Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > 2005 > "Filho de branco quer conhecer o pai"...
Foto: © José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados
1. Comentário do Zé Teixeira [, foto à esquerda, em Empada, 1969, no regresso de uma operação,] ao poste P11838, de 14 do corrente (*)
Luís,
Dá imenso gosto e faz vibrar a alma ouvir "Eu sou português de Guiné"; ou ter como toque do telemóvel o hino português e afirmar com convicção "eu gosto muito de ouvir o nosso hino"; ou ouvir "eu fui soldado português, eu sou português"; ou ainda, "eu gostava muito de me reencontrar com os camaradas brancos do meu pelotão de nativos, éramos uma família"; e tantas outras afirmações.
Zé Teixeira (***)
2. Comentário de L.G.:
Zé, se bem te lembras, tivemos logo em 2006, aquando da tua chegada ao blogue, I série, uma conversa sobre os "filhos do vento". Na altura, não usávamos essa expressão, da autoria do Zé Saúde. Recordo-me de um poste teu, de 16 de fevereiro de 2006 (*)... Tinha um sugestivo título: "o raio do puto era branco"... Aqui vão alguns excertos:
(...) "Reafirmo a minha admiração quando peguei no bebé e vi uma criança branca. Parece que tinha vindo da praia. Um branco escuro e muito coradinho. Ao perguntar porquê, tive como resposta um sorriso e depois a informação de que as crianças nascem brancas e rapidamente escurecem. Assim aconteceu, de facto. Conhecia a mãe, mas o pai nunca o tinha visto e até hoje ...Parece que era djila [comerciante ambulante, entre os fulas e futa-fulas].
Conheci outro caso, a Binta de Chamarra, que teve um filho de um colega meu e foi repudiada e recambiada para Aldeia Formosa (Quebo). Quando lá estive, em 2005 procurei-a, sem conseguir encontrá-la. Apareceu-me um jovem de trinta anos a dizer-se filha da Binta e de um branco, só que o outro era mais velho. Vim a saber que este era filho de uma Binta Bobo, de Mampatá, que também conheci e parece que já faleceu." (...)
Nesse mesmo poste eu comentei, a propósito desta conversa, o seguinte:
(*) vd. posye de 14 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11838: Os filhos do vento (13): Em busca do pai tuga: um reportagem, 3 vídeos, 19 histórias, 19 rostos, 19 nomes à procura do apelido paterno... Hoje no "Público", domingo, dia 14. A não perder.
(***) I Série > 16 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXLV: O raio do puto era branco (Zé Teixeira)
Dá imenso gosto e faz vibrar a alma ouvir "Eu sou português de Guiné"; ou ter como toque do telemóvel o hino português e afirmar com convicção "eu gosto muito de ouvir o nosso hino"; ou ouvir "eu fui soldado português, eu sou português"; ou ainda, "eu gostava muito de me reencontrar com os camaradas brancos do meu pelotão de nativos, éramos uma família"; e tantas outras afirmações.
Até ex-combatentes (soldados) do PAIGC, falam desapaixonadamente e sem sobranceria de acontecimentos do outro lado da barreira nos ataques e emboscadas partilhadas "em demos porrada e levamos porrada"... "Guerra é guerra", como disse o Braima Camará, um dos guarda costas do Nino
É fácil, hoje, falar com os ex-soldados portugueses, sobretudo no interior do país. Falar abertamente e frente a frente sobre o que foi a guerra que tanto nos fez sofrer, e continuou a fazê-los sofrer no terreno. Os vencidos que ficaram no terreno e que por serem negros deixaram de ter a “mãe pátria” para os acolher. Torna-se agradável e afetuoso juntar ex-soldados portugueses. Falam abertamente dos tempos de “convívio” com camaradas portugueses. Falam com nostalgia e saudade mas não deixam que se ponha o seu nome na escrita porque a paz, a verdadeira paz, ainda não chegou. O estigma ainda continua e continuará
Os políticos dos dois países nada têm feito para apagar os resíduos da guerra. Sim, a guerra não acaba e nasce a paz quando as armas se calam ou se assinam os acordos de paz. A paz constrói-se no tempo curando as mazelas que ficaram e foram muitas. Ou será que nós os que a viveram, não estamos ainda a senti-la no espírito e na carne?!
Basta pensar no abandono a que fomos votados todos nós pelo poder político desde então.
E os milhares de portugueses negros combatentes que lá ficaram esquecidos pela mãe pátria que deixou de ser "mãe pátria" para ser razão para serem votados ao desprezo e a perseguições atrozes por parte dos "vencedores". Tiveram de se calar, se esconder, de fugir da sua terra, de rasgar os documentos de que tanto se orgulhavam, das fotografias que os comprometiam. Destruir a sua história pessoal e coletiva.
["O orgulho de ser... portista!"... Foto á direita, um jovem adepto do FCP. Guiné-Bissau, 2005.
Foto: © José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados]
Nós, os soldados combatentes brancos, os que foram obrigados a fazer a guerra, com as nossas visitas de saudade, com as nossas idas aos locais que nos marcaram estamos a fazer a catarse e são cada vez mais a perder o medo e ganhar coragem para o fazer.
É fácil, hoje, falar com os ex-soldados portugueses, sobretudo no interior do país. Falar abertamente e frente a frente sobre o que foi a guerra que tanto nos fez sofrer, e continuou a fazê-los sofrer no terreno. Os vencidos que ficaram no terreno e que por serem negros deixaram de ter a “mãe pátria” para os acolher. Torna-se agradável e afetuoso juntar ex-soldados portugueses. Falam abertamente dos tempos de “convívio” com camaradas portugueses. Falam com nostalgia e saudade mas não deixam que se ponha o seu nome na escrita porque a paz, a verdadeira paz, ainda não chegou. O estigma ainda continua e continuará
Os políticos dos dois países nada têm feito para apagar os resíduos da guerra. Sim, a guerra não acaba e nasce a paz quando as armas se calam ou se assinam os acordos de paz. A paz constrói-se no tempo curando as mazelas que ficaram e foram muitas. Ou será que nós os que a viveram, não estamos ainda a senti-la no espírito e na carne?!
Basta pensar no abandono a que fomos votados todos nós pelo poder político desde então.
E os milhares de portugueses negros combatentes que lá ficaram esquecidos pela mãe pátria que deixou de ser "mãe pátria" para ser razão para serem votados ao desprezo e a perseguições atrozes por parte dos "vencedores". Tiveram de se calar, se esconder, de fugir da sua terra, de rasgar os documentos de que tanto se orgulhavam, das fotografias que os comprometiam. Destruir a sua história pessoal e coletiva.
