1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 26 de Maio de 2015:
Queridos amigos,
Os percursos tomarenses são infindáveis, é o preço de uma cidade que acolheu a Ordem do Templo e depois a Ordem de Cristo, que dispõe de monumentos ímpares e se espraia do castelo até ao casco histórico, atravessa-se o Nabão e tem-se a cidade moderna, ciranda-se por deslumbramentos como o Aqueduto de Pegões e a nascente do Agroal. O Mouchão reserva sempre surpresas. E há o ver e rever, caso das pinturas de Gregório Lopes, da Sinagoga que é uma preciosidade da arte pré-renascença portuguesa e até mesmo os monumentos da estrada de S. Lourenço ou do Paredão que passam despercebidos ao automobilista. Por isso vamos continuar, gota a gota. Tomar entranha-se no nosso coração.
Um abraço do
Mário
Tomar à la minuta (5)
Beja Santos
Para ser franco, o Palácio da Justiça, edificação tida como peça arquitetónica de vulto, tem uma carcaça igual a tantas outras, não desfazendo da bonita galeria de colunas virada para o Rossio. O interior é que galvaniza, com os painéis de azulejo de Jorge Barradas, cortam na severidade do imenso pátio, veja-se este pormenor.
Estas três imagens valem por três mil palavras, quem vê caras não vê corações, quem ciranda em torno do palácio nem lhe passa pela cabeça que existe este pátio, que sobre a galilé em suspensão há uma sala de audiências circular com esta bonita fonte. Como as viagens nunca terminam, em breve hei de voltar. No seu livro sobre Tomar, José Augusto França refere que há um fresco de Guilherme Camarinha que decora a sala de audiências, que se vê numa das imagens, nele se conta o conflito havido na própria Várzea entre o povo de Tomar e a Ordem de Cristo.
Por associação de ideias, o Jorge Barradas reapareceu-me há dias quando fui ver a exposição das Varinas de Lisboa no Palácio Pimenta, no final do Campo Grande, Barradas foi um artista modernista multifacetado e nada me impede de o considerar um dos grandes ceramistas do modernismo português, grande gráfico, ilustrador, desenhador, aguarelista, e muito mais. No átrio do Palácio Pimenta estão estas duas belas peças, podem ser alegorias da Primavera e do Verão, podem ser tudo o que a gente imagina, mas é de ficar de boca aberta, o vigilante do museu estava encantado com esta atenção, observou-me que os visitantes o que querem é entrar, o que por ali se espalha e exibe é manifestamente acessório. Pois desforrei-me, por cumplicidade com o Barradas que ninguém venera só para entrar no interior do museu, captei também azulejos muito bem mantidos e até uma escadaria onde pontifica o senhor D. Sebastião José de Carvalho e Melo, vulgo o Marquês de Pombal.
Pronto, já voltei a Tomar, atravessei a Ponte Velha e quedei-me nesta restinga onde se domiciliam os patos, gosto do contraste da aridez e daquelas raízes que resistem, da árvore que abateram, e do verde que ali se confina, num casamento com aquelas águas translúcidas.
Temos finalmente uma imagem do Nabão, estamos na Ponte Velha e lá vai ele a deslizar para o Zêzere, e depois esta massa de água desagua no Tejo. Marcou a indústria e hoje prossegue solitário entre essas ruínas, algumas delas bem reabilitadas e o casario, nas duas margens.
Temos aqui o Convento de Santa Iria, é uma alvenaria admirável, a beijar o Rio Nabão, desculpem-me o meu orgulho, tive a minha hora de sorte em poder apanhar o reflexo do casario nas águas tranquilas. Mas quem vê esta face não se iluda, há muitas obras para pôr este monumento a preceito, vejam agora o lado oposto, expectante e disfarçado com fotografias.
A capela de Santa Iria é mesmo ao lado, havemos de cá voltar com mais tempo, tem azulejos muito requintados e a imaginária é rica, o portal fala por si com este alegante arco de volta perfeita encimado pelo alfiz, é atraente pelas proporções e pela delicadeza do singelo trabalho na pedra.
Estamos agora na Praça da República, de costas voltadas para a fachada da igreja de S. João Batista. É preciso haver ventania ou chuva grossa para eu não me deter sempre que por aqui passo. A razão principal é porque me lembra um cenário cinematográfico, a praça é retangular, o empedrado dá-nos a ilusão de que o edifício da câmara vai a seguir, parece que disputa terreno à mata envolvente do castelo, não é nada disso, é uma praça harmoniosa e horizontal, às vezes a seguir ao jantar, acocoro-me à porta da igreja para desfrutar o jogo de luzes e captar a majestade das muralhas do castelo, de que nesta imagem nem há lembrança, mas ocasiões não faltarão para tirar novas imagens, o mais próximas possíveis desta deslumbrante realidade.
A Praça da República chamava-se na monarquia Praça D. Manoel, foi centro e nervo da vida medieval tomarense. Agora toca de subir ao castelo, reservo com carinho ao leitor estas imagens que penso serem espetaculares, o que me interessa é o génio templário, os guerreiros de Nosso Senhor sabiam da poda, muralharam a fortificação com vontade de a tornar inexpugnável, atravessem-se as gentes de Mafoma e seriam provavelmente cilindrados no reduto da barbacã, fortificação esplendorosa, bem mereceu que ali mesmo se encravasse a rotunda para, em plena humildade, os cavaleiros virtuosos pedissem a Deus coragem para a cruzada a Jerusalém, é preciso percorrer esta fortificação e entrar no convento para entender e sentir o sopro da religiosidade medieval e como esta charola deu a volta à cabeça a D. Manuel I, o Venturoso, que esbanjou fortunas até chegarmos a este caso ímpar de património mundial da humanidade. Feita a exaltação, entremos no convento.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 17 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14758: Os nossos seres, saberes e lazeres (101): Tomar à la minuta (4) (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 24 de junho de 2015
Guiné 63/74 - P14792: Filhos do vento (39): Será que tudo o que por aí se vai dizendo, da nossa vida sexual em zona de guerra, não será também, em alguns casos, uma grande mentira? (Tony Borié)
1. Mensagem do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66) com data de hoje, 24 de Junho de 2015:
Olá Carlos.
Oxalá te encontres bem.
Eu sou um "chato".
Olha, se te fosse possível, e ainda fosse a tempo na tua organização, seria possível publicar este texto em qualquer altura que achasses oportuno, pois se passar algum tempo, passa de moda, como se costuma dizer.
