1. Mensagem de Joaquim Sabido (ex-Alf Mil Art, 3.ª Cart/Bart 6520/73 e CCaç 4641/73, Jemberém, Mansoa e Bissau, 1974), com data de 11 de Agosto de 2010:
Caríssimo Camarigo Carlos Vinhal;
Em anexo envio um relato de duas situações vividas já no pós 25 de Abril.
Se o meu Camarigo vir que este escrito pode conter algum interesse para conhecimento e informação aos demais Camarigos, podes "postá-lo".
Porque não juntei fotografia com a farda militar quando me apresentei à Tabanca, e porque, posteriormente, por ti tal me foi solicitado, seguem duas fotografias do tempo da vida militar, uma tirada cá e outra na Guiné, que foi batida após o regresso de uma patrulha, talvez em Jemberém, ou em qualquer outro local, sinceramente não me recordo.
Com um Abraço Camarigo, do
Joaquim Sabido
Évora
Licenciamento/desmobilização dos Comandos Africanos
Meus Caros Camaradas e Amigos;
Recebemos, há dias, remetido pelo nosso sensato e ponderado Camarigo Carlos Vinhal, um e-mail com a entrevista que o Senhor Coronel Fabião deu, há alguns anos atrás, à Senhora jornalista Maria João Avilez.
Confesso que nunca tinha lido esta entrevista, mas nela verifico a existência de, pelo menos, algumas omissões, designadamente, quanto à questão do licenciamento da Tropa Africana e do consequente assassínio de alguns desses militares que foram nossos Camaradas de armas. Assim, por ter tido conhecimento directo dessa fase, em virtude de me encontrar de serviço dia sim, dia não, tendo como incumbência a guarda ao Palácio, vi, ouvi e vivi algumas coisas. Para conhecimento e eventuais reflexões dos meus Camarigos, nomeadamente, para a “velhice” que já regressara com a missão cumprida, relato sucintamente o seguinte:
1 – Relativamente ao licenciamento/desmobilização dos Comandos Africanos, que então foi levada a efeito, omitiu o então Sr. Governador:
Quando da primeira vez que o Senhor Governador se deslocou ao quartel dos Comandos Africanos das NT, com a proposta para que eles voluntariamente e sem qualquer contrapartida, entregassem as armas e as munições que tinham em seu poder – era essa a questão fundamental para o alegado licenciamento – tal foi peremptoriamente negado pelos elementos dos Comandos Africanos. Como o Senhor Governador insistia na necessidade da entrega das armas, nesse dia, teve que de lá “fugir” – é esta a palavra correcta – entrando no carro à pressa, sob vaias, tendo, inclusivamente, apanhado alguns “calduços” e umas quantas “palmadas”, tendo outros sido distribuídos, democraticamente, pelo seu ajudante de campo o então Senhor Capitão da Força Aérea, Faria Paulino.
Então, regressaram ao Palácio em marcha acelerada, tendo eu, de imediato, sido chamado ao gabinete do Senhor Ajudante de Campo, de quem recebi instruções no sentido de reforçar a guarda para essa noite, já que o Senhor Governador esperava um eventual ataque ao Palácio. Mais me tendo sido ordenado que, batesse e arrasasse, com o armamento que havia disponível no Palácio, o Bairro do Pilão, porque era de lá que o esperado ataque partiria.
Na verdade, aqui fiquei com muitas e sérias dúvidas quanto à disponibilidade que, quer eu, quer o restante pessoal que integrava a guarda ao Palácio - que era composto por dois pelotões da CCaç 4641 -, teríamos para começar a fazer fogo sobre um Bairro onde residia inúmera população civil: crianças, mulheres e homens. Mas a ordem era mesmo essa e todos nós ficámos inquietos (por outro lado, pensávamos: - Não nos “lixámos” na mata, “lixamo-nos” em Bissau?) é a verdade. Conversei então com o nosso Capitão Miliciano Amâncio Fernandes, Comandante da 4641, que estivera em Mansoa, tendo-me ele aconselhado calma e ponderação e que aguardássemos pelo evoluir da situação durante o decurso da noite.
Chegou o novo dia e, felizmente, nada de grave aconteceu, para além dos habituais “tirinhos” que sempre se faziam ouvir naquele emblemático Bairro de Bissau.