["O orgulho de ser... portista!"... Foto á direita, um jovem adepto do FCP. Guiné-Bissau, 2005.
Foto: © José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados]
Nós, os soldados combatentes brancos, os que foram obrigados a fazer a guerra, com as nossas visitas de saudade, com as nossas idas aos locais que nos marcaram estamos a fazer a catarse e são cada vez mais a perder o medo e ganhar coragem para o fazer.
Por seu lado, os ex-combatentes portugueses africanos guineenses recebem-nos com alegria que vão expandido ainda a medo, mas já se houve dizer com orgulho “eu fui soldado português”. E querem logo saber onde estivemos numa tentativa de encontrar um amigo, um camarada.
Logo se ouvem as suas estórias, quantas delas nossas conhecidas, mas não o seu nome escrito, isso ainda é cedo. Com o passar do tempo foram-se apagando as barreiras que limitavam os campos de soldados ex-PAIGC e ex-tugas do exército português. As "paixões" têm vindo a desaparecer, talvez pelas desilusões que o tempo tem acarretado, mas há marcas que ficaram gravadas na carne como um BI identificativo. Marcas que deram origem a muita dor, sofrimento, fome e mortes no pós-guerra e ainda lá estão.
Os “filhos do vento” são mais uma parte da história da guerra. Não podemos tentar escamotear. São uma realidade que é preciso encarar de frente. Seria bom que os pais dos “filhos do vento” tivessem a coragem de se assumir para que se dê mais um passo na construção da paz. Creio que o tempo já curou muitas feridas, mas não deu respostas àqueles jovens. Conheci três deles nestas minhas andanças e todos eles sonham encontrar o pai. Um disse-me abertamente: ”Não quero nada dele, apenas o nome”. (**)
Logo se ouvem as suas estórias, quantas delas nossas conhecidas, mas não o seu nome escrito, isso ainda é cedo. Com o passar do tempo foram-se apagando as barreiras que limitavam os campos de soldados ex-PAIGC e ex-tugas do exército português. As "paixões" têm vindo a desaparecer, talvez pelas desilusões que o tempo tem acarretado, mas há marcas que ficaram gravadas na carne como um BI identificativo. Marcas que deram origem a muita dor, sofrimento, fome e mortes no pós-guerra e ainda lá estão.
Os “filhos do vento” são mais uma parte da história da guerra. Não podemos tentar escamotear. São uma realidade que é preciso encarar de frente. Seria bom que os pais dos “filhos do vento” tivessem a coragem de se assumir para que se dê mais um passo na construção da paz. Creio que o tempo já curou muitas feridas, mas não deu respostas àqueles jovens. Conheci três deles nestas minhas andanças e todos eles sonham encontrar o pai. Um disse-me abertamente: ”Não quero nada dele, apenas o nome”. (**)
Zé Teixeira (***)
2. Comentário de L.G.:
Zé, se bem te lembras, tivemos logo em 2006, aquando da tua chegada ao blogue, I série, uma conversa sobre os "filhos do vento". Na altura, não usávamos essa expressão, da autoria do Zé Saúde. Recordo-me de um poste teu, de 16 de fevereiro de 2006 (*)... Tinha um sugestivo título: "o raio do puto era branco"... Aqui vão alguns excertos:
(...) "Reafirmo a minha admiração quando peguei no bebé e vi uma criança branca. Parece que tinha vindo da praia. Um branco escuro e muito coradinho. Ao perguntar porquê, tive como resposta um sorriso e depois a informação de que as crianças nascem brancas e rapidamente escurecem. Assim aconteceu, de facto. Conhecia a mãe, mas o pai nunca o tinha visto e até hoje ...Parece que era djila [comerciante ambulante, entre os fulas e futa-fulas].
Conheci outro caso, a Binta de Chamarra, que teve um filho de um colega meu e foi repudiada e recambiada para Aldeia Formosa (Quebo). Quando lá estive, em 2005 procurei-a, sem conseguir encontrá-la. Apareceu-me um jovem de trinta anos a dizer-se filha da Binta e de um branco, só que o outro era mais velho. Vim a saber que este era filho de uma Binta Bobo, de Mampatá, que também conheci e parece que já faleceu." (...)
Nesse mesmo poste eu comentei, a propósito desta conversa, o seguinte:
(...) Por fim, deixa-me dizer-te, Zé, que tu levantaste aí uma questão, no mínimo delicada mas de grande interesse humano: os filhos da guerra, os frutos (proibidos) dos amores dos tugas e das fulas (as mulheres que estavam mais próximas de nós)... O que é feito deles? Como vivem? E as suas mães, como estão, como se sentem?... Talvez por pudor, não temos falado disto, mas tu, com a tua especial relação com a população de Ingoré, Buba, Quebo,Mampatá e Empatá, tu, querido fermero, mauro, sábio, médico, curandeiro..., tu conseguiste pôr o dedo na ferida... Suavemente, profissionalmente...
Já agora explica-nos como e porquê a Binta, de Chamarra, foi repudiada e expulsa da sua tabanca, por ter dado à luz um filho de um tuga... Como é que os fulas (e outras etnias) lidavam habitualmente com estes casos que, se calhar, não foram tão raros quanto isso... Basta lembrar-nos que em mais de uma década de guerra na Guiné passaram por lá largas dezenas de milhares de homens, muitos dos quais tiveram relações sexuais, consentidas, com mulheres da população local...
Não estou a faltar de prostituição nem de violação, estou a falar de relações nalguns casos até maritais, mais ou menos estáveis e até toleradas, quer pelas autoridades militares quer pelas populações locais... Houve ou não houve casos de paixão e de amor de tugas e de jovens guineenses, nomeadamente fora de Bissau?
Alguém mais quer falar sobre isto? Contar estórias que conheça? O Zé Neto já nos trouxe aqui a estória do Dauda, o Viegas, o presumível filho de um capitão de Cacine. (...).
Já agora explica-nos como e porquê a Binta, de Chamarra, foi repudiada e expulsa da sua tabanca, por ter dado à luz um filho de um tuga... Como é que os fulas (e outras etnias) lidavam habitualmente com estes casos que, se calhar, não foram tão raros quanto isso... Basta lembrar-nos que em mais de uma década de guerra na Guiné passaram por lá largas dezenas de milhares de homens, muitos dos quais tiveram relações sexuais, consentidas, com mulheres da população local...
