1. Mensagem do nosso camarada José Brás* (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68, autor do romance "Vindimas no Capim"*, Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura ), com data de hoje, 25 de Julho de 2010:
Os camaradas que estiveram a 26 de Junho em Monte Real assistiram ao triste episódio de, quando quisemos oferecer ao Luís em nome do auto-intitulado "Grupo do Cadaval", uma prova de gratidão no objecto concreto do que será o meu próximo livro, escolhido porque imagem chapada das virtualidades do blogue e do convívio que nele se desenvolve.
Afinal mais parecemos, então, jogar uma cena de Quixote, sem lança e cavalgando Rocinante imaginário.
Ficou a intenção e no dia seguinte, por correio, lá seguiu o pacotinho de palavras juntas em quase 200 páginas sob o título "Lugares de Passagem".
Na altura, houve camaradas que me abordaram de ar brincalhão e sugerindo que aquilo era apenas um faz de conta e, outros, no sentido de terem acesso também a um exemplar igual, argumentando que tal coisa, datada e autografada, assim, teria um valor simbólico para todos, uma vez que, como se afirmava e confirmo, foi a Tabanca Grande, no seu conjunto que me entusiasmou a voltar à escrita.
Agora, passados estes dias e em contacto com os elementos do grupo, resolvi aceder ao pedido e disponibilizar algumas cópias para entrega aos camaradas que se manifestarem interessados.
O trabalho tem cerca de 200 páginas e compreende:
1 - o texto em si com o título "Lugares de Passagem"
2 - capa e contracapa da autoria de minha filha Cátia Brás
3 - sinopse da trama entregue na editora
4 - prefácio da autoria de António Loja, meu capitão na Guiné, professor, investigador, escritor
5 - cópia do texto/dedicatória que acompanhou a unidade oferecida ao Luís.
O preço deste pacote é de 17,50€ com correio já incluindo e faríamos o mesmo que fizemos com o Vindimas no Capim, se tu estiveres de acordo.
A fim de terem todos uma primeira abordagem ao livro, junto o texto/sinopse e o prefácio, referidos em 3 e 4.
Deste modo coloco-te a questão da oportunidade da colocação de notícia no blogue com a informação do meu próprio endereço electrónico, jasbras1@sapo.pt.
Forte abraço
José Brás
"LUGARES DE PASSAGEM"
SINOPSE
Filipe Bento é o ficcionado narrador de "Vindimas No Capim", livro que deu a José Brás, em 1987, o Prémio Revelação da APE na modalidade de ficção narrativa, editado por Publicações Europa-América em 1988.
Em "Lugares de Passagem", Filipe Bento pretende sair do seu estado ficcional e tornar-se autor de uma série de estórias que terá guardado e amadurecido nos anos que decorreram desde a publicação de "Vindimas".
No sentido de passar ao papel tais estórias, e tendo consciência das suas dificuldades com escrevente narrador, busca a quem lhe possa ajudar na tarefa, e nada mais natural que o fizesse junto de José Brás a quem havia prestado o favor de se assumir como narrador das peripécias no livro anterior.
Porém, Filipe Bento resolve pôr a limpo um facto mal contado então, dando a público a informação de que o verdadeiro autor de "Vindimas no Capim" havia sido um tal Arnaldo, neto de um personagem anterior e ainda presente de memória, José da Bonança, ou José da Venância, ou José de Matos Luís ou Luís de Matos, confusão de nomes que não chegou nunca a apurar-se com certeza certa, nem em "Vindimas no Capim", nem, agora, em "Lugares de Passagem", fenómeno muito presente no convívio quotidiano entre gente de aldeia, inclinando-se mais o narrador para José Luís de Matos, de onde parece vir o sobrenome do Arnaldo, de Matos, seu amigo real desde os bancos da escola primária.
"Lugares de passagem" começou por chamar-se em projecto "Lisboa, lugar de passagem", porque Lisboa sempre o foi para mim, para o Filipe e parece que para o Arnaldo, primeiro, lugar de ir e voltar no comboio de Vila Franca de Xira ou na carreira da Bucelence, depois, caminho da guerra colonial aonde se ia sempre com hipóteses de não voltar, e, mais tarde ainda, nos aviões entre aeroportos do mundo.
Contudo, porque aeroportos sempre foram para nós, cidades, gente, vida para além de lugares de ausência que são quase sempre, apenas partidas e chegadas, no decorrer da escrita apareceu como melhor o actual título.
"Lugares de Passagem" é, assim, uma tentativa de viajar por dentro de gente que habita as cidades dos aeroportos, uma tentativa de visão sobre o comum e global desejo de felicidade das pessoas, através dos anseios individuais e a conflitualidade permanente nesse jogo de aproximar e afastar.
Subitamente, Filipe Bento, o ficcionado narrador de "Vindimas no Capim", resolve também contar histórias e exige trocar de lugar, isto é, que lhas escreva, alguém que descobrirá que tais histórias são restos alterados de outras que lhe teria, em tempos recuados, contado eu, Arnaldo ou José Brás, porque destrinçar entre os dois não tem qualquer interesse.
Não é um livro de contos, não é um romance, não sei se é o que quero que seja, a tal viagem de partidas e chegadas aparentemente desligadas umas das outras mas que o leitor ligará por invisível fio paralelo e exterior, segundo a leitura de cada um, como se insinua nas apresentações iniciais.
Na minha terra os pequenos agricultores, acabada a sementeira, olhavam-na com alguma ansiedade e murmurando "benza-te Deus".
Em princípio, porque agnóstico, não é "politicamente correcto" dizê-lo eu.
Contudo, e ainda assim, digo-o como o dizia o avô José da Bonança, não pelo lucro material que possa ou não vir a dar-me, mas, vindo tempo a feição, pelo lucro espiritual que possa trazer, a mim, semeador, e a outra gente que o colher.
Benza-te Deus!
José Brás
**********
Prefácio
...ou Carta de um capitão* da Guiné a um furriel da companhia
Com quantas mãos se constrói uma casa? Quantas personalidades deverá assumir o homem que elabora o projecto? E o que rasga os caboucos? E o que lança as fundações? E o que afeiçoa a pedra a mistura o cimento e a areia? E o que abre portas e janelas deixando nela entrar a luz e o calor? E o que a cobre com um telhado, protegendo-a de chuvas e do vento agreste? E o que finalmente a povoa com seres humanos igualmente possuidores de várias personalidades que convivem no mesmo corpo como as notas contrastantes de um concerto de Vivaldi reunidas na perfeita harmonia de uma inquietação tornada unidade?
Com quantas mãos se escreve uma história? Duas personalidades assume o homem que decide fazer aos outros o relato da sua experiência de vida, em seu nome e em nome de outro, neste caso outros, que são também ele próprio, num saudável desdobramento que permite a José Brás, e aos seus amigos Arnaldo e Filipe Bento escreverem "Lugares de Passagem", numa cumplicidade criativa que faz reviver neles os companheiros mortos na guerra em que os três participaram na Guiné e outros com quem se cruzaram em "lugares de passagem", multiplicando assim a sobreposição enriquecedora de experiências vividas e de personalidades directa ou indirectamente envolvidas na dinâmica criativa: o Xico que "sabia muito pouco das leis da física que justificam o voo", mas que podíamos dizer "foi um pioneiro da aviação", Helena, sentada em Copacabana, frente ao mar, o soldado Lixa que fita nos olhos o guerrilheiro do PAIGC, ambos protegidos no mesmo "lugar de passagem" que é o bagabaga, e Rose, e Mominato, e Maura, e Anamaria, e o cabo Calçada, apanhado por uma rajada que lhe arranca um pulmão, e o enfermeiro homossexual que para salvar vidas circula entre as balas como anjo imune ao perigo, e o avô José da Bonança, aliás, José de Matos Luís, e o soldado Dias que deixou de viver nos escassos segundos em que eu mesmo o deixei agarrado ao rádio enquanto para junto dele regressava vindo de outro recanto do mato que estoirava em fogo, e o meu telegrama recebido pelo José Brás durante a festa na aldeia, e o cabo Oliveira, a esvair-se em sangue em Ximxim-Dari mas depois a salvo no hospital da Estrela.
E que há-de fazer, quarenta anos depois de tudo isso, um homem como eu, capitão por acaso de uma companhia de atiradores onde havia um furriel de transmissões chamado José Brás, que tem recordações semelhantes às minhas mas que as guarda como eu porque escreve como eu mesmo tentei escrever quando me encontrava no que pensei ser um "lugar de passagem" entre a vida e a morte? Que há-de fazer um homem acordado do seu meio viver pelo fluxo das suas recordações, José Brás, escriba de si mesmo e dos seus amigos Filipe Bento e Arnaldo, senão caminhar a seu lado, tentando recordar também, sem ter a pretensão de distinguir entre verdades e mentiras, difíceis por vezes de separar na neblina dos anos que separam a realidade vivida do que dela resta como resíduo.
Mas você o diz, José Brás, "verdades e mentiras são sempre / meias verdades e meias mentiras / quem com loas perde tempo / mentiras lhe parecem verdade / e verdades lhe parecem mentira".
Repito a minha pergunta inicial, agora com outras palavras. Como se constrói uma casa? Se eu entregar a quarenta homens um punhado de tijolos e lhes disser "construam uma casa" é mais que certo que surgirão quarenta casas diferentes, ao modo das necessidades e das aptidões de cada construtor. E nunca poderei dizer que uns constroem verdade e que outros constroem mentira. Do mesmo modo as nossas comuns experiências são necessariamente vividas de modo diverso, mesmo que outros possam querer chamar-lhes verdades e mentiras (ou meias verdades e meias mentiras).
Mas é com essas verdades que vivem em nós que conseguimos ser fiéis a nós mesmos e fiéis à memória que guardamos dos amigos mortos que encontrámos nesses "lugares de passagem" chamados Aldeia Formosa, aliás, Quebo, e Medjo e Guiledje e Cumbijã e Missirã e Ximxi-Dari e Darsalame e Nhala e Buba e Contabane. E todos esses lugares se confundem por vezes com o Rio de Janeiro e com São Salvador da Baía e com Montreal, porque uma curva de estrada faz recordar outra curva de estrada onde homens emboscados tentavam derrubar-nos e onde emboscados nós tentávamos derrubar outros combatentes, homens como nós que por uma acaso da vida se cruzavam nos mesmos lugares de passagem e que por isso ganharam um lugar tão indelével nas nossas memórias. Essas recordações não são mentiras, nem mesmo meias mentiras. São as nossas verdades, com que temos vivido desde a guerra, que passou por nós com a força de uma tempestade e que em nós deixou marcas que não queremos que desapareçam, porque sem elas as nossas vidas seriam menores e nós não seríamos nós mas outros.