Certo é que, ainda hoje me questiono e até agora não encontrei resposta, como é que teríamos respondido perante uma situação em que evoluísse um possível e então pelo Senhor Governador esperado ataque ao Palácio, provindo e com “pavio” naquele Bairro? Certamente que nos teríamos que proteger e defender, mas daí até dar cumprimento à ordem que verbalmente me fora transmitida, para arrasar com o Bairro, ia e vai uma grande distância.
Então como é que o Senhor Governador conseguiu serenar o pessoal e proceder ao almejado licenciamento/desarmamento? De uma forma simples, levou uma mala com notas de “peso” e pagou uma determinada verba por cada uma das armas entregue pelos elementos dos Comandos Africanos, a verba a que cada um deles teria direito foi encontrada em função do posto que os militares ocupavam na hierarquia militar e dos anos de serviço prestado. Se a memória não me falha, os menos graduados, os soldados com menos tempo de serviço receberam mil pesos cada um para entregarem as armas, inicialmente, fora ponderado o pagamento da quantia de 500 pesos, como valor base. Tal não aconteceu com as milícias nem com outros elementos que estiveram entre e com as NT, conforme o Camarigo C. Martins já aqui referiu, já que quando saíram de Gadamael, tiveram que ser elementos do PAIGC a dar-lhes protecção, devido ao nosso abandono à sua sorte dos elementos que integraram a Milícia.
E foi desta forma, que se processou o tão propalado desarmamento/licenciamento dos militares dos Comandos Africanos. Sendo certo que eles não pretendiam entregar as armas nem as respectivas munições, porque estavam certos do desígnio que os esperava.
2 – Conforme decorre da entrevista, ao Senhor Governador Carlos Fabião foi, pelos elementos do PAIGC que vieram para Bissau, garantido que nenhuma retaliação sob qualquer forma ou pretexto seria exercida sobre os nossos Camaradas. Mas, afinal, conforme consta e do que se tem conhecimento, tal “promessa” não foi cumprida pelo PAIGC.
O que mais me espanta na entrevista, é que o triste final destinado aos nossos Camaradas, já estava anunciado e era do conhecimento de todos em Bissau, pelo menos, sabia-se, isto é, era voz corrente na Cidade, entre os Militares Africanos do Exército Português que nos afirmavam: - Vocês vão embora e nós vamos no Morés e corta cabeça.
Parece que o Senhor Governador apenas ouviu uma parte e satisfez-se com a palavra dessa parte. Será que nunca procurou, ou não quis ouvir aquilo de que todos falavam?
Por outro lado, na entrevista, disse o Senhor Coronel Carlos Fabião que os Militares Africanos do Exército Português lhe terão dito que não pretendiam vir para Portugal, pois ficavam lá, na sua terra porque ali ninguém lhes faria mal. Não referindo, no entanto, quem lhe terá dito tal, pois todos, mas todos os Militares com quem tive oportunidade de conversar, me manifestavam a sua pretensão em vir para Portugal, atendendo ao que os esperava, ou seja, a morte já anunciada e por isso de todos era conhecida.
A este pretexto, e para confirmar o que digo, posso referir pelo menos duas situações:
i) - A primeira ocorreu no final de um dia, já ao anoitecer, em que fui chamado pelo meu Camarada que se encontrava no posto de sentinela junto à porta principal do Palácio, ao cimo da escadaria, devido ao facto de cá em baixo se encontrar um indivíduo que se locomovia em cadeira de rodas e que dizia estar armado e que iria rebentar com a frontaria do Palácio.
Ali acorri, abordei o indivíduo e, após algum tempo de conversa, ele mostrou-me o que trazia sob a manta que lhe cobria as pernas e que eram, umas quatro ou cinco granadas de mão, para além da pistola e mais não me disse, pois era sua pretensão falar com o Senhor Governador. Então, fui ter com o Cap. Faria Paulino, que comigo se dirigiu para junto do indivíduo e foi apenas perante o Capitão é que o indivíduo se apresentou: - era 1.º Sargento Comando, encontrava-se paraplégico devido a ferimentos que sofrera em combate e, já que ninguém queria saber da sorte dele(s), pretendia, pelo menos, que o Senhor Governador lhe garantisse por escrito, que a mulher e os filhos, após ele ser levado para o Morés e lhe cortarem a cabeça, continuariam a receber do Estado Português uma verba a título de pensão. Se assim não fosse, ele morreria já ali, mas pelo menos rebentaria com a fachada principal do Palácio. Após cerca de duas intermináveis horas de conversa com o nosso Primeiro, o Cap. Faria Paulino conseguiu convencê-lo de que lhe agendaria uma reunião, num outro dia, com o Senhor Governador porque nesse dia e a essa hora, ele não se encontrava no Palácio, tinha saído de helicóptero e como já era quase noite não iria regressar.
