quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17765: (In)citações (111): Lembrando Setembro, o mês comemorável da Guiné, a sua Libertação, que intrujou todo o mundo e todo o mundo se deixou intrujar e os seus improváveis heróis (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703)

Nuno Tristão
Com a devida vénia a AdBissau.Org

1. Em mensagem datada de 13 de Setembro de 2017, o nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, BissauCufar e Buruntuma, 1964/66) enviou-nos este artigo de opinião para publicação:


Lembrando Setembro, o mês comemorável da Guiné, a sua Libertação, que intrujou todo o mundo e todo o mundo se deixou intrujar e os seus improváveis heróis

Por Manuel Luís Lomba

A minha memória da Guerra da Guiné anda associada à lembrança das suas “mentiras revolucionárias” e das duas utopias, responsáveis directas e indirectas, da imolação dos seus milhares de vítimas - homens, mulheres e crianças: a de que a Guiné continuaria a ser dos portugueses, de um lado; e a de que os guineenses empreendiam a sua libertação, do outro. Um chamamento do além, à evocação se “valeu a pena?” ou ao piedoso respeito pelos que derramaram o seu sangue por ela?

A Guerra da Libertação da Guiné foi o meu (nosso) passado de mocidade, o nosso futuro próximo é estarmos todos mortos e, neste mês de Setembro, efeméride da Declaração unilateral da independência e do seu reconhecimento por Portugal, seja-me permitido evocar alguns dos seus acontecimentos e evidências.

Nuno Tristão chegado à Guiné, diz o cronista que na missão da “busca certa de informação e sabedoria daquelas partes” e foi morto pelos Mandingas pré-cabralinos, em Setembro; o reconhecimento da posse exclusiva da Guiné, pelos Reis Católicos da Espanha e pelo Papa de Roma, foi em Setembro; Amílcar Cabral nasceu em Setembro; o PAIGC foi fundado em Setembro; Amílcar Cabral fez a parceria do PAIGC com a União Soviética, em Setembro; as acções de sabotagem pelo PAIGC, adventícias da guerra da Guiné, tiveram início em Setembro; a declaração unilateral da sua independência, “nas colinas do Boé”, foi em Setembro; a demissão do general Spínola, que levantou e reforçou o moral combativo ao PAIGC, foi em Setembro; a fundação do MFA, a substância activa do PAIGC replicada nas Forças Armadas Portuguesas, foi na Guiné e em Setembro; a formação da Comissão Coordenadora do MFA, o mais eficiente “comité libertador” da Guiné, foi em Setembro; e o reconhecimento da independência da Guiné por Portugal, foi em Setembro; etc.

O apoio da Oposição sistemática ao regime do Estado Novo, o fenómeno eleitoral Humberto Delgado - a Guiné votou-o a PR - e aquele “massacre” no cais do Pidjiquiti, estereótipo das consequências das greves musculadas, foram o lastro para Amílcar Cabral começar a Guerra da Guiné. Mal começara o aliciamento de combatentes e já os apoios morais e materiais de todo o mundo lhe abundavam. Grande era o efeito multiplicador das adesões, com a sua eficiência subversiva, no desempenho de alto funcionário do governo colonial e pelo poder da mensagem que dirigia aos contactados, de que transformaria a Guiné, de pobre e atrasada colónia portuguesa, na Suíça da África; e, a seu exemplo, o seu núcleo duro de combatentes foi formado por soldados e graduados da guarnição militar da Guiné, no activo e na disponibilidade.

Levou com ele os primeiros 30 a tirocinar na China, devolvidos com os cérebros lavados e como operacionais preparados para a guerra de guerrilhas. E foi essa malta, iniciada na arte militar nos quartéis da guarnição da Guiné que, ao longo de 11 anos, saberá comer as papas na cabeça (falta-me expressão mais erudita) aos militares formada nos quartéis, nas Escolas Práticas, nas Academias e nos Altos Estudos Militares das FA de Portugal!
Para desconforto dos tabus do lado deles e das más-línguas do nosso lado, segundo as quais a longevidade da Guerra da Guiné aconteceu por interesses carreiristas e pelos estipêndios da quase generalidade dos militares profissionais, não me permito a omitir que os principais comandantes do PAIGC não só eram bem pagos (em escudos, dólares ou coroas suecas?) e bem prendados, relógios de ouro Rolex inclusive, mas também, sem qualquer preparação, se alcandoraram aos altos cargos do novel Estado da Guiné-Bissau!
Isso pela unidade e luta ou a génese da corrupção, responsável pelo falhanço da Guiné-Bissau como Estado?

A partir de 1961, os dirigentes de Lisboa viraram-se para Angola “é nossa” e o PAIGC foi-se instituindo e instalando no arquipélago do Como, formado por três ilhas, separadas entre si apenas na maré alta, onde foi crescendo, em subversão, orgânica e como base de guerra, posto em sossego, pela cumplicidade da autoridade colonial de Catió, desempenhada por um militante. De feudo do colono Manuel Pinho Brandão e por bravata de Nino Vieira, aquele arquipélago passou a República Independente do Como, com a capital na tabanca de Cachil, a rádio Brazzaville deu a notícia e a PIDE de Angola alertou as autoridades de Bissau e Lisboa. Naquele tempo, o efectivo paigcista naquele arquipélago seria inferior a 400 combatentes e o efectivo da guarnição militar da Guiné era de cerca de 1800 homens, metropolitanos e naturais, distribuídos pelos três ramos das Forças Armadas.

Tendo partido da base-mãe de Koundara (para não contrariar Skou Touré), 30 km além fronteira, em Janeiro de 1963, um grupo de guerreiros, comandado por um puto guineense de 20 anos, que atendia pelo nome de Arafan Mané, veio fazer o baptismo de fogo, dele e do PAIGC, numa tentativa falhada de assalto ao quartel militar de Tite. O Estado-Maior de Bissau convenceu-se de que as três ilhas eram a mãe dessa guerra, a aviação de Bissalanca passou a bombardear regularmente as copas das suas árvores e um bombardeiro T6, abalroado pela sua parelha, fez uma aterragem de emergência.
A Guerra da Guiné entrava nos seus primórdios e já Amílcar Cabral se antecipava ao seu evoluir e desfecho, a percorrer as arenas internacionais e as chancelarias de Estados, numa diplomacia de propaganda e triunfalista, exibindo o mapa com 2/3 da Guiné libertada, a autoridade colonial circunscrita a Bissau e Safim, provas de aviões abatidos e um piloto de combate aprisionado.

