1. Comentário, ao poste P9238, escrito por José Brás (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68),
Nem sei,[, Torcato,] se sinto tudo o que sugerem a tuas palavras para além delas próprias.
Ainda assim, eu que fiz o primeiro Natal [, em 1966], no Paraíso que era Aldeia Formosa, onde havia cozinha e refeitório, duas messes, bar, comer que chegava, indo a Buba buscá-lo,com carnes e tudo no comércio com os locais; eu, gerente das messes que me aventurava por aqueles caminhos entre Aldeia e Xitole nesse comércio de trocar sal petróleo, açúcar, lata de leite, por cabrito, galinhas, ovos, e até leitões, caprichando na cozinha e na mesa, chegado o primeiro Natal, pensei que ali chegava também o Pai, sem farpela pesada mas bem carregado.
O pior foi o Medjo, [em 1967,] sem nada disso e com muito da outra comida indigesta que chegava de Salancaur, de Xim-xi-dari, do corredor [da morte ] e não nos deixava dormir 10 minutos seguidos nessa noite que devia ser de bacalhau e fora de plicas de macaco com aquela verdura liofilizada. Ainda assim, deu para ir dois dias depois a Guileje, sete quilómetros danados, para uma jogatana com a tropa local.
O Pai Natal jogou do nosso lado porque não tivemos maus encontros no caminho e ganhámos um zero com um golo meu, se a memória não me atraiçoa já.
Mas, ler-te, é ainda o melhor de tudo, porque nesse tempo de crença exageradamente materialista, nem acreditava em Pais Natais.
Abraço
José Brás
_________________
Nota do editor:
Último poste da série > 20 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9238: O meu Natal no mato (38): Mansambo, 1968: O Pai Natal não passou por lá ! (Torcato Mendonça)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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4 comentários:
Olha José Brás, eu nem sei porque escrevo e,pior ainda,sobre a Guiné.
O fulano que lá esteve pouco tem a ver com o velho - velho não, entrado na idade - de agora. Consegui ver um documentário da RTP "Adeus até ao meu regresso -cuidado que isso é nome de filme - e fiquei a pensar, a pensar e nem sei que te diga.Caramba!
Agora li-te e vi que eras vague-mestre ou parecido. A minha CART tinha um. Mas quem organizava tudo era o 1º Sargento e não sei (ou sei?) quem mais. Eram os profissionais, os tais de uma comissão e fazem contas á vidinha."Vocês, dizia ele para os Furriéis de modo a ser ouvido por outros, a quem não diria , assim cara a cara. Eu esperava pois já tinha havido baile...um dia ri-me, se me ri. Caímos em valente emboscada e o homem vinha para férias. Passou tudo, está a andar e olho para o "Nosso 1º". Porra que cara é essa? Ainda tinha o sangue nos calcanhares...diacho que raio de profissional...e ria...ai os profissionais.E ele diz-me:queria encontrá-lo quando viesse de férias. O que vi hoje levanta-me dúvidas.Olá pensei eu...Nada contra os profissionais operacionais. Estes eram de secretaria. Competente disso e, por isso mesmo governava a papelada e os eteceteras burocráticos da Companhia.
Juntei palavras e tudo para dizer: nem eu me entendo. Agora que estava mudo e quedo e um dia (Jun/05) fui escrevendo sobre um fulano que esteve na Guiné, lá isso é verdade. As palavras a jorrarem, as recordações, os nós da memória a desatarem-se e os escritos a juntarem-se. Ainda hoje escrevi sobre o Ano Novo.Melhor o período entre o Natal/68 e o dia 3/Jan de 69(salvo seja)com o Ano Novo desse ano.Tanto trabalho.
Olha vai longo clico a ver se vai.
ABraço T.
Pequena correcção
Olha José Brás, eu nem sei porque escrevo e, pior ainda, sobre a Guiné.
O fulano que lá esteve pouco tem a ver com o velho - velho não, entrado na idade - de agora. Consegui ver um documentário da RTP "Adeus até ao meu regresso” -cuidado que isso é nome de filme - e fiquei a pensar, a pensar e nem sei que te diga. Caramba!
Agora li-te e vi que eras vagomestre ou parecido. A minha CART tinha um. Mas quem organizava tudo era o 1º Sargento e não sei (ou sei?) quem mais. Eram os profissionais, os tais de uma comissão e fazem contas á vidinha."Vocês, dizia ele para os Furriéis de modo a ser ouvido por outros, a quem não diria, assim cara a cara. Vocês vão e dois anos depois acabou. Nós já estamos com algumas comissões… Eu esperava o dia. Já tinha havido “baile” e os papéis...enfim.
