terça-feira, 21 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14906: (De)caras (23): Chefes de posto administrativo, no Cacheu, lembro-me de dois, com quem convivi, naturais de Cabo Verde, como eu: (i) Vicente Andrade; e (ii) Jorge Miranda Lima, casado com uma sobrinha do Amílcar Cabral; ambos tiiveram problemas com a PIDE/DGS, e o segundo conheceu a Ilha das Galinhas (António Medina, ex-fur mil, CART 527, 1963/65)


Foto nº 1 


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Cacheu > 14 de Fevereiro de 2005 > Imagens da cidade de Cacheu (fotos nº 1 e 2) e do forte quinhentista (fotos nº 3 e 4),  depois de restaurado e reabilitado. O forte,  na margem sul do rio Cacheu, no século XVI, dava protecção a uma das mais importantes feitorias no Noroeste da Guiné.

Álbum fotográfico do José Couto (ex-furriel milicano de transmissões, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego). As fotos chegaram-nos através do Constantino (ou Tino) Neves, camarada do José Couto, e nosso grã-tabanqueiro de longa data.

Fotos: © José Couto / Tino Neves (2006). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem: LG]

1. Mensagem do nosso camarada, que vive nos EUA, António C. Medina

[, foto à direita,  o camarada Antonio C[ândido da Silva]. Medina, ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu,Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, foi funcionário do BNU, Bissau, de 1967 a 1974; vive hoje nos EUA desde 1980; é nosso grã-tabanqueiro desde 1/2/2014]


Data: 17 de julho de 2015 às 03:43
Assunto: Memória dos lugares.


Para Luís Graça e António Bastos:

Até que enfim,  acabo de sair desse meu ostracismo, esperando poder ser útil em esclarecer o assunto levantado pelo nosso camarada Bastos. (*)

Claro que sim, o Bastos afirma,  e com razão,  que, para se deslocar a Coboiana [, ou Caboiana], se passaria por Churro onde se seguia a picada para se deslocar àquele local, depois de muita caminhada passando por outras tabancas que de memória já não me lembro dos nomes.

Quanto a Chefes de Posto Administrativo,  apenas me lembro apenas de dois naturais de Cabo Verde:

(i) Vicente Andrade,  colocado em Cacheu, no ano de 1964,  que depois passou para o quadro das Alfândegas em Bissau, preso por algum tempo pela PIDE/DGS; e outro

(ii) Jorge Miranda Lima, casado com uma sobrinha de Amílcar Cabral, preso por boa temporada na Ilha das Galinhas,  no Arquipélago de Bijagóss  pela PIDE, onde foi torturado,  para depois ser nomeado Chefe de Posto em Cacheu. 

Crachá da CART 527 (1963/65)
Com esses dois mantive sempre bom relacionamento,  sem política pelo meio, até que regressei em 1965 para Lisboa.

Concordo plenamente que prestemos uma devida vénia às nossas mulheres que, com o seu trabalho no Movimento Nacional Feminino, contribuiram para minimizar ao soldado as dificuldades com que vivia numa guerra indesejada.

No que diz respeito às "más línguas",  não me recordo de nenhum Chefe de Posto em  Cacheu casado com portuguesa de Lisboa, com quem andasse eu em petiscos e copos quase que diariamente, até porque fui sempre respeitador e respeitado, seguidor dos deveres militares.

Para os camaradas Luis Graça e António Bastos um grande abraço do Medina.



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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14871: Memória dos lugares (304): Sobre a tabanca de Caboiana, e sobre o chefe de posto de Cacheu, que era caboverdiano, o nosso camarada António Medina (,ex-fur mil CART 527, 1963/65, a viver nos EUA,) pode dar esclarecimentos adicionais (António Bastos, ex-1º cabo, Pel Caç Ind 953, 1964/66)

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14905: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (10): Não, nunca percebi para que serviam os CTT no CTIG... Notícias de Alhandra, da minha família, por ocasião da tragédia, as grandes inundações, de 25 para 26 de novembro de 1967, que atingiram a Grande Lisboa, recebi-as através de telegrama militar... (Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)






As notícias, mesmo censuradas, da tragédia que se abateu sobre a grande Lisboa na noite de 25 para 26 de novembro de 1967... Capas do Diário de Lisboa. Cortesia da Fundação Mário Soares > Fundo:  DRR - Documentos Ruelle Ramos



1. "Bate-estradas" do Mário Gaspar (*)


[ Mário Gaspar, foto atual à direita; ex-fur mil at art, minas e armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68; e, como ele gosta de lembrar, Lapidador Principal de Primeira de Diamantes, reformado; e ainda cofundador e dirigente da associaçºao APOIAR]:



 Data: 18 de julho de 2015 às 01:04

Assunto: Os CTT para Telefonar

Comrades:

Nos dias 19 e 20 de Novembro de 1967, participei na "Operação Raiana. Missão: Executar um golpe de mão ao acampamento de Boror. Não se chegou a descobrir o objectivo. No dia 26 de Novembro, dormindo na cama ao lado do Furriel Mecânico José Manuel Guerreiro Justo, e tendo este comprado um rádio onde ouvíamos somente Guiné Conacri, mexendo por mero acaso nos botões, oiço uma rádio portuguesa, dando notícias da nossa terra.

Contente, mas logo amargurado quando tenho conhecimento não existirem notícias animadoras. Pelo contrário acontecera uma tragédia, as inundações da Grande Lisboa, com indicações de muitos mortos e feridos e o dramatismo de algumas povoações terem sido tragadas pelas enxurradas e inundações (**).

Tudo se iniciara por volta das 19 horas. Parecia mais tratar-se de um milagre, estar a escutar, e com nitidez notícias de Portugal, nós escondidos naquele recanto no sul da Guiné – ouvi falar em Alhandra – povoação em que vivia, portanto terra onde viviam os meus pais e igualmente um irmão. Falavam para além de Lisboa escutava os nomes das vilas, entre outras de Odivelas, Loures, Alenquer, Vila Franca de Xira, Povos, e muito mais.

Parecia estar a ser atacado pelo PAIGC. Então escutava o nome de Alhandra. Recordava os anos passados, em que as cheias levavam água ao interior da vila. Cheguei a andar de botins altos e alguns barcos percorrem as ruas mais encostadas ao Tejo. Durante anos acostumei-me à ideia de ver todas as portas dos rés-chão tapadas com tábuas seguras com lama. Falava-se em enxurradas de lama que soterraram terras.

Fiquei atordoado, e resolvi falar com o Comandante da Companhia o Capitão Miliciano de Infantaria Manuel Francisco Fernandes de Mansilha. Fiquei admiradíssimo depois de contar o que se passava, tendo dito não ter notícias da família e saber que Alhandra tinha alguns mortos, o Capitão disse para ir com ele e enviámos um telegrama para os meus pais. Desconhecia essa possibilidade. Mas foi verdade.

Depois de sofrer,  recebo então um Telegrama onde a minha mãe dizia para estar sossegado por a água não ter chegado a atingir a casa. Na Praça 7 de Março em Alhandra está marcada a altura das águas neste dia fatídico para inúmeros portugueses. Portanto a minha casa, embora não tenha chegado ao 1.º andar, esteve muito perto. Curioso, nunca perguntei como a minha mãe se deslocou aos Correios,  se era uma zona inundadíssima. Recebi o tal telegrama, desta vez o sistema funcionou. O rádio de plástico do meu amigo algarvio, de Loulé,e Furriel Miliciano Justo, foi justo em informar-me desta tragédia. Ainda o ouvimos, mas depois voltam músicas de Guiné Conacri e muitas mornas e coladeras.

