A semelhança entre os nomes Porto Gole/Guiné-Bissau e Port Cole/Carolina do Sul será pura coincidência?
1. Comentário de Nelson Herbert ao poste P4858 (*):
Porto Gole ou Portocole (**)??? Enfim...
Numa das minhas deslocações à Carolina do Sul, por sinal o estado norte-americano com maiores traços de parecença com a Guiné - o clima quente e húmido, o cheiro a terra quando a chuva bafeja, os pântanos, as bolanhas, os mosquitos e a bicharada - confesso pois que reencontrei nele, pedaços da minha Guiné e deparei-me também com um Port Cole, um outrora importante porto fluvial que serviu de ponto de entrada de escravos naquela região, cuja população conserva ainda hoje traços fisionómicos, idênticos a de algumas etnias guineeses.
Port Cole, hoje uma pequena cidade do sul dos Estados Unidos.
Haverá porventura alguma relação entre esses dois Portos "Goles" ou "Coles" ?
A curiosidade despertou em mim, a determinação de aprofundar a investigação desse facto.
Mantenhas
Nelson Herbert
USA
Guiné-Bissau > Porto Gole (2005) > Monumento erigido pela CART 1661 (Porto Gole, Enxalé, Bissá, 1967/68).
Foto: © Jorge Neto (2005) Direitos Reservados
2. Baseado neste comentário do nosso Tertuliano Nelson Herbert que nos segue nos EUA, lancei o seguinte repto à tertúlia:
Caros camaradas
Eis uma questão curiosa para os expert em História.
Um abraço
Vinhal
3. Mensagem/resposta do nosso camarada Mário Beja Santos, um entendido da cultura e história da Guiné, reencaminhada para o Tertuliano Nelson Herbert:
Carlos, Querido Camarada,
Sem prejuízo da peregrina hipótese de um escravo beafada oriundo daquele ponto da então Senegâmbia, transbordado em Cabo Verde para a Carolina do Sul, ali ter deixado uma memória das suas origens, o mais provável é que não exista qualquer nexo entre Porto Gole e Port Cole.
Encontrei, ao longo de porfiadas leituras, as mais díspares referências a Porto Gole(no século XIX escrevia-se frequentemente Portoguole, e na certidão de óbito dos comandos guineenses ali fuzilados, em Dezembro de 1977, escreveu-se Portogole, o que bem comprova a falta de consolidação do termo).
Inclino-me para explicação que os Soncó me deram em Missirá, tratava-se de bastardização de a Porta do Cuore, efectivamente os limites originais do regulado do Cuor chegavam a este entreposto fundamental antes de se chegar às praças-presídio de Fá e Geba, os limites da presença do branco, até ao século XX.
Vou ficar atento a outras conjecturas, prometo voltar à biblioteca da Sociedade de Lisboa no início de Dezembro, depois volto ao assunto.
Recebe um abraço do
Mário
4. Resposta minha de agradecimento ao camarada Beja Santos
Caro Mário
Muito obrigado pela tua pronta e oportuna intervenção.
No nosso Blogue, és sem dúvida das pessoas mais conhecedoras da história da Guiné, tanto pelos ensinamentos colhidos nos diversos livros que procuraste e continuas a procurar incessantemente, como nos contactos com naturais da Guiné, de quem recolheste imensa informação. Estou a lembrar-me do que referes no teu Diário da Guiné, 1969-1970 - O Tigre Vádio.
Com votos de estejas bem, apesar das circunstâncias, deixo-te um abraço.
O camarada e amigo
Carlos Vinhal
5. Comentário de Nelson Herbert:
Caro Vinhal
Valeu!! Bloguista que se preze, não vira as costas a um bom desafio.
Interessante a perpectiva do Beja Santos. E curioso que coincidindo com a minha estada no Port Cole dos gringos, no local encontrava-se e em início de trabalho de campo numa das Plantations, uma equipa de arqueólogos do Senegal... em busca de vestígios da presenca de povos da Senegâmbia na região - disse-me na altura o líder da equipa de arqueólogos, cujo contacto retive e que vou tratar de reatar, quanto mais não seja, para conhecer o evoluir das pesquisas!
Mantenhas
Nelson Herbert
6. Comentário de CV
Caros Tertulianos ficamos na espectativa de alguém vir até nós responder à interrogação de Nelson Herbert, e desfazer a nossa dúvida quanto à relação entre os nomes das duas localidades.
Não queremos sugestões, mas dados concretos.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 24 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4858: Notas de leitura (16): Memórias do inferno de Abel Rei (Parte III) (Luís Graça)
(**) Vd. poste de 30 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXV: CCART 1661 (Porto Gole, Enxalé, Bissá, 1967/68)
Vd. último poste da série de 28 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4872: Controvérsias (26): Amílcar Cabral em Xangai (António Graça de Abreu)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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