segunda-feira, 27 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14534: Memória dos lugares (291): Gentes do Geba, parte II (A. Marques Lopes, coronel inf, DFA, na situação de reforma, ex-alf mil da CART 1690, Geba, 1967; e da CCAÇ 3, Barro, 1968)


Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº 1 > "Aqui era a nossa discoteca... Aqui cantávamos a Sandie Shaw e o Eduardo Nascimento... E bebíamos uns 'shots' valentes", diz o A. Marques Lopes.




Lembra-se da Sandie Shaw, e da sua "Pupet om the string" (Marioneta, em versão livre, em português), um dos grandes êxitos do "hit parade" musical do ano de 1967 ? Foi com esta canção que a provocante inglesa  Sandie Shaw (n. Londres, 1947) ganhou o Festival Eurovisão da Canção de 1967... Ainda por cima teve a irreverência de cantar desçalça... talvez como protesto pela conmservadora BBC ter pensado seriamente em "tirar-lhe o microfone" depois descobrir que a rapariguina estava envolvida numa cena de adultério... Com 20 aninhos, imaginem, e aquelas hormonas todas a fervilhar!... Ficou no goto dos "pornográficos" rapazes de  Geba que deviam ter sensivelmente a mesma idade que ela ...



Já o Eduardo Nascimento, um pouco mais velho (, nascido em Angola, em 1944)  era um pacato rapaz lusitano, tal como o Eusébio... Tem hoje direito a entrada na Wikipédia, onde se diz que terá ido ao Festival Europeia da Canção por vontade expressa de Salazar, quando um "pretinho" dava jeito à máquina de propaganda do Estado Novo...

(...) Líder do conjunto angolano Os Rocks, participou num dos concursos de música ié-ié, realizados no Teatro Monumental, em Lisboa. Em 1967 perenizou-se com o tema O Vento Mudou, vencedor do Festival RTP da Canção

A música foi representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção, realizado em Viena, ficando em 12º lugar (ex-aequo com a Finlândia), entre dezassete países. 

Eduardo Nascimento foi o primeiro negro a pisar os palcos da Eurovisão. Dizia-se na altura que tinha sido Salazar quem quisera que Eduardo Nascimento representasse Portugal, para provar que não era racista. O tema viria a ser gravado pelos Delfins, por Adelaide Ferreira e pelos UHF. 

Com Os Rocks Nascimento gravou ainda dois EP (...). O cantor continuou a actuar com Os Rocks até 1969, altura em que voltou para Angola e abandonou a carreira musical. Posteriormente veio a exercer funções na TAP." (...)



Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  5 > O malografo cap art Manuel Carlos da Conceição Guimarães (1938-1967), morto na estrada Geba-Banjara, em 21 de agosto de 1967, com 29 anos...


Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  6 >  A preparar o "petisco"... Um cabrito ?



Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  7 >  Sem legenda...


Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  22 >  O A. Marques Lopes frente ao edifício que servia de comando e secretaria  (?) da companhia  (I)...


Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  21 >  O A. Marques Lopes frente ao edifício que servia de comando e secretaria  (?) da companhia (II)...



Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  15 >  Um tradicional tear... (não sei se fula, se mandinga).


Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  25 > Poilões


Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  26 > Vista (parcial) do arame farpado e do cavalo de frisa...



Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  29 >  Restos do cemitério cristão... Até tarde, Geba era conhecido pelo seu "presídio" e por uma povoação com forte presença de grumetes (ligados à navegação, eram guineenses cristianizados, assimilados e, em geral, colaborantes com as autoridades coloniais...)


Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967) > Foto nº  31 > Igreja de Geba... Deve ser de meados dos anos 30 do séc. XX, e está em estado de grande degradação. Há um projeto da ONG Viver100Fronteiras para a sua reconstrução.


Fotos: © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados [Edição: LG]



Fotos, sem legendas, do álbum de A. Marques Lopes, coronel inf, DFA, na situação de reforma, ex-alf mil da CART 1690 (Geba, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968). 

É, historicamente,  um dos nossos primeiros  cinco grã-tabanqueiros (ou "tertulianos"): foi o quarto a entrar, depois de mim, do Sousa de Castro, do Humberto Reis e antes do David Guimarães (**)...

