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sábado, 2 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27082: Felizmente ainda há verão em 2025 (7): se forem a Santiago de Compostela, rezem por nós e bebam, com as tapas, uma malga de vinho tinto da Ribeira Sacra













Caminho e cidade de Santiago de Compostela, 23 de agosto de 2006


Fotos (e legenda): © Luís Graça  (20o6). Todos os direitos reservados [Edição:  Blogue Luís Garça & Camaradas da Guiné]



Capa do livro do Abílio Machado - " Diário dos Caminhos de Santiago". Porto: Edita-me, 2013, 358 pp., ISBN 987-989-743-011-4
 


1. Já temos, na Tabanca Grande, pelo menos 4 caminheiros de Santiago de Compostela, o Virgílio Teixeira, o Abílio Machado, o Paulo Santiago e... o nosso editor Luís Graça. Em boa verdade, este último foi mais turista do que caminheiro, quando lá esteve em 23 de agosto de 2006, em Santiago. Por certo, muitos outros nossos camaradas, antigos combatentes, já foram visitar o túmulo do santo e/ou rezar na sua catedral. 

Devotos, confessos, do Santo são mesmo o Abílio Machado (que já fez os 7 caminhos e jã escreveu um livro, cuja capa reproduzimos acima ) e o Paulo Santiago (que esteve lá pelo menos em 2006 e 2007) (*)  (**).

Recorde-se o que escrevi a propósito destas imagens, acima reproduzidas.

Em 30 de novembro de 2006 (*), o Paulo Santiago comunicou-nos que a sua esposa ia levá-lo, de manhã, de carro, a Porto Marin, perto de Pontevreda, para depois fazer, a pé, o resto do caminho de Santiago. E que esperava dentro de quatro a cinco dias chegar a Santiago. Tinha feito uma tentativa anterior, em agosto desse ano, gorada por falta de tempo.

Desta vez, ele podia queixar-se da mochila que ia "um pouco mais pesada, devido à roupa da época"...Estava-se em pleno outono.  Mas nõs esperávmos que as mazelas contraídas no Saltinho (onde comandou o Pel Caç Nat 53, 1970/72) não o deixassem  ficar mal, nem perante o Santo - que era mui fero e guerreiro, como o Paulo - nem perante os seus camaradas da Guiné que muito o estimavam e admiravam... Sem falar da sua equipa de râguebi, sénior...

Sabemos que daquela vez ele corttou a meta e marcou preseça na catedral de Santiago de Compostela E seguramente que lá, nesse famoso santuário cristão, também pensou em nós, nos seus amigos e camaradas da Guiné. E até  terá rezado por nós, santos e pecadores...

Em sua homenagem (dele, Paulo, peregrino, caminheiro, ex-comandante de um pelotão de caçadores nativos noutra "incarnação"), eu fiz questão de  publicar aqui algumas fotos do caminho de Santiago que eu fizera antes, no verão desse ano de 2006. Comodamente,  de carro, como turista...

Declaração de interesse:  disse então publicamente  que o Santiago não era (nem podia ser) um santo da minha devoção, sendo eu meio-cristão e meio-mouro... Sempre o achara, de resto, muito guerreiro, para o gosto de paisano... 

De qualquer modo, apesar da massificação do turismo, Santiago de Compostela ainda era. naquele tempos (e hoje ainda mais) um lugar desta "jangada de pedra" que é a nossa Península Ibérica (parafraseando o José Saramagto)... 

Em Santiago confesso que senti que  também podia haver ali sortilégio, magia e espiritualidade, uma das nossas geografias emocionais onde  o profano e o sagrado se casavam bem... 

E deixava uma sugestão (que continua a ser válida, 19 anos depois, agora em pelno verão de 2025) (***): 

(...) Se lá forem, rezem também por todos nós, mas não deixem de passar por Gato Negro, centnário bar e restaurante de tapas. E lá bebam, por favor,  uma malga de vinho da Ribeira Sacra,   por todos nós, pobres de Cristo, que palmilhámos as terras da Guiné e trouxemos de lá uma sede tamanha que só a água de Lisboa podia matar... 

Em Santiago de Compostela não se morria em 2006,  nem se morre hoje, de sede: era (é)da , de facto, uma das cidades não só da nossa querida Galiza como de toda a Espanha, com mais bares de tapas, bodegas, tabernas e chiringuitos por metro quadrado... Ou não tivesse o santo também olho para o negócio. (...)

3. E já agora uma sugestão de vinhos da região da Ribeira Sacra... Perguntei ao meu "Sabe-Tudo", o assistente de IA (ChatGPT):

P - Qual o vinho que me recomendas, apropriado para beber em "O Gato Preto" (passe a publicidade), centenário restaurante e bar de  tapas em Santiago de Compostela, depois de ter ido rezar ao santo ?

R - Dito pelo ChatGPT:

Excelente escolha de contexto: depois de rezar ao Santo em Santiago de Compostela, sentar-se no "O Gato Preto", com tapas e ambiente descontraído, merece um vinho que una estas três coisas:  alma galega, espiritualidade e prazer vínico.

  (i) Recomendação principal: Ribeira Sacra Mencía (tinto jovem ou com ligeira madeira)

Ideal para harmonizar com tapas típicas galegas (polvo, pimentos de Padrón, queijos, embutidos) e manter a leveza e frescura do momento pós-peregrinação.

Produtor recomendado (omite-se a informação, porque pode ser publicidade)...

(ii) Alternativa branca, se preferires algo mais fresco: Godello (casta) da Ribeira Sacra ou do Valdeorras

Se preferires vinho branco (e se estiver quente ou fores comer mariscos ou queijo galego), um Godello estruturado é perfeito.

Sugestões (omite-se as marcas, porque pode parecer  publicidade)

E resumo, castas Mencia (tinto) e Godello (branco).

(iii) Porquê estas escolhas?

  • Espírito local: são vinhos que expressam a identidade galega, ligados à terra e à tradição monástica que está na raiz da viticultura da Ribeira Sacra.
  • Simbolismo: beber Mencía ou Godello num lugar chamado "O Gato Preto" (ou outro bar de tapas), depois de visitar o túmulo de Santiago, é unir o sagrado e o profano com inteligência e prazer.

