quarta-feira, 29 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14541: Convívios (670): Almoço Convívio do BCAÇ 2851, dia 6 de Junho (António Pimentel)



1. O nosso Camarada António Pimentel, ex-Alf Mil do Rec Inf do BCAÇ 2851 (Guiné, 1968/70), solicitou-nos a publicação do seguinte convite para a festa do convívio anual da sua Unidade:

Caro Luís Graça,

Para conhecimento de todos os que estiveram envolvidos com a nossa ação na Guiné e queiram compartilhar connosco este ALMOÇO ANUAL.

O nosso almoço anual é sempre no primeiro sábado de Junho, dia 6. 



Um abraço,
António Pimentel 
Alf Mil do Rec Inf do BCAÇ 2851
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

Guiné 63/74 - P14540: Em busca de... (257): Elementos do conjunto musical "Os Bambadincas": o Toni (cantor romântico), o Serafim (baterista), o Peixoto (viola ritmo e cantor pop) e mais um outro 1º cabo, que era viola baixo...Eu sou o o "Braga", viola solo, e queria muito abraçar-vos, na Trofa, no próximo dia 30 de maio, por ocasião do convivio do pessoal de Bambadinca 1968/71


1. Mensagem do nosso camarada José Sousa [JMSF], que entrou recentemente para a nossa Tabanca Grande (*)

[Imagem à esquerda: José Sousa, o "Braga", viola solo do conjunto musical Os Bambadincas,  natural de Braga, e hoje sócio de uma escola de condução do Porto, ex-soldado de rendição individual (BART 1904 e Pelotão de Intendência, Bambadinca, 1968/70)]

 De: José Sousa

Data: 26 de abril de 2015 às 15:12

Assunto: Almoço do convívio do pessoal de Bambadinca (1968/71)... Em busca dos elementos do conjunto musical Os Bambadincas

 Camarada de armas, sou um ex-combatente da Guiné, estive sediado em Bambadinca (1968/70, por casualidade vi há dois dias atrás umas fotos onde mostra um grupo musical (Os Bambadincas) a actuar para todos os colegas em Bambadinca,  junto ás instalações dos oficiais e sargentos que me trouxeram muitas saudades, pois eu estou na foto, era o viola solo do conjunto (José Maria) conhecido por Braga.

Apesar de ter sentido um grande aperto no coração, foi uma enorme alegria ter visto ao fim de 46 anos os meus amigos: Toni (cantor romântico); Serafim (Baterista), Peixoto (viola ritmo e cantor pop) e o viola baixo que sinceramente não consigo lembrar-me do nome dele! (Acho que ele, antes de ir para o exército, praticava halterofilismo e trabalhava na oficina (chapeiro?), penso que sim.)

Eu pertencia ao Batalhão que vocês foram render [, o BART 1904], depois passei para os serviços de intendência que também estavam sediados em Bambadinca e a minha vida lá estava ligada com todos vós.

Caso estes meus colegas do conjunto musical estejam vivos e de saúde (por Deus espero que sim!), e se forem ao almoço convívio [,na Trofa, em 30 de maio,] (***),  para mim seria uma grande satisfação também participar e dar-lhes um abraço maior do que daqui até Bambadinca.

Agradecia que me dissessem alguma coisa. (****)

O meu telem. 969 456 423

José Sousa



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Por volta de  maio de 1969 > Atuação do conjunto musical "Os Bambadincas", formado por cinco elementos: da direita para a esquerda, o 1º cabo Tony ("cantor romântico"), o 1º cabo Serafim (bateria),  o 1º cabo Peixoto (viola ritmo e cantor pop), o José Maria de Sousa [, Ferreira, mais conhecido por "Braga";  era soldado do pelotão de intendência (viola solo)], e ainda "um outro 1º cabo que "deveria ser chapeiro e que, na vida civil, praticava halterofilismo"... Com exceção do Sousa, todos pertenciam ao BCAÇ 2852 e eram 1ºs cabos...

Pela consulta da história da unidade (BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70), presume-se que:

(i) o Peixoto seja o 1º cabo escriturário José Faria Taveiro Peixoto, nº 11176267, do comando do batalhão, secção de pessoal e reabastecimento;

(ii) o Serafim deve ser o 1º cabo mecânico auto António Luis S. Serafim, nº 06148667, do pelotão de manutenção comandado pelo alf mil Ismael Quitério Augusto, nosso grã-tabanqueiro;

(iii) o Tony, pelo nome e nº mecanográfico terminado em 61, pode ser o 1º cabo nº 14219661 António N. Sousa ("Era refratário, e tinha cinco a seis anos a mais do que nós", diz o Sousa; julga que era condutor, e natural de Lisboa, onde já cantava, com nomes fadistas conhecidos como a Maria da Fé).

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem:  L.G.)
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(***) Vd. poste de 2 de abril de  2015 > Guiné 63/74 - P14430: Conivívios (661): Pessoal de Bambadinca 68/71: Trofa, 30 de maio de 2015 (Silvino Carvalhal / Fernando Sousa)

Guiné 63/74 - P14539: Parabéns a você (896): Giselda Pessoa, ex-Sargento Enfermeira Paraquedista da BA 12 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 27 de Abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14531: Parabéns a você (895): Hugo Guerra, Coronel DFA Ref, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 65 (Guiné, 1968/70) e Humberto Nunes, ex-Alf Mil Art, CMDT do 23.º Pel Art (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 28 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14538: Agenda cultural (393): Lançamento do livro "CARTAS DE MATO" - CORRESPONDÊNCIA PACÍFICA DE GUERRA", de Daniel Gouveia que terá lugar no próximo dia 5 de Maio de 2015, pelas 15 horas, na Livraria/Galeria Municipal Verney, em Oeiras

Convite para o lançamento do livro "CARTAS DE MATO" - CORRESPONDÊNCIA PACÍFICA DE GUERRA", de Daniel Gouveia que terá lugar no próximo dia 5 de Maio de 2015, pelas 15 horas, na Livraria/Galeria Municipal Verney, em Oeiras.