Não estou a faltar de prostituição nem de violação, estou a falar de relações nalguns casos até maritais, mais ou menos estáveis e até toleradas, quer pelas autoridades militares quer pelas populações locais... Houve ou não houve casos de paixão e de amor de tugas e de jovens guineenses, nomeadamente fora de Bissau?
Alguém mais quer falar sobre isto? Contar estórias que conheça? O Zé Neto já nos trouxe aqui a estória do Dauda, o Viegas, o presumível filho de um capitão de Cacine. (...).
Comentando agora o teu mais recente comentário sobre os "filhos do vento", acima transcrito (*)... Escreves tu:
"Creio que o tempo já curou muitas feridas, mas não deu respostas àqueles jovens. Conheci três deles nestas minhas andanças e todos eles sonham encontrar o pai. Um disse-me abertamente: 'Não quero nada dele, apenas o nome' (...)"
Deixa-me dizer-te que o problema não é assim tão simples.como a gente pensa. A tendência é sempre, entre nós, para fazer "sociologia espontânea"... O Portugal democrático do 25 de abril e a Guiné-Bissau, revolucionária, herdeira de Cabral, orgulhosa e respeitada no seio das nações, no imediato pós-independência, poderiam ter juntado as mãos, inventariado os casos, e lançado um programa de apoio aos filhos dos tugas e às suas mães... A embaixada portuguesa em Bissau poderia ter feito esse trabalho meritório e até humanitário... Todos ganharíamos. Na altura, as memórias ainda estavam frescas. Podia-se ter encontrado o fio à meada... E sobretudo prevenido e combatidas as tendências fratricidas e totalitárias que então já se advinhavam... Mas não, chutou-se o problema para debaixo da mesa... Ou melhor: nunca se chegou a identificar e a formular o problema...
Ora, como tu sabes, tão ou mais importante do que resolver um problema, é saber identificá-lo e analísá-lo.
Não quero julgar ninuém, a nossa época e os nossos dirigentes. Constato apenas que havia outras prioridades, na agenda política de ambos os países... Em suma, não havia lugar para mais esta "pedrinha no sapato" entre os dois "países irmãos" (para usar um chavão da retórica político-ideológica da época)...
A tal pedrinha no sapato eram os tais "restos de tuga" (que miserável expressão, tão miserável como aquela que usávamos na tropa para designar os gajos baixinhos que formavam a cabeça do pelotão, os meias lecas, os meias fodas... Lembras-te? Nós, os seres humanos, em todas as latitudes e longitudes, somos preconceituosos, somos maus, somos mesquinhos...).
Hoje é muito mais difícil encontrar o fio à meada. Quantas mães não terão já morrido? E os filhos? Quantos deles não terão saído das suas tabancas de origem e montado tenda em Bissau, a cidade do cimento e alcatrão, o eldourado de todas as ilusões e frustrações, o ponto de chegada e de partida de tantos sonhos e pesadelos...
Hoje quando soam as trombetas da profunda crise de valores que assola o ocidente, cada vez menos cristão e cada vez mais individualista, egocêntrico e anómico, é muito mais difícil sensibilizar o poder político e a sociedade civil para este drama que ainda não acabou, mesmo com meio século de distância... E sobretudo é mais difícil fazer lobbying, no parlamento e noutros órgãos de soberania... Resta-nos esta série e este nosso blogue que procura dar voz a quem não a tem (ou nunca teve). Mas, infelizmente, os "filhos do vento" também não têm fácil acesso à Net...
Mesmo assim, convém recordar a política editorial do nosso blogue:
(...) "Somos sensíveis aos problemas (de saúde, de reparação legal, de reconhecimento público, de dignidade, etc.) dos nossos camaradas e amigos, incluindo os guineenses que combateram, de um lado e de outro. Mas enquanto comunidade (virtual) não temos nenhum compromisso para com esta ou aquela causa por muita justa ou legítima que ela seja. )...) Em todo o caso, a solidariedade, a amizade e a camaragem são valores que procuramos cultivar todos os dias". (...)
____________
Notas do editor:
(**) Último poste da série > 16 de julho de 2013 > Guiné 63/64 - P11846: Filhos do vento (16): Os filhos que os soldados portugueses deixaram para trás, em Fajonquito: Cadija Seidi, 39 anos, Kumba Seidi, 39 anos, Ivo da Silva Correia, 38 anos... Ainda com a esperança de um reencontro com os seus progenitores... Sonhos e desilusões (Cherno Baldé)
(***) I Série > 16 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXLV: O raio do puto era branco (Zé Teixeira)
23 comentários:
Tens razão, Luís.
Este assunto é delicado. Não é de fácil resolução. O tempo foi passando e isso não ajuda nada agora. Os problemas não se resolveram, antes pelo contrário.
Mas é necessário que se fale dele. Não para 'julgar' (seria 'fora de tempo') mas para incentivar alguma evolução, sempre possível, embora com pouca esperança.
Hélder S.
Pronto, a Catarina Gomes e o "Público" abriram a "caixinha de Pandora"!... E ainda bem... A comunicação social chega a outros públicos que nós não podemos atingir... Nós que. no blogue há já muito que falamos destas e doutras coisas da Guiné, esquecidas, se não mesmo silenciadas... Sempre o dissemos e sempre temos defendido que no blogue não há (nem deve haver) tabus...
Por outro lado, a liberdade de pensamento e de expressão é um valor intocável, inalienável... De qualquer modo, não deixam de ser disparatados alguns comentários que alguns leitores estão a mandar para o sítio Público > Filhos do vento...
É bom que alguns de nós lá escrevam, e deem o seu testemunho.
Às tantas vamos todos ser crucificados como os maiores... bandidos da história!... Admito que alguns comentários sejam meras provocações, outros sejam pura ingenuidade, e outros ainda fruto da compulsiva necessidade de "marcar o terreno" (, como fazem alguns grafiteiros quando veem um muro limpinho)...
Enfim, há de tudo, dos comentários de gente inteletualmente séria e honesta aos mais hipócritas e cínmicos... Alguns fazem-me simplesmente sorrir... De qualquer modo, temos de prevenir e combater a santa ignorância que é a mãe do pérfido preconceito, a par do falso moralismo que é o pai de muitas tiranias... Felizmente que a vida e e história dos homens não são feitas nem escritas a "preto e branco"... LG
______________
A título de exemplo (e com a devida vénia ao Público e aos autores):
LIBERATO
22/07/2013 - 6:38
E as violações que aconteciam nas tabankas pelos soldados em fila indiana? Os comprimidos que os soldados tomavam para as DST. Que caiam os mantos da vergonha e da mentira. As atrocidades não ficaram pelos “filhos do vento”
SS
21/07/2013 - 14:21
O passado é passado. Essas mulheres venderam sexo e agora não têm o direito de tentar destruir as famílias! Bem,quem se orgulharia de ter um filho mulato? Ah pois é… Esqueçam o assunto. Passado é passado.