Mas somos nós e, deixe-me agora transcrevê-lo de novo "outros e os mesmos porque todos nascemos de ventre de mãe, todos sonhámos outros eus, todos lutámos, todos matámos de bala ou de imaginação, e matando nos matámos a nós próprios antes que a morte morte nos venha buscar".
António Loja
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António Loja
Funchal - Madeira
Professor de história e filosofia e investigador
Escritor - "As Ausências de Deus" (Notícias); "A Luta do poder contra a maçonaria" (Imprensa Nacional-Casa da Moeda); "como um rio invisível" (Notícias).
Candidato pela Oposição nas eleições de 1969
Presidente da Junta Geral do Funchal entre Abril de 74 e as primeiras eleições democráticas
Deputado à Assembleia da República entre 1976 e 1979
Deputado à Assembleia Regional da Madeira entre 1980 e 1984
Capitão Miliciano na Guiné, Quebo, Mejo e Jolmete de 1966/68
**********
2. Comentário de CV:
Os camaradas que participaram no último Encontro de Monte Real compreenderão melhor esta iniciativa do José Brás, no entanto quem já teve a oportunidade de ler o "Vindimas no Capim" não irão perder este "Lugares de Passagem" (benza-o Deus).
Os interessados deverão, preferencialmente, pedir o seu exemplar ao José Brás, mail: jasbras1@sapo.pt.
Já agora aproveito este tempo de antena para dizer que estou a ler o "Vindimas no Capim", e apesar de não ter arte para crítico literário, aconselho-o vivamente. É um livro onde se misturam, o humor, a ironia, o drama, e a realidade que nós vivemos na guerra colonial. José Brás caracteriza com muita clareza a vida do campo no Alentejo profundo dos anos sessenta, quando muitos tinham tão pouco e poucos tinham demais. A não perder.
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 6 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6678: Controvérsias (91): Mário Cláudio e o debate, Açordas! (José Brás)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
A apresentar mensagens correspondentes à consulta "Lugares de passagem" ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens
A apresentar mensagens correspondentes à consulta "Lugares de passagem" ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens
domingo, 25 de julho de 2010
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Guiné 63/74 - P7490: Agenda Cultural (96): Apresentação do livro Lugares de Passagem, de José Brás, dia 6 de Janeiro de 2010, pelas 18 horas na Biblioteca José Saramago, em Loures
Convite para assistir à apresentação do livro "LUGARES DE PASSAGEM", de José Brás, a ter lugar no dia 6 de Janeiro de 2011, às 18 horas, na Biblioteca José Saramago, em Loures
BIOGRAFIA SINTÉTICA
- José Brás
- Nasceu em Alenquer
- Colaborador da Secção cultural do União Desportiva Vilafranquense entre 62 e 65
- Fez parte dos Grupos de Forcados Académicos e Amadores de Vila Franca entre 64 e 70
- Fez a tropa e a guerra colonial na Guiné entre 65 e 68
- entrou para a TAP como tripulante comercial em 72
- foi animador cultural na zona de Loures onde organizou o Pelouro da Cultura do Município
- foi Autarca, presidente da Junta de Freguesia de Loures entre 81 e 85
- foi Prémio Revelação da APE em 86 na categoria "Ficção Narrativa" com o livro "Vindimas no Capim" editado em 88 pela Europa-América
- foi eleito Presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo em 89 até 97
- foi coordenador da Frente Sindical na TAP entre 93 e 95
- reformou-se em 97 e fundou a Escola de Pilotagem AEROMONTE, em Montemor-o-Novo, tendo sido fundador e dirigente da APAU -Associação de Portuguesa de Aviação Ultraleve
- colabora com Luís Graça no blogue luisgracaecamaradasdaguine, com blogue Luso Poemas e com Poetas da Planície
- tem poemas seus no próximo disco de fado de Carlos do Carmo
LUGARES DE PASSAGEM
SINOPSE
Filipe Bento é o ficcionado narrador de "Vindimas No Capim", livro que deu a José Brás, em 1987, o Prémio Revelação da APE na modalidade de ficção narrativa, editado por Publicações Europa-América em 1988.
Em "Lugares de Passagem", Filipe Bento pretende sair do seu estado ficcional e tornar-se autor de uma série de estórias que terá guardado e amadurecido nos anos que decorreram desde a publicação de "Vindimas".
No sentido de passar ao papel tais estórias, e tendo consciência das suas dificuldades com escrevente narrador, busca a quem lhe possa ajudar na tarefa, e, "diz o roto ao nú...", nada mais natural que o faça junto de José Brás a quem havia prestado o favor de se assumir como narrador das peripécias no livro anterior.
Porém, Filipe Bento resolve pôr a limpo um facto mal contado então, dando a público a informação de que o verdadeiro autor de "Vindimas no Capim" havia sido um tal Arnaldo, neto de um personagem anterior e ainda presente de memória, José da Bonança, ou José da Venância, ou José de Matos Luís ou Luís de Matos, confusão de nomes que não chegou nunca a apurar-se com certeza certa, nem em Vindimas no Capim, nem, agora, em Lugares de Passagem, fenómeno muito presente no convívio quotidiano entre gente de aldeia, inclinando-se mais o narrador para que seja José Luís de Matos o seu nome de baptismo, de onde parece vir o sobrenome do Arnaldo de Matos, ao que parece, seu amigo desde os bancos da escola primária.
Lugares de passagem começou por chamar-se em projecto "Lisboa, lugar de passagem", porque Lisboa sempre o foi para mim, para o Filipe e talvez que para o Arnaldo, primeiro, lugar de ir e voltar no comboio de Vila Franca de Xira ou na carreira da Bucelence, depois, caminho da guerra colonial aonde se ia sempre com hipóteses de não voltar, e, mais tarde ainda, nos aviões entre aeroportos do mundo.
Contudo, porque aeroportos sempre foram para nós, cidades, gente, vida para além de lugares de ausência que são quase sempre, apenas partidas e chegadas, no decorrer da escrita apareceu como melhor o actual título.
Lugares de Passagem é, assim, uma tentativa de viajar por dentro de gente que habita as cidades dos aeroportos, uma tentativa de visão sobre o comum e global desejo de felicidade das pessoas, através dos anseios individuais e a conflitualidade permanente nesse jogo de aproximar e afastar.
Subitamente, Filipe Bento, o ficcionado narrador de "Vindimas no Capim", resolve também contar histórias e exige trocar de lugar, isto é, que lhas escreva alguém que descobrirá que tais histórias são restos alterados de outras que lhe teria, em tempos recuados, contado eu, Arnaldo. Ou José Brás, porque destrinçar entre os dois não tem qualquer interesse.
Não é um livro de contos, não é um romance, não sei se é o que o autor, seja ele quem for, quer que seja, a tal viagem de partidas e chegadas aparentemente desligadas umas das outras mas que o leitor ligará por invisível fio paralelo e exterior, segundo a leitura de cada um, como se insinua nas apresentações iniciais.
Na minha terra os pequenos agricultores, acabada a sementeira, olhavam-na com alguma ansiedade e murmurando "benza-te Deus".
Em princípio, porque agnóstico, não é "politicamente correcto" dizê-lo eu.
Contudo, digo-o como o dizia o avô José da Bonança, não pelo lucro material que possa ou não vir a dar-me, mas, vindo tempo a feição, pelo lucro espiritual que possa trazer, a mim, semeador, e a outra gente que o colher.
Benza-te deus!
José Brás
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 15 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7442: Agenda Cultural (95): Convite para sessão de defesa da dissertação Os militares portugueses na Guiné-Bissau: da contestação à descolonização, Lisboa, ISCTE, 6ª feira, 17
BIOGRAFIA SINTÉTICA
- José Brás
- Nasceu em Alenquer
- Colaborador da Secção cultural do União Desportiva Vilafranquense entre 62 e 65
- Fez parte dos Grupos de Forcados Académicos e Amadores de Vila Franca entre 64 e 70
- Fez a tropa e a guerra colonial na Guiné entre 65 e 68
- entrou para a TAP como tripulante comercial em 72
- foi animador cultural na zona de Loures onde organizou o Pelouro da Cultura do Município
- foi Autarca, presidente da Junta de Freguesia de Loures entre 81 e 85
- foi Prémio Revelação da APE em 86 na categoria "Ficção Narrativa" com o livro "Vindimas no Capim" editado em 88 pela Europa-América
- foi eleito Presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo em 89 até 97
- foi coordenador da Frente Sindical na TAP entre 93 e 95
- reformou-se em 97 e fundou a Escola de Pilotagem AEROMONTE, em Montemor-o-Novo, tendo sido fundador e dirigente da APAU -Associação de Portuguesa de Aviação Ultraleve
- colabora com Luís Graça no blogue luisgracaecamaradasdaguine, com blogue Luso Poemas e com Poetas da Planície
- tem poemas seus no próximo disco de fado de Carlos do Carmo
LUGARES DE PASSAGEM
SINOPSE
Filipe Bento é o ficcionado narrador de "Vindimas No Capim", livro que deu a José Brás, em 1987, o Prémio Revelação da APE na modalidade de ficção narrativa, editado por Publicações Europa-América em 1988.
Em "Lugares de Passagem", Filipe Bento pretende sair do seu estado ficcional e tornar-se autor de uma série de estórias que terá guardado e amadurecido nos anos que decorreram desde a publicação de "Vindimas".
No sentido de passar ao papel tais estórias, e tendo consciência das suas dificuldades com escrevente narrador, busca a quem lhe possa ajudar na tarefa, e, "diz o roto ao nú...", nada mais natural que o faça junto de José Brás a quem havia prestado o favor de se assumir como narrador das peripécias no livro anterior.