Arvorado em líder dum Partido-armado e de uma guerra política, de efeito dirigido à Comunidade internacional, era mister a Amílcar Cabral formalizá-lo em assembleia constitucional; e, em finais de Dezembro de 1963, marcou o I Congresso do PAIGC para a tabanca de Cassacá, implantada numa densa mata, cercada de bolanhas, quais fossos naturais de fortaleza inacessível, na “área libertada" da ilha do Como, que o seu caudilho dava por inexpugnável.
Nessa mesma altura e dispondo do reforço de meios, vindos da Metrópole e de Angola, o Comandante-Chefe das FA da Guiné, por ordem directa de Salazar, emitiu a directiva da organização e da manobra de uma operação de grande envergadura sobre aquele arquipélago, com a missão de liquidar a situação e a sua causa. Por ironia do destino, os dois eventos decorrerão paralelamente e em proximidade, que só a realidade geográfica da Guiné poderia permitir, primeiro por casualidade e, depois, pela tradicional resiliência cabralina.

Eis dois comandantes-chefes e a sua circunstância – ambos antagónicos ao ditador, ambos favoráveis à negociação e não à guerra: o eng.º agrónomo Amílcar Cabral, ex-alferes miliciano do Exército Português, que havia deixado o emprego para se tirocinar na guerra subversiva na Academia Militar de Pequim, arvorado em líder da guerra independentista da sua terra natal, sustentado pelo ordenado da sua mulher, a eng.ª flaviense Maria Helena Ataíde; e o brigadeiro Louro de Sousa, oficial-general do Exército Português e Comandante-Chefe das FA da Guiné.

Então, em princípios de Janeiro de 1964, o arquipélago do Como foi o objectivo de uma invasão anfíbia, de metodologia semelhança à invasão da Normandia, com o código de “Operação Tridente”, envolvendo o efectivo de cerca de 1200 homens e a panóplia do armamento dos três ramos das FA – Exército, Marinha e Força Aérea. Com os seus escrúpulos de poupar as populações a sobreporem-se ao efeito da surpresa, o Comandante-Chefe mandou que a invasão fosse precedida de dois aviões Dornier de reconhecimento a lançar panfletos sobre o arquipélago, a avisar a metralha que lhes viria da terra, mar e ar.
Assim prevenidos, os cerca de 400 guerreiros nacionalistas do arquipélago do Como, encabeçados por três comandantes, de que apenas sobreviverá Agostinho de Sá, supervisionados pelo felino Nino Viera, estavam para as suas populações “como o peixe para a água”, prepararam-se para festa da recepção. Acontecerá uma metralhada infernal, combates renhidos, sem quartel, e dois aviões de combates derrubados por antiaéreas de grande calibre. Muita bravura e muitos sacrifícios humanos - a bravura mais da parte dos guerrilheiros, os muitos sacrifícios mais da parte da tropa, por maioria de razão.

Na sua consciência de que a fortaleza do Como não passava de quimera revolucionária, a tropa ocupara Cachil e circulava por Cassacá, Amílcar Cabral protelou o congresso, em data a indicar apenas na antevéspera. Atravessou a Guiné com o aludido Arafan Mané, ora seu guarda-costas e manteve a face, confirmando o congresso em Cassacá, não a do Como, mas a do Cubisseco, na península do Cantanhês e mandou Nino Vieira desmobilizar a resistência no Como; e, durante 4 dias, de 13 a 17 de Fevereiro, numa reunião, mais de quadros político-militares que assembleia de massas, estabeleceu orgânicas, ditou directivas e lavrou sentenças de morte. E o PAIGC não deixará de cumprir uma dessas directivas – a execução sumaríssima dos guineenses com ligações à tropa, caídos nas suas garras, assim como dos oposicionistas ou dos que desalinhassem do PAIGC.

Guiné > Região de Tombali > Carta de Cacine (1960) > Escala 1/50.000 > Posição relativa de Cassacá, a 15 km a sul de Cacine, região também como conhecida como Quitafine.

A resistência do Como feneceu, os guerrilheiros sobrevivos esconderam o armamento pesado e dispersaram-se pelo Cantanhês e Cufar, coisa que a guerrilha sabia fazer e a tropa não (veja-se o acontecido em Tancos…) e, ao fim de 71 dias, as forças invasoras retiraram para Bissau. De tão grandiosa, a “Operação Tridente” não passará de solução de continuidade: a Guerra da Guiné continuou em crescimento, em efectivos, armamento e intensidade.

Passados 10 anos, o então Major Otelo Saraiva de Carvalho e o então Capitão Vasco Lourenço, “rapazes” do General Spínola na Guerra da Guiné, descobriram a sua vocação libertadora, naquela madrugada em que se entreajudavam a mudar uma roda do carro em que regressavam de Santarém, qual sua “estrada de Damasco”, de um churrasco desabafo-conspirativo na casa do Capitão Salgueiro Maia, outro “rapaz” da mesma guerra, que aquele general havia injustamente sacrificado e à sua companhia, na batalha de Guidaje, no auge da crise dos “3 G´s” - o contexto gerador da formação do MFA. O Major Otelo receberá a unção dos seus pares, para planear e desencadear a “Operação Mudança de Regime”; e o seu sucesso culminante foi a conclusão da “Operação Tridente”, pela resolução da problemática da Guiné. Foi no dia 25 de Abril de 1974, o Terreiro do Paço, as suas acessibilidades e o Largo Carmo foram os seus palcos principais; parecerá heresia, mas o seu desfecho vitorioso poderá ser creditado ao discernimento e à coragem moral do Coronel Romeiras Júnior, que fora o 2.º Comandante Operacional da “Operação Tridente”, então comandante do RC 7, posicionado no campo contrário. Qual teria sido o desfecho da “Operação Mudança de Regime” se ele, desobedecendo abertamente ao Brigadeiro Junqueira, não tivesse usado os seus galões para impedir que os poderosos canhões dos seus tanques M44 Paton, vindos da Calçada da Ajuda, dizimassem os conjurados Tenente Assunção, Major Jaime Neves, Capitão Salgueiro Maia, os seus subordinados e as suas Chaimite ocupantes do Terreiro do Paço, desprovidas de armamento para se bater com eles.

