sábado, 2 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14555: Blogoterapia (267): Num Ápice, fico Anestesiado, a Mente o Obriga (Mário Vitorino Gaspar)

1. Em mensagem do dia 26 de Abril de 2015, o nosso camarada Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), enviou-nos um texto de sua autoria como o título Num Ápice, fico Anestesiado, a Mente o Obriga.


“Eu me retiro com a consciência tranquila,
sentindo que cumpri meu dever,
de alguma forma,
com meu povo e meu país”.

Nelson Mandela


Foto: © Alexandre Miguel Marques Gaspar - Filho do Mário Gaspar


Num Ápice, fico Anestesiado, a Mente o Obriga
Mário Vitorino Gaspar

Comando… uma patrulha; segurança ou emboscada, os sentidos multiplicam-se.
Atento ao mínimo pormenor. A distância diminui. Pequena anã.
Os olhos ampliam as imagens. A pica beija o chão, meigamente bate. Se somos agressivos, rebenta. O coração cadenciado, melhor relógio do mundo. Depressa, não! A pica presa, como a vara do pastor.

Surge o inimigo, arde-me o fogo. O coração é mero sino manejado por um sacristão aprendiz. Num ápice, fico anestesiado? Mente… A mente desperta, som de trompete. Cerebral. Controlo!

Na mão enterro o medo. Invade a nudez do suco que morde o meu ser. Tem calma! Vislumbro, e logo de seguida… Oco o tempo sábio, trémulo de hora! Branco, tom pintado de nitidez. Carrego o corpo ser e saber. Crispa fogo… Coração, relógio solto de ponteiros das horas. Dentada no coração que chora.
Olho gigante cresce, visão global:
Mortos? Feridos? Evacuações, o radiotelegrafista tem de informar:
– Nenhum morto! Sete a evacuar!
– Disparo certeiro… E verdade verde pintada esperança.

Mas qual a memória, que matemática e fotografia? Os olhos munidos de lentes. Maquinetas fotográficas, certa memória…. Pausa… A liberdade só, regressa voando e mora dentro de mim.
Transformo-me em ave que voa na pauta.
Música nascida na pureza de musicais notas libertas:
Num Ápice, a anestesia morta, a mente sorri.

Evacuar. A morte espreita, numa nesga de entre o matagal.
– Não vejo! – Vomita o meu Soldado.

O helicóptero cai na terra perdida. A enfermeira florido sorriso:
– Espreite o céu que ri, rios de água nascente. Vê?

Olho sangue vermelho. Ferida espetada. De aço…Responde o herói Soldado:
– Tão linda que é! Flor… E branca neve algodão.
– Sete a evacuar…

O helicóptero esconde-se nas nuvens. Esvoaça… Esperança.

Mário Vitorino Gaspar
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14351: Blogoterapia (266): O Senhor M. Proust escreveu milhares de páginas "À la recherche du temps perdu"... Será que nós estamos escrevendo milhares de postes, à procura da juventude "perdida" na guerra? (Vasco Pires, ex-alf mil art. cmdt do 23º Pel Art. Gadamael, 1970/72)

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