Porém, Filipe Bento resolve pôr a limpo um facto mal contado então, dando a público a informação de que o verdadeiro autor de "Vindimas no Capim" havia sido um tal Arnaldo, neto de um personagem anterior e ainda presente de memória, José da Bonança, ou José da Venância, ou José de Matos Luís ou Luís de Matos, confusão de nomes que não chegou nunca a apurar-se com certeza certa, nem em Vindimas no Capim, nem, agora, em Lugares de Passagem, fenómeno muito presente no convívio quotidiano entre gente de aldeia, inclinando-se mais o narrador para que seja José Luís de Matos o seu nome de baptismo, de onde parece vir o sobrenome do Arnaldo de Matos, ao que parece, seu amigo desde os bancos da escola primária.
Lugares de passagem começou por chamar-se em projecto "Lisboa, lugar de passagem", porque Lisboa sempre o foi para mim, para o Filipe e talvez que para o Arnaldo, primeiro, lugar de ir e voltar no comboio de Vila Franca de Xira ou na carreira da Bucelence, depois, caminho da guerra colonial aonde se ia sempre com hipóteses de não voltar, e, mais tarde ainda, nos aviões entre aeroportos do mundo.
Contudo, porque aeroportos sempre foram para nós, cidades, gente, vida para além de lugares de ausência que são quase sempre, apenas partidas e chegadas, no decorrer da escrita apareceu como melhor o actual título.
Lugares de Passagem é, assim, uma tentativa de viajar por dentro de gente que habita as cidades dos aeroportos, uma tentativa de visão sobre o comum e global desejo de felicidade das pessoas, através dos anseios individuais e a conflitualidade permanente nesse jogo de aproximar e afastar.
Subitamente, Filipe Bento, o ficcionado narrador de "Vindimas no Capim", resolve também contar histórias e exige trocar de lugar, isto é, que lhas escreva alguém que descobrirá que tais histórias são restos alterados de outras que lhe teria, em tempos recuados, contado eu, Arnaldo. Ou José Brás, porque destrinçar entre os dois não tem qualquer interesse.
Não é um livro de contos, não é um romance, não sei se é o que o autor, seja ele quem for, quer que seja, a tal viagem de partidas e chegadas aparentemente desligadas umas das outras mas que o leitor ligará por invisível fio paralelo e exterior, segundo a leitura de cada um, como se insinua nas apresentações iniciais.
Na minha terra os pequenos agricultores, acabada a sementeira, olhavam-na com alguma ansiedade e murmurando "benza-te Deus".
Em princípio, porque agnóstico, não é "politicamente correcto" dizê-lo eu.
Contudo, digo-o como o dizia o avô José da Bonança, não pelo lucro material que possa ou não vir a dar-me, mas, vindo tempo a feição, pelo lucro espiritual que possa trazer, a mim, semeador, e a outra gente que o colher.
Benza-te deus!
José Brás
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 15 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7442: Agenda Cultural (95): Convite para sessão de defesa da dissertação Os militares portugueses na Guiné-Bissau: da contestação à descolonização, Lisboa, ISCTE, 6ª feira, 17
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Guiné 63/74 - P7588: Lugares de Passagem, de José Brás (1): Carta aberta a um amigo (José Brás)
1. Mensagem de José Brás (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 10 de Janeiro de 2011:
Meu amigo
Se entenderes que cabe, podes editar porque foi para o publicar que escrevi
Um abraço
José Brás
Lugares de Passagem
Carta aberta a um amigo
Às vezes
as palavras falam
do que não sabem*
Às vezes as palavras são apenas sons que soltamos, espontâneas e sem sentido, inexplicáveis senão na reacção a um primeiro olhar sobre as coisas;
às vezes as palavras contam apenas do sentimento construído antecipadamente sobre a realidade que prevemos se confirme;
às vezes as palavras, mesmo que ditas num sentido circunscrito e na melhor das intenções, espelham apenas a pressa, a falta de tempo ou de ferramentas para uma análise mais aprofundada dessa realidade;
às vezes as palavras são também balas concretas, carregadas de justiça e de lógica, impiedosas apenas enquanto expressão obrigatória de uma exemplar honestidade intelectual e moral que não pode abrigar amizades nem abraços.
Sei, tenho a mais absoluta certeza, que foi sob este último guarda-chuva que falaste no dia da apresentação do Lugares de Passagem, em Loures.
Contudo, creio também, que ao dizê-lo não te livraste dessas tais circunstâncias e condições de que falo mais acima, fechando a tua análise apenas num aspecto que, como repito, conta apenas um sentimento prévio que se confirma como esperável.
Sem deitar fora esse sentimento nobre da honestidade e da franqueza, coisas que quase só podemos ter mesmo com amigos, terei de dizer-te que, nessa fala, acabaste por encurtar a tua capacidade de analisar, quase como esse médico que, de tanto conhecer um doente, diagnostica de rotina e, um dia, erradamente.
Mudando de ritmo e de emoção...
Sobre este meu livro Lugares de Passagem, alguns amigos me perguntaram já, e outros afirmaram mesmo sem perguntas nem leitura, se (que) é mais uma narrativa da ou sobre a guerra colonial.
Alguma razão terão, pelo menos as perguntas, recordando o livro anterior, Vindimas no Capim.
Perguntando, ou em voo rasante, afirmando, confesso que me deixaste apreensivo porque eu não havia querido escrever um livro sobre a guerra colonial, aliás, mesmo sobre qualquer outro motivo circunscrito, mas sim um livro sobre gente, sobre sentimentos, sobre ânsias e sonhos dessa gente que se espalha pelo globo e que julgo ter conhecido nas minhas andanças por esses lugares de passagem, que, sendo-o, lugares de passagem, nunca o foram só, mas antes lugares de osmose, de troca desses sonhos e da comum ânsia de felicidade que nos dá formas a todos, indiferentemente de peles, de geografias, de religiões, de ideologias ou de estágio civilizacional, nesse conceito em que crescemos e somos.
Tendo presente que o homem põe e deus dispõe, quando começamos uma coisa destas, nunca sabemos se será isso mesmo que construiremos porque a gente que lhe pomos dentro ganha estatura psicológica, moral, cultural e até física, fica com vontades próprias, de si passa a dispor, acabando por desconstruir o desejo e a meta iniciais de quem começou tudo, se alguém pode verdadeiramente começar alguma coisa.
Colocada a palavra fim na última página, e repetido o que se diz sobre o início, se é que alguém pode acabar alguma coisa, o chamado criador volta ao início, junta as peças e tenta descobrir se era aquilo mesmo que queria dizer, ou, se não é, se ao menos lhe acha valor suficiente para o impingir a outros.
E o que me disseste tu pelo telefone, após o fim da sessão de apresentação do livro, em Loures, nessa forma que, de tão franca, às vezes parece até naife, foi "que o livro era aquilo que já havias dito, mais um livro de narrativas sobre a guerra colonial e que tudo o resto, os aviões, as mulheres no Brasil ou no Canadá, ou na Guiné, apenas gajas a quem dávamos umas quecas. A lavadeira Mominato era uma lavadeira igual a todas as lavadeiras a quem pagávamos para lavar roupa e que aviavam uma dúzia de soldados, que tudo isso eram apenas faits divers, de uma trama que, principalmente, era mais um título sobre a guerra colónial".
Palavras injustas sobre a mulher, ainda que apenas sobre a ideia de mulher, com ligeireza ditas, pensei eu, ditas no geral e em abstracto.
Deixando isso para outras passagens, contenhamo-nos sobre a questão que se desatou ali, preocupado que estava com o filho que acabava de dar à luz e medroso de ter falhado na sua criação e do seu futuro.
Passei a noite velando o berço, relendo, voltando ao início, discutindo com aquela gente toda, nas matas e nos campos, nas selvas urbanas, nas esperanças, nas desilusões, nas raivas e nos afectos, tentando pôr-me na pele do receptor, exercício muito difícil para o emissor, senão mesmo impossível.
Seja como for, madrugada alta, adormeci em paz e quando acordei, pensando sobre o assunto, conclui que há uma questão com a qual terei de conviver, equívoco quase inevitável, a ser verdade que não há amor como o primeiro, e que o primeiro se chama Vindimas no Capim, narrativa que sobreviveu à discussão sobre a dúvida se há ou não uma literatura da guerra colonial.
E penso que se sobreviveu, foi mesmo porque, sendo da guerra colonial, da primeira à última página respirando na busca das relações de poder nesta nossa sociedade de então, tentava entender como e porquê os meninos do meu tempo largavam as vindimas da aldeia, se faziam soldados e partiam para longínquas partes do mundo para matar e para morrer, pouco preocupado eu se para isso tinha de falar de casernas e de batalhas.
O equívoco de que aqui te falo tem pelo menos dois ramos, ambos filhos da mesma raiz mas evoluindo em sentidos diferentes e quase opostos.
Aceitemos que há guerra no livro e que nos futuros leitores existem, entre outros, duas classes, uma, que querendo ler de guerra, achará guerra a menos do que esperava, e outra, que, mesmo antes de ler, achava já que seria um livro de guerra, e que, lendo desatento ou desarmado, concluirá da sua certeza prévia, não sendo senão salada verde para disfarçar a escassez do prato, as alegadas gajas.
E que posso eu fazer para evitar isso?
Quase nada, a não ser defender a dama, demonstrar o erro, chamar a atenção para outras picadas que passam por dentro de tanta gente, atravessam mares e continentes e juntam no sentir e nos sonhos homens e mulheres, sejam negros ou brancos, cristãos ou muçulmanos, brancos ou negros, que se acham com direito à dignidade humana, ao respeito, aos bens de sobrevivência, ao amor.
Poderia dizer aqui que Lugares de Passagem é um livro repleto de eus, sem correr o risco de acusações de exagerado umbiguismo, antes ao contrário, porque são eus que não somo em mim, mas em que me divido, criando outros com outros nomes, outros homens, mulheres, gentes de guerra e gentes de paz, cada qual a seu modo preocupado com o seu mundo.
Eus no sentido que Gustave Flaubert deu quando, a perguntas sobre quem era Madame Bovary, respondia simplesmente "c'est moi!".
Não falo de Filipe Bento, nem de Arnaldo de Matos, personagens demasiado evidentes no parentesco. Falo de... Maura, por exemplo, e direi que Maura sou eu também, sem complexos nem preconceitos e na certeza de que não deitei fora essa importante parte que trouxe da barriga da minha mãe. Maura não é senão uma possível Maria ou Mónica ou Sara, ou outro nome de mulher que ajudará turistas a verem melhor a cultura e a história de seu povo, sem que se perca ela própria no colectivo, não apenas personagem, mas pessoa inteira em espírito, cultura e interpretação do mundo que a rodeia e a enforma, e plena também de sonho e de aspirações.
