1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 11 de Abril de 2012:
Queridos amigos,
O documento do ministro Silva Cunha é do maior interesse.
Pelo enquadramento que pretende dar à era da descolonização e à resposta de Salazar, enunciando as diretrizes tomadas para a defesa militar, para as relações com os estados africanos, no caso em apreço, a Guiné.
Pela orientação que procurou imprimir no Ministério do Ultramar e as medidas de desenvolvimento tomadas durante o período da guerra.
Pelo olhar sobre a evolução dos acontecimentos da Guiné e as explicações que dá, aparentemente pouco dramatizadas.
Defensor acérrimo do ideário de Caetano, entrará em conflito com ele depois do 25 de Abril, e não será propriamente por causa da defesa do Ultramar.
Um abraço do
Mário
Silva Cunha e a Guiné (2)
Beja Santos
“O Ultramar, a Nação e o 25 de Abril”, de Silva Cunha, Atlântida Editora 1977, acolhe o depoimento político de alguém que esteve no governo entre 4 de Dezembro de 1962 até 25 de Abril de 1974, desempenhou funções durante cerca de 12 anos fundamentalmente na área do Ultramar Português. O seu testemunho é irrecusável a qualquer estudioso que procure entender a política de Salazar e Caetano a partir da grande vaga descolonizadora que assolou Africa e a Ásia. Silva Cunha, na continuação do que se disse no texto anterior, visita a Guiné em 1972, na altura em que uma comissão ONU percorreu regiões libertadas, e apresentou relatório em Nova Iorque. Para Silva Cunha, o relatório não convenceu ninguém mas serviu de pretexto para ativação da campanha em favor de Amílcar Cabral. E passa logo no seu escrito para os ataques a Guidage, Guileje e Gadamael. Spínola enviou para Lisboa conclusões pessimistas desta fase ofensiva do PAIGC: - o inimigo dispunha de equipamento superior ao das nossas forças; havia o risco de passar da guerra subversiva para a guerra do tipo convencional, em que, em tese, era de admitir meios aéreos e blindados para os quais não dispúnhamos de meios de defesa suficientes; o inimigo emprenhava-se em levar-nos ao colapso militar.
O relatório provocou grande alarme em Lisboa, Costa Gomes deslocou-se à Guiné e no seu regresso realizou-se uma reunião magna para apurar a evolução dos últimos acontecimentos. Costa Gomes insistiu muito sobre a necessidade de uma remodelação do dispositivo das nossas forças, reforçando as tropas de intervenção à disposição do Comando-Chefe, mesmo que fosse necessário aligeirar a extensão da quadrícula. “Assinalou também a existência de desproporção entre os nossos meios e os do inimigo e pôs em relevo o perigo que se verificaria se essa desproporção se acentuasse principalmente pela utilização de meios aéreos. O Presidente do Conselho pôs-lhe, então, formalmente o problema de saber se, como responsável operacional supremo, considerava que a situação impunha o abandono da Província. A resposta foi que, se não se desse nova escalada nos meios do inimigo, estávamos em condições de continuar a defender o território, mas que era necessário fornecer mais meios humanos e materiais ao Comandante-Chefe e remodelar o dispositivo das nossas forças”.
Certamente esquecido que Amílcar Cabral fora assassinado em 20 de Janeiro desse ano, atribui-lhe a intensão de proclamar a independência do território e refere ainda: “Chegavam-nos notícias de fortes divergências no seio do PAIGC, dividido entre os adeptos daquela orientação e os que alinhavam com Sekou Touré, que queriam que a independência fosse imediatamente proclamada. Não estão bem esclarecidas as circunstâncias deste conflito mas venceram os partidários de Touré”.
São largas e abundantes as referências que Silva Cunha tece à Guiné. Faz mesmo o historial do seu relacionamento com todos os governadores a partir de Silva Tavares, em 1958. Lembra que se convidou James Pinto Bull para Secretário-Geral da Guiné, após a Lei Orgânica de 1963, para dar um sinal de participação dos autóctones na coisa pública. Refere a FLING e o seu papel efémero, as desavenças entre Vasco Rodrigues, o governador, e Louro de Sousa, o comandante-chefe, de quem Silva Cunha não tinha boa opinião e que lhe deixara uma deplorável impressão quando numa reunião com diversos membros do governo iniciou a sua exposição declarando não saber o que estava a fazer na Guiné. Elogia o trabalho de Schulz e como este encetara uma política de desenvolvimento económico, de promoção social e de criação de infraestruturas básicas, a despeito de inúmeras vias estarem inacessíveis pela presença da guerrilha.
