sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12537: Blogpoesia: 'Receita de Ano Novo', de Carlos Drummond de Andrade, uma prenda do Vasco Pires, um camarada da diáspora , ex-alf mil, cmdt, 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72

1.  Mensagem de Ano Novo, datada de 1 do corrente,  do nosso camarada da diáspora, Vasco Pires [ ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72], acompanhada da deliciosa "Receita de Ano Novo", poema escrito por um dos maiores poetas da língua portuguesa, o brasileiro Carlos Drumond de Andrade (1902-1987):

Que venha 2014.

Forte abraço. Vasco Pires [, foto atual, à esquerda]



Receita de Ano Novo

por Carlos Drummond de Andrade


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo,  espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegrama?).



Não precisa

fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


In: Carlos Drummond de Andrade - [Em linha]: Discurso de primavera e algumas sombras. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1979, p. 115. [Consult 2 jan 2014]. Disponível em http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/receita-de-ano-novo-carlos-drummond-de-andrade-2/

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12531: Blogpoesia (364): Quem me dera que não ficasse tudo igual (Juvenal Amado)

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro Luis,

"O se a seu dono..."

Tenho que dar crédito, ao nosso Camarada Acácio Conde (Alf. Mil. Angola)e sua ONG, que me enviaram essa preciosa mensagem.
forte abraço
VP

Anónimo disse...

Caro Luis,

"O se a seu dono..."

Tenho que dar crédito, ao nosso Camarada Acácio Conde (Alf. Mil. Angola)e sua ONG, que me enviaram essa preciosa mensagem.
forte abraço
VP

Anónimo disse...

Ocorreu um erro.

Onde se lê " o se a seu...)
deve ler-se " o seu a seu...)
VP

Anónimo disse...

"Vasco Pires"
20:21



Caríssimo Acacio,

Foi falha minha, devia ter citado a fonte na msg inicial, contudo, quando a enviei aos editores Luisa Graça/Carlos Vinhal, lamentavelmente, não previ que seria publicada.

Quanto a ti (tal como meu Pai), penso que pertem a uma categoria Superior de seres humanos, que "não vieram a paseio", vivem (viveu), pensando mais no outro que em si mesmos.

forte abraço

VP

PS - o nosso Camarada Acacio Conde, já postou um comentario no Guiné 63/74 - P9918

__________



Em Sex 03/01/14 14:27, Acacio Conde escreveu [Para o Vasco Pires]:

Bonita msg! Fizeste muito bem usar esta linda poesia de um dos mais inspirados poetas da Cultura universal. Não precisavas mesmo de citar a fonte. Fica bem! Um abração do tamanho da nossa Amizade.
Acácio Conde

Joaquim Luís Fernandes disse...

Caros Camarigos

Mais um belo e oportuno poema para início do novo ano, com uma proposta tão antiga quanto nova, tão exigente quanto audaz:- Sermos obreiros da nossa felicidade trabalhando o nosso interior, onde a nossa soberania é máxima, para percorrer os seus labirintos, endireitar as suas veredas e nos conduzirmos à Paz.

O meu obrigado ao camarada Vasco Pires por esta partilha.

Que passo a passo sejamos capazes de fazer o nosso caminho alcançando o Ano Novo.

Um abraço fraterno
JLFernandes

Joaquim Luis Fernandes disse...

Caros camarigos

E a propósito do grande poeta de língua Portuguesa, Carlos Drumond de Andrade, ocorreu-me partilhar o seu poema, Mãe Não Tem Limite, inserido numa colectânea de poesias em língua portuguesa, dedicada à Mãe, que levei para a Guiné e onde com frequência mergulhava, procurando amenizar as saudades da minha, a que estava muito ligado por longo cordão umbilical.

Poderá ser mais um contributo, para carregar as baterias neste início de ano, esta singela homenagem Àquela que nos deu o Ser.

Mãe Não Tem Limite

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade!
Porque Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto do seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

C. Drumond de Andrade (Séc.XX)
(Brasileiro)

"Antologia"

Um forte abraço
JLFernandes