Em Setembro de 1974, após o reconhecimento por Portugal da independência da Guiné, consumando a sua proclamação pelo PAIGC, no inóspito lugarejo de Lugajole, deu-se a emergência da substância paigcista do MFA – a sua deriva para um PREC (Processo Revolucionário em Curso), réplica do terceiro-mundismo ou de república das bananas, tentativa para que o “Fim do Regime” fizesse um caminho no sentido único de outra dinastia ditatorial, um delírio indigno e que indignou o país: além da sua honrosa história, os portugueses eram de maior idade desde 1128 e Portugal era o segundo país mais antigo da Europa e o terceiro mais antigo do Mundo!
No contexto desse paigcismo, os subsistentes da “Operação Tridente”, actores do dia 25 de Abril e do seu dia seguinte – Brigadeiro Louro de Sousa, Comodoro Paulo Costa Santos, Coronel Fernando Cavaleiro, etc. foram metidos na cadeia; e outros, como os Comandantes Alpoim Calvão, Benjamim Abreu, etc. passaram a foragidos.
Não será politicamente correcto; mas eles foram uns heróis, improváveis, da independência da Guiné.
E assim começou o futuro da República da Guiné-Bissau.
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17666: (In)citações (110): À procura de… Luís Vassalo Rosa, arquiteto e comandante da CART 1661 (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17764: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (47): A "mindjer grandi" Maria da Graça de Pina Monteiro, nascida em 1900, e que viveu em Bissau e em Bafatá... Notícias de Edmond Malaval, empregado da "Maison Garnier", em Bafatá, c. 1918, e de sua filha Ana Malaval (Ludmila Ferreira, Cabo Verde)


Foto nº 1 > A "Maison Garnier", Bafatá, c. 1918. O veículo automóvel estacionado à porta parace-nos ser um Ford T!... Um dos primeiros, seguramente, a circular pela Guiné!...



Foto nº 2  >  Edmond Etienne Malaval,  empregado da "Maison Garnier", Bafatá, c. 1918



Foto nº 3 > Anna Malaval, nascida em 1918, em Bafatá, filha de Edmond Etienne Malaval e de Maria da Graça de Pina Monteiro, ... Foto do passaporte,  Dacar, 1949.



Foto nº 4 > África Ocidental Francesa > Colónia do Senegal > Dacar, 20 de outubro de 1949 > Autorização legal de residência, passada a Anna Gracia (sic) Malaval, de nacionalidade portuguesa e religião católica,  nascida em Bafatá. Guiné Portuguesa, em 8/4/1918, filha de Edmond Etienne Malaval e de Maria da Graça Pina Monteiro.. Profissão: costureira: estado civil: celibatária, sem filhos... Morada em Dacar: Institution Notre Dame [que ainda hoje existe como colégio, na avenue Carde, 21]. Apresentou os seguintes documentos legais: passaporte,  certificado de permanência [séjour?]; atestado de nascimento;  registo criminal; atestado médico...






Foto nº 5 > Passaporte português de Ana Gracia  Malaval, emitido pelo Consulado Português de Dacar,  20/10/1949, e válido por dois anos (até 19/10/1051)... Na profissão, aparece como estudante.


Fotos e legendas: © Ludmila Ferreira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem de Ludmila A. Ferreira, nossa leitora que vive em Cabo Verde (*), com data de 12 do corrente:

Bom dia

Meus Caros,

O filho da Anna Malaval (a única filha que a Maria teve com o francês em Bafatá) me enviou os documentos da mãe,  juntamente com umas fotos do lugar onde era a Maison Garnier (comércio e exportação de castanha de caju) e o pai da Anna,  o sr. Edmond Malaval.
A "mindjer grandi" Maria da Graça
 Pina Monteiro (n. 1900),
mãe de Ana Gracia Malaval,
 nascida em 1918, em Bafatá

O passaporte foi feito em Dakar porque a Anna foi levada para Dakar.

O filho da Anna pergunta se a Torre de Tombo em Lisboa poderia ter o registo de nascimento da mãe, porque no registo civil de Bissau um amigo tinha procurado em 2010 mas não encontrou.

O  documento em amarelo [foto nº 4] mostra que,  apesar da Anna ter nascido em Bafatá em 1918, ela voltou a se registar em Bissau em 1949 (ver acima o documento). Mas também não se encontra esse registo em Bissau.

Agradecia qualquer informação sobre o destino que durante a época colonial foi dado aos documentos de registo de nascimento.

Ontem fiz uma pesquisa na Net e consegui encontrar o livro do sr. António Estácio, "Nha Bijagó". Nesse livro fazem referência ao Emílio Martins, mas pouca coisa, apenas que ele tocava bem. Mas hoje vou continuar a procura.

Obrigado, Ludmila Ferreira


2. Comentário do editor:
Senegal, Dakar: "Institution Notre Dame"... Foto da página do Facebook


Ludmila: aqui tem o novo poste...

A Ana Malaval foi estudar (ou trabalhar ?) para Dacar, para um colégio religioso, católico, que ainda hoje existe (vd. página do facebook: Institution Notre Dame)... Teve que tirar o passaporte e outros documentos legais (como a certidão de nascimento)... 

Repare, a Ana vai para Dakar com 31 anos, não sabemos se para estudar ou trabalhar... Mais provavelmente, para trabalhar, dada a idade... Na autorização legal de residência tem como profissão "couturière" (costureira)... No passaporte, emitido em 20/10/1949, aparece como "estudante". Visita a mãe, em Bissau, em 1948, o que faz sentido: em 2/6/1948 foi-lhe passada, em Bissau, a certidão de nascimento nº 64... Terá vivido o resto da vida (e casado) em Dakar ? Em 1949, é solteira e não tem filhos... Veja se consegue saber  a verdadeira razão da sua ida  para Dakar, para uma instituição religiosa...O pai terá morrido ?...