Por exemplo, Rose. Rose em Toronto ou em Montreal ou em Boston, fazendo de sua voz meio de partilhar os mesmos anseios e sonhos de Maura, ou outros que no fundo não são tão diferentes como se possa julgar, apenas desenhadas pelos meios sóciais em que cada uma se fez gente.
Por exemplo, Mominato, lavadeira de roupas de soldados no ambiente de uma situação violenta de combate nas matas da Guiné, erradamente construída se nos ativéssemos apenas à superfície da realidade que lhe conhecêssemos e desprezando-lhe a fundura humana particular, capaz das mesmas alegrias e tristezas, de aspirações e de sonhos que têm Maura e Rose, Filipe ou Arnaldo.
Por exemplo o Xico, que não poderia ser apenas o Xico das conversas, das maluquices, dos trambolhões. Que teria de ser um Xico para além disso, com data de nascimento, com respiração própria, ambiente envolvente e um pensamento que explique a morte, no entendimento da vida e do mundo na sua multiplicidade infinita.
E que gente é essa, todos a quem ponho nome e os outros que aparentemente não passam pelas páginas nem pelas palavras do livro, mas que na verdade quero que aí se encontrem em colóquio amplo?
Quem são eles senão partes de mim próprio?
De um eu uno e múltiplo, tal com tu, e que tal como tu, querem apenas abraçar os outros, iguais e diferentes.
E os soldados que colocamos em plena mata da Guiné, lutando, dormindo em catres pobres, comendo em prato escasso, bebendo dos vinhos adulterados pela ganância de intermediários militares de ocasião, com os medos e as coragens próprias de cada qual e das circunstâncias?
Nasceram soldados e já corajosos ou medrosos?
Não eram gente antes da instrução militar? Gente que sonhava futuros tal qual Helena em Copacabana ou o Filipe nas vinhas de Alenquer?
E quando matavam, tornavam-se apenas assassinos, ou quando eram mortos apenas mártires?
E os que os viam morrer não morriam também de algum modo, em partes de si que ainda hoje se reconhecem nas suas vidas?
E eu que vi morrer alguns e que aparentemente regressei vivo e inteiro, que partes de mim morreram neles e que outras partes nasceram com a sua morte?
Faits divers disseste que eram toda essa gente, cenário apenas para justificar os tiros que damos no livro.
E eu julgo que te enganas e que deves reler tudo de novo, demorando-te a pensar em cada uma dessas gajas e gajos, observando-os um pouco mais fundo do que nessa literatura que tanto aparece por aí, legitimamente aparecendo porque todos nós, no fundo, ambicionamos escrever um livro, ou, pior, naquela que se vende aos milhares porque não obriga a pensar e nos dá um mundo já entendido em tons de rosa.
*Sterea
amiga e magnífica poetisa
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 7 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7564: Agenda cultural (99): Lugares de Passagem, de José Brás: Apresentação hoje, 6ª feira, 7, às 18h30, no Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Av Gago Coutinho, 90, Lisboa
Meu amigo
Se entenderes que cabe, podes editar porque foi para o publicar que escrevi
Um abraço
José Brás
Lugares de Passagem
Carta aberta a um amigo
Às vezes
as palavras falam
do que não sabem*
Às vezes as palavras são apenas sons que soltamos, espontâneas e sem sentido, inexplicáveis senão na reacção a um primeiro olhar sobre as coisas;
às vezes as palavras contam apenas do sentimento construído antecipadamente sobre a realidade que prevemos se confirme;
às vezes as palavras, mesmo que ditas num sentido circunscrito e na melhor das intenções, espelham apenas a pressa, a falta de tempo ou de ferramentas para uma análise mais aprofundada dessa realidade;
às vezes as palavras são também balas concretas, carregadas de justiça e de lógica, impiedosas apenas enquanto expressão obrigatória de uma exemplar honestidade intelectual e moral que não pode abrigar amizades nem abraços.
Sei, tenho a mais absoluta certeza, que foi sob este último guarda-chuva que falaste no dia da apresentação do Lugares de Passagem, em Loures.
Contudo, creio também, que ao dizê-lo não te livraste dessas tais circunstâncias e condições de que falo mais acima, fechando a tua análise apenas num aspecto que, como repito, conta apenas um sentimento prévio que se confirma como esperável.
Sem deitar fora esse sentimento nobre da honestidade e da franqueza, coisas que quase só podemos ter mesmo com amigos, terei de dizer-te que, nessa fala, acabaste por encurtar a tua capacidade de analisar, quase como esse médico que, de tanto conhecer um doente, diagnostica de rotina e, um dia, erradamente.
Mudando de ritmo e de emoção...
Sobre este meu livro Lugares de Passagem, alguns amigos me perguntaram já, e outros afirmaram mesmo sem perguntas nem leitura, se (que) é mais uma narrativa da ou sobre a guerra colonial.
Alguma razão terão, pelo menos as perguntas, recordando o livro anterior, Vindimas no Capim.
Perguntando, ou em voo rasante, afirmando, confesso que me deixaste apreensivo porque eu não havia querido escrever um livro sobre a guerra colonial, aliás, mesmo sobre qualquer outro motivo circunscrito, mas sim um livro sobre gente, sobre sentimentos, sobre ânsias e sonhos dessa gente que se espalha pelo globo e que julgo ter conhecido nas minhas andanças por esses lugares de passagem, que, sendo-o, lugares de passagem, nunca o foram só, mas antes lugares de osmose, de troca desses sonhos e da comum ânsia de felicidade que nos dá formas a todos, indiferentemente de peles, de geografias, de religiões, de ideologias ou de estágio civilizacional, nesse conceito em que crescemos e somos.
Tendo presente que o homem põe e deus dispõe, quando começamos uma coisa destas, nunca sabemos se será isso mesmo que construiremos porque a gente que lhe pomos dentro ganha estatura psicológica, moral, cultural e até física, fica com vontades próprias, de si passa a dispor, acabando por desconstruir o desejo e a meta iniciais de quem começou tudo, se alguém pode verdadeiramente começar alguma coisa.
Colocada a palavra fim na última página, e repetido o que se diz sobre o início, se é que alguém pode acabar alguma coisa, o chamado criador volta ao início, junta as peças e tenta descobrir se era aquilo mesmo que queria dizer, ou, se não é, se ao menos lhe acha valor suficiente para o impingir a outros.
E o que me disseste tu pelo telefone, após o fim da sessão de apresentação do livro, em Loures, nessa forma que, de tão franca, às vezes parece até naife, foi "que o livro era aquilo que já havias dito, mais um livro de narrativas sobre a guerra colonial e que tudo o resto, os aviões, as mulheres no Brasil ou no Canadá, ou na Guiné, apenas gajas a quem dávamos umas quecas. A lavadeira Mominato era uma lavadeira igual a todas as lavadeiras a quem pagávamos para lavar roupa e que aviavam uma dúzia de soldados, que tudo isso eram apenas faits divers, de uma trama que, principalmente, era mais um título sobre a guerra colónial".
Palavras injustas sobre a mulher, ainda que apenas sobre a ideia de mulher, com ligeireza ditas, pensei eu, ditas no geral e em abstracto.
Deixando isso para outras passagens, contenhamo-nos sobre a questão que se desatou ali, preocupado que estava com o filho que acabava de dar à luz e medroso de ter falhado na sua criação e do seu futuro.
Passei a noite velando o berço, relendo, voltando ao início, discutindo com aquela gente toda, nas matas e nos campos, nas selvas urbanas, nas esperanças, nas desilusões, nas raivas e nos afectos, tentando pôr-me na pele do receptor, exercício muito difícil para o emissor, senão mesmo impossível.
Seja como for, madrugada alta, adormeci em paz e quando acordei, pensando sobre o assunto, conclui que há uma questão com a qual terei de conviver, equívoco quase inevitável, a ser verdade que não há amor como o primeiro, e que o primeiro se chama Vindimas no Capim, narrativa que sobreviveu à discussão sobre a dúvida se há ou não uma literatura da guerra colonial.
E penso que se sobreviveu, foi mesmo porque, sendo da guerra colonial, da primeira à última página respirando na busca das relações de poder nesta nossa sociedade de então, tentava entender como e porquê os meninos do meu tempo largavam as vindimas da aldeia, se faziam soldados e partiam para longínquas partes do mundo para matar e para morrer, pouco preocupado eu se para isso tinha de falar de casernas e de batalhas.
O equívoco de que aqui te falo tem pelo menos dois ramos, ambos filhos da mesma raiz mas evoluindo em sentidos diferentes e quase opostos.
Aceitemos que há guerra no livro e que nos futuros leitores existem, entre outros, duas classes, uma, que querendo ler de guerra, achará guerra a menos do que esperava, e outra, que, mesmo antes de ler, achava já que seria um livro de guerra, e que, lendo desatento ou desarmado, concluirá da sua certeza prévia, não sendo senão salada verde para disfarçar a escassez do prato, as alegadas gajas.
E que posso eu fazer para evitar isso?
Quase nada, a não ser defender a dama, demonstrar o erro, chamar a atenção para outras picadas que passam por dentro de tanta gente, atravessam mares e continentes e juntam no sentir e nos sonhos homens e mulheres, sejam negros ou brancos, cristãos ou muçulmanos, brancos ou negros, que se acham com direito à dignidade humana, ao respeito, aos bens de sobrevivência, ao amor.
Poderia dizer aqui que Lugares de Passagem é um livro repleto de eus, sem correr o risco de acusações de exagerado umbiguismo, antes ao contrário, porque são eus que não somo em mim, mas em que me divido, criando outros com outros nomes, outros homens, mulheres, gentes de guerra e gentes de paz, cada qual a seu modo preocupado com o seu mundo.
Eus no sentido que Gustave Flaubert deu quando, a perguntas sobre quem era Madame Bovary, respondia simplesmente "c'est moi!".