Notícias? O correio atrasado. Muito atrasado sem justificação. Isolados, com o mato à vista, paliçadas, abrigos e arame farpado. Telefonar? Telefonava na esquina da morança do Mamadu? Ou no Baldé? O meu telefone era a cerveja, falava dela, falava com ela e palava por causa dela. O que ingeri devia dar inundação se o seu líquido colocado numa piscina Olímpica.

Tive azar e sorte também. O azar é para esquecer, a sorte foi ter dinheiro para gozar licença na minha terra. Gozei mesmo, gastei bem, não me arrependo. Para mim a licença de Setembro/ Outubro de 1967 foi uma coroa de glória. Já estava em guerra, sabia o que ela era. Para mim era a despedida. Aproveitei aqueles 35 dias como os derradeiros dias da minha vida. Chegado a Bissau, escrevi quando se falava já naquela que seria a "Operação Revistar", para alguém – possuo essa carta mas não lhe toco mais – pois escrevi isto: – "Estou farto de Bissau, aqui só se fala em guerra". O que significa que antes desejava a guerra do que falar dela. Fui, entrei em Gadamael numa avioneta, mas nem vi os Correios, nem muito menos o telefone. O único privilégio que gozei, nos domingos ia até o Posto Rádio saber notícias do futebol em Alhandra. Na Aldeia Formosa estava o meu amigo Cordeiro, era radiotelegrafista e sabia o resultado do Alhandra.

Acho que fomos muito maltratados por não haver vontade de dar uma resposta adequada a nós que estávamos desterrados nos confins do mundo, antes, no cu do mundo. Muito pouca vontade, depois com a agravante de sermos obrigados ir buscar o Correio a Sangonhá para nos castigarem com patrulhas, quando nas vésperas tínhamos patrulhado a zona. Éramos uns imbecis e com a agravante de não termos a equivalência à tropa de elite – "Os Especiais". Olha porra! Mas sou também "Especial", "Tropa Especial", até tinha uma treta que se lia: – "Minas e Armadilhas".

Lembro-me dos Correios de Bissau, existia de facto a possibilidade de se pernoitar na cama de uma das suas funcionárias. No guiché assustei-me e desisti dessa noite entre lençóis. Foram poucos os dias de Bissau. E mesmo na cidade nunca fiz um telefonema. Fui ameaçado de castigo. Em Setembro de 1967 um Senhor Coronel disse-me após dois ou três dias seguidos no Café Benfica, estava fardado:
– Onde está, em que quartel?

Respondi-lhe que estava "no mato, em Gadamael Porto". Insistiu:
– Quem é o seu Comandante de Companhia?

Como não havia telefone em Gadamael, só respondi que era o Capitão Mansilha. Respondeu conhecê-lo e enviou cumprimentos. E se não fosse da Companhia… Estava tramado. Logo de seguida, na Agência de Viagens Sagres, estava eu e o meu amigo Jorge a tratar da documentação para entrarmos de licença, era no dia seguinte. Entraram três Capitães, passado algum tempo, berrou um deles:
– Os nossos Furriéis desconhecem os postos! Não cumprimentam? – Respondi:
– Então bom dia!

O meu amigo Jorge, a uns dias de concluir a comissão, após o almoço de despedida, trazia um garrafão de 5 litros de verde. Mesmo defronte do Hotel Portugal, completamente embriagado, agarra nas divisas e pisa-as. Aparece a Polícia Militar, comandada por um Furriel Miliciano. Segue na nossa direcção. Olho para o Jorge e para o Furriel da PM e digo-lhe:
– Vai-te embora, nada vistes, vira as costas.

Olha para mim… Respondo:
– Olha para a esquerda! – E à esquerda, e na esplanada, toda a CART 1659 se colocou de pé. A PM desandou. Não usávamos o telefone, que no mato não existia.

Cumprimentos aos Camaradas Combatentes.

Mário Vitorino Gaspar

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(**) Vd. entre outros recortes de imprensa:

DN - Diário de Notícias > 25 de novembro de 2007 

Nunca choveu tanto como em 67
por KÁTIA CATULO

(...) Cheias de 1967 - Memória. Mais de 700 pessoas terão morrido nas cheias que, no dia 25 de Novembro de 1967, apanharam desprevenidas as populações que viviam na região da Grande Lisboa. DN ouviu os relatos dos sobreviventes que têm memórias tão vivas como há 40 anos.

Cinco horas de chuvas torrenciais mergulharam a Grande Lisboa na maior inundação que a região alguma vez conheceu. Faz hoje 40 anos que as cheias de 1967 provocaram mais de 700 mortos e cerca de 1100 desalojados em Lisboa, Loures, Odivelas, Vila Franca de Xira e Alenquer. A enxurrada matou famílias inteiras, arrastou carros, árvores e animais e destruiu pontes, estradas e casas.

A chuva atingiu entre as 19.00 e a meia- -noite do dia 25 de Novembro as zonas baixas dos quatro concelhos da Grande Lisboa, mas só na manhã seguinte é que os portugueses se depararam com a verdadeira dimensão da tragédia. Urmeira, Póvoa de Santo Adrião, Frielas - povoações da bacia do rio Trancão-, e a Quinta dos Silvados, em Odivelas, foram os aglomerados urbanos mais atingidos. As casas eram de madeira e centenas de moradores foram engolidos pelas águas.

Lisboa, por seu turno, ficou irreconhecível. A Avenida de Ceuta, em Alcântara, esteve submersa e o mar de lama desceu até à Avenida da Índia. A água entrou em todas as bifurcações, subiu e desceu escadarias, derrubou as portas de tabernas, lojas e rés-do-chão, arrastando mesas, cadeiras, bilhas de gás, contentores e bidões da estação ferroviária.

Perto das 23.00 a chuva caiu ainda com mais força e as enxurradas atingiram um carro que circulava na Rua de Alcântara, encurralando os três ocupantes. O repórter do DN que na altura acompanhou as inundações, em Alcântara, conta que um soldado mergulhou nas águas e conseguiu retirar os três passageiros, minutos antes de o carro ser arrastado. Interrupções no trânsito sucederam-se desde a Avenida 24 de Julho ao Campo Pequeno, da zona do aeroporto da Portela à Avenida Almirante Reis, da Baixa a Santa Apolónia. Na Praça de Espanha e na Avenida da Liberdade, só se passava de barco e, na estação de caminhos-de-ferro, centenas de pessoas ficaram retidas nas carruagens porque a água submergiu as linhas.

O regime salazarista tentou minimizar os impactos das chuvas, mas as suas repercussões atravessaram fronteiras e desencadearam um movimento de solidariedade internacional. Chegaram donativos dos governos britânico e italiano, do Principado do Mónaco e até o chefe do Estado francês, o general De Gaulle, contribuiu com uma "dádiva pessoal" de 30 mil francos (900 euros, no câmbio da época). O apoio em meios sanitários veio de França, Suíça e sobretudo de Espanha, que ofereceu mil doses de vacina contra a febre tifóide. (...)