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Nota do editor

Último poste da série de 25 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14523: Agenda cultural (392): "O medo à espreita", documentário (Portugal, 2015, 86'), de Marta Pessoa, hoje, às 18h00, no Cinema São Jorge, no âmbito do Indie Lisboa 2015 - 12ª Festival Internacional de Cinema Independente

Guiné 63/74 - P14537: Em bom português nos entendemos (11): O 25 de abril, a lusofonia, a nossa língua comum... e o nosso apreço pelo portal de referência que é o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa (onde é mais que justo destacar o trabalho dedicado, empenhado e competente do seu cofundador e coordenador editorial, o jornalista José Mário Costa)





Lisboa > Av da Liberdade > 25 de abril de 2015 > Tradicional desfile > Imigrantes guineenses... Veja-se a elegância das mulheres, com cravos no cabelo... Pelas palavras de ordem, e pelos cartazes, verifica-se que eram um grupo de imigantes, de diversas nacionalidades, que se manifestavam, em português, pela legalização, e contra a "Europa fortaleza", em nome da solidariedade e da sua contribuição ativa para a economia portuguesa (incluindo a segurança social)...

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados.

1. Com a devida vénia, reproduz-se aqui um texto recentíssimo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, com data de 24/4/2015 [, retirámos alguns dos hiperlinks para o tornar menos pesado]:


Abertura [2048]  > O 25 de Abril e a afirmação da língua portuguesa em África

As comemorações do 25 de Abril de 1974, data de grande significado histórico em Portugal e nas suas então colónias em África, coincidem no presente ano com as dos 40 anos das respetivas independências* e a afirmação, nesses países, do português como idioma oficial comum, em toda a sua diversidade e caraterísticas próprias. Diversas iniciativas assinalam as efemérides, de que salientamos dois exemplos:

– a realização em Benguela, entre 7 e 9 de maio p. f., do Colóquio Internacional das Línguas Nacionais, uma iniciativa do Instituto Superior Politécnico Jean Piaget de Benguela, que, além de ser o primeiro evento em Angola sobre a normalização das línguas africanas nacionais, também pretende marcar a comemoração do 40.º aniversário da sua independência;

– o Festival Jovem da Lusofonia, que decorre em Coimbra entre 30 de abril e 1 de maio, com o objetivo de promover a música, as danças e a gastronomia dos países africanos de língua oficial portuguesa.

E fica a sugestão de (re)leitura dos seguintes textos em arquivo no Ciberdúvidas, assinalando, de algum modo, o que o 25 de Abril trouxe para a língua portuguesa:







E, ainda, estes outros contributos:






2. Comentário de L.G.:

Um grande abraço (Alfabravo) ao José Mário Costa, jornalista português, cofundador (com João Carreira Bom, já falecido) e responsável editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

O José Mário Costa trabalha apaixonadamente e "pro bono", neste projeto... Falei-lhe há dias do nosso blogue e do nosso "calão" da Tabanca Grande, bem como do nosso "livro de estilo"... Também nós, combatentes da Guiné, criámos um léxico próprio que deve merecer alguma atenção dos especialistas da língua... (vd. a lista, já longa, das nossas mais de 400 Abreviaturas, Siglas, Acrónimos, Gíria, Calão, Expressões Idiomáticas, Crioulo, etc.).

 Tenho grande apreço pelo trabalho dedicado, empenhado e competente que ele faz há anos, neste portal de referência que é o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa... Ele e sua equipa de colaboradores e consultores, apesar da crónica escassez de recursos (incluindo a falta de apoios institucionais)... O Ciberdúvidas é um verdadeiro serviço público... E merece as nossas (ou pelo menos, as minhas) palmas!

Já agora, recorde-se que ele é autor do programa televisivo Cuidado com a Língua!, cuja primeira série se encontra recolhida em livro, em colaboração com a professora Maria Regina Rocha. (Ver mais aqui.)
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Nota do editor:

Vd. os últimos cinco postes da série:

8 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10499: Em bom português nos entendemos (10): Camarada, companheiro, colega, irmão, amigo, camarigo...

18 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10165: Em bom português nos entendemos (9): Uma declaração de amor, bem humorada, à língua portuguesa (Teolinda Gersão + netos)

26 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10074: Em bom português nos entendemos (8): O angolês, termos angolanos que pode dar jeito integrar no nosso léxico (Luís Graça, com bué de jindandu para o Raul Feio e demais kambas kalus)

18 de março de 2010 > Guiné 63/74 - P6015: Em bom português nos entendemos (7): O kapuxinho vermelho, contado aos nosso netos, de Lisboa a Dili, de Bissau a S. Paulo (Nelson Herbert / Luís Graça)

13 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3447: Em bom português nos entendemos (6): Histórias... ou estórias de guerra? Venham elas... (J. Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P14536: Bibliografia de uma guerra (70): A Mina, do livro "Guerra na Bolanha", de Francisco Henriques da Silva, Âncora Editora, Lisboa, Março de 2015

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Henriques da Silva (ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, , Mansabá e Olossato, 1968/70; ex-embaixador na Guiné-Bissau nos anos de 1997 a 1999), com data de 18 de Abril de 2015:

Meu caro Luis Graça e todos os camaradas e amigos desta tertúlia,
Como o prometido é devido, aqui estou a enviar um excerto da minha obra “Guerra na Bolanha - de estudante, a militar e diplomata” (Âncora Editora, Lisboa, Março de 2015).