ii) - Num outro dia, em que não me encontrava de serviço, passeava em Bissau com o então Capitão Pára Valente dos Santos, mais conhecido na “guerra” como o “Astérix”, e encontrámos um grupo de cinco elementos, trajando já civilmente e que ao encontro dele/nós vieram. Eram Militares que pertenciam ao Grupo de Combate do então Capitão Marcelino da Mata - que então já se encontrava em Portugal. Todos eles, sem excepção, manifestaram ao Cap. Valente dos Santos, que com eles estivera e combatera em muitas Operações, o perfeito conhecimento que tinham do que lhes iria acontecer. Rogaram o favor de que o Capitão intercedesse junto de quem tivesse competência para lhes conceder a necessária autorização no sentido de conseguirem vir para Portugal.
A resposta que o Capitão Valente dos Santos lhes deu, foi a seguinte: Estivera presente em reuniões com o Senhor Governador, com o Comandante-Chefe (o então Senhor Brigadeiro Figueiredo) e com os representantes do MFA na Guiné, e as instruções que havia eram no sentido de que, apenas beneficiavam de autorização de transporte para Portugal, os Oficiais das Tropas Africanas.
Tive oportunidade de, logo após o encontro supra descrito, conversar com o “Astérix” e questionei-o do porquê de não se possibilitar a ida dos Camaradas que quisessem ir para Portugal, independentemente do posto que tinham na hierarquia militar, tendo-me ele respondido, que eram ordens recebidas dos Comandantes do MFA, no Continente, com as quais, fiquei certo, ele próprio não concordava, devido ao facto de ser, também ele, conhecedor do que o futuro reservava a esses nossos Dignos Camaradas.
Não posso deixar de dizer que, com estes relatos, não é minha intenção desprestigiar a boa imagem que o Senhor Coronel Fabião tenha deixado, nem, muito menos, beliscar sequer, a memória do último Governador da Guiné, pois aprendi a respeitá-lo quer como Militar, quer como Homem, durante aquele período de tempo em que desempenhei funções na guarda ao Palácio e, depois, já em Portugal, devido a algumas posições que ele assumiu no desempenho das altas funções que lhe foram cometidas. Quanto refiro, faço-o sempre com o devido respeito.
Com a Camariga saudação e um fraterno Abraço, do
Joaquim Sabido
Évora
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8574: Os nossos médicos (41): Por fim, e não menos importantes, os nossos anestesistas (C. Martins / Joaquim Sabido / J. Pardete Ferreira)
Vd. último poste da série de 12 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8663: (Ex)citações (147): Guidaje – 1973. Esclarecimentos (José Manuel Pechorro)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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17 comentários:
Caros Camaradas:
Em Mampatá Forreá havia um militar dos Comandos Africanos, que chegou a integrar o Grupo Especial do Marcelino da Mata, chamado Saliú Sané, mandinga. Como era amigo da sua família, conversava com ele sempre que se encontrava de visita à família nas suas férias ou folgas. Logo após o 25 de Abril, bem ciente do que acontece nas revoluções, alertei-o para o perigo que corria, incentivando-o a ir para Lisboa ou fugir para o Senagal. Ingenuamente contrariava-me com aquele argumento de que agora eram todos irmãos unidos na construção de uma nova pátria. Felizmente, abriu os olhos a tempo e mudou de opinião : em vez de esperar pelo fuzilamento fugiu para o Senegal de onde, na década de oitenta, para Lisboa, onde o visitei, por volta de 1995.
Nesse encontro, emocionado, deu-me razão.
Um grande abraço
Carvalho de Mampatá
Meu caro camarada J.Sabido
Quero fazer uma pequena rectificação,não fui eu que relatei o acontecimento da protecção das NT pelo paigc, ao qual não assisti porque já não estava em Gadamael.
