Olá Carlos Vinhal
Hoje, motivada pelo despertar de lembranças, e após uma visita ao Hospital de S. João em que conhecemos um menino da Guiné que está internado em Pediatria e que segundo ele a sua Avó é de Bissorã, resolvi escrever sobre as Mulheres da Guiné e muito especialmente as "Lavadeiras dos Militares", mas ainda mais especialmente sobre a "Nossa Lavadeira" de seu nome Amélia). Assim, escrevi um pequeno texto que envio em anexo, e se por acaso o Carlos achar que é publicável, publica, caso contrario há sempre um arquivo à mão...
Resta-me desde já desejar a todos os Tertulianos sem qualquer excepção um Muito Feliz Natal e que o próximo Ano seja muito melhor que este.
Para o Carlos e Dina um abraço especial da tertuliana
Dulcinea
As nossas lavadeiras da Guiné
A nossa Amélia
Hoje resolvi escrever um pequeno texto em homenagem às “Lavadeiras” da Guiné e muito especialmente à “nossa” Lavadeira de seu nome AMÉLIA.
Creio que na generalidade todos os militares na Guiné “tiveram“ ao seu serviço essas valorosas Mulheres que conseguiam um meio de subsistência lavando as roupas dos militares em serviço na Guiné, e como não fugia à regra, o meu marido tinha a “sua” Lavadeira.
Quando cheguei a Bissorã e após a nossa instalação de acomodamento aos usos e costumes da nossa “Tabanca”, o Henrique disse-me que iríamos continuar com a Amélia. De pronto foi-me apresentada a “Famosa“ e desde logo se criou uma grande empatia entre nós, pois que a Amélia era uma senhora muito bem esclarecida, muito divertida e como a foto documenta era muito bonita.
Na realidade o que eu pretendo é fazer uma singela homenagem a todas as “Amélias” que de uma forma ou de outra acabaram por fazer parte da vivência dos militares que permaneciam longe dos seus familiares, sendo muitas vezes as suas Lavadeiras suas confidentes e quiçá terem que aturar os devaneios de jovens “desgarrados” e ausentes do convívio de suas mulheres ou namoradas.
Quero ainda salientar o quanto eram importantes aquelas horinhas certas, no final da tarde, quando as “Lavadeiras” com as suas trouxas de roupa lavada percorriam os locais dos militares a entregar as suas roupas e recolhendo outras. Que giro era vê-las em “bandos”, entrando pelo quartel, falando muito alto e rindo como se aquele momento também fosse de alegria para elas porque sentiam que o seu trabalho era útil e ajudava à sua subsistência .
Jamais esquecerei a Amélia e alguns momentos de cumplicidade que existiram entre nós, assim como jamais esquecerei tudo o que passei e aprendi com as Mulheres da Guiné. Daí o meu sincero reconhecimento a todas elas.
Fui de certo modo despertada para esta lembrança quando esta semana visitei um menino internado no Hospital de S. João, que é da Guiné, de seu nome TIGNÁ e que segundo ele, a sua avó é de Bissorã e assim todas as lembranças despertaram.
Não incomodo mais até porque não tenho muito jeito para a escrita e só escrevi este texto porque fui incentivada pelo Henrique. No entanto se virem que não tem pés nem cabeça podem enviar para o “arquivo”.
Um beijinho para todos os Tertulianos e um especial para as mulheres da Guiné.
NI (Maria Dulcinea Rocha)
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 26 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8329: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (11): Como fui parar à Guiné (Maria Dulcinea)
Vd. último poste da série de 9 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9166: Memória dos lugares (166): a paliçada de troncos de palmeira do Cachil (José Colaço, CCAÇ 557, 1963/65)
Na realidade o que eu pretendo é fazer uma singela homenagem a todas as “Amélias” que de uma forma ou de outra acabaram por fazer parte da vivência dos militares que permaneciam longe dos seus familiares, sendo muitas vezes as suas Lavadeiras suas confidentes e quiçá terem que aturar os devaneios de jovens “desgarrados” e ausentes do convívio de suas mulheres ou namoradas.