Boa sorte para as suas e nossas pesquisas...
Até à próxima. Mantenhas (como se diz na Guiné)... LG

PS - Os nossos camaradas Leopoldo Correia e António Estácio ainda não me disseram nada... Confirme a data e o local da foto da "Maison Garnier" (Bafatá, 1918 ?)...

Quanto a pesquisas na Torre do Tombo, de momento não temos tempo para lá ir...Mas já tenho consultado os arquivos... Quando lá voltar, pergunto...

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Nota do editor:

(*) Último poste da série >  11 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17755: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (46): A "mindjer grandi" Maria da Graça de Pina Monteiro, nascida em 1900, e que viveu em Bissau e em Bafatá (Ludmila Ferreira, Cabo Verde)

[...] Um casal, Emílio Martins e Eugénia Hopffer Martins, seriam parentes da Maria da Graça Pina Monteiro.

O informante disse que da última vez que a filha Anna Malaval foi ver a mãe na Guiné, isso em 1948, ela teria ficado na casa dos tios (os Martins) e estes moravam frente do porto de Bissau. A Maria também morava nessa mesma zona. [...]

Vd. também poste de 7 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17739: Em busca de... (278): informação sobre uma senhora cabo-verdiana, Maria da Graça de Pina Monteiro, nascida em 1900, e que teve 3 filhas: (i) Ana Gracia Malaval, nascida em 1918, em Bafatá, de uma união com o sr. Edmond Malaval; e (ii) Judite e Linda Vieira, em Bissau, de uma outra união com um sr. português ou cabo-verdiano, de apelido Vieira (Ludmila A. Ferreira)

Guiné 61/74 - P17763: Estórias do Juvenal Amado (57): Lisboa aqui tão perto... da "Ginjinha" do Rossio ao fórum Tivoli, onde fui assistir ao lançamento do novo livro do José Saúde, "AVC - Recuperação do guerreiro da liberdade"



Foto nº 1 > Lisboa > Avenida da Liberdade > Fórum Tivoli nº 180, 1º piso > Chiado Café Concerto > 10 de setembro, domingo, 17h30 / 19h00 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde, "AVC - A recuperação do guierreiro da liberdade" (*) > Na mesa, o autor, a representante da Editora e o nosso apresentador, o nosso editor Luís Graça.


Foto nº 2 >  Lisboa > "A Ginjinha" > Largo de São Domingos, 8, Rossio > Uma verdadeira "instituição" (1)..


Foto nº 3 > Lisboa > "A Ginjinha" > Largo de São Domingos, 8, Rossio > Uma verdadeira "instituição" (2)...


Foto nº 4  >  Lisboa > Largo de São Domingos > Igreja de São Domingos > O largo é o local de encontro das mais "desvairadas" gentes de Lisboa, nomeadamente estrangeiros, e oriundos da África Lusófona...



Foto nº 5  > Lisboa > Av Liberdade > "Lisboa é uma festa"...


Fotos (e legendas) : ©  Juvenal Amado (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem comnplementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Lisboa Aqui Tão Perto
Juvenal Amado e José Saúde, Lisboa, 10/9/2019.
Foto de Luís Graça


por Juvenal Amado (**)


ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74; autor de "A Tropa Vai Fazer de Ti um Himem....Guiné 1972/74" (Lisboa, Chiado Editora, 2016); natural de Alcobaça,  vive hoje na Amadora]






Domingo,  dia 10 de setembro,  desloquei-me à avenida da Liberdade, em Lisboa,  para dar um abraço ao José Saúde e assistir ao lançamento do seu novo livro.

Foi bem cedo e assim aproveitei para andar por ali e acabei por chegar ao Rossio . Os turistas estão por todo o lado, em grupos aos pares e até sozinhos com as suas roupas leves, muitos com filhos às costas ou ao peito, param pelas esplanadas e até ao redor doas estátuas.

Jovens sentam-se despreocupadamente, felizes digo eu, que no nosso tempo não tivemos condições para ir por essa Europa fora de mochila ou comboio, pelas razões que sabemos.

Na Ginjinha tive de me esforçar para chegar ao balcão e recordar o momento em que o meu pai me lá levou. Não me lembro quanto custava, mas 1,40 € é agora o preço da degustação. Está claro que,  ao bebê-la,  veio-me à lembrança o sabor da melhor ginja do mundo e arredores, que é a do David Pinto, de Alcobaça, até há pouco tempo senão ainda, feita no segredo dos deuses pelo João Serafim, ainda primo direito do meu sogro. Mas é assim primos, primos, segredos da famosa ginja à parte.

Mas deixando Alcobaça, enquanto bebericava o licor deixando os dois pequenos frutos para o fim, apreciei o que se passava no largo S. Domingos, com os grupos de mulheres e homens grandes em conversa ou a venderem cola e pequenos sacos de mancarra e castanha de cajú. Usam as mesmas roupas, sinal que devem manter muitos dos seus hábitos familiares e domésticos. Com alguma estranheza minha, não são alvo da curiosidade dos turistas, vá-se lá saber porquê.

 Entretanto com o aproximar das horas, desloquei-me pela rua Portas de Santo Antão, passei a outro local da minha juventude onde algumas vezes dividi um bife à Come & Bebe também com o meu pai. Passei pelo Coliseu, Politeama, o ex-cinema Condes, onde existe hoje o café da moda Hard Rock e voltei a subir direito ao centro comercial Tivoli, parando para ver uma esplanada onde se dançava. A música brasileira era sensual e muito apelativa. Está claro que não parei por lá muito tempo, pois sou hoje detentor de dois pés esquerdos, o que não me favorece nas danças de salão.

Finalmente chegado, lá me deparei com um grupo onde pontuava o Luís Graça e o José Saúde, mais tarde também o Cláudio Moreira. Foi excelente a apresentação do Luís no tema que também lhe é caro como profissional de saúde, o descobrir que são acometidos dessa doença 3 portugueses por hora e que é a primeira causa de morte em Portugal.

