quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12655: (Ex)citações (226): Não está resolvida a questão da nossa “reconciliação" e do nosso “reconhecimento” de que do “outro lado da guerra” havia, também, homens que combatiam abnegadamente por um “ideal” e pela “sua terra” (Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil pára, BCP 21, Angola, 1970/72)

1. Mensagem, de 28 de setembro de 2013, enviada pelo meu camarada e amigo, natural da Lourinhã e residente em Fafe, Jaime Bonifácio Marques da Silva, onde foi autarca (com o pelouro da cultura, nods anos 80/90, e onde é mais conhecido como Jaime Silva), ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), e que já aceitou, finalmente, integrar a nossa Tabanca Grande, a meu convite.

É também uma forma de homenagear um camarada que, muito embora não tenha estado no TO da Guiné, muito tem feito pela pesquisa e divulgação das histórias de vida e das memórias de guerra de vários de nós, a começar pelos seus conterrâneos, do Seixal da Lourinhã,  que amobilizados para Angola, Guiné e Moçambique (mais de 40).

Irei apresentá-lo à Tabanca Grande, muito em breve, talvez ainda hoje, se a minha agenda o permitir.  Achei oportuno, por esse motivo, divulgar agora este texto que, não tendo, na altura, sido de imediato publicado, acabou por ficar no "limbo"  do nosso blogue. Sempre me habituei a ver nele um homem de princípios e de valores. A sua presença muito me honra e me apraz, tratando-se além do mais de um lourinhanense e de um amigo de infância.

Luís, envio-te um texto de opinião sobre a “polémica” em volta dos 40º Aniversário da Independência da Guiné, comemoração organizada pela Associação dos Antigos Combatentes de Cubacaré [. Região de Tombali, Guiné-Bissau]. Se entenderes que é oportuno, agradecia que o colocasses no teu blogue. 

Agradeço-te, também, o convite para fazer parte do vosso blogue. Penso enviar-te a foto que me pediste quando tiver algo de concreto sobre a cerimónia de homenagem ao [José Henriques] Mateus, [da Areia Branca, Lourinhã, camarada desaparecido em combate].  

Penso voltar ao Seixal para participar na caldeirada do dia 14 de outubro, em Ribamar,  organizada pelo nosso amigo Eduardo Jorge. Nessa altura, farei o ponto da situação junto deles [, da comissão organização da homenagem ao Mateus,]  e da Liga dos Combatentes. Igualmente irei  enviar-te os cartazes da exposição dos combatentes do Seixal. (...)

2. Comentário de Jaime Silva [ou Jaime Bonifácio Marques da Silva, como ele é mais conhecido emtre a malta do seu tempo de tropa e na sua terra], ao poste P12073 (*):

Caro Luís Graça e camaradas combatentes da Guiné

Sou ex-combatente e cidadão atento à causa dos que lutaram na Guerra em África. Permitam-me, por esse facto, comentar o Poste colocado no Blogue a propósito do 40º Aniversário da Independência da Guiné, organizado pela Associação dos Antigos Combatentes de Cubacaré. (*)

Não combati na Guiné. Fui combatente em Angola no BCP21 (1.ª CCP). Comandei durante 28 meses um pelotão nas matas do norte e leste. Algumas destas operações (três) foram realizadas em conjunto com o meu camarada Tenente Miliciano e comandante do 1.º pelotão SNogueira que comenta, também, este poste. (*)

Tenho consciência que a guerra que enfrentámos em Angola não teve a mesma dimensão das dificuldades extremas que alguns de vocês enfrentaram, em determinado período, na Guiné (apesar da zona dos Dembos no norte de Angola e a norte do rio Cassai no leste serem, por vezes, deveras complicadotas!..).

Todos estamos de acordo, porque é uma evidência, que a nossa participação na guerra em África, em qualquer um dos três teatros de operações, teve um ponto comum e um objetivo que foi bem definido pelos decisores políticos da época quando lançarem este pobre país na guerra, ou seja, a nossa missão (por definição de guerra) era a destruição do “in”, “inimigo",  “terrorista”, “turra” “filhos da puta”, “aqueles gajos querem roubar o que é nosso”. Foi para isto que o “velho” (Salazar), como lhe chamava o Prof. Adriano Moreira, nos enviou, primeiro, “Para Angola rapidamente e em força” e, depois, para a Guiné e Moçambique.