Não falo de Filipe Bento, nem de Arnaldo de Matos, personagens demasiado evidentes no parentesco. Falo de... Maura, por exemplo, e direi que Maura sou eu também, sem complexos nem preconceitos e na certeza de que não deitei fora essa importante parte que trouxe da barriga da minha mãe. Maura não é senão uma possível Maria ou Mónica ou Sara, ou outro nome de mulher que ajudará turistas a verem melhor a cultura e a história de seu povo, sem que se perca ela própria no colectivo, não apenas personagem, mas pessoa inteira em espírito, cultura e interpretação do mundo que a rodeia e a enforma, e plena também de sonho e de aspirações.
Por exemplo, Rose. Rose em Toronto ou em Montreal ou em Boston, fazendo de sua voz meio de partilhar os mesmos anseios e sonhos de Maura, ou outros que no fundo não são tão diferentes como se possa julgar, apenas desenhadas pelos meios sóciais em que cada uma se fez gente.
Por exemplo, Mominato, lavadeira de roupas de soldados no ambiente de uma situação violenta de combate nas matas da Guiné, erradamente construída se nos ativéssemos apenas à superfície da realidade que lhe conhecêssemos e desprezando-lhe a fundura humana particular, capaz das mesmas alegrias e tristezas, de aspirações e de sonhos que têm Maura e Rose, Filipe ou Arnaldo.
Por exemplo o Xico, que não poderia ser apenas o Xico das conversas, das maluquices, dos trambolhões. Que teria de ser um Xico para além disso, com data de nascimento, com respiração própria, ambiente envolvente e um pensamento que explique a morte, no entendimento da vida e do mundo na sua multiplicidade infinita.
E que gente é essa, todos a quem ponho nome e os outros que aparentemente não passam pelas páginas nem pelas palavras do livro, mas que na verdade quero que aí se encontrem em colóquio amplo?
Quem são eles senão partes de mim próprio?
De um eu uno e múltiplo, tal com tu, e que tal como tu, querem apenas abraçar os outros, iguais e diferentes.
E os soldados que colocamos em plena mata da Guiné, lutando, dormindo em catres pobres, comendo em prato escasso, bebendo dos vinhos adulterados pela ganância de intermediários militares de ocasião, com os medos e as coragens próprias de cada qual e das circunstâncias?
Nasceram soldados e já corajosos ou medrosos?
Não eram gente antes da instrução militar? Gente que sonhava futuros tal qual Helena em Copacabana ou o Filipe nas vinhas de Alenquer?
E quando matavam, tornavam-se apenas assassinos, ou quando eram mortos apenas mártires?
E os que os viam morrer não morriam também de algum modo, em partes de si que ainda hoje se reconhecem nas suas vidas?
E eu que vi morrer alguns e que aparentemente regressei vivo e inteiro, que partes de mim morreram neles e que outras partes nasceram com a sua morte?
Faits divers disseste que eram toda essa gente, cenário apenas para justificar os tiros que damos no livro.
E eu julgo que te enganas e que deves reler tudo de novo, demorando-te a pensar em cada uma dessas gajas e gajos, observando-os um pouco mais fundo do que nessa literatura que tanto aparece por aí, legitimamente aparecendo porque todos nós, no fundo, ambicionamos escrever um livro, ou, pior, naquela que se vende aos milhares porque não obriga a pensar e nos dá um mundo já entendido em tons de rosa.
*Sterea
amiga e magnífica poetisa
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 7 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7564: Agenda cultural (99): Lugares de Passagem, de José Brás: Apresentação hoje, 6ª feira, 7, às 18h30, no Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Av Gago Coutinho, 90, Lisboa
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Guiné 63/74 - P7614: Notas de leitura (188): Lugares de Passagem, de José Brás (Mário Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Janeiro de 2011:
Queridos amigos,
Ainda me assaltou uma réstia de pudor, andei a apresentar o livro e agora venho a terreiro mostrá-lo dentro da tabanca. Importa esclarecer que é um belíssimo testemunho, implicitamente convoco todos a lê-lo e a reflectir se não devíamos seguir-lhe as pisadas…
Um abraço do
Mário
Numa sala de espelhos estilhaçados, lembranças de partidas e chegadas
Beja Santos
José Brás ganhou notoriedade no campo das letras, em 1987 com um livro cheio de verdor, originalidade e comoção: “Vindimas no Capim” (Publicações Europa-América, 1987). Escudando-se num alter-ego, Filipe Bento, um homem com mais de 40 anos, nascido na Estremadura, entre vinhedos, rememora a Guiné e outras coisas mais.
Acompanhamo-lo nos preparativos bélicos, este Filipe escreve numa linguagem de caserna, desabafa, é pletórico, não esconde as zangas e até raivas bem direccionadas. A sua circunstância na Guiné andou à volta do mais áspero que havia no Sul, mas sempre a propósito (e sempre que lhe deu na gana a despropósito) veio matar saudades até Alenquer, Vila Franca de Xira e praças afins. Deixou-nos algumas águas fortes indispensáveis para juntar ao puzzle que um dia alguém irá urdir sobre as muitas guerras daquele teatro de operações, já que na guerra colonial qualquer descrição, cruenta, pungente ou até emocional, tem que ser vista à lupa do local, do ano e de algumas contingências fortuitas já que qualquer um daqueles combatentes poderia ter dito sobre a sua guerra o que Ortega y Gasset tinha dito mais de 50 anos antes: “Eu sou eu e a minha circunstância”. Para o caso, José Brás deixou-nos páginas admiráveis da sua infância, da sua vivência em meio telúrico, de uma guerra que começou pelas sortes, pelas escolas de sargentos e culminou nos arredores de Guileje. Depois, José Brás remeteu-se ao silêncio.
Ressurge agora com “Lugares de Passagem”. Não regressa à Guiné, na plenitude, mas não esconde as memórias bem sulcadas. “Não é um livro de contos, não é um romance, não sei se é o que quer que seja, a tal viagem de partidas e chegadas aparentemente desligadas umas das outras mas que o leitor ligará por invisível fio paralelo e exterior, segundo a leitura de cada um, como se insinua nas apresentações iniciais”. Assim se refere a este regresso de Filipe Bento que desta feita até se disfarça de outros nomes só para apoquentar e muitas vezes desorientar o leitor incauto: “Lugares de Passagem”, por José Brás, Chiado Editora, 2010. É uma narrativa caudalosa, se houvesse que encontrar enquadramento literário chamar-se-ia “roman fleuve”, é uma torrente líquida de visões, de memórias, viaja-se por dentro da gente, um sexagenário disfarçado de diferentes múltiplos tem muito que contar sobre tantos lugares e até não lugares por onde cada um de nós passa. Algumas das páginas mais admiráveis ficam condicionadas à experiência da guerra da Guiné. Não é por acaso que o livro é dedicado ao Luís Graça, criador do mais importante blogue sobre a guerra da Guiné, “Luís Graça & Camaradas da Guiné”. Como é inevitável nestes relatos, homenageiam-se camaradas e feitos tidos por improváveis, naturalmente imprevisíveis. Oiçamo-lo, logo no arranque de tanta rememoração:
“Era um tipo de bom talhe físico, exuberante em trejeitos e maneiras de falar, assim como… como costumamos chamar de femininas, esquecendo que dentro de cada homem, mais nuns que noutros, existe sempre, também, uma parte da mãe que nos pariu.
Os soldados logo ali se reuniam em cochichos e olhares de lado, risinhos abafados, e tal.
Aí a meia viagem, sei lá, a uns cinquenta metros, se tanto, de uma ligeira curva à esquerda, as rajadas estoiraram no coração de cada um.
O Unimog da frente, directamente atingido por fogo feito a poucos metros, chupa com uma rajada em cheio, começa a travar, sai da estrada e mobiliza-se logo ali, ligeiramente atravessado, ligeiramente inclinado em pranchamento à direita mas ainda com parte da carroçaria na estrada.
Dos ocupantes da cabine, um alferes apanhou com três balas na perna, um soldado negro da Aldeia Formosa que havia apanhado boleia no DO só para vir matar saudades que tinha da malta, leva também a sua conta, dois soldados mortos na carroçaria, um que nem chegou a levantar-se, tendo caído de imediato sobre umas baterias que viajavam connosco para substituições, outro que se levanta, é atingido e malha no pó ainda antes da paragem da viatura.
O Cabo Calçada é apanhado já em pleno salto. Uma rajada nas costas que lhe há-de levar a maior parte de um pulmão, deixa-o também fora de combate.
Isto tudo passa-se em menos de um ai, por assim dizer, que nestas cenas, soldados sentados no duplo banco corrido da carroçaria de um Unimog, têm molas nas pernas e não iriam esperar que a viatura parasse para comodamente dela descerem. O fundamental é que aquele Cabo Enfermeiro mostrou a serenidade devida, o arrojo inesperado. E quem dele cochichava passou a admirá-lo.
São lugares de tensão e emoção, voltamos à Estremadura depois até temos uma profissão, no caso em apreço o antigo combatente passa a comissário de bordo, percorre mundo, torna-se sindicalista, até foi dinamizador cultural, fez teatro, andou por actividades autárquicas, e por aí anda, activo, depois de ter sido instrutor de voo, lá para o Alentejo, onde está radicado. Com a idade, lança-se mais as contas à vida, há raivas que não se digerem, há injustiças que não se silenciam, há choros que não se querem conter. Comparativamente às “Vindimas no Capim”, o estilo é mais enxuto mas não menos retórico, é profundamente lírico, e, coisa curiosa, as dores da Guiné ali estão todas, nos rigores da cartografia, dos nomes dos camaradas, dos dias e das horas da provação. No outono, o autor recorda-nos aquele princípio inabalável que vem no ditado popular: “eu sou devedor à Terra/ a Terra me está devendo/ a Terra paga-me em vida/ eu pago à Terra em morrendo”. É um comentário sereno, em jeito de balanço. Porque se a ficção existe ela é menos contagiosa, muito menos exaltante que todos os lugares de passagem que deram fermento à nossa infância, à nossa guerra, aos nossos amores, a todos os aviões por onde viajámos, entre todos os aeroportos do mundo. José Brás fez bem em regressar. Há mais mundo depois da guerra da Guiné. Mas é tocante que ela não tenha perdido lugar na circunstância de todos os lugares de passagem deste autor.