FILHO DE EX MILITAR
18/07/2013 - 12:12
Eu quase de certeza q devo ter um irmão/irmã perdido na Guiné, mas sinceramente não quero saber quem, nem sequer se tenho ou não. Também não o/a aconselho a procurarem o pai, é que não vale mesmo a pena, e só se vão meter em chatices. Há certos pais, que o melhor é mesmo não serem encontrados.
BENJAMIM BACELAR
15/07/2013 - 21:04
Também estive na Guiné de abril 1973 a setembro de 1974. Nestes jovens havia, na altura, muita inconsciência. Sei que o general Spinola obrigava-os a trazer os filhos para a Metrópole.
(Continua)
(Continuação)
KARL
15/07/2013 - 18:07
Estes comentadores “tugas”, pseudo moralistas, com a lágrima fácil ao canto do olho… Ora vamos lá a ver: Será que os nossos soldados eram missionários que tinham feito voto de castidade? Não sejam tontos. Se de algum modo pudermos TODOS os que, cá e pelo mundo fora, nasceram fora de famílias normais, tudo bem… Mas assumir hipocritamente que fomos uns monstros…não, não fomos. Deixemo-nos de armar em moralistas… Sabe-se lá quantos dos comentadores não terão por cá, filhos de… 10 ou 20 euros…
JOÃO
15/07/2013 - 15:43
Isto não é o que pintam. Essas eram chamadas de lavadeiras. Algumas eram vendidas entre militares, vinham para lavar roupa e tinham relações sexuais em troca de ordenado e comida. Façam uma reportagem séria e competente e não estas palhaçadas.
FLAVIO
14/07/2013 - 20:51
Muita tristeza ao ler estes relatos de como os nossos soldados em vez de ir ajudar essa gente foram violar, maltratar, roubar, pessoas que eram e são os donos dessa terra. Agora, irresponsavelmente, muitos negam os filhos que deixaram abandonados. Muitos desses soldados regressaram como heróis, heróis de quê? Todo aquele que não assume a sua responsabilidade não é herói, é cobarde.
CARLOS ALBERTO
14/07/2013 - 11:14
Reportagem bastante vergonhosa…pois estes seres humanos não são “filhos do vento” …s ão filhos de militares sem escrúpulos que no uso do seu poder… mantiveram relações não consentidas com as nossa mães…autenticas violações que depois nunca souberam reconhecer em todos os países de língua oficial portuguesa…e nunca serão julgados pelos crimes e atrocidades cometidas contra mulheres indefesas.
Olá Camaradas
Pondo de parte muita coisa, creio que, nesta altura dos acontecimentos - passaram 40 anos sobre os factos em análise - só há uma coisa a fazer: os filhos e filhas devem, se assim o entenderem (e parece que entendem), procurar os respectivos pais, começando por Portugal e depois logo se verá onde a busca os leva.
Não será fácil porque os indícios serão poucos (o que é um ponto a merecer a nossa atenção), mas só tentando se obtêm resultados.
Ninguém pode fazer mais do que isto.
Um Abraço
António J. P. Costa
Recorde-se o "sítio" no Público Multimédia... (Não é publicidade, da minha parte; é serviço público, da parte do blogue):
http://www.publico.pt/filhos-do-vento
FILHOS DO VENTO
CATARINA GOMES, MANUEL ROBERTO e RICARDO REZENDE
No tempo da guerra colonial havia quem lhes chamasse "portugueses suaves", agora, há entre os ex-combatentes quem prefira "filhos do vento". A maioria dos filhos de militares portugueses com mulheres guineenses guarda pedaços de história incompletos, com a ambição de que um dia esses poucos dados os venham a reunir aos pais.
19 histórias, de A a Z, que merecem a nossa solicitude e carinho... Reproduzidas com a devida vénia
http://www.publico.pt/filhos-do-vento
(1) Ana Sanconha
Nasceu em 1973. O nome da sua mãe era Fatuma Sale Djasse. Tem mais duas irmãs, cada uma é filha de um militar português diferente, que na sua comissão na Guiné esteve colocado em Cacine. Sabe que terá sido o pai a escolher-lhe o nome, Ana. Vive em Bissau, onde vende óleo de palma.
(2) Califa Tcham
Vendedora de arroz e óleo de palma, nasceu em 1966, em Bedanda, onde o pai esteve colocado. O militar esteve na Guiné de 1965-67 e ainda a conheceu, diz. Quando regressou a Portugal, os seus colegas que ficaram, às vezes, levavam-na a passear de jipe, tinha ela um ano. Sempre lhe chamaram "a filha do capitão". Com 29 anos, descobriu-lhe o apelido. Tem cinco filhos. "Só quero conhecer o meu pai. Se já tiver morrido, quero conhecer os meus irmãos."
(3) Elva Maria Indequi
Nasceu em 1969. A sua mãe chamava-se Maria Paula Indequi. Quando a conheceu, o pai estava colocado no quartel de Pelundo, na região de Cachéu. O pai vivia com a mãe e tiveram mais dois filhos. José Maria Indequi, e outra irmã, Manuela, que já morreu.
(4) Erasmo Fonseca
Engenheiro mecânico agrícola, nasceu em 1969. Os seus estudos levaram-no até Cuba. A sua mãe, Maria Geralda Soares Cassamá, é professora primária em Quinhamel, perto de Bissau. O pai esteve colocado no quartel de Binar, onde conheceu a mãe, numa festa em casa de familiares.
(5) Fátima Cruz
Nasceu em 1975, é comerciante de roupa em Bissau, tem três filhos. O pai esteve no quartel de Empada e de Cutia, a sua comissão foi de 1973 a 1974. A sua mãe, Sanu Mané, começou a ser lavadeira do pai aos 15 anos, hoje é vendedora e presidente da associação comunitária Acobam, contra a violência de genéro e pelo abandono da prática de mutilação genital feminina. Fátima conta que ainda terá sido o pai a escolher-lhe o nome, que seria o da sua mãe, que ele chegou a mandar-lhe encomendas de Portugal quando era bebé, como leite e roupa. O tio materno da mãe, que era contra a gravidez de Sanu, terá queimado todas as encomendas e Fátima nunca mais soube nada do pai. Ainda foi à Cruz Vermelha, pela primeira vez em 1998, mas não conseguiu mais pistas. Nunca viu imagens do pai, mas a mãe diz-lhe que é parecida com ele.
