Olá amigos, e camaradas!
Hoje decidi-me apresentar à Tabanca Grande, uma vez que só agora a descobri, e assim :
Sou o Fernandino Vigário, casado, tenho três filhos, sou reformado mas ocupado pois tenho uma loja de mobiliário “Móveis Ascenção”, natural e residente em Nogueira da Maia, Distrito do Porto.
Só muito recentemente, há três ou quatro meses, tive conhecimento da existência da Tabanca Grande na internet, através do meu amigo, vizinho e parente afastado Fernandino Leite. Fui convidado por este a ir à Tabanca Pequena a Matosinhos, não me foi possível aceitar o convite mas hei-de arranjar uma vaga para o fazer futuramente, embora saiba que não se trata da mesma Tabanca, já que uma é Grande e outra é Pequena, e sei que a Tabanca Grande já foi visitada por mais de 3 milhões de visitas.
Assentei praça no CICA 1 - Porto, primeiro turno de 1966, tirei Especialidade de Condutor Auto Rodas no Regimento de Infantaria 6 - Senhora da Hora - Matosinhos, onde me mantive até Janeiro de 1967, altura em que fui mobilizado para o Ultramar.
Apresentei-me em Tomar no RI 15 onde fiz parte do BCaç 1911. Pelo meio passei por Santa Margarida, Cavalaria 4, onde fiz instrução de condução naquela zona de altitude.
O Batalhão de Caçadores 1911 embarcou em Lisboa no dia 26 de Abril de 1967 com chegada a Bissau a 1 de Maio, e desembarcámos no dia 2. Ficámos instalados em Brá com a missão de reserva do Comando Chefe durante cerca de três meses.
Em Agosto partimos rumo a Teixeira Pinto numa (LDG)? (aqui tenho dúvidas que tipo de barco era), a viagem correu sem consequências, uma vez chegados, e após ter desembarcado, a primeira visão que me chamou atenção foram 5 ou 6 viaturas destruídas por rebentamento de minas. Eu era Soldado Condutor e pertencia à CCS. Esta que ficou em Teixeira Pinto, enquanto que a CCaç 1681 foi para a zona do Bachile e Cacheu, a CCaç 1682 para Có e Pelundo, e a CCaç 1683 foi para Jolmete.
Quando o Comando do Batalhão teve conhecimento no Quartel-General que ia seguir para o sector de Teixeira Pinto, foi-lhe prestada a seguinte informação: o Sector de Teixeira Pinto não é um sector de “Roncos”, é um Sector difícil e de importância capital, e se conseguirem evitar que o inimigo penetre e domine o sector será os maior ronco que possam fazer.
Em Maio 1968, concretamente no dia 7, o Batalhão foi rendido pelo Batalhão de Caçadores 2845, com a firme convicção de um dever cumprido, com honra e orgulho de não ter deixado que o inimigo penetrasse ou dominasse aquele T’chon Manjaco, e por termos deixado todo um itinerário aberto apesar de dificil.
Teixeira Pinto era um sector difícil para todos, e em particular para os condutores devido ao perigo e rebentamento de minas, a CCS tinha a missão de abastecer vários destacamentos, entre eles, Có, Jolmete, Pelundo, Caió, Bassarel e outros: portanto os Condutores, Sapadores, Pelotão de Reconhecimento e outros, estavam sempre alinhar nas escoltas, e colunas.
A minha guerra foi feita a conduzir um Unimog, fiz várias colunas de transporte de géneros a Jolmete e a Có, com passagem pelo Pelundo e outros locais que não me recordo os nomes excepto o “barril, “as colunas eram feitas em itinerários difíceis e perigosos, o inimigo colocava minas, armadilhas, fazia emboscadas em vários locais, só com o apoio da Força Aérea e das Panhards que seguiam nas colunas era possível às nossas forças resistir aos seus ataques, e chegar ao destino, o que não impediu de sofrermos várias baixas.
Eu como Soldado Condutor era dos últimos a saber que ia haver coluna, a informação chegava como um segredo, mas havia fuga de informação, o inimigo sabia sempre o nosso trajecto e aparecia para nos emboscar, e colocar minas anticarro principalmente nas colunas para Có.
Recordo com alguma dificuldade como era Jolmete, porque pouco tempo lá permanecia. Descarregados os géneros, era o regresso a Teixeira Pinto, tenho uma vaga ideia de uns abrigos subterrâneos e era aí que os soldados dormiam, peço desculpa se estiver enganado, já lá vão quarenta e quatro anos, foram os últimos meses de 67 e os primeiros de 68. Vem isto a propósito de imagens que vi na internet de Jolmete que não reconheci, estas eram bem melhores do que aquilo que eu vi, deve ter sido obra e um bom trabalho do BCaç 2845.