Guiné 63/74 - P14904: Lembrete (12): Repasto da Magnífica Tabanca da Linha, em Oitavos, Guincho, Cascais, dia 23, 5ª feira... O prazo de inscrição termina hoje à meia-noite... Espera-se meia centena de convivas, entre eles, três "periquitos": (i) o mítico comandante Pombo; (ii) a sua dedicada filha Maria João; e (iii) o maj gen PQ Avelar de Sousa (que foi cmdt da CCP 123 / BCP 12, 1972/74)

1. A pedido da "troika" que agora comanda as "tropas" da Magnífica Tabanca da Linha (Jorge Rosales, José Manuel Matos Diniz e Manuel Resende; há ainda um quarto elemento, o "lassa" Mário Fitas, que está no "back office"...), serve o presente lembrete (*) para... lembrar que:

Comandante Pombo aos comandos de um Cessna dos TAAG,
c. 1972/74. Foto do Álvaro Basto
(i) realiza-se no próximo dia 23, 5ª feira, mais um almoço convívio da Tabanca da Linha (, magnífica, sulista, mas não elistista: basta dizer que aqui os chefes são sempre mais do que... os índios) (**)

(ii) espera-se cerca de meia centena de convivas, o que é bom, tendo em conta que já estamos em período de férias de verão (para os felizardos que as têm);

(ii) entre os "periquitos", vamos ter, entre outras, a feliz presença do mítico comandante Pombo. da sua dedicada filha Maria João Rodrigues Pombo e do major general PQ Avelar de Sousa (ex-cmdt da CCP 123/BCP, Bissalanca, BA 12, 1972/74);

(iiii) camaradas e amigos que ainda queiram inscrever-se, têm o dia de hoje para o fazer através do nº de telemóvel 919 458 210 que o Manuel Resende põe amavelmente à vossa disposição:

(iv) recorde-se que o local de encontro é no Restaurante panorâmico Oitavos, estrada do Guicnho, Cascais... na Quinta da Marinha.[Vd. localização no Google].



Manuel Resende, um rapaz da linha
2. Localização do restaurante Oitavos 

Situa-se numa rua que vai  no sentido Cascais-Guincho: 
(a) depois de ultrapassado o farol da Guia e as bombas; 

(b) corta-se  na 3ª. derivação à direita (à esquerda é sempre mar), e está assinalada numa indicação em frente a um forte antigo da Guarda Fiscal; 

(c) sobe-se essa rua pela esquerda até ao final; (d) aqui há um largo espaço de estacionamento, encimado pelo restaurante de Oitavos;

 (e) atenção: antes do estacionamento há um desvio à direita para o hotel, a que não se deve dar importância... 

A "memória descritiva" do sítio é feita pelo 1º secretário da Magnífica Tabanca da Linha; ele omitiu a referência à Quinta da Marinha,,, para não assustar os novatos: 

(i) a vista do sítio é deslumbrante; 

(ii) a comidinha cinco estrelas; 

(iii) o preço ?... mais barato que na messe do céu; 

(iv) os tabanqueiros são do melhor; 

(v) o régulo... é o nosso veteraníssimo e popular Jorge Rosales; 

(vi) o Matos Diniz, além de (co)mandar, faz a cobertura jornalística: as suas reportagems são já peças de antologia; 

(vii) por fim, mas não menos importante, o Manuel Resende, por delegação do 1º secretário,  é o sete em um: faz o marketing e as relações públicass, recebe as chamadas de telmóvel e os emails, faz as inscrições, fala com o cozinheiro, recebe os convidados, está atento aos detalhes, e por fim faz, de m´+aquina em punho, a competente e completíssima cobertura fotográfica do evento social.

Guiné 63/74 - P14903: Memória dos lugares (307): O meu rio próximo, e de estimação, era o Rio Grande de Buba (1) (António Murta)

1. Mensagem do nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), com data de 1 de Julho de 2015:

Camaradas Luís Graça e Carlos Vinhal
Sobre a temática dos rios, de tantos encantamentos e infortúnios, comuns a quase todos nós, não sou muito versado, pois só um conheci pela proximidade e, ainda assim, sem grandes intimidades, tendo espreitado outro apenas duas vezes. Contudo, pelas experiências que me proporcionaram, não queria deixar de os referir.

António Murta


RIO GRANDE DE BUBA E RIO CORUBAL (1)

RIO GRANDE DE BUBA (1)

O meu rio próximo, e de estimação, era o Rio Grande de Buba, grande via de comunicação para pessoas, mercadorias e equipamentos militares. Era a ligação para o Mundo a partir destes confins perdidos, para as cargas pesadas e os contingentes militares impossíveis de deslocar por via aérea. Mas era também, à falta de melhor, o parque aquático onde muitos se refrescavam e pescavam - que não eu -, fazendo de Buba uma espécie de estância balnear, única em toda a zona. Isso implicava alguns riscos e retraía os menos afoitos, mas, logo após o estabelecimento da paz em Abril de 1974, chegámos a fazer várias deslocações a Buba só para o pessoal se refrescar.
Não posso dizer que conhecia bem este rio, pois só o naveguei uma vez e de noite. Também a visão que dele se tinha a partir do cais de Buba era relativamente limitada e, depois de banalizada, deixava-nos indiferentes às suas escassas belezas, tirando um ou outro pôr-do-sol mais flamejante.



Rio Buba em Buba, 1973-74



Rio Buba, 1974 – Descarga de LDG e embarque de Companhia (?) que terminou a sua comissão.


Rio Buba em Buba, 1974 – LDG faz-se à viagem.


Rio Buba em Buba, 1974 – A ingrata missão do meu Grupo: carregar do chão os víveres desordenados para as viaturas. 

Rio Buba em Buba, 1974 – Eu, a montar segurança para o banho tranquilo da rapaziada.

(Continua)

Texto e fotos: © António Murta
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 Nota do editor

Último poste da série de 13 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14871: Memória dos lugares (304): Sobre a tabanca de Caboiana, e sobre o chefe de posto de Cacheu, que era caboverdiano, o nosso camarada António Medina (,ex-fur mil CART 527, 1963/65, a viver nos EUA,) pode dar esclarecimentos adicionais (António Bastos, ex-1º cabo, Pel Caç Ind 953, 1964/66)

Guiné 63/74 - P14902: Notas de leitura (738): “Lugar de Massacre", de José Martins Garcia (2): Regressar à leitura de um dos livros indiscutíveis da guerra da Guiné (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Agosto de 2014:

Queridos amigos,
“Lugar de Massacre” é o primeiro título sonante da literatura da guerra da Guiné, após o 25 de Abril.
É uma carpintaria original, uma miscigenação de vários géneros literários, há para ali um controlo profundo de um mestre da língua que ondula entre o português vernáculo, o surrealismo, o humor trauliteiro, a paródia aos falsos valores ancestrais, o desnudar cruel dos horrores da guerra.
Pela sua complexidade, por ser uma página trágica do lugar e do tempo de massacre, continua a ser alvo de investigações universitárias, lá se vão descobrindo novas dimensões deste romance incómodo, subversivo, mordaz.

Um abraço do
Mário


Lugar de Massacre, de José Martins Garcia (2): Regressar à leitura de um dos livros indiscutíveis da guerra da Guiné

Beja Santos

“Lugar de Massacre”, de José Martins Garcia, é obra cimeira da literatura da guerra. Cáustica, niilista, libelo dolorosíssimo, com recursos à linguagem encriptada, rememoração autobiográfica, impôs-se desde a primeira hora pela sua originalidade, por gritar em voz alta o nome dos lugares e dos tempos de massacre.

Demolidor com os valores passadistas, é nesse contexto que podemos observar os comportamentos burlescos dos condes d’Avince e d’Enxeque, que têm sempre na boca os valores da glória de Portugal e anunciam que estão em missão civilizadora e na prática são duas futilidades a brincar aos valores de antanho. A atmosfera do Quartel-General é de paródia, de orgia romana. Em contraponto, Pierre Avince, sempre a arrastar uma velha mala, espoleta a inquietação cultural entre os condes. Depois de uma festa em que os condes viram a mobília do quarto partida, Pierre Avince convida-os para o almoço do seu aniversário, nova borrasca, acaba tudo em bebedeira monumental, ausência ao serviço, o comandante Pássaro em raiva rubra. A propósito do sucessor do comandante Pássaro, José Martins Garcia destila o seu fel sobre a dimensão tacanha e burocrática do militar:

“Não foi a um ser verdadeiramente humano que o comandante Pássaro cedeu a chefia. Não se tratava também de um longilíneo pássaro triste, nem de uma consciência empenhada no dever, nem de um guerreiro nostálgico de brocados, nem de um recalcitrante enfastiado por disciplinas de caixa e tambor. Não era um eleito por capacidades insondáveis, não era um perito em matemáticas ou em fuga de ideias. Não era nada disso. Quebrara bravamente um pé. Não em combate. Mas em exemplificações para instruendo. Também na pança e nas nádegas se lhe infiltrara o micróbio da demissão. Sedentário, transferindo para tarefas menos ginasticadas, engordara. Ainda angélico nas pupilas azuis, crescera nas nádegas roliças, na cara bolachuda, no tronco, no alto e no baixo, a ponto por vezes de lhe terem chamado chimpanzé. Capitão Oliveira”.