(6) Fátima Mané
Terá nascido em 1974, não é certo, porque não foi registada. O seu pai esteve colocado no quartel de Cuntima. Diz que o pai pertencia à companhia 732, chamada Dragão Negro. Sabe como se chama, mas não como pode procurá-lo.
(Continua)
Público > Filhos do vento
http://www.publico.pt/filhos-do-vento
(Continuação)
(7)Fernando Edgar da Silva
Nasceu em 1968, é camionista. A sua mãe era Sabadozinha Mendes, vivia junto ao quartel português de Canchungo (ex-Teixeira Pinto), onde o pai trabalharia na cozinha, enquanto esteve na Guiné, de 1966 a 1967. Sabe apenas que era furriel. Sonha criar uma associação que represente todos os filhos que os militares portugueses "abandonaram" na Guiné.
(8) Fernando Mota
Nasceu em 1973, é professor de História e Geografia no Liceu Jorge Ampa, em Bissau, dá aulas a adultos. O pai esteve na Guiné entre 1971-72, no quartel de Gadamael. Não sabe se era soldado ou furriel, sabe que era mecânico e que seria do Porto. Contaram-lhe que era da companhia Lenço Verde. Foi uma vez à embaixada de Portugal em Bissau tentar informações, mais tarde à Cruz Vermelha. Nunca conseguiu saber mais do que dois dos seus apelidos.
(9) Florinda Barros
Nascida em 1970, é uma de três irmãs filhas de militares portugueses. O pai esteve em Cacine, onde ela ainda hoje vive e onde ganha a vida a vender peixe. A sua mãe chamava-se Fatuma Sale Djasse. Ela tem todos os dados militares do pai, que conseguiu recolher junto de ex-colegas guineenses que lutaram com os portugueses. Diz que era furriel e que pertencia à companhia 799. Quando vê Portugal na televisão, chora.
(10)Higina e Teresa da Silva
Higina da Silva, professora primária numa escola portuguesa em Bissau, e Teresa da Silva, doméstica, são irmãs gémeas. Contaram-lhes que o pai ainda as conheceu quando eram bebés. Nasceram em 1971 em Bula (localidade que antes da independência da Guiné-Bissau se chamava Nuno Tristão), onde o pai estava colocado. "Somos as únicas gémeas de Bula." A mãe chamava-se Domingas da Silva, morreu quando elas tinham oito anos, e a avó materna, que as criou, nunca quis que elas soubessem nada sobre a sua origem portuguesa, sobre o seu pai branco. Uma lavadeira do tempo do pai contou-lhes mais tarde que o pai chegou a escrever de Portugal, duas cartas, imagina que fosse para saber como estavam as filhas.
(11) Inês Miriam Henrique
Nasceu em 1967, sabe apenas que o pai português trabalhava no Hospital Militar de Bissau. A mãe, Lígia Vaz Martins, teve mais dois filhos de militares portugueses, um deles é José Carlos Martins, o outro rumou a Portugal à procura do pai, mas não teve sucesso e foi para a Alemanha. Miriam vende sacos de carvão à porta da sua casa. Tem oito filhos. Nos seus sonhos, o seu pai aparece-lhe a dizer que a quer conhecer. Ela só sabe o que julga ser o seu apelido.
(12) José Carlos Martins
Nasceu em 1963, trabalha no Arquivo de Identificação Civil de Bissau. Entristece-se de cada vez que recebe registos de nascimentos, que são necessários para pedir o bilhete de identidade, e vê que têm preenchidos o nome da mãe e do pai e dos avós maternos e paternos. No dele, os dados paternos estão em branco. O nome da sua mãe é Lígia Vaz Martins. Tem mais dois irmãos, cada um de seu pai português. O pai esteve na Guiné de 1962 a 1963, passou pelo quartel de Empada. Começou a tentar descobrir a sua identidade em 1979. Tem sete filhos.
(Continua)
Público > Filhos do vento
http://www.publico.pt/filhos-do-vento
(Continuação)
(13) José Maria Indequi
Técnico agrário, estudou em Cuba e na China. Acha que o seu verdadeiro nome, que lhe foi dado pelo pai, é José Carlos dos Santos. Nasceu a 1971, o pai talvez tenha voltado a Portugal em 1973 ou 1974. A sua mãe chama-se Maria Paula Indequi, o pai esteve colocado no quartel de Pelundo, na região de Cachéu, acha que pertencia ao batalhão 28/84. O pai vivia maritalmente com a mãe e tiveram mais uma filha, a sua irmã Elva, e uma outra rapariga, Manuela, que já morreu. Diz que os filhos dos portugueses na Guiné são "cidadãos de segunda. Estamos no meio da barcaça".
(14) Marcos Augusto Ferreira
Nascido em 1973, é funcionário público em Bissau. O pai esteve no quartel de Canchungo (ex-Teixeira Pinto), no ano em que ele nasceu, dizem-lhe que era furriel. A mãe, Maria Eugénia Ferreira, vivia a 300 metros do quartel. Deixou a Guiné quando ele tinha um ano. "Ele conhece-me."
(15) Maria Djasse
É a mais velha de três irmãs, cada uma com o seu pai português. Nasceu em 1968. O nome da mãe era Fatuma Sale Djasse. Sabe apenas que o seu pai era cabo e que trabalharia na cozinha do quartel. Vive na aldeia de Amindar, próximo de Guiledje, localidade do Sul do país onde havia um quartel português.
Trabalha na agricultura.
(16) Mariama Camará
Nasceu em 1971, o pai esteve colocado no quartel de Guiledje, onde a mãe era lavadeira, em datas que não sabe localizar. Sabe apenas um apelido e diz que lhe cabia a tarefa de pagar aos militares, "era financeiro militar". Quando o pai se foi embora, "era tão pequenina como esse", e aponta para o seu filho mais novo de sete, Alaidje, que tem um ano e meio. Com 16 anos perguntou à mãe: "Quem sou? De que etnia?", ela respondeu: "Tu não és biafada [etnia a que pertencia a mãe], tu és portuguesa." "Quando conhecer o meu pai, mudo de apelido."
