quinta-feira, 30 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14546: Estórias avulsas (81): Em cuecas debaixo de fogo (Carlos Alberto Cruz)

1. No seguimento de uma troca de mensagens, recebemos, no dia 24 de Abril de 2015, esta pequena estória do nosso camarada Carlos Alberto Cruz (ex-Fur Mil da CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió e Cachil, 1964/66):

Meu caríssimo Carlos Vinhal, 
Uma vez que me foi concedida licença para narrar a estória que intitulei de "EM CUECAS DEBAIXO DE FOGO" então aí vai ela:

Talvez tenha sido na primeira vez que saí para o mato comandando os homens da minha secção (já não me recordo bem)... mas se não foi na primeira foi numa das primeiras.

Saímos do aquartelamento de Catió na direcção de Cufar, pela estrada de terra batida que ligava as duas localidades.
Depois de passarmos a tabanca dos fulas (onde pontificava o nosso João Bacar Djaló), seguimos estrada fora quando fomos emboscados pelos homens do PAIGC que, instalados no cimo das palmeiras nos metralhavam de cima para baixo.

Como facilmente se adivinha tratámos de nos atirar para o chão e eu, concretamente para um pequeno morro de baga-baga que apanhei à minha direita.
Tratei de orientar os meus soldados para se protegerem o melhor possível e julguei vislumbrar um vulto no cimo de uma palmeira. Depois de me certificar que o meu pessoal estava bem protegido fiz o que mais gostava de fazer naquela situação: encostei a G3 ao tronco de uma palmeira e fiz pontaria ao vulto que me parecia disparar sobre nós com a temível PPSH (a "costureirinha" como lhe chamávamos - 75 tiros de uma assentada).

Entretanto comecei por ir sentindo uma comichão danada na zona do pescoço e quando passava os dedos no mesmo para me coçar só trazia cabeças de formigas agarradas aos dedos. Só então me dei conta de estar literalmente inundado de formigas que me ferravam forte e feio.(*)
Não tive outra alternativa que não fosse despir-me, começando pelo casaco camuflado e acabando por ficar em cuecas, perante a risota incontida dos homens da minha secção que viam o seu comandante pela primeira vez em trajes menores.

Um bagabaga nas imediações de Bambadinca. No topo vê-se o Humberto Reis (ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 12
Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 26 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7342: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (3): Formiga baga-baga (Rui Silva)

Último poste da série de 5 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13695: Estórias avulsas (80): Hojé, há pássaros! (João Rebola)

1 comentário:

Hélder Valério disse...

Com que então em cuecas!

Pois é, não foi só os elementos humanos do IN que se teve que enfrentar, os elementos da Natureza também interferiram bastante.... o macaréu, os macacos, as terríveis abelhas, as formigas, as baratas, as cobras, etc., foi toda a necessidade de enfrentar condições para as quais não se estava preparada e, aqui para nós, também não seria necessário se....

Mas se com o teu gesto salvaste a pele e ao mesmo tempo contribuíste para a boa disposição do teu pessoal, só podes estar contente e fazeres como aqui fizeste: recordar com galhardia e um sorriso.

Hélder S.