Fui dezenas de vezes à Ponte Alferes Nunes, a conduzir o Unimog levar camaradas, os meus anjos da guarda faziam o percurso a pé a picarem a estrada na detecção de minas, eu não desviava os olhos da estrada para ver se o piso tinha sido movido, seguia sempre os mesmos trilhos rodados mas nunca passei para o lado de lá da ponte, esta estava destruída e as viaturas não passavam.
Com a minha viatura percorri todo o sector de Teixeira Pinto, excepto Bachile e Cacheu, e a sua zona, foram centenas de quilómetros a conduzir apenas com meia dúzia de soldados em idas ao Pelundo, Ponte Alferes Nunes, Caió, Bassarel, e outras povoações de que não recordo os nomes, foram dezenas as viagens que fiz felizmente sem consequências graves.
Nestes últimos meses fiz várias visitas ao site dos camaradas, e fiquei sensibilizado, li vários depoimentos a elogiarem o alferes que tiveram no seu Pelotão, o Capitão amigo como Comandante de Companhia. Gostava e teria todo o prazer em fazer aqui o mesmo, mas não posso: o capitão da CCS do BCaç 1911, que por razões óbvias vou omitir o seu nome, era um indivíduo que não respeitava ninguém, principalmente os soldados, a malta dizia em tom de brincadeira: o capitão está apanhado pelo clima. Pessoalmente tinha medo dele, como tinha das minas, fugia dele como o diabo da cruz, por isso raramente tinha contactos com ele, nos poucos que tinha, ele só berrava, APANHAS UMA PORRRRAAAADA PAH. Não sabia dizer mais nada. Um capitão que se prezasse devia saber incutir respeito nos seus subordinados e não medo, foi uma triste figura que passou pela minha vida. Deu-me gozo e aos meus camaradas da CCS em o ver com as calças na mão em Teixeira Pinto num levantamento de rancho de uma Companhia de Comandos. Ou pára-quedistas? Não me recordo bem ao certo. Que estavam ali de passagem para operações na mata de Jol. Com estes ele meteu a viola no saco, nem dizia o que sabia, nem sabia o que dizia, só gaguejava, e toda a malta a rir às escondidas do espectáculo.
Nos dias de hoje, quarenta e três anos depois, nos meus sonhos de fantasmas de guerra ainda ouço aquela voz: APANHAS UMA PORRRRAAAADA PAH.
Nas minhas visitas ao site tenho procurado notícias do meu Batalhão “1911” e não encontrei nada, com pena minha, porque gostava de ler histórias dos meus antigos camaradas. Há sempre algo para contar, por isso faço aqui um convite, escrevam como sabem, a mais ninguém é obrigado, eu tenho a quarta classe, e escrevi como sei.
Fernandino Vigário
Da esquerda para a direita: Teixeira de (Ribeirão); Jaime, Escriturário (Porto); Fernandino Vigário; e Fernando Correia (Arcos de Valdevez)
Brá > Fernandino Vigário e Fernandino Leite
Fernandino Vigário; Barbosa (Póvoa); Francisco (Miranda do Corvo) e Ramos (Torres Novas)
Um forte Abraço para todos os camaradas.
Fernandino Vigário,
Ex-Soldado Condutor da
CCS/BCaç 1911
Teixeira Pinto, Pelundo, Có e Jolmete
2. Comentário de CV:
Caro Fernandino, bem vindo à Tabanca Grande.
A tua entrada na tertúlia foi apadrinhada pelo nosso camarada Albino Silva pelo que não podias ter tido melhor apresentador. Ele é um dos nossos poetas, já com uma obra apreciável no nosso Blogue.
De ti, se não pudermos ter poemas, pelo menos esperamos pela tua prosa e por mais algumas fotos para publicarmos.
Na verdade tens razão quando dizes que não encontras registos do teu Batalhão. Por que és o primeiro representante do BCAÇ 1911 no nosso Blogue, ficas com a responsabilidade de contar a história da tua Unidade, tanto quanto te for possível e souberes.
Para que te possamos contactar directamente, precisamos que nos forneças o teu endereço de e-mail se o tiveres.
Passo a terminar, deixando-te um abraço em nome da tertúlia e dos editores.
O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 21 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9072: Tabanca Grande (308): Carlos Luís Martins Rios, ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857 (Mansoa e Bissorã, 1965/66)
11 comentários:
Caro camarigo Fernando Vigário
Que sejas muito bem vindo a este espaço de reposição da memória e que te sintas bem nele, é o que me ocorre dizer-te neste momento.