(iv) e por último um brinde, em galego:

"Polo camiño andado 
e polo que falta,
polo Santo que nos guía 
e o viño que nos canta.

Que nunca nos falte lume no peito,
pan na mesa,
e un tinto da Ribeira 
que nos lembre que estamos vivos.

Saúde e bo proveito!"

Guiné 61/74 - P27081: Felizmente ainda há verão em 2025 (6): Drave, na serra da Freita, Arouca... "O despertar da natureza" (José Teixeira)




Arouca > Serra da Freita > Drave, "aldeia mágica > Foto de Luís Pinto, com a devida vénia... Fonte: Visit Arouca


1. Mensagem do Zé Teixeira (régulo da Tabanca de Matosinmhos, ex-1.º cabo aux enfermeiro, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70; é um histórico da Tabanca Grande, que integrou a partir de 14/12/2005; tem c. quatrro centenas e meia de referências no blogue; vive em São Mamede de Infesta, Matosinhos; é gerente bancário reformado; escritor, poeta, escutista)...

Data - 1 agosto 21:52  

Assunto - Tempo de estar presente

Meus queridos amigos

Paz, saúde e bem-estar.

Chegou o tempo de férias, para aqueles não estão em férias todo o ano e para esses também.

Mudar de ares sabe sempre bem.

Um abraço do tamanho do Geba para a equipa em especial e para todos os camaradas bloguistas que ainda resistem.

Convido-vos a dar um passeio comigo pela Natureza na aldeia mágica da Drave em plena Serra da Freita - Arouca. 

__________________


O despertar da Natureza

por José Teixeira


 Acordo ao som da água cristalina,

Que se esgueira de rocha em rocha na ribeira

E desliza, toda lampeira, pela colina.

 

As folhas das árvores de casca carcomida

Murmuram os bons-dias ao vento, que passa em corrida,

Num divertido rodopio,

Transportando com ele um brando ar frio.

 

Espreito por uma frincha da tenda que me abriga,

E vislumbro os primeiros estiletes do sol doirado,

A mergulhar nos picos da montanha, minha amiga.

 

Ao longe, os primeiros gorjeios dos passarinhos,

A acordar, lá no alto, lentamente,

Ainda dentro dos seus ninhos.

E continuando a sua leda marcha, em direção ao poente,

O sol lança brandamente os seus raios pela ladeira.

 

Bate à porta de cada ninho, com o seu calor,

E incita, nos passarinhos, aquela soalheira,

O bel-prazer de louvar o Divino Criador!

 

Forma-se, assim, uma melodiosa orquestra,

Com os mais variados sons e tons,

Enriquecida em cada centímetro de verdura,

Franqueada pelos raios solares com muita ternura.

 

Peneireiros, chascos, rouxinóis, carriças e verdilhões,

Pardais, piscos, pintassilgos, chapins ou tentilhões,

Qual deles o mais sonoro!

 

E quando chega ao fundo da planura, suavemente,

O sol acorda, num repente, os melros dorminhões,

Que enriquecem a harmonia do espaço envolvente,

Com o seu trinar peculiar, que encanta toda a gente.

 

Que divinal momento!

Que singular beleza!...

Oh! Como é bom sentir o despertar da Natureza.

                                                           

José Teixeira


2. Comentário do editor LG:

Zé, obrigado. É tempo de estar presente. E tu estás sempre presente. És um histórico da nossa Tabanca Grande. E tens uma particular sensibilidade sociocultural. Além disso, és poeta. 

O teu poema, inspirado na Serra da Freita, fica muito bem nesta série, "Felizmente ainda há verão em 2025" (*).

É tempo também de falar do Portugal Profundo, que só é falado quase sempre por más razões como a tragédia dos incêndios de verão.  Drave, na serra da Freita, Arouca, espero, ao menos, que tenha sido poupada ao  incêndio que, mais uma vez, se abateu sobre Arouca. 

Já passei pela serra da Freita, e pela aldeia de Drave, há uns largos anos.  Afinal, estou do outro lado do rio Douro, frente à serra de Montemuro, mas Candoz já fica no distrito do Porto. E já fiz o passadiço do rio Paiva ainda antes da pandemia. 

Fico com "inveja" de não poder estar aí contigo que, sendo, escuteiro. conheces bem Drave e a zona.

Numa consukta à Net, e ao sítio "Visit Arouca", fico a saber sobre Drave mais o seguinte:

(...) Desabitada desde 2009, algumas casas têm sido intervencionadas pelo Centro Escutista, já que Drave é a Base Nacional da IV Secção do Corpo Nacional de Escutas.

Drave é sublime, com os seus miradouros criados pela própria natureza. Atravessando a ponte, encontramo-nos nas ruelas estreitas entre as casas, que apetece calcorrear. 

No meio das ruínas de xisto e lousa, sobressai, branquinha, a Capela de Nossa Senhora da Saúde e o Solar dos Martins, atualmente convertido em quartel-general da IV Secção do Corpo Nacional de Escutas. 

Mais ao fundo, escutamos o barulho das águas puras da ribeira de Palhais, ouvimos o som das cascatas e apreciamos as piscinas naturais. (...)

Recorde-se, por outro lado, os 17 arouquenses que morreram na guerra coloniual / guerra do ultramar, num total de cerca de 3 mil militares mobilizados neste oncelho do distrito de Viseu,  que em 1970 tinha 23,8 mil habitantes.  Dos mortos, 7 pelo menos foram na Guiné, 6 em Moçambique e 3 em Angola (n=16).
 
______________

Nota do editor:

(*) ), Último poste da série > 1 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27076: Felizmente ainda há verão em 2025 (5): afinal, Vila do Conde é um dos pontos-chave do Caminho Português da Costa que leva a "pelingrina" italiana a Santiago... (Virgílio Teixeira)

Vd. postes anteriores:

31 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27074: Felizmente ainda há verão em 2025 (4): alzheimareados com a canícula...