A atmosfera de bacanal irá manter-se, há para ali amores inconversáveis entre oficiais e praças, o capitão Oliveira e o conde d’Avince andam ciumentos, disputam o mesmo efebo. Pierre Avince anda por Catió, não se mistura com estes ardores de paixão. Numa vinda a Bissau temo-lo novamente a protagonizar uma bebedeira monumental. As orgias sucedem-se. Pierre d’Avince parte para Bafatá e daqui para a Ponta do Inglês, o que aqui se passa é descrito com a irreverência e no tom delirante do costume. Mas é neste contexto que o escritor nos deixa uma página belíssima:
 “Frente ao rio barrento, com o mato pelas costas e ruídos inquietos pelas noites iguais, desenrolavam-se os dias de degredo, com a estritamente indispensável vigilância e a excessos de memória nas palavras cada vez mais ásperas. A saída única era à beira-rio, se a Marinha tivesse tempo ou propósito de ali mandar uma lancha. Mas constava ninguém apreciar essas paragens, que bem interiores ao mapa da Guiné-Bissau, constituíam na realidade o último enclave do ocupante, tomando por referência o largo afluente de nome Corubal. Daí para sul - dizia-se -, embarcação que ousasse adiantar-se saía rendilhada de bala inimiga, como já se provara. E em terra, nas picadas que tinham ligado a Ponta ao Xime e ao Xitole, o matagal apagara o trilho humano, dando por zero a parte colonizadora da civilização.
Havia três meses que aquele Destacamento de quarenta humanos ali encontrara abrigos e arame-farpado e ali se exercitava na espera, numa inquietação sem finalidade senão a de sonhar a evasão. Para além da vedação, percorriam, bem armados, uns cinquenta metros, para alcançarem água vagamente potável, tendo o cuidado de se abastecerem pela manhã, visto já terem notado, na lama fresca, pegadas de pé descalço. Ou fantasmas ali se dessedentavam, ou outra gente, invisível e talvez atenta, ali se abastecia. E o Anatólio, o furriel de poucas falas, não se entendia a si próprio quando afirmava querer e não querer conhecer esses fantasmas, quem sabe se homens menos loucos que os enclausurados brancos da Ponta do Inglês.
Reinava o sol sobre os perdidos defensores da cerca e então algum sorriso lhes sublinhava as falas. Mas vinha a noite e os receios aos montes acidulavam os gestos com que baralhavam as sebentas cartas e as davam a rostos apreensivos de tanto jogarem sem só uma certeza. E quando o vento sarcástico da história lhes fundiam mais uma lâmpada amarelenta, falavam de socorro e reabastecimento, culpando da solidão e da escassez de tudo o encarregado das transmissões”.

Com um domínio absoluto sobre o absurdo, assim termina o capítulo:
“No dia seguinte, Pierre e os seus dois auxiliares entraram, com o estúpido material que lhes coubera em sorte, numa lancha da Marinha, ali por acaso. Beberam água fresca e adormeceram. O Destacamento da Ponta do Inglês foi atacado poucas horas depois. Entre mortos e feridos muita gente escapou”.

Pierre d’Avince segue para São Domingos, no jogo das cartas ficará eternamente endividado, melhor dito fica a dever o vencimento de um ano. Pierre já não é produto do delírio literário, conversa com familiares mortos, são sonhos em que fala do tráfico de escravos, da polícia de choque que entrou no estádio universitário, o que nos remete para a crise académica de 1962. Prosseguem as conversas com os antepassados mortos, a sombra do passado também é dada pelo alferes Teive, no Sedengal, não longe de São Domingos, e temos mais uma comicidade com a velha aristocracia:
“O alferes Teive era ferozmente monárquico. Em 1578, no desgraçado dia da batalha de Alcácer Quibir, Dom Diogo de Teive, cheio de areia histórica, largara o ‘Ter! Ter!’ – brado com o qual, segundo os historiadores providencialistas, Deus pusera termo à loucura sebastiânica. O alferes Teive cuja paixão na vida civil fora a Heráldica, achava-se na posse de valiosos documentos que demonstrariam, uma vez revistos e conjugados, ser falsa a atribuição do tal desastrado brado ao heróico Dom Diogo de Teive. Dizendo isto, o alferes sacudiu o mindinho ornado de velhíssimo brasão”.
É por estas paragens que Pierre encontra as personagens mais simpáticas da obra, o capitão Camilo e um agente técnico mulato. Questionado por Pierre, responde que ninguém lhe faz mal, ele trabalha para o desenvolvimento da Guiné, diz ter andando na escola com Amílcar Cabral. Pierre diz-lhe de forma cortante que ele trabalha para o ocupante e o outro retorquiu:
“Não. Trabalho para a Guiné. O país fica, os governos mudam”.
O caminho para o delírio prossegue, Pierre vai ver com os seus olhos tabancas destruídas, seguramente que o PAIGC não está inocente, em chão felupe vê miséria indescritível, vê doença, vê superstição:
“De fora, vinha a lamúria dos felupes, encaminhando os mortos para o paraíso felupe. O deus felupe em nada se distinguia do deus da baga-baga, esse deus que ordena às formigas a construção de catedrais. Sombreado pelo compasso do tambor, o cântico fúnebre toda a santa-noite uivava encomendando a peste ao deus felupe”.

A guerra anda à solta, há minas e sinistrados, Pierre, combalido, regressa a Bissau e baixa aos serviços da neuropsiquiatria. Assiste à chegada dos helicópteros, grita pela Pátria no seu desperdício, vendo tanto sofrimento que acode àquele hospital militar, está seguramente louco, este doutor em letras, cirurgião dos fados soterrados em letra morta. Endoidece no lugar de massacre. Para que conste.
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14891: Notas de leitura (737): “Lugar de Massacre", de José Martins Garcia (1): Regressar à leitura de um dos livros indiscutíveis da guerra da Guiné (Mário Beja Santos)

Guiné 63/73 - P14901: Inquérito online: Mais de 54% do pessoal nunca telefonou para a metrópole, durante a comissão, usando os CTT... Resultados preliminares (n=81), quando faltam 4 dias para "encerrar as urnas"...



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Edifício dos CTT... Ficava na tabanca de Bambadinca, nas imediações do quartel. Segundo recorda o Beja Santos, o nome da empregada dos CTT era a Dona Leontina ("uma gentil senhora com quem se apalavrava o dia e a hora para telefonar para Lisboa"). 

Sou dos que, a maioria, nunca lá foi telefonar, pelo que não me lembro da senhora. Presumo que  fosse caboverdiana, tal como a professora, a Dona Violante, e o chefe de posto (de quem também não me lembro o nome).

Lamentavelmente não convivivíamos, os civis e os militares. em Bambadinca, nomeadamente com a pequena comunidade caboverdiana. Havia preconceitos de parte a parte. As NT punham  em dúvida a lealdade dos caboverdianos em relação às autoridades portuguesas... Por outro lado, os comandos de batalhão tinham pouca ou nenhuma sensibilidade "sociocultural",,,

 Foto do álbum do José Carlos Lopes, ex-fur mil amanuense, com a especialidade de contabilidade e pagadoria, especialidade essa que ele nunca exerceu (na prática, foi o homem dos reabastecimentos do batalhão, o BCAÇ 2852).

