sábado, 2 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4273: Recortes de imprensa (17): Engenhos explosivos do nosso tempo continuam a matar, desta vez na região de Mansabá (Nelson Herbert)

1. Engenhos exlosivos do tempo da guerra colonial, deixados no terreno pelas NT ou pelo PAIGC (minas, armadilhas, bombas...), continuam infelizmente a matar, quase meio século depois de se ter iniciado a luta armada...

(Nas fotos, do Xico Allen, tiradas em Sinchã Jobel, na região de Bafatá, em 22 de Abril de 2006, vemos bombas da Força Aérea Portuguesa que foram lançadas sobre a base do PAIGC, durante a guerra, e que não chegaram a explodir; na foto da esquerda, o nosso amigo e camarada A. Marques Lopes) (*).

É mais uma história trágica...Tivémos conhecimento desta notícia da Agência Lusa, através do nosso amigo, guineense, Nelson Herbert, correspondente de A Voz da América:


Bissau, 30 Abr (Lusa) - Um engenho explosivo da guerra colonial matou duas crianças e feriu gravemente dez pessoas na localidade de Djendú, a 80 quilómetros da capital da Guiné-Bissau, informou um responsável da aldeia situada nos arredores de Mansabá.

Citado pela rádio privada Galáxia de Pindjiguti, Malam Cissé informou que o engenho explodiu quarta-feira à tarde quando as crianças estavam a assar a castanha do caju e as mulheres na extracção do óleo de palma.

“As crianças assavam a castanha do caju, como fazem quase todos os dias, as mulheres estavam a extrair o óleo de palma, de repente há um estrondo enorme na aldeia. Foi uma tragédia. Uma menina morreu logo ali, a outra viria a falecer a caminho do hospital”, declarou Malam Cissé.

Este responsável pediu às autoridades centrais em Bissau que façam deslocar técnicos ao local para que possam vistoriar a aldeia.

“Temos medo. Quem sabe não haverá lá mais engenhos explosivos”, afirmou Cissé.
De acordo com este responsável, a ‘Tabanca’ (aldeia) de Djendú “está de luto” pela morte das duas crianças, mas também “apreensiva”, uma vez que dez pessoas foram atingidas pela explosão, encontrando-se internadas em diferentes hospitais do país.
“Só Deus sabe o que vai acontecer a essas pessoas”, declarou Malam Cissé, acrescentando que a população está com medo dos engenhos explosivos.

“Quem nos garante que podemos apanhar o nosso caju sem correr o risco de pisar numa bomba?”, questionou Malam Cissé, sublinhando que o engenho que explodiu estava na aldeia “há muitos anos”. MB.


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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 16 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXIII: Do Porto a Bissau (17): Finalmente entrámos em Sinchã Jobel (A. Marques Lopes)

4 comentários:

Jorge Fontinha disse...

Lamento muito que passados 35 anos de fim de Guerra, estas coisas ainda aconteçam.Certamente que responsáveis de ambos os países terão as suas culpas, não promovendo prospecção de situações semelhantes.Infelizmente, na própria Alemanha, ainda hoje se descobrem situações semelhantes e até na cidade de Londres já aconteceu.Há que haver mais trabalho de prospecção dos sapadores das tropas da Guiné Bissau e se necessitarem de ajuda, deverão solicita-la.Esta é apenas a opinião de um ex-combatente do exército Português.
Os meus pesames ás famílias e a minha solidariedade com o apelo do
Nelson.
JORGE FONTINHA

Anónimo disse...

É lamentavel caro Camarada,eu cumpri em Guidage, Jan/1972 a Junho de 1974,nasci em Farim,a partir de onde na altura havia muitos destes engenhos,conhecimento de alquem que fazia sempre ou que coduzia um Berliet de Farim,Binta e Guidage,acredito que infelizmente pode-se encontrar tantas granadas dessas.Espero que não acontece caso igual.

Nelson Herbert disse...

Caro Luis

Apenas um reparo que em nada altera o conteudo da noticia.Sou senior-editor do servico em portugues para a Africa, da Radio Voice of America, com sede em Washington e nao correspondente.

Mantenhas
Nelson Herbert

António Matos disse...

Na qualidade de ex-combatente na Guiné ;
Na qualidade de especialista ( na altura ) de minas e armadilhas ;
Na qualidade de participante na montagem e desmontagem do campo de minas entre Bula e Cacheu ( 1970/72) ;
Na qualidade de ex-alferes miliciano,
não posso deixar de manifestar a minha opinião àcerca destas consequências das guerras.
1º - desconheço qual a noção que a força aérea teria sobre o rebentamento ou não das bombas que lançava.
Admito que num bombardeamento, engenho que não explodisse, ficasse perdido no local de impacto até que, um dia, uma qualquer criança ou adulto fossem surpreendidos com o rebentamento tardio do mesmo aumentando o número de inocentes que uma guerra provoca.
Ultimamente já não se ouve falar tanto mas todos nos lembramos de descobertas de bombas por accionar lançadas sobre Londres, Paris ou Berlim que foram neutralizadas muito depois de acabada a guerra por via de escavações para construção de novos edifícios.
Quando o assunto é transportado para a realidade de uma mata, acredito que a coisa se complique.
2º - aquando da desmontagem do campo de minas que referi, variadíssimas foram as minas que já não constavam para o abate nos respectivos croquis.
Várias podiam ser as causas ( posicionamento alterado por causa de chuvas torrenciais, animal que "brincou" com o engenho abandonando-o noutra localização ou rebentamento puro e simples.
Se bem que esta última hipótese fosse, normalmente, bem reconhecida, as outras não o eram e os esforços desenvolvidos na tentativa de esclarecer cada uma dessas situações nem sempre eram coroados de exito. Tal facto era devidamente assinalado para memória futura.

Serve isto para dizer que eu próprio não me sentiria seguro, hoje, a passar aquela zona.
A minha solidariedade para com as famílias das novas vítimas daquela guerra não resolve a dor nem o luto das mesmas.
Se estas linhas vierem a ser lidas por responsáveis governamentais da Guiné, daqui o alerta para que se predisponham a "uma limpeza" radical do então teatro de operações para que outras mortes não tenham que ser choradas.
António Matos