Não tenhas qualquer complexo quanto à forma como escreves e sobre o que escreves. Há sempre forma de ajeitar as palavras se for o caso e se necessário.
A forma de participação na guerra foi, de um modo geral, diferente para cada um de nós, por isso há sempre muitas maneiras de recordar o que se viveu. Os condutores tinham os seus problemas, os homens das minas tinham outros, nas emboscadas e patrulhas eram outros, nos aquartelamentos, aquando das flagelações ou ataques, os perigos, a ansiedade, os medos, eram distribuídos de forma mais 'democrática', tocava a todos.
Enfim, vai-te recordando dos episódios mais significativos e partilha-os connosco.
Abraço
Hélder S.
Camarigo Fernando Vigário, Saudações Guinéuas.
Benvindo a este nosso cantinho, ès mais um da nossa Secção Auto e como condutor auto rodas terás muito que contar, nas colunas é a dobrar.
Temos que, provavelmente em Teixeira Pinto e Cachéu - 1967/68, cruzaste com o Camarada Sol. José António Louzeiro, da CCav.1649.
O José António é natural de Lagoa-Algarve.
Podes o referenciar no nosso Blogue em P8386 Convívios (342) Encontro de Núcleos do Algarve.
Com um Abraço
Arménio Estorninho
Caro Fernando Vigário
Que sejas bem vindo a esta TABANCA GRANDE onde poderás expôr lembranças do passado.
Fui sol.Condutor no HM241, de Junho de 68 a Junho de 7O.
Se leres o meu P4143 de 5 de Abril de 2009, verás a histótia que eu conto.
Seis meses depois de ter chegado, sou notificado por um postal do Serviço de Justiça do Exército, para me apresentar no mesmo, para pagar sem ser eu, por um furriel desse Batalhão, que veio à Metrópole passar férias e não voltou.
Será que tives-te conhecimento da aventura desse Furriel?
UM ABRAÇO
António Paiva
Caro camarigo Hélder Valério
Não posso deixar de te agradecer pelas palavras simpáticas de boas vindas que tens para comigo.
Foste o primeiro a fazê-lo se por acaso outros o façam estas palavras também serão para eles.
De certo modo é como dizes a guerra não foi igual para todos,mas chegou e de que maneira para todos nós.
Um Abraço
Fernandino Vigário.
Caro camarigo Fernandino
Muito satisfeito por aparecer alguem que pisou os mesmos terrenos que eu.
Sou do 2845 da 2366. Em Maio/68 estive em Teixeira Pinto, em Junho estive no Pelundo e depois estivemos um ano em Jolmete.Sobre o que dizes das colunas, tenho uma tmagem dos meus primeiros dias de Guine, ver um condutor em pranto porque no dia seguinte ia ter uma coluna a Có.Talvez fosse alguem do teu Batalhão.Nas colunas a Co era normal pelo menos um morto, aquilo era muito complicado porque como tu sabes as arvores formavam uma especie de túnel que dificultavam os movimentos. Quanto a Jolmete era como tu dizes uns buracos no chão com encerados a cobrir, mas nos quando saimos de la deixamos um quartel novo.
Se mequizeres contatar o Albino Silva sabe tudo.Todas as quartas Feiras a Pessoal do 2845 no Milho Rei em Matosinhos (Tabanca Pequena) aparece lá.Falas de uma Comp. de Comandos que passou por Teixrira Pinto julgo que era a 5ª, e há pessoal dessa comp. que vai a Matosinhos.
Um grande abraço, muita saude e continua dar notícias.
Manuel Carvalho
Ex. Furr. Mil.
C Caç 2366 Jolmete
Caro Camarada Fernando Vigário
Confesso que fiquei ligeiramente emocionado ao ler o teu testemunho, nomeadamente quando falas da "besta quadrada" que foi o teu capitão.
Infelizmente era o que mais havia e há, tanto na vida civil como militar.
Também eu encontrei algumas destas "bestas quadradas", só que a minha condição era bastante diferente da tua, fui cadete e posteriormente aspirante e alferes, mas isso não invalida que te compreenda.
Tive alguns pequenos dissabores quando enfrentei inclusive oficiais com graduação superior à minha ao ver determinados tipos de comportamentos e injustiças praticadas por estes.
Normalmente os indivíduos como o teu capitão não passavam de uns invertebrados,apenas tinham uns galões em cima dos ombros.
Nunca aqui li um testemunho tão sincero como o teu ao dizeres que tinhas medo e que ainda hoje "ouves" o "levas uma porrada..páa".