(17)Nataniel Silva Évora
Viveu com o pai, a mãe e a irmã em Bissau até depois da independência, talvez até 1976. Ainda se lembra do pai, que voltou a Portugal quando ele já tinha cinco anos. Recorda-se bem de ele lhe ensinar a coser sapatos, a pôr botões e a fazer fogareiros de lata. Mas quando, depois da independência, começaram a perseguir o pai, ele um dia foi-se embora e nunca mais soube dele. As últimas palavras que lhe disse foram: "Filho, seja homem." E abraçou-o. Nataniel é o nome que lhe foi dado pela tia que o adoptou, porque a mãe não pôde criá-lo. Diz que o nome que lhe foi dado pelo pai é José Carlos Alberto. Nasceu em 1970, o nome da sua mãe é Elizabete Pereira Évora. "Se o meu pai ler esta história, vai saber que eu não morri."
(18) Óscar Albuquerque
Nasceu em 1972 na vila de Ingoré (Norte), onde o pai esteve colocado na sua passagem pela Guiné, entre 1969 e 1972. O nome da sua mãe é Maimuna Djau. Conseguiu descobrir o pai em Lisboa. Escreveu-lhe sete cartas. Nunca teve resposta.
(19) Zita Morato
Nasceu 5 de Maio de 1968. A mãe chamava-se Inácia Galina Morato. O pai esteve na Guiné entre 1966 e 1968. Quando ela tinha uma semana, o pai foi-se embora. Não sabe bem se o apelido dele era Parco ou Parque. A mãe sempre lhe disse que ela era parecida com ele.
Depoimentos recolhidos pela jornalista do Público.
"A expressão que dá título a esta página foi usada pela primeira vez, para se referir aos filhos de ex-combatentes portugueses com mulheres guineenses, pelo ex-furriel José Saúde, no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné."
Repudio liminarmente a expressão
"Filhos do vento",duplamente injuriosa.
Continua a ser politicamente correcto
dar "porrada" nos combatentes-violadores,massacradores e agora
também emprenhadores compulsivos.
Corajoso seria falar dos pais que
trouxeram os filhos e outras crianças,dos bébés que ajudámos a
nascer,dos que salvámos, das crianças a quem ensinámos as primeiras letras...e já agora dos
600 ex-combatentes que vivem na rua.
Abraço.
J.Cabral
P.S.-Filhos de pais portugueses,claro que existem e o
problema podia ter sido resolvido,
até por via judicial,nos primeiros
anos de independencia,ao invés de se ter implementado uma educação baseada no preconceito e no ódio.
Só espero que a Catarina Gomes depois do seu "trabalho" de "ajuda" aos ditos "filhos do vento" e depois de colher os seus "Proventos" continue no seu trabalho de ajuda.É que a populaça já está mais que habituada ás ajudas dos meios de comunicação.Geralmente mexem no " vespeiro" colhem o mel e depois dão á sola....
Já fiz o meu comentário a este assunto noutro poste.
Henrique Cerqueira
Zé Teixeira, Hélder Valério, Jorge Cabral, Henrique Cerqueira, Catarina Gomes, José Saúde, Luís Graça, e demais tabanqueiros, enfim, amigos e camaradas da Guiné: a questão é "o que é que podemos fazer, em termos práticos, concretos, palpáveis, mensuráveis, por todos estes homens e mulheres, guineenses pelo lado da mãe, portugueses pelo lado do pai, e que na prática não são guineenses nem portugueses, não se sentem gente na sua terra"...
O que é que a embaixada portuguesa pode (e deve) ainda fazer ? Vamos fazer uma campanha pelo reconhecimentos dos direitos e da dignidade destes lusoguineenses ? Não é a vocação do nosso blogue, mas não podemos deixar de ser solidários...
Jorge, eu também não gosto da expressão "filhos do vento", muito menos de "filhos do pó" ("children of dust", usada no Vietname e na América)... Mas é o título de uma série que já tem 17 postes... A nossa língua (e a nossa linguagem do quotidiano) está cheia de armadilhas, que vêm reforçar o estereótipo e a discriminação de toda espécie...
Podemos fazer muito pouco...O reconhecimento da paternidade só
é agora possível através da perfilhação(artº1849 do Codigo Civil).A perfilhação é um acto pessoal e voluntário!A identificação
dos pretensos pais,se viável,deverá ser efectuada por Organismos Oficiais,tendo eu algumas dúvidas sobre a legalidade de uma diligencia
desse tipo.Obviamente que se pode recorrer a um detective que até poderá descobrir o pretenso pai,ao qual caberá perfilhar ou não perfilhar... J.Cabral
Não sou jurista, mas sociólogo, mas nem sequer especialista da área da família e parentalidade... O que me surpreende nestas 19 histórias de vida, recolhidas e tratadas pela jornalista do Público, é que estes filhos nasceram, aparentemente, de "relações consentidas"... Eu sei que a violência tem muitas dimensões, cores, matizes... Mas em nenhum destes casos parece ter havido "violação"... Nalguns casos havia mesmo uma relação marital, coabitação...
Eu sei que se trata de uma amostra de conveniência, e que em 15 dias não se pode fazer trabalho de investigação científica, mas apenas alguma investigação jornalística, o que não é a mesma coisa...
Enfim, o Jorge Cabral é que sabe destes coisas das leis... A mim interessa-me os usos e costumes...
Também temos, cá em Portugal, problemas, de gente (homens e mulheres) que ainda hoje lutam - alguns na barra dos tribunais - pelo direito de usar o apelido do pai...
Oh!, Jorge, olha só o que eu encontrei sobre "perfilhação", no sítio do Centro de Direito da Família...
http://www.centrodedireitodafamilia.org/node/166
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Divisão II - Perfilhação
ARTIGO 1849º
(Carácter pessoal e livre da perfilhação)
A perfilhação é acto pessoal e livre; pode, contudo, ser feita por intermédio de procurador com poderes especiais.
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de 25-11)
ARTIGO 1850º
(Capacidade)
1. Têm capacidade para perfilhar os indivíduos com mais de dezasseis anos, se não estiverem interditos por anomalia psíquica ou não forem notoriamente dementes no momento da perfilhação.
2. Os menores, os interditos não compreendidos no número anterior e os inabilitados não necessitam, para perfilhar, de autorização dos pais, tutores ou curadores.
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de 25-11)
ARTIGO 1851º
(Maternidade não declarada)
Não obsta à perfilhação o facto de a maternidade do perfilhando não se encontrar declarada no registo.
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de 25-11)
ARTIGO 1852º
(Conteúdo defeso)
1. O acto de perfilhação não comporta cláusulas que limitem ou modifiquem os efeitos que lhe são atribuídos por lei, nem admite condição ou termo.
2. As cláusulas ou declarações proibidas não invalidam a perfilhação, mas têm-se por não escritas.
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de 25-11)
ARTIGO 1853º
(Forma)
A perfilhação pode fazer-se:
a) Por declaração prestada perante o funcionário do registo civil;
b) Por testamento;
c) Por escritura pública;
d) Por termo lavrado em juízo.