O episódio aqui relatado consta de páginas 159 a 161 do livro em apreço e é ilustrado com uma fotografia autêntica da época da autoria de Maurício Esparteiro.
Recordo que, em tempos, enviei para o blogue um relato do ataque a Mansabá em 3 de Abril de 1969 que também integra a obra.(*)
O lançamento foi efectuado em 17 de Março em Oeiras, mas será feita uma sessão de apresentação em Lisboa, na Sociedade Histórica da Independência de Portugal em 5 de Maio, pelas 18 horas, para a qual estão todos convidados e de que oportunamente enviarei para estas mesmas páginas um lembrete.

Saudações amigas
Francisco Henriques da Silva
(ex-Alferes miliciano de infantaria da CCaç 2402
e ex-embaixador em Bissau 1997-1999)


A Mina

Um pouco mais adiante, no nosso percurso para Bissorã é detectada uma nova mina e desta feita, coube-me a mim, como especialista em explosivos, levantá-la. Armado apenas com uma faca de mato lá fui desempenhar-me dessa ingrata tarefa, pedindo a todos que se afastassem pelo menos uns 50 metros e se refugiassem por detrás dos troncos das árvores.
À boa maneira lusitana, existia sempre um ou outro mirone, que, apesar dos avisos e das proibições, das ordens berradas pelos furriéis, iam ver as minas e manifestavam muita curiosidade em saber como se desmontavam. A certa altura irritei-me, tive de parar o que estava fazer e pedi ao meu “guarda-costas”, que estava para ali a olhar feito parvo, que se retirasse:
– Mas eu estou aqui para protegê-lo, meu alferes – disse-me ele.
– Oh, homem, não proteges nada! Vamos mas és os dois para o galheiro em menos de dois tempos! Além disso parece-me que esta mina está contra-armadilhada! Isto é perigosíssimo! – retruquei.

O que é que se passa pela nossa cabeça quando estamos a desmontar uma mina com cerca de seis quilos e meio de trotil? Sabemos que qualquer erro seria, como diziam os nossos instrutores em Tancos, o primeiro, o único e o fatal. Nesse momento tudo nos incomoda, as pessoas, o arvoredo, a areia seca do arremedo de estrada em que nos encontramos, os ruídos indefinidos da floresta, as formigas que, indiferentes, passeavam num carreiro ali ao lado; alguém que assobiou lá ao longe, sem qualquer motivo; o fumo de um cigarro que o furriel deitou ali bem perto de nós, há minutos. E depois o que nos passa em flashes sucessivos pela cabeça: os eléctricos amarelos de Lisboa, tão perto do nosso coração e tão longe; a namorada que já não tínhamos, mas que podíamos ter; a última música dos Beatles, que era bem gira; os pais, os irmãos e a avó, com os seus límpidos olhos azuis e o seu ar autoritário; os estudos inacabados; a estupidez incomensurável da guerra naquele país ignorado e que poucos sabiam localizar com exactidão no mapa. Enfim, o que é que, em boa verdade, não nos passa pela cabeça?
Mas, atenção: temos de nos concentrar, o importante é desactivar a mina, tão depressa quanto possível, mas sem grandes pressas. Temos medo? Creio que não. Estamos apenas apreensivos. Como é que isto se define? Não sei. A juventude e alguma inconsciência que a caracteriza acaba com qualquer vislumbre de medo e a prudência não é para aqui chamada. Vamos a isto? Vamos! Mãos à obra.

Olossato - Levantamento de uma mina
Com efeito, ao escavar a terra sob a parte inferior da caixa de madeira da mina anticarro, deparei com algo de estranho, que não sabia exactamente o que era. Parecia-me um arame, junto com um objecto redondo metálico em forma de pastilha. Não percebi muito bem o que era, mas estava desconfiado. Não conseguia, porém, escavar mais, até porque podia desequilibrar a mina e se esta estivesse contra-armadilhada podia dar por terminada a minha comissão na Guiné e começar de imediato outra no Além. Acresce que, à torreira do Sol, estava com as mãos suadas e sujas de terra. Não podia continuar. Lembrei-me de um alferes sapador que, umas semanas antes, lá para o Sul, ao tentar desactivar uma mina, com as mãos suadas, deixou escapar o percutor e ficou feito em carne picada, que, segundo me contaram, mal cabia toda dentro de um quico. Para rematar, com todos os acontecimentos do dia, estava enervado com pequenas coisas e não com a mina propriamente dita ou seria por causa dela? Parei para descansar, beber um gole de água, puxar de um cigarro. Sosseguei. Mas não tinha chegado ao fim das minhas tribulações.

Chamei a minha gente, para conferenciar com os furriéis e um dos condutores.
– Meus amigos, aquela mina deve estar contra-armadilhada e eu receio que não consiga dar conta do recado. Alguém tem sugestões? Podemos rebentá-la no local. É o que se costuma fazer e é uma hipótese a considerar. Mas vamos, antes, tentar retirá-la com o guincho do Unimog. O que é que acham?

À falta de melhor, com uma ou outra hesitação, acabaram todos por concordar. Então expliquei-lhes o que pretendia fazer:
– Como esta coisa pode rebentar imediatamente ou a meio caminho, quando estiver a ser puxada, nunca se sabe, o pessoal vai-se afastar ainda mais. Portanto, recuam todos para uma distância segura. Vamos esticar o cabo até ao limite, depois vamos passá-lo pelo ramo daquela árvore – e apontei com o dedo para uma árvore próxima –, em seguida, vamos prender o gancho às pegas laterais da mina que são de corda. Finalmente, com toda a calma, içamo-la. Quando estiver no ar baixamo-la muito, mas muito, lentamente. – e voltando-me para o condutor – Percebeste? Atenção! Tudo pode acontecer. Deixem-se de brincadeiras! Isto é a sério! Não quero aqui ninguém de ninguém!

