1. Caros/as leitores/as do nosso blogue:
Recebemos há dias uma bela prenda de Natal... Ainda dizem que há crise e que este ano vai haver greve às prendas de Natal!... Pois o nosso António Graça de Abreu (AGA) "ofereceu-nos" o seu Diário da Guiné, em formato word...
Vamos ser parcimoniosos, publicando alguns excertos que tiverem interesse documental, até por que o livro continua à venda nos escaparates, sob o título Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp).
A versão original tem como título: Guiné 1972-1974: A Espuma das Lágrimas. Em formato word, tem 153 pp., numeradas. Sem fotos.
Eis a nossa troca de mails, recente:
12/12/2011:
Mando-vos, completo o meu Diário da Guiné. Em qualquer altura, quando acharem oportuno, é só ir buscar um texto e publicar. Guardem na caixa dos pendentes, a longo prazo.
O meu texto sobre os veteranos italianos é que, pelos vistos, não dá para publicar. Tenho uma certa pena. Com tanta ganga que aparece no blogue... E diz o Luís que eu sou "apaparicado" no blogue... Meu eu sou suspeito a emitir opinião. Julgador em causa própria não dá. Não parece, mas no artigo de Civitavecchia está lá a nossa Guiné. E somos todos europeus, com guerras de permeio.
Abraço,
António Graça de Abreu
13/12/2011
Meu querido amigo e camarada António: Obrigado, antes de mais pela tua generosidade e camaradagem, pondo à nossa disposição um documento, ímpar, como o teu Diário da Guiné, de que eu sou leitor assíduo. Prometo fazer bom uso dele...
Quanto ao teu pedido, não está de modo algum esquecido!... Esse material está para saír, não fiques impaciente. Temos é poucos braços e mãos...
Um abraço afetuoso do Luís
2. O meu Natal no mato > Canchungo, 26 de dezembro de 2011Canchungo, 26 de Dezembro de 1972
Excerto de Diário da Guiné, 1972/74, de António Graça de Abreu... No livro, editado pela Guerra & Paz, Lisboa, 2007, corresponde à p. 65. AGA chegou a Bissau a 24/6/1972, vindo de DC-6, de Lisboa. Foi colocado no CAOP1 - Comando de Agrupamento Operacional nº 1, sediado em Canchungo (Teixeira Pinto). É Alferes Miliciano, com a especialidade de Atirador de Infantaria, reclassificado por incapacidade parcial em "Secretariado, Serviço de Pessoal". Chega a Canchungo, de helicóptero, a 26, de manhã. Nunca identifica o seu comandante, coronel paraquedista [ Durão]. Tem um diário, onde escreve quase todos os dias (ou em alternativa, cartas e aerogramas que manda à sua mulher, num total de 347, até ao fim da comissão, 17/4/1974). Teve os seus primeiros "trinta e cinco dias de férias em Portugal" de 7 de Novembro a 17 de Dezembro de 1972 (, período em que não quaisquer notas no seu Diário).
Com a devida vénia, reproduzimos hoje o seu apontamento do dia 26/12/1972, relativo ao seu primeiro Natal passado no mato:
O Natal já lá vai. O jantar de 24 para 25 foi no refeitório dos soldados do Batalhão 3863 [BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1971/73]. Havia bacalhau com batatas, bolos, tortas e pudins. Mas o jantar soou a choco, éramos quase quinhentos homens com as famílias lá longe, perdidas na distância.
No fim do jantar eram visíveis, e audíveis, grandes bebedeiras. Tivemos direito a um espectáculo de variedades improvisado pelos furriéis e soldados do Batalhão. Cantaram-se umas espanholadas e contaram-se anedotas porcas, não muito condizentes com a noite em que o Menino nasceu na gruta de Belém.
Na manhã de 25, veio cá o Spínola. Ele voa de helicóptero para todos os aquartelamentos e quartéis da Guiné, no dia de Natal deve ter visitado uns quinze ou vinte. Reconheço-lhe uma enorme coragem. Aparece de surpresa em todo o lado. A presença do general é sempre anunciada uns minutos antes numa comunicação secreta de precedência “relâmpago” destinada ao comandante do aquartelamento a visitar. Por brincadeira diz-se que o teor da mensagem costuma ser “Info V.Exa S.Exa segue na mexa.”
O general disse umas palavras simpáticas, desejou Bom Ano, falou na Pátria. No fim, com todos os oficiais perfilados, fiz-lhe continência e apertei-lhe a mão. Que honra!
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Nota do editor:
Último poste da série > 19 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9232: O meu Natal no mato (36): Conversas com um homem de Deus (Artur Augusto Silva, Quebo, 1962)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Caros camaradas
É bem verdade que todos nós temos recordações do Natal passado longe do ambiente familiar tradicional, embora com o calor das novas amizades construídas naquelas circunstâncias.
Aqueles que não tiveram a infelicidade de serem vítimas por essa ocasião, tiveram um, dois e até houve casos de quem tivesse trâs Natais passados na Guiné.
Em 1970 passei o Natal em Piche. Em 1971 foi em Bissau. Situações bem diferentes e com disposição também diferente. Como dizia o 'outro' é (foi) a vida!
Quanto à frase citada de "informo Vexa que Sexa segue na mexa" é atribuída ao incomparável major Gaspar, o Gasparinho como era conhecido.
Abraço
Hélder S.
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