E assim se chegou ao consulado de Marcello Caetano e às eleições de 1969 que o chefe do Governo queria que fossem disputadas honesta e livremente e que constituem-se um referendo sobre a política ultramarina a que se seguiu a revisão constitucional de 1971 que levou à criação de províncias ultramarinas com estatutos próprios como regiões autónomas, podendo ser designada por Estados, elemento de enorme ficção entre os apoiantes do regime. Refere pormenorizadamente a questão das forças armadas no tocante à indústria e aos efetivos. Sendo notória a escassez de oficiais e sargentos dos quadros permanentes, estudou-se a abertura dos quadros permanentes aos oficiais dos quadros de complemento que tivessem boas informações de serviço, sistema que era vivamente preconizado por Costa Gomes. Passo a passo, vai acender-se um conflito que levará à constituição do Movimento das Forças Armadas. O general Spínola também protestava com a deficiente preparação das tropas e a inadequação da orgânica das pequenas unidades ao tipo de guerra de guerrilhas. O IAO, ficou decidido, começaria a ser dada na Guiné. O Estado-Maior do Exército ficou incumbido de estudar e apresentar uma nova proposta para a orgânica das companhias que levou anos e nunca se concluiu.
Em Novembro de 1973, Silva Cunha é transferido da pasta do Ultramar para a Defesa Nacional, explica minuciosamente o que fez e procurou fazer. A Guiné era o quebra-cabeças, havia que adquirir material de defesa antiaérea, mísseis terra-ar denominados Red Eye e para a Força Aérea eram necessários aviões convencionais de transporte, de reconhecimento e ataque ao solo, helicópteros e caças-bombardeiros a jato; para o combate terrestre eram urgentes morteiros de 120, sobretudo. E escreve, acerca da compra do material: “Quanto aos mísseis, iniciaram-se, em Dezembro de 1973, negociações com os americanos, aproveitando o ensejo favorável resultante das facilidades concedidas pelos Açores. Quanto à aquisição de armas coletivas, a França fabricava-as – os mísseis Crotale – e fomos informados de que estava disposta a vender-no-las. O contrato foi fechado com a empresa produtora, estando prevista a entrega em duas fases, a partir de Maio de 1974. Foi mais difícil resolver o problema dos mísseis individuais. Em Março de 1974, iniciaram-se as negociações para a aquisição de um lote de 500 Red Eyes que nos foi oferecido por uma firma europeia. Chegou-se a assinar a carta de intenção e a abrir os créditos necessários”.
Silva Cunha refere ainda o fabrico de um lança-granadas foguete do tipo RPG2, ter-se-á encarado a hipótese do fabricar em Portugal.
A última referência explícita à Guiné tem já a ver com o general Bethencourt Rodrigues, tomou posse como governador foi inteirar-se da situação e veio a Lisboa. “Expôs-me e ao Presidente do Conselho como encarava a situação e a ideia da manobra para a dominar. Indicou os meios de que necessitava. Foi-lhe concedido, do existente, o mais que se pôde e deu-se-lhe conhecimento das aquisições em curso para reforçar o nosso potencial militar. Regressou confiante e, na Guiné, no primeiro trimestre de 1974, a situação continuou sem alterações sensíveis, mantendo-se a expetativa do risco da nova escalada no inimigo, mas sabendo-se que tudo se encaminhava para se dispor de meios que lhe permitissem fazer frente”.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 14 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9896: Notas de leitura (360): Marcello Caetano, Silva Cunha e a Guiné (1) (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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10 comentários:
Registo as últimas palavras de Silva Cunha por quem não tenho admiração nenhuma:
"No primeiro trimestre de 1974, a situação continuou sem alterações sensíveis, mantendo-se a expetativa do risco da nova escalada no inimigo, mas sabendo-se que tudo se encaminhava para se dispor de meios que lhe permitissem fazer frente”.
Então e a verdadeira derrota militar, o colapso real das NT?
Não houve.