Todo o pessoal se abrigou a uma distância razoável do local, internando-se na floresta e escondendo-se atrás das árvores e dos morros de baga-baga. Com esta dispersão, corria-se o risco de sermos emboscados ou de alguém colocar o pé numa mina antipessoal. Porém, não houve nada. Os guerrilheiros assentaram a mina e terão ido à sua vida. Bom, procedemos com o maior cuidado. A mina elevou-se no ar, aí um metro ou um pouco mais. Não aconteceu o que quer que fosse. Depois baixámos o cabo muito devagar até repousar novamente no solo, ao lado do buraco, onde se encontrava previamente. Não estava contra-armadilhada como se temia, mas o inimigo havia deixado uma moeda de 25 tostões metropolitana presa a um clipe grande de escritório (!). Da estupefacção passei ao riso. Mas que ideia aquela! Desarmei, com segurança, a mina e a companhia lá ficou a ganhar 2000 escudos, que era o prémio por mina anticarro detectada e levantada (em geral, 1000 escudos para quem a descobria e outros 1000 para quem a levantava). O dinheiro reverteu, como habitualmente, para o fundo comum.

O resto da estrada foi cuidadosamente picada até ao subsector de Bissorã, cuja tropa, quase toda originária dos Açores, já estava preocupada com a nossa demora e alguns dos graduados, num acto meio-tresloucado foram ter connosco, ao limite da respectiva área, de bicicletas motorizadas!

A loucura não paga imposto.
C’était notre drôle de guerre!
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Notas do editor

(*) Vd poste de 7 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13858: Memórias de Mansabá (34): As amêndoas da Páscoa de 1969 (Francisco Henriques da Silva)

Último poste da série de 23 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11616: Bibliografia de uma guerra (69): "Guiné - Terra que aprendemos a amar", mais um livro em sextilhas do nosso camarada Manuel Maia

Guiné 63/74 - P14535: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XXIII: dezembro de 1973: flagelação do Xime, com foguetões 122 mm: sete mortos civis



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > c. 1970 Vista área de parte da tabanca do Xime.

Foto: ©   Humberto Reis (2005). Todos os direitos reservados.




1. Continuação da publicação da História do BART 3873 (que esteve colocado na zona leste, no Setor L1, Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada da História da Unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte (*)

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e não como voluntário, como por lapso incialmente indicámos); economista, bancário reformado, formador, com larga experiência em Angola; foto atual à esquerda].

O destaque do mês de dezembro de 1973 (pp. 78/80) vai para:

(i) Flagelação do Xime, em 1 de dezembro, às 22h15,  durante 25 minutos, com utilização de artilharia (armas pesadas e foguetões 122 mm), de que resultou a morte de 7 civis; (há um ano, na mesma data, o PAIGC tinha feito uma violenta emboscada em Ponti Coli) (**);

(ii) Transferência (ou deportação ?), por parte do PAIGC;  de população da Ponta Varela / Poindom para o sul, alegadamente por falta de confiança na sua lealdade, e sua substituição por outra, oriunda do chão nalu (Cantanhez);

(iii) Briga entre mandingas e balantas de Gussará / Fá Balanta leva a intervenção das NT, como "mediadoras" do conflito (que ficou sanado);

(iv) Continuação das colunas de reabastecimento a Mansambo, Xitole e Saltinho;

(iv) Abatido pelas NT (CCAÇ 12 e CCAÇ 21) um elemento da população, intimado a parar e que se pôs em fuga; o objetivo era pô-lo a servir de guia para se chegar à Ponta Luís Dias (Op "Pró Ronco");

(v) Operação a Madina / Belel / Cherel, a norte do Rio Geba, com apoio aéreo e um forte dispositivo de tropas apeadas CART 3493, CCAÇ 3518, CCAÇ 12, CCAÇ 21, GEMIL 309 e 310; capturada uma espingarda semiautomática Simonov; o IN teve 6 baixas;

(vi) Op Tudo Verde, na mítica  área de Mina / Fiofioli:  as NT (CART 3493, CART 3494, CCAÇ 3518, CCAÇ 12 e a CCAÇ 21) destruiram 3 moranças e 4 toneladas de arroz;

(vii) O Com-chefe e governador geral visita Bambadinca, encerrando o 5º curso de milícias;

 (viii) prosseguiu o programa de melhoramentos (Mansambo, Bambadincazinho, Mero), "não obstante a escassez de meios" ao dispor das Forças Armadas, pagou-se o 13º mês e festejou-se a quadra natalícia, tendo havido no dia de natal espetáculo de varieddaes em Bambadinca, em Mansambo e no Xitole.

(ix) A CART 3493 regressou ao setor L1, vindo de Cobumba para Fá Mandinga;











História da Unidade - BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) - Cap II, pp. 78/80


2.  Comentário do editor:

Há quem ponha em dúvida a esta versão (oficial) no que diz respeito à flagelação do Xime, em 1/12/1973, de que resultou a destruição total de uma morança e a morte de 7 civis, uma família inteira... Estas mortes já tinham confirmadas há largos anos pelo nosso "menino do Xime", o agora eng silv José Carlos Mussá Biai (***)...

Já ouvi outra versão (, de alguém, um graduado, metropolitano,  pertencente à CCAÇ 12, que na altura era a unidade de quadrícula do Xime): podia ter sido "fogo amigo", neste caso o obus 14 de Gampará, do outro lado do rio Corubal... A distância, em linha, entre Gampará e o Xime devia ser de 13/15 km (no máximo), ou  seja, dentro do alcance do obus 14 ... O Xime só tinha o obus 10,5 cm (que não chegava à Foz do Corubal e à Ponta do Inglês)...

