segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6944: Contraponto (Alberto Branquinho) (14): Discorrendo sobre a(s) água(s) na Guiné

1. Alberto Branquihno (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), em mensagem datada de 2 de Setembro de 2010, discorre sobre o excesso e/ou falta de água na Guiné do nosso tempo.


CONTRAPONTO (14)

DISCORRENDO SOBRE AS “ÁGUAS” NA GUINÉ

Quem leia o título pensará que vou discorrer sobre água. Não, não se trata de escrever somente sobre o composto H2O.

Trata-se de alinhavar umas recordações sobre “águas” na Guiné e sobre as diversas situações, circunstâncias e formas em que a “água” se apresentava para satisfazer as necessidades orgânicas dos combatentes (e de outros militares) ou para dificultar a sua vida. E quando escrevo “combatentes” não estou a referir-me aos muitos militares que dizem ter estado “no mato”, porque estão convencidos (ou querem convencer quem não tenha tido conhecimento da realidade) que viveram as circunstâncias e as realidades da guerra. Apesar disso, dissertam sobre a experiência da “guerra”, tendo estado somente dentro de aquartelamento(s) no interior da Guiné (com melhores ou piores condições). Mas nunca dele saíram para fins operacionais, usando as suas próprias pernas para se locomoverem. Dormiram todas as noites nas suas camas, sofrendo (talvez) algum ataque ao quartel, abrigados em trincheiras ou em abrigos de cimento, sem riscos de maior.

Ora o tema deste discurso – AS ÁGUAS – é matéria que esteve presente no dia-a-dia do efectivo combatente, embora o “combatente dentro de portas” tenha conhecido algumas dessas “águas” (as mais agradáveis). O “combatente dentro de portas” não sofreu a “sede” e a “água fora de portas”, como abaixo vão referidas.

Quando havia poço de água (propriamente dita) dentro de portas era feita a recolha e distribuição da mesma pelos depósitos do quartel (bidões habitualmente). Mas quando o poço de água era fora de portas, o “carro de água” era acompanhado/protegido na ida e no regresso por combatentes, que o enquadravam, em coluna apeada.

Este discurso terá quatro capítulos, a saber:

I – Introdução (da qual o texto acima faz, também, parte);
II – As águas dentro dos aquartelamentos;
III – A água propriamente dita, fora dos aquartelamentos;
IV – Efeitos das águas na saúde dos militares (combatentes ou não).

O evoluir deste trabalho fará (espero) aflorar recordações que estarão no sótão ou na cave da memória.
Ele destina-se, principalmente, a informar os leigos que o lerem acerca das realidades hídricas que os combatentes (e, em alguns casos, os outros militares) deparavam no seu quotidiano.

Esta ideia surgiu ao autor no dia em que lhe faltou a água na torneira. A EPAL foi, portanto, a inspiradora. Obrigado, EPAL.



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) >  A cambança de uma lala ou bolanha... no decurso de uma operação.

Foto: © Humberto Reis (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


I – INTRODUÇÃO

Em primeiro lugar dá-se aqui como reproduzido o texto inicial, que é, claramente, o pai (ou a mãe) desta Introdução. O que a seguir vai escrito é, portanto, uma ejaculação consequente do texto inicial e… introdutório.

Importa dizer que muitos camaradas foram depositados na Guiné num quartel ou espaço afim e aí permaneceram (incluindo os arredores do mesmo) durante os dois anos de tempo de Guiné. Quem tenha estado assim todo o tempo e numa zona situada mais para norte, não terá consciência que no sul mais a sul dessa linha a água e a terra não estavam devidamente separadas (agravado na época das chuvas). Aí Deus, ao tempo da criação do Mundo, esqueceu-se de separar a terra das águas.

As terras a norte, onde se encontra paisagem tipicamente de savana, mesmo na época das chuvas, não se assemelham às terras do sul mais a sul, nomeadamente no que respeita às dificuldades de progressão no terreno. Nesse sul, os rios grandes, rios médios, rios pequenos, riozinhos, braços de rio, braços de mar, lodo, lodo, lodo e mais lodo e água-lodo cercavam povoações e aquartelamentos.

Os rios, devido à baixíssima altitude do terreno, divertem-se a ziguezaguear, assim como em dança africana, em que cada curva e contracurva quase tocam a curva e contracurva anteriores, criando pequenas e grandes penínsulas lodosas, com vegetação variada e exuberante. Há, também, as grandes poças de água, lodosas (chamadas “bolanhas”) que, vistas do ar, são muito agradáveis de ver. Mas quem tem (tinha) que caminhar por lá não via essa beleza e o cheiro a maresia podre permanecia no camuflado, nas meias e nas botas.

Outro aspecto é a salinidade da água. Mesmo quando a água dos rios se apresenta límpida (o que é pouco comum, porque é, habitualmente, escura e lodosa) o grau de salinidade era tal que, se um soldado “periquito” incauto e sedento a bebesse, sofria um choque que nunca mais esqueceria. À sede, assim agravada, sobrevinha um desespero incontrolado.