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Edição  e legendagem: LG.)


SONDAGEM: "NA GUINÉ, DURANTE A COMISSÃO, UTILIZEI OS CTT PARA TELEFONAR PARA CASA"

1. Sim, em Bissau > 19 (23,5%)

2. Sim, fora de Bissau  > 13 (16%)

3. Sim, em Bissau e fora de Bissau  > 5 (6,2%)

4. Não, nunca utilizei  > 44 (54,3%)

5. Já não me lembro  > 0 (0%)


Votos apurados (às 21h45, domingo, 19/7/2015): 81
Dias que restam para votar: 4

domingo, 19 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14900: Libertando-me (Tony Borié) (26): Não é fácil

Vigésimo sexto episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66.



Companheiros, isto não é fácil, pelo menos na nossa idade, por quê? Porque quase todos nós, quatro, cinco horas da manhã, já estamos acordados, lá vem a guerra, no nosso caso o aquartelamento de Mansoa, e aí, já a coisa se torna mais fácil, já acordados, bebemos um pouco de sumo de laranja, mas por poucos minutos, pois o nosso pensamento volta a adormecer, o sonho continua, não sabemos se a dormir ou despertos, mas, o cenário repete-se centenas de vezes, estamos sentados, quase nus, numa cadeira feita da metade de um barril de vinho, temos uma cerveja quente, na mão, o sol, que foi tórrido durante o dia, está a pôr-se, para o lado do rio, até podemos ver aquele reflexo amarelo avermelhado, um pouco acima da água da bolanha, os mosquitos zumbem à nossa volta mas não mordem, pois a pele já está “africana”. O Curvas, alto e refilão, não pára de dizer asneiras, tu, companheiro, estás agarrado à leitura da metade da terceira página, enrugada e um pouco rota, de um jornal com data de há um mês, estás encostado à esquina da porta, sem porta, da entrada daquele maldito dormitório, onde estão uns tantos camuflados a secar, por cima dos mosquiteiros, sujos de suor e lama, entre outras coisas, por ali cheira a tudo menos a “esperança”. O “Mister Hóstia”, que era aquele militar muito disciplinado, educado e religioso, vem recomendar-te, com um ar muito delicado, para leres aquele capítulo da Bíblia, onde recomendam qualquer coisa que nós não ouvimos bem, mas ao sair do dormitório, talvez sem dar por isso, dá-te um encontrão, que tu não gostaste, pois com o movimento rasgaste mais um pouco da metade da folha do jornal e, logo lhe respondeste, com um, “oh cara..., já não vês bem”.


Nós, com um sorriso maroto, começámos a contar a história, naquela linguagem de combatente, sem aquelas palavras e frases modernas, que ninguém entende, história esta, que lemos não sabemos onde, mas muitos companheiros, como o Setúbal, o Marafado, o Pastilhas, o Trinta e Seis, mesmo o Mister Hóstia, que veio muito sorrateiramente colocar-se ao nosso lado, claro, com a bíblia na mão, a mostrá-la, e também o Arroz com Pão, que era o dedicado cabo do rancho, também veterano, que sempre lhes arranjava algo para comerem, quando saíam para combate, para irem entretendo o estômago, que não fosse ração de combate, que alguns diziam lhe dava a volta aos intestinos, que na linguagem local era, “panga bariga”, logo se vieram colocar ao nosso lado, para a ouvir, portanto, começámos a falar.
Cá vai:
- Ouçam bem, nada há a fazer, pois a nossa fama já vem de longe, talvez por volta do ano de 1617, está-nos no sangue, éramos e, talvez ainda hoje sejamos assim, queremos ser os melhores, os primeiros, os inovadores, ir lá à frente, sem quase nunca prever as consequências.

Neste momento, o Curvas, alto e refilão, manda-nos calar, com uma linguagem universal, rude, que quase todos nós conhecemos, mas nós continuámos a falar, cá vai.

- Vejam lá que um tal português, nosso antepassado, de nome Luís Mendes de Vasconcelos, fazia, não sabemos a mando de quem, aquelas incursões na África Austral e, de uma dessas vezes, já uns anos depois, (pois aquilo por ali, naquele tempo, era só escolher os que tinham aspecto mais saudável e melhores condições físicas e, carregar para bordo), talvez acompanhado pelos homens ao seu mando, também não sabemos se eram marinheiros ou piratas, invadiu a aldeia de N’dongo, em Luanda, Angola, carregando 60 cativos a bordo do navio negreiro São João Baptista, presos a ferros, homens e mulheres, foram enviados para o porto de Vera Cruz, no México. Os ingleses, holandeses, dinamarqueses e franceses, que por aquela altura se consideravam os donos do mar e das ilhas de uma região a que chamavam e ainda chamam “West Indies”, que quer dizer mais ou menos Índias Ocidentais, mas que não têm nada a ver com a Índia, que fica noutro continente, pois esta, é uma região da Bacia do Caribe e Oceano Atlântico Norte, que inclui as muitas ilhas e nações insulares das Antilhas e do arquipélago Lucayan, dizem até, que a culpa foi de um tal Cristóvão Colombo, que na sua primeira viagem às Américas, andando por ali a navegar, pensando que tinha chegado à Índia, lhe começou a chamar esse nome, e daí, os europeus de então, começaram a chamar-lhe Índias Ocidentais, para as diferenciar das ilhas que existem na verdadeira Índia, que são na região do sul e sudeste da Ásia...

Interrompo, só para dizer que o Curvas, alto e refilão, já me está a olhar de lado e a fazer gestos com a garrafa da cerveja vazia, vamos mas é continuar, cá vai a continuação.

- Esses tais Ingleses, holandeses, dinamarqueses e franceses, andavam por ali “à pesca”, principalmente dos navios portugueses ou espanhóis, pois sabiam que para cá traziam cativos africanos e, para lá levavam ouro, prata ou especiarias e, quando o marinheiro ou pirata, também não sabemos ao certo, que lá ia em cima, na vigia do navio, White Lion, (Leão Branco), a que também chamavam “The Flying Dutchman”, que quer dizer mais ou menos, “o holandês voador”, gritou com quanta força tinha nos seus já cansados e doentes pulmões, (pois a água potável, já estava racionada a bordo, já ia para duas semanas), para o seu capitão, um tal John Jope, e disse, “Portuguese ship to port, should bring slaves”, que quer dizer mais ou menos, “navio português a bombordo, deve trazer escravos”!

O “Setúbal”, que por sinal era nosso companheiro e amigo, que usou o equipamento camuflado que nos foi distribuído e, ia para as matas e bolanhas, naquele camuflado, já coçado, com as mangas cortadas, levava sempre um “lenço tabaqueiro”, que comprou na loja do Libanês, pendurado no cinto, dizia-nos ele, que era para lhe dar sorte, onde também ia o máximo de carregadores possível assim como uma granada, às vezes duas, que lhe eram distribuídas antes de sair, alguns também levavam uma faca bastante afiada, com uma protecção de cabedal, colocavam os restos das meias, que lhes saíam das botas, algumas rotas, por fora das pernas das calças, interrompeu-nos, para dizer, para não darmos mais “música”, mas continuámos a falar, cá vai.

- Não foi preciso mais nada, junto com seu assistente, o piloto Inglês Marmaduke Rayner, organizaram um ataque, unindo forças, também não sabemos se era um ataque de marinheiros ou um ataque de piratas, mas o certo é que quando se depararam com o navio português, São João Baptista, nessas águas do “West Indies”, atacaram-no e roubaram-lhe toda a sua carga, incluindo os africanos, colocando-os sobre o tal navio Leão Branco, que chegou a Old Point Comfort, que é hoje um lugar histórico na península do estado da Virginia, nos USA, em 20 de agosto de 1619, deixando ali, só 20 dos 60 cativos.