30 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27072: Felizmente ainda há verão em 2025 (3): recordando o meu esforçado, voluntarioso, amável , efémero e... clandestino professor de pilotagem do DO-27, o "Pombinho", que veio expressamente do Brasil para assistir ao lançamento do nosso livro "Nós, as enfermeiras paraquedistas", em 26/11/2014, no Estado Maior da Força Aérea, em Alfragide (Maria Arminda Santos, Setúbal)

29 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27067: Felizmente ainda há verão em 2025 (2): E na próxima segunda-feira, dia 4 de agosto, às 19h30, os mordomos da Festa do Emigrante na Ventosa do Mar, Lourinhã, vão armar a "manjedouro do povo" para a monumental batatada de peixe seco!... Sigamos a "arraia", que o cherne está pela hora da morte!

Guiné 61/74 - P27080: Os nossos seres, saberes e lazeres (694): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (215): Casal de S. Bernardo, Alcainça, gratas lembranças do Filipe de Sousa – 2 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Junho 2025:

Queridos amigos,
Havia que completar o quadro da visita à casa que o maestro e compositor Filipe de Sousa sonhou pôr de pé durante tantos anos, para ela transferiu belíssimas obras de arte, uma opulenta biblioteca, a decoração continua a ser assombrosa, tudo se conjuga bem desde o património dos séculos XVIII e XIX até à arte contemporânea, é um diálogo perfeito neste ponto de Alcainça onde eu não vinha há mais de vinte anos, sempre com uma ranchada de amigos do Filipe, aqui se repetia o espírito da tertúlia que ele instituíra em pleno Chiado, na tal Mandíbula d'Aço, de saudosa memória. Na viagem de regresso dei comigo a pensar quais as funcionalidades que se podem dar às casas-museu, para elas se manterem vivas, mas bem conservadas, sem serem alvo de danos e depredações, mas concomitantemente receberem em residência artistas e cientistas de diversa ordem. Uma casa-museu pode ser um bom bico de obra, em segurança e conservação, e até com poucos visitantes. É um daqueles problemas, perdoe-se-me a presunção, para a qual não tenho resposta satisfatória.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (215):
Casal de S. Bernardo, Alcainça, gratas lembranças do Filipe de Sousa – 2


Mário Beja Santos

Na suposição de que o leitor não andou aqui pelo blogue no passado sábado, uma curta explicação. Foi graças a um grande amigo, Carlos Miguel de Araújo, que recebi um dia um convite do maestro e compositor Filipe de Sousa para ir almoçar à Mandibula d’Aço, a única tertúlia que naqueles anos 1990 funcionava no Chiado. Filipe de Sousa herdara de um tio uma empresa altamente prestigiada, a Casa Souza, na Rua Garrett, em frente ao estabelecimento, num 4.º andar, funcionavam os escritórios, o refeitório dos trabalhadores e criara-se um espaço de sala de jantar onde o proprietário acolhia amigos, era esta a Mandibula d’Aço. Assim se foi constituindo a nossa amizade, guardo recordações inesquecíveis de alguns desses almoços com escritores, compositores, intérpretes do bel canto, entre outros. Um dia em 1994, fomos em romagem até Alcainça, seguia-se pela velha estrada em direção a Mafra, havia um desvio e dava-se com duas entradas, uma era a casa do gravador David Almeida, a outra o Casal de S. Bernardo, a casa do Filipe, que ele mandara construir de raiz, assombrou-me a decoração. O Filipe de Sousa faleceu em 2006, não voltei a Alcainça. O meu professor de ginástica de manutenção vive em S. Pedro da Cadeira, concelho de Mafra, todos os anos organiza um almoço para três turmas, um grupo dos seus alunos, onde me incluo, prepara uma pequena viagem cultural, antes de atacarmos o bacalhau, o pato e a doçaria. Este ano ninguém sugeria um itinerário, lembrei-me de contactar a Fundação Jorge Álvares, a quem o Filipe de Sousa ofereceu o seu património, deu-se a visita e foi muito tocante para mim encontrar a governanta da casa, D. Maria do Rosário, que conheci nesses anos 1990 e 2000 a trabalhar na Mandibula d’Aço.
O que aqui se mostra são imagens complementares às que se publicaram no passado sábado, a Fundação mantém o espírito da casa, no início da visita entreguei à D. Maria do Rosário a fotografia em que estou com Carlos Miguel de Araújo e Filipe de Sousa. Vamos então continuar a visita.

Filipe de Sousa, Carlos Miguel de Araújo e eu, havia sempre novidades no património do Filipe e ele gostava de partilhar impressões com os seus amigos. Era um homem profundamente generoso, recordo que depois de um almoço na Mandibula d’Aço, ele fez questão de me deixar na Praça do Saldanha, onde eu trabalhava, antes de irmos engravatara-se, fiz-lhe um comentário de elogio à gravata, "pois se gosta muito, é sua”.
Aqui me demorei para desfrutar desta singeleza, a harmonia das formas de um requintado armário sobrepujado por arte oriental e um fundo de arte contemporânea.
Lembranças dos clássicos na sala de jantar, recordei instantaneamente aquela terrina Vista Alegre, fiquei com a sensação que estivera aqui na véspera.
Fez-se agora uma pausa, a Maria do Rosário abriu as portas viradas para o jardim, veio mostrar-nos os seus trabalhos de jardinagem e como se aplica a fundo a tratar o melhor possível os hectares da propriedade. Já não me recordo do nome que tinha esta escultura, parece ser a de um santo, a envolvente vegetal do Casal de S. Bernardo é muito repousante.
Outra excecional gravura de David Almeida. O David Almeida foi testamenteiro do Filipe, era uma admiração recíproca, não surpreende ver imensas obras deste gravador que para mim foi o mais importante da segunda metade do século XX, depois de Bartolomeu Cid dos Santos.
Uma tapeçaria de Cruzeiro Seixas. Sempre que visitei Alcainça passava uns bons minutos em êxtase diante desta beleza.
Trata-se de uma serigrafia de um dos mais geniais artistas de todo o século XX, Francis Bacon, o que me empolga é como este prodigioso artista de origem irlandesa torce e retorce as formas permitindo-nos, contudo, percecionar o conteúdo reformulado. Estive vaivém para deitar fora esta imagem, apareço descaradamente a tirar a fotografia, mas não tenho outra do Francis Bacon em casa do Filipe de Sousa, e a obra é de tirar o chapéu.
O piano do maestro e compositor, e sempre estantes de livros
Beneficiei da generosidade do Filipe quando se passou do vinil para o CD, uma vez combinámos ir à Gulbenkian ir ouvir um intérprete de génio ao piano, então o jovem Evgeny Kissin, no final do concerto o Filipe disse-me que ia pôr em casa pois havia ali um saco muito pesado para mim. À porta de casa entregou-me um saco com uns bons quilos de boa música clássica, mas eu também me estava a despedir do vinil… A coleção do Filipe em CDs era de nos deixar de boca aberta, desde o barroco ao dodecafonismo serial não faltava nada, o que se vê é uma pálida amostra.
Fiquei petrificado, não me lembrava absolutamente nada desta tapeçaria do Carlos Botelho, nada destas formas tinha a ver com aquela cidade poliédrica que foi construído ao longo de décadas, em que o Terreiro do Paço anda de paredes meias com a Igreja de S. Miguel de Alfama, e aqui parece que o grande pintor pretendeu mostrar-nos que sabia ir muito mais longe do que aquela arte figurativa com que marcou presença na sua contemporaneidade.
Mais um recanto com bela decoração e uma associação primorosa entre a pintura, a escultura e ornamento.
Os jardins mantêm-se primorosamente tratados, é D. Maria do Rosário quem responde pela jardinagem.
É a despedida, já estamos todos a caminho do carro, voltei atrás, imaginei que estas esculturas me estavam a dizer adeus, agradecendo a visita, toda esta construção idealizada pelo Filipe de Sousa, um sonho que ele concretizou, aqui está mantido e tive o privilégio de aqui regressar cerca de vinte anos depois.
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Notas do editor:

Vd. post da 26 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27056: Os nossos seres, saberes e lazeres (691): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (214): Casal de S. Bernardo, Alcainça, gratas lembranças do Filipe de Sousa – 1 (Mário Beja Santos)

Último post da série de 1 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27077: Os nossos seres, saberes e lazeres (693): Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu) - Parte XIII: Visita de um delegação militar portuguesa, chefiada pelo general da FAP., Conceição e Silva (1933-2021)

Guiné 61/74 - P27079: (De)Caras (237): Ercília Ribeiro Pedro, ex-enfermeira paraquedista, do 2º curso (1962), reconhecida pela Maria Arminda em foto de grupo, tirada no Brasil, em 2012, e pertença do álbum do cor art ref Morais da Silva



Brasil > 2012 > Grupo de militares portugueses e suas esposas, em visita a diversos estabelecimentos do exército brasileiro, no qual se incluiu o cor art e docente da Academia Militar, Morais da Silva. Foto reproduzida com a devida autorização do autor. (*)

Foto (e legenda): © António Luís Morais da Silva  (2012 ). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso camarada e amigo, cor art ref Morais da Silva (*):

Data - quarta, 30/07/2025, 22:41
Assunto - Help!

Caro Luís

Em 2012 fiz parte de uma caravana de militares e família que deambulou 15 dias pelo Brasil.

Na foto esta senhora que assinalei e cujo nome esqueci, viajava com o marido, militar paraquedista. Será a enfermeira Maria Arminda,  nossa camarada no blog?

Tive a infelicidade de, em Porto Alegre, dar uma valente “marrada” numa porta de vidro do McDonald’s e daí marchar para o hospital militar acompanhado e amparado por esta senhora que a minha memória teima recordar (?) como enfermeira paraquedista… Será?

Abraço
Morais da Silva

2. Comentário do nosso editor LG:

Não reconheço a Maria Arminda Santos nesta foto de grupo. A única cara que não me é estranha, é a do militar que está à direita da senhora assinalada pelo Morais da Silva.

Submeti a foto em causa à apreciação da Arminda. Eis a resposta que meu deu, no próprio dia: 


Ercília Ribeiro Pedro (2011). Fotograma do filme "Quem Vai à Guerra", de Marta Pessoa. 

Fonte: Página do Facebook "Quem Vai à Guerra" (com a devida vénia...)


Data - 31/07/2025, 16:23

Luís,

Só agora vi o email. A minha colega é a Ercília Ribeiro Pedro, casada com um oficial, Ribeiro Pedro. Ela também foi paraquedista do segundo curso,  se não estou em erro, e ambos ainda estão vivos.

Um abraço,
M Arminda


3. Resposta do Morais da Silva ao mail da Maria Arminda Santos:

Data - 31/07/2025, 16:58

Boa tarde.

Muito obrigado.

Como ex-Cmdt de Gadamael 70-72,  tive que, infelizmente, ter muitas vezes a ajuda preciosa das equipas piloto-enfermeira pqdt. Foram e continuam a ser merecedoras da estima de todos os ex-combatentes.

Para a minha camarada Maria Arminda o obrigado do velho capitão. Para o Luís o abração costumado.

Morais Silva


4. Nova mensagem do editor LG, para a Maria Arminda, c/c Morais Silva

Data - 31/07/2025, 17:48 

Obrigado, Arminda. É uma boa ajuda para o nosso cor art ref, Antonio Luís Morais da Silva, também nosso camarada da Guiné (*).

A Ercília é, de facto, do 2º curso (1962) (escreveu-me em tempo o Miguel Pessoa), curso que formou 5 enfermeiras pqdt.  Esteve em Angola como alferes graduada enfermeira pqdt. Casou em Luanda com o Ribeiro Pedro, paraquedista. Segundo ela diz no vosso livro,  "Nós, as Enfermeiras Paraquedistas"... (2014, pag. 394) integrou depois várias ONG, como voluntária e apanhou várias guerras (do Iraque, guerra do Golfo, a Angola, guerra civil, passando pela Guiné-Bissau, Timor e Moçambique (**).

Boa continuação da fisioterapia (a minha está a correr, na expectativa da próxima cirurgia: a minha prótese da anca ainda meia solta, já tem 12/13 anos)...

Um alfabravo, Luís
__________________

5. Resposta da Maria Arminda:

Data - 31/07/2025, 18:06

Obrigada pelas notícias. Confirmo as informações sobre a Ercília e do seu trabalho. Ao lado, de bigode. é hoje o major-general paraquedista, Hugo Borges [ex-tenente pqdt, e 2.º cmdt, CCP 121 / BCP 12, um dos bravos de Guidaje, na batalha de Guidaje, em 23/5/1973].