A minha Companhia só encontrou rio de água doce mais de um ano depois de ter chegado à Guiné – no Rio Balana, junto a Gandembel, durante a construção deste aquartelamento (Operação Bola de Fogo). Mais ou menos a dez quilómetros a sul de Aldeia Formosa (Quebo).

Por outro lado, quem tenha estado todo o tempo nessas terras mais a sul, não conheceu rios de água doce, que só podem ser encontrados a norte, onde o terreno pode apresentar-se com altitudes de... dez/quinze metros. Ora, nestas circunstâncias, as marés, mesmo as mais vivas (e inteligentes...) não conseguem subir tão alto e, portanto, a água é doce (ou, mais propriamente, não salgada). Na época das chuvas esses pequenos rios têm, como é óbvio, um caudal apreciável.


II – AS “ÁGUAS” DENTRO DOS AQUARTELAMENTOS

A água, dentro dos aquartelamentos, era absorvida pelos militares (combatentes incluídos) sob as seguintes formas:

a) Sob a forma de água propriamente dita;
b) Sob a forma de cerveja (a forma mais apreciada e consumida);
c) Sob a forma de “coca-cola” (proibida na “Metrópole”, mas tolerada pelas autoridades locais);
d) Sob a forma de “7upe”(assim mesmo pronunciado, dada a falta de inglês na formação militar e que não existia na “Metrópole”);
e) Sob a forma de dois ou três refrigerantes;
f) Sob a forma “Água de Castelo”, misturada com bebida alcoólica);
g) Sob a forma de “Pérrier” (água francesa de aparecimento misterioso, só explicável pele francofonia envolvente); era consumida misturada com bebida alcoólica ou simples, quando havia necessidade de arrotar;
h) Sob a forma de “água tónica”, também acompanhada da componente alcoólica;
i) Sob a forma de vinho, que chegava em garrafões de tamanho considerável e difíceis de esvaziar; não era uma forma muito habitual de repor os níveis de H2O no organismo; por outro lado, constava que, devido à adição de uma substância química, em vez de matar a sede, matava a fome de outra coisa...

E, parece que é tudo. Caso falte aqui a referência a alguma espécie de “água” que suprisse as necessidades orgânicas de água, faça o favor de a acrescentar à lista.

Falando de água propriamente dita, ela era recolhida de poços pelas chamadas “viaturas da água”, que tinham na carroçaria todos os bidões (sim, os de gasolina) permitidos pela volumetria da caixa. Todos os dias (e, por vezes, mais que uma vez) essas viaturas iam a esses poços e, através de bombas manuais ou moto-bombas, aspergiam a água, enchendo os bidões. No quartel, a água era passada para os bidões de reserva existentes junto às cozinhas, para bidões colocados em cima de tábuas horizontais sustentadas por tábuas verticais. Eram os... chuveiros. Onde os havia, porque muitas vezes o pessoal lavava-se (quando se podia lavar... ou devido à falta de água ou ao excesso de “fogachal”) baldeando a água para cima dos corpos com vasilhame mais ou menos adequado. Esses “chuveiros” eram, habitualmente, accionados por dois cordéis – um abria a água e o outro fechava. Quem demorasse mais que xis minutos no chuveiro quase era fuzilado.

Em certas situações não se podia usar moto-bomba na recolha da água, porque, quando o motor começava a trabalhar, havia do “outro lado” alguém que, ouvindo o barulho do motor, enviava para o local, a título de reciprocidade ou cumprimento, umas granadas de morteiro. E, claro, como quando acontece com os protestos do vizinho de baixo, desligava-se a moto-bomba e o pessoal espalmava-se no chão assim como peixe escalado. Algum tempo depois recomeçava a recolha de forma manual.

Já me perguntaram porque é que “os gajos” não envenenavam a água. Respondo que nunca lhes perguntei, mas acho que era porque “eles” tanto bebiam a água a montante como a jusante, porque andavam sempre em passeios.

Muita gente morreu nas “saídas” para ir recolher água, caindo em emboscadas. Quando digo isto a alguém que quer saber “coisas” sobre esses tempos, ficam a olhar-me com ar entre o incrédulo e espantado. Aí, remato:
- Não havia água canalizada…

A terminar, há que dizer, quanto às várias formas de água acima referidas, que:

(i) Água (propriamente dita) era, mais ou menos, como ficou dito acima;
(ii) Sob a forma constituinte de cerveja, lá ia aparecendo, quase nunca faltando;
(iii) Sob a forma de “coca-cola”, e “7upe”, era um luxo (nem sempre havia em muitos quartéis);
(iv) Sob a forma de “Água Castelo” ou “Pérrier”, abundava nas messes das sedes de Batalhão (no “mato”);
(v) Vinho, havia em muitíssimos garrafões nos depósitos, arrumados em pilhas.

Parece que está tudo dito. No entanto, se alguém desejar colmatar alguma lacuna, faça o favor de entrar.





