb, ea1967/68) > Banjara Foto nº 8 > Tudo o vinha à rede era peixe...



Guiné > Zona Leste > Setor L2 >  CART 1690 (Gbea, 1967/68) > Banjara Foto nº 13 > Um valente javali...



Guiné > Zona Leste > Setor L2 > CART 1690 (Geba, 1967/68) > Banjara Foto nº 17 > Um dos nossos caçadores...



Guiné > Zona Leste > Setor L2 > CART 1690 (Geba, 1967/68) > Banjara Foto nº 2  >  Cobra, também se comia...




Guiné > Zona Leste > Setor L2 > CART 1690 (Geba, 1967/68) > Banjara Foto nº 20 >

O dia amanhecia, então, e, pelas 7 da manhã, iniciava-se a distribuição da 1ª refeição. As horas mortas do pessoal eram gastas, durante o dia, à caça, quando isso era possível e o capim estava seco e caído no chão, a jogar cartas, pôr a correspondência em dia e jogar futebol. O jogo de futebol era normalmente diário, mas sempre a horas diferentes, para não se cair na rotina, e sempre com os abrigos guarnecidos de atiradores.


Guiné > Zona Leste > Setor L2 > CART 1690 (Geba, 1967/68) > Banjara > Foto nº 44 >  Às voltas com uma avaria na picada...


Guiné > Zona Leste > Setor L2 > CART 1690 (Geba, 1967/68) > Banjara > Foto nº 55

A guarnição deste destacamento, comandado por um Alferes, variava entre 60 a 80 homens, normalmente (houve alturas em que tinha só um pelotão), bem armados e disciplinados, capazes de aguentar debaixo de fogo uma boas dezenas de horas. O seu comando era rotativo e por lá passámos os mais longos meses da nossa juventude, então com 23 anos, e responsabilidades tremendas em cima dos galões de Alferes.

Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]

I. Continuação da publicação desta série, "Jogos de Cabra-Cega: Sincha Jobel",com a reedição de alguns postes do A. Marques Lopes, que tem por objeto central a descoerta e a tentativa de destruição, pelas NT, de Sinchã Jobel, uma base ("barraca") do PAIGC, em pleno coração da Guiné, na zona leste, no regulado de Mansomine, entre Mansambé e Geba. São os postes nº 35, 36, 39, 40, 45 e 763, originalmente inseridos na I Série, e como tal como lidos e conhecidos... Fizemos a revisão de texto (e atualizámos o texto de acordo com a ortografia em vigor). (*)


II. Jogos  de cabra-cega: Sinchã Jobel (A. Marques Lopes) (Parte III): tentativa falhada de assalto e destruição da base IN


1. Depois da minha "descoberta involuntária", mas sem surpresa para alguns, iniciaram-se algumas operações mais elaboradas com o objectivo da destruição da base de Sinchã Jobel.

Era, como vos disse, uma antiga tabanca, já destruída, sendo agora uma clareira de cerca de 2.000 m2, cercada por uma mata densa, tendo a sul o Rio Gambiel, com água pelo peito e uma "ponte" submersa, isto é, dois troncos de palmeira debaixo de água, (quando fui para lá o meu guia indicou-ma, quando regressei, sem guia, tive de a descobrir); a oeste e a este tem várias bolanhas, uma delas mesmo perto da clareira (a tal onde durante a noite toda a minha vida me passou pelo pensamento); a norte, até Banjara, tem uma floresta muito densa e dezenas de poilões (há lá, na Guiné-Bissau de agora, uma serração).

Nas margens do rio Gambiel e das bolanhas os guerrilheiros tinham sentinelas; pelo lado de Banjara, a floresta impenetrável tornava o acesso impossível. É claro que a base de guerrilha não estava na clareira de Sinchã Jobel (nem antes dela, pois não a encontrei quando ia para lá) mas em algum local deste contexto que vos descrevo, para norte, muito bem situada e com ótimas condições de defesa.

Nesta fase, certamente ainda em início de implantação, é natural que os guerrilheiros só se manifestassem quando lhes parecesse conveniente (foi o que lhes pareceu quando viram trinta mecos a ir para lá...), por isso não se manifestaram nesta Operação Jigajoga 2. 

Além de que o seu principal objetivo era montar minas e emboscadas no itinerário Geba-Banjara e atacar os destacamentos. Mais tarde, quando fortalecidos e bem guarnecidos, creio que alargaram a sua ação até Mansabá e para o Xime e Xitole. Este enquadramento da base de Sinchã Jobel expliquei-o ao comandante do Agrupamento 1980, em Bafatá, mas, pelo que vão ver nos "próximos capítulos", não valeu de muito.