O Luís avivou os companheiros para este tema da sexualidade em tempo de guerra e, creio até que saiu na televisão aí em Portugal um programa com um combatente que foi ver o filho a Angola e, eu rabisquei isto.
Ajeita ao teu gosto, por favor.
Um abraço, Carlos,
Tony Borie.
Um dia, vamos todos, “bater a bota”!
Já lá vai algum tempo em que o nosso comandante Luís nos mandou uma mensagem, em que entre outras palavras dizia: “Que ninguém nos acuse de ter "esqueletos" escondidos no armário... Um dia vamos todos "bater a bota", mas temos a consciência de que falamos de tudo ou quase tudo o que tínhamos a falar, entre nós, e para as gerações que nos sucedem, as dos nossos filhos e netos... não sei se há muitos blogues de antigos combatentes, em Portugal e noutras partes do mundo que tenham abordado "temas sensíveis" como, por exemplo, este, o da nossa sexualidade”.
Esta nossa simples contribuição, para conhecimento em especial, dos tais nossos filhos e netos, espera a compreensão dos nossos companheiros combatentes, tanto africanos como europeus, é um relato de coisas que não se dirige a ninguém, nem tão pouco quer ferir nenhuma sensibilidade em particular, pois este é um tema muito sério, há muito de verdade nestas simples palavras, já lá vão mais de cinquenta anos, naquele tempo, quase todos nós, única e simplesmente não sabíamos, não tínhamos qualquer informação a respeito deste tema, da sexualidade em zona de guerra, hoje, as novas gerações têm uma mentalidade muito mais aberta, falam, discutem, vêm para os jornais, televisão e outros meios de comunicação, exporem as suas vivências, explicarem que a avó, a mãe, a irmã, a prima ou a tia, foram entre outras coisas, abusadas, maltratadas, talvez violadas, como dissemos a princípio, este é um tema sério demais para ser falado, assim de ânimo tão leve.
Repito, há muito de verdade nestas palavras, hoje, depois de tantos anos, infelizmente, todavia ninguém sabe, ninguém pode afirmar, torno a repetir, não temos conhecimento de qualquer estudo que o possa afirmar, com verdade, mas, existem muitas pessoas africanas com feições europeias, muitas pessoas asiáticas com feições europeias, muitas pessoas europeias e asiáticas com feições africanas, que não sabem quem foi o seu pai ou mãe, no nosso caso de antigos e briosos combatentes que fomos, sabemos também que algumas tropas recrutadas lá na Guiné, assim como alguma população civil, tinham particulares preconceitos sobre os militares vindos de Portugal.
Por exemplo, para o nosso amigo Iafane, conhecido como o “barqueiro”, que fazia o transporte fluvial, durante a maré cheia, para a vila de Mansoa, de pessoas e bens, das aldeias ribeirinhas, viajando sobre a água lamacenta do rio, completamente nu, só colocava um farrapo a cobrir-lhe o sexo, quando chegava a terra, depois de ancorar a canoa, passava grande parte do dia, quando nós estávamos de folga das nossas tarefas, junto da ponte do rio Mansoa, na sua casota coberta de colmo, às vezes construindo uma nova canoa, fumávamos um cigarro feito à mão, ele ia falando, falando, naquele português acrioulado que todos nós conhecemos, contando-nos, entre outras coisas, as “encomendas” que tinha de pedidos de novas raparigas, para alguns “homens grandes”, ficando muito admirado, quando lhe explicávamos, que lá em Portugal, o homem casava com uma só mulher.
A sua Guiné era um refúgio seguro, onde podia ter relações legalmente, quase como se fosse um casamento, com três, quatro ou cinco mulheres, longe da velha Europa, do resto do mundo, na altura, em algumas zonas, profundamente racista. No entanto, o mesmo nosso amigo Iafane era subestimado, a sua acção era ignorada, fazia parte da história colonial, daquele braço português de opressão racial e subjugação dos civis guinéus, especialmente nas áreas rurais, para projectar, entre outras coisas, o poder do homem e, claro, o medo e, volto a dizer, a subjugação entre a população feminina, onde as mulheres, por norma, tinham por obrigação trabalhar de sol a sol e repartir o seu marido por três, quatro ou cinco companheiras, tudo isto enquanto estivessem na idade de dar alguns filhos, porque depois, eram única e simplesmente colocadas de lado, para trabalhos menores, como cozinhar, tomar conta dos animais ou dos filhos das novas esposas do senhor seu marido.
Companheiros, isto não é dos livros, nós todos, pelos menos os que andaram pelo interior, pelas aldeias rurais, vimos, os nossos olhos viram, era uma verdade daquele tempo, que felizmente deve de estar ultrapassada, oxalá que sim.
Depois destes anos todos, muita água correu debaixo da ponte do rio Mansoa, quase tudo é, ou foi, pretexto para culpar o "militar europeu", que era para lá mandado pelo então governo de Portugal, alimentar uma guerra, que hoje sabemos que era injusta, mas onde alguns irmãos combatentes, soldados africanos, faziam parte, que ajudavam a criar caminhos para atitudes raciais, compartilhando preconceitos profundamente desonestos, pois muitas vezes ofereciam as tais irmãs ou primas, ao tal “militar europeu”, a preço de pequenos privilégios, como por exemplo serem candidatos a vestir a farda camuflada, com uma boina militar na cabeça, pois num país em guerra e sem qualquer futuro, eles ainda jovens, viam nessa atitude, uma necessidade para uma oportunidade, enfim, pensando assim, teriam algum modo de sobrevivência.
Já estamos a ir longe demais na nossa conversa, mas também temos a consciência, de que, naquele tempo, se o “homem africano”, neste caso o nosso amigo Iafane, tentasse alguma vez convidar a “mulher europeia” para uma aventura na cama, se essa mulher não gostasse do convite, seria imediatamente considerado um “estuprador”, sujeito a levar dois tiros em qualquer parte do seu corpo, mas se o “Lifebuoy”, cujo nome de guerra lhe foi colocado porque vendia entre outras coisas, sabonetes lá no aquartelamento e, às vezes andava de namoro com uma das filhas do Libanês, que era um soldado europeu, muito popular no aquartelamento de Mansoa, convidasse a filha do “homem grande” da tabanca de Luanda, que tinha sómente treze anos, para a mesma aventura sexual, e ela não acedesse, fazendo queixa ao pai, o crime do soldado europeu “Lifebuoy”, era culpado única e simplesmente de uma aventura sexual, considerada uma pequena diversão!.