Seguidamente falou o José e foi um momento de muito sentir ouvi-lo falar na primeira pessoa do percurso, da sua luta, das suas vitórias. Também os doentes criaram uma organização de apoio aos atingidos por esta terrível e incapacitante maleita (AVC Portugal), que aconselha e encaminha os doentes para as suas reabilitações.

Foi um bocado bem passado e daqui faço votos para o José Saúde, continue com a mesma força, que o retirou do reino da morte e o trouxe até nós com a força de sobrevivente, que nos deixa o relato da sua odisseia e nos ensina a continuar a luta pese o sofrimento.

Bem hajas, José,  pela a tua partilha.

No regresso para casa no metro, iam duas adolescentes com a cara completamente pintada de azul, deu-me vontade rir e pensei, Lisboa é Liiiiiiiiiiiinda, como diz o pregão e... é uma festa.

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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P17762: Os nossos seres, saberes e lazeres (229): Aquele último dia em Bruxelas, já saudoso pelo regresso (9) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 16 de Maio de 2017:

Queridos amigos,
Aqui não se escamoteia que existe uma elevada cumplicidade entre o viandante e uma cidade que o atrai, como onde eletromagnética, vai para 40 anos. Não é só a cidade em si é tudo aquilo que ela proporciona, o viandante é um sénior, pode chegar à gare central de Bruxelas, compra um bilhete por sete euros e pode passar o dia a visitar o país. Por exemplo, apanha aí pelas oito da manhã o comboio para Liége, por ali se passeia e almoça, regressa por Namur, que igualmente tem muito para ver, à noitinha regressa à capital. Ou em vez da Valónia vai para a Flandres, passa o dia em Bruges, em Gand ou Antuérpia ou Lovaina, é o país à carta por uma quantia irrisória, um esplêndido direito para os seniores.
Às vezes não nos atrevemos a estas aventuras porque desconhecemos as boas ofertas que estão ao nosso alcance.

Um abraço do
Mário


Aquele último dia em Bruxelas, já saudoso pelo regresso (9)

Beja Santos

O viandante está refratário em abandonar Bruxelas, temperatura amena, atrações culturais em barda, a cidade permanece no seu coração como uma eterna novidade, passados 40 anos de uma persistente convivência continua de pé o mistério desta relação tão afetuosa, mal sabe que tem dia e hora para aqui arribar e é música celestial que não mais se dissolverá, e parte sempre de orelha murcha, viveria aqui as quatro estações do ano sem grandes vicissitudes. É assim a vida, põe-se ao caminho e antes de partir para o museu de Ixelles grava mais uma imagem destas frondosas cerejeiras ornamentais, estão ao ponto.


A parelha de Pierre e Gilles não é propriamente santo do seu culto, mas tira-lhes sempre o chapéu, há imenso talento nesta arte do retrato altamente sofisticado, entre a fotografia e a pintura, há cerca de 40 anos eles multiplicam-se a dar um toque de humanidade a modelos que são elogios a gente comum e procuram um permanente encantamento do mundo com heróis-modelo arrancados à mitologia e aos contos de fadas. É uma arte que se alimenta de um cocktail de cinema, cultura popular, exibição da transgressão sexual, do questionamento social e político, tudo isto em tonalidades sombrias ou festivas. Há algo que fascina o viandante e que a parelha sabiamente modela nos seus trabalhos: toda esta exibição procura a reconciliação das idades, dos géneros e dos estilos, aqui cada um tem o direito a ser exceção.



O que é mais evidente nestas fotografias pintadas é o encantamento do real, aqui foge-se do que é penoso, o mundo parece ser um grande álbum de família onde se aceitam o diálogo inter-religioso, as construções feéricas, o profundo respeito pela orientação sexual de cada um, os heróis anónimos aparecem suspensos em decorações kitsch; em contrapartida, o espectador é também confrontado com padrões e cânones do classicismo, a imagem abaixo parece ser um bom exemplo. Enfim, uma arte que dispõe bem, muito ao sabor do nosso tempo em que na sociedade líquida tudo é a política, religiosa, social e sexualmente correto.


O museu de Ixelles para além das suas exposições permanentes tem um acervo extraordinariamente rico que vai da pintura a óleo ao cartaz. Fruto de muitas doações, é possível aqui encontrar grandes nomes da arte belga sobretudo dos séculos XIX e XX, como Léon de Smet, Frits Van der Berghe, Emile Claus, Gustav de Smet, Rik Wouters ou René Magritte. Estupenda é a coleção de cartazes onde prepondera um grupo excecional de peças de Toulouse-Lautrec.







E pronto, é o derradeiro passeio. Na véspera, à noite, com o anfitrião, a conversa andou à volta dos belos parques, dos cais com batelões, das calçadas, sim, a Bruxelas que veio da Idade Média estava juncada de calçadas como Ninove, Gand, Mons, Haecht ou Vilvorde, entre muitas mais, eram os eixos radiais de aproximação ou retirada. Escolheu-se então uma visita a obras imparáveis da Arte Deco de que Bruxelas é grande potência. E lá se partiu para o edifício imponente que pertenceu à rádio-televisão belga, na praça Flagey, neste edifício o viandante, há alguns anos viveu uma noite emocionante, um eminente violoncelista holandês executou as seis suites para violoncelo de Bach, coisa mais estafante não podia ter sido, ofereceu a assistência, devido à sua poderosa inspiração, um momento mágico em que a música de um só instrumento assume a plena transcendência.