Por outro lado, antigos guerrilheiros do PAIGC com quem falei em março de 2008, no Cantanhez e em Bissau, e que tinham estado, por volta de 1972, na região compreendida pelo triângulo Bambadinca - Xime - Xitole, disseram-me que terá havido, possivelmente no 1º trimestre de  1973, após o assassinato de Amílcar Cabral,  deslocação de forças para reforçar a frente sul... O que também explica a relativa fraca resistência com que as NT, em finais de 1973,  encontravam em áreas de difícil acesso como Mina/Fiofioli... (LG)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 26 de fevereiro de 2015  > Guiné 63/74 - P14300: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XXII: novembro de 1973: crescente africanização da guerra de contraguerrilha no setor L1: são a CCAÇ 12 e a CCAÇ 21, constituídas por militares do recrutamento local, quem se arrisca a ir à sempre temida região do Poindom / Ponta do Inglês

(**) Vd. poste de  24 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13645: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XI: dezembro de 1972: (i) talvez a primeira quadra festiva do Natal e Ano Novo passada, no setor L1, sem ataques nem flagelações do IN; (ii) por outro lado, o comandante 'Nino' Vieira vem pessoalmente à frente Bafatá-Xitole para censurar e punir maus tratos infligidos às populações locais pelos seus guerrilheiros

(***)  Vd. poste de 10 de maio de  2005 > Guiné 63/74 - P16: No Xime também havia crianças felizes (2) (Luís Graça)

(...) Acabei de falar com o José Carlos Mussá Biai: nasceu em 1963, no Xime, e era menino no tempo em que por lá passaram a CART 2715 e a CART 3494. Era menino no tempo em que eu estive no Setor L1 da Zona leste, correspondente ao triângulo Xime-Bambadinca-Xitole.

Sei que, até ao fim da guerra, ele, a família e os vizinhos da sua tabanca sofreram muitos ataques. Uma família inteira, perto da sua morança, morreu. A sua infância não foi fácil. A vida também não foi fácil para a população civil, de etnia mandinga, que ficou no Xime.

(...) Em contrapartida, também houve algumas coisas boas. Por exemplo, o furriel miliciano enfermeiro José Carlos José Luís Carvalhido da Ponte, natural de Viana do Castelo, foi alguém especial na sua vida e na vida dos outros meninos do Xime. Foi seu professor primário na única escola que lá havia, o PEM (Posto Escolar Militar) nº 14. O Mussá Biai também teve como professor, depois da CART 3494 ter ido para Mansambo, o furriel Osório, da CCAÇ 12, que dava aulas no Posto Escolar Militar nº 14, juntamente com a esposa. (,,.)

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14534: Memória dos lugares (291): Gentes do Geba, parte II (A. Marques Lopes, coronel inf, DFA, na situação de reforma, ex-alf mil da CART 1690, Geba, 1967; e da CCAÇ 3, Barro, 1968)


Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº 1 > "Aqui era a nossa discoteca... Aqui cantávamos a Sandie Shaw e o Eduardo Nascimento... E bebíamos uns 'shots' valentes", diz o A. Marques Lopes.




Lembra-se da Sandie Shaw, e da sua "Pupet om the string" (Marioneta, em versão livre, em português), um dos grandes êxitos do "hit parade" musical do ano de 1967 ? Foi com esta canção que a provocante inglesa  Sandie Shaw (n. Londres, 1947) ganhou o Festival Eurovisão da Canção de 1967... Ainda por cima teve a irreverência de cantar desçalça... talvez como protesto pela conmservadora BBC ter pensado seriamente em "tirar-lhe o microfone" depois descobrir que a rapariguina estava envolvida numa cena de adultério... Com 20 aninhos, imaginem, e aquelas hormonas todas a fervilhar!... Ficou no goto dos "pornográficos" rapazes de  Geba que deviam ter sensivelmente a mesma idade que ela ...



Já o Eduardo Nascimento, um pouco mais velho (, nascido em Angola, em 1944)  era um pacato rapaz lusitano, tal como o Eusébio... Tem hoje direito a entrada na Wikipédia, onde se diz que terá ido ao Festival Europeia da Canção por vontade expressa de Salazar, quando um "pretinho" dava jeito à máquina de propaganda do Estado Novo...

(...) Líder do conjunto angolano Os Rocks, participou num dos concursos de música ié-ié, realizados no Teatro Monumental, em Lisboa. Em 1967 perenizou-se com o tema O Vento Mudou, vencedor do Festival RTP da Canção

A música foi representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção, realizado em Viena, ficando em 12º lugar (ex-aequo com a Finlândia), entre dezassete países. 

Eduardo Nascimento foi o primeiro negro a pisar os palcos da Eurovisão. Dizia-se na altura que tinha sido Salazar quem quisera que Eduardo Nascimento representasse Portugal, para provar que não era racista. O tema viria a ser gravado pelos Delfins, por Adelaide Ferreira e pelos UHF. 

Com Os Rocks Nascimento gravou ainda dois EP (...). O cantor continuou a actuar com Os Rocks até 1969, altura em que voltou para Angola e abandonou a carreira musical. Posteriormente veio a exercer funções na TAP." (...)



Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  5 > O malografo cap art Manuel Carlos da Conceição Guimarães (1938-1967), morto na estrada Geba-Banjara, em 21 de agosto de 1967, com 29 anos...


Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  6 >  A preparar o "petisco"... Um cabrito ?



Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  7 >  Sem legenda...


Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  22 >  O A. Marques Lopes frente ao edifício que servia de comando e secretaria  (?) da companhia  (I)...


Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  21 >  O A. Marques Lopes frente ao edifício que servia de comando e secretaria  (?) da companhia (II)...



Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  15 >  Um tradicional tear... (não sei se fula, se mandinga).


Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  25 > Poilões


Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  26 > Vista (parcial) do arame farpado e do cavalo de frisa...



Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  29 >  Restos do cemitério cristão... Até tarde, Geba era conhecido pelo seu "presídio" e por uma povoação com forte presença de grumetes (ligados à navegação, eram guineenses cristianizados, assimilados e, em geral, colaborantes com as autoridades coloniais...)


Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  31 > Igreja de Geba... Deve ser de meados dos anos 30 do séc. XX, e está em estado de grande degradação. Há um projeto da ONG Viver100Fronteiras para a sua reconstrução.


Fotos: © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados [Edição: LG]



Fotos, sem legendas, do álbum de A. Marques Lopes, coronel inf, DFA, na situação de reforma, ex-alf mil da CART 1690 (Geba, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968). 

É, historicamente,  um dos nossos primeiros  cinco grã-tabanqueiros (ou "tertulianos"): foi o quarto a entrar, depois de mim, do Sousa de Castro, do Humberto Reis e antes do David Guimarães (**)...

(**) Último poste da série > 25 de setembro de 2014 > Guiné 53/74 - P13650: In Memoriam (195): Cap art Manuel Carlos da Conceição Guimarães (1938-1967), morto na estrada Geba-Banjara, região de Bafatá... As suas irmãs, Teresa e Ana descobrem agora, emocionadas, as referências sobre ele no nosso blogue e encontraram-se há dias, em Lisboa, com o A. Marques Lopes, seu amigo e companheiro de infortúnio

Guiné 63/74 - P14533: Ser solidário (181): Orquestra Geração nos Dias da Música, CCB, Lisboa, 26 de abril, 18h... Um projeto pedagógico inovador que é uma prática social exemplar: "aprendendo música para tocar vidas"















Fotos (e vídeo): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados

1. Ontem, por ocasião de mais uma edição de Dias da Música, no CCB - Centro Cultural de Belém, em Lisboa (este ano sob o tema "Luzes, Cãmara, Música")  tive a grata experiência de ver a atuação da Orquestra Geração de Sopros... Fiz fotos e gravei um pequeno vídeo que quero compartilhar com os leitores do nosso blogue...

Estes putos (e que os ensina  e apoia) merecem as nossas palmas... A Orquestra Geração é um projeto que merece ser conhecido, divulgado e acarinhado. "Aprendendo música para tocar vidas. Projecto pedagógico que já é considerado uma das melhores práticas sociais europeias"...  É um projeto de inclusão social das crianças e jovens de bairros social e economicamente mais desfavorecidos e problemáticos.

Eles estão no Facebook e têm uma página na Net. A responsabilidade pedagógica da Escola de Música do Conservatório Nacional, e contam com o apoio de diversas autarquias e outras entidades.


2. Aqui fica um excerto de um texto sobre o historial do projeto Orqiuestra Geração e seus objetivos:


(...) No início do ano letivo de 2007/2008, fruto de uma conversa entre o Dr. Jorge Miranda (Câmara Municipal da Amadora) e o Dr. António Wagner Diniz, presidente do Conselho de Gestão do Conservatório Nacional, tomou-se a decisão de acrescentar ao projeto Geração já implantado no bairro da Boba (Concelho da Amadora), uma orquestra que aplicasse em Portugal o Sistema de Orquestras Infantis e Juvenis da Venezuela.

Este sistema visa essencialmente dar um apoio social a crianças e jovens oriundos de bairros ditos difíceis, onde impera a marginalidade e o tecido familiar é muito frágil, e tem como objetivo, através da prática intensiva de orquestra (trabalho de conjunto por excelência), integrar as crianças ou jovens na sociedade, aumentando-lhes a autoestima e o respeito pelo outro, de forma a se atingir um desenvolvimento harmonioso da sua personalidade e combater o absentismo escolar, a saída para a marginalidade, enfim a desnaturação da personalidade do ente intervencionado.

O projeto Orquestra Geração tem revestido em Portugal um papel igualmente importante na aproximação e motivação das famílias dos alunos, no sentido de se integrarem progressivamente nas atividades da orquestra, contribuindo para o alargamento do espectro de ação do mesmo, motivando e responsabilizando todo o agregado familiar na obtenção dos resultados por nós idealizados.

Do Casal da Boba, mais especificamente da Orquestra Geração estabelecida no agrupamento de escolas Miguel Torga, o projeto alargou-se ao concelho de Vila Franca de Xira, nomeadamente ao agrupamento de escolas da Vialonga ainda em 2007/2008 e no mês de Novembro de 2008 no bairro da Mira também no concelho da Amadora (projeto que terminou no ano letivo de 2009/2010).

Posteriormente, com a entrada através do POR LISBOA de outras autarquias, o projeto Orquestras Juvenis-Orquestra Geração passou a abarcar mais as seguintes escolas: Mário de Sá Carneiro em Camarate, Bartolomeu Dias em Sacavém, da Apelação, todas no concelho de Loures, Alto do Moinho (Zambujal) e Pedro D’Orey da Cunha (Damaia e Cova da Moura), ambas no Concelho da Amadora, Amélia Vieira Luis (Carnaxide-Portela) no concelho de Oeiras, Mestre Domingos Saraiva (Algueirão-Mem Martins) em Sintra e Escola da Boa Água (Quinta do Conde em Sesimbra).

No ano letivo 2010/2011 aderiu ao projeto o Município de Lisboa, com duas escolas, nomeadamente na Ajuda – Alexandre Herculano e na Boavista – Escola Arquiteto Ribeiro Telles. Também neste ano letivo teve início os projetos no norte do país, em Mirandela e Amarante, financiados pela Fundação EDP, com Murça a partir de 2011/2012. Ainda em 2011/2012 iniciou-se igualmente o projeto em Coimbra da responsabilidade do Conservatório local.

O desenvolvimento do projeto assentou em dois vetores fundamentais - a formação de formadores aptos a aplicar a metodologia venezuelana do El Sistema e o encontrar parceiros financeiros que garantissem a continuidade do projeto.