Infelizmente, era o sistema implantado naquele tempo, que ajudou a fazer a história colonial, que motivou as populações africanas a pegarem em armas, revoltando-se, como aconteceu em outras partes do mundo, mas voltando ao sexo em zona de guerra, alguns de nós, pelo menos os que estiveram estacionados por algum tempo no interior, sabemos que as raparigas africanas tinham algum fascínio pelo homem europeu, porquê, não sabemos, todavia elas podiam não saber ler ou escrever, tinham pouco contacto com o exterior mais civilizado, mas sabiam as “luas”, tinham a sua medicina à base de ervas e outros ingredientes, algumas afrodisíacas, conheciam o seu corpo, tinham conhecimentos sobre o sexo, sobre a procriação, sabiam os segredos do prazer e do amor, estava-lhes no sangue, tudo isto fazia parte da sua educação nas aldeias rurais, que lhe eram ministrados pelas mães, irmãs ou avós, conhecimentos esses que o resto do mundo talvez nunca chegará a saber, sabiam quando procurar a companhia do homem, ou quando deviam fugir dele, estamos em crer até, que quando havia descendentes, era por mútuo acordo, no entanto, nunca se pode excluir a ideia de poder haver alguns casos. Vamos lá ver, na nossa opinião, na tal zona de guerra, se qualquer de nós nunca matou, maltratou ou forçou a sua companheira para qualquer acto sexual, se nunca soube, ou sabe, que existiram indícios de deixar descendentes, deve continuar a viver o resto dos seus dias com a sua consciência limpa, pois o acto sexual teve o acordo e talvez uma atração mútua, portanto o homem europeu, violou ou abusou da mulher africana, assim como a mulher africana, violou ou abusou do homem europeu, embora sabendo que o produto desse acto fica na posse da mulher, o que traz muitas responsabilidades para o homem, claro, como dissemos antes, sabendo ele que o acto produziu descendentes.
Já vamos um pouco longe, mas para finalizar, existe um ditado não muito antigo, mas por aqui bastante popular que diz: “what happens in Vegas, stays in Vegas”, que quer dizer mais ou menos, “o que passa em Las Vegas fica em Las Vegas” e, no nosso caso, de antigos combatentes, assenta perfeitamente, ou seja, “o que passou na zona de guerra em África, ficou em África”.
Há, já me esquecia, falando agora numa linguagem reles, tipo “Curvas alto e refilão”, o “Estarreja”, que era um soldado condutor da CCS do Batalhão de Artilharia 645, os Águias Negras, que sempre esteve estacionado em Mansoa, fazia o trajecto de Mansoa a Bissau, quase todos os dias, que também fazia “contrabando de pessoas e bens” de Mansoa para a capital, sem os superiores saberem, era “boca cheia”, lá no aquartelamento, que andava a “comer” a Binta, que também era a sua lavadeira, pois já os tinham visto a “cavalo um no outro”, nas escadas de cimento do campo de jogos dos Balantas, dizia-se mesmo que ela só lavava a roupa dele, o que era uma grande mentira.
Tony Borie, Julho de 2015
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14774: Filhos do vento (38): O caso do António da Graça Bento que foi a Angola, 40 anos depois, conhecer o seu filho. Reporatgem "on line" e em papel, no jornal Público: texto de Catarina Gomes e imagem e som de Ricardo Rezende
Olá Carlos.
Oxalá te encontres bem.
Eu sou um "chato".
Olha, se te fosse possível, e ainda fosse a tempo na tua organização, seria possível publicar este texto em qualquer altura que achasses oportuno, pois se passar algum tempo, passa de moda, como se costuma dizer.
O Luís avivou os companheiros para este tema da sexualidade em tempo de guerra e, creio até que saiu na televisão aí em Portugal um programa com um combatente que foi ver o filho a Angola e, eu rabisquei isto.
Ajeita ao teu gosto, por favor.
Um abraço, Carlos,
Tony Borie.
Um dia, vamos todos, “bater a bota”!
Já lá vai algum tempo em que o nosso comandante Luís nos mandou uma mensagem, em que entre outras palavras dizia: “Que ninguém nos acuse de ter "esqueletos" escondidos no armário... Um dia vamos todos "bater a bota", mas temos a consciência de que falamos de tudo ou quase tudo o que tínhamos a falar, entre nós, e para as gerações que nos sucedem, as dos nossos filhos e netos... não sei se há muitos blogues de antigos combatentes, em Portugal e noutras partes do mundo que tenham abordado "temas sensíveis" como, por exemplo, este, o da nossa sexualidade”.
Esta nossa simples contribuição, para conhecimento em especial, dos tais nossos filhos e netos, espera a compreensão dos nossos companheiros combatentes, tanto africanos como europeus, é um relato de coisas que não se dirige a ninguém, nem tão pouco quer ferir nenhuma sensibilidade em particular, pois este é um tema muito sério, há muito de verdade nestas simples palavras, já lá vão mais de cinquenta anos, naquele tempo, quase todos nós, única e simplesmente não sabíamos, não tínhamos qualquer informação a respeito deste tema, da sexualidade em zona de guerra, hoje, as novas gerações têm uma mentalidade muito mais aberta, falam, discutem, vêm para os jornais, televisão e outros meios de comunicação, exporem as suas vivências, explicarem que a avó, a mãe, a irmã, a prima ou a tia, foram entre outras coisas, abusadas, maltratadas, talvez violadas, como dissemos a princípio, este é um tema sério demais para ser falado, assim de ânimo tão leve.
Repito, há muito de verdade nestas palavras, hoje, depois de tantos anos, infelizmente, todavia ninguém sabe, ninguém pode afirmar, torno a repetir, não temos conhecimento de qualquer estudo que o possa afirmar, com verdade, mas, existem muitas pessoas africanas com feições europeias, muitas pessoas asiáticas com feições europeias, muitas pessoas europeias e asiáticas com feições africanas, que não sabem quem foi o seu pai ou mãe, no nosso caso de antigos e briosos combatentes que fomos, sabemos também que algumas tropas recrutadas lá na Guiné, assim como alguma população civil, tinham particulares preconceitos sobre os militares vindos de Portugal.
Por exemplo, para o nosso amigo Iafane, conhecido como o “barqueiro”, que fazia o transporte fluvial, durante a maré cheia, para a vila de Mansoa, de pessoas e bens, das aldeias ribeirinhas, viajando sobre a água lamacenta do rio, completamente nu, só colocava um farrapo a cobrir-lhe o sexo, quando chegava a terra, depois de ancorar a canoa, passava grande parte do dia, quando nós estávamos de folga das nossas tarefas, junto da ponte do rio Mansoa, na sua casota coberta de colmo, às vezes construindo uma nova canoa, fumávamos um cigarro feito à mão, ele ia falando, falando, naquele português acrioulado que todos nós conhecemos, contando-nos, entre outras coisas, as “encomendas” que tinha de pedidos de novas raparigas, para alguns “homens grandes”, ficando muito admirado, quando lhe explicávamos, que lá em Portugal, o homem casava com uma só mulher.
