1. O nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), enviou-nos a seguinte mensagem com data de 21 de Março de 2012:
Os Oficiais do Corpo do Estado Maior (CEM) no TO da Guiné em 1973/74
Os oficiais do QG/CTIG e do Comando-Chefe, na Guiné no ano de 1974, eram quase todos do Corpo do Estado Maior (CEM), inclusive, o próprio General Bethencourt Rodrigues (ver a estrela nas boinas do general Bettencourt Rodrigues e no seu CEM do CTIG, coronel Henrique Gonçalves Vaz). Este Corpo de Oficiais eram na altura considerados uma Elite dentro do Exército Português.
General Bethencourt Rodrigues e o Coronel Henrique Vaz
O Corpo de Estado-Maior (CEM) foi criado em 1834, pelo Decreto de 18 de Julho, com um quadro de 8 oficiais superiores, 2 coronéis, 16 capitães e 16 tenentes, num total de 40 oficiais.
O CEM consistia num corpo, formado apenas por oficiais de elite, que recebiam uma formação especial para exercerem funções nos estados-maiores das grandes unidades do Exército Português.
A sua formação passou a ser feita na Escola Central de Oficiais - mais tarde, Instituto de Altos Estudos Militares. Ao receberem a sua formação, os oficiais abandonavam as suas armas de origem e ingressavam no Corpo de Estado-Maior.
O CEM foi novamente criado em 1938 e mantido até ao 25 de Abril de 1974. Pelo art.º 6º do Decreto 28.401 de 31 de Dezembro de 1937, passou a ter a seguinte constituição: 12 coronéis, 12 tenentes-coronéis, 20 majores e 40 capitães, num total de 84 efectivos. Considerado muito elitista, o corpo foi extinto a seguir ao 25 de Abril de 1974.
O CEM consistia num corpo, formado apenas por oficiais de elite, que recebiam uma formação especial para exercerem funções nos estados-maiores das grandes unidades do Exército Português.
A sua formação passou a ser feita na Escola Central de Oficiais - mais tarde, Instituto de Altos Estudos Militares. Ao receberem a sua formação, os oficiais abandonavam as suas armas de origem e ingressavam no Corpo de Estado-Maior.
O CEM foi novamente criado em 1938 e mantido até ao 25 de Abril de 1974. Pelo art.º 6º do Decreto 28.401 de 31 de Dezembro de 1937, passou a ter a seguinte constituição: 12 coronéis, 12 tenentes-coronéis, 20 majores e 40 capitães, num total de 84 efectivos. Considerado muito elitista, o corpo foi extinto a seguir ao 25 de Abril de 1974.
Hoje em dia só se fala de CEM, em termos históricos e de investigação militar, sendo assim o Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, do Instituto Universitário de Lisboa, apresenta como Tema de um Projecto de Investigação, o seguinte: "O Corpo do Estado Maior do Exército Português: apogeu e queda", explicitando que "o projecto tem por objectivo o estudo aprofundado da elite do Corpo do Estado-Maior (CEM), no Exército Português, durante o Estado Novo. Em termos cronológicos, o projecto abrange períodos fundamentais na acção do CEM, desde os anos 1940 às guerras em África, passando pela modernização operada com a adesão à NATO e detectando as várias influências doutrinárias estrangeiras."
[Mais informação disponível em: http://www.cies.iscte.pt/projectos/ficha.jsp?pkid=433. ]
[Mais informação disponível em: http://www.cies.iscte.pt/projectos/ficha.jsp?pkid=433. ]
Estes oficiais que entre outros, "aguentaram a Retirada Final", foram também parte daqueles que fizeram o planeamento das operações da Guerra, e que trataram de toda as operações de logística, para que não faltasse nada (ou faltasse o mínimo...) aos militares que estavam na frente de combate, no mato. Como tal relembro-vos o seguinte:
O Curso Complementar do Estado Maior, no IAEM (Instituto dos Altos Estudos Militares, segundo o General Pedro Cardoso, com o curso (1958/59) foi o primeiro a instruir os oficiais do Exército Português, sobre” guerra subversiva”.