Mas, uma guerra (esta guerra) não se faz (fez) contra “Moinhos de Vento”. Uma guerra faz-se, sempre, por uma causa e contra alguém e, numa guerra, há sempre os dois lados da contenda. Sempre foi assim na história da humanidade e em África não fugimos à regra. Encontrámos e defrontámos um oponente que sabia o que queria e porque combatia. Os africanos que combatemos,  entendiam que deviam ser senhores e donos dos seus destinos e da sua terra e nas emboscadas davam-nos conta disso e gritavam, também: “esta terra é nossa”,  “vai para a tua terra, portuga de merda”, “tuga do caralho, vai para o Puto”, “vais morrer,  filha da puta” (esta, era a frase que me soava pior, dava-me agoiro e, infelizmente, deixei lá um soldado e a perna de um outro).

Hoje, esta questão da pertença do território está resolvida, mas não está resolvida a questão da memória da nossa participação na guerra, porque essa nunca se apagará enquanto viver um combatente e, aliás, como não está resolvida a questão da reconciliação da Nação para com aqueles que a serviram (este é outro assunto de debate).

Muito menos está resolvida a questão da nossa “reconciliação" e do nosso “reconhecimento” de que do “outro lado da guerra” havia, também, homens que combatiam abnegadamente por um “ideal” e pela “sua terra” e é aqui, no meu entender, que está o pomo da discórdia entre alguns de nós! …

É, por isso, caro Luís Graça e camaradas responsáveis pelo blogue, que o vosso trabalho é um contributo importante e fundamental para a compreensão e preservação da memória da Guerra Colonial, particularmente na Guiné. Obrigado e continuai.

Este Poste, quanto a mim, tem essa virtude e insere-se, exatamente, na necessidade que temos de fazer um esforço para sermos capazes de “saber ver” os dois lados da Guerra.

Por isso, concordo e subscrevo, em absoluto, com os comentários dos camaradas de armas Luís Graça e Vasco Pires. [...] (*)

 Saudações. (**)

Jaime Silva
Alf Mil Paraquedista (BCP21)
__________

(**) Último poste da série > Guiné 63/4 - P12090: (Ex)citações (225): O nosso blogue e o último dos nossos direitos como veteranos de guerra e cidadãos, o "jus esperniandi", o direito de espernear... (Vasco Pires, ex-cmdt, 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72; e português da diáspora no Brasil)

9 comentários:

Anónimo disse...

Amigo Jaime Silva:
Bem-vindo ao convívio dos membros da Tabanca Grande. Já te tinha detetado em fugidias passagens pelo Blogue, mas só hoje te apanhei na "linha de tiro", salvo seja, claro. Aliás desde a minha saida de Fafe e já lá vão muitos anos, nunca te tinha encontrado! Um Abraço. - Manuel Vaz

JD disse...

Camaradas,
Durante os anos 50/60, na África portuguesa, viviam as comunidades em relativa harmonia, e é preciso compreender as razões da relatividade. Os jovens que vinham estudar na metrópole, brancos e pretos, passavam a constituir élites, independentemente da condição social e racial. Nessas idades em que somos capazes de mudar o mundo, aquelas circunstâncias punham-nos em contacto com as ideias da emancipação dos povos e territórios coloniais, ideias que provinham da Europa central e de leste.
As organizações estudantis desses alunos ultramarinos sensíveia àquelas ideias, e debatiam-nas. Inclusive, chegaram a manifestar ao ditador os seus anseios pela melhoria das condições de vida nas suas terras.
E o que fez Salazar? Reprimiu-os, e todos sabemos que ninguém gosta de ser reprimido, principalmente durante os verdes anos.
Ora, quanto a mim, o que o governo devia ter feito, seria chamá-los a colaborar com vista à cocecussão das melhorias que propunham, ainda que sob advertência de que as mudanças nos povos não acontecem com a facilidade de premir um interrupto, garantindo-lhes a formação técnica para posterior integração naquelas sociedades.
Mas isso ia mexer com os interesses instalados, quer dos empresários portugueses, quer, principalmente, com os dos "trusts" internacionais que compravam as matérias-primas do ultramara a preços de conveniência, por vezes em resultado de intricados jogos de poder, uns e outros bastamente representados na Assembleia Nacional numa estratégia de não levantar ondas. Salazar era fraco com os fortes.
Enquanto isso, desenvolviam-se "os novos ventos da história", e o governo português não se mostrava capaz de fazer as reformas que facilitassem a integração de todos sob a mesma Lei - para os que não sabem, havia diferentes regimes conforme a condição dos habitantes.
Curiosamente, porém, com o inicio das hostilidades, os movimentos ditos de libertação não tiveram o melhor acolhimento/apoio por parte daspopulações, e quando chegaram ao poder que lhes foi oferecido, só trataram das suas próprias "libertações" e tornaram-se nos novos opressores dos povos que pretensamente representavam.
Refere o Jaime Silva que "não está resolvida a questão da memória da nossa participação na guerra... como não está resolvida a questão da reconciliação da Nação para aqueles que a serviram", e eu subscrevo.
Esta questão final leva-nos a avaliar as circunstâncias, os propósitos, e os resultados do golpe de Abril, questões de complexidade, mas com tradução racional.
(continua)

