1. Mensagem de Armandino Alves, ex-1.º Cabo Auxilitar de Enfermagem da CCAÇ 1589, Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, 1966/68, com data de 8 de Setembro de 2009:
Caro Luís Graça
Tenho estado a ler os Postes sobre o Serviço de Saúde Militar e vamos a ver se nos entendemos.
Eu nunca pus em causa a competência de Médicos (Oficiais) ou Enfermeiros (Sargentos e Furriéis). Dentro das suas capacidades cada um fazia o que podia e sabia e às vezes o que não sabia. O que ponho em causa é a maneira como o Serviço de Saúde era tratado. E vou pôr um caso concreto.
Enquanto estivemos aquartelados no 600 em Stª. Luzia, o Furriel Enfermeiro teve um desaguisado com outro Furriel na Messe de Sargentos, em que andaram copos de vinho pelo ar. Foi punido com a saída da Companhia e colocado não sei onde. Eu nem o conheci.
Quando cheguei à Companhia não havia quem soubesse preencher os formulários para o Laboratório Militar pois isso era da competência dele. Só 3 a 4 meses depois é que foi substituído.
Nesse entretanto fui encarregado pelo meu Capitão, não por ser o mais antigo da Companhia, mas porque tendo estado no HMR 1 onde era eu, que a pedido do Sargento que nunca lá estava, elaborava os mapas, fazia a requisição dos medicamentos e quejandos, e fui tendo umas luzes, continuando na Academia Militar a fazer o mesmo a pedido do 1.º Sargento que era um tipo porreiro e me desenrascava nos fins de semana para vir ao Porto. Amor com amor se paga.
Ora isto não se aprendia nos cursos que eles nos davam. Nós é que por moto próprio íamos tentando aprender.
Por exemplo, o meu tirocínio foi em infecto-contagiosas. O que é que esta especialidade interessa para o mato? Absolutamente nada. Era uma especialidade hospitalar. No entanto em suturas era um zero. A primeira vez que vi suturar na Academia Militar, o Cabo que estava a executá-la teve que deixar o ferido para me atender a mim. No entanto na Guiné tive de fazer das tripas coração e fazê-las, pois tive colegas que delas precisaram.
Mas não foi o Serviço de Saúde do Exército que nos ministrou isso nos cursos. Mesmo os Enfermeiros nos Hospitais Civis, só quando passam pelos serviços de urgência é que aprendem alguma coisa além de dar injecções, medir a tensão ou distribuir comprimidos.
Armandino Alves
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 7 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4914: Os Nossos Enfermeiros (2): As malditas doenças venéreas e a bendita... penicilina (Armandino Alves, CCAÇ 1589, 1966/68)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Pois é caro Armandino, eu em suturas também ia a zero. Tinha ensaido numa almofada por indicação de um 2º sargento que estava na enfermaria de ortopedia, onde felizmente vi alguma coisa de importancia para a missão que me ia calhar no Guiné. Mas, por iniciativa pessoal.
abraço
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