__________
Notas de CV:
Vd. poste de 12 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7596: Lugares de passagem, de José Brás (2): Amigos e camarigos presentes na sessão de lançamento, em Loures, 6 de Janeiro de 2011
Vd. último poste da série de 13 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7607: Notas de leitura (187): Os Portugueses na Guiné, de Mário Matos e Lemos (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Ainda me assaltou uma réstia de pudor, andei a apresentar o livro e agora venho a terreiro mostrá-lo dentro da tabanca. Importa esclarecer que é um belíssimo testemunho, implicitamente convoco todos a lê-lo e a reflectir se não devíamos seguir-lhe as pisadas…
Um abraço do
Mário
Numa sala de espelhos estilhaçados, lembranças de partidas e chegadas
Beja Santos
José Brás ganhou notoriedade no campo das letras, em 1987 com um livro cheio de verdor, originalidade e comoção: “Vindimas no Capim” (Publicações Europa-América, 1987). Escudando-se num alter-ego, Filipe Bento, um homem com mais de 40 anos, nascido na Estremadura, entre vinhedos, rememora a Guiné e outras coisas mais.
Acompanhamo-lo nos preparativos bélicos, este Filipe escreve numa linguagem de caserna, desabafa, é pletórico, não esconde as zangas e até raivas bem direccionadas. A sua circunstância na Guiné andou à volta do mais áspero que havia no Sul, mas sempre a propósito (e sempre que lhe deu na gana a despropósito) veio matar saudades até Alenquer, Vila Franca de Xira e praças afins. Deixou-nos algumas águas fortes indispensáveis para juntar ao puzzle que um dia alguém irá urdir sobre as muitas guerras daquele teatro de operações, já que na guerra colonial qualquer descrição, cruenta, pungente ou até emocional, tem que ser vista à lupa do local, do ano e de algumas contingências fortuitas já que qualquer um daqueles combatentes poderia ter dito sobre a sua guerra o que Ortega y Gasset tinha dito mais de 50 anos antes: “Eu sou eu e a minha circunstância”. Para o caso, José Brás deixou-nos páginas admiráveis da sua infância, da sua vivência em meio telúrico, de uma guerra que começou pelas sortes, pelas escolas de sargentos e culminou nos arredores de Guileje. Depois, José Brás remeteu-se ao silêncio.
Ressurge agora com “Lugares de Passagem”. Não regressa à Guiné, na plenitude, mas não esconde as memórias bem sulcadas. “Não é um livro de contos, não é um romance, não sei se é o que quer que seja, a tal viagem de partidas e chegadas aparentemente desligadas umas das outras mas que o leitor ligará por invisível fio paralelo e exterior, segundo a leitura de cada um, como se insinua nas apresentações iniciais”. Assim se refere a este regresso de Filipe Bento que desta feita até se disfarça de outros nomes só para apoquentar e muitas vezes desorientar o leitor incauto: “Lugares de Passagem”, por José Brás, Chiado Editora, 2010. É uma narrativa caudalosa, se houvesse que encontrar enquadramento literário chamar-se-ia “roman fleuve”, é uma torrente líquida de visões, de memórias, viaja-se por dentro da gente, um sexagenário disfarçado de diferentes múltiplos tem muito que contar sobre tantos lugares e até não lugares por onde cada um de nós passa. Algumas das páginas mais admiráveis ficam condicionadas à experiência da guerra da Guiné. Não é por acaso que o livro é dedicado ao Luís Graça, criador do mais importante blogue sobre a guerra da Guiné, “Luís Graça & Camaradas da Guiné”. Como é inevitável nestes relatos, homenageiam-se camaradas e feitos tidos por improváveis, naturalmente imprevisíveis. Oiçamo-lo, logo no arranque de tanta rememoração:
“Era um tipo de bom talhe físico, exuberante em trejeitos e maneiras de falar, assim como… como costumamos chamar de femininas, esquecendo que dentro de cada homem, mais nuns que noutros, existe sempre, também, uma parte da mãe que nos pariu.
Os soldados logo ali se reuniam em cochichos e olhares de lado, risinhos abafados, e tal.
Aí a meia viagem, sei lá, a uns cinquenta metros, se tanto, de uma ligeira curva à esquerda, as rajadas estoiraram no coração de cada um.
O Unimog da frente, directamente atingido por fogo feito a poucos metros, chupa com uma rajada em cheio, começa a travar, sai da estrada e mobiliza-se logo ali, ligeiramente atravessado, ligeiramente inclinado em pranchamento à direita mas ainda com parte da carroçaria na estrada.
Dos ocupantes da cabine, um alferes apanhou com três balas na perna, um soldado negro da Aldeia Formosa que havia apanhado boleia no DO só para vir matar saudades que tinha da malta, leva também a sua conta, dois soldados mortos na carroçaria, um que nem chegou a levantar-se, tendo caído de imediato sobre umas baterias que viajavam connosco para substituições, outro que se levanta, é atingido e malha no pó ainda antes da paragem da viatura.
O Cabo Calçada é apanhado já em pleno salto. Uma rajada nas costas que lhe há-de levar a maior parte de um pulmão, deixa-o também fora de combate.
Isto tudo passa-se em menos de um ai, por assim dizer, que nestas cenas, soldados sentados no duplo banco corrido da carroçaria de um Unimog, têm molas nas pernas e não iriam esperar que a viatura parasse para comodamente dela descerem. O fundamental é que aquele Cabo Enfermeiro mostrou a serenidade devida, o arrojo inesperado. E quem dele cochichava passou a admirá-lo.
São lugares de tensão e emoção, voltamos à Estremadura depois até temos uma profissão, no caso em apreço o antigo combatente passa a comissário de bordo, percorre mundo, torna-se sindicalista, até foi dinamizador cultural, fez teatro, andou por actividades autárquicas, e por aí anda, activo, depois de ter sido instrutor de voo, lá para o Alentejo, onde está radicado. Com a idade, lança-se mais as contas à vida, há raivas que não se digerem, há injustiças que não se silenciam, há choros que não se querem conter. Comparativamente às “Vindimas no Capim”, o estilo é mais enxuto mas não menos retórico, é profundamente lírico, e, coisa curiosa, as dores da Guiné ali estão todas, nos rigores da cartografia, dos nomes dos camaradas, dos dias e das horas da provação. No outono, o autor recorda-nos aquele princípio inabalável que vem no ditado popular: “eu sou devedor à Terra/ a Terra me está devendo/ a Terra paga-me em vida/ eu pago à Terra em morrendo”. É um comentário sereno, em jeito de balanço. Porque se a ficção existe ela é menos contagiosa, muito menos exaltante que todos os lugares de passagem que deram fermento à nossa infância, à nossa guerra, aos nossos amores, a todos os aviões por onde viajámos, entre todos os aeroportos do mundo. José Brás fez bem em regressar. Há mais mundo depois da guerra da Guiné. Mas é tocante que ela não tenha perdido lugar na circunstância de todos os lugares de passagem deste autor.
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Notas de CV:
Vd. poste de 12 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7596: Lugares de passagem, de José Brás (2): Amigos e camarigos presentes na sessão de lançamento, em Loures, 6 de Janeiro de 2011
Vd. último poste da série de 13 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7607: Notas de leitura (187): Os Portugueses na Guiné, de Mário Matos e Lemos (Mário Beja Santos)
sábado, 5 de março de 2011
Guiné 63/74 - P7900: Agenda cultural (113): Apresentação de Lugares de Passagem, de José Brás, sábado, 12 de Março de 2011, pelas 16h30, na Livraria Fonte das Letras em Montemor-o-Novo
Leva-se ao conhecimento da tertúlia mais uma apresentação do livro Lugares de Passagem, do nosso camarada José Brás, desta vez na sua terra natal (ou melhor, adoptativa), Montemor O Novo, no próximo dia 12 de Março de 2011, sábado, pelas 16h30, na Livraria Fonte das Letras, Rua das Flores, em Montemor-o-Novo.
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Notas de CV:
Vd. postes de:
7 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7564: Agenda cultural (99): Lugares de Passagem, de José Brás: Apresentação hoje, 6ª feira, 7, às 18h30, no Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Av Gago Coutinho, 90, Lisboa
11 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7588: Lugares de Passagem, de José Brás (1): Carta aberta a um amigo (José Brás)
12 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7596: Lugares de passagem, de José Brás (2): Amigos e camarigos presentes na sessão de lançamento, em Loures, 6 de Janeiro de 2011
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14 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7614: Notas de leitura (188): Lugares de Passagem, de José Brás (Mário Beja Santos)
Vd. último poste da série de 3 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7891: Agenda cultural (112): Convite para o lançamento de Mulher Grande de Mário Beja Santos, no próximo dia 10 de Março de 2011, pelas 18h30 na Livraria Bertrand Chiado
CONVITE
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Notas de CV:
Vd. postes de:
7 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7564: Agenda cultural (99): Lugares de Passagem, de José Brás: Apresentação hoje, 6ª feira, 7, às 18h30, no Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Av Gago Coutinho, 90, Lisboa
11 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7588: Lugares de Passagem, de José Brás (1): Carta aberta a um amigo (José Brás)
12 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7596: Lugares de passagem, de José Brás (2): Amigos e camarigos presentes na sessão de lançamento, em Loures, 6 de Janeiro de 2011
e
14 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7614: Notas de leitura (188): Lugares de Passagem, de José Brás (Mário Beja Santos)
Vd. último poste da série de 3 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7891: Agenda cultural (112): Convite para o lançamento de Mulher Grande de Mário Beja Santos, no próximo dia 10 de Março de 2011, pelas 18h30 na Livraria Bertrand Chiado
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Guiné 63/74 - P7547: Agenda Cultural (97): Para não esquecer a apresentação do livro Lugares de Passagem, de José Brás, dia 6 de Janeiro de 2010, pelas 18 horas na Biblioteca José Saramago, em Loures
1. Mensagem de José Brás (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 2 de Janeiro de 2011:
Bom dia Carlos
Um bom ano para ti e para os teus (os amigos também são)
Como estamos em cima da apresentação do Lugares de Passagem, junto-te aqui o convite para a rapaziada que esteja disponível, com vontade e com meios para vir aqui num dos dias, bem como alguma informação para entrada em Loures, porque é um dia de semana e a via rápida do Lumiar está em obras de alargamento, é um caos de evitar, sendo preferível sair de Lisboa pelo Ralis, acesso à Vasco da Gama e à esquerda, túnel do Grilo descendo até entrar na via rápida referida mas no sentido de Lisboa, encostado à direita para sair no sentido Odivelas e Caneças, subir, passar as saídas de Odivelas e Ramada e mesmo no topo, sair `*a direita Caneças-Loures, na rotunda virar para Loures sempre a descer e sem se enganar com a entrada da Zona Comercial, seguir indicações e já em baixo, numa recta entre vivendas, virar à esquerda, rotunda e a biblioteca está mesmo ali.