(**) Último poste da série > 25 de setembro de 2014 > Guiné 53/74 - P13650: In Memoriam (195): Cap art Manuel Carlos da Conceição Guimarães (1938-1967), morto na estrada Geba-Banjara, região de Bafatá... As suas irmãs, Teresa e Ana descobrem agora, emocionadas, as referências sobre ele no nosso blogue e encontraram-se há dias, em Lisboa, com o A. Marques Lopes, seu amigo e companheiro de infortúnio

8 comentários:

Chapouto disse...

Grande voluntarioso ex combatente apenas contas as suas histórias reais dos lugares por onde passas-te como eu contei as minhas todas no mesmo sentido
Marques a 1ª foto não era o bar dos oficiais e sargentos em Geba? parece que a vossa companhia alterou aí alguma coisa.
Um grande abraço
Chapouto

Luís Graça disse...

Fernando, temos estas fotos "há séculos", mas sem legendas... O nosso querido Marques Lopes lá está no seu retiro nortenho, ele que é um alfacinah de gema... Pode ser que ouça o teu apelo e melhor as fotos... As legendas são minhas... Nunca vivi em Geba, só a atravessei "ó prá lá e ó pra cá"... Estive 15 dias em Sare Gana... LG

Luís Graça disse...

Sobre a igreja de Geba, encontrei a seguinte notícia, na "Revista Lusofina"

http://www.revistalusofonia.pt/geral/artigo.php?id=reconstruir_a_igreja_de_geba


Reconstruir a Igreja de Geba

A Igreja de Geba, na Guiné-Bissau, será reconstruída com o apoio da Viver 100 Fronteiras, organização não-governamental (ONG) de Fiães, que já enviou o material de construção para o início das obras, disse a presidente da entidade de ajuda humanitária

“Este é o projeto inicial da Viver 100 Fronteiras para 2015”, disse à Lusa Natália Rocha, a presidente e também fundadora da ONG.

“Em abril do ano passado, fizemos a reconstrução de uma escola primária que acolhe duas mil crianças em Geba, que fica no interior da Guiné-Bissau. Nós pretendemos continuar a dar apoio a escola”, referiu.

De acordo com Natália Rocha, “foi nesta altura que o bispo de Bafatá (Pedro Carlos Zilli) pediu-nos uma reunião para solicitar ajuda na reconstrução da igreja de Geba”.
“A igreja foi construída há 80 anos e tem-se degradado com o tempo, estando atualmente em muito mau estado”, referiu.

A presidente a ONG declarou que foram enviados dois contentores para a Guiné-Bissau, sendo que um deles contém material para o início da reconstrução da igreja e também ajuda humanitária, como roupas, calçados, material escolar, tudo para Geba.
O outro contentor também tem material que está a ser enviado para “dar continuidade aos apoios que a nossa organização tem oferecido ao país”.
“Os contentores saíram do porto de Leixões no dia 06 deste mês e devem chegar por volta do dia 23 de fevereiro. Eu já lá estarei, na Guiné-Bissau”, referiu Natália Rocha.
A presidente da ONG partiu para a Guiné-Bissau e permanecerá no país africano lusófono durante um mês e meio.

“Além destes dois contentores que iremos entregar, há um outro que está retido na alfândega em outubro, com material hospitalar para o combate/prevenção do Ébola”, sublinhou.

A Viver 100 Fronteiras está há seis anos a desenvolver um trabalho de ajuda humanitária na Guiné-Bissau.
Segundo Natália Rocha, em seis anos, “já foram enviados para a Guiné-Bissau 34 contentores com ajuda humanitária na área da saúde, da educação e ainda alimentação, roupas, brinquedos, entre outros itens”.

“Estes 34 contentores foram avaliados em 54 milhões de euros em doações para a Guiné-Bissau” sublinhou ainda.
Entre abril e maio, a ONG vai enviar contentores com ajuda humanitária para São Tomé e Príncipe, em parceria com o Colégio dos Carvalhos, e para Cabo Verde, especificamente para a Ilha do Fogo - gravemente atingida pela atividade de um vulcão -, com o auxílio dos Freis Capuchinhos.
Natália Rocha vai estar nos dois países para acompanhar todo o processo que envolve esta distribuição de ajuda humanitária.

“A Fundação do Benfica vai construir uma escola na Ilha do Fogo. A Viver 100 Fronteiras vai entregar o material para equipar a escola - que terá 600 alunos -, como secretárias, mesas, lousas, que serão doados pela câmara de Matosinhos.

