sexta-feira, 1 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4270: Blogpoesia (42): Reflexão - É mais fácil (Juvenal Amado)

1. Mensagem de Juvenal Amado (*), ex-1.º Cabo Condutor, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74, com data de 25 de Abril de 2009:

Caros camaradas Luís, Carlos, Virgínio e restante Tabanca Grande

A razão de cada um embora de respeitar, é necessáriamente diferente.
Assim o que é fácil para uns é dificil para outros.

Foi o que os soldados que em 25 de Abril de 1974 nos devolveram.
A nossa opinião e o direito de anuir ou de discordar como um direito mais elementar.

Hoje na A. R. um ex-militar de Abril chorou. Independentemente da sua bancada politica, foi importante a razão porque chorou.

Um abraço
Juvenal Amado


É MAIS FÁCIL

É mais fácil ignorar, do que constatar.

É mais fácil abdicar, do que reagir.

É mais fácil acreditar em Deus, do que não acreditar.

O acreditar pressupõe que, nos momentos em que nada mais há, essa certeza ajuda-nos a suportar as mais duras provas.

Aceitar o desígnio de Deus e resignar, dizem que também facilita.

Às vezes é mais fácil morrer, que viver.

Para os que acreditavam nos valores da Pátria, foi mais fácil aceitar a guerra, do que para os eram contra.

A guerra teve intervenientes e interesses diferentes;

Uns foram porque convinha à sua vida profissional. Para esses foi fácil.

Contaram as comissões.

Outros foram para a guerra convictos, de que a causa era justa e eram mandatários de um direito divino, sobre os povos africanos sobre alçada do Estado Novo, onde até Deus estava com as cores da nossa Bandeira.

Para estes também foi mais fácil.

Depois houve os outros. Os que foram à força, e que embarcaram engolindo as suas convicções antiguerra e anticoloniais.

Quando à soma dos dias se somaram os mortos, os feridos e evacuados.

Contaram os dias e os meses.

Foi muito difícil.

A carga é mais leve ou mais pesada, consoante a razão que a carrega.


Juvenal Amado
25.04.2009
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4207: In Memoriam (20): Para o António Ferreira e demais camaradas mortos no Quirafo (Juvenal Amado)

Vd. último poste da série de 25 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4249: Blogpoesia (41): "Para quê, Soldado?" (Luís Dias)

1 comentário:

Hélder Valério disse...

Caro Juvenal,
Acho muito bem colocada a questão das "balizas" pelas quais nos movimentámos.
Certamente se poderão encontrar ainda outras razões para entender as diferentes posições dos que foram. Também poderemos encontrar muitas razões, ou pretextos, para os que não foram.
De qualquer modo foi bom teres apresentado estas tuas reflexões pois podem ajudar a perceber muitas situações.
Um abraço
Hélder Sousa