Tendo as orquestras Geração a sua origem no projeto Geração do bairro da Boba na Amadora, foram inicialmente financiadas pelo programa EQUAL, pela Câmara da Amadora e pela Fundação Gulbenkian, cabendo ao Conservatório Nacional a responsabilidade pedagógica e administrativa. Posteriormente outras entidades privadas foram-se associando, tais como a fundação EDP, que patrocinou parte da aquisição dos instrumentos para o núcleo da Boba.

Findo o período de intervenção do EQUAL foram a Câmara da Amadora e fundações Gulbenkian e EDP os apoiantes do primeiro núcleo, nomeadamente na Escola Miguel Torga. Como anteriormente referido, o POR Lisboa veio enquadrar os outros núcleos entretanto formados, à exceção das três escolas de Trás-os-Montes, patrocinadas na totalidade pela Fundação EDP.

A Fundação PT, em conjunto com o Município de Loures e o Ministério da Administração Interna, desde 2009/2010, apoia as escolas de Sacavém e Camarate no âmbito do Contrato Local de Segurança; os bancos Barclays e BNParisParibas no presente ano letivo de 2012/2013 apoiam projetos específicos transversais a todas as escolas do projeto e ainda a TAP.

De salientar o fato de, desde o ano letivo de 2009/2010, o Ministério da Educação assegurar a contratação de todos os professores da zona metropolitana de Lisboa e de Coimbra, englobando um número aproximado de 80 docentes.

(...) Objetivos:

- Promover a inclusão social das crianças e jovens de bairros social e economicamente mais desfavorecidos e problemáticos;

- Combater o abandono e o insucesso escolar;

- Promover o trabalho de grupo, a disciplina e a responsabilidade para uma melhor cidadania;

- Promover a autoestima das crianças e das suas famílias;

- Aproximar os pais do processo educativo dos filhos;

- Contribuir para a construção de projetos de vida dos mais novos;

- Promover o acesso a uma formação musical que seria impossível para a maioria das crianças e jovens que vivem em contextos de exclusão social e urbana. (...)


Texto de António Wagner Diniz (Excertos) [Reproduzido com a devida vénia...]

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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14451: Ser solidário (180): No passado dia 28 de Março de 2015 tomaram posse os membros do Lions Clube da Lusofonia que se propõe apoiar os imigrantes dos países lusófonos residentes no Concelho de Matosinhos (Jaime Machado)

Guiné 63/74 - P14532: Notas de leitura (707): Abdulai Silá, o grande prosador guineense (3): "Mistida" (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Junho de 2014:

Queridos amigos,
“Mistida” é uma obra soberba, versa um mundo em derrisão, os valores do passado estão em derrocada, aparecem D. Quixotes, feiticeiros, a barbárie das prisões sem culpa formada; há sempre a exaltação do professor, há viagens do passado para o presente, a esperança flutua como partículas de cinza. Há sons ameaçadores, convocações de desgraça, há carrascos que sentem remorsos e que imprecam essas execuções que sangraram a nação.
Aguardam-se mensagens, sinais do sol, a chegada do amor, o desaparecimento do lixo.
Um livro enigmático e muito belo. Mas que confirma Abdulai Silá como a grande promessa das letras guineenses.

Um abraço do
Mário


Abdulai Silá, o grande prosador guineense (3)

Beja Santos

“Mistida” (1997) é o terceiro romance de Adbulai Silá e dá o título à trilogia composta também por “A Última Tragédia” e “Eterna Paixão” (Centro Cultural Português Praia – Mindelo 2002). Teresa Montenegro presta alguns esclarecimentos no prefácio à segunda edição:
“Mistida é uma história feita de várias histórias que se se juntarem numa mesma história podem fazer desta outra história. Possível? Na Guiné tudo é possível”. E discreteia sobre o sentido de mistida:
“Como palavra em si, mistida é foneticamente saborosa de ouvir e de pronunciar, mas normalmente o prazer suspende-se aí. Uma mistida é uma coisa vulgar e extremamente terrena. Pode até ser percebida como ordinária, segundo o caso. As pessoas que não precisam não falam safar mistida. No quotidiano urbano, a mistida é hoje sobretudo escrava da sobrevivência, da procura limitada da caneca de arroz, das duas colheres de óleo ou o minúsculo invólucro da margarina a retalho que reunidos a um bocado de peixe permitam fazer ao menos um tiro, uma refeição por dia”.

No prefácio à primeira edição, Teresa Montenegro observou a estrutura da obra: não há capítulos de romance, há dez episódios que irão convergir para um retumbante final de esperança, nesse final as vozes vindas de cada episódio reúnem-se em apoteose. Episódios perpassados por todas de sobrevivência, acasos de guerra, delírios megalómanos. É uma escrita revolucionária, uma ficção confecionada com um uso maleável da língua portuguesa enxertando-lhe crioulo guineense, são episódios caleidoscópicos que refletem estratégias individuais, gente à procura de saídas, gente que quer um sentido para a sua Pátria esfrangalhada.

Numa atmosfera de ruína, no que resta de um abrigo de guerra, aquela que findou em 1974, vive um comandante e num jovem que o acompanha, Matchudho. A atmosfera é delirante, o comandante sonha com guias de marcha, pensa que está a defender um posição militar, é possuidor de uma grande medalha, a proveniência é um mistério. O comandante manda o jovem ir ver o sol, e depois quer saber o que o jovem viu, os diálogos são enigmáticos, atravessados por sopro poético:
- Não viste a cor do sol.
- Ele está muito forte… 
- Não me faças rir, Madjudho. 
- Juro que está tudo igual aos outros dias, Comandante. 
- Mas que ignorância! Não disseste que estavas a querer conhecer a vida? E depois de tanto tempo ainda não és capaz de entender que este sol está quase a cair? 
- A cair a esta hora? 
- E para sempre! 
- Não estou a entender… 
- Tena… a ver se descobre o outro sol, aquele brilhará para nós. Para todos nós….