Op Jigajoga 2,  31 de Agosto de 1967:

"Situação particular:

O IN tem-se revelado a sul de Banjara, com mais intensidade nos regulados de Mansomine e Joladu. Em Sinchã Jobel possui uma base forte, que serve de apoio às suas acções.

"Missão:

- Assegura a ocupação do Setor, tendo em atenção os regulados da faixa Oeste e as linhas de infiltração que conduzem ao interior.

- Detecta, vigia ou captura elementos ou grupos suspeitos de subversão que se hajam infiltrado ou constituído no setor, impedindo que a subversão alastre.

- Captura ou aniquila os rebeldes que se venham a revelar, destruindo as suas instalações ou meios de vida e restabelece a autoridade e a ordem nas regiões afetadas.

- Armadilha os itinerários utilizados pelo IN.

"Força executante:

Dest A - CART 1690 (2 Gr Comb); CCAÇ 1685 (1 Gr Comb); CCVA 1693 (1 Gr Comb); 1 PEL SAP / CCS 1877 (2 secções); 1 PEL 109/CAÇ MIL 3

Dest B - CCS 1877 (1 Gr Comb) /CCS 1877 (1 Gr Comb); 1 PEL REC/EREC 1578.

"Desenrolar da acção:

"Em 31 de Agosto de 1967, pelas 4h30., iniciou-se a progressão a partir de Darsalame. Durante a progressão foi batida toda a zona do itinerário, procurando vestígios e/ou trilhos que indicassem a existência do IN.

"Pelas 09H00 aproximação de Sare Tamba, os cuidados de pesquisa redobraram no sentido de localizar e assaltar o possível acampamento IN. Batida toda a mata durante 2 horas onde se supunha existir o referido acampamento, não foi possível localizá-lo nem o IN se revelou.

"No deslocamento para o objetivo pelas 11h00 foi ouvido um disparo de espingarda tipo Muaser ao longe, não sendo possível determinar a sua direção. Continuada a batida foram encontrados restos de um camuflado IN, não sendo possível, porém, encontrar mais nada. Pelas 11h50 foram ouvidos muito ao longe alguns rebentamentos fora da zona de ação.

"Por parecer mais fácil passou-se a bolanha junto a Sinchã Bolo e a seguir o Rio Jago na direcção de Sucuta (Madina Fali) onde se chegou pelas 15h00. Fez-se uma paragem para se conferir pessoal e material, porque as bolanhas foram de difícil travessia e foi a coluna atacada por um enxame de abelhas durante a transposição da primeira bolanha.

"Reiniciada a progressão em direção a Sare Budi foi detetada pelas l6h00, em 1445 121.07H, 100 metros após a entrar na mata uma armadilha A/P a qual foi destruída pela Secção do PEL SAP/1877. Em Sare Budi no itinerário para Sare Madina foram montadas 2 armadilhas A/P cujo croqui será elaborado pelo Cmdt SAP/BCAÇ 1877.

"Continuando a progressão em direção a Sinchã Fero Demori, não foi possível montar mais armadilhas em virtude do adiantamento da hora e não ser possível determinar o itinerário de acesso ao interior do setor desta CART.

"A chegada a Sare Banda verificou-se às 19h30, seguindo em meios auto até Geba, o que se registou às 20h30, tendo regressado às suas unidades o Gr Comb / CCAÇ 1685 e o 1 PEL SAP / CCS 1877 (2 secções)".


2. Nesta altura, as cabeças pensantes do Comando de Agrupamento [sedeado em Bafatá, o Cmd Agr 1980, 1967/68] já teriam concluído, e tinham provavelmente informações, que a base se situava a seguir à clareira de Sinchã Jobel, para norte. Daí a presença de dois grupos da 5ª Companhia de Comandos para o eventual golpe de mão ao acampamento. 

Só que a guerrilha já se tinha também prevenido com minas A/P (já vistas na Op Jigajoga 2) e A/C como mais uma limitação no acesso à base e, ao mesmo tempo, um factor de alerta. Um dos feridos com o rebentamento de mina nesta operação foi o meu amigo (hoje eng agr  Domingos Maçarico, então alferes miliciano da CART 1690, que acabou por ser evacuado para o Hospital Militar Principal da Estrela, e anda agora com uma placa de platina na cabeça.


Op Jacaré,  16 de Setembro de 1967: 

"Situação particular:

"O IN tem-se revelado em operações realizadas nos regulados de Mansomine. Possui um acampamento forte em Sinchã Jobel que serve de base para as suas acções.