As tácticas e técnicas para este tipo de conflito foram” importadas” da Inglaterra, com base nos problemas ligados com a Malásia, o Quénia e a ameaça soviética. Segundo este oficial, os Militares Portugueses não foram surpreendidos em África, pois a partir de 1960 os oficiais do Corpo do Estado Maior já saíram com preparação para este tipo de Conflito não convencional.
As tácticas e técnicas para este tipo de conflito foram” importadas” da Inglaterra, com base nos problemas ligados com a Malásia, o Quénia e a ameaça soviética. Segundo este oficial, os Militares Portugueses não foram surpreendidos em África, pois a partir de 1960 os oficiais do Corpo do Estado Maior já saíram com preparação para este tipo de Conflito não convencional.
Instituto de Altos Estudos Militares (IAM), Curso complementar do Estado Maior, 1958/59. Capitão Henrique Gonçalves Vaz com os camaradas e professores, no Instituto de Altos Estudos Militares em 1959.
Curso complementar do Estado Maior, 1958/59. Capitão Henrique Gonçalves Vaz com os camaradas, no Instituto de Altos Estudos Militares em 1959. O Tenente-coronel, Cunha Ventura é o oficial sentado á direita e o Coronel Henrique Vaz é o oficial de óculos a pé frente á porta, na altura capitão.
Também o Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE), em Lamego, criado em 16 de Abril de 1960 pelo exército português, com o fim de ensinar aos militares portugueses as tácticas de contra-insurreição (ou contra-subversão), foi importante na "condução de uma doutrina para a guerra colonial". Como tal, tanto o CIOE como o IAEM tornaram-se fóruns para exploração e desenvolvimento das estratégias e tácticas mais eficazes contra qualquer conflito não convencional nas colónias portuguesas de então.
Apresentação de trabalhos no Curso do Estado Maior no IAM, curso de 1958/59, frequentado por dois oficiais do CEM, presentes no TO da Guiné em 1973/74, o coronel do CEM, Henrique Gonçalves Vaz (CEM/CTIG) e o Tenente-coronel do CEM, Cunha Ventura, Chefe da 1ª Repartição do QG do CTIG nesse mesmo ano.
Na Guiné Portuguesa, a partir da chegada do gen Bettencourt Rodrigues, o Comando-chefe e o QG/CTIG, ficaram sob o comando de oficiais do Corpo do Estado Maior (CEM), formados já para "enfrentarem" uma guerra "assimétrica" como a guerrilha que o PAIGC nos fazia, desde o Comandante-chefe ao Chefe da 4º Repartição, passando pelos seus Chefes do Estado Maior (o do QG do CTIG e o do Comando-chefe), todos eram do Corpo do Estado Maior, ao contrário do anterior Comandante-chefe, o ilustre General Spínola, que era da Arma de Cavalaria.
O Coronel do CEM Henrique Gonçalves Vaz, CEM do CTIG, e o Tenente-coronel do CEM Cunha Ventura, Chefe da 1ª Repartição, foram do mesmo Curso do Estado Maior no IAEM, Instituto de Altos Estudos Militares, conforme se pode comprovar pela fotografia em anexo. Este oficiais frequentaram o curso complementar do Estado Maior em 1958/59, e logo no primeiro ano do curso, em 1958, realizaram um estágio na Alemanha, numa unidade Americana, no âmbito do Curso Complementar do Estado Maior.
O coronel Henrique Gonçalves Vaz, como Chefe do Estado-Maior da RMP, acompanhando o Brigadeiro Comandante da Região Militar do Porto, Eduardo Martins Soares, na visita ao Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE), em Lamego no ano de 1971.
Em 1973/74, eram os seguintes oficiais do CEM (Corpo do Estado Maior) no Teatro de Operações da Guiné:
Comandante-Chefe General do CEM - José Manuel Bethencourt Conceição Rodrigues, o Herói do Leste de Angola;
Quartel General do CTIG:
Comandante do CTIG - Brigadeiro do CEM Alberto da Silva Banazol
Chefe do Estado-Maior do CTIG - Coronel do CEM, Henrique Manuel Gonçalves Vaz, nomeado por escolha.