A sua Guiné era um refúgio seguro, onde podia ter relações legalmente, quase como se fosse um casamento, com três, quatro ou cinco mulheres, longe da velha Europa, do resto do mundo, na altura, em algumas zonas, profundamente racista. No entanto, o mesmo nosso amigo Iafane era subestimado, a sua acção era ignorada, fazia parte da história colonial, daquele braço português de opressão racial e subjugação dos civis guinéus, especialmente nas áreas rurais, para projectar, entre outras coisas, o poder do homem e, claro, o medo e, volto a dizer, a subjugação entre a população feminina, onde as mulheres, por norma, tinham por obrigação trabalhar de sol a sol e repartir o seu marido por três, quatro ou cinco companheiras, tudo isto enquanto estivessem na idade de dar alguns filhos, porque depois, eram única e simplesmente colocadas de lado, para trabalhos menores, como cozinhar, tomar conta dos animais ou dos filhos das novas esposas do senhor seu marido.
Companheiros, isto não é dos livros, nós todos, pelos menos os que andaram pelo interior, pelas aldeias rurais, vimos, os nossos olhos viram, era uma verdade daquele tempo, que felizmente deve de estar ultrapassada, oxalá que sim.
Depois destes anos todos, muita água correu debaixo da ponte do rio Mansoa, quase tudo é, ou foi, pretexto para culpar o "militar europeu", que era para lá mandado pelo então governo de Portugal, alimentar uma guerra, que hoje sabemos que era injusta, mas onde alguns irmãos combatentes, soldados africanos, faziam parte, que ajudavam a criar caminhos para atitudes raciais, compartilhando preconceitos profundamente desonestos, pois muitas vezes ofereciam as tais irmãs ou primas, ao tal “militar europeu”, a preço de pequenos privilégios, como por exemplo serem candidatos a vestir a farda camuflada, com uma boina militar na cabeça, pois num país em guerra e sem qualquer futuro, eles ainda jovens, viam nessa atitude, uma necessidade para uma oportunidade, enfim, pensando assim, teriam algum modo de sobrevivência.
Já estamos a ir longe demais na nossa conversa, mas também temos a consciência, de que, naquele tempo, se o “homem africano”, neste caso o nosso amigo Iafane, tentasse alguma vez convidar a “mulher europeia” para uma aventura na cama, se essa mulher não gostasse do convite, seria imediatamente considerado um “estuprador”, sujeito a levar dois tiros em qualquer parte do seu corpo, mas se o “Lifebuoy”, cujo nome de guerra lhe foi colocado porque vendia entre outras coisas, sabonetes lá no aquartelamento e, às vezes andava de namoro com uma das filhas do Libanês, que era um soldado europeu, muito popular no aquartelamento de Mansoa, convidasse a filha do “homem grande” da tabanca de Luanda, que tinha sómente treze anos, para a mesma aventura sexual, e ela não acedesse, fazendo queixa ao pai, o crime do soldado europeu “Lifebuoy”, era culpado única e simplesmente de uma aventura sexual, considerada uma pequena diversão!.
Infelizmente, era o sistema implantado naquele tempo, que ajudou a fazer a história colonial, que motivou as populações africanas a pegarem em armas, revoltando-se, como aconteceu em outras partes do mundo, mas voltando ao sexo em zona de guerra, alguns de nós, pelo menos os que estiveram estacionados por algum tempo no interior, sabemos que as raparigas africanas tinham algum fascínio pelo homem europeu, porquê, não sabemos, todavia elas podiam não saber ler ou escrever, tinham pouco contacto com o exterior mais civilizado, mas sabiam as “luas”, tinham a sua medicina à base de ervas e outros ingredientes, algumas afrodisíacas, conheciam o seu corpo, tinham conhecimentos sobre o sexo, sobre a procriação, sabiam os segredos do prazer e do amor, estava-lhes no sangue, tudo isto fazia parte da sua educação nas aldeias rurais, que lhe eram ministrados pelas mães, irmãs ou avós, conhecimentos esses que o resto do mundo talvez nunca chegará a saber, sabiam quando procurar a companhia do homem, ou quando deviam fugir dele, estamos em crer até, que quando havia descendentes, era por mútuo acordo, no entanto, nunca se pode excluir a ideia de poder haver alguns casos. Vamos lá ver, na nossa opinião, na tal zona de guerra, se qualquer de nós nunca matou, maltratou ou forçou a sua companheira para qualquer acto sexual, se nunca soube, ou sabe, que existiram indícios de deixar descendentes, deve continuar a viver o resto dos seus dias com a sua consciência limpa, pois o acto sexual teve o acordo e talvez uma atração mútua, portanto o homem europeu, violou ou abusou da mulher africana, assim como a mulher africana, violou ou abusou do homem europeu, embora sabendo que o produto desse acto fica na posse da mulher, o que traz muitas responsabilidades para o homem, claro, como dissemos antes, sabendo ele que o acto produziu descendentes.
Já vamos um pouco longe, mas para finalizar, existe um ditado não muito antigo, mas por aqui bastante popular que diz: “what happens in Vegas, stays in Vegas”, que quer dizer mais ou menos, “o que passa em Las Vegas fica em Las Vegas” e, no nosso caso, de antigos combatentes, assenta perfeitamente, ou seja, “o que passou na zona de guerra em África, ficou em África”.
Há, já me esquecia, falando agora numa linguagem reles, tipo “Curvas alto e refilão”, o “Estarreja”, que era um soldado condutor da CCS do Batalhão de Artilharia 645, os Águias Negras, que sempre esteve estacionado em Mansoa, fazia o trajecto de Mansoa a Bissau, quase todos os dias, que também fazia “contrabando de pessoas e bens” de Mansoa para a capital, sem os superiores saberem, era “boca cheia”, lá no aquartelamento, que andava a “comer” a Binta, que também era a sua lavadeira, pois já os tinham visto a “cavalo um no outro”, nas escadas de cimento do campo de jogos dos Balantas, dizia-se mesmo que ela só lavava a roupa dele, o que era uma grande mentira.