"Missão:

- Assegura a ocupação do sector, tendo em atenção os regulados da faixa Oeste e as linhas de infiltração que conduzem ao interior.

- Deteta, vigia ou captura elementos ou grupos suspeitos de subversão que se hajam infiltrado ou constituído no sector, impedindo que a subversão alastre.

- Captura ou aniquila os rebeldes que se venham a revelar, destruindo as suas instalações ou meios de vida e restabelece a autoridade e a ordem nas regiões afectadas.

"Força executante:

Dest A - CCAV 1650 (-); CART 1690 (2 Gr Comb); CCAÇ 1685 (1 Gr Comb); PEL MIL 111/C MIL 3

Dest B - 01 PEL REC / EREC 1578.

Dest C - 2 Gr  COMANDOS [,5ª CCmds]

Dest D - 1 Gr. Comb /CCS/BCAÇ 1877.

Dest E - 1 Secção / AML 1143.

Dest F - 1 Secção / AML 1143.

"Desenrolar da ação:

"Em 16 de Setembro de 1967, pelas 6h30, o Dest A menos o PEL MIL / C MIL 5 deslocou-se em meios auto em direção a Cheuel. Após a saída de Geba uma viatura avariou, sendo o pessoal distribuído pelas outras viaturas que constituíam a coluna.

"Cerca das 08h00, uma mina anticarro destruiu a terceira viatura da coluna a cem metros de Chuel, projetando os ocupantes, dos quais 8 foram evacuados por heli para o Hospital Militar 241, tendo os restantes ficado em condições de não prosseguir a operação, o mesmo acontecendo, com outros que ao saltar das viaturas se haviam magoado.

"Montada a segurança aos feridos e viaturas, procedeu-se a escolha e preparação do campo de aterragem para o heli que imediatamente fora pedido pelo PCV [posto de controlo volante] que na altura nos sobrevoava. Posta a situação ao PCV, quanto a baixas, foi ordenado ao Dest A para regressar ao quartel depois de evacuar as viaturas, e onde chegou pelas 17h00.

"Devido à quebra do segredo foi ordenado pelo cmdt AGRUP 1980 o cancelamento da operação.»

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Notas do editor:

Vd. postes anteriores da série:

3 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14695: Os jogos de cabra-cega: Sinchã Jobel (A. Marques Lopes) (Parte I): Op Jigajoga, 24 de junho de 1967, o meu dia de São João

5 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14700: Os jogos de cabra-cega: Sinchã Jobel (A. Marques Lopes) (Parte II): Depois de uma noite, perdido, na bolanha, de 24 para 25 de junho de 1967, "é tão bom estar vivo e saber onde estou e o que quero!... Bora, Braima, bora, rapaziada, toca a sair daqui"...

Guiné 63/74 - P14706: Parabéns a você (917): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 5 de Junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14699: Parabéns a você (916): Manuel Traquina, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70)

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14705: Tabanca Grande (466): Joaquim Fernando Monteiro Martins, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4142 (Ganjauará, 1972/74) - 690.º Grã-Tabanqueiro

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo tertuliano Joaquim Fernando Monteiro Martins, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4142, Ganjauará, 1972/74, com data de 1 de Junho de 2015:

Bom dia camarada Carlos Vinhal,
Grato pela resposta ao meu contacto.

Apresentação:

Joaquim Fernando Monteiro Martins, ex-Furriel Miliciano com a especialidade de Atirador de Infantaria, nascido a 19-05-1950, natural de Gondomar, com residência em Águas Santas, Maia.

Frequentei a Escola Industrial Infante D. Henrique e trabalhei no Gabinete de Planeamento da Sociedade de Transportes Colectivos do Porto.

O Major Correia de Campos esteve em Gampará, assim como o Cap. Carlos Abreu, no COP 7, que viria a ser extinto.

Em Junho de 1972, no RI 1, na Amadora, tomei parte ativa na formação da CCAÇ 4142 e instrução da especialidade de atirador de infantaria.

A 16Set72, finda a instrução, a Companhia parte para a Guiné, onde no Cumeré, a CCAÇ 4142 iria ter a sua IAO.

A 18Out72, a CCAÇ 4142 é colocada em Gampará, onde iria render a CART 3417, os Magalas de Gampará, tendo como missão a defesa e segurança das populações da área, assim como a construção da 2.ª fase do reordenamento. Dias difíceis se seguiriam, adaptação a tão duro ambiente, as más condições sanitárias, fraca alimentação, condições estas já descritas no Blogue pelo nosso camarada Amílcar Mendes da 38.ª C.C. aquando da sua passagem por este chão.