Tivemos outra interrupção, desta vez era o “Trinta e Seis”, o tal soldado que era baixo e forte na estatura, parecia de facto uma “bola”, passe o termo e, quando chamavam por ele, diziam, Trinta e Seis, rola para aqui, ou, o Trinta e Seis, não caminha, rola, o que ele nesse momento mostrava aquele dedo da mão esquerda, muito direito para cima, denunciando um gesto erótico, dizendo-nos, para “cantarmos” e, não falarmos, mas nós continuámos a falar, cá vai.

- E por quê só 20 cativos? Porque os outros 40, quando o tesoureiro do navio Leão Branco, que chegou cerca de quatro dias depois os tentou negociar como troca, para o abastecimento do navio, as negociações não foram aceites, houve mesmo tentativa de luta, então, o capitão ou pirata, também não sabemos ao certo, do navio Leão Branco, talvez zangado, levou toda a sua carga humana, condenando os cativos, não às praias ensolaradas de Bermuda, mas para suas plantações infernais, onde nunca mais se ouviu falar deles. Sabem qual era o preço para a troca destes seres humanos? Era única e simplesmente, água e milho. Falando agora dos outros 20 angolanos, que ficaram em Old Point Comfort, onde dois deles, ou seja, Antonio e Isabella, que receberam nomes cristãos, (nomes que lhe foram dados, como chamamos aos nossos animais de estimação), foram negociados com o capitão William Tucker, para trabalhar na sua plantação e, talvez para mais qualquer coisa, onde, quatro anos mais tarde, Antonio e Isabella se tornaram os pais do primeiro filho preto, escravo, cujo nascimento foi oficialmente documentado na América Colonial. O nome que lhe foi imposto era William Tucker, também o nome do homem que escravizou seus pais e, uma terceira pessoa identificada, a quem foi dado o nome de Pedro. Os restantes 17 não tiveram nome, foram trocados por produtos adicionais para o governador George Yeardley e Abraham Piersey, que os obrigou a trabalho em plantações ao longo do rio James, próximo de onde é hoje a cidade de Charles City, no mesmo estado.

Neste momento, aparece o “Furriel Miliciano”, que adorava um cigarro feito à mão, e diz, “amanhã, às cinco, normal equipamento, só a primeira secção, não esqueçam de levantar as granadas ainda hoje”.

Ainda bem que a nossa esposa e companheira nos deu um abanão e acordou, não fazendo muita diferença, pois a história tinha chegado ao fim. E era verdadeira.

Tony Borie, Julho de 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14867: Libertando-me (Tony Borié) (25): Depois da guerra

Guiné 63/74 - P14899: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (9): Viagens (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)

1. No seu bate-estradas do dia 14 de Julho de 2015, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), fala-nos de viagens.


VIAGENS

As viagens dão o prazer dos momentos agradáveis em que são realizadas e deixam na mente do viajante todas as impressões sensoriais e cognitivas que os sentidos recolhem. O viajante que regressa já não é o mesmo que partiu.

As nossas vidas são marcadas pelo movimento. Nos primeiros meses de vida é quase nulo, mas à medida que os meses passam os nossos membros vão ganhando músculo e nós vamos ganhando autonomia para nos deslocarmos, primeiro de rastos ou de gatas e na fase seguinte começamos a dar os primeiros passos. Não tarda, com poucos anos de vida vamos correr e saltar como cabritos endiabrados.

As viagens das nossas vidas estarão prestes a começar. Na minha meninice e juventude conheci muitos homens em Brunhoso que andaram milhares e milhares de quilómetros a maior parte a pé, outros a cavalo, dentro da área de 20 quilómetros quadrados que tinha o termo da aldeia.
Os trabalhos agrícolas sem recurso a máquinas e as várias colheitas, ao serviço deles ou de uns e outros a isso os obrigavam. O mar era uma miragem de que ouviam falar mas onde não tinham pernas para chegar.

Antes dos anos sessenta somente alguns tropas tinham a possibilidade de fazer essa longa viagem até ao litoral, da qual se iriam vangloriar para toda a vida. Tinham visto o mar imenso!
As únicas viagens de lazer que se permitiam fazer, era irem a pé ou a cavalo das "bestas" de quando em quando às feiras de Mogadouro ver sobretudo a feira dos animais, bois, vacas, cavalos, burros, mulas. Nesse tempo a feira do gado, em Mogadouro, estendia-se por vários hectares e era considerada uma das maiores feiras, senão a maior, do Norte, de gado bovino.
Iam também por vezes às romarias das terras próximas, onde muitas vezes tinham parentes. As minhas viagens fora da povoação começo a fazê-las com a Alice, uma jovem, "criada" dos meus avós maternos, que tinha o namorado a fazer a tropa na Índia. Com ele estava outro vizinho meu.

Para Brunhoso as viagens de ida e volta deles foram viagens épicas. O sentimento das gentes seria um pouco comparado ao que sentiam os portugueses dos séculos dos descobrimentos quando os seus jovens, comandados pelos grandes navegadores, arriscavam as vidas nessas viagens longínquas. A minha memória de menino transmite-me a impressão que a aldeia festejou o regresso dos dois heróis, que não foram à Lua, pois a Lua em algumas noites parecia tão grande e tão perto da aldeia, só iluminada por ela. Os heróis da terra vinham das Índias, dessas terras do fim do Mundo, depois duma longa viagem de dois meses e depois de uma ausência de três anos. Eram, da terra, mas vinham diferentes, tinham visto os mares imensos, terras longínquas, homens e mulheres doutras raças, cores e credos. As pessoas olhavam-nos nos olhos a tentar decifrar toda a sabedoria que os viajantes trazem das longas viagens por mundos desconhecidos.

As minhas viagens com a Alice, muito próximas da aldeia, eram para mim, nos meus quatro ou cinco anos de idade, para levar os cordeiros e as ovelhas paridas para um pasto melhor, viagens muito importantes e reveladoras. Nunca mais as esqueci. Através dos nossos anos, dos meus e da Alice, ficámos sempre amigos, gosto sempre de a encontrar, de ver o brilho dos olhos dela e o tratamento carinhoso que me dá, quase igual ao de antigamente. Pouco tempo depois passei a ir com o meu padrinho, que era também meu tio-avô com as vacas e os vitelos para os lameiros. Era solteiro, um bom homem, trazia sempre castanhas piladas nos bolsos que me dava de vez em quando. Éramos ambos um pouco distraídos de tal forma que por vezes chegávamos a casa sem as vacas pois elas tinham-se perdido de nós ou nós delas.

Um pouco mais tarde, não muito, passei a ir sozinho com as vacas e os vitelos para os lameiros, contava as horas não pelo relógio, que não tinha, mas pela altura do sol. Para entreter as horas desses dias longos e parados, quando não havia outros vaqueiros por perto, sonhava. Um dia sonhei que todo o lameiro estava coberto de moedas para eu comprar rebuçados e balões. Sonhos de garoto, de garoto guloso.

Com nove anos, antes da escola primária, às 9 horas da manhã, passei a ter que ir todos os dias a Remondes, quer chovesse, quer nevasse, aldeia a cerca de 3 quilómetros buscar leite de vaca, pois em Brunhoso não havia vacas leiteiras e a minha mãe tinha tido uma doença nos peitos e não podia alimentar um menino que tinha nascido. Nessas viagens antes da escola terei andado dois anos ou mais, pois um ano depois desse irmão nasceu uma irmã. Eram seis quilómetros divertidos de caminhada, antes da escola, que fazia na companhia de duas primas e um primo que também tinham irmãos pequenos a precisar desse leite. Tantas viagens, tantas caminhadas que fiz pelos campos e florestas de Brunhoso, à azeitona, à cortiça, a lavrar as terras, a buscar o trigo, a tratar das hortas. Muitas vezes aborrecido e já cansado, farto dessas actividades monótonas e repetitivas.