O jovem vai ver a pedido do comandante qual o aroma do vento. Mas não há vento nenhum. O comandante comunica que daqui a pouco irá nascer o sol e a partir daí não haverá mais ladrões naquela terra. Vai chegar um tempo de fé, de esperança e de solidariedade.

Noutro episódio, um conjunto de prisioneiros políticos jazem numa masmorra. Por ali passou o embaixador que fora espancado até à morte, acusado de tentativa de golpe de Estado. Agora, estes prisioneiros de diferentes idades questionam o absurdo das acusações, a ninguém foi dito porque foram incriminados como traidores. Silá condimenta estes diferentes episódios de uma atmosfera mágica, pesa a ancestralidade africana temperada por um certo delírio surrealista da nova classe política que exibe despudoradamente os seus carros, as suas habitações, móveis e roupa cara. São episódios dominados pela espera. Sente-se que há um mundo em desmantelamento, os melhores da luta de libertação estão enclausurados. Há mulheres heroínas como Mama Sabel, são porta-vozes da dignidade perdida, denunciam a sociedade de expedientes em que se tornou a vida na capital.

E há parábolas como a do lixo, sempre a crescer. E há a observação que Abdulai Silá faz do meio que o envolve, consegue a intensidade plástica entre o vigor da natureza e o meio arruinado, veja-se esse este exemplo:
“O sol ardia com força e o vento fresco vindo do mar há muito que deixara de soprar. No ar dançava a poeira, muita poeira. Vinda de todo o lado, até dos tubos de escape rotos dos carros a pedir reforma, que insistiam em varrer a sujeira que enchia os buracos e os bocados de estrada que entre eles ainda se via. Quanto mais aumentavam a poeira e o calor mais frenético e desordenado se tornava o movimento da avenida. Pessoas, carros e animais cruzavam-se sem a mínima consideração pelas normas e regras de trânsito. Toda a gente estava apressada, parecia que o mundo ia acabar. Só faltava mais um bocado do calor do sol para se chegar ao caos”.

Há personagens que estão em perfeita felicidade, outras vivem dilaceradas pelo país sem sentido, aquela indignidade, como Silá escreve:
“A vida era aquilo mesmo que tinham, uma vergonha diária, permanente. Por isso é que havia tanto fingimento, tanta sacanice, tanta vigarice… Era para esconder a vergonha que havia em todo o lado: homens ou mulheres, adultos ou crianças, governantes ou governados. Cada um se desenrascava como podia, conforme calhava, mas sempre sem vergonha”.

Caminhamos para o reencontro, impensável se atendermos a que cada um dos fascículos de Mistida é como um quarto fechado, são histórias aparentemente concentracionárias. Em dado momento, entra em cena Yem-Yem, o Carrasco, ele é no fundo um pedaço da consciência da nação que se afundou. Bebe desalmadamente cachaça. Está embrutecido. “Para chegar onde estava não tinha sido fácil. Teve que vencer muitas guerras. Guerras com armas e guerras sem armas. Em todas elas tinha-se desenrascado como devia ser, não fazia perguntas, executava". A literatura de Mistida é uma confluência de sonho e realidade, de literatura onírica e de exaltação tropical, parece que a todo o momento, perante o abatimento da Nação, os protagonistas questionam indignados: como é que é possível, como é que foi possível. As narrativas tornam-se desnorteantes, codificadas, como se aguardassem a revelação dos segredos dos deuses. Os vivos caminham ao encontro dos defuntos, recuperam-se discursos de protagonistas de “A Última Tragédia” e “Eterna Paixão”, fala-se no resgate da esperança, há mesmo previsões temíveis para o futuro, quando alguém diz:
“Você quer apostar, por estes andares, ainda há de aparecer, mais dia, menos dia, um ditadorzinho reconvertido ou camuflado, que vai montar um esquema para meter todos os djidius de caneta na gaiola, senão num sítio ainda pior". É uma obra estranha, aquele que se chama um romance aberto. Premonitoriamente, no arranque da obra, Silá, num texto muito belo, fala da alvorada em que a verdadeira vida nasceu, como se quisesse dizer que a Guiné-Bissau não está definitivamente condenada ao infortúnio: 
“Não foram anunciados nem tão-pouco desejados, mas os camaradas chegaram. E chegaram todos de uma vez. Apressados. Poderosos e violentos. Ah, muito violentos. Semearam frustração e cedo transformaram a realidade num sonho. Sonho turbulento, de pesadelos sem fim.
Roubaram. Roubaram. Roubaram e partiram. Sem glória. Sem vergonha… E levaram a memória, quase toda a memória. Contra a razão.
E quando das cinzas se resgatou a esperança surgiu na madrugada um outro ser. Um outro ser e uma outra vida. Uma vida que exigia ser vivida. Em plena fraternidade. Com todo o orgulho.
Os cidadãos que disse deram conta, ignorando as sequelas da pilhagem, afirmaram vários anos mais tarde que foi nessa madrugada que a verdadeira vida nasceu. Será?”.

Uma obra de talento, um cruzamento de géneros literários que um grande artífice pode cinzelar como um romance que vai ter grande futuro.
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Nota do editor

Vd. postes anteriores da triologia de:

20 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14492: Notas de leitura (705): Abdulai Silá, o grande prosador guineense (1): "A Última Tragédia" (Mário Beja Santos)
e
24 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14513: Notas de leitura (706): Abdulai Silá, o grande prosador guineense (2): "Eterna Paixão" (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14531: Parabéns a você (895): Hugo Guerra, Coronel DFA Ref, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 65 (Guiné, 1968/70) e Humberto Nunes, ex-Alf Mil Art, CMDT do 23.º Pel Art (Guiné, 1972/74)


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Nota do editor

Último poste da série de 24 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14512: Parabéns a você (894): David Guimarães, ex-Fur Mil Art MA da CART 2716 (Guiné, 1970/72)