Curiosa a,creio que gralha, no texto acima "o inimigo emprenhava-se em levar-nos ao colapso militar."
Emprenhava-se?
Deve ser empenhava-se, que isto de inimigos prenhos é muito obtuso. Iam parir o quê? O colapso das NT.
Abraço,
António Graça de Abreu
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Caros Camarigos:
Eu tenho em muito má conta o Sr.Silva Cunha. A razão é simples: ele vai dizendo que, em relação ao 1ºtrimestre de 74, não há alterações sensíveis ...e diz mais...que, em relação a nova escalada do IN, pudemos estar descansados (palavras minhas), pois Portugal está em vias de comprar mais e melhor ferramenta bélica (também palavras minhas). Ora, a ferramenta faltou durante, especialmente o primeiro semestre de 73 e ninguém estava seguro de que ela chegaria, nem sequer o tal Silva Cunha. Acontece que, como se sabe comummente, clamava-se por mais gente ou (e)mais tropa especial mas a nação estava exaurida, as companhias chegavam ao mato com um único sargento do quadro e brevemente chegariam c-as só com rapazinhos. Passa pela cabeça de alguém que devíamos persistir, num exercício suicidário, naquela guerra!?
Um abração
Carvalho de Mampatá
Caro Carvalho de Mampatá,
Desconheço por completo qual a experiência que vivestes na tua companhia, quanto aos sargentos do QP.
A CCaç 3327 chegou à Guiné com dois 1os. e um 2o. Sargentos. Entretanto um foi evacuado por doença, não foi substituído. A companhia acabou a sua comissão com dois Sargentos do QP.
Desconheço se na altura da nossa guerra no Ultramar havia exércitos profissionalizados.
Quando cheguei aos EUA, o exército deste País era em tudo muito semelhante ao nosso: uma mistura de profissionais e milicianos. Ao tempo grassava a guerra no Vietname.
Já agora, pela lei americana, tive que me inscrever no Selective Service, o nosso recenseamento militar. Em 1976 fiquei livre de qualquer obrigação militar.
Um abraço amigo,
José Câmara
Com a Guiné nunca acertámos "uma".
Militarmente foi uma enorme dificuldade.
Até depois do 25 de Abril morreu gente, e não era por falta de sargentos e oficiais do quadro.
Se em 1973 já muitos na ONU tinham reconhecido a independência da Pátria de Cabral, porque é que a diplomacia de Mário Soares só resolve em Setembro o reconhecimento?
Já em 1980 quando da golpada sobre Luís Cabral fomos os últimos a resolver que estava tudo bem, já os franceses e eos vizinhos se tinham esquecido do assunto.
Quando o Papa o Meterrand e Mário soares em 1987(?)pediram clemência para Viriato Pan e outros ao Nino Vieira, já este lhe tinha "feito as contas", só o Mário Soares continuou a chatear o Nino que este fez um comício a chamar todos os nomes aos tugas, e os franceses, vizinhos e a igreja já tudo em paz com deus e com o diabo.
Já em 1998 muito guineenses ainda hoje não esquecem terem visto a Vasco da Gama atracada no Pidjiquiti, com ideias colonialistas.
Agora, já os vizinhos da Guiné e franceses acham que está tudo bem em Bissau, e Portugal acha que está tudo mal.
Mas que ingenuidade política e diplomática.
Para que queremos sargentos e oficiais do quadro?
Nunca dei um tiro e fiz a guerra "todinha" e não me parece que fosse preciso mais armas nem mais sargentos e oficiais para se fazer "tudo" o que era necessário.
Era e é preciso muita coisa, mas não "tugas armados".
... citando, da "análise" supra:
- «Silva Cunha, na continuação do que se disse no texto anterior, visita a Guiné em 1972, na altura em que uma comissão ONU percorreu regiões libertadas, e apresentou relatório em Nova Iorque.»
Não fosse tal assunto incidir em conteúdo histórico e ser de natureza seríssima - pois que envolveu um organismo como a ONU e as suas relações institucionais com Portugal, país-membro e soberano -, e não fosse o autor da recensão pessoa basto interventora neste blogue, seria caso de passar à frente, não sem antes "partir o côco à gargalhada", tal o dislate e a grosseira manipulação dos factos.