Estava em Cacine e fui à cerimónia da passagem de soberania para o paigc, tendo nessa mesma tarde partido para Bissau numa LDG, onde iam para além do meu pelotão a ccaç 20 e penso que elementos da outra ccaç e da ccav.
Nessa mesma tarde estive com o então Sr.Brigadeiro graduado Fabião e do que me recordo foi do seu traje informal e muito pouco militar(boné da força aérea, calças civis e camisa regulamentar com as respectivas estrelas nos ombros).
Penso que estás a relatar acontecimentos históricos e vergonhosos para todos nós.Não quero pronunciar-me sobre o comportamento do então Com.Chefe, porque já faleceu e parece que foi um militar exemplar no TO da Guiné. A história se encarregará de fazer justiça.
Aproveito para te agradecer o elogio que me fizeste em poste anterior quando relataste o ataque a jambarém e o nosso apoio artilheiro.Não fizemos mais do que a nossa obrigação, só que não imaginas o que sofri quando flagelamos o vosso perímetro, apesar de o alferes do pelart de jambarem me estar a regular o tiro e os cálculos estarem bem feitos nunca se pode garantir que as granadas vão cair onde queremos, basta, por exemplo, haver uma pequena deficiência numa carga e..ser a morte do dito...cujo..
Jamais me perdoaria..felizmente que correu tudo bem.
Um alfa bravo
C.Martins
Conhecia apenas o que foi escrito, fruto talvez da mesma entrevista que falas na tua descrição.
Aceitando como verdadeiros os factos que presenciaste e viveste e a forma respeitosa como o fazes, especialmente tendo em conta tratar-se de quem já não pode defender-se, merece o meu elogio e admiração.
Lamento apenas este triste desenrolar dos acontecimentos de camaradas que, não sendo flor de cheiro por onde passavam, especialmente para as suas gentes, não mereciam a sorte que tiveram, abandonados por aqueles a quem serviram. Talvez alguns não quizessem mesmo vir para Portugal, mas isso não justifica a falta de apoio e não desculpa o que aconteceu.
Como militar que fui e servi debaixo da mesma bandeira, só posso pedir desculpa pelas decisões dos responsáveis do meu País.
Um abraço,
BSardinha
Camaradas
O abandono a que foram votados os nossos Camaradas Africanos é simplesmente a " PÁGINA NEGRA do CAPÍTULO VERGONHA da História de Portugal...
Mantenhas
Luís Borrega
Camaradas,
Este depoimento do Joaquim Sabido constitui uma importante informação, no sentido de ilustrar o "humanismo" revolucionário, a falta de solidariedade que ainda se esgota em homenagens inanes, a falta de planeamento e preocupação de quem se meteu a fazer revoluções por egoísmo.
Aqueles militares sabiam que contavam com o apoio da retaguarda, das populações cansadas dos 13 anos de guerra e de um regime que continuava muito inoperante; mas deram provas de imaturidade, pela falta de previsão das consequências do movimento, eivado de contradições, que não continha um sério objectivo político. Pois é, tanto poderíamos ter inclinado para um lado como para o outro, que o programa do MFA contemplava qualquer um.
Saúdo o Joaquim Sabido pela frontalidade e desassombro.
JD
Companheiros eis mais um relato que reforça aminha opinião sobre as chefias do pós 25A, que naõ tinham soldados nativos mas sim soldados descartáveis, ou seja usar e deitar fora, infelizmente a história tem nos mostrado que os soldados descartáveis não eram só os nativos pois tentaram e ainda continuam a tentar fazer o mesmo aos brancos com a unica diferença que cá não temos Morés nem cortam cabeças, de qualquer forma houve quem alvitrasse o Campo Pequeno.
Cumprimentos
Antonio Barbosa
A sorte dos colaboradores em todos os pós-guerras foi sempre trágica.Ao oferecerem-se como voluntários para um Exército em plena guerra colonial,nas suas terras de origem e lutando contra as suas gentes,estes africanos,vivendo ente o Senegal e a Guiné Conakri deveriam saber bem qual o rumo da História em África.Lutaram com dignidade.Foram traídos.E,isto em nada justifica a cobardia de quem os abandonou à sua sorte,fossem quais fossem as ideologias invocadas,ou servidas.