Abraço J. Martins
Ex-Furriel da CCAÇ 4142
Gampará/Guiné/1972-1974

 Ex-Fur Mil Joaquim Fernando Monteiro Martins

O 3.º grupo de combate, em baixo, a contar da esquerda sou o terceiro, á minha direita está Fur Mil Rodrigues e, à minha esquerda o Mouzinho.

 Tabancas, algumas já construídas pela CCAÇ 4142

 Tabancas

 Eu, à esquerda, com o Alf Mil Dias, junto das minhas instalações


Localização de Ganjauará, na Penísula de Gampará.


2. Comentário do editor

Caro camarada Joaquim Martins, bem-vindo à Tabanca Grande.
Tenho que ressalvar que na tua apresentação falas do TCor Cav Correia de Campos e do então Capitão, agora Coronel Art, Carlos Abreu, porque fui eu que te perguntei se eras contemporâneo destes dois militares, que tive a honra de conhecer em Mansabá, quando cada um por sua vez comandou o COP 6 ali estacionado.

Desconheço o percurso militar do Coronel Carlos Abreu, que tive o prazer de rever em 2009 em Arruda dos Vinhos, como também te disse, além de saber que comandou o COP 6 e o COP 7.

O percurso do TCor Correia de Campos é mais conhecido, principalmente pelo seu desempenho no COP 7, na Península de Gampará, que tão bem conheces, uma zona muito problemática na altura. Correia de Campos ficou ainda na história da guerra na Guiné pelo seu exemplar desempenho aquando do assédio do PAIGC a Guidaje, em Maio de 1973.

Quanto à CART 3417, que a CCAÇ 4142 substituiu em Ganjauará, passou por Mansabá em Agosto de 1971 para fazer o seu Treino Operacional. Infelizmente o seu jovem Comandante pisou uma mina AP num dos patrulhamentos na zona de Manhau. Coincidência das coincidências, fui eu em coluna auto, comandada pelo então Major Correia de Campos, buscar o Comandante da 3417, que acabou por ao fim do dia ter de ser levado por terra até ao HM 241 de Bissau porque o mau tempo não permitia a circulação de meios aéreos. Foi um dia terrível para nós e para os periquitos da 3417.

Já sabes que estamos receptivos às tuas memórias escritas e fotográficas, ao mesmo tempo que nos disponibilizamos para qualquer dúvida que tenhas.

A título informativo, chamo a tua atenção para algumas entradas no nosso Blogue referentes à CCAÇ 4142 e pelo menos para três camaradas teus, a saber: Sarg Chefe Victor Gonçalves, Alf Mil Virgílio Valente e Sold Cozinheiro Joviano Teixeira.

Se clicares nas palavras de cor diferente abres os respectivos links.

Em nome da tertúlia e dos editores Luís Graça, Eduardo Magalhães Ribeiro e eu próprio, deixo-te um abraço de boas-vindas.

Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14673: Tabanca Grande (465): José Rodrigues, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1419/BCAÇ 1857 (Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) - 689.º Grã-Tabanqueiro

Guiné 63/74 - P14704: Agenda cultural (409): 3 dias, 30 filmes no feninino, 12 países... Festival Olhares do Mediterrâneo, 2º edição... Começa hoje,no Cinema São Jorge, integrado nas Festas de Lisboa


2ª edição do festival Olhares do Mediterrâneo - Cinema no Feminino > 5 e 7 de Junho de 2015  Lisboa, Cinema São Jorge. Festival integrado nas Festas de Lisboa... Três dias de festa, 30  filmes seleccionados, de realizadoras de 12 países do Mediterrâneo – Bósnia, Egipto, Espanha, França, Grécia, Israel, Líbano, Malta, Palestina, Portugal, Turquia e Tunísia




ABERTURA, 5 de julho de 2015, sexta-feira

21h30, Sala Manoel de Oliveira

Exibição do filme antecedida da Abertura do Festival

Longa-metragem  > FOR THOSE WHO CAN TELL NO TALES


Jasmila Zbanic, Bósnia Herzegovina, fic., 2013, 75’ (em bósnio e inglês, legendado em português e inglês)

Kym, uma turista australiana em viagem pela Bósnia, descobre o legado silencioso de atrocidades cometidas durante a guerra ao chegar a uma cidadezinha, aparentemente idílica, junto à fronteira da Bósnia com a Sérvia. 

Trata-se de um tributo reflexivo à memória do massacre de Visegrad [Guerra da Bósnia], durante o qual morreram cerca de três mil pessoas. O filme pretende confrontar o espectador com a verdadeira escala deste massacre e a sua negação por parte dos historiadores.