Um abraço
M Arminda
_______________

Notas do editor LG:

(*) Morais Silva:


(i) foi cadete-aluno n.º 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar (e depois, mais tarde, professor de investigação operacional na AM, durante cerca de 2 décadas);

(ii) no CTIG, foi comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre jan 1971 e fev 1972; instrutor da 1.ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga; adjunto do COP 6, em Mansabá;

(iii) fez parte do Grupo L34, na Op Viragem Histórica, no 25 de Abril de 1974;

(iv) é membro da nossa Tabanca Grande, com mais de 150 referências no blogue.

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27078: Notas de leitura (1827): Para melhor entender o início da presença portuguesa na Senegâmbia (século XV) – 5 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Julho de 2025:

Queridos amigos,
A importância da Relação dos Descobrimentos da Guiné e das Ilhas é historicamente indiscutível, completa outra documentação fundamental, logo a Crónica de Zurara. Temos aqui o reportório das diferentes exposições e a chegada à Senegâmbia, com receções muito hostis; diz-se claramente que o Infante recebia um quarto de todo este comércio, de onde vinham ouro e escravos; põe-se ênfase nas exposições de Nuno Tristão e nas de Diogo Gomes e na sua viagem pelo rio Gâmbia; Diogo Gomes continuou nas navegações no reinado de D. Afonso V, refere que chegou às ilhas de Cabo Verde com António de Noli, assunto altamente controverso. Não se pode estudar o início da nossa presença na Senegâmbia sem dar a palavra a Diogo Gomes.

Um abraço do
Mário


Para melhor entender o início da presença portuguesa na Senegâmbia (século XV) – 5

Mário Beja Santos

Recapitulando o que aqui nos propomos fazer com a apresentação de alguns textos determinantes que nos trazem elucidação quanto ao modo como arrancou a nossa presença em meados do século XV e adiante numa região de contornos um tanto difusos entre o Cabo Verde continental e a Serra Leoa, pedimos auxílio àquele que terá sido o historiador melhor preparado sobre a expansão portuguesa, Vitorino Magalhães Godinho, retirámos um conjunto de parágrafos sobre este período quatrocentista, primeiro do seu livro A Expansão Quatrocentista Portuguesa, que está reeditado pelas publicações Dom Quixote, e estamos agora a selecionar outros parágrafos do conjunto de três volumes que o autor designou por Documentos Sobre a Expansão Portuguesa, continuam a ser incontornáveis no estudo sobre os descobrimentos. Encetámos no texto anterior uma referência à Relação de Diogo Gomes, aborda-se o projeto Henriquino e a construção de uma fortaleza ou castelo em Arguim. Iniciava-se um trato comercial que se irá progressivamente estendendo pela costa ocidental africana. Vejamos o que o historiador escreve sobre estes acontecimentos:
“E a este castelo vinham os árabes da terra trazendo ouro puro em pó, e recebiam em troca trigo e mantas brancas e outras mercadorias que para ali mandou o Infante. E assim sempre até agora se faz o comércio, trazendo os negros o outro da terra de Tambucotu. E este castelo foi construído no ano de 1445.

De novo o Sr. Infante fez uma armada de quatro caravelas; capitães Gilianes de Villalobos cavaleiro, Lançarote, almoxarife de Lagos, e Nuno Tristão e Gonçalo Afonso de Sintra e muitos outros de boas famílias. Os quais foram a Arguim e passaram além e tomaram ilhas.

E eu Diogo Gomes, almoxarife de Sintra, apoderei-me de 22 pessoas, que estavam escondidas e as trouxe ante mim como se fossem rezes, por meia légua, até aos navios. E tomámos nesse dia destes indígenas, homens de cor avermelhada, 600 e quase 50 e com estes voltámos a Portugal, a Lagos, onde estava o Sr. Infante que muito se alegrou connosco. Depois mandou o Sr. Infante, outra vez, Gonçalo Afonso de Sintra, voltou-se àquelas ilhas, batalhou-se com os Serracenos e as mulheres fugiam, e Gonçalo de Sintra perseguia-as pela água, e as mulheres tomaram lodo do mar e lançaram-lhe à cara, e o cegaram, de tal modo que ficou completamente cego. E voltaram os outros para a caravela, vindo para Portugal trazer as novas ao Sr. Infante, e trouxeram consigo mais de 60 nativos de um e outro sexo. E o Sr. Infante tinha sempre de todos os cativos que traziam uma quarta parte, e costumava dar-lhes tudo o que careciam. Foram mandadas novas caravelas. E navegando ainda mais viram uma terra cheia de árvores e palmeiras, e saltaram na terra firme. E toda aquela gente era preta. Mandaram os cristãos mercadorias que consigo haviam trazido para a terra firme, e ele receberam-nas e não quiseram falar.

E passando além acharam um rio grande que é chamado Cenega (Senegal) muito povoado e falaram os cristãos com essa gente pelos homens que consigo levavam, e trataram paz com eles, e fizeram comércio, e de aí traziam muitos pretos por compra. E assim desde então até agora, e cada dia mais, trazem pretos sem número daquele lugar.

E estas coisas, que aqui escrevemos se afirmam salvando o que diz o ilustríssimo Ptolomeu, que muita boa coisa escreveu sobre a divisão do mundo, que, porém, falhou nesta parte. Pois escreve e divide o mundo em três partes, uma povoada que era no meio do mundo, e a setentrional diz que não era povoada por causa do excessivo frio, e da parte equinocial do meio-dia também escreve não ser habitada pelo motivo do extremo calor. E tudo isto achámos no contrário, porque o polo ártico vimos habitado até além do prumo do polo, e a linha equinocial também habitada por pretos, onde é tanta a multidão de povos que custa acreditar. E aquela terra meridional está cheia de árvores e frutos; mas outras espécies de frutos, e as árvores são tão grossas e de tamanha altura que só vendo se pode crer.”