Hoje reflectindo, olhando para trás, penso que se continuasse nessa vida e não tivesse a tentação dos livros e do conhecimento talvez fosse mais feliz. Os livros nunca nos dão respostas satisfatórias, quando nos respondem a uma interrogação, criam logo duas ou três. Pela curiosidade intelectual nunca atingimos a paz ou o nirvana, pois por esse método, umas respostas conduzem-nos sempre a outras perguntas. Será que Fernando Pessoa, através do seu heterónomo Alberto Caeiro, o poeta do Guardador de Rebanhos, atingiu a paz que dá a vida simples e dura dos campos. Talvez, no breve tempo em que se identificou com esse heterónimo, pois Fernando Pessoa era um espírito inquieto e irrequieto.

Dele e de Camões, os maiores génios da poesia portuguesa, ficou-nos, de Camões, entre outras obras "Os Lusíadas", esse grande hino a esses bravos marinheiros, que fizeram os descobrimentos, e a todo o povo português e, de Pessoa, entre outras "A Mensagem" esse canto sublime com que saudou esses heróis planetários que o levou a sonhar, tal como o Padre António Vieira e outros na realização do Quinto Império de Portugal.

Em termos históricos, depois da Idade Média, já na Idade Moderna, somos o povo que pela coragem e pelos conhecimentos náuticos adquiridos mais contribuiu para alargar o mundo através das viagens pelos mares imensos para além do "mare nostrum" dos romanos, dos gregos, dos fenícios, dos cartagineses e doutros povos das margens do Mediterrâneo. Nós portugueses mostrámos a este pequeno mundo europeu e mediterrânico, que a terra era grande e os Oceanos navegáveis eram imensos. Os nossos navegadores, em condições precárias, aventuraram-se pelo Atlântico, pelo Índico e pelo Pacífico, nessas frágeis caravelas. Até hoje chegam-nos sobretudo a fama dos vencedores, os que foram atingindo objectivos, faltam-nos muitas vezes os que morreram ao tentar atingi-los. A história dos descobrimentos, é uma história de naufrágios, guerras, derrotas, tentativas e sucessos. É a História Trágico-Marítima, da coragem dum povo que abriu as rotas dos mares a toda a humanidade, é a história de um pequeno povo que para viver e se impor perante as nações teve sempre a coragem de enfrentar a morte. Povo que sempre soube levantar a sua bandeira bem alto para se defender de todos os domínios das potências estrangeiras e dos vendilhões da Pátria. Povo que elegeu como seus grandes heróis os grandes poetas Luís de Camões e Fernando Pessoa, pois sabe que a sua grandeza está na alma das suas gentes e a alma dos poetas é que sabe interpretar o seu sentir colectivo.

A caravela foi uma embarcação criada pelos portugueses e usada durante a época dos descobrimentos nos séculos XV e XVI. Era uma embarcação rápida, de fácil manobra, capaz de bolinar e que, em caso de necessidade, podia ser movida a remos. Com cerca de 25 m de comprimento, 7 m de boca e 3 m de calado deslocava cerca de 50 toneladas, tinha 2 ou 3 mastros, convés único e popa sobrelevada. As velas latinas (triangulares) permitiam-lhe bolinar (navegar em ziguezague contra o vento).
Com a devida vénia a Os Descobrimentos Portugueses

Não podemos esquecer Fernão Mendes Pinto, o autor dum grande livro muito lido em toda a Europa, nos séculos dezoito e dezanove, "A Peregrinação". O autor faz uma descrição de todas as suas aventuras pelo Oriente e no final tal como o Velho do Restelo dos Lusíadas, prevê a derrocada do Império por corrupção, abusos e vícios vários.
Ontem como hoje tantos pecados que ninguém sabe corrigir. Esse homem, marinheiro, guerreiro, viajante incansável do mundo quase desconhecido do Oriente, frade, escritor foi um português como tantos, espalhados pelas cinco parte do Mundo, com o gosto das viagens, da aventura, do desconhecido. Para quem ainda não está de todo contaminado pela música comercial anglo-americana, recomendo o álbum de música portuguesa do Fausto Bordalo Dias "Por Este Rio Acima" inspirado na "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto, que canta tão bem as suas aventuras e desventuras. Todo o álbum tem letras e músicas que a mim me encantam. Fausto além de ser um grande cantor e músico, também é um grande poeta. Gosto particularmente da canção "Quando às vezes ponho diante dos olhos" em que o aventureiro, já depois do regresso, parece relembrar, em resumo, toda a sua vida agitada, por esses mares e terras do fim mundo, ao serviço de muitos senhores, de muitas causas e à procura dalgum significado para a sua vida.
Há uma grande nostalgia nesse balanço do passado que ataca muito os homens quando se aproxima o fim da vida.

De 1961 a 1974 voltou a ser tempo de muitas viagens para a África do Ocidente e do Oriente. Tantos navios partiram dos cais de Lisboa carregados com tantos homens que poderiam produzir tanta riqueza nos campos ou nas fábricas, isto falando como um economista ou um tecnocrata que nunca fui.
Nesses cais de partidas, cais dos lenços brancos de despedidas, uns diziam adeus à terra, outros diziam adeus à juventude e aos seus ideais. Alguns com medo, outros com curiosidade de descobrir essa África quente e misteriosa, todos iriam saber que existe a palavra saudade e que é bem portuguesa. A grande maioria voltou, alguns inválidos, outros menos feridos, mas quase todos a lembrar o cheiro da pólvora, o troar das bombas e com a triste lembrança de alguns camaradas que por lá caíram, em combate ou em acidentes.

Embarque de militares para África. Lisboa - Cais da Rocha Conde Óbidos - 18 de Agosto de 1965> Embarque, no T/T Niassa, do pessoal da CCAÇ 1426 e de outras unidades para o TO Guiné.
© Foto: Fernando Chapouto (2006). Todos os direitos reservados.

Falando em viagens, não posso deixar de falar nas minhas poucas viagens, mas tão agradáveis, familiares, turísticas e afectivas.
Foi no ano de 2000, estive com a família mais próxima em Nova Yorque, à porta das Torres Gémeas, a pensar se devíamos subir lá ao alto ou não. O preço pareceu-nos caro e para nosso desgosto e para a maior parte da humanidade as Torres foram derrubadas por terroristas assassinos, cerca de um ano depois.

As Torres Gémeas do World Trade Center
Com a devida vénia à Wikipédia

Nos quinze dias que estivemos na América, alguns em Richmond, essa antiga capital aristocrática da Virgínia, que foi também capital americana dos Estados Confederados. É uma cidade histórica, dividida por uma ponte sobre um rio que delimita a parte velha e comercial, histórica e mais pobre, e a parte rica das grandes mansões com jardins e relvados enormes a contorná-las. Nessa zona enorme de ricaços brancos, existem inclusive grandes moradias senhoriais que foram compradas na Europa e reconstruídas lá.

Tivemos uma boa guia que morava em Richmond e que teve a amabilidade de nos guiar também por outras terras. O litoral da Virgínia, Washington, Baltimore, Newark e Nova Iorque. Washington, a capital dos palácios enormes de granito com muitos arcos, colunas e ogivas, que os americanos construíram para imitar a antiga Roma Imperial. Uma cidade grandiosa mas que achei uma cópia demasiado pomposa dessa Roma antiga e a denunciar os mesmos propósitos imperiais.