Quero ainda salientar o quanto eram importantes aquelas horinhas certas, no final da tarde, quando as “Lavadeiras” com as suas trouxas de roupa lavada percorriam os locais dos militares a entregar as suas roupas e recolhendo outras. Que giro era vê-las em “bandos”, entrando pelo quartel, falando muito alto e rindo como se aquele momento também fosse de alegria para elas porque sentiam que o seu trabalho era útil e ajudava à sua subsistência .
Jamais esquecerei a Amélia e alguns momentos de cumplicidade que existiram entre nós, assim como jamais esquecerei tudo o que passei e aprendi com as Mulheres da Guiné. Daí o meu sincero reconhecimento a todas elas.
Fui de certo modo despertada para esta lembrança quando esta semana visitei um menino internado no Hospital de S. João, que é da Guiné, de seu nome TIGNÁ e que segundo ele, a sua avó é de Bissorã e assim todas as lembranças despertaram.
Não incomodo mais até porque não tenho muito jeito para a escrita e só escrevi este texto porque fui incentivada pelo Henrique. No entanto se virem que não tem pés nem cabeça podem enviar para o “arquivo”.
Um beijinho para todos os Tertulianos e um especial para as mulheres da Guiné.
NI (Maria Dulcinea Rocha)
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 26 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8329: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (11): Como fui parar à Guiné (Maria Dulcinea)
Vd. último poste da série de 9 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9166: Memória dos lugares (166): a paliçada de troncos de palmeira do Cachil (José Colaço, CCAÇ 557, 1963/65)
8 comentários:
Adorei ler a sua homenagem às Lavadeiras.Faço votos para que a criança recupere bem.Feliz Natal
Olá Maria Dulcinea
Foi bonito lembrar aqui na nossa Tabanca Grande, através da lavadeira Amélia de Bissorã, todas as lavadeiras da Guiné que, para além de algum ganho em patacão, contribuíam com a sua alegria, a sua boa disposição, para transmitir alguma paz interior aos militares que ali estavam a perder juventude com um sorriso nos lábios.
Um feliz Natal.
Luís Dias
Maria Dulcinea:
Foi muito bonita a tua homenagem às lavadeiras da Guiné. Acabaram por serem importantes nas nossas vidas, mas nem sempre as valorizámos devidamente, talvez porque a roupa bem lavada e passada a ferro, nunca nos faltou.
Acompanho-te na tua homenagem às mulheres lavadeiras.
Feliz Natal.
Manuel Reis
Caríssima NI (Maria Dulcineia)
Li que havia dúvida se o texto 'teria cabimento'. Essa dúvida era apenas da NI, que não do conjunto dos leitores e principalmente daqueles que 'lá' estiveram.
Foi muito oportuno, muito justo, e muito bem conseguido.
As lavadeiras acabaram por representar um papel importante para que os militares que delas (da sua existência, do seu trabalho) beneficiaram pudessem ter uma maior e melhor sensação de normalidade.
Também tive 2 lavadeiras.
Uma, em Piche. A Binta, para variar. Uma jovem mãe, que estava a amamentar, a quem o 'patacão' assim ganho através da contrapartida de trabalho prestado servia para melhorar o rendimento da sua morança e ao mesmo tempo para aprender (?) as regras ocidentais da troca de serviço não por bens mas por dinheiro.
A outra em Bissau. Em todo o resto da comissão. A Irene, uma 'mulher grande' muito séria, de grande dignidade, muito trabalhadora, muito eficiente e cuidadosa com a roupa. Não tive nenhuma coisa a reclamar.
Hoje, através da leitura deste artigo, considero que se começou a prestar a homenagem que faltava a essas mulheres.
Bom Natal
Hélder S.
Gostei de ler.
Gosto de saber que há mais bloguistas que atribuem às Lavadeiras a importância do papel que elas desempenhavam junto dos militares e famílias, como é o caso da Maria Dulcinea.
Por isso, também eu escrevi e o blogue publicou a "estória" da minha Lavadeira.
Votos de um Bom Natal
Lavadeiras e lavadeiras,
Eu tive duas irmas lavadeiras (filhas do meu tio) com caracter e comportamentos bem diferentes.
A mais nova era muito esquisita, secreta, escoradia, nao gostava que ninguém (dos mais pequenos) lhe seguisse os passos e nao dava boleia para entrar no quartel com sentinela a porta de armas. Nao posso confirmar, mas entre nos, ela era suspeita de andar a fazer maquinacoes e prestar servicos extras aos seus patroes brancos, do tipo "lava tudo". Felizmente nada aconteceu de pior.