Posteriormente, em junho, a ONG vai iniciar um novo projeto de ajuda humanitária, desta vez em Moçambique.
(Lusa, 17/2/2015)

Luís Graça disse...

Notícia da página do Facebook da ONG
Viver100Fronteiras, com sede em Fiães:


18/3/2015

Finalmente aberto o contentor da telha a doar à diocese de Bafata, para a reconstrução da igreja católica de Geba. Seguiu hoje o camião com a telha que irá ficar a responsabilidade do Bispo de Bafata, Dom Pedro Zilli. Espero que deste projecto entre a Viver 100 Fronteiras e a Diocese De Bafatá África, saia uma linda obra.

https://www.facebook.com/Viver100Fronteiras

Anónimo disse...

Vi o Marques Lopes provavelmente uma vez na Tabanca de Matosinhos, antes teria lido um poste dele no blogue que achei muito inteligente equilibrado politicamente e socialmente falando sobre a descolonização portuguesa.
Nunca o quis o questionar diretamente sobre esse e outros assuntos, embora acha-se que estaria muito habilitado a dar-me respostas muito fundamentadas, não só pelo talento que demonstra, mas também pelos cargos de responsabilidade militar e não sei se civis que ocupou.
Sempre gostei de respeitar o silêncio e a reserva dos meus semelhantes e dos meus camaradas.
Penso contudo que este longo silêncio do Marques, Lopes, ex-alferes, coronel aposentado ou intelectual bem pensante, empobrece um pouco esta Tabanca Grande que procura ser um espaço de compreensão e entendimento entre jovens de há mais de quarenta anos, hoje mais velhos que procuram fazer balanços positivos dos seus passados.
Tão jovens que nós eramos, nesses anos de sessenta e setenta, sempre amedrontadas, com as vozes de comando do regime salazarista, que começava em casa na voz do pai, continuava na voz da professora e ecoava duma forma aterradora na recruta ou na especialidade desses massacrados pelo poder que eramos NÓS.
Marques Lopes acho que fizeste um grande esforço para te aproximar destes milhares de milicianos mas acho que não conseguis-te despir a tua farda de coronel de todo e vestido à civil falar como um cidadão em liberdade sem preconceitos de obediência ou comando.
Nós milicianos, a maior parte, não estamos ainda à espera de fazer a paz com a hierarquia militar que me parece que apesar do 25 de Abril nunca foi feita, entre homens grandes civis e militares, sentados numa mesa redonda. Os oficiais superiores tais como os bispos e cardeais continuam a ser figuras distantes tais como os bispos ou os cardeais.
O poder seja qual for, económico, politico, militar, religioso, dá sempre uma mística e uma aura especial aos que gravitam nessas altas esferas.
A instituição militar tal como a instituição religiosa (da Igreja Católica) serão as instituições há muitos séculos instaladas em Portugal. No imaginário e na mentalidade das gentes deixaram marcas de ajuda, proteção, mas também de autoritarismo e intolerância.
Uns como outros continuam a cultivar o segredo e a distância para defender um certo recato e autoritarismo.
Podia continuar, mas tenho muito respeito por ti, continuo a admirar-te.

Um grande abraço

Francisco Baptista

José Botelho Colaço disse...

É bem possível que o silêncio do Marques Lopes tenha um pouco a ver com algumas tentativas de assassinato político sobre os seus textos de opinião.
O que se lamenta pois o Marques Lopes é um grande conhecedor e estudioso da história da guerra da Guiné e da sua vida actual.
Um abraço José Botelho Colaço C.Caç. 557 1963/65.

Anónimo disse...


Fernando Chapouto
28 abril 2015 15:13

Companheiro amigo tens toda a razão quanto às legendas.

Quanto à igreja de Geba, segundo consta na história da minha companhia
foi inaugurada em 18SET66, nesta altura o meu pelotão estava em Camamudo e nao estive presente
mas passei muitas vezes e o Marques Lopes já falou neste caso

Um abraço
F Chapouto

Luís Graça disse...

Obrigado, Fernando, se a a igreja é de 1966, então não tem 80 anos, mas sim meio século... O Marques Lopes já escreveu, há muito tempo, sobre este assunto... Vou ver onde e quando... Ab. Luis