 Richmond
Com a devida vénia a iScrap App

Nova Iorque seduziu-me, tão bela, mais bela do que os filmes, e são tantos que a retratam. Em Nova Iorque senti-me dentro de um desses filmes. Para mim essa grande cidade pelas suas longas avenidas, pelos edifícios a rivalizar em altura e elegância, foi a revelação de um segredo que eu não suspeitava. A moderna arquitectura dos arranha-céus fazem de N. Y. uma cidade moderna e ao mesmo tempo histórica pela beleza e harmonia das suas construções, que muitas cidades têm tentado imitar neste e no século passado. Nova Iorque pareceu-me a capital do Mundo, uma torre de Babel moderna, onde todos os povos se cruzam com simpatia cada qual com o seu linguajar próprio.

Paris, outro destino turístico e familiar, tem a beleza das grandes capitais medievais e modernas da velha Europa. Um dia conduzidos a pé (grande caminhada!) pela nossa guia, que tinha mudado de país, visitámos uma grande parte dos seus monumentos, pois eles estão situados, não longe do Sena, sobretudo na margem esquerda. Outros mais afastados ou de visita mais demorada, como o Louvre, Notre Dame de Paris, Versailles e outros ficaram para outros dias. Paris pela sua monumentalidade, pela sua história e pelo lugar central que ocupa, é para mim a capital da Europa, e pela cultura francesa e latina em que fui criado, continua a ser, para mim, a capital espiritual e cultural do Mundo.

De Munique que visitamos muitas vezes em viagens afectivas e donde voltamos sempre enriquecidos com mais conhecimentos de toda a Baviera e até da Áustria, de Munique, cidade, gosto imenso de Marianplatz, a sala de visitas da cidade, sempre com muita gente, bávaros ou turistas de muitas origens. Gosto do rio Isar e das suas margens calmas onde por vezes gosto de fazer umas caminhadas, gosto do English Garten, um parque verde e muito arborizado, enorme, onde corre um ramal de água, desviado do Isar, com um grande caudal. Gosto muito de um restaurante num 5.º andar, em frente a Marienplatz onde já fomos por vezes levados pela nossa simpática guia.
Há ainda outros restaurantes bons, onde fomos todos, de que não recordo os nomes. Sei que um era indiano. Perto de Munique, a poucos quilómetros, sessenta talvez, começam os Alpes Bávaros, com alguns lagos de águas claras e límpidas na sua base. É sempre agradável seja Verão ou Inverno visitar esses lagos de águas azuis e tranquilas, esses montes com escarpas que apontam o céu, com mais ou menos neve, conforme as estações do ano, com tanta beleza que se estende a todos eles quer em Passau, quer em Salzburg, já na Áustria, como a outras localidades.

Salzburg, a terra de Mozart esse grande compositor, é uma cidade tão bem construída e enquadrada nessa paisagem alpina de picos escarpados, com neve a tentar esconder-lhe a dureza das arestas afiadas da pedra. Para a impressão no viajante atingir o máximo só faltam os acordes de uma Sinfonia de Mozart a sobrevoar os montes e a entrarem suavemente nos seus ouvidos à medida que pelos olhos vai sentindo o encantamento causado pela paisagem.

Salzburg, a terra de Mozart
Com a devida vénia a Tripadvisor

Passau, na Baviera, a cidade dos três rios, é diferente de Zalzburgo, mas não lhe fica atrás em graça e beleza. A cidade forma uma pequena península comprimida pelos rios Danúbio dum lado e o Rio Inn do outro, tanto um como o outro rios de grande caudal. Rios que se vão encontrar e misturar as águas na parte final da cidade. Por sua vez o rio Ilz, um rio com menos caudal, vai lançar as suas águas no Danúbio, à vista da cidade, muito pouco antes dos dois maiores rios se encontrarem.
Com tantos espelhos de água e com os Alpes carregados de neve a refulgirem e a reflectirem-se também nessas águas imensas, Passau vai deixar sempre marcas que não se apagam na alma de ninguém.

Regensburg uma cidade média com arquitectura mais antiga e moderna, bem combinada é também banhada pelo grande Danúbio que lá corre com grande caudal, Nuremberg com um centro antigo, medieval e bem conservado, fomos lá num dia muito frio, bebi lá vinho quente com rum que me aqueceu cá dentro o corpo e a alma. Era o tempo das Feiras do Natal.

Este é um resumo possível, que já vai muito longo, de algumas viagens que fiz com a família, mais ou menos alargada, conforme os dias livres de cada um.
A última viagem que fizemos nos arredores de Munique foi ao castelo de Neuschwanstein, esse castelo erguido em cima de penhascos dos Alpes Bávaros por Luís II da Baviera, esse rei poeta ou louco e megalómano. Construção grande em comprimento e altura do edifício e sobretudo das suas torres. Destaca-se pela beleza arquitectónica bem enquadrada na natureza que o rodeia.

Castelo de Neuschwanstein
Com a devida vénia a Wikipédia

Hoje olhamos para esse castelo de lenda e ficamos a pensar nas feiticeiras e fadas, nas bruxas más, nas princesas e belas adormecidas dos nossos contos de meninos, e quase somos levados a acreditar que elas vivem nesse Castelo e que Luís II da Baviera, esse rei que teria tanto de louco como de menino, continua a viver lá com elas.

Boas viagens para todos!

Um abraço
Francisco Baptista
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14898: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (8): Vimeiro, Lourinhã, 17 a 19 de julho de 2015: recriação histórica da batalha do Vimeiro (1808) e mercado oitocentista - Parte I: Com o nosso 1º cabo Eduardo Jorge Ferreira, promovido a sargentos por feitos heroicos em campanha...

Guiné 63/74 - P14898: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (8): Vimeiro, Lourinhã, 17 a 19 de julho de 2015: recriação histórica da batalha do Vimeiro (1808) e mercado oitocentista - Parte I: Com o nosso 1º cabo Eduardo Jorge Ferreira, promovido a sargentos por feitos heroicos em campanha...



Vimeiro, 18 de julho de 2015 > Mercado oitocentista > 
Atuação dos gaiteiros da Freiria

Vídeo alojado em Luís Graça > You Tube.



Foto nº1 > A Alice e o 1º cabo Eduardo Jorge Ferreira, "patrão" da reconstituição histórica da batalha do Vimeiro (21 de agosto de 1808) e mercado oitocentista,. que se está a realizar este ano, no Vmeiro, Lourinhã (17-19 de julho)


Foto nº 2 >  A> Alice, o Álvaro Carvalho e a Helena do Enxalé (que vieram das Caldas da Rainha de propósito para assitir ao evento e fazer, o Álvaro, vestido de frade fransciscano, a cobertura fotográfica)


Foto nº 3 > A "tomada da igreja": reconstituição 


Foto nº 4 > A "artilharia francesa",,,


Foto nº 5 > À esquerda, o nosso 1º cabo, do RI 19, Eduardo Jorge Ferreira, que foi promovido a sragento por feitos valorosos em combate,,,

Lourionhã, Vimeiro > 18 de julho de 2015 > Reconstituição histórica da batalha do Vimeiro (21 de agosto de 1808) e mercado oitocentista...

Fotos ( e legendas): © Luís Graça (2015) Todos os direitos reservados.
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Guiné 63/74 - P14897: Parabéns a você (937): Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616 e CART 2732 (Guiné, 1970/72) e João António Santos, ex-Alf Mil Rec Inf do BCAÇ 2852 e BENG 447 (Guiné, 1970/71)


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Nota do editor

Último poste da série de 17 de Julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14888: Parabéns a você (936): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf da CART 3492 (Guiné, 1971/74) e José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19 (Guiné, 1971/73)