A minha solidariedade..
Um grande alfa bravo
C.Martins
Amigo Fernando:
Sou Aníbal Magalhães e estive em Có em 1969 (C.Caç.2465).
Gostava de entrar em contacto consigo por motivo das colunas entre Pelundo e Có.
Um abraço
An´bal Magalhães
Mail - avxmagalhaes@sapo.pt
Caro camarada Fernando;
Caros camaradas em geral e em particular;
Depois de me identificar, passam a saber que colaboro, quando tenho material justificativo, nesta tabanca demasiadamente grande.
José Marques Ferreira, Guiné 1963/1965 - Julho/Agosto, respectivamente)-CCaç. 462, independente, integrada operacionalemnete e administrativamnente no BCaç 510, Ten Cor. Helio Felgas.
Foi a primeira companhia a chegar a Ingoré, ficando com todo o sector desde esta localidade até à praia de Varela, que incluía Sedengal, S. Domingos, Susana e Varela.
Após 16 meses aqui, enfiam-nos em Bula, como companhia operacional. Não contentes com isto, "despacharam-nos" para ser a primeira companhia a ocupar as localidades de Có, Ponate, Jolmete e Pelundo, nas quais não havia nada.
Deste sector, no qual ninguém nos molestou, contrariamente ao que se conta agora, fomos ainda conhecer Mansoa e daqui para o barco, em regresso a casa.
Tudo isto para dizer que me congratulo com este depoimento de alguém, como tantos outros, que passaram exactamente pelos mesmos locais, embora em circunstâncias e condições diferentes.
É mais um naco de história que aqui fica...
JM Ferreira
Camarigo Fernandino Vigário
Agora é que é caso para dizer: Até que enfim que vejo algo escrito sobre a minha unidade,o BCAÇ 1911, para onde fui mobilizado em rendição individual, tendo chegado à Guiné no UIGE, em 28.10.68, no mesmo barco onde viajou o BCAÇ 2856.
Como disse, fui em rendição individual, e, segundo me disseram, substituir um camarada que teria vindo evacuado e que seria o Operador de Mensagens da CCS já que era também a minha especialidade. Mas nunca me apresentei no Batalhão, que até há pouco pensava que tinha regressado no mesmo barco onde eu tinha ido. Confusões que era o que havia mais.
Fiz a minha “guerra” no STM em Bissau como já tenho escrito várias vezes.
De qualquer forma não posso esquecer que a unidade que me “chamou” foi de facto o BCAÇ 1911 e por isso mesmo passei 25 meses na Guiné.
Se te lembrares do tal Operador de Mensagens da CCS que terá sido evacuado, talvez ajudes a fazer alguma história da minha mobilização.
De qualquer forma e apesar de não te conhecer, desejo-te as maiores felicidades.
Carlos Pinheiro
Ex-1º Cabo Operador de Mensagens
Guiné Outubro 68 a Novembro 70.
Viva! É com muita alegria que consegui chegar a vós. Sou filha do Armando Ramos, de Torres Novas, 1º cabo de transmissõesdo Batalhão de Caçadores 1911 (1967-1969) que está na fotografia que gentilmente partilharam ... :) o meu pai era de facto um "borrachinho" :) e um misto de emoções me invadiram: o stress pos traumatico, o que nós filhos sofremos por consequência do que Heróis como os senhores passaram numa guerra que nos cabe a todos nos arrumar nos nossos corações e reencontrar mos a paz necessaria. Grata por este meio que ajudara e muito a sarar estas feridas comuns... ESTAMOS JUNTOS! Mafalda Ramos, telefone 93 5067764 e 91 8733318 e email: Mafaldasays@gmail.com. Em breve, em conjunto com o pai Armando, iremos colocar aqui uma fotografia do batalhão, individuais (que religiosamente guardei...) e a historia contada pela 1ª pessoa - o meu pai, cuja partilha é tão necessária já que foi apenas comigo aos 12 anos que o pai contou muito do que passou...Hoje felizmente o meu pai faz uma vida normal com saúde (dentro das limitações normais) e hoje deu uma GRANDE alegria ao meu pai GRAÇAS A VÓS! BEM HAJAM E ESTAREI MAIS ATENTA AGORA A ESTE NOSSO ESPAÇO. BOM ANO DE 2012 CAMARADAS!
Deixo vos o contacto do Armando Ramos, batalhão de caçadores 1911, 1º cabo de transmissões (meu pai): 91 187 36 03. Bem haja por tornar tudo isto possível! Um ano de 2012 com saúde e alegrias para todos! Mafalda Ramos
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