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de 25-11)
ARTIGO 1854º
(Tempo da perfilhação)
A perfilhação pode ser feita a todo o tempo, antes ou depois do nascimento do filho ou depois da morte deste.
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de 25-11)
ARTIGO 1855º
(Perfilhação de nascituro)
A perfilhação de nascituro só é válida se for posterior à concepção e o perfilhante identificar a mãe.
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de 25-11)
ARTIGO 1856º
(Perfilhação de filho falecido)
A perfilhação posterior à morte do filho só produz efeitos em favor dos seus descendentes.
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de 25-11)
ARTIGO 1857º
(Perfilhação de maiores)
1. A perfilhação de filho maior ou emancipado, ou de filho pré-defunto de quem vivam descendentes maiores ou emancipados só produz efeitos se aquele ou estes, ou, tratando-se de interditos, os respectivos representantes, derem o seu assentimento.
2. O assentimento pode ser dado antes ou depois da perfilhação, ainda que o perfilhante tenha falecido, por alguma das seguintes formas:
a) Por declaração prestada perante o funcionário do registo civil, averbada no assento de nascimento, e no de perfilhação, se existir;
b) Por documento autêntico ou autenticado;
c) Por termo lavrado em juízo no processo em que haja sido feita a perfilhação.
3. O registo da perfilhação é considerado secreto até ser prestado o assentimento necessário e, sem prejuízo do disposto no número seguinte, só pode ser invocado para instrução do processo preliminar de publicações ou em acção de nulidade ou anulação de casamento.
4. Qualquer interessado tem o direito de requerer judicialmente a notificação pessoal do perfilhando, dos seus descendentes ou dos seus representantes legais, para declararem, no prazo de trinta dias, se dão o seu assentimento à perfilhação, considerando-se esta aceite no caso de falta de resposta e sendo cancelado o registo no caso de recusa.
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de 25-11)
(Continua)
(Continuação)
ARTIGO 1858º
(Irrevogabilidade)
A perfilhação é irrevogável e, quando feita em testamento, não é prejudicada pela revogação deste.
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de 25-11)
ARTIGO 1859º
(Impugnação)
1. A perfilhação que não corresponda à verdade é impugnável em juízo mesmo depois da morte do perfilhado.
2. A acção pode ser intentada a todo o tempo, pelo perfilhante, pelo perfilhado, ainda que haja consentido na perfilhação, por qualquer outra pessoa que tenha interesse moral ou patrimonial na sua procedência ou pelo Ministério Público.
3. A mãe ou o filho, quando autores, só terão de provar que o perfilhante não é o pai se este demonstrar ser verosímel que coabitou com a mãe do perfilhado no período de concepção.
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de 25-11)
ARTIGO 1860º
(Anulação por erro ou coacção)
1. A perfilhação é anulável judicialmente a requerimento do perfilhante quando viciada por erro ou coacção moral.
2. Só é relevante o erro sobre circunstâncias que tenham contribuído decisivamente para o convencimento da paternidade.
3. A acção de anulação caduca no prazo de um ano, a contar do momento em que o perfilhante teve conhecimento do erro ou que cessou a coacção, salvo se ele for menor não emancipado ou interdito por anomalia psíquica; neste caso, a acção não caduca sem ter decorrido um ano sobre a maioridade, emancipação ou levantamento da interdição.
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de 25-11)
ARTIGO 1861º
(Anulação por incapacidade)
1. A perfilhação é anulável por incapacidade do perfilhante a requerimento deste ou de seus pais ou tutor.
2. A acção pode ser intentada dentro de um ano, contado:
a) Da data da perfilhação, quando intentada pelos pais ou tutor;
b) Da maioridade ou emancipação, quando intentada pelo que perfilhou antes da idade exigida por lei;
c) Do termo da incapacidade, quando intentada por quem perfilhou estando interdito por anomalia psíquica ou notoriamente demente.
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de 25-11)
ARTIGO 1862º
(Morte do perfilhante)
Se o perfilhante falecer sem haver intentado a acção de anulação ou no decurso dela, têm legitimidade para a intentar no ano seguinte à sua morte, ou nela prosseguir, os descendentes ou ascendentes do perfilhante e todos os que mostrem ter sido prejudicados nos seus direitos sucessórios por efeito da perfilhação.
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de 25-11)
ARTIGO 1863º
(Perfilhação posterior a investigação judicial)
A perfilhação feita depois de intentada em juízo acção de investigação de paternidade contra pessoa diferente do perfilhante fica sem efeito, e o respectivo registo deve ser cancelado, se a acção for julgada procedente.
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de 25-11)
Tudo correcto.Pode perfilhar-se um
filho antes dele nascer ou mesmo depois dele morrer.Antes de haver
adopção no nosso sistema legal(1967)
utilizava-se a perfilhação para adoptar.Era frequente ouvir-"Casou
com ela e perfilhou-lhe o filho".Eram falsas perfilhações...pois não correspondiam à verdade.Atenção só os
homens podem perfilhar...
ABRAÇO. J.C.
Assunto passível de perguntas com respostas "variáveis".Na Escandinavia,se a mäe näo é casada e vive em situacäo independente aquando do nascimento do filho(a),a paternidade deverá ser sempre confirmada através de um reconhecimento paternal voluntário ou, por tribunal.É quanto a este "tribunal" que a coisa se complica internacionalmente. Surgem respostas "relativas".
Tribunal do país onde a crianca nasceu?Tribunal do país da cidadania da mäe da crianca?Tribunal do país da cidadania do pai?Tribunais de ambos os países? (Surgem ainda casos,frequentes nos Estados Unidos ,onde a crianca terá nascido em terceiro país).
No caso aparentemente fácil de filhos de militares portugueses na Guiné quais as leis a serem referidas?
As portuguesas?As da Guiné? Existem acordos judiciais bilaterais,coordenadores do "entäo e hoje" quanto a estes casos täo convenientemente esquecidos por ambos os Estados?....("Nada de estéticas com coracäo!" F.Pessoa)
Luís.
Em 2005 quando voltei à Guiné, procurei a Binta da Chamarra que se tinha mudado para Quebo na sequência do seu envolvimento com um militar metropolitano do qual se constava tinha engravidado e por essa razão o marido a tinha repudiado, tendo ela regressado a casa de familiares em Quebo.
Nunca se soube se na realidade da gravidez surgiu um fruto mestiço, dado que a Cª foi deslocada para Buba e posteriormente para Empada.