Guiné > Zona Leste > Sector L1 > CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) > Destacamento do Rio Udunduma > 3º Grupo de Combate da CCAÇ 12, no "refeitório": Na foto reconheço, à esquerda, o 1º Cabo Carlos Alberto Alves Galvão (o homem que foi ferido duas vezes na mesma operação, vivendo hoje na Covilhã) e o Alf Mil Abel Maria Rodrigues, transmontano de Miranda do Douro; à direita o o Fur Mil At  Inf Arlindo T. Roda (natural de Pousos, Leiria; residente hoje em Setúbal) ...  Lembro-me da cara (mas não recordo o nome) do camarada  (sold condutor auto ?) que guarda o recipiente que continha a famosa "água de Lisboa" (segundo os africanos; para nós, era simplesmente  "água do Poço do Bispo" ou "vinho a martelo") ...

O famoso garrafão de vinho da Intendência era uma versão superior (10 litros ?) do nosso alegre e saudoso "palhinhas" dos piqueniques do tempo dos nossos pais e avós... O vidro era revestido, não a verga, mas a tiras de madeira, de modo a protegê-lo das muitas andanças e cambanças, voltas e baldrocas que tinha de fazer desde o produtor ao consumidor final...

O produtor era o o mixordeiro do Poço do Bispo (que da água do Tejo fazia vinho "pró preto"...); o consumidor final era o pobre Zé Soldado que, segundo o regulamento, tinha direito a uma caneca  por refeição dessa mistura hidro-alcoólica que chegava, quando chegava, às margens dos rios da Guiné, como o Udunduma (afluente do Geba), um dos muitos miseráveis e solitários destacamentos das NT... (LG)

Foto: © Arlindo Teixeira Roda (2010) & Blogue Luis Graca  e Camaradas da Guine. Todos os direitos reservados.
 
 
 
III – A ÁGUA FORA DOS AQUARTELAMENTOS

a) A progressão no terreno

Fora dos aquartelamentos, para além da necessidade de repor os desejáveis níveis de água no corpo, aquilo que um homem mais recorda daqueles tempos são as dificuldades de movimentação no terreno durante as operações ou as colunas auto. Terreno? Nessas terras mais a sul poderia falar-se em terreno, principalmente durante a época das chuvas? Era lodo, lodo, lodo, lama e água-lodo. A falar das águas (e dos lodos) convém não esquecer que aqueles rios do sul mais sul da Guiné, porque a altitude do solo está quase ao nível do mar, invadem a terra/lodo em cada maré-cheia. Na baixa-mar deixam à vista as grandes margens lodosas que os enquadram. Qualquer riacho, braço de rio ou braço de mar exibe a sua moldura lodosa de muitos metros, na margem esquerda e na margem direita. Aí um homem atasca-se, com risco, em alguns casos, de ser engolido. Certo foi que, devido ao esforço de tentar levantar cada pé para tentar avançar ou fugir dali, esse esforço continuado foi a causa de, com o decorrer do tempo, rebentarem hérnias inguinais. Surgiam, também, fungos e micoses entre os dedos dos pés e nas virilhas.

É impossível atravessar a pé o mais pequeno braço de água na maré-cheia, arriscado durante o encher da maré e, principalmente, durante o vazar, porque o risco de ser arrastado é grande. Em certas zonas há que esperar a baixa-mar total e aproveitar zonas mais baixas de lodo ou troncos de árvores caídos para atingir o centro da linha de água e caminhar ao longo dele (que não tem lodo ou tem pouco) até descobrir outro espaço que permita passar para a outra margem. Esta manobra é chamada CAMBANÇA. A mesma designação é, também, usada para o atravessamento de um braço de água, feito em canoa.

Muitas vezes o atravessamento de rios (com centenas de metros de largo) era efectuado, por razões de sigilo operacional, durante a noite e a canoa ia engolindo água pela borda esquerda e pela direita, à medida que avançava. Era um susto contínuo. Nem sempre uma canoa... “é uma passagem para a outra margem”.

Imagine-se o cuidado a ter no planeamento de operações, de modo a que o acesso a uma determinada zona fosse ser feito, por cambança, em maré baixa e o regresso (depois da “fogachada” habitual) também em maré baixa, no mesmo dia ou dias depois para evitar que a tropa ficasse encurralada entre “os gajos” e a água em maré alta.

Também as zonas baixas (alagadas e lodosas – “bolanhas”), cobertas de vegetação rasante à água, eram perigosas de ser atravessadas devido à exposição ao fogo inimigo colocado na orla das matas circundantes e porque a água ficava, pelo menos, à altura da cintura ou do meio do peito de um homem médio. Quando surgiam “baixios” ou a água tinha níveis superiores, havia que retirar a arma aos mais pequenos e levantá-los pela gola do “bibe” para evitar que engolissem água. Água que, além de salgada, era lodosa e insalubre.

Como se vê, os homens colocavam o “chispe de molho” logo ao sair do quartel e só o podiam secar no quartel, depois do regresso, que podia ser na noite desse dia, no dia seguinte ou dias depois. Tudo isto na época das chuvas ou imediatamente a seguir.
Depois ia baixando o nível das águas, mas ela (a água) continuava sempre presente.