A mais velha e, também, mais bonita era a nossa preferida, pois nunca se aventurava dentro do quartel sem a nossa companhia e ainda mais, levava sempre consigo, nas costas, uma crianca emprestada de proposito para o momento. Quando entrava, nos também entravamos atras dela, senao nada feito, e as sentinelas ja a conheciam de sobra, nao
gostavam dela mas também nao a podiam obstruir a entrada.
Seguiamos directamente para a caserna dos Furrieis. Sem cerimonias, e dentro dos quartos, a nossa missao era ficar junto da nossa protegida e gritar caso fosse necessario. Os patroes olhavam para nos com olhos de espantar criancas, as vezes, na vontade de nos afastar um pouco, havia quem nos oferecesse um pedaco de pao ou uma lata de conserva. Mas mesmo um pouco distanciados pelo engodo, ainda ouviamos a voz inconformada da nossa irma resistindo as apalpadelas:
- Dixa Furriel, dixa! Djubi mininu tchora!... (deixa Furriel, olha a crianca a chorar).
Ela era, frequentemente, despedida por um e logo contratada por outro e invariavelmente, eram Furrieis.
Era estranho esse comportamento das minhas irmas, porquanto nas noites de luar, em grupos de idades cantariam louvando essas aventuras com os Furrieis em ritmos e letras herdadas de outras idades e de outros tempos:
"Capiton-ho Doktor-ho!
Firiel-ho pingarram-me!"
(O Capitao pode ser o chefao mas é o Furriel que me injecta a agulha/seringa).
E nao é que os Furrieis tinham mesmo jeito com as agulhas. Dos filhos deixados na minha terra, mais da metade seriam de Furrieis.
Muito obrigado a M. Dulcineia por esta homenagem bem merecida as lavadeiras de todos os tempos e de todos os lugares.
Um abraco natalicio a todos,
Cherno Baldé
PS:
Do texto anterior deve-se ler escorregadia em lugar de escoradia.
Em tempo,
Cherno Baldé
Amigo Cherno Baldé
Li o seu comentário com muita atenção,aliás li todos os comentário e desde já agradeço as palavras simpáticas que todos escreveram.No entanto queria comentar as palavras do Cherno e lhe dizer que quando li o seu artigo no P9085 "Memórias do Chico"e que publica a foto da sua mãe eu senti uma ternura imensa por ela ,pois que aquilo que você descreve é precisamente o modo de vida que admirei nas mulheres da Guiné da altura com todas as dificuldades inerentes de um país em guerra,mas que as pessoas se adaptaram tanto á presença constante dos militares como à sua constante rotação,pois que os militares ora estavam nas localidades,oram iam embora para a Metópole ou outros locais de serviço.
Em relação ás suas irmãs serem "assediadas"eu considero que é uma situação triste,mas sem querer arranjar desculpas para esses actos dos militares,reconheço que era mais uma das situações provocadas pela estúpida situação em que os nossos Homens foram ao serem mandados para um território desconhecido sem terem tido um mínimo de formação sobre os usos e costumes das Gentes da Guiné.
Sei que os militares que foram para Companhias Africanas tiveram alguma formação de "Acção Psicológica"antes de ingressarem nas CCAÇs Africanas.Como disse e sem querer "Branquear"maus comportamentos de alguns Homens eu tenho a certeza que hoje a maioria carrega as suas "culpas"e que valoriza de certeza todas as mulheres da Guiné tal como tem sido aqui comentado.
Cherno Baldé não estou aqui a ajuizar qualquer tipo de comportamento,estou isso sim a agradecer as suas palavras e a desejar uma vês mais um Santo Natal e si á sua Mãe ás mulheres da Guiné e todos os tertulianos e TERTULIANAS desta Tabanca que como me diz o meu marido são uns tipos ainda "muito malucos" mas que é tão bom ter alguem que escreva,comente,ralhe mas queiram ou não estão todos ligados uns aos outros pelo mesmo "Cordão Umbilical" que foi a GUINÉ.
Um beijinho para todos e Bom Natal
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