Apareceu-me sim, um mancebo, (o que está neste poste), de 32 anos que se dizia filho da Binta de Mampatá que eu também conheci. Era uma bajudinha no meu tempo. Mostrou-se muito interessado em saber a direcção do pai, pois queria conhecê-lo. Neste caso pareceu-me que havia interesse em que o pai o ajudasse a sair da Guiné e vir para Portugl.
Na etnia fula as bajudas eram desde muito cedo prometidas pelo pai ao futuro noivo, que podia ser novo ou velho e podia ser a primeira ou a 2ª, 3ª etc, mulher.
Cultivavam e ainda cultivam o conceito da virgindade como um dom, um valor contratualizado no acordo. Ainda hoje, testemunhei-o em 2008 na Tabanca de Sinchã Sambel, no dia seguinte à noite de núpcias é tradição a noiva colocar em local publico o lençol com as manchas do sangue da desfloração. Por aqui se vê o valor e o respeito que as pessoas desta etnia têm nutrem por uma vida sexual enquadrada dentro das regras. No entanto devo recordar que um soldado da milícia, como agradecimento pela forma como tratei da saúde do seu velho pai, me ofereceu a própria mulher.
Creio que temos de ver este fenómeno de forma mais alargada, em que os afectos e paixões ou paixonetas também devem contar porque existiram.
A forma com terminavam é que não a mais lógica. Ele era deslocado para outra terra ou regressava a Lisboa e rapidamente se esquecia do "flirt". A marca essa ficava bem vincada na jovem se por acaso estivesse grávida.
Zé Teixeira
Olá Camaradas
A escassez de elementos disponíveis para localizar os pais é surpreendente. Então as mães não sabem quem era(m) o(s) militares com quem tiveram familiaridades? Parece-me que na passagem da identificação aos filhos houve uma perda de elementos. Ou será que não entendiam o que se passava à sua volta e quem era quem nas unidades estacionadas na terra onde viviam?
Basta saber o ano e o local em que o "devaneio" teve lugar para que se saiba a unidade à qual o "sedutor" pertencia.
Há aqui um caso que parece que não diz respeito a um soldado, mas um português vítima da "integração" levada a cabo pelo PAIGC(o que o levou a fugir deixando um filho para trás),aliás como alguns destes descendentes dos militares portugueses que parecem ter sido bem "integrados", segundo contam.
Reparem naquilo que o condutor do camião diz no video que vimos... "És um resto de tuga!" foi o que lhe disseram.
Claro que há outras vertentes do problema, mas a presença das mães poderia esclarecer muita coisa e fornecer muitos elementos. Muitas(?) morreram, mas os elementos que dessem poderiam permitir orientar o esforço de pesquisa, mas...
Um Ab.
António J. P. Costa
Infelizmente o medo de perder o filho, na sequência da independência e a perseguição do PAIGc a estas mulheres como colaboracionistas do "tuga" levou a que muitas rasgassem toda a documentação que eventualmente tinham, como cartas, fotografias e dados pessoais do pai da criança. Outras a relação foi tão fugaz que apenas ficaram com o único nome pelo qual conheciam o parceiro da aventura que gerou uma vida.Conheci recentemente um caso assim. Apenas um nome.
Zé Teixeira
Luís, caro amigo
Sinto-me lisonjeado pela feliz ideia quando numa bela noite, sem sono (nem com os zumbidos dos mosquitos a apoquentarem a minha mente), me ressaltou à flor do teclado do meu portátil, o título "Filhos do Vento". Recordo, que já lá vão, talvez, uns bons 3 anos quando desafiei a imprevisibilidade de uma aceitação de factos que obedecem, logicamente, a interpretações variáveis. Resta, porém, a inequívoca verdade assumida que jamais tentei imputar o sentimento de culpabilidade a camaradas, como eu, que palmilharam os "trilhos de potenciais incertezas". Na minha opinião, que assino como responsável, o tema abordado é fértil em pressupostos infinitos que nos conduzem a uma sensibilidade que inevitavelmente nos leva ao interior de inexequíveis conteúdos que só humanamente são entendidos como reais.
Tenho lido diversas opiniões sobre os "filhos do vento". Umas bem construídas, outras nem tanto assim. Respeito a prosápia que quando um dos escribas exprime. Reconheço, também, as revoltas interiores que cada camarada de armas na Guiné expõe, inadvertidamente, no momento de exteriorizar o que lhe vai na alma. Aceito. Somos, afinal, feitos de carne e osso.
Camaradas, não devemos é escamotear a verdade. E, neste contexto, volto a citar que a reportagem de Catarina Gomes no jornal PÚBLICO primou pela levantamento de situações que requerem resposta substancialmente adequadas.
Obrigado Luís pela tua intensa procura, talvez jurídica, não sendo o teu caso claro, és sociólogo, para se passar, também, a um repor de igualdades há muito reclamadas mas colocadas sempre como tabu na mesa das observações. É hora de passarmos à ação e reconhecermos os nossos irmãos guineenses como filhos de portugueses, outrora militares, que fizeram as suas comissões militares num país chamado Guiné-Bissau.
Vamos, convictamente, a continuar abrir "a caixinha de Pandora", na certeza que a temática "filhos do vento" que trouxe à estampa no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné e reforçada no meu 5º livro GUINÉ-BISSAU AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU 1973/74 tem pano para manga, como diz o adágio popular.
José Saúde
Hoje quem quiser saber se é o Pai com uma certeza absoluta, é fácil..basta fazer um teste de A.D.N.
É um teste relativamente caro e não é comparticipado pelo S.N.S.
Sobre os "comentários" reproduzidos pelo camarada L.Graça..revelam na grande maioria dos casos um dos maiores defeitos dos"tugas"..gostam de falar do que não sabem e rematam sempre com uma intenção moralista e justiceira..
O "tuga" sabe sempre tudo ou acha que sabe,é impoluto e por isso tem autoridade moral para criticar tudo e todos..
Como já várias vezes comentei este assunto delicado,não vou repetir,só gostaria de realçar que a descriminação verificada para com os filhos dos "tugas nunca ou quase nunca é criticada ou comentada..será que é "normal"..ou só porque é feita do lado da sociedade guineense já não é criticável.
C.Martins
Para os dotados de espíritos prácticos torna-se difícil de compreender que alguns países näo aceitem (ainda hoje!)testes de ADN como documento a ser apresentado ao tribunal em casos fora do "foro criminal".E assim lá se väo perdendo oportunidades aquando das...intencöes justiceiras...óbvias. Um grande abraco aos Amigos.
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