Hugo Guerra, ex-Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)... Não, ele nunca comandou o Pel Caç Nat 50. Já nos pediu para corrigir este pormenor curricular... Aqui fica a correcção.
Mas hoje estamos aqui para lhe deixarmos uma notinha... de parabéns, com votos de muita saúde e felicidades, para ele e para os seus. O Hugo hoje faz anos. Hoje é o seu dia especial. Pois, que tenha um belo dia de anos. São os votos dos editores do blogue e do resto da Tabanca Grande.
Devemos dizer que soubemos por acaso desta efeméride. Não temos nenhum ficheiro, com a data de nascimento do pessoal da Tabanca Grande. Mas, de futuro, gostávamos de o ter... Que nos desculpem os outros camaradas que fizeram anos em Abril. Foi o caso, por exemplo, do David Guimarães, um homem do 24 de Abril (!), nosso tertuliano nº 3 (e aqui a antiguidade é um posto, ou meio posto...). Também para ele e os demais aniversariantes do mês de Abril vão também os nossos parabéns, amistosos, sinceros, calorosos, embora já um pouquinho atrasados... O que que conta é o gesto!
Entretanto, como homenagem ao nosso aniversariante de hoje, fomos revisitar um texto fabuloso que ele há tempos, há cinco meses atrás, publicou no nosso blogue. Começava assim...
1. Vd. poste de 25 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3518: História de vida (19): Evacuado duas vezes e meia...(Hugo Guerra)
(...) "Em Julho de 1969, já eu estava na Chamarra, fora, portanto de Gandembel e Ponte Balana, quando vim de férias à Metrópole. Tinha 24 anos, acabados de fazer, e já tinha dois filhos.
"Mal acabei de regressar a Aldeia Formosa/Chamarra recebi uma carta da minha mulher, que teve o efeito duma mina anti-pessoal. Dizia-me ela que tinha encontrado o amor da sua vida e que ia viver com ele para Moçambique, pois fora mobilizado para uma comissão naquele Serviço que fazia os filmes, das festarolas que aconteciam em Angola e Moçambique, onde vim a trabalhar mais tarde.
"Isto não me podia estar a acontecer e ainda hoje culpo estes acontecimentos de tudo o que vem a seguir.
"Como não podia ficar parado a assistir de longe a este percalço, meti-me a caminho e fui falar com o General Spínola, pedi-lhe 8 dias para voltar a Lisboa e esclarecer aquele pesadelo, e que de imediato me foram concedidos" (...).
2. Leiam o resto por favor, que vale a pena... E já agora acompanhem o comentário que, na altura, lhe fez o nosso editor L.G.:
Obrigado, Hugo, por teres respondido à chamada. E sobretudo teres sabido interpretar o meu tímido repto... Por pudor, não gostamos de mostrar, em público, as chagas do corpo e as mazelas da alma. A tua história de vida dava um livro, como se costuma dizer. Não te falta o talento para o escrever e, o mais importante, a matéria-prima.
Obrigado, amigo e camarada, tiro o chapéu (ou melhor, o quico!) à tua coragem, não à de ontem, mas à de hoje: reviver todo esse pesadelo dos teus 24/25 anos, não sei se te faz bem... Mal não te faz, é seguramente blogoterapia...
Para mim, a tua história de vida dá um toque imensamente humano à História com H grande... Um dia, os Historiadores com H grande vão esquecer-se, mais uma vez, de nós, o Guerra, o Celeiro, o Baptista, o Marques, o Gramunha, o Cunha, o Ferreira, o Iero Jau, e por aí fora, de todos nós que morremos, que ficámos estropiados, feridos no corpo e na alma, e que fizémos a guerra, e que a ganhámos e perdemos mil vezes...
Um dia, os senhores doutores por extenso vão contar a guerra, descrever as batalhas, avaliar as estratégais dos generais, pintar um grande quadro sinóptico, e tu, Hugo, não estás lá, nem como simples figurante, nem como mero adereço, ao lado do poidão de Chamarra, da tua Chamarra...
Mas os teus camaradas, os teus amigos, os teus filhos e os teus netos, terão orgulho em ti, tu que foste evacuado duas vezes e meia e andaste a voar nesse ninho de jagudis e de águias que era a psiquitria do Hospital Militar Principal, entre heróis e filhos da mãe...
Terão orgulho em ti, por que foste um homem digno, um militar nobre e uma camarada solidário... Não é fácil, a um militar com o teu currículo, vir aqui, num blogue de camaradas, admitir que não foste capaz, daquela vez, em São Domingos, levantar a maldita mina que te iria marcar, no corpo e na malta, para o resto da vida. A ti e ao Celeiro.
Deixa-me dizer-te, por fim, que achei muito lindo, muito emocionante, o que escreveste sobre ele, o cabo Celeiro. É um naco de prosa de antologia:
"Aguentei, em choque, até chegarmos ao HM 241 em Bissau e o que mais me agradava naquele desespero todo era continuar a ouvir o Celeiro a dizer que estava morto. Se ele se calasse, sabia que podia ter perdido um amigo".
Aceita um Alfa Bravo deste teu leitor, reconhecido. Cuida de ti e... do olho que a maldita mina não te conseguiu roubar. Luís
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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3 comentários:
Hugo, os meus parabéns!
Mantém viva a tua memória e lucidez, vai-nos brindando com os teus relatos tão cheios de força, tão reais, e vai erguendo a taça em cada ano que passa, em comemoração de mais um aniversário.
Um abraço
Hélder S.
Para o Hugo Guerra, que não conheço, os meus sinceros parabéns.
Que com saúde nos possa ir brindando com as suas histórias ou estórias por mais uns bons e largos anos.
BSardinha
Donde se conclui que, de facto, a realidade ultrapassa a ficção. Uma vida cheia de vidas..
Embora com atraso, parabéns pelo aniversário
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