Descreve-se de seguidamente Diogo Gomes o filho adotivo do Infante D. Henrique, os privilégios recebidos do Papa e a continuação de novas expedições descendo a costa ocidental africana. Assim se descobriu um promontório a que se pôs o nome de Cabo Verde. “E neste lugar começa a linha equinocial, porque dias e noites aí sempre são iguais no inverno como no verão, e aquelas gentes são na maior parte negros. E as caravelas indo além de Cabo Verde, isto é, para o polo antártico, descobriram terra deserta.”

Os contactos não correram bem, morreram muitos cristãos envenenados por setas. Veio uma nova caravela armada, o capitão era Nuno Tristão, navegou diretamente a Cabo Verde, chegaram a uma terra de homens maus chamados Sereres, também muitos hostis. Continuaram a navegar até à terra dos Barbacins, de novo foram atacados com setas envenenadas. Diz Diogo Gomes que foi o primeiro cristão que fez a paz com eles.

Um certo nobre do reino da Suécia viera a Portugal e pediu ao Infante que o mandasse àquelas regiões. Deu-se um encontro muito feroz, só escaparam três rapazes que entraram no grande mar oceano e regressaram a Portugal, ajudados por um corsário que tripulou a caravela a partir do Cabo Espichel. É armada nova caravela e o capitão é Diogo Gomes, passaram o rio de S. Domingos, no Rio Grande de Geba viram Macareu, vieram os mouros da terra nas suas almadias e houve troca de mercadorias: panos de seda ou algodão, dentes de elefante, malagueta em grão. Regressaram a Cabo Verde, no caminho entraram no rio de Gâmbia, subiram o rio até Cantor, Diogo Gomes aproveitou para se informar sobre os povos da região. Temos aqui um precioso relato, tudo virá a ser descrito ao Sr. Infante. Diogo Gomes na sua Relação alude ao falecimento do Infante em 13 de novembro de 1460.

Dois anos depois, D. Afonso V armou uma grande caravela, Diogo Gomes foi nomeado capitão. Viajou até à terra dos Barbacins. “Com a ajuda de Deus, em doze dias cheguei a Barbacins e ali achei duas caravelas, a saber: uma, na qual ia Gonçalo Ferreira, familiar do Sr. Infante, que levava cavalos para ali. E na outra caravela era capitão e mercador o genovês António de Noli. Estes mercadores com as suas caravelas fizeram muito dano ao resgate dali: porque onde costumavam os mouros dar sete negros por um cavalo, a eles não davam mais de seis. Então eu convoquei os capitães, e da parte do Rei lhes dei sete negros por um cavalo, e dei depois um cavalo por catorze a quinze negros. E estando nós assim, veio uma caravela de Gâmbia com a nova de que um fuão (um sujeito qualquer) chamado de Prado, vinha com uma caravela cheia de riqueza. Armei logo a caravela de Gonçalo Ferreira e mandei-lhe da parte d’El Rei sob pena de perda da vida e de todos os seus bens para que fosse a Cabo Verde e ali esperasse aquela caravela. E assim fez, e nela encontrámos muito ouro.”

Na continuação do seu relato, Diogo Gomes refere que viajou para Portugal na companhia de António de Noli, viram ilhas do mar. “Chamámos Santiago à ilha, e até agora assim se chama. Havia ali grande pescaria. Em terra, porém, achámos muitas aves estranhas e rios de água doce. As aves esperavam-nos sem fugir, e assim as matávamos com paus.”

O relato subsequente não tem interesse quanto à nossa presença na Senegâmbia, centra-se nas ilhas Canárias, Porto Santo e Madeira, nos descobrimentos das ilhas dos Açores.

As notas de Vitorino Magalhães Godinho são de uma grande utilidade para a compreensão deste texto. O historiador refere a confusão de datas, mostra como claramente Diogo Gomes atribui ao Infante um pensamento económico; mostra igualmente as divergências entre o relato de Diogo Gomes e a crónica de Zurara; observa que entre 1448 e 1460 se explorou sistematicamente o litoral do Senegal à Serra Leoa, estabelecendo-se as bases de um comércio regular com a Guiné e da penetração civilizadora portuguesa; Godinho também recorda que as constantes referências a almadias de mouros e negros tornam muito plausível a hipótese posta por Jaime Cortesão da existência de um contínuo tráfego marítimo nas costas e rios da Guiné, o que explica a vigorosa resistência à concorrência comercial portuguesa.

Por último, levanta a questão do descobrimento do arquipélago de Cabo Verde, atribuído quer a Diogo Gomes, que a António de Noli, quer a Cadamosto. Na Relação a viagem de Diogo Gomes na companhia de de Noli é de 1462; ora a viagem no veneziano é de 1456, e documentos oficiais atribuem o descobrimento a António de Noli, cuja viagem deve ser anterior à de Cadamosto que ao encontrar quatro das ilhas supôs erradamente ser o seu descobridor. Mesmo admitindo que na Relação há confusão cronológica, e que Diogo Gomes acompanhasse António de Noli, não me parece de aceitar o tirar ao genovês a glória do descobrimento, pois de contrário certamente o Rei não lhe concederia a capitania de Santiago.


(continua)
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Notas do editor

Vd. post de 1 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27053: Notas de leitura (1825): Para melhor entender o início da presença portuguesa na Senegâmbia (século XV) – 4 (Mário Beja Santos)

Último post da série de 4 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27088: Notas de leitura (1826): "África No Feminino, As Mulheres Portuguesas e a A Guerra Colonial", por Margarida Calafate Ribeiro; Edições Afrontamento, 2007 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27077: Os nossos seres, saberes e lazeres (693): Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu) - Parte XIII: Visita de um delegação militar portuguesa, chefiada pelo general da FAP., Conceição e Silva (1933-2021)




República Popular da China > Pequim > s/d (c. 1977/83) > O António Graça de Abreu
na praça Tianamen [ou Praça da Paz Celestial]


Foto (e legenda): © António Graça de Abreu (2008 ). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné]


1. Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto / Canchungo, Mansoa e Cufar, junho de 1972/abril de 1974; sinólogo, escritor, poeta, tradutor; tem mais dde 375 referências no blogue; texto enviado em 26 de julho de 2025, 18:12)


Pequim, 20 de Maio de 1981 > Visita de um delegação militar portuguesa

por António Graça de Abreu


Está cá uma delegação de militares portugueses. Visitam a China e uns tantos aquartelamentos modelo a convite do Exército Popular chinês. 