23h15 Sala 3 | Longa-metragem

Longa metragem >  KUMUN TADI (SEABURNERS)


Melisa Önel, Turquia, fic., 2014, 89’ (em turco, legendado em português)

No cenário invernoso da costa turca do Mar Negro, Denise e Hamit desenham uma geografia de silêncios, enquanto o mar lhes impõe barreiras, às vezes, intransponíveis.

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Nota do editor:

Último poste da série > 5 de junho de  2015 > Guiné 63/74 - P14703: Agenda cultural (406): Apresentação do livro "Cabra-Cega", de João Gaspar Carrasqueira, pseudónimo literário de António Marques Lopes, levado a efeito no passado dia 3, na Biblioteca Municipal Florbela Espanca, em Matosinhos

Guiné 63/74 - P14703: Agenda cultural (408): Apresentação do livro "Cabra-Cega", de João Gaspar Carrasqueira, pseudónimo literário de António Marques Lopes, levado a efeito no passado dia 3, na Biblioteca Municipal Florbela Espanca, em Matosinhos

Foi apresentado no passado dia 3, em Matosinhos, na Biblioteca Municipal Florbela Espanca, o livro de autoria do nosso camarada António Marques Lopes, com o título "Cabra-Cega" (Chiado Editora, Junho de 2015), autobiografia escrita sob o pseudónimo João Gaspar Carrasqueira, que conta a história de António Aiveca.

Este livro, já aflorado no nosso Blogue, está a ser muito elogiado pelas pessoas que entretanto tiveram a oportunidade de o ler.

À cerimónia de apresentação compareceram vários camaradas de armas e amigos do autor.

Do evento ficam algumas fotos


Ainda antes do início da cerimónia de lançamento, os mais afoitos já corriam aos autógrafos
Na foto: Manuel Carmelita, José Manuel Cancela, Albano Costa, encoberto, e João Carlos Peixoto.

Aqui, Francisco Baptista junto do autor


A Mesa, composta pelo representante da Chiado Editora, Luís Pires; pelo escritor e antigo combatente, Jorge Ribeiro, a quem coube a apresentação da obra, e pelo autor, Marques Lopes, Coronel DFA.

Depois da intervenção do representante da editora, que abriu a sessão, Jorge Ribeiro apresentou a obra, resumindo em poucas palavras o que ele representa enquanto livro autobiográfico que pretende ir mais além de um registo de memórias de guerra. O livro começa por descrever as origens de um rapaz, António Aiveca, que um dia quis ser padre, filho de um tractorista e de uma ceifeira. Como todos os jovens naquela época, acabou por ter de cumprir o serviço militar obrigatório, sendo mobilizado para a Guiné, onde foi ferido em combate. Evacuado para o HMP de Lisboa, depois de recuperado voltou ao teatro de guerra.

António Marques Lopes falando do seu livro.

A assistência queria ouvir as palavras do autor, e este não defraudou ninguém. Disse que aquele livro poderia ter sido escrito por qualquer um dos que passaram pela guerra, por isso não utilizou os nomes verdadeiros das personagens e dos locais dos acontecimentos, não identificou a sua unidade, etc. Sendo a história verdadeira cada leitor se poderá retratar nela.

A assistência foi pouco colaborante com perguntas, tendo havido apenas duas intervenções dignas de realce.

A primeira a cargo do Coronel Antero Ribeiro da Silva, amigo do Marques Lopes, que preside à Delegação Norte da Associação 25 de Abril, que falou da nobre missão levada a cabo pelas forças armadas durante a guerra do ultramar e da sua acção que muito contribuiu para o seu fim.

Deu os parabéns ao autor pelo seu contributo à já numerosa literatura de guerra, um meio de perpetuar o esforço de uma geração sacrificada.

O Coronel Rbeiro da Silva no uso da palavra

Interveio seguidamente o camarada Abel Fortuna, Presidente da Delegação do Porto da ADFA, que agradeceu também o contributo do Coronel Marques Lopes e lembrou a condição de Deficiente das Forças Armadas, assim como a necessidade de que se continue a acompanhar aqueles que sofrem física e psicologicamente os efeitos da guerra.
 
Abel Fortuna, Presidente da Delegação do Porto da ADFA, falando aos presentes

Aspecto da sala lotada com muitas caras conhecidas da Tabanca Grande, da Tabanca de Matosinhos e outros amigos do Coronel Marques Lopes, que não quiseram faltar ao lançamento do seu livro.

