Caros camaradas:
Ora aí está uma boa ideia do J. Belo. Para mim, então, vinha mesmo a calhar. É que ... Há muitos "buracos" nas minhas memórias de guerra mas há um que me surpreende pela sua extensão. Refiro-me à memória da viagem de regresso: um vago "flash" do ajuntamento no cais de Bissau (Uige encostado) e, de novo, uns "flashs" do aglomerado de soldados e familiares no cais de Lisboa. Da viagem propriamente dita, hoje não me recordo praticamente de nada! Ao invés do que sucedeu com a viagem de ida, da qual tenho boas memórias! Porquê?
Tenho uma opinião, no que me diz respeito.
Lembro-me de dizer, e repetir, que quando chegasse a Lisboa desceria às cambalhotas as escadas do navio, tal seria a minha alegria. Pois, nem me lembro de as descer mas, de certeza, que não foi às cambalhotas nem, sequer, a correr!
Que foi feito da esperada emoção?
Tenho cá p'ra mim que o subconsciente absorveu as emoções mais fortes e a violência da despedida. Desde Bissau sentida cada vez mais próxima, a desagregação daqueles grupos de camaradas (mais do que família) já me trazia a nostalgia do futuro, a nostalgia dos tempos vividos na Guiné. Tempos esses em que a amizade, a coragem, a dor, o sofrimento em "fogo lento", o sacrifício, a morte, a solidariedade, a alegria de viver, a camaradagem e tantos outros sentimentos nos tinham unido fortemente e, mesmo, para sempre.
Após a separação ficámos "órfãos" sem o sentir, desligámo-nos com alguma emoção mas sem problemas, acobertados e protegidos pelo desejo de construir com premência uma vida nova, "a nossa verdadeira vida", e esquecer a de combatente. Mas esta ficou em hibernação, durante bastante tempo, para a maior parte de nós.
Passados estes anos vemos, pelos blogues e sites que proliferam na blogosfera, que a vida de combatente voltou a emergir em força e com a força dos elementos que a enformaram.
Estamos velhos (ou quase) e sentimo-nos emocionados e aconchegados (bem?) naquele espaço de emoções vivido (e sofrido) na nossa juventude. É este espaço que agora nos revisita para nos animar e nos dizer que a Vida é assim, é bela, feia, alegre, triste, curta ou longa,cheia ou vazia, "chata" ou divertida. Mas quando é vivida com emoção é que "merece" ser chamada VIDA.
Por isso tenho (temos?) saudades dela, a vida vivida no chão da Guiné. Ou tenho saudades é da minha juventude?!!!
Um grande abraço
Manuel Joaquim
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Ora aí está uma boa ideia do J. Belo. Para mim, então, vinha mesmo a calhar. É que ... Há muitos "buracos" nas minhas memórias de guerra mas há um que me surpreende pela sua extensão. Refiro-me à memória da viagem de regresso: um vago "flash" do ajuntamento no cais de Bissau (Uige encostado) e, de novo, uns "flashs" do aglomerado de soldados e familiares no cais de Lisboa. Da viagem propriamente dita, hoje não me recordo praticamente de nada! Ao invés do que sucedeu com a viagem de ida, da qual tenho boas memórias! Porquê?
Tenho uma opinião, no que me diz respeito.
Lembro-me de dizer, e repetir, que quando chegasse a Lisboa desceria às cambalhotas as escadas do navio, tal seria a minha alegria. Pois, nem me lembro de as descer mas, de certeza, que não foi às cambalhotas nem, sequer, a correr!
Que foi feito da esperada emoção?
Tenho cá p'ra mim que o subconsciente absorveu as emoções mais fortes e a violência da despedida. Desde Bissau sentida cada vez mais próxima, a desagregação daqueles grupos de camaradas (mais do que família) já me trazia a nostalgia do futuro, a nostalgia dos tempos vividos na Guiné. Tempos esses em que a amizade, a coragem, a dor, o sofrimento em "fogo lento", o sacrifício, a morte, a solidariedade, a alegria de viver, a camaradagem e tantos outros sentimentos nos tinham unido fortemente e, mesmo, para sempre.
Após a separação ficámos "órfãos" sem o sentir, desligámo-nos com alguma emoção mas sem problemas, acobertados e protegidos pelo desejo de construir com premência uma vida nova, "a nossa verdadeira vida", e esquecer a de combatente. Mas esta ficou em hibernação, durante bastante tempo, para a maior parte de nós.
Passados estes anos vemos, pelos blogues e sites que proliferam na blogosfera, que a vida de combatente voltou a emergir em força e com a força dos elementos que a enformaram.
Estamos velhos (ou quase) e sentimo-nos emocionados e aconchegados (bem?) naquele espaço de emoções vivido (e sofrido) na nossa juventude. É este espaço que agora nos revisita para nos animar e nos dizer que a Vida é assim, é bela, feia, alegre, triste, curta ou longa,cheia ou vazia, "chata" ou divertida. Mas quando é vivida com emoção é que "merece" ser chamada VIDA.
Por isso tenho (temos?) saudades dela, a vida vivida no chão da Guiné. Ou tenho saudades é da minha juventude?!!!
Um grande abraço
Manuel Joaquim
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Nota do editor:
Último poste da série > 8 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6130: Os nossos regressos (23): Faz hoje 40 anos que regressei da Guiné, mas o meu espírito vagueia naquelas tabancas (José Teixeira)
(*) Vd. poste de 1 de Abril de 2011 >Guiné 63/74 - P8028: Contraponto (Alberto Branquinho) (26): Teatro do Regresso
Último poste da série > 8 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6130: Os nossos regressos (23): Faz hoje 40 anos que regressei da Guiné, mas o meu espírito vagueia naquelas tabancas (José Teixeira)
3 comentários:
Carissimo Manuel Joaquim
Passei aqui de fugida e dou com este teu texto, que gostei de ler e que seguramente (me/nos) suscita uma boa reflexão, quanto ao binómio juventude/"quase velhice" (como lhe chamas).
Logo mais, quando liberto da tarefa que me ocupou o sabado, quem sabe, debito algo mais.
Entretanto recebe um fortissimo abraço
Jorge Narciso
P.S. - E essa inscrição para Monte Real ?
Só o título deste post é um manancial de sentimentos que nos leva a quedarmo-nos pela leitura cuidadosa do seu conteúdo.
Ler e voltar a ler.
Um abraço,
Vasco A. R. da Gama
Caros camaradas
Sobre os nossos regressos, tambem não me lembro quase de nada. Tenho ideia de o Niassa ficar toda a noite ancorado no meio do rio e foi uma festa, com latas panelas a tocar pandeiros à volta do barco. Não sei se o Portojo, o Cancela, o Ze Teixeira se lembram disto.
Agora lembro-me da primeira noite na minha caminha, ca o rapaz a pensar no futuro de papo para o ar e, como era bom ali não havia emboscadas nem morteiradas, tinha acabado aquela merda para mim.
Um grande abraço para todos
Manuel Joaquim Carvalho
C Caç 2366 Jolmete
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