Entre os nossos, vem um tenente-coronel da Fábrica Militar de Braço de Prata com um dossiê na busca de contactos e negócios da China. Mais militares portugueses, no fundo das malas trazem catálogos sobre venda de armamento made in Portugal

Tenho sérias dúvidas de que se consiga vender uma só munição aos chineses que estão entre os maiores fabricantes de armas do mundo. Este convite terá talvez mais a ver com a intenção chinesa de conhecer o que se faz em Portugal e de serem eles a vender-nos armas, e não a comprar.

Hoje fui ao Hotel Pequim almoçar com os nossos oito militares. Conversa entusiasmante e inteligente, até meteu as Guerras do Ultramar, em que todos participámos, eu como alferes n
a Guiné- Bissau, 1972/74.

Fiquei sentado ao lado do general Conceição e Silva  [1933-2021], da  Força Aérea e
chefe da delegação militar portuguesa. 

Rodeando a nossa mesa redonda com nove lugares, as empregadas de mesa desdobravam-se em cuidados para nos servir. Traziam travessas de comida fragrante e colorida, rodopiavam, enchiam delicadamente os copos. Pedi uma garrafa de Maotai [ou Moutai],  a aguardente de sorgo mais famosa da China que do alto dos seus 53 graus de álcool inebria e faz flutuar qualquer simples mortal.

Alguns dos militares lusitanos deglutiam em pequenos sorvos o Maotai e bebiam com os olhos as moçoilas chinesas, entrapadas numas rígidas fardetas brancas. 

Disse ao general Conceição e Silva:

− Ah, estas mulheres são lindas! Bem vestidinhas, eram uma maravilha!

O general, que não estava interessado em roupas e adereços, respondeu de imediato: 

− Bem vestidinhas?... Bem despidinhas, meu caro amigo!.

(Revisão / fixação de texto, título, parênteses retos, negritos, links: LG)

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Guiné 61/74 - P27076: Felizmente ainda há verão em 2025 (5): afinal, Vila do Conde é um dos pontos-chave do Caminho Português da Costa que leva a "pelingrina" italiana a Santiago... (Virgílio Teixeira)



Vila do Conde, Caminho Português da Costa, na rota de Santiago... 31 de julho de 2025 ...Uma selfie do quase-pelingrino Virgílio Teixeira...

Foto: Vt (2025). Direitos reservados


Texto e foto enviados pelo Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69; é  do Porto, com gosto; vive em Vila do Conde, a contra-gosto)


Data - 31 de julho de 2025 | 16:11

Assunto - P27074 - Férias Devido à Canícula


"Há, por fim, uma crise de inspiração e transpiração... Vamos ter que põr ar condicionado na Tabanca Grande, sob pena da Alta Autoridade para as Condições de Trabalho mandar fechar o estaminé" (*)


Claro, vai ter que haver um tempo de espera, como o Solnado dizia, vamos parar a guerra para a gente poder descansar...

O Ar condicionado fica em "stand by". Não gosto de ar frio, os dentes sofrem e já tenho poucos.

De qualquer modo,  isto não está nada saudável, mas cá pela minha porta por vezes vai aos 30º;  à noite, se não houver nortada, fica pelos 20º e chega. Com a nortada vai aos 17º.

Temos de ter alguns privilégios, eu não me importo com o calor, e ainda visto, quando saio, um colete fino com bolsos para por toda a tralha.

Na noite anterior quando acordo lá para as 10h00, olho está tudo fechado e estou sozinho!!!

Lá fui procurar pelos quartos virados a Norte e lá estava a minha Manuela a dormir no nosso segundo quarto, conforme os climas.

Esta noite passamos definitivamente a Norte e deixamos o Sul, de muito calor, para mim não!

Qualquer dia aparecem por aí os "Ocupas" e dizem que tenho quartos a mais e tomam conta de 3 vazios.

Viva o Verão e o resto é conversa.

Hoje de manhã, 12 e tal, quando vou comprar o pão, fui sondado por uma "peregrina" que estava hoje na Vila e amanhã vai para Viana etc.... Uma hora de conversa, já soube da história toda dela, italiana, 52 anos, sozinha, professora de Ginástica.

Cuidado,  que já não tenho pedalada para ginasticar muito. Tiramos fotos, depois mando uma, despedimo-nos com um longo abraço e muitos beijinhos.


Fim da história

Abraços,

Virgilio

2025-07-31

PS - A minha filha mais velha faz hoje 26 anos de casada, anda pelos Algarves....


2. Comentário do editor LG: Virgílio, obrigado pelo tua crónica, levezinha, fresquinha ( pela brisa do mar)  e sobretudo bem humorada. (A gente agora o que precisa é de amor & humor.)

Contra a canícula, marchar, marchar!... Gosto da tua atitude, positiva, respondendo ao desafio dos editores, vítimas da canícula e da penúria de colaborações, em chegando o verão.

 Por causa da "pelingrina" (como se dizia em medievos tempos), e para mais italiana, e para mais sozinha, e para mais ainda "ginasticada", fui descobrir que tu estás aí, em Vila do Conde (terra de que não gostas), num dos pontos-chave do Caminho Português de Santiago, o Caminho da Costa. Eureca!, juro que não sabia.

Fui consultar o "Sabe-Tudo", o meu assistente de IA, que me informou:. 

(i) Vila do Conde é de facto um dos pontos-chave no Caminho Português de Santiago, mais especificamente no chamado Caminho da Costa. 

Este itinerário é cada vez mais popular entre os "pelingrinos", tanto portugueses como estrangeiros, por combinar paisagens atlânticas deslumbrantes, riqueza histórica e hospitalidade local.