Convirá dizer que havia algumas situações preocupantes nas circunstâncias descritas – progressão de noite (mesmo com luar), debaixo de chuva intensa, em caso de emboscada ou flagelação à distância.


b) A chuva

No fim da época seca a chuva anunciava-se com pequenas nuvens no horizonte. A seguir vinham as trovoadas semelhantes a rebentamentos de morteiro, consecutivos. Ventos e as primeiras chuvas.
Começava a formação das lamas nos quartéis, que durariam meses, enlameando tudo e todos e então:

(i)  surgiam, como por encanto, milhares de formigas de asa, que, depois de um voo efémero que as salvava de afogamento, se atravessavam à frente dos rostos, chocavam com as pessoas, com os objectos e a construções, em voo irregular, caindo de seguida por terem perdido as asas. Deixavam tapetes e tapetes de asas que, ou se amontoavam nos cantos ou andavam em redemoinhos provocados pelo vento, que acabava por empurrá-las para longe. As que ficavam tinham que ser apanhadas à pá, molhadas pela chuva ou permaneciam durante vários dias;

(ii) quando a chuva já continuava, verificava-se a “aparição” de centenas de rãs e sapos (e outros exemplares afins) que ocupavam todo o espaço enlameado, procurando abrigo em qualquer canto, com os seus saltos contínuos e nada elegantes, invadindo até os espaços habitados; mas o momento mais desagradável era à noite, porque tornavam impossível o sono com o coaxar ininterrupto, com vozes de tenor, barítono, contralto…

No que respeita à actividade operacional, a chuva, que, por vezes, caía em cortinas de água, dificultava o contacto (visual) entre os homens e os que os antecediam, quebrando, assim, a coluna, impossibilitando a progressão e causando o risco de serem confundidos amigos com inimigos. Imaginem como seria, então, em progressões nocturnas.

Apesar de a chuva ter uma temperatura idêntica à da nossa chuva de Verão, no meio da mata sentia-se como fria e quando era necessário parar, evitava-se até agachar por ser desagradável sentir o camuflado molhado totalmente colado às costas, o que poderá parecer estranho para quem tenha frequentado os Rangers durante o Inverno de Lamego. Mas quando se tratava de salvar a pele…

Caminhando debaixo daquela chuva persistente (que se mantém durante os meses dessa estação), havia um pingo de água irritante. Baloiçava da esquerda para a direita e da direita para a esquerda (Não estou a falar de políticos…), à frente do nariz de um homem, obrigando-o a sacudir, repetidamente, a cabeça, para o fazer cair no chão. Mas logo outro surgia, ocupando o lugar do expulso. Nova sacudidela… e assim sucessivamente. Não, não era o pingo do nariz. Era o pingo na pala do quico, que passeava de barlavento para sotavento e de sotavento para barlavento, num movimento sem fim e irritante. Solução – passar a pala para trás da cabeça, até porque não iria haver sol durante muitos meses.

Já me perguntaram se debaixo daquela chuva tropical, as armas encharcavam ou se a pólvora encharcava. Não, isso não acontecia, porque os canos das armas eram virados para baixo e graças à Fábrica de Braço de Prata.

Muitos pormenores poderia escrever sobre a água, as chuvas durante a “ época das chuvas”, mas o sentimento que mais me apetece transmitir a quem não viveu essas situações (ou mesmo a quem as viveu) – ao andar pelos terrenos alagados, bolanhas, debaixo daquelas chuvas que nunca mais paravam, sempre dentro de água – é que nunca na minha vida desejei tanto ser peixe…


c) - A sede

A matéria deste texto é, exactamente, a antítese do que trata o texto imediatamente anterior.

Cada homem tinha distribuído um cantil. Teria uma capacidade de, mais ou menos, um litro. Mesmo durante as operações de um só dia havia que saber doseá-lo. No caso de operações de dois, três, quatro dias TALVEZ em algum momento pudesse haver reabastecimento. As instruções eram para chegar o cantil aos lábios, assim como quem beija. Mas a tropa nova esgotava-o em dois actos.

A sede (sede, sede, sede, sede…) era uma coisa horrível. Na época seca, claro.
- Eh pá, dá-me uma pinga de água.

A palavra ÁGUA (água, água, água…) era equivalente a ouro. A palavra era pronunciada, pensada com a cabeça tonta de sol e sede. Era qualquer coisa de divinal, longínqua. Além disso, havia uma música de sons graves, muito graves e repetitivos na cabeça dos homens. E soava como se ecoasse num espaço cavo, oco e profundo.

Um caso conheci em que o soldado urinou no cantil e bebeu a própria urina. O que mais doía era ouvir feridos e moribundos pedir água, por vezes já com o soro a correr nas veias.