Fotos: © Carlos Vinhal e enviadas por Marques Lopes
Texto e Legendas das fotos: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14675: Agenda cultural (405): "África em Lisboa": cinco países irmãos (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé), cinco dias (de 27 a 31 de maio), no Museu da Carris

Guiné 63/74 - P14702: Notas de leitura (722): “Féroce Guinée”, por Gérard de Villiers, Éditions Gérard de Villiers, 2014 (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Outubro de 2014:

Queridos amigos,
Um vendaval de ação e muito sexo com preservativo neste vibrante romance onde o narcotráfico e o radicalismo islâmico e a tirania de Bubo Na Tchuto são omnipresentes.
Iremos rir com o português esfarrapado que Gérard de Villiers forjou. Bubo, como é sabido, caiu numa cilada norte-americana e provavelmente irá apodrecer numa das suas prisões. Impressionam as descrições das rotas da droga neste romance que se lê num ápice, condimentado com os ingredientes clássicos da selvajaria e dos urros no sexo satisfatório, o desfecho é sempre a reparação que cumpre à CIA fazer para quem prevarica e perturba à ordem norte-americana.

Para que conste, um abraço do
Mário


Gérard de Villiers e a Guiné-Bissau (2)

Beja Santos

“Féroce Guinée”, por Gérard de Villiers, Éditions Gérard de Villiers, 2014, é a obra em que um dos mais populares autores franceses de livros de aventuras e espionagem abordou a Guiné-Bissau da droga. Um agente da CIA proveniente de Dakar será assassinado por homens do contra-almirante José Américo Bubo Na Tchuto, aliado guineense dos narcotraficantes e declarado terror da sociedade civil e política da Guiné. É aqui que entra em cena Malko Linge, o herói dos romances de Gérard de Villiers. Malko chega a Bissau e vem com vários propósitos: vingar a morte de Lemon, apurar o que os radicais islâmicos, sediados no Mali, tramam com a conivência de Bubo Na Tchuto, quem são os colombianos que com este negoceiam e qual o percurso que a droga leva a partir da Bissau.

Os romances de Gérard de Villiers celebrizam-se pela ação e pelo sexo escaldante. Malko irá conhecer a companheira de Bubo, de nome Agustinha, uma verdadeira beldade que comete a leviandade de dizer ao todo-poderoso Bubo que há um branco que lhe faz a corte. Enraivecido, o delinquente dirige-se com os seus mercenários ao Bissau Palace, quer desfazer à catanada o atrevido que importunou Agustinha. Malko escapa de ser retalhado. No bar Kalliste, em Bissau, aluga um quarto e pelo telemóvel conversa com o chefe da estação da CIA em Dakar. Recomendam-lhe que peça proteção a um oficial da União Europeia em Bissau. Malko pede uma entrevista à Ministra do Interior da Guiné, esta confessa-lhe que não lhe pode dar proteção, no entanto informa-o que três mauritanos ligados à Al Qaeda no Magreb islâmico estão num hotel em Quinhamel. É precisamente para Quinhamel que Bubo se dirige, pretende saber quando é que o Emir Mokhtar Ben Mokhtar vem à Guiné para receber milhões de dólares do narcotráfico e que serão carreados para ações terroristas. Só consegue apurar que a sua vinda está para breve. Bubo está inquieto com este branco que pode vir destabilizar a operação da chegada de toneladas de droga aos Bijagós.

Gérard de Villiers

Malko pede ajuda no Kalliste para chegar aos Bijagós incógnito. Em Bubaque, é recebido por Alex que lhe descreve as rotas da droga, quem são os colombianos e o suporte que lhes é dado por Bubo Na Tchuto. Malko terá oportunidade de ver as pistas de aterragem do aeroporto de Bubaca, que são eliminadas à noite por jovens, às ordens dos colombianos, sempre que chegam carregamentos de droga. E regressa a Bissau, continua atormentado com a história dos três mauritanos que são protegidos por Bubo, é nisto que surge Agustinha, que lhe prepara uma cilada, por ordem de Bubo. Luís Miguel Carrera, o importante narcotraficante colombiano, recebe-o em casa, à primeira ocasião agride-o, e dá ordens para o sepultarem numa cova do jardim. Acontece um milagre, claro está. Os executores emborracham-se com vinho de palma, zonzo e dolorido, Malko escapa de ser assassinado, vai começar uma grande perseguição, é impensável que aquele homem possa sair vivo de Bissau. Sidi Oulm Sidani, o representante do Emir Mokhtar, exige a Bubo que mostre a cabeça do espião quando o chefe radical chegar à Guiné-Bissau. Bubo e Luís Miguel, à cautela, preparam o assassinato de um branco para disporem de uma cabeça, aquela operação é demasiado importante para os dois, há que tranquilizar de qualquer maneira o radical islâmico.