JD disse...

(continuação)
Muito resumidamente, sobre as circunstâncias temos que as considerar diferentemente conforme as regiões ultramarinas. Em Angola, praticamente, esgotavam-se as razões da guerra (circunscrita aos dois pólos do norte e do leste), e verificava-se um excelente ritmo de integração social, de expansão económica, e de expansão das funções do Estado nas vertentes da administração, da saúde, do ensino, das infra-estruturas, etc, a par do incremento da iniciativa privada que, tudo junto, impulsionavam e justificavam o fluxo de metropolitanos, e contribuíam para uma sociedade nova assente no progresso. Angola, também contribuía decisivamente para o equilibrio económico-financeiro da velha metrópole (zona do escudo, projecto de Sines, indústrias diversas, protecção ao consumo de diversos produtos metropolitanos sem outra capacidade concorrencial), inter-agindo para o desenvolvimento desta parecela de Portugal. Em Moçambique verificava-se uma evolução parecida, mas deve ter-se em conta, ao contrário de Angola, um crescendo do conflito militar sem solução plausível. A Guiné constituía um caso à parte: a economia gravitava em torno dos salários dos militares, e a produção (primária) era clamorosamente insuficiente. A escolaridade era reduzida e com pouca expressão, e o comércio projectava aquelas insuficiências. A acção política assentou nos congressos do povo, e não parecia que isso interferisse substancialmente nas relações locais. O pior era a guerra, que tomava novas proporções e exigências, e causava grande impacto na metrópole, não só pelas notícias dos intervenientes, mas, destacadamente, porque passou a ser tragicamente tratada pela comunicação social e outras organizações relutantes, sobretudo estudantis, do que perece terem resultado conflitos institucionais e o esmorecimento dos militares em condição de mobilização.
Os propósitos parecem radicar na renúncia por parte dos elementos do MFA (que percentagem no universo daqueles militares?), tendo em conta a falta de unânimidade entre si e no cotejo com outros camaradas não aderentes, deixando perceber que apenas cuidaram das suas libertações (não cuidaram da preparação dos povos para as escolhas e eventuais independências, nem cuidaram de controlar os militares adversários, pelo contrário) para além de exalarem um perfume traiçoeiro relativamente a todos os outros portugueses.
A questão dos resultados do golpe é bastante vasta para análise, pelo que não farei qualquer observação, apesar de termos agora motivos suficientes para percebermos que o MFA abdicou, primeiro da defesa da soberania, e depois da sua condição condutora da revolução, aureolada de promotor da democracia em Portugal e passando uma esponja sobre todos os factos consequentes que repugnam à moral da cidadania, e permitiram o desenvolvimento de uma era política de faz-de-conta, de que hoje sofremos os efeitos. Conclusão: foram uns incompetentes e convencidos.
Esta declaração pode ser polémica, mas é frontal e corresponde à minha visão séria e ponderada dos acontecimentos, também estribada em conhecimentos adquiridos, e na contestação das divisões conceptuais no seio das F.A.
Actualmente interessa-me mais procurar e contribuir com soluções para o nosso futuro colectivo,que apontar razões para o fracasso desta plutocracia travestida de democracia.
Abraços fraternos
JD

PS- texto extenso e não fiz revisão. Peço desculpa.

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

A questão levantada pelo Jaime Silva e que foi aproveitada para dar título ao artigo é, de facto, um aspecto muito importante e que, em certa medida, explica também muito das atitudes 'caceteiras', 'revanchistas', 'saudosistas' que vão encorpando as posições de tantos ex-combatentes que se podem ver nos variadíssimos grupos que pululam no Facebook.