Tony Borie, Julho de 2015
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14774: Filhos do vento (38): O caso do António da Graça Bento que foi a Angola, 40 anos depois, conhecer o seu filho. Reporatgem "on line" e em papel, no jornal Público: texto de Catarina Gomes e imagem e som de Ricardo Rezende
Guiné 63/74 - P14791: Agenda cultural (413): "Guiné-Bissau: Biodiversidade, desenvolvimento e cooperação", audição pública promovida pelo Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Guiné Bissau: Lisboa, Assembleia da República, sala do Senado, 6ª feira, 26, 14h30-18h: sessão de livre acesso.
1. Fomos alertados, ontem, por um mail da nossa amiga Catarina Gomes, jornalista do "Público", para a audição pública sobre a Guiné Bissau que se vai realizar na nossa assembleia da república, na sala do senado, no dia 26, sexta.feira, com início às 14h30.
O tema é "Guiné-Bissau: Biodiversidade, desenvolvimento e cooperação".
Trata-se de um sessão de livre acesso (ou seja, aberta todos aqueles que queiram assistir), promovida pelo Grupo Parlamentar de Amizade Portugal - Guiné Bissau (de que é presidente a deputada Catarina Martins, do Bloco de Esquerda; vd. abaixo a composição deste grupo parlamentar, onde se inclui o nosso grã-tabanqueiro, Arménio Santos, deputado do PSD).
Reproduz.se acima o programa existente (provisório) que inclui: (i) abertura pela Presidente da Assembleia portuguesa (que visitou recentemente a Guiné-Bissau, entre 16 e 19 deste mês); (ii) projeção de dois pequenos documentários; (iii) intervenções de representantes do Instituto Camões, do projeto Casa dos Direitos da Guiné.-Bissau e da Plataforma das ONGD portuguesas; (iii) dois momentos de debate; e (iv) encerramento.
Além dum representante da embaixada da Guiné-Bissau, está prevista a presença de: (i) representante da Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau; (ii) director da ONGD Tiniguena, Miguel Barros; e (iii) director do IBAP de Bissau, Alfredo Silva.
Para os organizadores, no momento em que se está a finalizar o programa de cooperação entre Portugal e a Guiné - Bissau para os próximos anos, é importante que esta sessão tenha uma divulgação alargada e conte com uma presença significativa de pessoas interessadas, guineenses e portugueses, amigos da Guiné-Bissau.
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Nota do editor;
Guiné 63/74 - P14790: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte II: Ao serviço do BART 1904 (de maio a setembro de 1968) e do BCAÇ 2852 (de outubro de 1968 a fevereiro de 1970)
Guiné > Zona leste > Sertor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Não, não é chegada do pessoal do Pel Rec Daimler 2046, vindo do Xime (onde desembarcou da LDG 101, Alfange, em 7 de maio de 1968) (*)... É sim o adeus a Bambadinca, depois de terminada a comissão, em fevereiro de 1970...
O BCAÇ 2852 vai terminar a sua comissão três meses depois, em maio de 1970, tendo sido rendido pelo BART 2917 (1970/72)... Por sua vez, o Pel Rec Daimler 2046 é rendido pelo Pel Rec Daimler 2, comandao pelo nosso camarada e velho amigo J. L. Vacas de Carvalho.
A coluna auto segue para o Xime, que fica(va) a sudoeste de Bambadinca... Havia aqui um cruzamento, com duas direções: esta, que vemos na foto, ia para sudoeste, ou seja, a estrada Xime-Bambadinc, que se apanhava no final da pista de aviação, tendo à esquerda o cemitério de Bambadinca com a sua fiada de poilões (e um muro, branco, visível na imagem), e à direita, a pista, o heliporto, o aquartelamento, o arame farpado.
O quartel tinha duas entradas e saídas: (i) esta, a sudoeste (ligando ao Xime); e outra a sul (ligando a Mansambo, Xitole e Saltinho); e (ii) uma outra, no outro extremo, a nordeste (ligando ao Rio Geba e a Bafatá).
Guiné > Zona leste > Sertor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Fevereiro de 1970 > Partida do Pel Rec Daimler 2046, com destino ao Xime, para apanhar a LDG para Bissau, uma vez terminada a comissão no setor L1.
Guiné > Zona leste > Sertor L1 > Bambadinca > s/d (c. 1968/69) > Aspeto parcial do quartel de Bambadinca. vista do lado sudoeste... Pista de aviação, heliporto, arame farpado e campo de futebol e instalações do pessoal da CCS...
Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > s/d (c. 1968/69) > Aspeto parcial do quartel de Bambadinca, vista do lado sudoeste... Porta de armas, posto de vigia, e à direita o edifício do comando, instalações de oficiais e sargentos... O aquartelamento (e posto administrativo) ficava num promontório, sobranceiro à grande bolanha de Bambadinca (à direita).
Guiné > Zona leste > Sertor L1 > Bambadinca > (s7d (c. 1968/70)> O centro do quartel de Bambadinca: o mastro bandeira, os memoriais das unidades e subunidades que por lá passaram, a escola oficial (que tinha uma professora branca, oriunda de Cabo Verde, a Dona Violeta, solteira, que vivia com a mãe)... Do lado da direita da escola, ficavam outras instalações civis do posto administrativo: a casa do chefe de posto, o edifício dos CTT... À esquerda, no mesmo enfiamento, ficava a capela. De maio a setembro de 1968, o Pel Rec Daimler 2046 esteve adido ao BART 1904 e, a partir de setembro de 1968 a fevereiro de 1970, ficou adido ao BCAÇ 2852.
Guiné > Zona leste > Sertor L1 > Bambadinca > s/d (c. 1968/69) > O mastro da bandeira, os memoriais das unidades e subunidades que por lá passaram, a escola oficial ... No telhado da escola, podia ler-se "Bambadicna", embora já com a tinta muito desbotada,
Guiné > Zona leste > Sertor L1 > Bambadinca > s/d (c. 1968/69) > Uma vista da tabanca de Bambadinca, entre o quartel, o posto administrativo e o rio Geba. A rua principal, que atrevessava a povoação (e quartel), fazia ligação à estrada (alcatroada) para Bafatá... Era a "autoestrada!" do leste que depois, com os anos há-de chegar a Nova Lamego, Piche e até à fronteira... Na imagem, vê o Jaime Machado, no alto do depósito de água (?) que ficava à esquerda da escola.
