sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3689: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (7): Antecedentes relacionados e breve comentário (V. Briote)

Imagem aérea de Guileje. Foto de Amaro Samúdio.


I. Alguns acontecimentos de Maio de 1973, na Guiné (relacionados com Guileje)


Assassinato de Amílcar Cabral

Dois emissários enviados por Sekou Touré, na manhã de 20 de Janeiro, avisaram Amílcar Cabral que havia gente à volta dele que se preparava para o liquidar. Amílcar chamou Mamadú Indjai, o responsável pela guarda, para lhe dar conhecimento do facto. Ao corrente do aviso, os conspiradores resolveram actuar no próprio dia. Amílcar Cabral, quando regressava de um jantar na Embaixada da Polónia, foi assassinado naquela mesma noite de 20 de Janeiro, à porta da sua casa no bairro Minière, em Conakry. Sabe-se que Inocêncio Cani disparou o primeiro tiro e que Mamadu Turé e Aristides Barbosa fizeram parte da conspiração. As circunstâncias que rodearam o assassinato, a que se seguiu a prisão de vários dirigentes do PAIGC por Sekou Turé, nunca foram totalmente conhecidas do grande público.

1 de Fevereiro, Simpósio em Conakry em memória de Amílcar Cabral, reuniu cerca de 700 representantes de vários países.

Ofensiva do PAIGC

Entre 7 a 9 de Fevereiro, o PAIGC tinha reunido em Conakry. Depois de homenagear o seu fundador e nomear Aristides Pereira como 1º responsável do Partido, a direcção convocou o Conselho de Guerra. Desta reunião saíram orientações para a intensificação da luta armada em todas as frentes e levá-la aos centros urbanos.
Lançar ataques sucessivos em todas as frentes, não deixando o IN em repouso um só dia, seja onde for que ele se encontre. É dentro desta orientação que se dá a ofensiva dos três G (Guidaje, Guileje, Gadamael).

A Força Aérea perante o novo desafio

Entrada no palco da guerra da nova arma das forças do PAIGC, os mísseis Strella (Sam-7). Em 20 de Março, o Ten Cor Almeida Brito e o Maj Pessoa, aos comandos de uma parelha de Fiat G-91 da FAP avistaram um míssil em Campada. Dois dias depois, em 22, o Fur Pilav Moreira num T-6 vê passar-lhe ao lado um projéctil que admitiu ser um míssil. Em 25 coube a vez ao Ten Pessoa, que se conseguiu ejectar, sendo recuperado no dia seguinte por um Gr Cmds (pormenores mais abaixo). Em Março ainda, a 28, o Ten Cor Almeida Brito aos comandos do Fiat G-91 morreu ao despenhar-se com a aeronave abatida por um SAM-7 Grail.

Em Abril, a 6, um DO-27 pilotado pelo Fur Baltazar é atingido e despenha-se, morrendo o piloto. Outro DO-27 pilotado pelo Fur Carvalho Ferreira, em viagem de Guidaje para Bigene, desapareceu com três passageiros a bordo. Em 8, o Maj Mantovani morre aos comandos de um T-6. O outro piloto que "ia em asa", o Alf Henriques, viu um rastro de fumo vindo do solo.

A FAP não estava preparada para enfrentar os mísseis terra-ar. As consequências foram enormes para as forças apeadas do Exército Português. O apoio aéreo deixou de ser feito com a regularidade a que estavam habituadas. As evacuações foram fortemente restringidas, vários militares feridos ficaram retidos nos locais onde foram atingidos e alguns terão mesmo morrido por falta de condições de assistência.

A partir da entrada em acção dos mísseis anti-aéreos (Strella) pode dizer-se que a guerra nunca mais foi a mesma.

Recordando para a história: em 25 de Março, um domingo, o aquartelamento de Guileje foi flagelado em pleno dia, entre as 13h00 e as 14h30. Não foi inocente este ataque diurno (de noite, em regra, as aeronaves não saíam), como se veio a comprovar. Solicitado o apoio da FA, esta apareceu com um Fiat G-91, tendo o piloto entrado em contacto rádio com Guileje, donde recebeu as indicações sobre as distâncias aproximadas dos locais de onde partiam os fogos. De terra viram-no rumar nessa direcção e a partir daí os contactos rádio cessaram. Cerca de 15 a 20 minutos depois surgiu nos céus de Guileje o 2º avião. Estabelecido o contacto, o piloto foi posto ao corrente. Minutos depois, informava Guileje que o 1º avião tinha sido abatido e que o piloto (Ten Pessoa) se tinha conseguido ejectar. Devido à hora tardia, localizado através de um very-light, o piloto só foi resgatado no dia seguinte. Em 12 Abril, na zona de Guileje, um guerrilheiro armado encontrado ferido é evacuado para Bissau.

Em 6 de Abril, Guidaje (Bigene e Binta) foi atacada pelo PAIGC. Todos os acessos a essa povoação na fronteira Norte com o Senegal foram sujeitos a uma das mais violentas acções de toda a Guerra da Guiné. Minas, emboscadas, abates de aeronaves, houve de tudo naquele interminável período (de 6 de Abril a 29 de Maio).
As forças do PAIGC empenhadas nesta acção foram comandadas por Francisco Mendes (Chico Té) e pelo Comissário Político Manuel dos Santos (Manecas).

Na zona de Guidaje, durante aquele período, estiveram envolvidos cerca de mil homens das Forças Armadas Portuguesas, segundo os Cors Matos Gomes e Aniceto Afonso. Em 53 dias de cerco, Guidaje sofreu 43 ataques com foguetões de 122 mm, artilharia e morteiros. 48 Mortos, 122 feridos, 3 desaparecidos, seis viaturas destruídas e três aviões abatidos (um T6 e dois DO 27).

No decorrer do assalto do PAIGC a Guidaje, a base do PAIGC estacionada em Kumbamory, Senegal, foi assaltada e destruída pelo BCmds do Exército Português na manhã de 20 de Maio. Nesta acção, segundo Almeida Bruno, o Cmdt da Op Ametista Real, as tropas portuguesas destruiram quatro centenas de armas automáticas, mais de 100 morteiros, 14 canhões s/r e quase centena e meia de lança-granadas, para além de milhares de munições, minas anti-carro e anti-pessoal, granadas de mão, granadas de morteiro e de RPG, rampas de foguetes, etc. No decorrer dos combates o BCmds sofreu nove mortos, vinte e três feridos graves e onze desaparecidos, considerados mais tarde, como mortos.

Guileje

Guileje, uma "praça fortificada", era considerada pelo Estado-Maior de Spínola de grande importância estratégica. Pouco mais de duzentos militares protegiam a povoação com mais de 500 habitantes.
Era pela zona de Guileje que o PAIGC introduzia, para quase toda a zona Sul, grandes quantidades de armas, munições, mantimentos e material sanitário. Este material fornecido pela URSS e pelos seus então chamados satélites (material de guerra, especialmente), bem como por alguns países nórdicos (nomeadamente a Suécia com material escolar, sanitário e alimentos) era, na grande maioria, desembarcado no porto de Conakry, passava por Boké, Kandiafara, Simbel e Tarsaia, entrando no território da Guiné pelo corredor de Guileje (chamado pelas NT "corredor da morte" e "corredor do Povo" pelo PAIGC). Daí a importância que Spínola dizia atribuir a Guileje, vindo a conferir-lhe um COP, comandado por um major.

Tropas do PAIGC concentraram-se na área da fronteira da Guiné-Conakry para reforçar a guerrilha já aí estacionada. Daí partiu o ataque, em 18 de Maio.

As informações tinham começado antes: em 9 Maio, a CCaç aquartelada em Empada enviou uma mensagem para a 2ª Rep/QG, comunicando a "existência de um grupo IN na fronteira, com carros de combate, que pretendia atacar Guileje". A seguir, rectificou a mensagem, enviando outra em que referia "a presença nas matas de Guileje de um grupo de 35 cubanos e dois grupos de 45 elementos cada, aguardando instruções de 'Nino' Vieira para atacar Guileje".

Em 11, Spínola visitou Guileje e falou às tropas, formadas na pista: que se esperava um agravamento da situação, que a Força Aérea, embora limitada na execução das missões, em situações difíceis cumpriria, voando mais alto e utilizando bombas mais potentes e que as evacuações de feridos graves se iriam manter. Entretanto, no dia anterior, um milícia de Guileje abandonou a povoação com a arma que lhe estava distribuída. Como tinha dito que ia à caça e podia andar perdido o Pelotão de Milícias de Guileje saiu em patrulhamento, com a finalidade de o encontrar. Os milícias não o encontraram, mas depararam com uma mina anti-carro e quando tentavam desmantelá-la, deu-se o rebentamento, provocando a morte de dois elementos. Mais tarde veio a saber-se que o referido milícia tinha sido aprisionado pela guerrilha, junto ao local onde a guarnição se abastecia de água.

Em 15 Maio, a Companhia sediada em Bedanda informou da "chegada em 10 Maio, de 4 grupos vindos da R. Guiné-Conakry e a presença em Kandiafara de cerca de 50 cubanos". No dia seguinte a CCaç estacionada em Empada informou da "chegada a Simbeli de três grupos de Artilharia vindos da URSS e a presença de dois blindados junto à fronteira". Em 18 Maio, novamente de Bedanda: "reunião do IN em Kandiafara, objectivo Guileje. Reunidos 5 bigrupos (cada bigrupo dispunha organicamente de 40 elementos, dispondo de 4 a 6 ML, 2 a 6 LGF, 2 a 4 MP e 2 a 4 Morteiros de 82) junto a Guileje.

O PERINTREP (relatório semanal do ComChefe) da semana de 13 a 20 Maio destacava: "O IN desencadeou uma ofensiva contra Guileje, emboscando, com elevado potencial de fogo, forças daquela guarnição que se dirigiam para Gadamael e flagelando depois aquele aquartelamento 21 vezes no espaço de 36 horas, com foguetes 122, canhão 85, morteiro 120 e canhão sem recuo, instalando a maioria das bases de fogos na Rep. Guiné-Conakry" (...). Outro relatório da 3ª Rep do QG/CTIG sobre a actividade do COP 5 (área militar que enquadrava Guileje) entre 18 e 21 de Maio, referia que, no primeiro dia, "durante a execução duma coluna de reabastecimento, as NT foram fortemente emboscadas por duas vezes, a cerca de dois kms de Guileje, tendo sofrido um morto, sete feridos graves e quatro ligeiros. Por falta de evacuação aérea, um dos feridos graves faleceu quatro horas depois da emboscada".

Um corpo no meio da tabanca de Guileje. Foto de autor que desconheço, a quem agradeço e que aqui reproduzo com a devida vénia.


Numa súmula muito breve dos ataques a Guileje, durante o período compreendido entre as 20h00 de 18 de Maio e as 04h00 do dia 22, o aquartelamento e a povoação foram flagelados com cerca de 800 granadas (morteiro 120, canhão s/r, LGF e outras não identificadas), muitas das quais caíram dentro do destacamento, restando poucas instalações intactas e, devido à destruição das antenas, o aquartelamento ficou sem comunicações rádio com o exterior.

Na noite de 21, o comandante de Guileje, o Maj Art Coutinho e Lima, decidiu o abandono da praça-forte na madrugada do dia seguinte. Segundo ele próprio, a decisão baseou-se na forte pressão do IN, na não atribuição de reforços, na não evacuação dos feridos, na escassez de munições, na falta de água no aquartelamento (o abastecimento era feito a cerca de 4 kms), na defesa da população, e na destruição do centro de comunicações. É de destacar, como parêntesis, que, desde 18 de Maio o aquartelamento se foi mantendo debaixo de fogo, por períodos intercalados. Os militares e a população, mal pressentiam a saída da primeira granada, precipitavam-se para os abrigos, triplicando a lotação. A excelente protecção conferida pelos abrigos, feitos em betão armado, sob a orientação do BEngª de Bissau, abrigos que, em princípio, seriam à prova de rebentamentos de morteiro 120, justifica, segundo os sitiados, terem sofrido apenas um morto(um furriel metropolitano).

Dada a ordem de retirada, elementos da população começaram por oferecer alguma resistência mas, face à decisão inabalável de Coutinho e Lima, decidiram-se por seguir com a tropa.

Na difícil hora da retirada, depois de 9 anos de guarnições militares em Guileje, a coluna dirige-se para outro inferno, Gadamael. Foto de autor que também desconheço. E que, com a devida vénia, reproduzo.

Assim, às primeiras horas do dia 22 de Maio, a enorme coluna (militares, milícias e população) meteu-se a caminho através de um trilho utilizado apenas pela população.
No local e segundo o PAIGC, as tropas portuguesas deixaram para trás três peças de artilharia e documentos sobre a disposição das forças em todo o território da Guiné. Peças e documentos que muito jeito deram às forças de guerrilha, segundo vieram a dizer mais tarde dirigentes do PAIGC. O Major Coutinho e Lima assegura, por sua vez, terem sido inutilizadas as armas e viaturas e a documentação ter sido toda queimada, afirmação confirmada, aliás, por vários militares encarregados das destruições.

Não deve ignorar-se o efeito propagandístico que, em situações deste tipo, os contendores usam. Assim, as emissões de rádio, provenientes de Conakry, exploraram, como era seu dever, o feito da tomada de Guileje: "(...) Os nossos gloriosos combatentes capturaram ao IN em Guileje, o material seguinte: 2 canhões de 155, morteiro de 106, 2 de 81, 1 de 70, 5 MP Dreyse, 3 bazucas de 88, 5 PM FBP, 47 G-3, 8 Mausers e grande quantidade de munições. Viaturas: 3 blindados, 4 camiões Berliet, 1 Unimog e 1 jeep Willy. A central eléctrica e o posto de rádio estão intactos. Os nossos combatentes apreenderam ainda diversos mapas e outros elementos de alto valor militar e víveres em quantidade prevista para o consumo da guarnição durante vários meses".

O Major Coutinho e Lima, para justificar a difícil decisão que tomou, diz ter tido, essencialmente, a preocupação de poupar as mais de 600 vidas que lhe estavam confiadas. A retirada decorreu, tanto quanto possível, ordenada e sem incidentes. A escolha do trilho e o efeito surpresa (nunca puseram a hipótese da guarnição retirar, afirmaram, mais tarde, alguns responsáveis da guerrilha) foram as razões que permitiram a coluna chegar a Gadamael sem problemas.

Em 13 anos de guerra, era a 1ª vez que a tropa portuguesa retirava de um aquartelamento, sob o pretexto da pressão do IN, o que levou alguns a interrogarem-se do que teria acontecido em Guidaje, se em vez do Coronel Correia de Campos tivesse sido Coutinho e Lima o comandante. No entanto, com a informação hoje disponível, é possível destrinçar as situações: Guidaje teve o apoio de tropas da reserva do Com-Chefe (páras, fuzileiros, comandos e outras), Guileje não teve.
Entre os que permaneciam em Guileje, enraizou-se a ideia de que estavam abandonados à sorte. Não sentindo o apoio do ComChefe, o Major Coutinho e Lima tomou uma decisão difícil e que o iria marcar para toda a vida. Mas quem toma decisões difíceis, em situações críticas, temos que convir, não são pessoas comuns.

Gadamael

As consequências da saída de Guileje tiveram enorme repercussão. Pela primeira vez, pelo menos de uma forma tão pública e que o PAIGC aproveitou em todos os palcos internacionais, o Exército Português mostrava fracturas tão assinaláveis.

Na sequência, tentando aproveitar o "efeito dominó", as tropas do PAIGC deslocaram todo o esforço para o aquartelamento vizinho, Gadamael, que passou a ser atacado do território da Guiné-Conakry várias vezes ao dia, com enorme violência (morteiros 82 e 120, foguetões de 122mm, conhecidos pelos 'jactos do Povo' e bocas de Artª de 130 mm, com alcance até trinta quilómetros). A guarnição, tal como a de Guidage, embora com custos elevados (17 mortos) e 55 feridos entre 1 de Junho e 22 Julho aguentou-se estoicamente. No seu livro "Gadamael", o Sargento pára-quedista Carmo Vicente escreveu: "tombaram para sempre, quase cinquenta irmãos nossos, que não queriam combater e que abominavam a guerra. Quase cinquenta homens que, se o pudessem ter feito, teriam gritado antes de morrer: entreguem a Guiné aos Guineenses".

Entretanto, em 22 de Maio, Spínola tinha informado por escrito o Ministro do Ultramar sobre a degradação da situação militar. A título de exemplo referia que, entre as 18 horas do dia 20 e as 8 e 30 de 21, Guileje tinha sofrido 32 ataques; que Guileje era de importância estratégica para a manobra militar e para os abastecimentos do PAIGC no Sul, pelo que era vital a sua defesa.

Em todo o mês de Maio as tropas portuguesas sofreram 64 mortos em combate e quase três centenas de feridos, na sequência das cerca de 220 acções desencadeadas pelo PAIGC contra os dispositivos das forças militares portuguesas.

capa de "A RETIRADA DE GUILEJE, 22 MAI 1973, A VERDADE DOS FACTOS"
Autor: Cor Artª Alexandre Coutinho e Lima
Editor: DG edições
Preço: cheque de 22 € (20 do livro e 2 para a franquia do correio).
Pedidos ao Autor

II. Ao Coronel Alexandre Coutinho e Lima

Li o seu livro num sôfrego. Peguei-lhe e não o larguei. É um documento que faltava, importante para compreender melhor os anos de "brasa", em especial o ano de 73.
Tem informação documentada, de facto, desconhecida ou muito pouco conhecida, inclusive de estudiosos que ao longo destes anos se têm dedicado ao estudo da Guerra na Guiné.

Fiz lá “apenas” uma comissão, entre 65/67, e já naqueles anos senti os problemas crónicos (a extrema pobreza das "Informações", por exemplo) que afectaram a condução correcta da guerra, isto reportando-me apenas aos aspectos militares. Muito longe, portanto, das suas 3 comissões, das quais a última em condições excepcionalmente difíceis.

Aos olhos de um simples leitor da nossa História, a atitude do Comandante do COP 5, protagonizada pelo Senhor, parecia-me, à partida, pouco compreensível e difícil de defender, tendo como referência a situação que se viveu em Guidaje. Por outro lado, pareceu-me sempre que ao caso de Guileje, ao contrário de opiniões, que havia muitas, faltavam factos. Claro que não estou seguro que os documentos que apresenta encerrem definitivamente o dossier "Guileje". Mas com os factos (sem pôr em causa as opiniões e comentários que emite) documentados que apresenta e que eu desconhecia, hoje, posso dizer que compreendo melhor a decisão que tomou.

Independentemente do juízo que a História está ou ainda vai fazer sobre a retirada de Guileje, devo manifestar-lhe que fiquei com a convicção de que:

1. Foi graças à decisão que o Coronel tomou que, em vez de um morto a lamentar, muitas famílias, de cá e de Guileje, tenham podido conviver com os seus Familiares e Amigos, a grande maioria, felizmente, ainda até hoje.

2. O Com-Chefe, independentemente da apreciação globalmente positiva que eu possa ter da acção que desenvolveu na então Província, não fez tudo o que podia e devia ter feito pela população e tropa de Guileje.

3. Atitudes ou decisões, ainda controversas para alguns, como a que o Cor Alexandre Lima tomou não são habituais. E só as poderiam tomar, nas excepcionais condições em que se vivia naqueles tempos em Guileje, Militares com convicções muito sólidas sobre a forma de como bem fazer a Guerra.

Depois de ler o seu livro, depois de consultar a documentação nele exposta, é minha convicção que o Exército Português teve, em Guileje, um Comandante que cumpriu o seu dever.

V. Briote

__________

Notas de vb:
1. Graças ao nosso Leitor, Abreu dos Santos, alguns pormenores dos acontecimentos relacionados com Guileje (nomeadamente datas e números de mortos) foram corrigidos (em 8 de Janeiro de 2008). Os meus agradecimentos.

Artigo relacionado em

31 de Dezembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3686: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (6): Comentário do Ten Cor José Francisco Robalo Borrego

13 comentários:

Anónimo disse...

Caro V. Briote devorei o livro
A RETIRADA DE GUILEJE, em duas vezes.
Na página 353 o General Spinola parece estar numa situação como a do coronel Coutinho de Lima,exige mais meios não lhe são concedidos,pede a sua substituição.
O que teria acontecido aos militares de Guileje e ao major Coutinho de Lima se tivesse tido o mesmo procedimento?
Página 341 "...Guileje, por exemplo, nunca foi abandonada e o PAIGC,nunca entrou no Guilege" Livro A GUERRA DE ÁFRICA da autoria do Escritor José Freire Antunes, (página 722 da referida obra)segundo o Autor depoimento oral do Sr. General ALMEIDA BRUNO.
Como é possível?
Mais uma interrogaçãoP3686 do Sr. Tenente Coronel José Francisco Robalo Borrego.
Quando também faz a pergunta.Será que desejava um pretexto para pressionar o governo de Marcello Caetano no sentido de reforçar a Guiné com mais homens e material mais sofisticado.
Bem esta a ser assim quanto a mim seria de bradar aos céus, entregar praticamente á morte 200 militares e 500 civis,Só para engrandecer a posição pessoal e de vitória muito duvidosa.
Este livro devia ter sido publicado em vida do Sr. Spinola, de certeza que era a pedrada no charco nas estrelas do marechal António Sebastião Ribeiro de Spinola.
Um alfa bravo.
Colaço

paulo santiago disse...

Briote
Concordo contigo"é minha convicção
que o Exército Português teve,em
Guiledje,um Comandante que cumpriu
o seu dever"Há horas atrás,recebi
uma chamada de tlm,em que um
camarada dizia"estás completamente
tresloucado ao fazeres aquele
comentário"Referia-se aquele que
fiz ao post do Ten-Cor Borrego,
primeiro,até pensei,não tinha
computador à mão,referir-se a um
enviado tempos atrás para o blogue
e que ainda não saiu.Mas,tresloucado ou não,continuo a achar muito estranha
a atitude do Spínola,de quem não
sou fã,mas como militar não o
estou a ver a ordenar,ou consentir,
o holoucasto de Guiledje.Continuo
a pensar que ele foi empurrado,foi
manipulado,e a grande culpa dele
foi não resistir a essas pressões
criminosas.Como digo no comentário
que enviei,seria aos políticos de
Lisboa que interessava o sacrifício
dos militares de Guiledje.Posso
estar enganado,posso estar a tecer
uma teoria de conspiração,mas é o
que de momento me apraz.Vê-se,
ainda hoje, políticos a "iniciar"
as guerras,veja-se a história das
ADM no Iraque,existindo também a
teoria,custa-me acreditar,que a
destruição do Wordl Trade Center
foi sabida,mas consentida por isso
interessar à política do G.B.
Assim,acho que o Spinola teve culpa
por não dizer não a uma ordem
de mortandade enviada do Terreiro
do Paço,o que é grave.
Abraço
P.Santiago

Anónimo disse...

Tenho o livro, ainda não o li e não preciso de lê-lo para confirmar as afirmações do Coronel Coutinho e Lima, na apresentação do mesmo...
Estávamos entregues aos bichos…
Estive em Gadamael (tropa macaca) no período, já aqui relatado pelo Victor Tavares (P2729), corroboro tudo o que escreveu nesse "poste" e se o pessoal da minha companhia não sofreu "baixas", penso que o deve aos paraquedistas e aos deuses...
Morreu sim, um furriel de minas e armadilhas, penso que de Espinho, por falta de socorro - os helis não tinham autorização para ir a Gadamael, ordens do Comando de Bissau!
Um abraço,
Bernardo Godinho

Anónimo disse...

O meu Comentário:

Já tive oportunidade de dizer algumas coisas sobre este assunto, em comentário ao P386 A retirada de Guileje do Ten Cor José Robalo Borrego.
Quero referênciar aqui o mesmo comentário o qual seria fastidioso estar a repetir.

Mário Fitas

Anónimo disse...

Quero rectificar o nº. do P386 que como é óbvio não trtará de tal assunto. o P3686 deveria ser o referido por mim.
As minhas desculpas pela gralha.

Mário Fitas

Anónimo disse...

se em vez de 4 é 5, se em vez de manhã é tarde, se em vez de água mineral é água da bolanha, não entendo comentários linha por linha a um artigo que não altera o acontecido nem falta à verdade, que quererá dizer -!?-, não sei. Deixo-vos um abraço de solidariedade, e um mero sorriso (triste) aos comentários (linha a linha, palavra a palavra).
Chamo a isto, encher o ego....
Ex Furriel Miliciano José Antunes
da CCS BArt.2917 (BAmbadinca 70/72)

Anónimo disse...

Camaradas e amigos é lamentável que apareçam estes heróis anónimos, que tenham opiniões diferentes estão no seu direito próprio, mas proferirem expressões ofensivas e esconderem-se atrás do anonimato. Estes sim são uns CAGÕES. Não estão na Guiné para se protegerem atrás do morro baga-baga.
Assume-te deves ser homem.
Um alfa bravo
Colaço

Luís Graça disse...

Colaço:

Obrigado pro estares atento...

O nosso Anónimo não é (não pode ser) um verdadeiro camarada da Guiné... E nem sequer conhece as nossas regras do jogo... Sobre os comentários dizemos o seguinte (ver coluna do lado esquerdo da 1ª página do blogue):

(...) "Não precisas de ter uma conta Google/Blogger. Podes fazer um comentário como anónimo, mas é conveniente (e desejável) que deixes sempre um contacto teu (nome, localidade, antiga unidade e, se possível, e-mail, no caso de ainda não pertenceres à nossa Tabanca Grande).

"Os amigos e os camaradas da Guiné não se escondem atrás do baba-baga, são pessoas habituadas a dar a cara".

Vou pedir ao nosso Anónimo, que se escondeu por detrás do baga-baga, que dê um passo em frente, e nos diga quem é...

Felizmente que estas situações tem sido raras. Podemos discordar uns dos outros e manifestar publicamente essas discordâncias, mas não temos que nos insultar, muito menos sem dar a cara ao(s) outro(s)... Não é bonito, não é leal...

Como diz o nosso povo, "os homens conhecem-se pelas palavras e os bois pelos cornos".

O editor do blogue, Luís Graça

Anónimo disse...

Caro Luis Graça (para mim Henriques) quando ontem deisei o meu comentário e logo de seguida apareceu aquele anónimo, liguei ao que eu tinha escrito, mas devo ter-me enganado no raciocinio, aguardei calmamente o resultado e veio como eu esperava. Bem como um email que me foi dado conhecimento.
Continuo a felicitar-vos e agradecer o vosso trabalho. E mais uma vez parabéns por continuares a ser o mesmo que conheci em 1970. Quanto à minha identificação (embora esteja já no blogue, com minha autorização, no pessoal do BArt 2917 hoje fica mais completo com o meu email. Um abraço camarada
Ex Furriel Miliciano José Antunes
da CCS BArt.2917 (Bambadinca 70/72)
josedr.antunes@netcabo.pt
PS: não me inscrevi nunca na Tabanca Grande, porque não me considero indicado para contar estórias da Guiné, mas julgo poder ser um comentador desinteressado e apoiante vosso,como veterano da guiné que sou

Luís Paiva disse...

Sobre "A Retirada de Guileje", de que fui um dos vários protagonistas, não valerá a pena -penso eu- reiterar o que já antes afirmei em publicação anterior. O livro com o mesmo título, da autoria do Cor. Alexandre Coutinho e Lima, com toda a documentação que o autor lhe anexou, retrata fielmente no essencial os acontecimentos ocorridos no que foi um dos teatros de guerra no final do conflito colonial na Guiné. É minha firme convicção que ao então Major Coutinho e Lima, Comandante do COP 5, os que nos encontrávamos estacionados no aquartelamento de Guileje, ficámos a dever a vida. Não me parece razoável comparar as situações de Guileje com Guidaje quanto mais não seja porque a este último aquartelamento foi prestado um apoio militar por forças especiais de que Guileje -por motivos que não importa discutir aqui e agora- não usufruíu. Mesmo o apoio aéreo a Guileje passou a ser reduzido e pouco eficaz após o abate do Fiat ocorrido naquela zona algum tempo antes. Recordo que eu vivi todos esses acontecimentos dado ali ter permanecido com duas Companhias, inicialmente até finais de 1972 afecto à CCAÇ 3477 (Gringos de Guileje)e posteriormente com a CCAV 8350 (Piratas de Guileje). A troca de ideias é salutar desde que se faça com o respeito mútuo; òbviamente que se admite -como agora "soe dizer-se"- o contraditório, mas -isso é muito importante, penso eu- que o assunto seja debatido acaloradamente por quem não viveu no terreno os acontecimentos, pode tornar-se insultuoso para os que ali viveram dias tão dramáticos. No que respeita a Gadamael a situação foi aínda mais trágica porquanto aquele aquartelamento não dispunha das infra-estruturas militares de Guileje, designadamente abrigos subterrâneos, e dos acontecimentos que se seguiram (e que não era preciso ser-se estratego militar para adivinhar)advieram várias baixas de camaradas pelo que uma discussão não fundamentada representa uma profunda falta de respeito pelas vítimas que ali tombaram. O assunto parece continuar a envolver muita controvérsia, parte significativa da mesma desencadeada por quem não viveu directamente os acontecimentos pelo que seria desejável alguma contenção e decoro, e não só pelas vítimas já referidas como pelos muitos intervenientes que já não se encontram entre nós por terem falecido ao longo dos últimos anos. A vida é demasiado curta pelo que a devemos aproveitar para uma sã concórdia pois à medida que o tempo vai decorrendo a nossa inexorável condição humana conduzir-nos-á ao final dos nossos dias. Saudações cordiais a todos os leitores deste texto.
Luís Paiva
ex-furriel do 15º Pelart

Luís Paiva disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
JOSE CASIMIRO CARVALHO disse...

Camarada Artilheiro :
Como tú, vivi os acontecimentos
Ainda bem que hà camaradas com a lucidez que tú demonstras na tua prosa.
Alongar este comentário é desnecessário.
Obrigado pelo teu comentário à acção do Coutinho Lima.

Jose Carvalho
Ex Fur Mil OP ESP
Pirsta de Guileje e Gadamael.

Orlando Silva disse...

Parece mentira!
Continua muita gente a comer da mesma panela.
Qual é vergonha de dizer que fugiram de Guileje? Qual é a vergonha de dizer e assumir, que tinham deixado de sair para o mato, e daí o facto do IN ir perdendo o medo e se ir aproximando do quartel? Para quem conheceu aquela Zona e a percorreu de lés a lés, custa ouvir todas estas mentiras sobre uma zona que desconhecem.
Compreendo que queiram defender o Oficial/fugitivo! E só o poder fazer aqueles Oficiais que, não fazendo a guerra nem nela terem participado, vieram a colher todos os lucros das políticas pós o Movimento de Contestação Salarial dos Oficiais do Quadros Permanente/Estado Maior.
Mas...quem é que veio até agora procurar defender o soldado que, sem qualquer culpa, se viu associado ao abandono de Guileje?
Aqui está uma grande diferença! Os meus/nossos soldados sempre estiveram em primeiro. Daí a necessidade de sair todos os dias para o mato de forma a manter a segurança em toda a Zona de Acção.
Já agora convém esclarecer que havia cerca de 300 pessoas da população dentro do aquartelamento e não 500.
Um abraço a todos os Patriotas
Orlando Silva
Ex-Alferes Miliciano dos COBRAS DE GUILEJE