Devido à absoluta necessidade, chegámos a beber de poças de água que tinham excrementos de animais lá dentro e que, portanto, também dela tinham bebido. No caso de excrementos de vaca era duplamente perigoso – pelo facto de a bebermos e porque, se havia vacas, havia população, o que, em terreno longe dos quartéis, significava a presença próxima de guerrilheiros. Enquanto uns bebiam, outros montavam segurança, alternando-se depois. Tal como acontecia junto de rios de água doce, para beber e para encher cantis.


d) – O macaréu

Atrás foi já dito que as marés afectavam os rios e o território da Guiné muitos quilómetros para além da foz dos rios. Ora, no tempo das marés vivas, a massa de água que sobe o rio pode ser tal que a primeira onda de maré e as primeiras a seguir (em movimento contra as águas descendentes), tenham uma força e altura tais que podem perigar a navegação, principalmente de pequenas embarcações. É o macaréu, que no Brasil é chamado pororoca.


IV – EFEITOS DAS “ÁGUAS” INGERIDAS

Estando este discurso a atingir o seu final, compreensível será para o leitor quais poderão ter sido os efeitos das “águas” ingeridas nas circunstâncias já descritas.

Quanto aos compostos “cerveja, vinho ou às “Castelo”, “Pérrier” ou água tónica (estas últimas não elas mesmas, mas o respectivo aditivo alcoólico), claro que poderão ter causado efeitos a médio ou a longo prazo, mas é da outra agua (a propriamente dita) que importa, agora, falar.

O facto de a tropa combatente ter ingerido aquelas águas fora dos aquartelamentos (voluntária ou involuntariamente), acarretou, por vezes, problemas de saúde. Não esquecer as involuntárias goladas ou “pirolitos” no atravessamento de rios e bolanhas. Estas águas transportaram para o interior do corpo micro organismos que causaram ou poderiam vir a causar enfermidades em futuro próximo.

No final da comissão, cada um foi obrigado a fazer aquilo que, na gíria de caserna, era denominado “cagar no frasquinho” – acto que exigia grande pontaria, mais facilitado, portanto, para os atiradores especiais... Analisadas as fezes (se é que eram todas analisadas...), ficávamos a saber a densidade de oxiúros, triquinas e outros familiares que, gratuitamente, transportávamos. E foi então que, mais uma vez, se manifestou um dos tais “combatentes de dentro de portas”, que só bebia águas engarrafadas, comentando com ar desdenhoso:
- Não percebo tanta preocupação. A minha análise é negativa!.

Como terapêutica para matar aquela bicharada toda, transportada clandestinamente nas entranhas, eram distribuídos comprimidos, engolidos a custo e à custa de cerveja. Porquê? – Porque eram grandes, maiores e mais volumosos que a antiga moeda de um escudo, em níquel. Era o sinal que a guerra estava a acabar e que, em breve, estaríamos navegando sobre outras águas, fazendo a GRANDE CAMBANÇA de regresso a casa.

Tenho dito!
(Embora mais houvesse a dizer).
Alberto Branquinho
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 29 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6803: Contraponto (Alberto Branquinho) (13): Cambança com Caronte, ou A última viagem do soldado

24 comentários:

Carlos Vinhal disse...

Caro Alberto Branquinho
Acho que te esqueceste de uma "água" muito utilizada, principalmente após as refeições, a aguardente ou bagaço.
Manga de ronco.
Um abraço
Carlos

MANUELMAIA disse...

CARO BRANQUINHO,

AQUI ESTÁ UM TRABALHO BEM CONCEBIDO QUE PODERÁ DAR PANO PARA MANGAS E UMA BOA POLÉMICA ENTRE BEBEDORES DE TAXA ZERO,DE DENTRO DE PORTAS E OS MAIS SACRIFICADOS NO EXTERIOR QUE ABSORVIAM A BICHARADA.
PARABÉNS PELA IDEIA E PELA QUALIDADE INTRÍNSECA DO CONTEÚDO.
ABRAÇO
MANUEL MAIA

MANUELMAIA disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Sob a forma de crónica registo a reiterada mas fina ironia, amigo Branquinho.
Faz cá falta...

SNogueira

Benito Neves disse...

Caro Alberto Branquinho
Parabéns pelo trabalho e particularmente pela forma como são apresentadas aquelas que foram realidades das nossas vivencias. Li com prazer e revivi muitas situações. Era exactamente assim.
Relativamente ao transporte da água de fora para os quartéis, atrevo-me a acrescentar o caso particular, do meu tempo, que se passava com o aquartelamento do Cachil, na Ilha do Como. No aquartelamento do Cachil, diariamente, eram carregados no Unimog, barris vazios que eram transportados até ao cais da Ilha do Como, onde eram, depois, tansferidos para a embarcação LP2 da marinha ou batelão disponível que, de Catió, tinha navegado para o efeito. Era destacada uma Secção para protecção, que navegava enquanto a maré o permitia. Chegados ao cais interior de Catió, os barris eram descarregados para o cais, depois carregados em viatura Mercedes ou GMC e viajavam até ao quartel onde se procedia ao seu enchimento. Recolhia-se o pão e voltava-se ao cais interior. Já então não era possível carregar a lancha ou batelão e iniciar a viagem de regresso porque a maré tinha vazado e a lancha estava em seco. Era preciso aguardar nova maré. Feita a viagem de regresso e chegados ao quartel do Cachil, eram adicionados à água comprimidos de halozona (julgo que se escreve assim), comprimidos tira-gosto e pós clarificadores. Passada, pelo menos uma hora, a água poderia ser filtrada e utilizada.
Esta "odisseia" vivi-a durante os 16 meses que passei em Catió.
Um abraço
Benito Neves
C.Cav. 1484 (1965/67)

Hélder Valério disse...