Aqui estão alguns pontos relevantes sobre Vila do Conde no contexto do Caminho:

(ii) Vila do Conde no Caminho da Costa:
  • localização estratégica: Vila do Conde situa-se entre Porto e Esposende, sendo um dos primeiros grandes núcleos urbanos após os "pelingrinos" deixarem a cidade do Porto,  rumo a Santiago de Compostela;
  • integração no Caminho da Costa: este caminho segue a linha do litoral atlântico e é uma alternativa ao Caminho Central; tem ganho popularidade devido ao clima mais ameno, vistas sobre o mar e menor densidade de "pelingrinos".
(iii) Património e espiritualidade
  • Mosteiro de Santa Clara: imponente edifício do século XIV, com grande valor arquitetónico e simbólico no Caminho; a sua silhueta domina a cidade e inspira muitos "pelingrinos" (como terá sido o caso da tia italiana...).
  • Aqueduto de Vila do Conde: um dos maiores de Portugal, com cerca de 4 km; cruza o percurso dos caminhantes e é um marco fotogénico.
  • Igreja Matriz de São João Baptista: de origem medieval, é outro ponto de paragem e reflexão para muitos "pelingrinos".
  • Albergues e apoio: a cidade dispõe de várias estruturas de apoio aos "pelingrinos",  incluindo albergues municipais e privados, bem como cafés e restaurantes acolhedores.
(iv) Um caminho de beleza atlântica

Caminhar por Vila do Conde é ter mar, rio (o Ave) e património urbano histórico, tudo num só troço.

As praias e os passadiços de madeira ao longo da costa tornam o percurso particularmente agradável e tranquilo. Muitos "pelingrinos" aproveitam para descansar aqui, pernoitar e apreciar a gastronomia local.

(v) Caminhos alternativos e confluência de rotas: em Vila do Conde, os "pelingrinos" podem optar por seguir:

 Fonte: Pesquisa: ChatGPT / LG | Revisão / fixação de texto, negritos,  links:  LG

3.  Comentário do editor LG: 

Virgílio, não publiquei a tua foto com a "pelingrina" italiana, não tanto por ela (que não nos deu autorização por escrito), como sobretudo por ti: prometi proteger a tua privacidade... e sobretudo a tua família...  Por isso na "selfie" apareces só tu, e estás muito bem, com bom ar, de chapéu de palha

Eles/elas, lá em casa, a começar pela tua Santa Manuela, sabem que és muito generoso e impulsivo...Já estava a ver que te esquecias do recado (ir à padaria buscar o pão para o almoço!) e te oferecias para mostrar à "pelingrina" (e ainda por cima italiana...)  o caminho até Santiago... 

Bolas, que me assustaste!... É uma operação para uma semana e tal, duas semanas, ainda são uns 270 km,  a penantes!... Já viste a falta que depois fazias ? Lá em casa e aqui no blogue ?!...

E eu não quero que a tua Santa Manuela  te interprete mal, te dê com o rolo da massa, e te ponha a dormir no quarto Sul...Felizmente que ela não vê o blogue ( e só foi uma vez, por engano, á Tabanca de Matosinhos)... 

PS - Parabéns, por outro lado,  à tua filha, bem casada.

Em italiano de praia:

Virgilio, vedo che, dopotutto, anche la tua (seconda) terra, Vila do Conde, ha il suo fascino: hai appena "scoperto" il Cammino di Santiago..., il santo devoto di altri nostri amici come Paulo Santiago e Abílio Machado... Ma fai attenzione alle pellegrine italiane, soprattutto se da sole e istruttrici di ginnastica... E stai attento soprattutto al mattarello ("rolo da massa") di Santa Manuela... Ciao, arrivederci, buon agosto e buon incontri...

P.S. D'altra parte, congratulazioni a tua figlia per il bel matrimonio.

___________________

Nota do editor LG:

(*) Último poste da série > 31 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27074: Felizmente ainda há verão em 2025 (4): alzheimareados com a canícula...

quinta-feira, 31 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27075: Os nossos seres, saberes e lazeres (692): Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu) - Parte XII: Gegen Tala, Mongólia Interior, 11 de maio de 1981





República Popular da China > Gegen Tala, Mongólia Interior > Aldeia de Xilinhot >  11 de maio de 1981 > O autor, à direita,  com uma família mongol

Foto (e legenda): © António Graça de Abreu (2025 ). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné]


1. Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto / Canchungo, Mansoa e Cufar, junho de 1972/abril de 1974; sinólogo, escritor, poeta, tradutor; tem mais dde 375 referências no blogue;
texto enviado em 26 de julho de 2025, 18:12)


Excertos do meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983 >  
Gegen Tala, Mongólia Interior, 11 de maio de 1981

por António Graça de Abreu

Uma semana viajando. Primeiro num Antonov velhíssimo, pouco maior do que os nossos DC 3 que conheci na Guiné, voando de Pequim para Huhote, a capital da Mongólia interior chinesa. 

Depois, de jipe, mais 250 quilómetros de estrada (?) algum alcatrão e, de seguida, por caminhos de cabras e de camelos, aproveitando-se as pistas dos leitos secos dos rios até estas paragens isoladas de Gegan Tala, a pradaria distante, já muito próxima da fronteira com a república da Mongólia. 

As terras mongóis em estado puro, a aldeia de Xilinhot onde fico,  tem iurtas de verdade e casas de adobe, existem rebanhos, camelos e cavalos, e até um pequeno mas extraordinário -- pelo seus murais e pequenos budas --, templo lamaísta tibetano-mongol. 

Fui almoçar a casa de uma família mongol, só a
filha mais velha falava mandarim e serviu de intérprete.  
Gente perdida, surreal, real, nas estepes dos confins do mundo. Não os vou esquecer imortalizados em fotografia comigo. Reparem no pormenor das galochas do rapazinho, gente pobre de uma enorme dignidade.

Escrevi:

Depois da Grande Muralha e da Manchúria,
eis a Mongólia!
Viajo no início do Verão por estradas de terra
e caminhos agrestes no leito seco de rios,
chego no fim da manhã à aldeia de Xilinhot.
As iurtas brancas
suspensas no castanho e verde do horizonte,
casas dispersas, um templo budista,
a erva ainda molhada pelo orvalho da noite,
o ar leve e fino,
silêncios cinzentos de chumbo,
a terra fresca, a pradaria imensa.

Monto um cavalo de vento
e parto à desfilada,
sem sela,
sem rédeas,
sem destino.

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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27056: Os nossos seres, saberes e lazeres (691): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (214): Casal de S. Bernardo, Alcainça, gratas lembranças do Filipe de Sousa – 1 (Mário Beja Santos)