Guiné > Zona leste > Sertor L1 > Bambadinca > s/d (c. 1968/69) > Escolta a uma coluna na estrada Bafatá/Nova Lamego
Guiné > Zona leste > Sertor L1 > Bambadinca > s/d (c. 1968/69) > O memorial que o Pel Rec Daimler 2046 (1968/70) deixou em Bambadinca: desembarcou no cais fluvial do Xime no dia 7 de maio de 1968, tendo seguido em coluna auto até Bambadinca onde ficou ao serviço do comando do BART 1904 (Bambadinca, maio /setembro 68) e depois do BCAÇ 2852 (Bambadinca, outubro 68/fevereiro 70).
O pessoal do Pel Rec Daimler 2046, num total de 14 elementos, veio de LDG [101, Alfange], de Bissau até ao Xime, no dia 7 de maio de 1968, tendo seguido em coluna auto até Bambadinca onde ficou ao serviço do comando do BART 1904 (Bambadinca, maio /setembro 68) e depois do BCAÇ 2852 (Bambadinca, outubro 68/fevereiro 70).
II - ACTIVIDADE NO CTIG
O Pelotão Rec Daimler 2046 iniciou a sua atividade na província da Guiné como subunidade adida ao BART 1904, em Bambadinca, onde se manteve durante toda a sua comissão (que vai terminar em fevereiro de 1970)
Além de inúmeras acções de patrulhamento e escolta em todos os itinerários do setor L1, que seria descabido mencionar num resumo deste tipo, realizou esta subunidade as seguintes ações:
JUNHO 1968
Op Gordote
Iniciada em Ø5Ø3ØØ, com a duração de Ø6 horas e com a finalidade de efectuar cerco e rusga à tabanca de Mero. Tomaram parte na operação o Pel Caç Nat 63, Pel rec / CCS / BART 1904 e Pel Rec Daimler 2046
Op Bate Dentro
Iniciada em Ø916ØØ, com a duração de 3 dias e com a finalidade de efetuar ataque e destruição de objetivos na região de Poindon. Tomaram parte na operação a CART 2339 [Mansambo] a 4 Gr Comb, CCAÇ 2383 a 4 Gr Comb, CART 2384 a 4 Gr Comb, Pel Caç Nat 53, Pel Rec Daimler 2046 e Pel Art [ou Pel Mort 1192?].
O Pel Rec Daimler 2046 foi integrado no destacamento D que teve a seguinte actuação: saiu do Xime pelas Ø53Ø do dia D, deslocando-se pela estrada do Ponta do Inglês e foi emboscar-se junto da junção do trilho de Gundagué, ponto de passagem obrigatório para os elementos IN de Buruntoni que pretendam flagelar o aquartelamento do Xime, e local ideal para emboscar as NT que recolham de operações. Protegeu-se a última parte do regresso dos Dest A, B, e C, tendo recolhido em último lugar.
Op Garboso
Iniciada em 2111ØØ, com a duração de 36 horas e com a finalidade de efectuar patrulhamento e contacto com as populações e pesquisa de notícias na região de Binafa - ponto de encontro com as forças do BCAV 1905. Tomaram parte na operação o Pel Caç Nat 63 e Pel rec Daimler 2046. A população recebeu bem as NT. Não foram vistos vestígios IN. Contactada patrulha do BCAV 1905.
JULHO 1968
Op Gôndola
Iniciada em 13Ø6ØØ, com a duração de 2 dias e com a finalidade de contactar com as populações, no regulado de Sul Binafa-Padada. Tomou parte na operação o Pel rec Daimler 2046. Sem contacto nem vestígios, a população recebeu bem as NT.
Op Gargalo
Iniciada em 21Ø63Ø, com a duração de 1 dia e com a finalidade de contactar com as populações, controle de armamento e Serviço de Saúde, nas tabancas da região de Cossé. Tomaram parte na operação o Pel Mort 1192 e Pel Rec Daimler 2046. Sem contactos nem vestígios.
SETEMBRO 1968
Durante este mês efectuou-se a rendição do BART 1904, passando esta subunidade, o Pel Rec Daimler 2046, a ficar adida ao BCAÇ 2852.
(Continua)
PS1 - O Pel Mort 1192 esteve em Bambadinca, de maio de 1967 a março de 1969. O BART 1904 esteve em Bissau (jan 67/fev 68) e Bambadinca (fev 68 /out 68).
O Pel Rec Daimler 2046 foi antecedido pelo Pel Rec Daimler 1133 (Fá Mandinga, ago 66 / Bambadinca, Fá nov 66 / mai 68). E rendido pelo Pel Rec Daimler 2206, cde fev 70 a dez 71 (**), comando pelo nosso camarada e amigo alf mil cav J. L. Vacas de Carvalho. As viaturas, velhinhas, iam ficando de pelotão para pelotão... E cada vez mais inoperacionais, por problemas de mecânica e de manutenção...
PS2 - Segundo informação dada pelo Jaime Machado, ele nunca chegou a ir ao aquartelamento de Mansambo (em construção, em 1968) nem muito menos ao Xitole e ao Saltinho. Em contrapartida, foi a Galomaro (onde ainda não havia tropa, era uma povoação em autodefesa) e a Dulombi. Ia a Bafatá, com frequência e foi uma vez de férias à metrópole. Perguntei-lhe por curiosidade o que era feito do seu antigo 2º srgt José Claudino Fernandes Luzia que em 29/9/1969 foi evacuado para o HMP não tendo sido substituído... Tivemos uma conversa "off record",,,
Entretanto, encontrei na Net uma referência ao seu nome, no blogue Cavaleiros do Norte [, "Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona"]... Estava à beira dos 79 anos em outubro de 2012, tinha passado por Lanceiros 2, na Polícia Militar, e reformou-se 1987 como sargento mor de cavalaria:
(...) "O 1º. sargento [José Claudino Fernandes] Luzia foi responsável pela secretaria da CCS do BCAV 8423 e louvado pelos «serviços prestados na RMA», que, segundo o Livro da Unidade, «merecem ser realçados e destacados em louvor público». O louvor sublinha-lhe «a maior lealdade, aprumo e correcção» e os serviços da maior responsabilidade que exerceu, «sempre se manifestando excepcionalmente competente e trabalhador», nas suas «delicadas missões» por terras do Quitexe, Carmona e Luanda". (...)