Para quem entra em Loures pela A8 ou da zona de Alverca, ou de Bucelas, ou da estrada da Malveira, sobe mesmo junto ao edifício da Câmara até encontrar o mesmo que já foi indicado para os outros.
Penso que esta explicação será suficiente para dar com o sítio.
Obrigado, meu amigo
Um abraço
José Brás
Convite para assistir à apresentação do livro "LUGARES DE PASSAGEM", de José Brás, a ter lugar no dia 6 de Janeiro de 2011, às 18 horas, na Biblioteca José Saramago, em Loures
__________
Nota de CV:
Vd. poste de 22 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7490: Agenda Cultural (96): Apresentação do livro Lugares de Passagem, de José Brás, dia 6 de Janeiro de 2010, pelas 18 horas na Biblioteca José Saramago, em Loures
Bom dia Carlos
Um bom ano para ti e para os teus (os amigos também são)
Como estamos em cima da apresentação do Lugares de Passagem, junto-te aqui o convite para a rapaziada que esteja disponível, com vontade e com meios para vir aqui num dos dias, bem como alguma informação para entrada em Loures, porque é um dia de semana e a via rápida do Lumiar está em obras de alargamento, é um caos de evitar, sendo preferível sair de Lisboa pelo Ralis, acesso à Vasco da Gama e à esquerda, túnel do Grilo descendo até entrar na via rápida referida mas no sentido de Lisboa, encostado à direita para sair no sentido Odivelas e Caneças, subir, passar as saídas de Odivelas e Ramada e mesmo no topo, sair `*a direita Caneças-Loures, na rotunda virar para Loures sempre a descer e sem se enganar com a entrada da Zona Comercial, seguir indicações e já em baixo, numa recta entre vivendas, virar à esquerda, rotunda e a biblioteca está mesmo ali.
Para quem entra em Loures pela A8 ou da zona de Alverca, ou de Bucelas, ou da estrada da Malveira, sobe mesmo junto ao edifício da Câmara até encontrar o mesmo que já foi indicado para os outros.
Penso que esta explicação será suficiente para dar com o sítio.
Obrigado, meu amigo
Um abraço
José Brás
Convite para assistir à apresentação do livro "LUGARES DE PASSAGEM", de José Brás, a ter lugar no dia 6 de Janeiro de 2011, às 18 horas, na Biblioteca José Saramago, em Loures
Como chegar
CONVITE
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Nota de CV:
Vd. poste de 22 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7490: Agenda Cultural (96): Apresentação do livro Lugares de Passagem, de José Brás, dia 6 de Janeiro de 2010, pelas 18 horas na Biblioteca José Saramago, em Loures
segunda-feira, 21 de março de 2022
Guiné 61/74 - P23098: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (22): Lugares da Guiné
Carta Geral da Província da Guiné
© Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
1. Em mensagem do dia 18 de Março de 2022, o nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71), lembra os locais da Guiné por onde peregrinou.
RECORDAÇÕES DA CART 2520
22 - LUGARES DA GUINÉ
A CART 2520 enquanto sediada no Xime exerceu uma grande actividade fora do arame farpado, tanto a nível de Companhia ou de pelotão e conjuntamente com a CCAÇ 12 e os Pelotões de Caçadores Nativos 52 e 54, originando para os operacionais um enorme trabalho e também um grande desgaste físico e psicológico. O 3.º pelotão a que pertenci, percorreu praticamente todos os cantos, trilhos e picadas da zona operacional. Por mero acaso fui tomando alguns apontamentos numa pequena pasta onde guardava a minha correspondência e que actualmente a conservo quase religiosamente.
A partir destes curiosos apontamentos, da minha memória e com recurso à carta do Xime e de outros locais, elaborei uma lista que vou partilhar com os camaradas da nossa Grande Tabanca, ou melhor, da Tabanca Grande, dos lugares da Guiné por onde andei, incluindo também os lugares da segunda fase da nossa passagem pelo Ultramar quando a nossa Companhia assentou arraiais em Quinhamel:
Bissau - Início da comissão em 30 de Maio de 1969, alguns dias. Em Junho e Julho de 1970 várias vezes e em Março de 1971
Brá - Primeiras dormidas na Guiné antes da partida para o Xime
Xime - Base da CART 2520 durante o 1.º ano, Junho de 1969 a Junho de 1970
Bambadinca - Um sem número de deslocações com a finalidade de alguns reabastecimentos, ir buscar e levar correio e outros serviços
Mansambo - Primeiras 3 semanas para o treino operacional com o 3.º pelotão
Bafatá - Várias idas com a finalidade do Vaguemestre comprar vacas para nossa alimentação
Ponte Rio Udunduma - Por inúmeras vezes como mini destacamento e de passagem para Bambadinca
Enxalé - Mais de dois meses como destacamento e para segurança da população
Finete - Patrulhamento até ao Enxalé
Mato de Cão - Patrulhamento a partir de Finete até ao Enxalé
Mato Madeira - No percurso entre Finete e Enxalé
Malandim - Zona do Enxalé, patrulhamento
Gambana - Nas proximidades do Enxalé, patrulhamento
Madina Colhido - Inúmeros patrulhamentos e montagem de emboscadas e de seguranças aos barcos que passavam no rio Geba
Ponta Varela - Em operações
Ponta do Inglês - Três passagens em Operações
Foz do Corubal - Uma passagem em Operação
Ponta Coli - Dezenas de seguranças para a passagem de colunas da nossa Companhia e de outros militares
Ponta Luís Dias - Passagem durante Operação
Mouricanhe - Em Operação
Chacali - Em patrulhamento
Chicamiel - Em Operação
Poidon - Em patrulhamentos
Háfio - Em operações
Darsalame/Baio - Em Operações
Buruntoni - Em Operações
Colicumbel - Em patrulhamentos
Lantar - Proximidades do Xime em patrulhamentos
S. Belchior - Em operações
Malafo - Patrulhamento
Bissilão - Em Operações
Gundagué Beafada -Em operações
Amedalai - Ponto de passagem obrigatório para colunas a Bambadinca
Samba Silate - Em patrulhamento, passando por Amedalai
Taibatá - Colunas de apoio à população
Demba Taco - Colunas de apoio à população
Quinhamel - Base da CART 2520, tendo divergido para Safim, João Landim e posteriormente para o Biombo
Safim - Base do 3.º pelotão - Junho, Julho e parte de Agosto de 1970
João Landim - Permanência de dois meses com uma secção
Nhacra - Breve passagem
Biombo/Ondame - Entre Setembro de 1970 e Março de 1971 como destacamento
Blom - Tabanca nas proximidades do Biombo
Blimblim - Tabanca nas proximidades do Biombo
Dorce - Tabanca nas proximidades do Biombo
Ponta Biombo - Patrulhamentos e momentos de descontração
Ilondé - De passagem
São Vicente da Mata - De passagem
Cais de Pigiguidi - Chegada a Bissau e "Adeus Guiné"
José Nascimento
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Nota do editor
Último poste da série de 23 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22311: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (21): Martins, o caçador de rolas
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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Guiné 63/74 - P7596: Lugares de passagem, de José Brás (2): Amigos e camarigos presentes na sessão de lançamento, em Loures, 6 de Janeiro de 2011
Loures > Biblioteca José Saramago > 6 de Janeiro de 2011 > Lançamento do livro do José Brás, Lugares de Passagem (Lisboa, Chiado Editora, 2010) > Constituição da mesa, da esquerda para a direita: Mário Beja Santos, José Brás, Carlos Teixeira, Vitor Ramalho e Luís Graça...
Loures > Biblioteca José Saramago > 6 de Janeiro de 2011 > Lançamento do livro do José Brás > Da esquerda para a direita: José Brás, Carlos Teixeira (presidente da CM Loures, eleito pelo PS) e Vitor Ramalho (antigo deputado do PS, antigo secretário de Estado, especialista em direito do trabalho)... No final da sessão, o Carlos Teixeira, natural de Cinfães, conm 53 anos, evocou emocionado os tempos em que o seu pai, militar da carreira, andou pelos vários teatros de operações (foi nomeadamente 1º sargento da CCAÇ 13, em Bissorã, no tempo do nosso Carlos Fortunato, ou seja, no meu tempo, 1969/71)...
O Zé Brás que foi também, em tempos (1981-1985) presidente da junta de freguesia de Loures, teve apoio, para a edição do seu livro, da Câmara Municipal de Loures, dos Serviços Municipalizados de Loures e da Caixa de Crédito Agrícola de Loures. A obra tem a chancela da Chiado Editora
Loures > Biblioteca José Saramago > 6 de Janeiro de 2011 > Sessão de lançamento do livro do José Brás > Coube ao nosso especialista em literatura da guerra colonial na Guiné, Beja Santos, a apresentação da obra ...
Loures > Biblioteca José Saramago > 6 de Janeiro de 2011 > Sessão de lançamento do livro do José Brás > O momento sempre esperado e solene do ansiado autógrafo > Na foto o autor e o nosso cartógrafo-mor Humberto Reis...
Loures > Biblioteca José Saramago > 6 de Janeiro de 2011 > Sessão de lançamento do livro do José Brás > O Zé e um amigo que não consegui identificar, provavelmente um antigo colega da TAP ou das lides sindicais ou da gestão autárquica... O Zé Brás foi Fur Mil Trms, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68).
Loures > Biblioteca José Saramago > 6 de Janeiro de 2011 > Sessão de lançamento do livro do José Brás > Diz o Francisco Godinho (CCaç 2753), de Moura, Baixo Alentejo (à esquerda, com o Beja Santos à direita): "O camarada e conterrâneo (meu) que te apresentei (...) chama-se Luís Murta, confirmo que foi Fur Mil Cav e pertenceu à CCav do Cap Sentieiro [, CCAV 2485], esteve em Bula,Teixeira Pinto e creio que ocasionalmente no Cacheu. Já falei com ele hoje (...), renovei-lhe o pedido de adesão à nossa Tabanca, e ele garantiu-me que o vai efectivar" (...).
