1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 13 de Abril de 2015.
Vejo-os ao sol na parada do quartel, sentados, vestidos com a
farda n.º 1, muitos com divisas de oficiais superiores e alguns, menos,
com estrelas de generais. Alguns com boinas, a maior parte com bonés
de pala, todos com os sapatos bem engraxados e com a farda bem lavada
e engomada. São alguns dos responsáveis, ou foram, pela defesa da
Nação, das suas fronteiras, dos seus órgãos e dos símbolos que a
representam.
Como guardiões de entidades tão significativas, têm que demonstrar
aos cidadãos firmeza, aprumo e verticalidade. São os nossos generais,
brigadeiros, coronéis, tenentes-coronéis e majores.
Por serem homens organizados e fardados, por terem comandado tantos
portugueses, eles e outros anteriores, carregam aos ombros, nas suas
estrelas e divisas, toda a longa tradição militar da nação que começa logo com a sua fundação.
São homens obedientes e autoritários, a
instrução militar que tiveram ensinou-os a serem obedientes aos
superiores e autoritários para com os subordinados. A disciplina
militar não admite discussões ou conciliação, a razão está sempre do
lado do chefe. Uma ordem não permite adiamentos, não se pode parar a
batalha para discutir a eficácia das ordens do comandante.
A guerra,
essa desordem da paz nacional ou internacional, tem que ser
combatida com dureza para com o inimigo e para com os subordinados
que devem cumprir todas as ordens mesmo quando as achem desajustadas.
Causa algum temor e reverência, à comunidade de cidadãos, a
contemplação de tantos comandantes militares, pelo seu ar severo e
autoritário. A par destes nossos guerreiros, a nossa Pátria milenar,
poderá evocar outros homens, com fardas, os padres, frades e bispos
no campo da educação, e da formação espiritual.
A grande História tem-nos ensinado, que tanto uns como outros
podem ser muito bons e úteis à nação quando não extravasam as funções
que lhe são atribuídas e podem ser muito maléficos quando saem desses
limites, pois têm uma força material e espiritual terrível.
A convivência demasiado próxima e dependente entre qualquer
destas instituições e os vários regimes, nunca beneficiou muito o
regime democrático.
Neste plano há apenas um militar sem farda, de bengala, que parece
dormir ou ver uma mensagem no telemóvel, enfim parece que desertou da
ordem geral.
Há a parada dos soldados, impecáveis no aprumo e nas suas fardas
camufladas, que tanto fascínio provocavam nos anos sessenta e
setenta entre as jovens desse tempo, quando marchavam ou corriam
nas nossas vilas e cidades que elas não conseguiam "agarrar", tão
jovens pois eles tinham missões em África durante dois anos ou mais
que os iam impedir de gozar as suas companhias. Era o tempo de adiar
o amor, o futuro, a vida .
Por outro lado os graduados, sobretudo os oficiais da Academia, já
com outro estatuto nesse tempo pela elegância e postura com que se
distinguiam pelas suas fardas e posições de comando, povoavam os
sonhos de muitas jovens da nossa burguesia.
Noutro plano vejo os paisanos, ex-militares como eu, rapazes do meu
tempo, quase todos mais velhos do que os militares, uns com blusões,
outros com casaco e gravata, com os braços cruzados ou com as mãos
cruzadas pelos dedos, alguns mais aprumados, outros mais descontraídos.
Atendendo à pose destes sexagenários e septuagenários, talvez da
parte dos militares houvesse algum oficial mais diligente com vontade
de dar uma hora de ordem unida a estes paisanos um pouco desalinhados.
Sem atender a legendas vejo depois os "milicianos" a serem
agraciados pelos militares com medalhas que não serão de ouro,
talvez cobre ou outra liga em nome da Pátria e da Instituição
Militar que está sempre disponível a agraciar todos os paisanos que a
respeitem e que colaboram com ela na defesa da Pátria. Vejo-os na
parada, já em conjunto, com as suas medalhas, uns alinhados, outros
nem tanto, como filhos fiéis que sempre procuraram um reconhecimento e
um lugar na pátria-mãe, pelos sacrifícios que fizeram por ela.
O local próprio para impor medalhas militares são os quartéis, sendo
os mais indicados para essa função, os oficiais superiores, tal como
os sacramentos religiosos, devem ser ministrados pelos padres nas
igrejas. Instituição militar que confraternizando bem com a Igreja,
outra Instituição milenar, mas que em períodos críticos ou de
mudanças de regime, por ordens dos vencedores, acabou por ocupar
conventos que depois foram transformados em quartéis.
Monte Real, 14 de Junho de 2014 > IX Encontro da Tabanca Grande > Fátima Anjos, Francisco Baptista e Hélder V. Sousa.
Monte Real tem um Palace Hotel, uma construção
nobre, palaciana, provavelmente do início do século XX, até adequada
pela sua grandiosidade a grandes cerimónias e rituais, mas no X
Encontro Nacional da Tabanca Grande não haverá cerimónias com
fardas, bandeiras, ou medalhas que distingam uns ou outros.
A César o que é de César, a Deus o que é de Deus.
Que o Encontro de Monte Real continue em boa confraternização,
sem pompa nem circunstância, com o mesmo espírito democrático e de
camaradagem aberta a todos, com que foi criada a Tabanca Grande.
Um
bom convívio, um abraço de amizade e parabéns ao Luís Graça, ao Carlos
Vinhal e aos outros organizadores, pelo pleno conseguido com as
duzentas inscrições.
Um abraço a todos os camaradas
Francisco Baptista
____________
Nota do editor
Último poste da série de 25 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14526: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de abril de 2015 (18): Envio dois poemas que fiz na noite em que não dormi (Mário Vitorino Gaspar)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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2 comentários:
Caros camaradas
Certamente que este 'post' do Francisco Baptista se destinava a vaticinar o que ele projectava vir a ser o nosso X Encontro.
Circunstâncias várias levam-no a chegar ao nosso conhecimento uma semana depois.
Mas não é que tem toda a oportunidade?
Na realidade foi assim mesmo (assim tem sido e certamente que assim será) que foi vivido aquele dia e aquele acontecimento.
O espírito de quem tem possibilidade de ir lá é, à partida, movido pela positividade. Quem não gosta, não vai. Haverá quem goste e queira ir, mas por circunstâncias várias (saúde, outros compromissos, dificuldades de transporte, até questões económicas, etc) não tem possibilidade de estar presente. Mas o seu pensamento é positivo.
Há diferenças de opinião, de pontos de vista, sobre este ou aquele assunto? Claro! E ainda bem! Torna-se uma 'coisa' mais viva!
Portanto, o que o Francisco 'vislumbrou' quanto ao decorrer do nosso Encontro, "bateu certo".
Abraço
Hélder S.
Francisco Baptista, esta de... 'não haverá cerimónias com fardas, bandeiras, ou medalhas que distingam uns dos outros', é muito bem arranjada.
Temos de continuar a nossa vida com ideias, pensamentos, ponto de vista e anos nas costas.
Abraço
Valdemar Queiroz
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