Sub-chefe do Estado-Maior do CTIG - Tenente-coronel do CEM, António Hermínio de Sousa Monteny;
Chefe da 1ª Repartição - Tenente-coronel do CEM Hernâni Manuel da Cunha Ventura;
Chefe da 2ª/3ª Repartição - Major do CEM Fonseca Cabrinha;
Chefe da 4ª Repartição - Tenente-coronel do CEM A. Fernandes Morgado;
Chefe de Serviço de Transportes - Tenente-coronel de Infantaria Monsanto Fonseca;
Comando-chefe:
Chefe do Estado-Maior do Comando-chefe - Coronel do CEM Hugo Rodrigues da Silva;
Sub-chefe do Estado-Maior do Comando-chefe -Tenente-coronel do CEM - Joaquim Lopes Cavalheiro;
Chefe da 4ª Repartição do Comando-chefe -Tenente-coronel do CEM - Augusto Jorge da Silveira Reis
Nota 1: Haveria mais oficiais na Guiné do Corpo do Estado Maior, mas não muito mais, pois pelo Decreto-lei nº 46 326 o Quadro de oficiais do CEM só tinha:
12 – Coronéis
12 - Tenentes-coronéis
60 - Majores e Capitães
Total Nacional – 84
Nota 2: Como tal, nem todos os oficiais do CEM eram do "Quadro", muitos eram "Adidos" ou "Supranumerários".
Bibliografia. Lista Geral de Antiguidade dos Oficiais do Exército (Quadro Permanente), Referida a 1 de Janeiro de 1969, Direcção do Serviço de Pessoal - Repartição de Oficiais, Ministério do Exército.
Visita a uma unidade com o Comandante-Chefe, General Bettencourt Rodrigues (1973), vendo-se em 1º plano, da esquerda para a direita: Coronel do CEM, Henrique Gonçalves Vaz, general Bethencourt Rodrigues e o Comandante do CTIG, Brigadeiro Alberto da Silva Banazol.
A Situação na Guiné era “muito má” em 1973, em termos militares, pois enfrentávamos um inimigo cada vez mais preparado e muito bem equipado, vários especialistas nesta área, afirmam que depois da introdução do míssil Strela, bem como outro equipamento “de ponta” de origem Soviético, a superioridade militar portuguesa até então, deixou de ser efectiva…, como tal, os altos comandos da Nação nomearam para a Guiné Portuguesa, os melhores dos seus Quadros, nomeadamente o General Bethencourt Rodrigues, denominado no meio militar, como o 'Herói do Leste de Angola', onde conseguiu êxitos muito significativos, numa também guerra de guerrilha, na expectativa de aguentarem, ou mesmo superar o inimigo da altura, o PAIGC , que mais do que nunca, estava a ser apoiado materialmente e tecnicamente, por uma das maiores potências militares Mundiais da altura e de sempre, a União Soviética.
BRAGA, 21 de Março de 2012
Luís Gonçalves Vaz
(Tabanqueiro 530)
___________
Nota de MR:
(*) Vd. também sobre esta matéria o poste do mesmo autor em:
15 DE MARÇO DE 2012 > Guiné 63/74 - P9612: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (5): Lista de oficiais CEM do QG do CTIG (Luís Gonçalves Vaz)
4 comentários:
... "depois da introdução do míssil Strela, bem como outro equipamento 'de ponta' de origem Soviético"...
Luís Vaz: não quero reavivar a inútil polémica guerra ganha/guerra perdida, em que as únicas vítimas foram (e continuam a ser) a amizade e a camaradagem que deve pautar as relações entre tabanqueiros desta Tabanca Grande... Mas já explicita melhor o que querias dizer: que "equipamento de ponta" era esse, para além do Strela, fornecido pelos soviéticos ao PAIGC ?