______________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 21 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14775: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte I: Partidas e chegadas
Vd. também 22 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14784: Fotos à procura de... uma legenda (55): a arte bem lusitana de viajar em LDG - Lancha de Desembarque Grande
(**) Vd. poste de 27 de agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3151: Unidades sediadas em Bambadinca entre 1962 e 1974 (Benjamim Durães)
Guiné 63/74 - P14789: Parabéns a você (926): António Branco, ex-1.º Cabo Reab Mat da CCAÇ 16 e Vasco Joaquim, ex-1.º Cabo Escriturário do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 23 de Junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14785: Parabéns a você (925): João Carvalho, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 5 (Guiné, 1973/74)
terça-feira, 23 de junho de 2015
Guiné 63/74 - P14788: Efemérides (193): O Dia da Consciência, 17 de junho de 2015, celebrado em Lisboa: sessão de homenagem a Artistides de Sousa Mendes, por ocasião dos 75 anos da sua decisão histórica (1940-2015) - Parte II
Vídeo (10' 02''). Alojado em You Tube > Luís Graça
Lisboa > Centro Cultural Franciscano > Largo da Luz > 21h > 17 de junho de 2015 > Dia da Consciência > Homenagem a Aristide de Sousa Mendes > Intervenção do jornalista Joaquim Franco.
Vídeo (10' 57''). Alojado em You Tube > Luís Graça
Lisboa > Centro Cultural Franciscano > Largo da Luz > 21h > 17 de junho de 2015 > Dia da Consciência > Homenagem a Aristides de Sousa Mendes > Comunicação do nosso camarada João Crisóstomo, lida pela dra. Mariana Abrantes (membro do conselho de administração, Aristides de Sousa Mendes Foundation, USA; o João integra, por sua vez, o National Advisory Council desta fundação, contacto: Sousa Mendes Foundation, PO Box 4065, Huntington, NY 11743, telephone: 206-426-5951).
Lisboa > Centro Cultural Franciscano > Largo da Luz > 21h > 17 de junho de 2015 > Dia da Consciência > Homenagem a Aristide de Sousa Mendes > Exposição documental
Vídeos e fotos: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados.
Um dos vistos passados pelo consulado português de Bordéus, com data de 19 de junho de 1940. Tem a assinatura do secretário do consulado, José Seabra, Não se sabe com rigor quanto vistos forsm concedidos por ordem de Aristides de Sousa Mendes. Fala-se em 30 mil, um terço dos quais para judeus.
Fonte: Cortesia de Wikipedia (versão inglesa).
Fonte: Cortesia de Wikipedia (versão inglesa).
________________
Nota do editor:
Último poste da série > 19 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14767: Efemérides (193): O Dia da Consciência, 17 de junho de 2015, celebrado em Lisboa: sessão de homenagem a Artistides de Sousa Mendes, por ocasião dos 75 anos da sua decisão histórica (1940-2015) - Parte I
Último poste da série > 19 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14767: Efemérides (193): O Dia da Consciência, 17 de junho de 2015, celebrado em Lisboa: sessão de homenagem a Artistides de Sousa Mendes, por ocasião dos 75 anos da sua decisão histórica (1940-2015) - Parte I
Guiné 63/74 - P14787: Manuscrito(s) (Luís Graça) (59): Lisboa, Mouraria, Rua do Benformoso
Na Rua do Benformoso
já não manda o Intendente,
a rua agora
é da gente
que lá mora.
Passa um miúdo, preto,
com um saco de pão
na mão,
é o moço de recados
do restaurante onde cheira
a especiarias da Índia.
Diligente e esperto,
voluntarioso,
não nos parece que seja
um sem eira nem beira,
nem muito menos um potencial terrorista do estado islâmico,
nem muito menos um potencial terrorista do estado islâmico,
diz o relatório do chefe da esquadra policial.
Há talhos halal
pela rua abaixo,
e gente, rua acima,
que veio dos Himalaias
na última arca
de Noé.
Nas praias
do Tejo,
naufragam barcos de escravos,
uns são do marquês,
outros do patriarca,
mas a maior parte são propriedade
d'el-rei, sua majestade,
senhor de aquém e de além-mar.
Os outros, para aí uns três,
perigososos, foragidos,
sem valor na bolsa de valores,
não valem vinténs, réis ou centavos,
são de quem os apanhar,
mortos ou vivos,
nas ruelas e escadinhas da cidade.
Nas praias
do Tejo,
naufragam barcos de escravos,
uns são do marquês,
outros do patriarca,
mas a maior parte são propriedade
d'el-rei, sua majestade,
senhor de aquém e de além-mar.
Os outros, para aí uns três,
perigososos, foragidos,
sem valor na bolsa de valores,
não valem vinténs, réis ou centavos,
são de quem os apanhar,
mortos ou vivos,
nas ruelas e escadinhas da cidade.
Na rua do psst!, psst!,
não adianta clamar pela rainha,
que ela é louca,
e toda a energia é pouca,
para marchar,
p'ró pretinho e p'rá pretinha,
p'ró pretinho e p'rá pretinha,
Agora a Mouraria é que é,
grita o último marchante
da avenida da Liberdade;
chegou tarde
e deixou p'ra trás a acompanhante.
Rua acima, rua abaixo,
grita o último marchante
da avenida da Liberdade;
chegou tarde
e deixou p'ra trás a acompanhante.
Rua acima, rua abaixo,
formosa mas não segura,
vai a mulatinha da Guiné,
de balaio à cabeça,
e pano garrido à cintura,
de balaio à cabeça,
e pano garrido à cintura,
ainda à espera
do milagre de Santo António.
do milagre de Santo António.
Pode o mundo ir a pique,
podem até enforcar
o Pina Manique,
não adianta lamentar,
o Pina Manique,
não adianta lamentar,
na rua do Benformoso,
o Mali é já ali,
não se canta o fado,
muito menos a despique
com os da rua do Capelão.
Vão à sopa dos pobres
até os das casas nobres,
caídos na pobreza,
e agora merceeiros
da santa casa da misericórdia.
Se não há pão,
não há concórdia,
mas a rua do Benformoso
caídos na pobreza,
e agora merceeiros
da santa casa da misericórdia.
Se não há pão,
não há concórdia,
mas a rua do Benformoso
é que é,
diz o antigo fuzileiro
lá nado e criado,
lá nado e criado,
o “Mouraria”,
hoje na casa dos quarenta:
andou nas guerras da Crimeia
ao serviço da Nato,
arranjou ao comandante um berbicacho,
foi apanhado a mijar na pia
hoje na casa dos quarenta:
andou nas guerras da Crimeia
ao serviço da Nato,
arranjou ao comandante um berbicacho,
foi apanhado a mijar na pia
de água benta
da mesquita azul
da mesquita azul
em Istambul;
estava bêbedo que nem um cacho.
estava bêbedo que nem um cacho.