Loures > Biblioteca José Saramago > 6 de Janeiro de 2011 > Sessão de lançamento do livro do José Brás > O nosso querido camarigo Zé Martins (à direita) aproveitou a ocasião, antes do início da sessão, para me apresentar pessoalmente a Maria Teresa Almeida (funcionária da Liga dos Combatentes há quse 3 décadas), que nos trata a todos por "queridos": é um caso espantoso de dedicação à(s) causa(s) dos ex-conbatentes... e adora o nosso blogue...
Loures > Biblioteca José Saramago > 6 de Janeiro de 2011 > Sessão de lançamento do livro do José Brás > O Zé Zeferino e Zé Vermelho (que desta vez é que me garantou que ia pedir formalmente a entrada no blogue)
Loures > Biblioteca José Saramago > 6 de Janeiro de 2011 > Sessão de lançamento do livro do José Brás > Aposto que o nosso camarigo José Zeferino (ex-Alf Mil At Inf, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74) está a um dos flash, do livro do Zé Brás, do mais puro e delicioso realismo mágico em que se evoca da viagem, de noite, de Almeida Formosa ao Xitole para se ir buscar o médico... A meio a da viagem, perto de Contabane, a GMC avaria-se e é preciso regressar a Aldeia, de BICICLETA (!!!), pedida emprestada ao régulo Sambeli, para te trazer uma viatura de substituição... (pp. 141/146).
Fotos: © Alice Carneiro / Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados
Legendas: L.G.
___________
Nota de L.G.:
Último poste desta série > 11 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7588: Lugares de Passagem, de José Brás (1): Carta aberta a um amigo (José Brás)
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Guiné 63/74 - P7564: Agenda cultural (99): Lugares de Passagem, de José Brás: Apresentação hoje, 6ª feira, 7, às 18h30, no Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Av Gago Coutinho, 90, Lisboa
Capa e contra-capa do livro do nosso camarigo Jose Brás, Lugares de passagem, editado pela Chiado Editora, Lisboa, 2010, 191 pp., e ontem apresentado em Loures, na Biblioteca Municipal José Saramago. Na mesa, estiveram prtesentes, além do presidente da edilidade, Carlos Morgado, amigos e camarigos do Zé, como o Vitor Ramalho, conhecido especialista na área do direito do trabalho, além de mim, Luís Graça, em representação da nossa Tabanca Grande, e do Mário Beja Santos a quem coube fazer a apresentação da obra. O autor, que naturalmente estava presente e feliz, contou com a camaradagem, amizade e camaridagem de algumas dezenas de leitores que se deslocaram, em noite de invernia, à Biblioteca José Saramago, cujo acesso não é fácil...para quem vem de fora de Loures.
1. Recorde-se que o José Brás foi Fur Mil Trms, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), está connosco desde Janeiro de 2009. Esteve profissionalmente ligado à aviação comercial, além de ter sido sindicalista e autarca.
Hoje haverá uma nova apresentação do livro no Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Av Gago Coutinho, 90, Lisboa, às 18h30, para a qual também estão convidados todos os nossos camaradas, amigos e camarigos, e demais leitores do blogue. Ao Zé desejamos o melhor sucesso para este seu segundo livro.
Recorde-se que o Zé Brás é autor de um dos mais importantes e pioneiros romances sobre a guerra colonial, publicados na década de 1980, a obra Vindimas no Capim, Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura. Com chancela da Europa-América, venderam-se mais de 30 mil exemplares, o que é absolutamente notável no nosso pequeno mercado livreiro.
No V Encontro Nacional da nossa Tabanca Grande, em Monte Real, 26 de Junho de 2010, o Zé mais o seu Gupo do Cadaval (Belarmino Sardinha, Vasco da Gama, Hélder Sousa, José Dinis e Jorge Rosales) aproveitaram a circunstância (a presença de centena e meia de convivas) para homenagear o nosso blogue, na pessoa do seu fundador, da sua equipa editorial e dos demais colaboradores. Esse texto, na altura lido pelo Belarmino Sardinha, vem agora reproduzido no livro (pp. 7-9). Tomo a liberdade de o reproduzir aqui, com a devida vénia ao autor e à editora, e com um abraço a todo o grupo. E naturalmente agradecer, mais uma vez, em público essa homenagem ao blogue que já não é de (embora fundado por) o Luís Graça: chama-se Luís Graça & Camaradas da Guiné.
Encontrar-nos-emos mais logo, no auditório do SNPVAC, por volta das 18h. Quanto á recensão do livro e ás fotos e aos vídeos de ontem, ficarão naturalmente para mais tarde. Agora vamos festejar o feito que é sempre a escrita e o lançamento de um livro de um camarada nosso, onde estamos todos retratados enquanto caminhantes de muitos caminhos desta vida, incluindo as picadas e os trilhos das matas da Guiné, em tempo de guerra, bem como as pontes e demais lugares de passagem que temos vindo a construir, das memórias aos afectos... (LG)
2. A dedicatória ao nosso blogue começa com esta quadra:
"É rica, tem nome fino,/ É pobre, tem nome grosso, / É rica, teve um menino, / É pobre, pariu um moço" (Célebre quadra de Manuel António Castro, vila de Cuba, Alentejo, 1885.). O livro tem também uma um belíssimo prefácio do António Loja, madeirense, que foi Cap Mil da CCAÇ 1622, e já aqui reproduzido.
Capa original da autoria de Cátia Brás, filha do José Brás, artista plástica, autor do blogue Sonhos a Pincel, assistente de bordo, enfim, uma mulher de talentos...
quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
Guiné 63/74 - P14004: In Memoriam (209): Armandino Marcílio Vilas Alves (1944-2014), ex-1.º Cabo Aux Enf.º da CCAÇ 1589 (Guiné, 1966/68)
IN MEMORIAM
Armandino Marcílio Vilas Alves (1944-2014)
ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 1589 (Guiné, 1966/68)
Foi o camarada Manuel Coelho quem nos deu a triste notícia. Por impossibilidade de contactar a família, telefonámos para a Junta de Freguesia de Baguim do Monte - Gondomar, que confirmou o falecimento, no passado dia 4 de Novembro, do nosso camarada Armandino Alves que teria completado 70 anos no dia 9 do corrente mês de Dezembro.
Porque estamos sempre a tempo de lembrar e homenagear postumamente os camaradas que nos vão deixando, aqui fica a notícia do infausto acontecimento.
A tertúlia envia à família enlutada o mais sentido pesar.
Armandino Alves, quando em 2010 reencontrou o seu ex-Comandante, o agora Coronel Ref Henrique Victor Guimarães Perez Brandão
Armandino Alves deixa no nosso, e seu, Blogue, sinais da sua passagem pela Guiné. Aqui fica uma listagem dos postes que consideramos mais significativos por lembrarem lugares de passagem e descreverem memórias de um tempo já longínquo.
Armandino Alves estava connosco desde Junho de 2009.
Até um dia camarada.
Os editores.
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Notas do editor:
Vd. postes de:
5 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4464: Tabanca Grande (149): Armandino Alves, ex-1.º Cabo Aux de Enfermeiro da CCAÇ 1589, Guiné 1966/68
6 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4468: Memória dos lugares (28): Beli e Madina do Boé, CCAÇ 1589, 1966/68 (Armandino Alves)
9 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4485: Memória dos lugares (29): Beli e Madina do Boé, CCAÇ 1589, 1966/68 (Armandino Alves)
11 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4510: Memória dos lugares (31): Fá Mandinga, CCAÇ. 1589 (1966/68) (Armandino Alves)
14 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4518: Controvérsias (19): Sob a evacuação das NT de Madina do Boé (Armandino Alves)
15 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4533: Controvérsias (20): A minha análise pessoal do desastre com a jangada no Cheche, na retirada de Madina do Boé (Armandino Alves)
16 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4536: Memória dos lugares (31): Béli, CCAÇ. 1589 (1966/68) (Armandino Alves)
6 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4910: Os Nossos Médicos (3): Os especialistas eram poucos, e não gostavam de ir para... o mato (Armandino Alves, CCAÇ 1589, 1966/68)
7 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4914: Os Nossos Enfermeiros (2): As malditas doenças venéreas e a bendita... penicilina (Armandino Alves, CCAÇ 1589, 1966/68)
9 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4927: Os Nossos Enfermeiros (3): Às vezes até fazíamos o que não sabíamos (Armandino Alves)
17 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5118: Memória dos lugares (48): Béli, Fá Mandinga e Madina do Boé - Independência & Objectos voadores (Armandino Alves)
22 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5323: Estórias avulsas (61): Reencontro de irmãos (Armandino Alves)
28 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5360: Estórias avulsas (62): “O trinta putas” (Armandino Alves)
6 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5413: Os nossos camaradas guineenses (18): A morte do Aliu Sanda Candé (Armandino Alves)
13 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5458: Estórias avulsas (20): Formigas vermelhas e formigas castanhas (Armandino Alves)
17 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5481: Estórias avulsas (21): Ainda o Fiolifioli (Armandino Alves)
18 de março de 2010 > Guiné 63/74 – P6012: Humor de caserna (18): A nossa língua é muito traiçoeira (Armandino Alves, 1º Cabo Auxiliar de Enfermagem da CCAÇ 1589 - Beli, Fá)
19 de março de 2010 > Guiné 63/74 – P6021: Memória dos lugares (75): Recordações de Bambadinca (Armandino Alves, 1º Cabo Aux Enf, CCAÇ 1589 (Beli, Fá Mandinga, Madina do Boé, 1966/68)
2 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6095: Os nossos regressos (22): Os cruzeiros da minha vida (Armandino Alves)
7 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6340: Controvérsias (74): Enfermeiros… mas não por opção (Armandino Alves)
e
22 de maio de 2010 > Guiné 63/74 – P6453: Estórias avulsas (35): Os gémeos e o Regulamento Militar (Armandino Alves, ex-1º Cabo Auxiliar de Enfermagem da CCAÇ 1589)
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Último poste da série de 26 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13946: In Memoriam (208): Carlos Manuel Sousa Linhares de Almeida (Bissau, 1942 - Bigene, 1967), alf mil da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Fá Mandinga, Nova Lamego, Bula, Bigene, 1966/68), Juca para os amigos do Liceu Honório Barreto (Manuel Amante da Rosa / António Estácio)
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