Caro Alberto Branquinho

Olha, amigo, nem sei bem o que te diga!
Gostei, gostei mesmo, gostei bastante. Como se diz num comentário acima, cheio de fina ironia.
Mas também, em muitos momentos, um relato muito bem conseguido da vivência de quem 'andava no sul mais a sul'.
A questão da água, da chuvas e das lamas, está soberba.
É claro que, se quiserem, podem, como diz o Maia, arranjar pretextos para querelas... mas, o que é que se há-de fazer?
É preferível ficar a informação, o relato, aparentemente desprovido de emotividade, de quem não 'está a falar dele nem do seu umbigo', pois assim todos podem 'ver' como foi a vida nesses tempos (para alguns...).

Muito didáctico.

Um abraço
Hélder S.

Colaço disse...

Benito Neves "Odisseia" era para quem estava no Cachil, vivia durante dez meses e uma semana.
Transferindo esta situação para o inicio da operação Tridente em que o abastecimento da agua era feito por helicóptero, recordo que o primeiro reabastecimento foi distribuído só um copo do cantil a cada militar.
Onde não havia dinheiro que pagasse a agua, nesse dia ouvi propostas de 500$00 1000$00 e mais, nenhum vendeu.
Era mesmo uma "Aventura" a vida no Cachil.
Um alfa bravo
Colaço

Anónimo disse...

Caro Alberto Branquinho

Parabéns pelo trabalho dos “ciclos” da água e algumas implicações….

Na Guiné, em Canjadude, nos 25 meses que lá passei tive três chatices, com camaradas, sendo uma por causa da água.

Mesmo atrás do abrigo de transmissões, existia o único poço dentro do Quartel, com uma fundura de 8/10 metros. A escassez de água no tempo de seca, obrigava a uma utilização muito para além das potencialidades, até ao esgotamento do poço. Como os recursos da água existente, não cobriam as necessidades, alguém se lembrou que se podia tomar banho “a despejar o balde da água, que era retirado do poço com corda, em cima do que estava a ser banhado” mesmo juntinho às paredes do poço. Eu insurgi-me contra essa decisão, porque as águas que se infiltravam e voltavam ao poço, acabavam por ficar inquinadas com o sabão e champôs utilizados no banho, ficando imprópria a água para beber. A outra parte defendia que a terra servia de filtro e que com a utilização da pastilha halazone a água ficava purificada e novamente potável. Eu chamei-lhe ignorante e disse-lhe que ele não sabia o que era poluição… e aí a coisa azedou…

Um abraço

José Corceiro

Anónimo disse...

Pronto,camarada BRANQUINHO,cheguei à alegre conclusão de que não fui combatente.Os gajos dos morteiros,da artilharia e dos canhões s/r não foram combatentes.Sempre que havia um ataque (festa)os combatentes corriam para os abrigos e os não combatentes para os respectivos espaldões,onde se fazia um bailarico com granadas,espoletas e cargas,tendo sempre à disposição um "moet-et-chandon" bem fresquinho, que isso da oh2 da bolanha era para os pelintras dos combatentes.Isto passava-se em gadamael.Nos outros sítios seria como diz o camarada Branquinho.
Um abraço de um não ex-combatente

Anónimo disse...

No teu texto esqueces-te a colossal quantidade de "ÁGUA" que se "metia" em muitas das Reparticoes dos Comandos de Batalhoes espalhados pela Guiné. Um abraco nao aguado!

Anónimo disse...

Excelente este trabalho do Alberto Branquinho.
Uma descrição real daquilo porque passámos quer por causa da água a mais quer por falta dela, naquelas zonas do sul mais a sul da Guiné.
Os ciclos da água nas várias vertentes e a interacção com os homens em guerra.
Belo trabalho para uma futura memória de guerra.
Um abraço

José Vermelho
Ex-Fur Milº
CCAÇ 3520 - Cacine
CCAÇ 6 - Bedanda
CIM - Bolama

Luís Graça disse...

Alberto:

Que estupenda, refrescante, inspiradíssima, divertidíssima, bem estruturada e bem escrita (e melhor dita se fora em aula) a lição sobre a água (o mesmo é dizer sobre... a vida, pura e dura, de um, combatente). A água, ou melhor, as águas da Guiné, com referência (obrigatória) à "água de Lisboa, manga di sabi" (diria o balanta, o papel ou o manjaco).

Lição antológica e enciclopédia: está lá tudo ou quase tudo...