O que nos salva é a fé,
e o que nos resta... do pé de meia;daqui ninguém arreda pé,
mesmo em caso de haver peste
(de que Deus nos livre!,
e, se tiver que ser,
que Ele nos ajude!),
garante o guarda-mor
da porta da senhora da saúde.
A rua do Benformoso, agora
é de quem lá passa,
com mais jeito ou menos graça,
com mais jeito ou menos graça,
ou de quem lá namora,
ou muito simplesmente
de quem por lá se demora.
de quem por lá se demora.
Lisboa, Largo do Intendente,
Festival Lisboa Mistura 2015, 19/6/2015
Lisboa, Largo do Intendente > 19 de junho de 2015 > Mural da campanha Unidos pelo Fim da MGF [Mutilação Genital Feminina], projeto da APF - Associação para o Planeamento da Família.
O Mural END FGM foi criado pelos artistas Fidel Évora e Tamara Alves no âmbito da campanha europeia END FGM, que advoga a atuação enérgica do Parlamento Europeu na erradicação da Mutilação Genital Feminina (MGF) na Europa e no Mundo.
Festival Lisboa Mistura 2015, 19/6/2015
Lisboa, Largo do Intendente > 19 de junho de 2015 > Mural da campanha Unidos pelo Fim da MGF [Mutilação Genital Feminina], projeto da APF - Associação para o Planeamento da Família.
O Mural END FGM foi criado pelos artistas Fidel Évora e Tamara Alves no âmbito da campanha europeia END FGM, que advoga a atuação enérgica do Parlamento Europeu na erradicação da Mutilação Genital Feminina (MGF) na Europa e no Mundo.
A apresentação, em julho de 2014, contou com os testemunhos de Aissato Djaló, Projeto Musqueba, e de Duarte Vilar, Diretor Executivo APF [, e irmão do nosso malogrado camarada, cap cav Luis Rei Vilar, comandante da CCAV 2538 / BCAV 2876, unidade de quadrícula de Susana (1969/71)].
Lisboa, Mouraria > Rua do Benformoso > 19 de junho de 2015 > Uma habitante local, à janela... (Muitas das casas têm as paredes exteriores a azulejos oitocentistas, como esta; a 100 metros , no largo do Intendente, fica a antiga e famosíssima Fábrica de Cerâmica da Viúva Lamego, fundada em 1849 (e que ajudou a fazer de Lisboa a cidade do azulejo).
Lisboa, Mouraria, eixo Praça Martim Moniz / Rua da Palma / Largo do Intendente > 19 de junho de 2015 > A zona mais multiétnica da cidade. Sabe-se que entre os habitantes da Mouraria, para aalém dos nativos. há mais de meia centena de etnias, com origem na Ásia, África, Europa de leste e "Novo Mundo"... É um bairro histórico fascinante que importa conhecer, acarinhar e divulgar... Dicas podem ser encontradas aqui na página da associação Renover a Mouraria.
Lisboa, Praça do Martim Moniz > 19 de junho de 2015 > "Sem bandeiras nem fronteiras", um slogan "anarquista".
Lisboa, Praça do Martim Moniz > 19 de junho de 2015 > "Sem bandeiras nem fronteiras", um slogan "anarquista".
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:
Último poste da série > 29 de maio de 2015 > Guiné 634/74 - P14677: Manuscrito(s) (Luís Graça (58): Cais de partida(s): Porto de Lisboa (Parte I): Gare Marítima de Alcântara: os painéis de Almada Negreiros
Guiné 63/74 - P14786: Convívios (693): 30º Encontro da CART 3494, 13 de Junho de 2015, RA-5 (Sousa de Castro)
1. O nosso Camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), solicitou-nos a publicação do seguinte convite para o convívio anual da sua Unidade:
30º Encontro da CART 3494 levado a efeito no dia 13 de Junho de 2015 no RA-5 (Regimento Artilharia 5) ex. RAP-2
= PARTE 1 =
= PARTE 1 =
No passado dia 13 de Junho a comissão responsável pelo evento, levou a efeito o 30º encontro-convívio da CART 3494 no ex. RAP 2, que passaram pela experiência amarga da Guerra na Guiné, comemorou-se 41 anos após a nossa chegada.
Foram 38 ex. combatentes que responderam à chamada num total de 63 presenças, verificou-se que, uns por razões pessoais não puderam estar presentes, outros nem disseram nada e ainda várias cartas devolvidas supostamente por moradas desconhecidas ou desactualizadas e números de telefone alterados ou não atribuídos.
Pelas 10,30 horas começaram a chegar os primeiros combatentes onde se denotava alegria expressa nos rostos pelo encontro de camaradas que á muito não se viam.
Procedeu-se a actos de homenagem debaixo de chuva fraca mas certinha, junto do memorial aos combatentes falecidos em combate na guerra do Ultramar, com deposição de uma coroa de flores. A guarda de honra foi prestada por uma secção do Regimento de Artilharia 5.
Pelas 13,00 horas saímos em caravana auto para o local do almoço no Restaurante “Quinta da Paradela” onde foi servido um fantástico almoço.
Convivemos, recordamos Estórias vividas, revivemos peripécias, enfim!...
Pelas 18 horas foi o destroçar e até ao próximo ano, dizer ainda que o próximo encontro em 2016 ficou a cargo dos ex. soldados, António Júlio Peixoto e Manuel Guedes Ferreira que se realizará na zona de Espinho em Junho, na data antes ou depois do dia 10 como tem sido habitual.
Sousa de Castro, ex. 1º cabo radiotelegrafista da CART 3494
Algumas fotos:
No Xime tínhamos 3 Obus iguais a este
Vista panorâmica do Porto
Regimento Artilharia 5, ex. RAP-2
A alegria estampada nos rostos de:Vilela Peixoto, Alcides Castro e Manuel G. Ferreira
Ex. TRMS Inf. Marinho, Armando Dias e Carmindo Silva
ASPECTO DO PESSOAL
Memorial onde se vê o nome do ex. Fur. Milº morto em combate na Ponte Coli
MEMORIAIS
MEMORIAIS DA UNIDADE
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
Guiné 63/74 - P14785: Parabéns a você (925): João Carvalho, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 5 (Guiné, 1973/74)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 22 de Junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14780: Parabéns a você (924): António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref, ex-Alferes de Art.ª na CART 1692 (Guiné, 1968/69), ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494 e CART 3567 (Guiné, 1972/74)
Nota do editor
Último poste da série de 22 de Junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14780: Parabéns a você (924): António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref, ex-Alferes de Art.ª na CART 1692 (Guiné, 1968/69), ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494 e CART 3567 (Guiné, 1972/74)
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