Não há nada mais a acrescentar, o desejo de regressar já corrói o viandante, é tudo uma questão de disciplina, dar tempo e ajustar calendários para que as expetativas se tornem numa doce realidade.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17735: Os nossos seres, saberes e lazeres (228): De Valeta para Bruxelas: Para participar na Primavera, visitar uma cidade muito amada (8) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17761: Agenda cultural (585): Lançamento do livro "A Última Viúva de África", de Carlos Vale Ferraz, dia 27 de Setembro, pelas 18,30 horas, na FNAC do Chiado


1. Mensagem de Carlos Matos Gomes, Coronel Cavalaria Reformado (ex-2.º CMDT Batalhão de Comandos da Guiné, 1972/74), escritor e historiógrafo da guerra colonial, chegada até nós através do nosso confrade Mário Beja Santos:

Meus caros,
Tendo o prazer de fazer parte da vossa lista dos contactos e de receber através deles textos que me vão mantendo informado, cabe-me hoje enviar um da minha autoria.
Este texto tem duas causas, a primeira é a de que o tema do colonialismo, da descolonização esteve sempre presente com maior ou menor intensidade na minha obra como romancista.
O romance que acabei de publicar - deve estar a chegar às livrarias - "A Última Viúva de África" - aborda-o e fá-lo, julgo, numa perspectiva de reflexão de fim de vida. De interrogação: e se afinal o que tenho dito e o que me têm dito não for e não tiver sido assim? Se o Movimento Descolonizador foi um imenso logro?
Por outro lado têm surgido na imprensa textos sobre o tema, da Fernanda Câncio no DN e de Pedro Schacht Pereira no Público que me parecem um digest de vulgaridades.
Este texto reflete o que escrevi no livro e investe contra o que julgo serem lugares comuns.
Junto segue também o convite para a apresentação do livro.



A descolonização é um absurdo

Por Carlos Matos Gomes

Este é um texto do romancista Carlos Vale Ferraz, porque foi através de um romance do Carlos Vale Ferraz, a “Última Viúva de África” que desenvolvi a ideia do absurdo da descolonização, ou da descolonização como um conceito absurdo. Um absurdo não no sentido de “desagradável ao ouvido”, o seu primeiro significado, mas no sentido de contrário à razão.

O romance desenvolve a reflexão do absurdo como atributo inerente do fenómeno que é habitualmente designado por “movimento descolonizador” de África feita por várias personagens. No início do romance, o narrador, um jovem português, estudante de filosofia na universidade de Lovaina, na Bélgica, fotógrafo por desejo de aventura, confrontado com as notícias e as reportagens dos tumultos que se seguiram à independência do Congo Belga, em 1960, considera como primeira impressão que os europeus andavam por África a extrair o que necessitavam para viverem melhor nas suas terras de origem, aonde regressariam após a campanha, como os pescadores de bacalhau que cumpriam temporadas na Terra Nova. Ou cumpriam penas de degredo longe das suas pátrias. O narrador apoiava as independências porque considerava um anacronismo a exploração direta de África pelos europeus:

“Para mim, descolonizar constituía uma prova de inteligência. Não apoiava as independências das colónias por ser um direito dos povos colonizados. Não me converti ao anticolonialismo por ideologia, nem por moral, mas por pragmatismo. Quis conhecer os mercenários do Congo e Jean Scrame, em particular, para perceber porque lutava depois de administrar uma propriedade da qual já havia tirado o proveito que lhe permitia estabelecer-se noutro país, ou regressar à Bélgica.”

O narrador comete aqui a mais vulgar das confusões: refere-se, não à colonização, mas ao colonialismo. É de colonialismo que fala. O Congo Belga, como toda a África a sul do Sara, nunca foi colonizado, com excepção da Colónia do Cabo, onde os ingleses ensaiaram o que viria a ser o seu modelo de administração colonial (indirect rule). O Congo Belga (que começou por ser propriedade pessoal do rei dos belgas) foi sujeito ao fenómeno do colonialismo e o colonialismo foi um sistema de exercício violento de direitos de exploração de matérias-primas instituído e acordado na Conferência de Berlim, em 1885, entre potências europeias, para satisfazer as necessidades dos complexos industriais desenvolvidos com a energia da máquina a vapor. O colonialismo é um fruto da máquina a vapor e da revolução industrial.

Até à II Guerra Mundial foi indispensável as potências europeias assegurarem a exploração direta das matérias-primas, depois, passou a ser mais rentável delegar essa tarefa em agentes locais, as elites indígenas entretanto assimiladas e integradas na cultura e nos processos europeus.

Mas houve, entre os europeus que foram para África executar tarefas de exploração directa, um grupo que, por razões diversas, assumiu aquelas terras como o seu destino final – que afirmaram ser a África, fosse o Congo, Angola, a Rodésia, Moçambique ou o Quénia, a sua pátria! Em Portugal utiliza-se o termo de “cafrealização” para designar esse processo, na Bélgica ele foi designado por “zairização”. O comandante de mercenários designado no romance como Jean Scrame e a portuguesa Alice Vieira, a última viúva de áfrica, pertencem a esse grupo. O narrador descobrirá, contudo, que nem eles – mesmo assumindo a sua nova identidade de africanos brancos - se opõem ao processo de independência das colónias, a um governo de negros, porque percebem que o sistema de administração e exploração delas se mantem, apenas mudaram os executores diretos, que passaram a ser títeres locais nomeados pelos brancos, europeus e americanos. O colonialismo manteve-se enquanto sistema de exploração de riquezas. O “Movimento Descolonizador” foi apenas uma mudança de tripulação num navio que continuou a realizar as mesmas viagens, transportando os mesmos produtos entre os mesmos portos.

Não existiu qualquer movimento descolonizador, que foi e é apenas uma designação utilizada para referir o movimento de transição da administração das colónias dos funcionários das potências europeias para uma elite de funcionários e políticos negros aculturados – ditos “assimilados” ou evolués, que, no essencial, replicam os métodos dos europeus e servem os seus interesses. Em termos políticos não existe qualquer descolonização. Não existe também qualquer libertação.

Mas não existe também descolonização em termos civilizacionais. Colonizar é a instalação de um grupo de uma dada sociedade no território de outra e implica troca de experiências, saberes, valores, relações comerciais e humanas, de forma mais ou menos pacífica ou mais ou menos violenta. Colonizar é sempre uma exportação de bens civilizacionais, da língua à religião. Entre o colonizador e o colonizado estabelece-se uma relação como a de uma gota de tinta que cai num copo de água. A gota de água dissolve-se e não é possível reconstituí-la, retirá-la da água onde se dissolveu. É por isso impossível reverter a colonização, retirar dos povos colonizados o essencial do que os colonizadores levaram e lhes inculcaram.