Vamos, pois, somente quanto aos factos, na parte citada, apresentar contestação (sustentada sem recurso ao m/arquivo pessoal):
1º - é verdade que o ministro Silva Cunha visitou a Guiné em 1972, durante 9 dias, em Março!;
2º - é mentira que tenha sido «na altura» referida;
3º - é mentira que alguma «comissão ONU» tenha estado na Província da Guiné Portuguesa;
4º - é verdade que uma troika 'esquerdina' nomeada pelo IV Comité da ONU, vinda de Conakcry e acompanhada por dirigentes do PAIGC, entrou ilegalmente em território português - concretamente "em circuito
fechado" na área de Ponta Balana -, no início de Abril de 1972;
5º - é mentira que tal troika «percorreu regiões libertadas», face à inexistência - 'de facto' e 'de jure'! - de tais "regiões"... "libertadas";
6º - é mentira que aquela troika tenha apresentado «relatório em Nova Iorque», pois que o fez em Conackry acto contínuo ao seu regresso àquela cidade.
Tudo está, desde há muito, exaustivamente documentado.
Concluo - uma vez mais, infelizmente -, que aquele recensor (?!) persiste em misturar, nas "análises" que aqui vai publicando, a sua enviesada interpretação da História com a propaganda veiculada (não só à época), pelo PAIGC e demais apoiantes.
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Caro Rosinha
Estimado "colon"
Umas pequenas rectificações não foi em 80 mas em 82.
Quanto à fragata Vasco da Gama, esta não atracou no cais, esteve sim ao largo no Geba,e desempenhou um papel fundamental no conflito.
Pôs em sentido três fragatas francesas,que navegavam junto à costa,pelo simples facto de que esta era muito mais moderna.
Se alguns guineenses viram isso como neo-colonialismo,viram mal.
Muitos guineenses foram transportados para Dakar com segurança graças à fragata e muitos deles viajaram para Portugal.
Eu vi centenas deles,à porta da nossa embaixada em Dakar tentado obter visto.
Já agora a Bartolomeu Dias, em Timor, também pôs em sentido toda a marinha de guerra Indonésia, pelo simples facto de ter misseis com alcance de 80 km, coisa que nenhum dos vasos de guerra indonésios tinha.
Para que conste.
Um abraço
C.Martins
Caros camarigos:
Parece-me que não fui muito claro. Na verdade eu não queria na guerra mais gente do quadro nem mais milicianos, aquilo que eu queria era que a guerra não se tivesse iniciado.Percebo que, face à carnificina de 61 em Angola, era imperativo empreender uma ação militar para travar aquela onda desumana. Porém, não tendo sido resolvido antes (sublinho antes)o problema colonial, estava na hora dos políticos, em sintonia com os ventos da história,fazer a sua parte, em todos os territórios.
Outra coisa é a minha constatação de que começámos a guerra com muitos capitães, alferes e sargentos do quadro e terminámo-la em 1974, com companhias a 99,9999% milicianas. Mas digo mais(aquilo que todos sabem mas alguns já se esqueceram)os rapazes iam para lá ao fim de 5 meses passados a aprender a marchar e a desmontar a arma, não a fazer tiro que as balas eram muito caras. Mais ainda, era tudo aproveitado mesmo alguns desgraçados cheios de bronquite e que nem aguentavam com a espingarda.Nos últimos tempos da guerra andava tudo amarrado com arame podre. É pessimismo?
Um grande abraço
Carvalho de Mampatá
Amigo Martins essa de 82 não entendi (?), nessa data estava tudo calmo com o Nino a governar calmamente.
Mas sobre armas, olha que o Lusitania que foi a Timor com Ramalho Eanes e uns estudantes, enquanto acendiamos velas em Lisboa, deram mais resultado que os canhões de qualquer navio.
C. Martins, quem em 1998 e em todos os golpes em Bissau, desde o próprio assassinato de Amílcar que tambem foi um golpe igual aos outros, quem em todos os golpes abandonou a Guiné-Bissau à sua sorte, foram os lusófilos e lusófonos, daí topares o meu ponto de vista, aonde quero chegar.
Mas C. Martins, não entendi mesmo essa data que falas em 82.
Sobre guerra com armas só falo em FBP com massa consistente no cano, e o melhor comandante com quem fiz uma patrulha em Angola foi um 1º cabo.