Caro José Belo :
Sem pretender dar-te lições de história,que para tal não tenho conhecimentos, sempre gostaria de te recordar, repito recordar, que nem sempre os colaboradores tiveram um fim trágico.Nos casos em que os conquistadores ou colonizadores ganharam, os colaboradores ou mais pejorativamente os colaboracionistas (como alguns gostam de dizer) até foram premiados com dinheiro, com títulos
ou com estatuto.No caso da Guiné, como se sabe, o control da população foi muito disputado por ambos os lados, particularmente com o spinolismo. A propaganda era muito incisiva e num meio social extremamente carente a todos os níveis, não admira que as populações cedessem para o lado que lhes parecia mais promissor e propiciador de melhores condições de vida. De resto, não se tratava de defender ou contrariar uma pátria guineeense cuja existência real, nem hoje, está perfeitamente afirmada. Para eles, a Guiné deveria continuar ligada a Portugal, por mais alguns anos,criando os seus próprios quadros, melhorando as suas infraestruturas até escolherem um caminho de perfeita autonomia ou mesmo a independência.Os combatentes que estiveram do nosso lado (conversava com muitos)não tinham a noção que combatiam contra as suas gentes mas sim contra as outras gentes. Quando estive na Guiné em 2009 fiquei com a ideia de que muitos Guineenses, se pudessem, gostariam de fazer a história andar para trás.
Com isto não quero defender a nossa continuidade na Guiné nem a guerra que lá provocamos e sofremos.Na verdade só devemos estar onde formos desejados.
Com este comentário só pretendi defender os combatentes naturais da Guiné que estiveram connosco e que foram enganados.É sempre fácil enganar os pobres e eles foram enganados por ambos os lados.
Um grande abraço
Carvalho de Mampatá
Caro Camarada e Amigo. Servi em Mampatá entre 1968/69,sendo on responsável pelo Destacamento,entäo de pelotäo único.Foi bastante duro tendo em conta as condicöes em que vivíamos,e os ataques sucessivos.Mas,e como täo bem diz o meu camarada de pelotäo José Teixeira "Quem passa por Mampatá nunca mais esquece as suas gentes amigas".Sem os Milícias locais,que,com coragem lutavam ao nosso lado,e algumas das vezes à nossa frente,a nossa sobrevivência ,em algumas ocasiöes,teria sido bem precária.Näo fomos "Nós" que os enganámos.(Apesar de termos sido parte involuntária(!) do seu drama)."Nós" lutámos juntos,misturando o nosso sangue,e,literalmente,"comungando" o pó da mesma terra vermelha no rebentamento das minas. No ano de 1974,em reuniöes entre militares em Lisboa,onde se discutiu a situacäo em que estes soldados ficariam,principalmente os das Tropas Especiais,todos os militares presentes que tinham combatido (e saliento a palavra "combatido"!) na Guiné,defenderam acaloradamente o seu imediato transporte para Portugal usando os meios mais rápidos disponíveis.E,as actas dessas reuniöes existem.Eu disponho de cópias."Nós" os seus verdadeiros camaradas de armas näo os enganámos.Eles foram cobardemente traídos por um pequeno grupo....entäo mais preocupado com a sua "novíssima imagem política" do que com antigos valores como lealdade e honra.Os complexos de alguns destes novíssimos democratas?As necessidades contínuas de darem provas do seus "revolucionarismos" de última hora? Talvez.Mas os precos pagos? Um abraco.
Caro camarada J.Belo
Independentemente de saber quem são os culpados da nossa VERGONHA COLECTIVA o facto é que aconteceu e isso já não pode ser remediado.
Numa das minhas idas à Guiné soube que o governo enviou dinheiro para a Guiné para todos os combatentes das NT e do PAIGC (santa ingenuidade) mas parece que ninguém lhe viu a cor.
O que mais me impressionou foi ver na nossa embaixada filas (como agora se diz)de antigos combatentes e inclusive de antigos elementos do exército português anteriores à guerra e ou familiares destes,para pura e simplesmente pedirem os documentos militares.
Quando a alguns perguntei o motivo a resposta era; porque sim..porque sentiam orgulho em ter sido, e não estavam à espera de qualquer compensação monetária.