Do comentário do José Dinis retiro aquela parte em que refere que "os 'trusts' internacionais compravam as matérias-primas do ultramar a preços de conveniência, por vezes em resultado de intrincados jogos de poder, uns e outros bastamente representados na Assembleia Nacional numa estratégia de não levantar ondas".
Veio relembrar que já então nesse tempo a promiscuidade entre os negócios e os 'representantes' da população era coisa corrente e sempre a favor dos interesses dos 'negócios'.
Ao mesmo tempo fiquei desiludido porque, a avaliar pelas loas que constantemente agora circulam em roda livre na net glorificando a governação desse tempo, endeusando-a e fazendo dela contraponto quanto aos desmando actuais (como se não fosse a mesma coisa!), fico com a sensação de que afinal tudo já voltou ao mesmo.

Abraço
Hélder S.

Joaquim Luís Fernandes disse...

Caros Camarigos

Concordo no essencial com as observações de algumas linhas gerais expressas pelo camarada Jaime Silva, a propósito do P12073, que gerou na ocasião acesa polémica, que me abstive de atiçar. Mas a questão subsiste e não creio que se resolva tão cedo. Até lá, é seguir uma difícil picada, minada e armadilhada, que percorremos com cautela e levará tempo, até se tornar um caminho sem obstáculos, onde tudo seja visível e linear.

Os comentários do camarada José Dinis,com todo o respeito que me merecem, afiguram-se-me como exemplo do que acabo de referir. Na 1ª parte, identifica claramente algumas das circunstancias, da génese do desencadear da guerra, nas então Províncias Ultramarinas. Alude até a alguns dos seus responsáveis,que foram vários e tinham nomes, digo eu, sendo também responsáveis pelo seu arrastar no tempo, sem uma solução à vista. Nenhuma "guerra justa", é um fim em si mesmo; Só o alcançar da paz a pode justificar, Na Guiné, Spinola tinha esgotado as suas possibilidades sem o conseguir. Tempo de mais para se concluir que aquela guerra não tinha fim à vista.

Na 2ª parte, deriva e converge para a responsabilização e condenação dos militares do MFA, que fizeram o 25 de Aril, (o golpe), como lhe chama. De facto, foram cometidos muitos e graves erros, por militares e civis, depois da "Alvorada Libertadora", neste período de tempo, que já leva 40 anos. (E também foram feitas muitas coisas acertadas). Mas daí a responsabilizar, por todos os erros, de uma penada, os militares do MFA, como um todo, parece-me muito injusto. Com todo o respeito, ouso discordar desta posição.

Sei que cada um de nós, ex-combatentes, observa, sente e julga, de acordo com a sua história, a sua formação e sensibilidade, donde a tolerância e o respeito, são condições necessárias para a sâ convivência. Se motivados pelo apego ao rigor e à verdade, as opiniões discordantes, serão de saudar e podem contribuir para nos fazer crescer.

Em minha opinião,a causa principal de todas as desgraças, que aconteceram à Nação Portuguesa nos últimos 60 anos, radica na ditadura que se abateu e se prolongou em Portugal durante meio século. E os seus principais responsáveis têm nomes. Semearam pragas daninhas, cujos frutos tão amargamente conhecemos. Tivessem Salazar e Caetano (e o seu aparelho de apoio) democratizado e desenvolvido a Nação, restituindo a Liberdade e o Progresso, (e tiveram tempo para isso) teriam evitado que Portugal tivesse caído na vil tristeza do "orgulhosamente sós", ter-se-ia evitado um desfecho tão inglório para todos, que mancha a honra dos nossos Maiores. A história teria sido outra, de Goa à Guiné e Cabo Verde. Portugal não teria ficado depauperado e todos os Povos do "Império", estariam melhor.

Compreendo as dificuldades e até a revolta, dos ex-combatentes da Guerra Colonial que lutaram com bravura e patriotismo, muitos com atos heroicos,ao sentirem o vexame, quando de heróis se sentem ser tratados como culpados. (Os verdadeiros culpados, foram outros e sabemos de alguns.) Os seus atos de heroicidade e valor devem-lhe ser reconhecidos e nunca tratados de culpados; Quanto muito de vítimas, que foi o que muitos de nós fomos.

Vamos em frente e construamos o futuro, com as forças que nos restam!

Abraços
JLFernandes

JD disse...