Só tive dois castigos disciplinares porque Luanda não me deixava ser cumpridor e tive que fugir a capitães, oferecendo-me voluntário para Zonas de Intervenção Norte (ZIN) e (ZIL) leste.
Mas rememora lá isso de 82, mas já sabes que de canhões, eu sou zero.
Caro Rosinha
Peço desculpa, tens razão, o golpe do Nino foi em 80.
Discordo dessa do Lusitânia, que para mim foi um autêntico fiasco.
O que resolveu foi um Sr. chamado Clinton que por acaso era o Presidente dos States.
A situação da Bartolomeu Dias é posterior, já com tropas australianas no terreno, e foi dado um ultimato à Indonésia para não aproximar qualquer navio num raio de 40 milhas marítimas.
Não sou apologista de que são as armas que resolvem os problemas mas que às vezes dão jeito , dão.
Com todo o respeito pelo teu saber de experiência feito,confesso que me irrita quando alguns, não é o teu caso, esgrimem o argumento do neo-colonialismo.
Os interesses de estado têm razões que a razão desconhece.
A título individual senti na pele essa mesma acusação por uma então "governadora de Gabú",logo eu que apenas lá estava para tentar ajudar aquele povo tão sofrido, isto em 98 em plena guerra civil.
Um grande alfa bravo
C.Martins
... peço desculpa a eventuais leitores do m/precedente comentário, por involuntária indução em erro, cometida por lapso de memória, e corrijo: os «9 dias em Março» por mim supra referidos, no ano de 1970; e não de 1972.
Tudo o demais, mantenho tal qual; e reforço, pormenorizando.
Joaquim Moreira da Silva Cunha, ministro do Ultramar, no ano de 1972 visitou de facto a Guiné em Abril durante 4 dias, concretamente: tendo sido oficialmente convidado pelo governador provincial para inaugurar o novo emissor de Nhacra – mas também com intenção de pedir ao general Spínola que aceitasse prolongar o seu mandato por mais 2 anos –, desembarcou em 06Abr72 em Bissalanca (e dali regressou na noite de 09Abr72); durante a tarde daquele mesmo dia 6/4, a 'troika' invasora e acompanhantes do PAIGC haviam entretanto iniciado o regresso a Conackry, onde no dia 8 em conferência de imprensa declararam, que «a delegação da ONU viajou livremente por regiões da Guiné, libertadas pelo PAIGC da dominação colonial portuguesa»:
– é esta em resumo a fantasiosa versão, oficialmente apresentada em Conackry na manhã de 10Abr72 pelo "Comité dos 24 da ONU" especialmente ali reunido, propagandeada pelo PAIGC e que - desde então mistificada com apoios da velha guarda "anticolonialista" -, teimosamente subsiste: ora, dado que a "missão da ONU" foi constituída por delegados apenas habituados a funções de secretaria, que nunca tinham estado no mato e que não possuíam quaisquer meios de verificação geográfica - à época não existia o GPS -, não poderia a citada delegação ter apresentado quaisquer certezas, quer sobre a região onde lhes disseram que esteve, quer sobre os tais "duzentos quilómetros" que foram percorridos "a pé"; por outro lado, a missão da ONU entrou clandestina e clandestina saíu, sempre durante a noite e sem luar, tendo os "turras" - nos três dias práticos da "visita" - andado às voltas com os comissários equatoriano, sueco e tunisino que, pensando ter percorrido uma grande área territorial da Guiné Portuguesa, assim foram ludibriados porque, na prática e em resumo, nunca estiveram nem "durante cinco dias e seis noites" nas tais "regiões libertadas" do sudoeste da Guiné Portuguesa - nem no tal "sector de Cubucaré escoltados por 400 [!?] soldados" -, mas efectivamente foram conduzidos em circuito fechado entre a antiga tabanca do Guileje do Boé e o antigo destacamento de Béli, ou seja o Boé Oriental no sudeste da Guiné Portuguesa, a única região daquela província ultramarina portuguesa onde os grupos do PAIGC desde meados de Fev69 circulavam com relativo à-vontade, tanto pelo facto de ser populacionalmente desertificada como principalmente pela ausência da quadrícula do Exército ou de operações rotineiras.
A insidiosa agitprop resultou externa e internamente benéfica contra os legítimos interesses de Portugal? Pois resultou... e ainda resulta!
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