Nós, os portugueses devíamos conhecer bem a impossibilidade de descolonizar. Fomos colonizados pelos romanos e pelos árabes, mantemos fortes marcas dessa colonização – não fomos descolonizados até hoje. Colonizámos alguns pontos do mundo, e deixámos lá as nossas marcas, como os romanos e os árabes nos tinham deixado. O Brasil, Angola, Moçambique, a Guiné, Cabo Verde, São Tomé, não foram descolonizados, tornaram-se entidades políticas independentes, estados-nação com bandeira, hino, gravatas de seda ao pescoço dos hierarcas, número de ordem nas Nações Unidas e embaixadores que falam inglês. Tanto o discurso comum da “malvada descolonização”, como da “descolonização possível” são absurdos. O discurso da “entrega” é patológico, com origem na exacerbação de sentimentos que bloqueiam o raciocínio.

As antigas colónias europeias de África não se descolonizaram, não reverteram as instituições de governo introduzidas pelas potências coloniais, retomando as suas tradições do tempo antes da chegada dos colonizadores europeus. Pelo contrário, os dirigentes dos movimentos independentistas, do movimento descolonizador do pós II Guerra, foram particularmente violentos na aniquilação das autoridades tradicionais e dos costumes ancestrais – quase sempre com o aplauso dos antigos colonizadores e das suas instituições, com relevo para a ONU e as suas agências, que os elogiaram pela luta anti-tribalista, tomada como uma acção de modernidade.

O movimento descolonizador dos pós-II guerra é um gigantesco embuste. A descolonização de África foi, de facto, a adopção pelos africanos da “ordem” do colonialismo – constituição de estados-nação com os mesmos princípios dos estados-nação que instituíram o colonialismo, imposição dos seus sistemas políticos e jurídicos, das suas línguas, até dos seus deuses e, principalmente, das suas armas, do canhangulo à AK, do jipe ao Mirage. Não existiu qualquer libertação de África, a África política e a África dos povos está sujeita às mesmas regras e normas dos países que enviaram os seus exploradores ao continente africano no século XIX e que o dividiram em Berlim.

O facto de não ter existido nem descolonização, nem libertação de África não é nem bom nem mau – não existiu Mal, nem Bem, nem desastrosa descolonização, nem criminosa entrega, nem falsa libertação, houve sim uma realidade: a imposição por parte das antigas e novas potências coloniais de uma nova grelha de domínio de África, de uma grelha que facilita a relação e a exploração, pois quer uma quer outra se realizam segundo a regra dominante. O resto, o que subsiste da antiga África antes do colonialismo, das danças às mezinhas dos feiticeiros é folclore que serve de atração turística.

Resta uma pergunta que Alice, A Última Viúva de África e Scrame, o último dos grandes comandantes de mercenários, colocam: Porque não podem e não puderam eles e os europeus manter-se em África como africanos brancos? Porque não pode ser a África uma pátria de brancos, como foram e são as Américas?

O romance ensaia uma resposta. A ficção é mais adequada a abordar questões difíceis que a análise política e histórica…

Carlos Vale Ferraz
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17759: Agenda cultural (584): Lançamento do livro do José Saúde, "AVC - Recuperação do Guerreiro da Liberdade" (Chiado Editora, 2017, 184 pp. ), no passado domingo, em Lisboa

Guiné 61/74 - P17760: Convívios (825): XVI Encontro dos ex-militares do Hospital Militar 241, de Bissau, dos anos de 1966 a 1972, dia 7 de Outubro de 2017, em Fátima (Manuel Freitas)



DIA 7 DE OUTUBRO DE 2017

FÁTIMA 

XVI Convívio dos ex-militares do HM 241 dos anos de 1966 a 1972


1. Em mensagem do dia 11 de Setembro de 2017, o nosso camarada Manuel Freitas (ex-1.º Cabo Escriturário do HM 241, Bissau, 1968/70), dá notícia do próximo Encontro Anual do Pessoal daquele Hospital.

Bom dia Caramigo, 
Agradecia o favor de, a exemplo dos anos anteriores, publicares na página o nosso encontro de 2017. 

Local: Fátima - Restaurante O Truão 

Dia 7 de Outubro ex. militares dos anos de 1966 a 1972 (podem vir mais) 

Concentração: junto à Cruz Alta - A partir das 10h30 

Contacto: Manuel Freitas tel. 964498832 

Bem haja e obrigado. 

Um abraço 
Manuel Freitas
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17746: Convívios (823): XXXIII Encontro do pessoal da Magnífica Tabanca da Linha, dia 21 de Setembro de 2017, em Algés (Manuel Resende / Jorge Rosales)

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17759: Agenda cultural (584): Lançamento do livro do José Saúde, "AVC - Recuperação do Guerreiro da Liberdade" (Chiado Editora, 2017, 184 pp. ), no passado domingo, em Lisboa


Lisboa >  Avenida da Liberdade > Fórum Tivoli nº 180, 1º piso > Chiado Café Concerto > 10 de setembro, domingo, 17h30 / 19h00 >   Na mesa, o autor e a representante da Editora,.


Lisboa >  Avenida da Liberdade > Fórum Tivoli nº 180, 1º piso > Chiado Café Concerto > 10 de setembro, domingo, 17h30 / 19h00 >   Aspeto da assistência... Na primeira fila, da esquerda para a direita, quatro representantes da  Associação Portugal AVC.


Lisboa >  Avenida da Liberdade > Fórum Tivoli nº 180, 1º piso > Chiado Café Concerto > 10 de setembro, domingo, 17h30 / 19h00 >  O autor falando do seu livro


Lisboa >  Avenida da Liberdade > Fórum Tivoli nº 180, 1º piso > Chiado Café Concerto > 10 de setembro, domingo, 17h30 / 19h00 > O testemunho do autor...


Lisboa >  Avenida da Liberdade > Fórum Tivoli nº 180, 1º piso > Chiado Café Concerto > 10 de setembro, domingo, 17h30 / 19h00 >  O autor e outro camarada "ranger", o Cláudio Moreira, ex-fur mil da CCAÇ 11, os "Lacraus", que o J. Casimiro Carvalho veio render, em maio de 1974, em Paunca. (Foi convidado a integrar o blogue.)