Abraço. Admiro o teu amor filial. Tens feito um trabalho de grande mérito partilhando connosco as memórias de arquivo do teu pai. Luis Graça
PS - Já sei que não será em Monte Real, 21 de abril próximo, que te irei conhecer pessoalmente... Fica para uma próxima visita a Braga, cidade de que gosto muito e onde vives... Boa saúde, bom trabalho.
Caro Luís:
Para se perceber o contexto "militar ", temos que colocar em análise o contexto "político", e aí perdemos a todo o pano, estávamos isolados, ou ainda há dúvidas? As duas maiores potências agiram (USA e União Soviética) da seguinte maneira, os Americanos "limitavam-nos" no uso de material da Nato,entre outros..., enquanto a União Soviética apoiava em força o PAIGC, de tal forma que promoveram a neutralização da nossa supremacia aérea, mas não iam ficar por aí, pois como é do vosso conhecimento, o CTIG dependia também da Armada para com os seus navios fazerem chegar o reabastecimento (a todos os níveis), as muitos locais do TO, e nesse aspecto, estava previsto a "Neutralização" de grande parte desse apoio, o que ia ser uma grande "perda" para nós... já que o Exército neste To,bastante recortado e sulcado por diversos rios e outros cursos de água favorável ao tráfego fluvial... há excepção de uma zona interior, para Leste da linha defendida por FARIM - MANSOA e ALDEIA FORMOSA, favorável ao trânsito rodoviário... destacando-se o rio Geba , como principal "Penetrante" para o Leste, até o XIME - BAMBADINCA, por onde se realizavam todos os transportes de pessoal e de material para a Zona do interior da Província... como tal se o "equipamento de ponta" que já estava a chegar ao PAIGC (já enviei artigo...), continuasse, até o nosso "poder de mobilidade" fluvial iria ficar comprometido... (este assunto será num próximo poste conhecido) Para tal, os nossos Comandos já se estavam a "preparar", e no início de 1974, "equacionam-se" as contras-medidas para "neutralizar" as minas "aquáticas"...... ( dispositivos que foram detectados, a primeira vez em 29 de Dezembro de 1968 e a segunda vez em 28 de Janeiro de 1972, ambos sem consequências de maior e posteriormente desactivados pelas equipas de mergulhadores-sapadores.)...
Mas se queres mesmo saber com pormenor as repostas à tua questão? lê o artigo que enviei para publicação no nosso Blog, bem como o "micro-filme" que enviei com a parte dos nossos "Serviços de informação" de então, o relatório do chefe da Repartição de Informações, o Tc Artur Batista Beirão!
Este post sobre o Corpo do Estado Maior (CEM), tem apenas o grande objectivo de dar a conhecer, o papel e formação destes oficiais para o teatro da guerra, e depois da "retirada" deste TO do ilustre general Spinola, bem como de alguns oficiais ditos "spinolistas", os Comandos de então ficaram em 74 entregues a um domínio destes, a começar pelo próprio Comandante-Chefe, General Bethencourt Rodrigues, oficial também do Corpo do Estado Maior, que "lidou muito bem com a guerrilha", no Leste de Angola! Soube-o fazer com mestria, ao ponto de imprimir uma vitória a nosso favor nessa área, até "mobilizou" o comandante Savimbi, para "trabalhar militarmente" a nosso favor, e nesse aspecto, a Guiné estava "Bem entregue", não tivemos tempo de ver os "frutos" de uma Nova actuação, no TO da Guiné, pois quando se esboçava um novo comando, o 25 de Abril "acabou com a Guerra".....
Avança com esse material meu caro Luís, para que todos possam conhecer, a "Verdadeira Situação" do IN...
Forte Abraço
Luís Gonçalves Vaz
... na foto do CIOE (em 1971), ao centro está o comandante, Fernando Lisboa Botelho.
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Mais INFO
Em Março de 74 foram mobilizados para a Guiné muitos alferes e furrieis mil. de artilharia de costa para serem reconvertidos em artilharia de campanha.
Começamos também a receber as granadas da artilharia "made in usa".
Que o apoio dos "States" estava a mudar, estava.
C.Martins
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