A história que vai junta é real e aconteceu em Bafatá no ano de 1967. Só os nomes foram alterados.
Pretende ser um pequeno complemento à matéria do POST 3662 da autoria do Virgínio Briote – "As nossas mulheres, companheiras, amantes e casadas com a Guiné".
Para todos, um BOM 2009.
Alberto Branquinho
Alberto Branquinho
NÃO VENHO FALAR DE MIM… NEM DO MEU UMBIGO (15)
SURPRESAS
Aconteceu em Bafatá, no regresso de uma operação de quatro dias.
A acção fora concertada com pára-quedistas e comandos e apoio permanente da Força Aérea.
O sucesso militar que se pretendia terá sido alcançado.
Houve muitas baixas, mortos e feridos, muitas vezes evacuados só no dia seguinte, porque as sessões de fogo mais violentas foram ao anoitecer.
No final, a Companhia foi recolhida pelas viaturas próximo do local que fora, quatro dias antes, o ponto de partida.
Rolavam em zona de relativa segurança, em direcção a Bafatá. Muitos soldados iam deitados nas caixas das viaturas, em extremo cansaço. Alguns adormeceram. Acordaram quando as viaturas pararam. Olharam em volta e preparavam-se para saltar, pensando em emboscada ou outro problema. Espantados, olharam as casas, algumas com segundo andar. Imediatamente e em todas as cabeças surgiu uma ideia – ÁGUA.
O capitão saltou da viatura, chamou os alferes e, depois, berrou para as viaturas:
- Pessoal! São só dez minutos. Vou ali ao Comando e volto já, para regressarmos ao quartel.
Mal se afastou, os militares desapareceram nas esquinas mais próximas, tentando conseguir água.
O Furriel Jerónimo, cansado e sedento, saiu da viatura e foi sentar-se à sombra, na pedra da porta de uma casa, no outro lado da rua. A bandoleira da G-3 escorregou-lhe do ombro e a coronha bateu com violência contra a porta. Esta abriu-se quase imediatamente e surgiu um homem fardado, que se lhe ia dirigir de forma pouco amistosa, quando o Furriel Jerónimo o fez calar, exclamando:
O Furriel Jerónimo, cansado e sedento, saiu da viatura e foi sentar-se à sombra, na pedra da porta de uma casa, no outro lado da rua. A bandoleira da G-3 escorregou-lhe do ombro e a coronha bateu com violência contra a porta. Esta abriu-se quase imediatamente e surgiu um homem fardado, que se lhe ia dirigir de forma pouco amistosa, quando o Furriel Jerónimo o fez calar, exclamando:
- Fonseca! Carlos Fonseca!
O outro ficou com a fala presa atrás da garganta e, engasgado:
- Oh! Oh! … Que fazes aqui?
- Estou a regressar de uma guerra.
- Estavas na operação "Bate Forte"?
- Sei lá como se chamava…
- Eu estou nos Comandos. Estive lá também até ontem à tarde. Manga de porrada, hein?
- É verdade. Mas que estás tu a fazer aqui, numa casa civil? Putas?
- Não, pá. Lembras-te da Eduarda Costa, que andava um ano atrás do nosso? O pai dela era o gerente da firma Costa & Lopes, mesmo ao lado do Liceu?
- Sim… sim.
- Casámos antes do embarque. Teimou em ir para Bissau, quando nós lá estávamos. Ficou lá quando saímos e depois veio para aqui. Só a malta do meu Grupo de Combate é que sabe. Já lhe disse e repeti que ela não pode estar aqui. É uma chatice quando eu tenho que sair para o mato. Mas ela falou com as freiras e fica lá. Quando estou cá, desenfio-me.
Então, voltou-se para dentro de casa:
- Dáda! Dáda! Vem aqui. Tenho uma surpresa para ti.
- Dáda! Dáda! Vem aqui. Tenho uma surpresa para ti.
E, dirigindo-se ao Furriel Jerónimo:
- E para ti, também.
- E para ti, também.
Eduarda aproximou-se da porta, olhou, receosa, para o exterior, tendo a figura do Jerónimo em contraluz. Não o reconheceu. Trazia, ao colo, um bebé adormecido, vestido só com uma fralda.
- É um rapaz. Nasceu em Bissau há três meses.
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Notas de vb:
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3 comentários:
Caro Branquinho,
Continua... continua os teus maravilhosos escritos, sem o teu umbigo. São estas de facto a verdade da História de um povo, que passados quarenta anos, continua ignorante do que foi a passagem de seus jovens de antanho por uma guerra.
Parabéns!
Um abraço do tamanho de um AIRBUSE
Mário Fitas
Mário Fitas
Para ficar a saber da grandeza do abraço, preciso saber se o mesmo é do tamanho de um AIRBUS 310, 320, 330,340 ou 380...
Pode ser utilizada a bitola do Rio Cumbijã, que conheci, por mais que uma vez, porque, quando a CART 1689 esteve em Catió, navegámos no Cumbijã entre IMPUNGUEDA e BEDANDA para operar a Norte, na zona de NHAI, à beira do Cumbijã, sofrendo os lodos dos braços do mesmo e seus afluentes.
Um abraço e um obrigado do
Alberto Branquinho
Caro Branquinho,
Tens absoluta razão!
Tudo tem o seu grau de grandeza.
Em termos de aeronaves vai o A340, pois o A380 nunca viagei. Mas vai o E no fim para acrescentar o tamanho, já que na minha planície "é logo ali".
Quanto ao Cumbijã? Porra! Porra!
Do ilhéu do Melo até lá para cima com tanta curva e contracurva!
É verdade percorremos alguns dos mesmos caminhos.
Felizmente, cá vamos andando ainda, mesmo sem o umbigo (Teu).
Do tamanho do Cumbijã desde o ilhéu do melo até lá quase para o Dolumbi. Aquele abraço,
Mário Fitas
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