Todos os apoiantes de Malko em Bissau lhe pedem para fugir do país, parece completamente impossível ele escapar com vida do cerco que lhe estar a ser feito. Malko interpela imprevistamente Agustinha que fica petrificada com aquele fantasma. Agustinha leva-o para sua casa, exige-lhe informações, fica a saber onde estão os mauritanos, ela não sabe que plano está a ser executado, pede-lhe ajuda para voltar aos Bijagós. Vamos, entretanto, sabendo mais sobre os itinerários da droga entre a Guiné e a Europa: a rota na Mali é percurso obrigatório, dali partem caravanas até Marrocos e a Argélia. A segurança no Mali é indispensável, há que contar com os radicais islâmicos. É aí que entra o Emir Mokhtar que precisa de dinheiro para munições, armas, combustível e comida, muito dinheiro, a maneira mais fácil do arranjar é através da droga guineense. Um dos suportes de Malko é um alto funcionário colocado nos serviços de informação na Amura, Djallo Samdu, dá-lhe a saber que o Emir Mokhtar já vem a caminho. É preciso pedir apoio à estação da CIA em Dakar para montar o cerco ao chefe terrorista.

Enquanto isto se passa, Malko consegue despistar os seus perseguidores, volta para casa de Agustinha temos ali sexo escaldante e depois ela leva-o muito discretamente até ao porto, de novo com destino aos Bijagós. Quem esteve nos Bijagós foi Luís Miguel Carrera para assassinar um branco e trazer-lhe uma cabeça, era uma exigência obrigatória do Emir maliano.

A ação acelera-se, o Emir chega a Quinhamel, é visitado por Luís Miguel Carrera e por Bubo, exige uma quantidade impressionante de dinheiro, ficou mais descansado depois de ver uma cabeça apodrecida, é do chacal norte-americano. Em Bubaque, Malko confirma que a operação de desembarque da droga está para as próximas horas. Steve Younglove, o chefe da estação da CIA em Dakar, informa-o que vai ser lançada uma operação para sequestrar o chefe terrorista, a droga não é assunto que interessa à CIA mas a um outro departamento, a DEA (Drug Enforcement Administration). Tropa especial irá desembarcar em Bissalanca, trará carros de combate especiais para ir até Quinhamel.

“Féroce Guinée” tem todos os condimentos para uma disciplinada tensão, o grande clímax já paira no ar. Alguém denuncia Agustinha a Bubo, ela será cruelmente executada, como abatido será Djallo Samdu dentro da Amura, sem que ninguém intervenha. As “Special Forces” chegaram na hora certa, Malko junta-se-lhes e vão para Quinhamel. Antes, teve lugar mais uma feroz perseguição nas ruas de Bissau, como num bom romance de aventuras, após uma movimentada perseguição, Malko liquida Pablo, o homem de mão de Luís Miguel Carrera. Em Quinhamel estão todos reunidos, há muito dinheiro em jogo.

Omitem-se aqui atos truculentos, sempre que pode Bubo fende o crânio dos seus inimigos e arranca-lhes o coração, besta mais sanguinária não há. Como mandam os bons preceitos, tudo parece estar a correr bem aos criminosos até que em Quinhamel a CIA captura o temível radical islâmico e Malko cumpre as boas leis da justiça, a CIA agradece, como manda o refinamento do cinismo, Steve Younglove lembra a Malko que legalmente lhe está interdito de matar. O bem vence o mal, a derrota da droga foi brutalmente posta em cheque.

Como “literatura de aeroporto” cumpre a sua missão, o herói sobrevive a todos os pesadelos e barbaridades, fica-se a saber que houve um narco-Estado onde a CIA fez justiça não por causa da droga mas por causa do radicalismo islâmico. Isso é que é importante, os africanos que se amanhem e aprendam a libertar-se destes tiranos sanguinários.
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14685: Notas de leitura (721): “Féroce Guinée”, por Gérard de Villiers, Éditions Gérard de Villiers, 2014 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14701: (Ex)citações (275): Hospitalidade, brejeirice e ... instinto de sobrevivência das mulheres e bajudas fulas de Nhala, na receção aos "periquitos", em 29/4/1973 (António Murta, ex-alf mil inf MA, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)



Vídeo (1' 02'' ). Alojado em You Tube > ADBissau
(Cortesia do nosso saudoso Pepito, 1949-2014. Gravação feita em Gadamael Porto, em setembro de 2013, cinco meses antes de morrer)



Vídeo (0' 44'' ). Alojado em You Tube > ADBissau 

(Cortesia do nosso saudoso Pepito, 1949-2014. Gravação feita em Gadamael Porto, em setembro de 2013, cinco meses antes de morrer)


1. Excerto do poste P14691 (*), da autoria do nosso camarada António Murta, ex-alf mil inf MA, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) [foto à esquerda]

(...) À chegada da coluna a Nhala, e ainda antes de termos descido das viaturas, num ápice, formou-se uma pequena multidão vinda da tabanca, sobretudo mulheres e crianças, que nos receberam com palmas, cânticos, enfim..., se não em apoteose, pelo menos com grande euforia.