Caro JLFernandes,
Acabei de ler o comentário, muito bem formulado, que maioritariamente se dirige às ideias que expus.
Ali não vejo especial divergência de opinião, para além de uma, e ainda identifico outras opiniões sobre "a causa principal de todas as desgraças que aconteceram à Nação Portuguesa nos últimos 60 anos", e concordo com a conclusão final.
Onde divergimos, é na frase que me dirige, de "responsabilizar, por todos os erros... os militares do MFA como um todo". De facto, responsabilizo o MFA, como adiante caracterizarei, mas admito que o movimento terá agregado pessoal que foi ao engano, que não estaria preparado para tamanha empresa, embora, também por isso deva ser historicamente responsabilizado naquele colectivo. Ou seja, para distinguir uma coisa do seu contrário, também considero que houve diferentes níveis de envolvimento (e responsabilidade) no golpe.
Por analogia, vamos imaginar que nos fazemo sócios de uma empresa, e, à partida, um pretende atingir um objectivo amarelo, enquanto o outro, ou não sabe identificar o objectivo, ou pretende atingir o azul. Mas embarcamos no inicio de actividade, e para mais conforto, delegamos a gerência, primeiro a gestores que não partilham dos nossos objectivos, e depois, aos próprios clientes.
Posta assim a questão, imagino que a empresa não produzirá bons resultados e, pela negativa, vai afectar todos quantos dela dependam.
Pessoalmente encontro muitas semelhanças de estrutura entre a empresa ficcionada e o MFA. A empresa até poderia evidenciar algum sucesso na apresentação, pela agressividade do marketing, pela inovação dos produtos, pelas expectativas criadas, no fundo, como aconteceu a partir do golpe, e dos primeiros fluxos financeiros de solidariedade que chegaram a Portugal.
Nesta fase já não havia MFA, dir-me-á. Pois! em resultado da incoerência dos objectivos. Porque o mais dificil (ou cuidadoso) é estruturar a construção, e a acção do MFA devia ter-se consubstanciado na demolição (e não demoliu nas raízes), e seguir um projecto de construção convenientemente pensado e executado. A dimensão da "empresa" criada pelo MFA tornou-se muito mais complexa do que a soma do conjunto das partes, que, na esmagadora maioria, não se mostrou sistematizado, donde derivou um processo degenerativo. Até hoje.
Um abraço
JD

Joaquim Luís Fernandes disse...

Camarada José Dinis

Este tema de debate levava-nos longe e não chegaríamos lá depressa, tantas são as encruzilhadas do percurso a fazer. Por agora serei breve: Só três ideias.
- Os objetivos do MFA estavam resumidos nos 3D: Descolonizar; Democratizar; Desenvolver.
Pode-se sempre argumentar que eram "produtos" que não estavam completamente "caracterizados e desenhados". Mas será que o poderiam ou deveriam estar? Não seria um processo necessariamente dinâmico, com imponderáveis e que só caminhando se faria caminho?
- Concordo que a empreitada era enorme, gigante. Mas será que por causa disso se ficava de braços cruzados, deixando apodrecer o resto que faltava?
- O grave disto tudo é que ao 3D do MFA, sucedeu, ou antes, revigorou os 3C que vinham de trás: Compadrio, Cunha, Corrupção... e foi a desgraça que sabemos.
Mas as causas vêm de trás, da longa noite em que Portugal viveu mergulhado e são essas causas que devemos julgar e condenar, em primeiro lugar.

Com amizade,

Um abraço
JLFernandes

Carlos Vinhal disse...

Se os postes são assinados e apostas as fotos do seus autores, os comentaristas não se podem escudar atrás do anonimato.
Não aceitamos pseudónimos.
Por favor deixem o nome e antigo posto militar, se for o caso.
Comentários anónimos ou ofensivos serão apagados.
Carlos Vinhal
Co-editor

JD disse...

Caro JLFernandes,
Concordo que esta temática daria para conversas estimulantes, tendo em conta a abrangência de considerações e considerandos.
E também concordo emabsoluto com os 3C.
Assim, também é fácil admitirmos que a tanta coisa que tem sido objecto de ensaios, literatura de revanche, e outra de investigação, este não é o lugar adequado para produzirmos textos mais elaborados sobre a matéria. Mas também isso encerra algum desvio ao tema proposto no post.
Muito obrigadopelas ideias trocadas.
Com um abraço
JD