Só um grande operacional da a "tropa-macaca" (sem ofensa para minguém...) como tu, e paramais com o talento literário que te reconhecemos, é que poderia escrever uma pequena obra-prima destas...

Já agora deixa-me citar o poste antigo sobrea Op Lança Afiada (Sector L1, Março de 1969), onde escrevi:

" (...) Os soldados portugueses serviram, por sua vez, de cobaia num teste de resistência, a que o autor do relatório [, Hélio Felgas, presume-se], sem despudor, chama processo de 'selecção natural' (sic)... Num total de 700 e tal homens metropolitanos (o resto eram milícias e carregadores, habituados às duras condições do terreno), conclui-se que um sétimo fora mal seleccionado para o TO da Guiné, já que no decorrer da operação teve de ser evacuado, de helicóptero, por 'insolação, ataque de abelhas e doença' (sic).

"É o próprio relatório a reconhecer que, nesta época (tempo seco), as temperaturas andavam entre os 39 e os 44 graus, à sombra, e entre os 55 e os 70º ao sol, e que nestas condições, a guerra tinha que parar das 10 da manhã às 16h da tarde, precisando um soldado metropolitano de 8 a 10 litros de água (!) (...).


http://blogueforanada.blogspot.com/2005/11/guin-6374-cclxxxix-op-lana-afiada-iv-o.html

Um abraço. Luís

PS- Não largues o tema e escreve o Tratado sobre a(s) Água(s) da Guiné... Falando mais a sério, o texto alerta-nos e sensibiliza-nos para a dramática situação dos guineenses que hoje não têm água potável, da capital ao interior, de norte a sul... E mobiliza-nos também para a campanhas de solidariedade que tem sido conduzida pela Tabanca de Matosinhos e que tem o apoio da Tabanca Grande, de recolha de fundos para a abertura de 10 poços de água potável no sul da Guiné.

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/ser%20solid%C3%A1rio

Unknown disse...

Água ? Bebo muito pouca. Mas a que bebo raramente é da engarrafada. Perguntam-me se não tenho medo. Olho admirado para quem questiona.
Duas coisas que o Branquinho pode desenvolver: A água da chuva afastava os mosquitos. Ponto a favor. E dificilmente alguma água retirava o lodo, lama ou como queiram chamar das roupas. Quantas cuecas e meias deitei fora... Quantas vezes me socorri do "armazém" dos fardamentos com autos de deterioração ou validade para substituir os meus - e não só os meus, claro - . As "lavadeiras" lá os conseguiam recuperar, a troco de mais uns pesos. Se as águas falassem, que grandes estórias contariam.

Torcato Mendonca disse...

Caro Alberto Branquinho

Com a ironia, que é própria na tua bela escrita descreves e de que modo, A Água.
Era ouro em certas ocasiões.
Está tão bem descrito que pode figurar no "Livro das Temáticas", aqui o tema seria a Água e derivados. Nada mais devo acrescentar. Bom trabalho!

Porque o Luís Graça fala na Operação Lança Afiada. Tenho por aí um escrito. Não gosto de falar na dita operação. Durou onze dias e fui evacuado ao segundo e voltei ao quarto e, ao segundo, feriram-me quatro militares do meu grupo. Mas...confirmo a loucura que o L. Graça descreve. As NT tinham 806 militares metropolitanos, 106 milicias e 379 carregadores...evacuados dezenas e dezenas de homens. As temperaturas são, sensivelmente, as apontadas e a guerra não parava e,menos ainda a falta de água. As rações de combate era apropriadas...outro tema. A água,a sua falta, foi o principal inimigo. Por inimigo, para este a principal "ajuda" foi o comando da operação e ele escapava-se por entre os dedos...

Abraço Torcato

Luís Graça disse...

Camarada "anónimo", artilheiro de Gadamael: Claro que foste combatente, um bravo combatente... Essa condição ninguém ta pode tirar... Se passaste mais sede ou menos sede, isso não é critério ... O Branquinho ironiza. E tu também tens sentido de humor. Já agora, assina se não te importas o teu comentário... É das reg(r)as... Um Alfa Bravo.Luís

Anónimo disse...

Caro Luís Graça
Eu sou o anónimo artilheiro de gadamael.Leio quase diariamente o teu blog.Claro que entendi a prosa irónica do Branquinho.Por motivos pessoais e profissionais(sou médico)e fui voluntário da AMI na Guiné em 98,onde já voltei em 2006 como turista,apenas posso dizer que o meu nome é Manuel.

Anónimo disse...

Sr.Dr.... Manuel é um bonito nome,e para mais,tao Português como o Galo de Barcelos(que também é bonito!). Um abraco "embucado" (Obs/obs! com cedilha!) Srs.Editores do Blog---Já verificaram,no registo dos comentários,as horas matinais a que este Lusitano-Lapao se tem que levantar para....mugir renas?

Anónimo disse...