Um dia ri-me, se me ri. Caímos em valente emboscada e o homem vinha para férias. Acabou o tiroteio, as voltas normais e está a andar. Olho para o "Nosso 1º". Porra que cara é essa? Ainda tinha o sangue nos calcanhares...diacho que raio de profissional...e ria...ai os profissionais. Ele diz-me: queria encontrá-lo quando viesse de férias. O que vi hoje levanta-me dúvidas. Olá pensei eu...Nada contra os profissionais operacionais. Estes eram de secretaria. Competente nisso e, por isso mesmo governava a papelada e os eteceteras burocráticos da Companhia. Eu quase que ia ficando na Comissão Liquidatária, pois comandava a CART. Não fiquei para alegria dele (s).
Juntei palavras e tudo para dizer: nem eu me entendo. Agora, em Jun/05, estava mudo e quedo e um dia li o Blogue. Depois fui escrevendo sobre um fulano que esteve na Guiné, lá isso é verdade. As palavras a jorrarem, as recordações, os nós da memória a desatarem-se e os escritos a juntarem-se. Ainda hoje escrevi sobre o Ano Novo. Melhor o período entre o Natal/68 e o dia 3/Jan de 69 (salvo seja); com Ano Novo desse ano no meio. Tanto trabalho fazia um militar de passagem...
Olha vai longa a lenga lenga. Clico esperando que voe. Este tem correcções pequenas. O outro não foi revisto… está ruim mas não altera muito… ABraço T.
Quarta-feira, Dezembro 21, 2011 11:34:00 PM
Não, não vago mestre nem mestre vago. Apenas um gajo mais daquele que refilavam da merda da mesa porque, pelo menos era o que parecia, havia quem quisesse comprar carrinho se voltasse. O maior refilão e mais teimoso dos refilões era eu, até que o Capitão (que também havia de andar com fome), deu um murro na mesa e gritou: Porra, Zé Brás, você vai ser o próximo gerente da messe para sorjas e oficiais. E fui.E desatei a caprichar. Aquilo já não era a mesma coisa. Caramba! Arrisquei o pêlo algumas vezes indo a sítios danados quase sozinho. Num mês dei duas vezes leitão. A comida era boa e sobrava ainda para alguns soldados mais próximos da cozinha. Comprei copos de vidro, toalhas de mesa e outros luxos. No fim, o que sobrou não dava nem para cãozinho daqueles que abanam a cabeça sobre colcha colorida na retaguarda do carro/projecto do 1.º. Houve mosquitos por cordas porque o homem explicava-me que numa boa administração tinha que se construir um fundo/reserva, e eu, explicava-lhe que da dotação para a barriguinha da malta não se podia fazer, nem fundo nem reserva, coisas do meu avô que comia mal hoje com medo de ter de comer mal amanhã.
De novo comandante comandou: Gaita, pá. Ou se calam dou uma porrada num e não será no que me trata tão bem.
Abraço
José Brás
O Vagomestre ou mestre vago era e é um óptimo rapaz. Não tinha lança, não via moinhos e, se Dulcineia tivesse, era na terra dele. Menos ainda um Sancho...assim tentava dar o melhor,ia de quando em vez numa coluna ao Sonaco -terra de vacas -.
Não tínhamos messe ou comida diferenciada de outros militares.Todos comiam e dormiam de forma igual. Foi essa a instrução recebida e praticada em Mansambo. Haviam duas mesas, uma pequena para oficiais e outra maior para sargentos. Estavam na metade interior de um abrigo em L; na outra metade estava o salão de festas (10/12 m2)de uma parte do meu grupo.Servia, aquele espaço de tudo,salão de refeições; de reuniões;de convívio e bar. Sim de bar. Havia um frigorífico a petróleo mas quando os 10,5 disparavam, fornicavam os vidros da "chama" e nem sempre havia substitutos.Uma deliciosa merda pá.Nas Tabancas era pior e chegamos a comer feijão frade com feijão frade.Até o óleo da lata das cavalas se finou.Cavalas há muito que tinham cavado. Em visita o General resolveu a situação. Até tabaco houve nesse dia.Tabaco pá em cigarros. Felizmente, pois tudo se estava a acabar. Até as quecas se foram...
Áh...quanto custava uma Companhia. Nisso falamos fora da época do Papai Noel...carrito?...?....
Ainda, uns fulanos que por aí andam, nos vão ao bolso para o tal "fundo de reserva"...
Ab T.
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