Lisboa >  Avenida da Liberdade > Fórum Tivoli nº 180, 1º piso > Chiado Café Concerto > 10 de setembro, domingo, 17h30 / 19h00 >  Dedicatória, com a mão esquerda, dedicada ao Daniel Pereira, outro camarada do curso de Operações Especiais, em Lamego. Em primeiro  plano, a esposa, Sara. O Daniel Pereira, que perdeu a mão direita devido a explosão de granada, na tropa, foi depois embaixador do seu país, Cabo Verde, na Holanda, em Angola e Brasil. Está reformado e é autor de quase um dúzia de títulos ligados à história da sua terra. (É natural de São Vicente. Outro título publicado, já em 2017: Novos subsídios para a história de Cabo Verde, 284 pp., editora Rosa de Porcelana)


Lisboa >  Avenida da Liberdade > Fórum Tivoli nº 180, 1º piso > Chiado Café Concerto > 10 de setembro, domingo, 17h30 / 19h00 >  Dedicatória, com a mão esquerda, dedicada ao Daniel Pereira, camarada do curso de Operações Especiais, em Lamego... Ambos tiveram que aprender a escrever com a mão esquerda.


Lisboa >  Avenida da Liberdade > Fórum Tivoli nº 180, 1º piso > Chiado Café Concerto > 10 de setembro, domingo, 17h30 / 19h00 >  O autor e o Juvenal Amado (que também foi editado sob chancela da Chiado Editora) (**)

Fotos (e legendas) : © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. As primeiras fotos do evento (*). Publicaremos a seguir um resumo das intervenções do apresentador,  Luís Graça, e do autor do  livro, José Saúde. (**)
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Notas do editor:

(*) Vd poste de de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17738: Agenda cultural (581): "AVC - Recuperação do Guerreiro da Liberdade", de José Saúde (Chiado Editora, 2017, 184 pp.): sessão de lançamento no dia 10, domingo, às 17h30, com apresentação do nosso editor, prof Luís Graça; e hoje, dia 7, o autor vai estar no programa de Fátima Lopes, na TVI, " A Tarde é Sua", às 16h30, para falar do seu livro e da sua história clínica extraordinária

(**) Último poste da série > 12 de setembro de  2017 > seGuiné 61/74 - P17758: Agenda cultural (583): "Doente mas Previdente", por Mário Beja Santos, lançamento no Museu da Farmácia, dia 27 de Setembro, pelas 18 horas, na Rua Marechal Saldanha, n.º 1, perto do Miradouro de Santa Catarina - Lisboa

Guiné 61/74 - P17758: Agenda cultural (583): "Doente mas Previdente", por Mário Beja Santos, lançamento no Museu da Farmácia, dia 27 de Setembro, pelas 18 horas, na Rua Marechal Saldanha, n.º 1, perto do Miradouro de Santa Catarina - Lisboa


"Doente mas Previdente", por Mário Beja Santos, lançamento no Museu da Farmácia em 27 de Setembro, pelas 18 horas, Rua Marechal Saldanha, n.º 1, perto do Miradouro de Santa Catarina

C O N V I T E

Queridos amigos,
É com a maior satisfação que vos venho pedir a vossa companhia para a sessão de lançamento do meu livro "Doente mas previdente", que será comentado pela Doutora Ana Paula Martins, Bastonária da Ordem dos Farmacêuticos. 

Para ser mais elucidativo, sintetizo os objetivos deste meu último trabalho:
O tempo do paternalismo em saúde tem os seus dias contados, desde a OMS aos governos, passando pelos profissionais, indústria farmacêutica, fabricantes de dispositivos médicos, gestores hospitalares, e muitos mais, todos são concordantes que o utente da saúde e o doente precisam de maior autonomia, mais informação e uma melhor preparação para lidar com os cuidados de saúde primários, os estilos de vida saudáveis, o bom uso do medicamento e aproveitar o que de melhor a era digital oferece em promoção para a saúde, acompanhamento da doença, associativismo e solidariedade entre utentes e doentes.
Entram em cena novas formulações pedagógicas, novos direitos, novas atitudes de comunicação. Sem exagero, abrem-se potencialidades assombrosas para viver melhor.

Este livro centra-se nas ferramentas da cidadania em saúde, privilegia exemplos de capacitação, literacia e autonomia com base num aconselhamento nem sempre devidamente explorado: o aconselhamento farmacêutico. Aqui se recorda que há males ligeiros (olho seco, gengivite, prisão de ventre, alguns problemas gástricos.) que, quando convenientemente tratados, podem evitar doenças mais sérias. Há muito a potenciar nesta informação que é totalmente gratuita e que nos possibilitar escolhas corretas para o nosso bem-estar. Sim, a cidadania em saúde é o melhor adjuvante que o doente tem para uma vida com qualidade e assegura práticas a todos os utentes para melhorar os estilos de vida na vertente da saúde.

O acesso ao Museu da Farmácia é pelo metro Baixa-Chiado ou elétrico 28, paragem do Calhariz. Quem quiser vir de automóvel, tem acesso gratuito ao parque do edifício, à entrada da rua menciona junto do paliteiro que vem para uma sessão de lançamento no Museu da Farmácia.

Antecipadamente grato a quem me vier dar companhia e queira debater alguns dos problemas centrais da cidadania em saúde, na vertente preventiva e na qualificação do doente, especialmente aproveitando o aconselhamento farmacêutico e a adesão terapêutica, recebam a cordialidade do
Mário Beja Santos
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17745: Agenda cultural (582): Festival TODOS, 9ª edição: 8, 9 e 10 de setembro: Lisboa, Campo de Santana... Lisboa, cidade aberta e intercultural

Guiné 61/74 - P17757: "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", brochura de 2002, da autoria do nosso camarada Gabriel Moura do Pel Mort 19 (22): Págs. 169 a 176

Capa da brochura "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra"

Gabriel Moura

1. Penúltima publicação do trabalho em PDF do nosso camarada Gabriel Moura, "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", enviado ao Blogue por Francisco Gamelas (ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 3089, Teixeira Pinto, 1971/73).


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17744: "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", brochura de 2002, da autoria do nosso camarada Gabriel Moura do Pel Mort 19 (21): Págs. 161 a 168