Não esqueço na minha ida a canquelifá, apenas e só como médico da AMI, ao chegar deparei com uns 50 homens devidamente formados, e tive que seguir o ritual militar..sentido,continência e apresenta-se o soldado n.º da comp..etc e tal..tentei explicar-lhes que já não era militar..já foste.. e lá tive que aguentar as gargalhadas em surdina, que o momento era solene, da enfermeira Maria Duarte que me acompanhava.
Encontrei em Gabu um antigo soldado meu e fez questão de seguir o ritual, eu só queria abraça-lo, mas ele insistiu e só depois de dizer que era Português e amava bandeira nacional é que nos abraçamos e choramos que nem umas madalenas.. perante o espanto geral.. onde é que já se viu dois homens "grandes".. assim.
Tinha todos os documentos guardados religiosamente e que me mostrou com orgulho.
Um alfa bravo
C.Martins
Caro José Belo:
Gostei muito do teu comentário que vem confirmar a opinião que já tinha da tua pessoa. De facto, nós os de Mampatá ( e na Guiné houve muitas unidades instaladas nas mesmas condições de convivialidade saudável com a população local)temos uma forma especial de olhar aquele evitável conflito.
Um grande abraço para ti e para todos os combatentes.
Carvalho de Mampatá
Relativamente à desmobilização dos comandos africanos aconselho a consulta a http://www.ahs-descolonizacao.ics.ul.pt/guine.htm. Trata-se de um conjunto de entrevistas coordenadas por Manuel de Lucena no âmbito de um projecto do Instituto de Ciências Sociais, realizadas entre 1995 e 1998. Matos Gomes e Florindo Morais (o último comandante do Batalhão de Comandos) são entrevistados e procuram esclarecer como se processou a desmobilização dessa Unidade (v., sobretudo, a partir da p. 83).
Um abraço,
Carlos Cordeiro
Camarada Joaquim Sabido
A ti o meu obrigado por trazeres ao nosso blogue aquilo que sentiste e viste naquela fase final. Muita gente arranja ou tenta arranjar justificações para o que se deu. Eu acho que foi uma página vergonhosa da nossa história e também da história de um novo país em que os seus dirigentes perderam uma oportunidade única de unir verdadeiramente os seus diferentes povos, mas preferiram actuar pelo ódio.
Um abraço
Luís Dias
Peço desculpa a Abreu dos Santos - o seu a seu dono - ainda que não tivesse conhecimento dos seus comentários. Mas reforço a sua ideia: é muito importante a consulta, mesmo que fiquemos ainda mais tristes.
Um abraço,
Carlos Cordeiro
Este meu último comentário surgiu na sequência de um de Abreu dos Santos, que lembrava ter já sugerido a consulta do site que indiquei.
Certamente por motivos técnicos, o comentário já não aparece.
Um abraço,
Carlos Cordeiro
Grande Sabido,
A malta da Tambanca grande nem sabe em que se meteram...o pessoal da 4641 são pior que sarna, são umas melgas dum corno.
Camaradão, com mais tempo vamo-mos encntrantdo por aqui
Abraços
Fialho
Sabido,
Soberbo o teu relato.
Estando eu de feria na metropole por essa altura, esses acontecimentos passaram-me completamente ao lado. Ferias que deviam ficar mais baratas devido ao facto de viajar pelos T.A.M (Transportes Aereos Militares) não me perguntes porquê, sei que era eu e o Furriel Palma os contemplados.
A debandada começa e as ferias de borla foram-se.
Claro que esse periodo foi confuso, desumano e até nojento...mas deixa-me fazer aqui outra leitura.
Vamos imaginar que por um lado Salazar não tinha entrado nas tres frentes de guerra e que Marcelo no entretanto tinha começado a tratar da independecia das provincias em guerra pelo menos a Guiné como chegou a estar previsto...se calhar essas desmobilizações a martelo não se tinham verificado...
O papel das tropas africas.
Vamos imaginar que os Alentejanos de Evora lutavam pela sua independencia, mas no entanto o Fialho Baleizoeiro como Alentejano que é, toma o partido da força invasora que está a matar o seu povo. A coisa corre mal e o Fialho fica com eles entalados porque foi cabrão e traidor...
Sabes que mais, este periodo meio sabujo da nossa historia está mal contado e se calhar são estas nossa opiniões fatelas que vão repondo alguma verdade nos factos
Abraços
Fialho
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