Fiquei entre contente e surpreso, a achar tudo um bocado exagerado. Seria sempre assim? Não foi preciso passarem muitos dias para ter uma explicação, plausível, para aquele acolhimento tão efusivo.

E cantavam acompanhando com palmas:

Periquito vai pró mato / Ó lé, lé, lé!, Velhice vai no Bissau / Ó lé-lé – lé-lé!. 

Esta cantilena, soube depois, era conhecida em quase todo o território da Guiné (**). E eram-lhe acrescentados outros versos, que só aprendi mais tarde, muito brejeiros e, pareceu-me, ao sabor da inspiração do momento:

"Mulher grande cá tem cabaço, / Ó lé, lé, lé! / Bajuda tem manga dele / Ó lé-lé – lé-lé"
"Mulher grande cá tem catota, / Ó lé, lé, lé! / Bajuda tem manga dela / Ó lé-lé – lé-lé"


E voltavam ao princípio com o Periquito vai pró mato, etc. etc. (...)

A população de Nhala é Fula. Os adultos parecem muito indiferentes em relação a nós, ou mesmo frios. Dependem muito da tropa, mas estão fartos de tropa. As mulheres e as bajudas atravessam o aquartelamento para se deslocarem à fonte que fica a pequena distância, num baixio. Está sempre alguém a passar para um lado e para o outro com bacias à cabeça e com a roupa que nos lavam. (...)

As bajudas, algumas bonitas, e toda a criançada são uma simpatia. É contagiante a alegria delas e um bálsamo para a nossa saúde mental. Ainda assim, como já disse, os “velhinhos” de Nhala parece que já não beneficiam desse bálsamo. Aproveitando as recomendações deles, vamos escolhendo as nossas lavadeiras. A oferta é grande, de modo que se fazem “contratações” despreocupadamente.

E em matéria de sexo, como é? Já em Bolama aprendemos que há lavadeiras “que lavam tudo” por pouco mais que a mensalidade da roupa lavada. «Desiludam-se!». As fulas são muito reservadas e pouco permissivas.

Contam-nos um caso ou outro de envolvimento com militares, mas excepcionais e por questões de afecto. A tropa em geral vai brincando, mais ou menos inocentemente, com as bajudas mais velhitas, mas sem consequências nem gravidade. De vez em quando, por ocasião da entrega da roupa lavada aos soldados, lá vem uma delas fazer queixa:
- Alfero, o soldado Manel do teu pelotão apalpou minha mama!

E eu perguntava:
- Ai, sim? E não lhe deste uma estalada?

E estava o caso resolvido. (...) (***)

2. Comentário do editor LG:

A propósito da conferência “Filhos da guerra”, no âmbito do Festival Rotas & Rituais (Lisboa, Cinema São Jorge, 22 de maio de 2015), tomei nota no meu canhenho:

 “Temos dificuldade em abordar em público este problema, o das nossas relações com as mulheres guineenses no tempo da guerra colonial. Pior ainda, num público feminino ( e senão mesmo feminista), português e africano, ou de origem africana… Somos, os homens, facilmente “suspeitos de cumplicidade” uns com os outros… Os homens são todos iguais, em toda a parte, defendem-se uns aos outros, dizem elas…

"A intervenção, longa e incisiva,  do Jorge Cabral, em tempo de debate, acabou por provocar algum sururu na sala. Disse ele, em síntese:

- Defenderei até à morte a honra do soldiado português na Guiné. Nós não eramos  nenhum emprenhadores compulsivos. Mais: atrevo-me a dizer que 80% a 90% dos soldados portugueses na Guiné não tiveram quaisquer relações sexuais com mulheres africanos… E se querem falar de prostituição organizada (que no meu tempo praticamente se restringia a Bissau e, em pequena escala, a Bafatá), pois tenho a dizer que é muito maior hoje, só na capital da Guiné-Bissau, do que no meu tempo"…
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Notas do editor: