Guiné> Bissalanca > BA 12 > s/d > Uma enfermeira pára-quedista, colhendo limões directamente do limoeiro. Foto gentilmente cedida por Miguel Pessoa
Foto: © Miguel Pessoa (2009). Direitos reservados
1. Mensagem do Miguel Pessoa (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Cor Pilav Ref)
Luís:
Para entrar na "fila de espera", envio-te este texto ligeirinho que, na minha óptica, embora não sendo escrito por nenhuma delas, me foi contado por uma das intervenientes, pelo que penso que talvez possas incluí-lo na série "As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas". Não gastes tudo de uma vez, que senão acabam-se-me as memórias...
(...) Embora eu goste de escolher os títulos dos meus textos, deixo ao teu critério a escolha do título para este trabalho, por recear que possa ser mal aceite aquele que eu escolhi. Embora eu tenha logo referido que este era um texto ligeirinho, um pouco 'revisteiro'....
Abraço. Miguel
2. As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (*) >
OS TOMATES DO CAPELÃO... E OUTRAS FRUTAS
por Miguel Pessoa
No meu tempo na Guiné, os tomates do capelão da BA12 eram muito cobiçados, muito por culpa das nossas enfermeiras pára-quedistas que, sempre que podiam, faziam uma colheita na horta que o padre A... mantinha junto à igreja da Base.
Era generalizada a opinião, entre quem deles se servia, de que os tomates do nosso capelão, embora pequenos, eram sumarentos e saborosos e enriqueciam qualquer salada. E sabe-se o gosto que o pessoal tinha por tudo o que lhe lembrasse a metrópole. E era vê-los a "deitar abaixo" uma saladinha feita com tomates fresquinhos, acabadinhos de apanhar...
É claro que o padre A... calculava perfeitamente quem eram os malandros (neste caso as malandras...) que lhe andavam a "derreter" a fruta, mas pactuava simpaticamente com a situação, dado ser por uma boa causa.
Mas não se ficava pelos tomates a razia que as enfermeiras pára-quedistas faziam na fruta da base. Para além da fruta que iam comprando ao responsável pela horta da Base, lá iam marchando de vez em quando uns limões, uma papaia, que o pessoal a alimentar era muito e de bom apetite.
Nem o cajueiro do Comandante escapava (do Comandante é um modo de dizer, que estava junto ao comando da Base), sendo que, um dia, havendo uma escada à mão, duas enfermeiras (de que não vou referir os nomes...) resolveram atacar o dito cujo. Estavam elas neste preparo, penduradas nos ramos altos, quando passa o Comandante da Base, com o seu séquito.
O facto é que o Comandante não reconheceu "as intrusas", pois se viam apenas as calças do camuflado, pelo que invectivou energicamente as duas "delinquentes", julgando que eram soldados da Polícia Aérea; e as duas no topo da árvore também não reconheceram a voz do Comandante, pelo que reagiram verbalmente em termos que não vou reproduzir aqui...
Tendo as partes procedido à identificação mútua, o incidente acabou por ficar sanado, pese embora o Comandante tenha prosseguido a sua viagem resmungado contra a lata daquele pessoal, sublinhado por um sorriso complacente dos militares que o acompanhavam.
Miguel Pessoa
3. Comentário de L.G.:
Miguel: Como tu me disseste ao telefone, e muito bem, de vez em quando temos que mudar de folhetim, de teleponto ou de registo, que isto de "sangue, suor e lágrimas" (sic) também chateia, cansa e até pode matar (o blogue, a nossa paciência, a pachorra dos nossos leitores ou seguidores)... E, nesse caso, nada como o humor de caserna, coisa que é muito própria, específica, única, como a própria expressão indica, dos militares da tropa...
O humor (talvez mais do que a sorte) é que protege os audazes... Que me perdoem os nossos camaradas dos comandos, se lhes estou a glosar a divisa Audaces fortuna juvat [A sorte protege os audazes].
O humor (temperado q.b., com uísque e água de Perrier) era, na Guiné, o nosso talismã, a nossa mezinha, o nosso amuleto mágico, contra as balas de amigos e inimigos, contra a costureirinha, contra a Kalash, contra o RPG, contra o Strela, contra o tédio, contra o desânimo, contra o medo, contra a desesperança dos dias, contra as abelhas, contra os mosquitos, contra o cozinheiro, contra o vagomestre, contra o sargento, contra o RDM, contra o capitão, contra o comandante, contra o Com-Chefe, contra Deus e o Diabo...
Temos, na Tabanca Grande, alguns seguidores deste deus menor do Olimpo. Convenhamos que o género não é fácil, é preciso talento para não cair na grosseria, na boçalidade, na alarvice, registos com que muitas vezes, mas injustamente, se confunde o humor de caserna... com a linguagem do carroceiro... ou de alguns instrutores que tivemos na recruta!... ("O instruendo não mexe nem que lhe passe um c... pela boca!).
Grande cultivador do género (humor de caserna) é o nosso Jorge Cabral a quem nunca, por nunca, ouvi dizer um palavrão, tanto lá como cá. Em contrapartida, eu que era um menino de coro passei a falar pior do que o carroceiro e o meu instrutor da tropa...
Tudo isto para te dizer que os tomates do quintal do capelão, surripiados pelas nossas queridas enfermeiras pára-quedistas, é uma história de cinco estrelas, que merece figurar numa próxima antologia do nosso humor bloguístico... Obrigado, a ti e à tua fonte... presumivelmente transmontana.
PS 1 - Convenhamos que há um humor de género... Isto é, o sentido de humor de homens e mulheres pode diferir... Não rimos da mesma maneira, nem pelos mesmos motivos... Não rimos das mesmas anedotas. De homens e mulheres militares, não sei, que eu na tropa só convivi com machos... De qualquer modo, acho que elas usam mais a inteligência emocional...
PS 2 - Quem se lembraria dos tomates do capelão ? Esta história, se lhe quiserem pôr alguma brejeirice, malícia ou picante - mas com elevação e elegância... - só podia nascer da cabecinha das nossas meninas, que, como sabem, eram originalmente enfermeiras civis, tendo entrado para a Força Aérea como militares graduadas (nem me perguntem qual é a diferença)... Por outro lado, para ter tomates e outros hortícolas, o nosso capelão sabia da poda, era de origem rural ou camponesa... Saber trabalhar uma horta não é para todos/as...
PS3 - Já quanto aos machos, a história pode ter outra leitura, a que é completamente alheio o autor que, pelas provas já dadas, é incapaz de, em condições normais, de dizer uma palavrão.
PS4 - É que, caros camaradas da Guiné, não podemos esquecer que, na nossa língua, o vocábulo tomate tem, no plural, uma conotação, um significado vernáculo; não se trata só dos frutos do tomateiro, como também dos testículos... que até são, no sul do país, um petisco muito apreciado, uma especialidade gastronómica (túbaros ou tomates de carneiro, por exemplo)...
PS5 - Como dizem os lexicógrafos, tomates (no plural) é um tabuísmo ("palavra, locução ou acepção tabus, consideradas chulas, grosseiras ou ofensivas de maioria na maioria dos contextos")... Ou em termos mais simples, são os nossos palavrões... que por pudor só escrevemos, em público, por iniciais seguidas de três pontinhos (f... da p..., por exemplo).
PS6 - Não é (não foi) preciso pôr uma bolinha ao canto superior do poste, como fazem os senhores e as senhoras da nossa televisão (pública)... Mas se fosse preciso fazer um aviso ao público, poderia rezar assim: Avisa-se o respeitável público que nos lê (e vê) que a palavra "tomates do capelão" só quer dizer isso mesmo, os frutos do tomateiro que existe (ou existia) no quintal ou jardim do capelão...
PS7 - Espero que o Miguel, o capelão, as senhoras enfermeiras pára-quedistas e os demais camaradas que passaram pela BA 12, em Bissalanaca, me perdoem o excesso de explicações e o consequente abuso...do tempo de antena do editor. Mas se quiserem comentar a história (o texto e o contexto), façam favor, que o autor gosta e os editores apreciam...
PS8 - Já não era sem tempo: temos finalmente a nossa Força Aérea, no nosso blogue, a voar alto, valorosa e garbosa, por cima das nossas tropas, quer eu dizer, das nossas cabeças... Era bom que agora também aparecessem, com mais assiduidade, os furtivos fuzos e marinheiros... Para compor o ramalhete das NT...
_______________
Nota de L.G.:
(*) Vd. postes da série As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas:
20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)
24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3931: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (2): Elementos para a sua história (1961-1974) (Cor Manuel A. Bernardo)
28 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3952: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (3): No fim do mundo (Giselda Pessoa)
7 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3994: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (4): Uma civil, e transmontana de Sabrosa, na tropa (Giselda Pessoa)
8 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3999: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (5): Justamente recordadas no Dia Internacional da Mulher
14 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4029: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (6): O anjo da guarda do Zé de Guidaje (Giselda Pessoa)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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14 comentários:
Em sequencia ao comentario do prezado camarada Luis Graça, deixo aqui este apontamento.
Aquando a minha evacuação Luanda/Lisboa fui acompanhado por uma enfermeira furriel para-quedista, em determinada altura da viagem com intenção de lhe pedir água, disse Senhora enfermeira furriel para-quedista! ela olhou para mim levantou a mão direita em sinal de quem pede paz sorrindo diz:
Só enfermeira chega.
Um abraço
Amilcar Dias
(Sócio ADFA nº 2395)
Luís,
Desculpa, mas aqui está uma malandrice tua.
Lá porque o Luís Henriques te tivesse ensinado muita coisa. Não passe o sapateiro além da chinela!
Pergunta lá ao teu velhote que ele te responderá: Deus quando fez o homem, não fez destinção morfológica, se é homem é homem.
Quanto à quinta? A do "padre cura" sempre foi a mais cobiçada.
O Miguel tem razão na variação para amenizar as tenções.
Desculpa isto fica a meio porque o Sporting já está a ganhar 1-0.
Não sei de que lado estás mas eu apesar de... Não digo! Mas sou verde por fora e isso não tem nada a ver com a Relegião, que é uma forma de estar na vida.
Como sempre do tamanho do Cumbijã, o velho abraço desta vez especial para a malta da FAP principalmente os nossos anginhos "Enfermeiras Paras".
Mário Fitas
Camaradas Miguel e Giselda:
Vejam que funcionam em tandem, na vida e no blogue...Posso por isso ousar fazer-vos uma pergunta a que não têm obrigatoriamente que responder: como é que os "matchos" (como se diz em crioulo da Guiné) se acomodaram, na BA12, em Bissalanca, com a chegada das senhoras enfermeiras pára-quedistas ?
Vocês já não desse tempo, em 1972 a "coexistência" já seria mais pacífica e normalizada... Mas a verdade é que as mulheres não tinham tradição nas fileiras das nossas Forças Armadas... até 1961.
Como era o quotidiano das enfermeiras ? Viviam à parte ? Conviviam ? Qunats eram em 1972/74 ? Frequentavam a messe e o bar dos oficiais, as que eram oficiais, e a messe e o bar dos sargentos, as que eram sargentos ? Eram discriminadas pela positiva, como se diz hoje ? Ou eram apenas militares, tratadas como militares, à luz do RDM ?
Desculpem a minha santa ignorância, não tive convívio co a malta da BA12 nem nunca lá fui. São questões, enfim, a que vale a pena tentar responder. Podem dar uma ideia da integração, bem conseguida ou não, das primeiras mulheres que entraram para as Forças Armadas. Hoje achamos normalíssimo que elas trabalhem e vivam em quartéis...
No mato, nomeadamente em Bambadinca, assisti algumas vezes à chegada de helis com enfermeiras pára-quedistas. Elas tinham um tratamento quase VIP, em função não do posto mas da condição de mulheres... Era o machismo de caserna, o marialvismo castrense, a vir ao de cima... Também tinha muito a ver com a cultura da época, em que as relações entre os homens e as mulheres ainda eram muito desiquilibradas, em desfavor delas...
Caros Companheiros:
Saí de Évora para a Guiné (RAL3) hoje Universidade.
Comi um dos pratos deliciosos da "enorne" gastronomia do Alentejo.
TÚBAROS.
Melhor que os tomates
do Capelão.
Um abraço,
CMSantos
CART 2339
Mansambo 68/ 69
No dia mundial da poesia... E por que não, uma... de caserna ? Que me desculpe Miguel e as nossas meninas..., mas a história dos tomates do capelão de Bissalanca fez-me irresistivelmente lembrar um poeta popular do Séc. XIX, analfabeto, de profissão calafate (carpinteiro de barcos), e que tem uns versos fabulosos, uma obra-prima da poesia erótico-satírica, na melhor tradição brejeira da nossa poesia trovadoresca...
Refiro-me ao António Maria Eusébio, o Cafalate (1820-1911), de Setúbal, e que mereceu honras de antologia, por parte dessa grande mulher do seu/nosso tempo, a Natália Correia, de quem passou há dias, discretamente, mais um aniversário,o 13º, da sua morte (16 de Março de 1996)...
E não foi uma anologia qualquer, foi a "Antologia da Poesia Erótico-Satírica Portuguesa", saída em 1966, e logo posta no índice dos livros proibidos pelo regime de Salazar!... Lembro-me bem do escândalo que foi, na época, a saída deste livro, logo confiscado!..
Que tristeza, a de um país, ou melhor, de ume elite dirigente, beata, balofa, hipócrita, inquisitorial, falsamente puritana, que tinha acabado, em 1963, de mandar fechar as "casas de passe" e de pôr fim à proibição do casamento das... enfermeiras (que vigorava desde os anos 40)!!!
A famosa Antologia, da Natália Correia, foi uma pedrada no charco e uma lufada de ar frecso numa sociedade que precisava cada vez de respirar o ar frecso da liberdade...
Então, se me permitem, e para aqueles que não conhecem o Calafate, aqui vão os seus versos sobre "A Quinta da Panasqueira", no Dia Mundial da Poesia, que devia ser todos os dias, porque a poesia quando nasce é para todos...
Em homenagem aos homens e às mulheres que estiveram no CTIG, entre 1963 e 1974, e que souberam honrar e cultivar, através do bom humor, o melhor que têm os portugueses, a sua saudável capacidade de se rirem de si próprios, mesmo na adversidade... desde as nossas medievas Cantigas de Escárnio e Maldizer.
Claro que qualquer semelhança com entre a Quinta da Panasqueira e a quinta (que era um quintal...) do capelão de Bissalanca... A havê-la, seria pura coincidência... Em qualquer dos casos, eram dois sítios onde se cultivavam gamboas, marmelos, tomates, nabos, nabiças, mamões, limões e muita outra fruta e verdura... viçosa, saborosa, apetecível. Dois sítios onde se gosta(va) "apalpar a fruta madura"... claro, com a licença do dono ou da dona, quinteiro ou a quinteira... Porque o respeitinho continua a ser muito bonito, ontem, hoje e amanhã...
A Quinta da Panasqueira
Mote
Fui apalpar as gamboas
Que a quinteira tem na quinta,
Já tem marmelos maduros,
O seu bastardo já pinta.
Glosa
Sou mestre na agricultura,
meu saber ninguém disputa,
gosto de apalpar a fruta
quando está quase madura…
Gosto do que tem doçura;
Quero e gosto das mais pessoas
para apalpar coisas boas
da quinta da Panasqueira,
com licença da quinteira,
fui apalpar as gamboas.
Por toda a parte que andei
dei cambalhotas e saltos,
depois de apalpar pelos altos
pelos baixos apalpei.
Por toda a parte encontrei
fruta branca e fruta tinta;
para que a dona não se sinta
nunca direi mal da boda,
apalpei a fruta toda
que a quinteira tem na quinta.
Neste tão lindo arvoredo
não há fruta como a sua,
foi criada em boa lua
para amadurecer mais cedo.
Menina, não tenha medo
que os seus frutos estão seguros,
ou sejam moles ou duros
todos a têm em estima,
na sua quinta de cima
já tem marmelos maduros.
Tem uma árvore escondida
Num regato ao pé de um poço,
que dá fruta sem caroço
chamada gostos da vida.
Dessa fruta pretendida
que a menina tem na quinta,
se acaso tem uva tinta
a menina dê-me um cacho,
que na sua quinta de baixo
o seu bastardo já pinta.
A resposta da quinteira
Mote
Fui apalpar os tomates
que tinha o meu hortelão,
mostrou-me o nabal que tinha,
meteu-me o nabo na mão.
Glosa
Sou mestra na agricultura,
tenho terra para cavar,
gosto sempre de apalpar
se a enxada é mole ou dura.
Ser amiga da verdura
não são nenhuns disparates;
enchi alguns açafates
de tomateiros de cama
depois de apalpar a rama
fui apalpar os tomates.
As sementes tomateiras
nascem por dentro e por fora
semeiam-se a toda a hora
dentro de fundas regueiras.
Tão brilhantes sementeiras
dão gosto e satisfação.
Dentro do meu regueirão
dão-me as ramas pelos joelhos
que tomates tão vermelhos
que tinha o meu hortelão!
Só de vê-los e apalpá-los
faz andar a gente louca
faz crescer água na boca
e a língua dar estalos.
Meu hortelão tem regalos,
tem hortaliça fresquinha
no vale da carapinha
tem um tomateiro macho,
abriu-me a porta de baixo
mostrou-me o nabal que tinha.
Tinha grelos e nabiças,
tinha tomates graúdos,
tinha nabos ramalhudos
com as cabeças roliças.
Tão brilhantes hortaliças
meteram-me a tentação;
era franco o hortelão,
deu-me uma couve amarela
para me dar gosto à panela,
meteu-me o nabo na mão.
(Versos brejeiros e satíricos,
cantigas para guitarra).
Fonte: Antologia de Poesia Erótica e Satírica Portuguesa - Selecção, prefácio e notas de Natália Correia, 3ª ed. Lisboa: Antígona / Frenesi, 1999. [1ª ed., 1966],pp. 278-281.
(com a devida vénia... e sugestão de compra)
Aqui d'El Rei, gritaria a Inquisição, que estão a atentar contra a moral e bons costumes...mas o tempo do "botas"... já lá vai e estes teus comentários Luís, deviam ter completado o Poste ou mereciam ser o Poste de resposta.
E mais asneiras não digo.
Jorge Picado
No meu tempo da FAP contava-se uma que rezava assim: Um 1ºSargento do Comando chamava-se...Folhões.. Sempre que apareciam novos militares, o homem dizia-lhes: "o primeiro gajo que se enganar no meu nome..está à péga comigo!..Eu chamo-me Folhões,Folhões.. ouviram?!"
Um jovem mancebo, preocupado, reforçava os cuidados dizendo para consigo mesmo: "meu Primeiro Folhões..meu Primeiro Folhões.."
Um dia, é chamado ao 1ºSargento. Avança, a porta da Secretaria está aberta, manda uma grande pala e diz: "Meu Primeiro Festículos, dá licença?"...
Já agora, acerca de Enf.Pá, num salto,ras: no AB1, na Portela, em 64 ou 65, apareceu uma, para além das que, por vezes, acompanhavam as evacuações nos DC-4 e DC-6; dizia-se que tinha fracturado a anca e por isso, tinha sido ali colocada; lembro-me que era Alferes, loira, de olhinho claro, para o baixo e toda geitosa..Adorávamos passar por ela na placa e bater-lhe a pala, com meio sorriso, malandreco, na cara..mas ela não nos ligava pevide..e, com o tempo, deixou de ser novidade. Afinal, estávamos numa unidade situada prácticamente dentro de Lisboa, nada que se comparasse a quem estivesse isolado nas partidas do império..Ainda apreciaria recordar o seu nome e saber o que foi feito dela..
João Coelho
Mistério:
Quem é(ou era) a "Rosinha dos Limões", aqui apanhada em flagrante, na foto ? ... Continuemos com o tom ligeiro mas respeitoso dos comentários anteriores...
Parafraseando o próprio autor do poste, o Miguel Pessoa, é bom fazer uma pausa, de vez em quando, no foletim do "Sangue, Suor e Lágrimas"...
E depois estamos a descobrir, encantados, uma outra faceta menos conhecida em público (e do público) dos amigos e camaradas da Guiné. A veia humorística, jocosa, brejeira, brincalhona... Bem hajam. LG
bem visto
Caro Luis
A menina da foto é a Enf.Giselda, quase de certeza. Será que se pode perguntar ao Miguel se lhe cantou/encantou com "A Rosinha dos Limões"..? É que vinha a propósito..
Já agora: o navio que se vê em primeiro plano numa das fotos sobre o teu pai (que tenha muita saúde) é o "Vulcania", navio de passageiros italiano que, em conjunto com o seu irmão "Saturnia" nós conhecemos bem em S.Miguel, nos Açores. Passavam lá os dois, embarcando/desembarcando emigrantes e trazendo os abençoados "malotes" com ofertas da América para os familiares que tinham ficado nos Açores. O "Vulcania" navegou até 1974, imagina..
João Coelho
O João Coelho acertou e pelos vistos está encerrado o concurso. Mas também não devia ser difícil de adivinhar, dada a origem do texto...
Abraço. Miguel Pessoa
Caro João Coelho
Falando das Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas
Que sorte,com tempo para ver que era jeitosa,baixa,olhos claros e loira.
Pois,eu,na Unidade em que prestei serviço na Guiné,não podia desfrutar desse previlégio,chegavam dentro dos hélicópteros e não saíam,só tinhamos tempo para pegar na maca que trazia o evacuado,ferido ou morto,e levar para dentro do Hospital,nesse ponto era muito infeliz,estava impossibilitado de ademirar com naturalidade o ser maravilhoso que Deus criou para nos atormentar a cabeça.
Mas um dia foi diferente:
Quando saíam para uma evacuação e tinham falta de sangue,passavam pelo Hospital para o levantar,estando o enfermeiro pronto com 2 ou 3 sacos na mão para lhes entregar.
Certo dia,o Enfermeiro atrasou-se,com o Helicóptero ainda a boa distância do chão,vejo a porta abrir-se,um vulto salta e corre em direcção ao Laboratório de Sangue,era a Enfermeira Pára-Quedista,grande salto,não em alruta,em determinação,prontidão e rapidez por amor ao próximo.
Hoje,já não me lembro de seu nome,sei que era baixa e perfeita,senão me engano com o posto de Sargento.
No momento só um som me saiu...Saltarica.
Para mim,assim ficou.
Um abraço
António Paiva
Amigo Paiva
Essa da saltarica, rebobinou-me a memória e fez-me lembrar que saltarico é o nome que no Norte dão os gafanhotos..
A Alferes Enf.Páraq. no AB1, felizmente, nunca teve muito que fazer, mas sempre vos digo que era a única pessoa com "tomates" para fazer frente a dois paraquedistas que, não sei porquê (se calhar porque não sabiam o que fazer com eles) tinham ido parar à Enfermaria da unidade. Um, ainda recordo, era cabo, o Palma, o outro morava a 50 metros da casa onde vivo hoje, em Campolide. Estavam os dois paraliticos,um por ter levado um tiro na coluna na célebre rua Major Araújo, na então Lourenço Marques (era a rua dos bares e cabarets, ao tempo)o outro já não me lembro em que circunstâncias. Sei que eram os dois impossíveis de aturar - as desgraçadas das namoradas iam visitá-los, era uma tourada completa: insultos, quase violência fisica, atiravam com tudo às miúdas, enfim, resultado dos traumas que a situação lhes causava, em plena juventude. Porque nessa altura estava de "férias" na unidade (pois,as saídas à civil...) lá ia tentando ajudá-los a dar umas voltas em cadeira de rodas até ao Aeroporto, para desopilar (numa ocasião até fomos ao Monumental, à matinée, mas essa é outra história..) e acabei por ver como era a tal Alferes a única pessoa capaz de os "por em sentido",sem medos, sem usar os galões e sem os ofender, mas metendo-lhes, verdadeiramente, a mão na consciência, de igual para igual..E posso dizer-vos que mesmo em cadeira de rodas, tanto o Palma como o companheiro tinham presença fisica suficiente para impor respeito.
Donde se pode concluir que a nossa Alferes não se media aos palmos..
João Coelho
ex Cabo Especialista MMA 158/63
Canaradas
Este Luis Graça é um perverso. Ele poe-se com pê-ésses, e mais pê-ésses, vai de inferição em inferição, gerando a combustão que o motor carece para funcionar, acrescenta-lhe extractos indutores e não controlados da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, e o que é que isto dá? Dá pecados, minha gente, porque como diz o outro, peca-se por pensamentos, palavras e obras. O tal provedor está mesmo a fazer falta, olhem pró despautério, o chefe a dar estes exemplos, parece o malandro do padreco que dizia, façam o que vos digo, não o que me vejam fazer.
Mas confesso, gostei. E mais confesso a minha perdição, quando comprei, há uns anitos, em leilão do Pedro Azevedo, uma 1ª. edição da antologia, e esportulei 15 contos mais iva.
Obrigado por este bocado.
José Dinis
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