Sr.Dr.Manuel. Que me seja desculpado o voltar ao assunto,mas admito que,enquanto andava pelos bosques,(já aqui cobertos de neve),a contar as minhas renas,(é um trabalho intelectualmente exaustivo pois as "alimárias",vivendo em estado selvagem,nunca estao quietas no mesmo local),veio-me ao pensamento o porquê da necessidade do...Manuel-"Só". Será o facto de ser médico?De ter trabalhado na Guiné?De ser ex-artilheiro de Gadamael e ter acertado com demasiadas granadas no inimigo? Aceito que,de tao "assuecado" depois de 35 anos por aqui,me tornei num puro ingénuo (ou melhor,"anjinho"!),ms creio que,neste Blog nao se vendem drogas,pornografia infantil,relatos chocantes dos massacres que cada um,(e todos),de nós praticamos na Guiné.Também nao se fazem ataques cínicos ao Sr.Eng.Sócrates,ou frustrados,ao Sr.Dr.Durao Barroso,nem mesmo ofensivas opinioes sobre o Glorioso Benfica. Mistérios que criam curiosidades atávicas.Mas,o que seria a vida sem eles?

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Vinhal disse...

Caro José Belo
Outro dos grandes mistérios deste Blogue é o teu endereço de vez em quando devolver as nossas mensagens.
Entra em contacto connosco e conta-nos toda a verdade.
Um abraço do
Carlos

Anónimo disse...

Caríssimo Amigo e Camarada Carlos Vinhal. Nao quero que fiques,também,envolvido em mais mistérios.Procurei,e arranjei,uma morada "cibernética" que serve a Lapónia,Estocolmo,e Key-West na Flórida,sem necessidade de mais mudancas sempre aborrecidas. E,como,muito francamente,sinto saudades profundas de alguns "Séniores",e de "certos" Senhores Coroneis Reformados,(e nao só),aqui segue publicamente a minha nova morada para lhes dar mais umas possibilidades de me contactarem com os seus tao sugestivos E-mails,sempre agradáveis,e NOSTÁLGICOS............................... joe.joseph.usa@telia.com Bem Vindos! PS/Espero que o Camarada e Amigo Alberto Branquinho me desculpe o estar a atirar demasiada "àgua" para estes comentários. Um abraco amigo.

Anónimo disse...

Caro Alberto Branquinho.

Somente pretendo colocar algumas pintinhas nos "is" para além nada mais, porque li e reli o teu extenso trabalho e como Técnico de Saúde Ambiental fiquei convictamente esclarecido.

Por tão perfeito Tratado de Águas da Guiné (sobre uma molécula com 2 átomos de hidrigénio e 1 de oxigénio, que actualmente dá um composto com a formola de H2O e também de outras águas). Seria de todo conveniente que os Ministérios da Saúde, do Ambiente, da Agricultura e Pescas, e Outras Entidades, debruçarem-se sobre tão sábia aula com dissertação de metáforas.
Somente uma ajudinha, a intusa água Francesa Pérrier deveu-se ao seu efeito terapêutico, naquele inóspito clima da Guiné e do qual posteriormente por informação técnica vim a saber.

Mas, agora sem satirizar, pelo que contas estivemos em 1968 dentro dos Aquartelamentos de Gandembel e Ponte Balana, e a sensação havida era como a água pura de pretender estarmos no exterior. Todavia quem melhor nos poderá contar as "estórias" ali vividas, são os nossos camaradas Heróis da C.Caç.2317, em que eu de Aldeia Formosa bem as contava e foram centenas.

Com um Abraço
Arménio Estorninho
Ex-1ºCabo Mec. Auto C.Caç.2381

Anónimo disse...

Caro Alberto Branquinho,

Há longas horas que não teclo nada por motivos de saúde famíliar, mas ainda cheguei a tempo de ler esta maravilhosa verdade.

Que tema!

Obrigado pela forma como fazes esta abordagem, a problema tão importante como este da água.

Não tenho muito tempo para dar uma ajuda neste tema, mas o comentário do Benito Neves mostra bem o que os desgraçados que passaram pelo Cachil sofreram. Outro caso que também era duro. Quando saiamos de Cufar para Cabolol que tão bem conheceste, até às oito/nove horas da manhã, não havia problema. Mas pelo meio da manhã já bem dentro da mata, a beiçada recequia como cortiça, enquanto a humidade de cheiro pestilento, emanada da terra, contráriamente nos fazia respirar apenas vapor de água, aí nessa hora os cantis já não escorriam nada.

Tenho escrito e falado várias vezes, de uma receita que me foi dada pelo então médico Dr. Lemos obstetra de especialidade, pertencente ao BAT de Tite, mas em comissão em Cufar.
Pode parecer louco, mas confirmei e deu resultado.
Passo a descrever a receita para poupar o tal litro do cantil:

1 - Levar um frasquinho cheio de whisky e quando a sede aparecesse, bochechar um pouco e deitar fora o dito whisky.
2 - Beber apenas um golo de água quando a sede aparecesse de novo, e ir assim alternando.

O que é certo é que dava resultado.

Um abraço,

Mário Fitas

Anónimo disse...

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